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resumo

Sebastião Marinho de Barros conta a sua história dentro da Rede Ferroviária do Nordeste. De família humilde, desde criança dividia seu tempo entre estudar e trabalhar ensacando pés de banana. Com 14 anos, à convite de seu cunhado, começou a praticar telegrafia na estação de Florestal, dois anos depois já estava trabalhando. Somando 41 anos de trabalho na Rede, chegou a se tornar inspetor de tráfego e de pessoal das estações de Pernambuco, administrando 73 estações ao mesmo tempo. Sua história é uma viagem no tempo das ferrovias, recheada de curiosidades e fatos sobre o modo de funcionar das estações de trem de Pernambuco, cuja tarefa Sebastião dominou sem nunca perder o companheirismo com seus colegas. Projeto Um Trem de Histórias Registro e Disseminação dos Saberes e Ofícios da Rede Ferroviária do Nordeste Módulo Pernambuco Entrevista de Sebastião Marinho de Barros Entrevistado por Cláudia Fonseca e Fernanda Prado Recife, 13/04/2010 Realização Museu da Pessoa Entrevista Nº MRFP_HV013 Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva Revisado por Gustavo Kazuo   P/1 – Seu Sebastião, bom dia.   R – Bom dia.   P/1 – Muito obrigada por ter vindo.   R – Não há de quê.   P/1 – Queria começar a entrevista com o senhor dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.   R – Sebastião Marinho de Barros. Eu resido em Prazeres. Nasci no dia 6 de dezembro de 1934.   P/1 – O senhor nasceu lá mesmo em Prazeres?   R – Eu nasci em Maraial, interior de Maraial.   P/1 – Maraial é?   R – É depois de Palmares, Pernambuco.   P/1 – E o nome dos seus pais, seu Sebastião?   R – Jerônimo Marinho de Barros e Maria de Araújo Barros.   P/1 – Eles eram lá de Maraial também?   R – Também, Maraial.   P/1 – Maraial. E o que é que eles faziam, seu Sebastião?   R – Meu pai era comerciante.   P/1 – Comerciante de quê?   R – Mercearia no caso. Porque naquela época era mercearia.   P/1 – Aquela que vendia de tudo?   R – De tudo, é. De tudo.   P/1 – E a sua mãe, dona de casa?   R – Dona de casa.   P/1 – E o senhor tem irmãos?   R – Tenho oito.   P/1 – O senhor é qual nessa ordem?   R – Na ordem eu sou...   P/1 – Ali no meio ou mais para a ponta?   R – Mais para a ponta.   P/1 – Meninos, meninas?   R – São oito homens.   P/1 – Oito homens?   R – E oito mulheres.   P/1 – Então, são dezesseis?   R – São dezesseis, é.   P/1 – Nossa, bastante gente.   R – É, muita gente.   P/1 – Então, era uma bagunça na sua casa, né?   R – Era.   P/1 – E os seus avós o senhor conheceu?   R – Não cheguei a conhecer não.   P/1 – Não?   R – Não me lembro não.   P/1 – O senhor passou a sua infância lá onde o senhor nasceu?   R – Eu passei a minha infância lá, exatamente.   P/1 – E como é que foi a sua infância?   R – Aliás, a cidade é Maraial, mas eu morava além de Maraial, no interior, Florestal. Foi onde eu comecei a praticar na estação da Rede Ferroviária, Florestal.   P/1 – Mas isso, quando o senhor já era mais velho um pouquinho.   R – Exato.   P/1 – Quando o senhor era criança, o senhor estava lá em Maraial?   R – Em Maraial. Agora, com catorze anos, eu estava em Florestal.   P/1 – Mas então até catorze anos o senhor estava lá.   R – Exatamente.   P/1 – E como é que era a cidade, como é que foi a sua infância?   R – Uma cidade pequena. Cidade muito pequena. A minha infância foi, como se diz, de sacrifício, né? Eu ensacava bananas para a Fábrica Peixe aqui no Recife. Eu e meu irmão Gilvan. A gente ensacava banana até duas, três horas da manhã. Eu aproveitava e, durante o dia, eu praticava na estação da Rede Ferroviária.   P/1 – O senhor ia até Florestal para praticar?   R – Para praticar. Isso foi...   P/1 – Maraial não tinha estação?   R – Tinha estação, mas, nessas alturas, eu já estava em Florestal.   P/1 – Mas até catorze anos o senhor estava lá, quer dizer, o senhor ensacava banana...   R – Em Florestal. Aí passei a morar lá em Florestal.   P/1 – Mas um pouquinho antes disso, quando o senhor era um pouquinho menorzinho, mais criança, eu queria que o senhor contasse como é que era, por exemplo, a sua casa, com dezesseis crianças. Como é que era essa...?   R – Minha casa era aquela vida mesmo de pobreza. Estudava.   P/1 – Tinha escola lá?   R – Tinha escola. Aquelas de interior mesmo, para aprender, entendeu?   P/1 – Era uma escolinha da Prefeitura, do estado?   R – Não, de lá mesmo, do engenho.   P/1 – Do engenho. Então, era uma escolinha rural?   R – Uma escolinha rural, exatamente.   P/1 – Tinha uma professora?   R – Tinha uma professora, é.   P/1 – O senhor lembra o nome dela?   R – Zezita.   P/1 – Dona Zezita.   R – Zezita Esteves.   P/1 – Ela que ensinou o senhor a ler e escrever?   R – Foi, exatamente.   P/1 – E todo mundo ia para essa escolinha, era a única que tinha?   R – Todo mundo ia.   P/1 – E andava muito para chegar lá, seu Sebastião?   R – Andava muito.   P/1 – Era cedinho que o senhor ia?   R – Ia, era pior no inverno, que a gente tinha que andar muito por dentro da lama, muita chuva, muita água. Mas no verão andava...   P/1 – Mas o pai e a mãe faziam ir para a escola? Eles faziam questão?   R – Faziam. Naquela época, era bom porque era muita disciplina. Aí, eu comecei a praticar, né?   P/1 – Sei. Mas o senhor quando voltava da escola o senhor brincava ou não tinha tempo?   R – Não, eu ia praticar.   P/1 – Ia sempre praticar?   R – Ia praticar, para aprender o aparelho Morse, né?   P/1 – Mas como é que o senhor teve vontade de praticar?   R – Porque o chefe da estação me chamou. Disse: “Sebastião, não quer praticar não?” “Quero.” Aí eu, aquele aparelho Morse, que é telegrafista, né? Eu procurei aprender, e quando eu pensei que não, eu tinha catorze anos, com dezesseis anos, ele disse: “Sebastião, vamos para Palmares tirar todos os seus documentos, que você já está pronto.” Aí, eu disse: “Eu não quero trabalhar não.” Ele disse: “Não? Mas por que rapaz? Você já sabe tudo.” Foi quando ele me levou para Palmares, tirou todos os meus documentos. Eu fiz exame de saúde. Com dezesseis anos, eu já comecei a trabalhar.   P/1 – Mas o senhor quando estava lá em Florestal praticando o senhor também tinha esse trabalho de ensacar bananas?   R – Tinha também, tinha.   P/1 – Como é que era? Era porque tinha muita plantação de banana lá em Florestal?   R – Tinha muita plantação.   P/1 – Como era, seu Sebastião?   R – Tinha muita plantação de banana. A gente ensacava banana para a Fábrica Peixe aqui do Recife.   P/1 – E vocês ensacavam à noite, que o senhor estava dizendo?   R – À noite.   P/1 – E era tudo criança que fazia isso, molecadinha?   R – É, exato. Exatamente, era.   P/1 – Ganhava um dinheirinho bom?   R – O saco era naquela época de três tostões, na época de três tostões por saco. Aí, pronto, quebrava o galho, né? (riso)   P/1 – Quebrava o galho? Vocês davam o dinheiro para a mãe ou ficava para vocês?   R – Ficava para a gente.   P/1 – O que vocês faziam com o dinheiro?   R – A gente comprava tamanco, comprava macacão.   P/1 – Vocês estavam morando lá em Florestal?   R – Morando lá.   P/1 – Mas só o senhor e o seu irmão ou a família toda?   R – Não, a família toda.   P/1 – A família toda foi para lá. Era melhor lá para trabalhar?   R – Era melhor.   P/1 – Para o seu pai, era?   R – Era melhor. Foi quando eu comecei a praticar.   P/1 – E o senhor conhecia o chefe da estação para ele poder lhe chamar?   R – Eu conhecia. O chefe da estação era casado com minha irmã. A minha irmã tinha doze anos quando ele se casou com ela, doze anos. (riso)   P/1 – Então, ele era seu cunhado.   R – É, meu cunhado, era. Ele disse: “Menininho...” Ele me chamava Menininho: “Menininho, venha praticar.” Aí, eu fui praticar, pronto, e eu me dei bem.   P/1 – Foi ele mesmo quem lhe ensinou?   R – Ele mesmo.   P/1 – Qual é o nome dele?   R – João Esteves de Azevedo.   P/1 – Ele tinha paciência?   R – Ele era o chefe da estação, mas tinha também o telegrafista que era o Geraldo de Aguiar.   P/1 – Ele também lhe ajudou?   R – Muito, ajudou muito.   P/1 – O senhor aprendeu fácil?   R – Fácil, aprendi fácil. Também, eu me dedicava muito, me dedicava muito. Aprendi fácil.   P/1 – Então, o senhor ia para a escola, depois praticava um pouquinho e depois ia pegar banana.   R – Praticava, exatamente, e, à noite, ia ensacar banana. Não parava não. Foi uma vida de sacrifício.   P/1 – O senhor, com dezesseis anos, foi para Palmares?   R – Com dezesseis anos, eu fui para Palmares para tirar meus documentos. O João Esteves foi quem me levou. Tirou meus documentos, fiz exame de saúde e passei a ser praticante oficial. Com poucos meses, eu comecei a trabalhar, em 1950.   P/1 – E o senhor como é que o senhor foi de Florestal para...   R – De trem.

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Título: A faculdade da gente foi a Rede Ferroviária

Local de produção: Brasil / Recife

Autor: Museu da Pessoa Personagem: Sebastião Marinho de Barros

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