Dedico esse memorial a você Voinha Edith D Alexandria Bruni, cuja matéria nos deixou em fevereiro deste ano [2012], mas seus ensinamentos, suas histórias e sentimentos ficarão, sem dúvidas, eternizados nas nossas memórias.
Meu nome é Adriana Loiola Bruni. Nasci no dia 1 de junho de 1984, no H...Continuar leitura
Dedico esse memorial a você Voinha Edith D Alexandria Bruni, cuja matéria nos deixou em fevereiro deste ano [2012], mas seus ensinamentos, suas histórias e sentimentos ficarão, sem dúvidas, eternizados nas nossas memórias.
Meu nome é Adriana Loiola Bruni. Nasci no dia 1 de junho de 1984, no Hospital Jorge Valente – na cidade de Salvador – BA.
Meus pais são os maiores mestres na minha vida.
Minha mãe vem de uma família de 10 irmãos. Cujo pai vaqueiro (Vô Francisco) e a mãe (Vovó Bela), dona de casa e beata fervorosa, criaram-na com “as rédeas curtas”, como ela mesma diz. Nascida e criada na cidade de Uauá, interior da Bahia, teve que andar todos os dias 5 quilômetros para estudar. Depois de crescida veio morar na capital com suas irmãs. Neste caminho tomou-se a estudar Química na Escola Técnica, onde conheceu meu pai, também estudante só que de Eletrotécnica.
Meu pai (Bruni), por sua vez, filho de um imigrante italiano (Vô Carlos Bruni), médico pneumologista que curou a mulher amada (Vó Edith) da tuberculose. Teve dois irmãos: um oftalmologista (Tio Paulo) e a outra advogada (Tia Dita).
Sou a caçula de uma família muito batalhadora. Somos quatro irmãs, sendo Luciana, a mais velha e administradora, a do meio (quanto às filhas da minha mãe). Ana Paula, que é jornalista e eu, a caçula da minha mãe, professora cursando a minha segunda graduação (mas, isso eu falo depois). Fora do casamento meu pai teve um relacionamento do qual se originou a minha irmã “caçula” Bruna, esta por sua vez é nutricionista.
Meus pais sempre investiram muito não só na minha educação como na das minhas irmãs. Estudei do maternal até a 2ª série na Escola Experimental. Foi lá que germinou em mim essa tendência pelo lúdico, pelo aprendizado de forma diferenciada. Hoje sei que se trata de uma escola construtivista e compreendo a sua proposta. Mas na época o que eu compreendia era que era muito divertido estudar lá.
Dos trabalhos realizados, o que mais me marcou foi, sem dúvidas, a Homenagem aos 50 anos de Caetano Veloso, onde fizemos uma apresentação no teatro do Clube do BANEB, para Dona Canô. Em outro momento, teve uma apresentação da minha irmã que foi sobre a Ditadura Militar, foi marcante para mim, mas nesse dia eu fui um pinto (não me pergunte por quê. Bloqueei esse fato), mas como eu queria usar um vestido roxo que minha mãe tinha me dado, eu acabei ficando muito esquisita.
Na 3ª série, já comecei uma nova trajetória, agora no Colégio 2 de Julho. Lá, eu tive a primeira experiência com aulas de religião, no começo foi bastante complicado. Pois apesar de ser batizada na igreja católica, não sou praticante. E ver meus colegas sentados numa capela, para rezar por uma professora que havia sido operada para retirada de um câncer – na primeira semana de aula - foi algo que me marcou muito. Quanto à disciplina de religião, como não reprovava, não era muito freqüente a minha presença, não.
Em 1994, recordo-me de que o dinheiro mudaria. O Plano Real seria instalado no Brasil. Eu pedia muito para meus pais, me darem o dinheiro do lanche em Real, mas por uns dois meses seguintes, eu só levei em cruzeiros. Na 4ª série eu vivenciei uma experiência única: viajei com um grupo de 12 colegas, 01 professora e 01 monitora, onde passamos um dia em Brasília e três dias em São Paulo. Foi inesquecível Para nossa segurança, todos usavam um dinheirinho de brincadeira, que depois a professora trocava nos estabelecimentos.
Em Brasília, conheci o Congresso Nacional, o Palácio dos Três Poderes, a Catedral, o espaço para apresentação nos momentos de festividade, dos membros do Exército, Marinha e Aeronáutica. Visitamos também alguns museus, inclusive teve um que não podia tirar fotos, mas eu tirei o flash da Kodak do meu pai e registrei tudinho. Tinha roupas, abotoaduras, medalhas de presidentes anteriores.
Em São Paulo, me recordo muito do zoológico em que nós ficávamos presos dentro da Kombi e os bichos ficavam soltos. Foi estranho me ver nessa posição. Teve até uma preguiça que passou da área da reserva e deu o maior susto no grupo. Eu tirei uma foto do rapaz do zoológico segurando ela.
No ano seguinte, a primeira reprovação. Aff... É difícil de relatar. A 5ª série foi super difícil. Lembro-me que o professor de Desenho Geométrico era muito carrasco, não deixava a gente entrar na sala, se estivesse faltando uma régua, ou um compasso. Mas não perdi só em Desenho não, minha mãe disse que foram umas seis recuperações e mais duas provas finais. Cheguei a fazer as provas, mas não consegui passar, e então meus pais não pagaram as recuperações.
Em 1997, por ter passado direto, minha mãe permitiu que eu participasse da Gincana, que era o evento maior do Colégio 2 de Julho. Fiz uma prova em que simulávamos um ritual indígena, mas eu fui coadjuvante, pois Verena era muito bonita e os meninos gostavam dela fazendo o papel principal. Neste ano a prova Corujão, que era cedida às equipes para serem realizadas durante a noite e a apresentação no primeiro momento do dia seguinte, foi para que cinco componentes da equipe tirassem fotos nos monumentos que os jurados haviam passado. Foram 10 fotos e como eu e duas das minhas irmãs fazíamos parte da mesma equipe, acabávamos fazendo essas provas. Além de que conhecíamos monumentos que os turistas tinham acesso, mas nós, como moradores não dávamos o devido valor. Teve também a prova sobre política e Bruno, filho de Lídice da Mata, conseguiu que a mãe fosse palestrar. Fomos campeões neste ano.
Em 1999, mudei para o Colégio Resgate em Brotas, após perder na 7ª série. Para minha mãe essa mudança era uma punição – todos desdenhavam desta escola – pois fica ao lado da minha casa. Contudo daqui por diante, dei uma guinada na minha formação. Fui eleita a melhor aluna dos dois turnos. No ano seguinte tive minha inscrição no vestibular da UFBA paga pela escola. Pois o Marketing dela é muito voltado para alunos aprovados no vestibular.
Foi nesta instituição que conheci dois professores de História, mas o que mais me marcou, sem dúvidas, foi o Professor Carlos Eduardo Massa, vulgo “Duda”, que me acompanhou da 7ª ao 2º ano colegial. Falar desse educador é falar de um amigo. Ele até hoje é presente na minha vida através das redes sociais e dos encontros anuais que faço com a turma do Resgate.
Falar dessas aulas é o mesmo que romper com todo ensino tradicional de História. Ou melhor, quase todo, pois às vezes éramos submetidos a algumas atividades que cobravam certa decoreba de datas e ou nomes de presidentes, países, etc. Mesmo assim, reafirmo, ele apresentava uma didática muito diferenciada. Suas aulas eram repletas de músicas (ele adorava quando os meninos levavam violão Ele sempre encontrava uma música que casasse com a temática proposta), apresentações de teatro, encenações, paródias, construção de maquetes, cartazes.
Na 8ª série, recordo-me perfeitamente de uma apresentação que ele sugeriu para o dia do Folclore, sobre o Candomblé. Fomos para o Pelourinho, visitar no Museu Casa de Jorge Amado, as roupas dos orixás. Quando vi a vestimenta de Iansã tive certeza de que eu a representaria (quatro anos depois, ao conhecer o Terreiro de Pai Valfrânio de Ogum descobri que ela rege a minha cabeça.). Compramos oito cartões postais: Iansã, Oxum, Iemanjá, Obaluaê, Ogum, Oxossi, Nanã, Obá e Oxalá – nos quais nos espelhamos para produzir não só o figurino, mas os adereços, características dos filhos, oferendas (Compramos os najés e fizemos tudo direitinho), dias da semana e saudações. Organizamos a sala com o ambiente de cada um, ficou perfeita Até fumaça tinha Em seguida fomos para quadra onde nos apresentamos, inclusive, dançávamos como no vídeo da internet. Mas o final foi mais incrível, compramos três tiras de 10 metros de kami azul claro, que representava o mar e fizemos vários peixes de papel laminado e espalhamos por ele, no centro preso com velcro uma circunferência que, à medida que os pescadores que carregavam o mar se abaixaram, surgiu Iemanjá. Foi emocionante... Muitos aplausos
No 1º ano a Escolinha do Professor Raimundo serviu de abertura para uma apresentação sobre o sertão e o seu povo. Fizemos a peça do Auto da Compadecida que estava sendo trabalhado também em Literatura com a Professora Jerúsia. E finalizamos com o repente que uma amiga fez, mas não lembro todo:
“Hoje a gente vai falar
Cabra arretado e companheiro
O nome dele eu vou dizer
É Antonio Conselheiro (...)”
Interessante era a parceria de História com a matéria Atualidades. Duda e Wilton Oliveira foram meus melhores professores. Para se ter uma ideia, Wilton era mais conhecido como Hitler, pois nas revisões ou quando tinha vontade, fazia argüições e se errássemos ou se o celular tocasse, ele nos dava palmatórias com o apagador. Mas calma, a gente amava isso.
As aulas de campo eram um show a parte. Fomos para vários museus, passeios no Pelourinho, na Orla, na Av. Sete, Praia do Forte, Arembepe, Lobato (Marco zero do Petróleo no Brasil), Biblioteca Central, Teatros, etc.
Mas quando falo da “História na minha vida” ela não se resume a Educação Básica.
Em 2004 fui aprovada na posição 51ª no vestibular para Licenciatura em Ciências Naturais na UFBA. E neste curso tive que conhecer a História desde a Origem do Universo até as últimas contribuições que a mais remota fonte poderia me fornecer.
Como integrante do Diretório Acadêmico de Ciências Naturais desenvolvi diversos ciclos de palestras inclusive sobre Comunidades autóctones da África e Comunidades Indígenas no Brasil de Hoje.
Em 20 de junho de 2004, nasceu Maria Luiza (“Malu”) a minha filha - razão de tudo na minha vida – e pela qual eu acredito na transformação das pessoas, afinal Paulo Freire mesmo disse que a Educação não muda o mundo, a educação muda o homem e o homem muda o mundo. Eu peço licença e repenso esta frase não como o homem sendo o agente desta transformação, mas sim, a humanidade.
Não tenho mais fotos vestida de índia, mas graças à permanência de muitos fatores na educação, 20 anos depois de eu entrar na escola, vi minha filha vestida de índia. O que mudou? Não tenho certeza, mas sem dúvida, os materiais, ao invés de kami, na minha época usava-se papel metro pardo.
E nesse caminhar que se estendeu até 2007.2 vivi uma nova experiência: a docência.
E como professora e na minha vida, eu sou reflexo desses professores dos bons e dos ruins, com os quais aprendi muito.
Acredito que o fato da minha formação ser específica para o ensino de Ciências Naturais nas séries do Ensino Fundamental II tenha despertado em mim, essa preocupação de tornar os conhecimentos científicos mais próximos dos alunos: no formato de uma paródia, um esquema, uma performance, ou coisas deste gênero.
Ao planejar minhas aulas eu busco sempre algo diferente, lúdico que faça com que meus alunos se sintam atraídos pelo momento que estou propondo. Creio que a ludicidade pode ajudar muitas aulas apáticas a se tornarem mais divertidas e melhor compreendidas pelos alunos.
Em 2009 comemorou-se o centenário de Darwin e eu passei minhas férias elaborando o projeto “As nossas origens”, focado nas teorias evolucionistas, mas foi eu chegar à escola e a febre da novela “Caminho das índias” da rede Globo, mudou toda a vertente do meu projeto para este ano. Precisava valorizar o interesse que meus alunos já haviam despertado para mostrá-los que não era tudo tão bonito naquele país repleto de miseráveis, com falta de saneamento básico e uma desigualdade social gritante. Com essa descrição fiquei em dúvida se o projeto é sobre a Índia ou sobre o Brasil, enfim. Fizemos incansáveis pesquisas sobre diversos parâmetros, que inclusive perpassavam por várias áreas de conhecimento. Resultado... “Índia: um tempero a mais no Brasil” Mais um projeto de sucesso.
Neste mesmo ano o projeto macro da nossa escola foi O “Além de Cajazeiras”. Onde fiquei responsável pelo 8º ano e com a missão de apresentar o bairro da Liberdade e Lapinha aos meus alunos. Partindo de pesquisas, aulas integradas com todos os professores na quadra possibilitaram que os alunos percebessem a importância desses bairros não só para Salvador, mas também, para Bahia.
No ano de 2010 fui surpreendida com um convite para integrar a Coordenação Pedagógica do Centro Integrado, mas não me afastei da sala de aula e isso inicialmente foi difícil, visto que os alunos confundiam, mas aos poucos eles foram entendendo e muitas vezes colaboravam não pela “coordenadora”, mas sim pela “professora” e vice-versa.
Este ano foi de mudanças, desde a mais óbvia mudança no turno de atuação (deixando com a Professora Jaciene, alunos que me receberam super bem e outros que nem tanto Além de lutar para conquistar os novos alunos que tinham Jaci, como referência de “vida”) até a mudança no processo avaliativo (Acabaram as provas). Enfim, essas e outras tantas mudanças me fizeram amadurecer e galgar sonhos ainda maiores.
Lembro-me de cada fato inusitado, às vezes embaraçoso, mas todos inesquecíveis. Lembro-me dos choros soluçados de desespero, das gargalhadas desenfreadas, do mais singelo: boa tarde Ao mais estridente: Bom dia.
Não me esquecerei também, das vezes que os meus alunos me fizeram chorar. Eles que me lembraram que a vida tem que ser vivida. E que “Eu” tive Infância e por isso entendo que às vezes não é sobre pteridófitos, termologia, atmosfera ou parassimpático que eles queriam ouvir falar, mas sim de atenção, de risos, de sentar no chão, de imitar Titanic na frente do ventilador, de subir pra quadra, de sair da escola, de uma aula diferente, de ensiná-los a viver a Escola.
Em 2010 meu projeto foi sobre o Desenvolvimento Social de Cajazeiras, bairro onde se localiza o Centro Integrado de Educação E.P.C. (Minha referência de Escola e de comprometimento com a aprendizagem e com o ensino.).
As imagens que seguem até a página 14 fizeram parte da apresentação feita aos alunos, pais e comunidade sobre os resultados do projeto. Incluindo a doação dos materiais arrecadados (roupas, alimentos não perecíveis, materiais de limpeza e brinquedos) na Creche Escola Tia Sabina, localizada no bairro e onde os alunos desenvolveram atividades de higiene, educação e saúde com as crianças.
Em 12 de abril de 2011, realizei um grande sonho – O casamento. Conhecemo-nos numa viagem da disciplina Educação Ambiental, com o Professor Prudente, em 2007, para Chapada Diamantina, mas como estávamos um tanto enrolados com outras relações, apenas um ano depois é que de fato começamos a namorar. Noivamos duas vezes, a primeira na feirinha da cidade de Mundo Novo e a segunda em Morro de São Paulo. A união veio, por intervenção da construtora onde compramos o nosso apartamento. Mas, enfim estamos nos amando, cada dia mais E, a Malu o ama de montão.
Em 2011 fui aprovada no vestibular para Pedagogia, agora em 12º lugar e na UFBA Regressei a universidade para continuar aprendendo e cada vez mais e mais. E nessa graduação que concluirei, provavelmente no ano de 2013, me deparei com uma disciplina de História da Educação, que apesar da vontade de cursá-la na primeira graduação, não pude fazer visto que a professora da cadeira, apesar de muito conhecedora não demonstrava sensibilidade ao lidar com pessoas de outros cursos que não fossem de Pedagogia e, além disso, expunha os alunos que tentavam cursar a cenas do ridículo.
Enfim, estava eu, matriculada nesta matéria, e no primeiro dia de aula, nos deparamos com uma pasta na Xerox que batia todos os recordes de leitura. Nem a moça da copiadora acreditava que seriam trabalhados. Mas foram Debruçamo-nos sobre aqueles textos, nos programávamos para seminário, resenha, resumo, fichamentos, enfim, tudo que era produção acadêmica, nós, do 1º semestre de Pedagogia noturno aprendemos/fizemos com a Professora Helaine Souza (Ninguém acreditava na potencialidade e domínio do conteúdo que ela demonstrou ter Ela mostrou que era muito mais que o “rostinho bonito” no primeiro momento que a conhecemos.). Eu confesso que no 1º dia fui a primeira a testá-la, criticando a sua didática, pois ela dividiu a aula em dois momentos, sendo o primeiro para um embasamento teórico e o segundo uma atividade de debate de um texto extenso. Contudo, posteriormente, percebi o quão importante foram aqueles momentos, até para contextualizarmos os momentos históricos da educação que estávamos estudando.
Em fevereiro deste ano, tive a certeza de que a docência não é para todos. Fiz um curso de férias da Disciplina História da Civilização Brasileira, que não passou de um estudo direto dos vídeos do Youtube. Mas o seminário final foi excelente Meu tema foi “Civilização do Sertão”, e eu dei um verdadeiro mergulho nas minhas origens. Como já foi dito, minha família materna todinha é de Uauá e por lá passaram os cangaceiros do bando de Lampião, ali pertinho tem Canudos, Euclides da Cunha – De onde foquei o meu tema, no autor, na obra, na vida e na morte de Euclides da Cunha e suas contribuições para uma visão do povo do sertão.
E “a História na minha vida” continua... Porque a história da minha vida continua.Recolher