Museu Clube da Esquina
Depoimento de Beto Lopes
Belo Horizonte, 16 de setembro de 2005
Entrevistado por Stela Tredice
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista: CB047
Transcrito por Léo Dias
Revisado por Bruna Ghirardello
P- Beto Lopes é seu nome artístico. Eu queria que você começasse falando o seu nome completo, data e local de nascimento.
R- Meu nome completo é Alberto Lopes Cançado, nasci em Rio do Peixe, município de Pitangui, em 15 de novembro de 1961.
P- E o nome dos seus pais?
R- Maria Lopes dos Santos e Cornélio Lopes Cançado Filho.
P- E seus pais ou seus avós tinham alguma ligação com a música?
R- Tinham, a minha mãe tocava acordeom, meu pai tocava violão, minha mãe cantava muito bem, inclusive eu aprendi a tocar com ela, eu tinha uns quatro ou seis anos. Antigamente não tinha, dó, sol, ré, fá. Era primeira de dó, segunda de dó que é sol, terceira de dó, que é fá, então ela ia cantando e fazia assim, quando era o dedo um, era o dó maior, fazia o dois, era sol, três é a terceira de dó que é fá. Então ela ia cantando e fazendo assim e eu ia acompanhando o dedo dela e fui aprendendo assim.
P- E o que vocês tocavam ou cantavam?
R- Eram músicas antigas [cantarola]: “Se a Perpétua cheirasse, seria rainha das flores” e por aí vai.
P- Músicas de procissão, de cunho religioso?
R- É, as coisas antigas. Minha mãe cantava muita coisa antiga. Eu lembro que ela cantava aquela música [cantarola]: “Eu sempre fui feliz”. Eu me lembro da melodia, mas eu não lembro a letra porque eu a acompanhava nessa música também.
P- Você falou que o seu pai também tocava.
P- Meu pai tocava violão, Dilermando Reis, aquelas coisas mais antigas. Depois mais tarde, meus irmãos mais velhos, a gente mudou aqui para Belo Horizonte, eu tinha uns seis, sete anos. O negócio da minha mãe, eu tinha quatro anos e com seis anos eu vim para Belo Horizonte. Meus irmãos tinham um conjunto, tocavam no Labareda lá na...
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Depoimento de Beto Lopes
Belo Horizonte, 16 de setembro de 2005
Entrevistado por Stela Tredice
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista: CB047
Transcrito por Léo Dias
Revisado por Bruna Ghirardello
P- Beto Lopes é seu nome artístico. Eu queria que você começasse falando o seu nome completo, data e local de nascimento.
R- Meu nome completo é Alberto Lopes Cançado, nasci em Rio do Peixe, município de Pitangui, em 15 de novembro de 1961.
P- E o nome dos seus pais?
R- Maria Lopes dos Santos e Cornélio Lopes Cançado Filho.
P- E seus pais ou seus avós tinham alguma ligação com a música?
R- Tinham, a minha mãe tocava acordeom, meu pai tocava violão, minha mãe cantava muito bem, inclusive eu aprendi a tocar com ela, eu tinha uns quatro ou seis anos. Antigamente não tinha, dó, sol, ré, fá. Era primeira de dó, segunda de dó que é sol, terceira de dó, que é fá, então ela ia cantando e fazia assim, quando era o dedo um, era o dó maior, fazia o dois, era sol, três é a terceira de dó que é fá. Então ela ia cantando e fazendo assim e eu ia acompanhando o dedo dela e fui aprendendo assim.
P- E o que vocês tocavam ou cantavam?
R- Eram músicas antigas [cantarola]: “Se a Perpétua cheirasse, seria rainha das flores” e por aí vai.
P- Músicas de procissão, de cunho religioso?
R- É, as coisas antigas. Minha mãe cantava muita coisa antiga. Eu lembro que ela cantava aquela música [cantarola]: “Eu sempre fui feliz”. Eu me lembro da melodia, mas eu não lembro a letra porque eu a acompanhava nessa música também.
P- Você falou que o seu pai também tocava.
P- Meu pai tocava violão, Dilermando Reis, aquelas coisas mais antigas. Depois mais tarde, meus irmãos mais velhos, a gente mudou aqui para Belo Horizonte, eu tinha uns seis, sete anos. O negócio da minha mãe, eu tinha quatro anos e com seis anos eu vim para Belo Horizonte. Meus irmãos tinham um conjunto, tocavam no Labareda lá na Pampulha e eles tocavam lá todo fim de semana e eu ia vê-los, no domingo à tarde, eu cantava com eles na matinê. Aí ficava com o microfone cantando [cantarola]: “As folhas caem, o inverno já chegou”, do Roberto Carlos. E o microfone tinha um cabo grande e eu ia nas mesas, era pequenininho.
P- Quantos anos você tinha?
R- Seis, sete anos. Aí eu cantava essa música e eles tocavam. Mas eles já tinham um conjunto de baile, acho que é Impactos que chamava.
P- E era o quê, Roberto Carlos, Jovem Guarda?
R- Eles tocavam tudo, Roberto Carlos, Beatles, muito bom, Pink Floyd. Uma vez meu irmão me levou para ver o ensaio, eu pedia sempre, mas não dava pra levar e aí um dia ele levou e eu vi eles tocando Pink Floyd igualzinho, aquele CD do prisma, muito bom.
P- E o que você gostava de ouvir na sua adolescência?
R- Porque esse meu irmão, o Marcos, ele tinha um órgão, um teclado, ele tocava guitarra e órgão. Ele tinha um órgão Saema e quando eu tinha uns dez anos, me chamaram pra tocar em um casamento e eu fui com o órgão, já tinha ensaiado. Eu não lembro se eu tinha oito ou dez anos. Eu sei que eu estava lá ligando e o padre chegou: “Sai daí menino, vai estragar o instrumento”. Aí eu falei: “Não, eu que vou tocar”. “Não, não, sai daí”. Aí chegou o pessoal e falou: “Não, é ele que vai tocar”. Aí o padre: “Então tá”. Pensou que eu ia estragar o teclado. Aí depois disso eu montei uma banda que se chamava Frutos da Terra, eu já tocava guitarra, tinha músicas nossas, próprias. Eu já ouvia Clube da Esquina, Deep Purple, Pink Floyd e Led Zeppelin, Yes. E o Clube da Esquina eu já comecei a ouvir daí, a partir dos doze anos. Depois, mais tarde, eu fui tocar com todos os integrantes.
P- E o que sentiu nesse primeiro contato com o Clube da Esquina?
R- Eu gostei muito. Eu ouvi e falei: “Que harmonia é essa? Que ideia doida desses caras!”. As harmonias todas com os baixos invertidos, o Toninho Horta cheio de harmonias de bom gosto, o Milton cantando daquele jeito, como sempre, como todo mundo sabe e o Lô Borges compondo bem pra caramba. Aí eu comecei a ouvir isso e aprender a música daqui, essa música mineira do Clube da Esquina. Mas eu já tocava Chorinho, Samba e um pouquinho do Jazz, eu já tinha começado a ouvir alguma coisa. Mas o Clube da Esquina foi super importante na minha vida, é e vai ser sempre, pra mim e pra todos os músicos.
P- Por quê?
R- Porque a música é muito bem feita, melodicamente, harmonicamente e a letra também, é tudo bem feito. Então, todo mundo que ouve fica pirado. Aqui no Brasil, você vai a outros estados e quando você toca, as pessoas falam: “O que é isso? De onde que é isso?”. “Eu sou lá de Minas. Lá a gente faz assim as músicas, as harmonias são assim, inverte assim”. Então é muita escola, muito aprendizado.
P- E você considera que seja um tipo de música inovadora?
R- Foi e eu acho que é ainda. Mais novo do que isso, não tem. Musicalmente é muito bem trabalhado. Hoje em dia, o pessoal está querendo ganhar dinheiro, então faz o negócio ali, pá, pá e é só isso, pra vender, ganhar muito dinheiro, ficar rico e conhecido. Só que musicalmente não é nada disso.
P- E quando você fala do Clube da Esquina para as outras pessoas, no exterior, você já teve essa experiência?
R- Eu fui para os Estados Unidos com o Lô Borges mesmo. Aí não só Clube Esquina, eu misturo muito música mineira, com Chorinho, Samba, um pouco de Jazz. Então eu cheguei a um bar lá em Nova York, eu estava com um amigo meu e tinha um tanto de guitarristas tocando, estava muito bom e eu estava assistindo. Aí esse amigo meu foi tocar saxofone, que é o Cleuber e me chamou pra dar canja e os americanos falaram: “Tem um guitarrista brasileiro aqui e vai dar canja”. Era a primeira vez que eu ia à Nova York e fiquei com medo. Aí subi no palco, eles fizeram lá umas harmonias simples e quando passou o improviso pra mim, eu comecei com um ritmo meio de Chorinho, Samba, umas harmonias mineiras e aí arrasei, me dei bem pra caramba. Quando eu saí do palco, todos os guitarristas, todos me abraçaram. No outro dia eu voltei e o garçom: “Senta aqui”, eu já virei rei no lugar e eu falei: “Então tá bom demais”.
P- E com o Clube da Esquina é parecido?
R- É isso que eu falo sempre para os meus alunos, falava antes, agora eu não estou dando muita aula porque estou sem tempo. Os meus alunos falavam: “Vou pra Nova York estudar”. Aí eu falava assim: “Você sabe tocar Samba?”. O cara: “Não”. “Sabe tocar Chorinho?”. “Não” “Sabe tocar Baião?”. “Não”. “Xote, música mineira?”. “Não”. “Harmonia do Clube da Esquina? Então o que você vai fazê lo meu filho?”. Eu acho que se o cara chegar lá fora sabendo isso, ele vai aprender o Jazz e vai se dar bem, porque lá fora é muito mais fácil você tocar música daqui do que música de lá. Porque lá está assim de gente tocando muito bem. Você ia perguntar alguma coisa e eu te cortei?
P- Você teve alguma experiência do Clube da Esquina, das pessoas falarem alguma coisa no exterior, de ter comentado sobre o Clube da Esquina sobre esse gênero de música? Alguém chegou a falar alguma coisa com você sobre isso?
R- Todo mundo fala que gosta muito. Lá nos Estados Unidos mesmo, todo mundo adorava o show. O show era só eu e o Lô e dois violões. Uma vez eu toquei com o Andy Summers do The Police e ele também adora. Todo mundo gosta, não tem jeito de não gostar. Quando entra o Milton cantando, ou compondo, o Toninho arranjando, tocando e compondo também, todos compõem bem demais, então não tem jeito, todo mundo adora.
P- Então seu contato com o Clube começou ouvindo e como você conheceu?
R- Eu tocava na noite em vários barzinhos na Savassi e o Milton ia me ver tocar, Lô, o pessoal todo. Teve uma época em que o Fernandinho Rodrigues que era o meu amigão, a gente tocava guitarra juntos no Bar Boletas, eram duas guitarras, eu, e ele, o Iuri Popov e o Mario Castelo. Aí o Fernandinho morreu atropelado por um caminhão, foi muito triste esse negócio. Aí o Lô me chamou pra tocar com ele, porque era o Fernandinho que tocava com ele, depois o Beto Guedes. O Toninho Horta eu já tocava com ele, aí o Tavinho Moura, o Flávio Venturini, eu toquei com todo mundo. Fiz alguns shows com o Milton e várias outras coisas com esse povo já.
P- Conta mais dessas histórias para gente?
R- Tem uma história engraçada, mas eu não sei se eu posso contar. Posso né?
P- Eu acho que pode.
R- Depois se não puder vocês cortam lá. Uma vez tinha uma banda que era eu, Paulinho Carvalho, Telo Borges e o Neném e a gente acompanhava o Lô Borges e o Beto Guedes. Era uma turnê pelo Brasil, o show dos dois, entrava um, depois e outro e banda continuava a mesma. A gente estava em um hotel, saindo para ir para o show. Eu peguei o elevador, parou no quarto andar e entrou o Lô: “Vão embora?”. “Vão embora”. Aí a gente estava descendo, parou no segundo andar, entrou o Beto Guedes todo de branco. Aí nós olhamos aquilo e ficamos quietos. Aí o Lô virou e falou assim: “Oh Beto, que negócio é esse? Pai de Santo?”. Aí ele falou assim: “Pai de Santo não. Ginecologista.” (risos) Eu não sei se pode contar isso, depois você tira. O Beto Guedes pode achar ruim.
P- Não, é bonitinha. Depois eu falo pro Márcio dar uma olhada.
R- Pergunta pro Beto se pode contar isso. Mas eu lembrei, foi muito engraçado. Teve muita coisa que nós já fizemos muita coisa junto. Vários shows, só show bonito. A primeira vez que eu fui tocar com o Beto Guedes no Rio de Janeiro, fomos tocar no Parque Lage.
P- Em que ano foi isso?
R- 1989, 1990, por aí. Ou foi até antes, porque em 1989, eu gravei o primeiro disco, o Rua Um. Aí a gente chegou e o Parque Lage, ao ar livre, lotado. Aí entrou a banda, eu, Paulinho, Telo e Neném, acho que tinha o Evaldo também nessa época e um cara de Brasília que eu esqueci. Aí a gente começou a tocar Feira Moderna, a introdução para começar o show era com Feira Moderna [cantarola]. Aí era pra fazer isso e o Beto entrar cantando. Aí nós fizemos e introdução, o Beto entrou no palco, a galera aplaudindo. Aí o Beto nada de cantar.
P- E o que ele estava fazendo?
R- Ele estava curtindo com a gente. Curtindo, curtindo, e virou pra mim e falou pra mim: “Nó veio, tá bom demais, o som está muito bom!”. Aí eu falava: “Canta lá Beto”. Aí lá pela décima vez ele: “Tua cor é o que eles olham velha...” aí começou o show. Uma vez teve uma história com o Hermeto Pascoal, que não tem nada a ver com o Clube da Esquina, mas pode contar?
P- Claro.
R- A primeira vez que eu fui tocar com o Hermeto no Cabaré Mineiro. Aí eu cheguei no camarim, primeiro eu o conhecia à tarde, porque eu dava aula na Música de Minas, a escola do Milton aqui e aí ele foi fazer um workshop e eu vi e fiquei doido, eu já era fã dele. Aí eu cheguei e falei assim com ele: “Oh Hermeto, eu sou seu fã, você é um dos maiores músicos do mundo.” E ele falou: “Você é quem?”. “Eu sou músico, eu toco aqui”. Ele falou: “Você toca com quem?”. “Eu toco com o Toninho Horta, com o Lô Borges, com o pessoal do Clube da Esquina”. Ele falou: “O que? Você toca com o Toninho Horta, com esse pessoal? Então você vai tocar comigo hoje à noite”. Aí eu falei: “Tá, eu vou”. Aí ele foi embora. Na hora que ele saiu, eu falei: “Nó, o que eu falei, não vou não”. Na época eu tinha uma namorada que era a Mônica, uma namorada antiga, isso foi em 1986, eu acho, aí a gente foi para um bar depois do almoço e ficamos lá tomando cerveja, o bar chamava Abóboras, ali na Rua Rio Grande do Norte. Aí eu fiquei tomando cerveja lá até na hora do show para acalmar, eu tinha ficado nervoso: “O que eu fui fazê?”. Aí eu fui direto para o Cabaré Mineiro. Cheguei lá e estava lotado, meu nome já estava na porta, nós entramos e aí eu fui para o camarim. Cheguei no camarim e já estava todo mundo me esperando, Tiberê, Márcio Bahia, o Hermeto, todo mundo. Aí eles me abraçaram: “O Alberto vai tocar com a gente”. E eu: “Nossa, o que eu vou tocar?”. Eu não tinha ensaiado nada. Aí eles começaram o show, uma quebradeira. Aí eu peguei a guitarrinha, praticando a técnica para entrar bem. Aí o Hermeto chegou pra mim e falou: “O negócio é o seguinte, si bemol menor e mi bemol com sétima. Beleza?”. E eu falei: “Tá bom, si bemol menor e mi bemol com sétima.” E entrei, o cara plugou aqui e eu já saí solando e o Hermeto foi me empurrando pra frente do palco. E eu solando e o cabo foi só esticando. “Hermeto, olha o cabo, olha o cabo”. E ele: “Olha o povo, olha o povo” (risos).
P- E rolou? Você tocou?
R- Toquei, foi bom pra caramba. Todo mundo gostou. E ele falou: “Toda vez que você vier no meu show e tiver sem a guitarra, não entra.” Aí depois teve várias vezes que ia ver o show dele, entrava e dava canja. Depois São Paulo, lá no SESC Pompeia, depois em Ouro Preto. Fala aí, eu estou falando pra caramba.
P- Não está ótimo. Voltando um pouquinho ao Clube, você considera um movimento musical? Dá pra dizer que é um movimento?
R- Claro.
P- Por que você acha?
R- Porque é uma música nova, de harmonia nova, melodia, com ritmo também, tem muita coisa, muita informação que tem no Clube da Esquina. As composições Milton, do Lô, do Beto Guedes, do Toninho Horta, Tavinho Moura, Nivaldo Ornelas, Flávio Venturini, cada um é de um jeito, você já notou? Todos têm aquela característica mineira, mas cada um é de um jeito, é diferente e é aí que tem a riqueza. Quem escuta, tira e vai atrás, se dá bem como eu, me dei bem.
P- E o que é essa característica mineira da música?
R- É o jeito de harmonizar, é a beleza de colocar a melodia junto com a harmonia na hora certa, sem correr, sem afobamento.
P- Isso só em Minas que existe?
R- É mais em Minas mesmo. Mineiro, devagar, pão de queijo, não sei o quê, é esse negócio aí, montanha, cachoeira, o povo também, as pessoas.
P- E isso reflete nas músicas?
R- É. Você vê que todo mundo que vai pra fora fica não sei quanto tempo longe de Minas, fica doido pra voltar, porque aqui é que é bom. Agora, é difícil de trabalhar, de viver, é, mas aqui é que é bom, entendeu? O Tom Jobim mesmo falou: “Nova York é boa, mas é uma merda. Brasil é uma merda, mas é bom demais”. Tom Jobim é outro craque.
P- Alguma outra coisa que você se lembra em relação ao Clube da Esquina que você ache interessante contar?
R- Teve uma vez, esse show que eu toquei com o Milton lá no Heineken Concert, teve Uakti, Lô Borges, Andy Summers, Milton.
P- Foi aonde?
R- Foi no Palace em São Paulo e no Canecão no Rio de Janeiro. No Rio, eu lembro que eu estava passando o som do violão e o Andy Summers queria o som do violão dele igual ao meu. Ele pegou uns 10 violões e não dava. E eu falei: “Não Andy, é porque a pegada é diferente”. Ele me pediu pra ensinar ele a tocar samba, mas a mão dele era dura, não dava swing. “Você tem que soltar a mão”. Aí ele não conseguiu tirar o som igual ao do meu violão de jeito nenhum. Eu falei: “É a pegada da mão”. Aí o Milton falou: “Oh, eu gostei muito do som do seu violão, você me empresta pra eu tocar com ele hoje?”. Eu falei: “Claro, pode tocar no meu violão”. E ele tem o volume aqui, era um Takamine e eu falei: “Tira o volume para não dar microfonia”. Aí tirei e deixei lá e aí entra o Milton, pega o violão, sozinho, o lugar lotado, pega o violão e começa a tocar e cantar e nada de som, tinha que ter aumentado. Aí eu falei: “E agora?” E ninguém fazia nada e aí eu falei: “Vou ter que ir lá”. Aí eu fui no palco, aumentei e o violão e ele: “Obrigado” e aí continuou. Teve uma história que eu estava com ele lá em Balneário Camboriú e a gente estava tomando cerveja na hora do almoço e só ele que não, porque ele parou de beber tem muito tempo. Aí eu falei com ele: “Oh Bituca, você não anima de tomar uma cervejinha sem álcool? Toma uma sem álcool”. Aí ele falou: “Eu já até pensei nisso, mas vai que eu gosto, melhor não mexer com isso”.
P- E você fez muito shows dentro das parcerias com o pessoal do Clube?
R- Eu fiz mais shows com o Lô, Beto Guedes, Flávio e o Tavinho Moura e com o Tavinho eu acho que eu fiz mais ainda. Fizemos muitos shows eu, ele e o Fernando Brant, gravei vários discos com o Tavinho, fiz a direção musical do último disco dele que é o Cruzada. Deixa só eu contar só mais uma história engraçada. Há muitos anos atrás eu e o meu irmão o Wilson Lopes, a gente ia fazer um show de dois violões e aí a gente brigou, porque na época a gente era mais novo, era menino, brigava. Nós brigamos e falamos: “Cada um faz uma banda”. Aí eu chamei o Bituca pra ir no show, ele morava aqui ainda. Aí ele falou: “Só vou se levar o convite”. Aí eu levei o convite lá na casa dele e ele foi no show, todo mundo foi, o Lô foi. Aí o Wilsinho tocou a parte dele, depois eu entrei com a minha banda e estou tocando, nervoso, era menino e tinha uma estante com as partituras e aí eu deixei a palheta lá pra falar alguma coisa, na hora que eu fui voltar pra tocar a próxima música, fui pegar a palheta, já agarrou debaixo da estante e a hora que eu puxei a estante, já voou paleta, partitura na plateia. Aí um cara lá em cima gritou: “A palheta está aqui”. Voou lá em cima e todo mundo rindo, aquela confusão, aí voltamos, tocou e o show acabou. Aí nós fomos para um barzinho que chamava Beco da Lua e o Bituca falou: “Deixa por minha conta, eu pago cerveja pra vocês”, aí fomos. A gente estava no barzinho aí passou um cara e ficou olhando pro Bituca, ia pra lá e voltava. Aí teve uma hora que o cara falou assim: “É que eu estou pensando?”. Aí o Bituca falou: “Não, todo mundo me confunde com esse cara, esse tal de Milton”, aí o cara saiu e todo mundo riu pra caramba. Aí eu falei: “O Bituca, você gostou do show?”. “Gostei muito, o show foi muito legal”. “Amanhã você vai de novo?”. Aí ele falou: “Só vou se tiver o lance da estante novamente”.
P- Esse foi o grande show. (risos). Eu queria que você dissesse o que você acha desse projeto, você já viu o site, o que você acha?
R- Acho maravilhoso. Márcio Borges, meu parceiro, eu tenho a honra de dizer que tem duas músicas com ele, com Murilo Antunes, com Fernando Brant também. Eu acho isso aí muito bom, bom para todo mundo, para todas as pessoas que querem aprender a fazer música e viver também, ouvir as letras, tem muita coisa bonita, musicalmente também, bom pra todo mundo, pra mim, pra você, para eles, todo mundo.
P- Legal, é isso. Essa é a nossa conversa.
[Fim da entrevista]
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