Projeto: Memória CDI
Depoimento de: Diego Garcez Alves
Entrevistado por: Lilia Ferreira e Danilo Ferrete
Local: Recife
Data: 25/09/2004
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista: CDI_TM033
Transcrita por: Ruth Siqueira
Revisado por: Maria Julia Andrade
P/2 – Diego, bom dia.
R – Bom dia.
P/...Continuar leitura
Projeto: Memória CDI
Depoimento de: Diego Garcez Alves
Entrevistado por: Lilia Ferreira e Danilo Ferrete
Local: Recife
Data: 25/09/2004
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista: CDI_TM033
Transcrita por: Ruth Siqueira
Revisado por: Maria Julia Andrade
P/2 – Diego, bom dia.
R – Bom dia.
P/2 – A gente poderia começar você falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Ok. Diego Garcez Alves, Aracaju, Sergipe, 15 de outubro de 1982.
P/2 – Perfeito. Diego, você poderia contar pra gente a sua trajetória profissional até a sua entrada no CDI?
R – Eu iniciei, Danilo, primeiro contacto com o mundo do trabalho foi como estagiário de uma concessionária de veículos. Comecei novo, eu tinha dezoito anos, nenhuma exceção. Tantos jovens hoje querendo entrar nesse mercado de trabalho, eu tinha essa ansiedade por ter esse contato, esse contato com o mundo do trabalho para poder alcançar, em busca de minha independência, enfim. Logo ao ingressar na faculdade – eu ingressei na faculdade novo, com dezessete anos e pouco tempo após eu ingressei numa concessionária de veículos Volkswagem - meu intuito era colocar o pé no mercado de trabalho, não estava muito... até porque nessa idade você não tem muita noção do que você quer pra você e você
não tem muito direcionamento, um enfoque específico para a sua carreira. Então, eu busquei algo que eu pudesse ter contacto com o público, que me desse algum jogo de cintura, discernimento nesse contacto com o cliente e foi como atendimento ao cliente nessa concessionária de veículos logo após, (passei nove meses nessa concessionária – Olho D'Água Veículos) e ingressei no programa de trainee na Câmara Americana de Comércio que tem um modelo bem interessante de trabalho. A matriz é aqui em São Paulo e existe um programa de trainee que é replicado para todas as regionais. Eu ingressei no programa de trainee que da Câmara de Comércio aqui de Pernambuco e pra mim foi uma grande escola. Lá eu permaneci dois anos e meio, o programa de trainee durou seis meses e depois disso eu fui ocupando outras funções dentro da empresa. Fui Líder de Comitês, que são os fóruns de discussões temáticas e foi aí que eu conheci o Marcelo Fernandes, o presidente do CDI. Existe um Comitê de Tecnologia da
Informação da Câmara Americana aqui em Pernambuco e eu era líder desse comitê e o Marcelo na época era o presidente, -------- do comitê e foi através desse comitê que a gente começou a ter algum relacionamento e ele conheceu meu trabalho a partir daí. Depois eu comecei na Câmara como relacionador de relacionamento e apenas um ano e meio depois o Marcelo veio me fazer esse convite pra trabalhar aqui na CDI.
P/2 – Qual é a finalidade desse Comitê de Tecnologia da Informação? Você poderia explicar um pouquinho?
R – Ele é um fórum de discussão que se reúne uma vez por mês e serve pra fomentar a discussão entre o setor de tecnologia do estado. Um setor que está tomando um corpo muito interessante e ele serve pra unir esses empresários executivos em torno de uma bandeira maior ou então trocar experiência. Enfim, em alguns momentos ele tem objetivos pontuais como redução de determinado imposto ou então se encontrar uma via de exportar o software do estado, mas a missão maior dele é mais unir estas forças, é mais fomentar esse contacto, essas discussões entre os executivos regionais do setor de TI.
P/2 – Você disse que o setor de TI está em Pernambuco numa fase interessante, ----------. Que fase é essa, você poderia explicar isso pra gente?
R – Sim. Ele hoje, já de algum tempo a coisa está se consolidando, mais agora, esse setor de tecnologia vem recebendo investimento do estado; se entendeu, é um consenso, que Pernambuco tem perfil e tem potencial pro Setor de Tecnologia da Informação e está começando a ter investimento e ver a fórmula de capitalizar isso. Então, hoje existe o porto digital que é a OSIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que é uma Organização Social federal com um braço do governo no estado, onde tem o objetivo maior de fomentar o setor aqui na região. Então, o setor tem ganhado proporção e tamanho, várias empresas têm se destacado e começado a ingressar no mercado internacional ou em outros estados, têm começado a aumentar número de vendas e o grande precursor disso tudo, a grande semente desse setor é o Centro de Informática da Universidade Federal. Eu acho que a partir daí é que foi identificado esse potencial, esse talento pra esse setor de TI no estado; acho que foi onde tudo começou e hoje são mais de 50 PHDs em Tecnologia da Informática que existe aqui em Pernambuco e tem algumas grandes empresas que já estão alcançando o mercado mundial.
P/1 – E o Porto, ele congrega ONGs também?
R – Não. O Porto, o objetivo dele é fomentar. Ele se tornou uma ONG a coisa de dois anos atrás. Até então era um órgão do estado, uma instituição estadual. Ele congrega empresas, ele fomenta o setor de uma forma geral e existe a gestão do Porto Digital que é essa ONG e existe o Conselho do Porto Digital que é onde essas empresas de TI se reúnem. Num bairro antigo de Recife que foi revitalizado, e várias empresas de TI (hoje são mais de 50 empresas de TI) estão lá no Recife antigo que está se tornando um bairro de negócios. Então, existe esse conceito que ali tem várias empresas que prestam diversos tipos de serviço no setor TI. Por exemplo, tem um escritório de advocacia especializado em Tecnologia da Informação, um business em Tecnologia da Informação, tem Agência de Publicidade que volta o seu foco para o setor também. Então, forma todo um conceito de closet, de trabalho em grupo ali entre aquelas empresas do Pólo de Informática.
P/2 – E tem uma proposta de inclusão digital também, o Porto Digital?
R – Sim, inclusive o CDI é parceiro dele, do Porto Digital e um parceiro também muito forte do próprio estado através da Secretaria de Tecnologia do governo estadual. O CDI é parceiro nesta história e em todas as iniciativas, você vê essa preocupação de inserir essa camada da sociedade que não tem condições de ter acesso à informática aproveitar que está tendo um gancho para alavancar os negócios e também está preocupado em não aumentar esse afastamento. Então, são iniciativas de programas em conjunto. Como eu falei, o próprio estado é um parceiro fortíssimo, a gente está aqui dentro do Instituto de Tecnologia do Estado, essa semana mesmo, no fim de semana vai ter um seminário lá no Porto Digital discutindo a inclusão digital. O próprio Marcelo vai ser um dos
palestrantes, é um seminário que quer unir os programas que existem no enfoque de Inclusão Digital e quer fomentar essa discussão.
P/2 – E como o CDI atua na Inclusão Digital dentro do Porto Digital? Quais são as suas atuações?
R – Nós já fizemos escolas em parceria. Ali dentro desse bairro do Recife antigo, próximo do bairro do Recife antigo tem uma comunidade com um dos índices de desenvolvimento humano mais reduzidos do estado que é a Comunidade do Pilar e a gente já teve Escola de Informática e Cidadania nessa comunidade em parceria com o Porto. Nós tínhamos até dois meses atrás uma sala de capacitação funcionando no Porto Digital e fora várias iniciativas que nascem em conjunto. A própria empresa do Marcelo, a Globaltec, está dentro do Porto Digital então, a articulação e o contacto são muito intensos; a partir daí nascem várias iniciativas menores e possibilidades de perspectivas maiores também.
P/2 – E a sua atuação no grupo de trabalho quando você ainda estava na Câmara de Comércio? Qual foi a sua experiência neste grupo?
R – O grande ganho, além de eu conseguir a partir daí me inserir um pouco dentro desse setor, entender um pouco todo esse movimento é interessante também a rede de relacionamento que você cria, obviamente, é uma coisa que não se pode deixar de falar, e principalmente essa oportunidade, digamos assim, de você estar com players do setor, com pessoas que fazem o setor, com empresários tarimbados que já tem uma experiência interessante e ai você ter a oportunidade de absorver um pouco a história e a experiência dessas pessoas e aí você também começar a entender o movimento de um setor específico na economia do estado.
P/2 – Conta como foi o contacto do Marcelo com você, o seu convite pra você entrar no CDI?
R – A gente já tinha estabelecido esse relacionamento via Câmara mas depois disso ele deixou de ocupar a presidência do Comitê da Tecnologia da Informação e a gente tinha contactos esporádicos e nada mais intensos, e é como eu falei, quase um ano e meio depois ele agendou um almoço e eu fiquei curioso porque até então a gente não tinha comentado nada, só tinha agendado um almoço e não se conversou o que ia se discutir no almoço e foi então que ele me fez o convite de vir trabalhar com ele no CDI. A princípio pra mim foi algo bem interessante tudo que transcorreu dentro de mim porque é terceiro setor e eu até então tinha um enfoque e uma visão de carreira muito mais voltada pro segundo setor e aí a gente iniciou essa conversa, eu fiz muitas perguntas, quis entender todo esse mundo aqui do terceiro setor, todo esse dia a dia do Comitê para Democratização e Informática, vim aqui conhecer o CDI, a gente marcou um jantar com o antigo coordenador executivo pra eu entender como era a rotina dele, qual era a função desse coordenador, como ele desempenhava no seu dia a dia pra eu saber como seria o meu dia a dia, se eu teria interesse e se eu teria condições de assumir esse compromisso com o CDI e com o Marcelo. E aí foi quando eu topei o desafio e apesar de ser bem recente, vai fazer quatro meses, eu não me arrependo e muito pelo contrário, estou bastante entusiasmado e é interessante como a mudança traz bastante aprendizado, a mudança de uma forma geral e especialmente quando é uma mudança positiva como essa e é interessante quando você muda para o certo você fica encantado e fica satisfeito de ter arriscado. Hoje eu estou bastante satisfeito conhecendo o terceiro setor e você começa a se perguntar se vai quer sair dele, se vai querer sair dele ou não, ou se vai construir meios de continuar nele e fazer sua carreira nele porque é muito diferente você trabalhar com pessoas, trabalhar com foco no desenvolvimento do ser humano de você trabalhar com o foco do desenvolvimento de um produto, ou no aumento de vendas, ou no aumento do lucro e aí você começa a fazer certas perguntas muito complexas que mexem com valores e princípios que ai é a onde está a grande vantagem de se trabalhar no terceiro setor, trabalhar com seres humanos é essa, você estar numa linha de aprendizado, talvez muito maior que em outra instituição. Você está em uma troca direta com seres humanos, tanto internamente, as pessoas que fazem o terceiro setor como os funcionários do CDI como obviamente o público alvo que são as comunidades de baixa renda que eu tinha pouquíssimo contacto.
P/2 – Então, acima de tudo, esse contacto que você está tendo com terceiro setor está levando você a uma transformação pessoal?
R – Com certeza. Com certeza, leva sim. Principalmente os dois primeiros meses você faz bastantes perguntas e você fica muito mexido e então você passa por um amadurecimento e um crescimento muito interessante. Eu me achava uma pessoa, até então, o suficiente sensibilizado com a causa social, com as pessoas com menos oportunidades, enfim, não era tão sensibilizado assim ou então não desempenhava nada que pudesse mudar essa situação e aí você vê que é possível fazer alguma coisa, colocar a mão na massa pra fazer alguma coisa é algo que satisfaz muito. Você começar a se repensar, repensar a sociedade, repensar a classe média que de onde eu vim, de onde eu pertenço e essa disparidade clara de você ter a consciência de você ser a minoria, você não é a maioria. A maioria, talvez você domine culturalmente, enfim, a classe média tenha essa penetração maior, mas você é minoria em termo de população.
P/2 – O que faz um Coordenador Executivo? O que ele faz?
R –É interessante, não sei se vocês observaram, mas até está sendo pra mim um processo de aprendizado entender o terceiro setor, eu estou falando isso porque o nome correto é Coordenador Executivo, não é Gerente Geral ou coisa assim, porque o terceiro setor tem esse lado muito característico, muito próprio dele, por exemplo, da própria hierarquia ser algo mais horizontal possível, não ser uma coisa tão vertical, da imposição. Existe muito mais discussão, muito mais liberdade e isso é que faz você trabalhar com muito mais prazer dentro do terceiro setor. Então, minha função seria a função de gerente geral de uma empresa onde, eu resumiria, gerir pessoas, gerir a equipe do CDI que, graças a Deus é uma equipe muito talentosa e uma equipe que não é mais pequena. O CDI está em fase de expansão, expansão concreta. Hoje, existe no CDI funcionários diretos que estão aqui no escritório trabalhando no dia a dia, cerca de 17 funcionários, mas existem funcionários que estão alocados em programas específicos, em empresas, enfim, projetos específicos e hoje a gente está com intenção de receber mais cinco pessoas na equipe, mais sete salas no CDI em Pernambuco, mas a minha função seria gerir essa equipe, esses talentos, essas pessoas e a gestão financeira e óbvio, o papel institucional que você representa como Coordenador Executivo. Representar institucionalmente o CDI para o mercado, mas não é pouca coisa. Só a gestão de pessoas é algo que exige bastante energia pra você estar trabalhando e motivando a equipe, uma equipe tão talentosa, com tanta vontade de colocar a mão na massa e é interessante que, como tem muita discussão, é um aprendizado. O Marcelo me disse uma vez: "Você vai ter que conquistar a sua liderança pela própria estrutura organizacional. Se você não for aceito, você não vai ser aceito e ponto final. Está entendendo?" e é muito interessante que a gente vem aqui pra sala de reunião discutir alguns pontos polêmicos ou chaves para o nosso dia a dia, para o desenrolar da organização e não existe aquela história de imposição, ou você convence no campo das idéias, onde existe uma liberdade muito maior que em outras organizações, ou a gente sai dali num consenso ou há esse consenso no campo das idéias ou esse consenso não funciona. Não é porque você acha que o melhor vai ser aquilo, que o mais bonito, que o melhor para a organização é a sua idéia que ela vai ser implementada. De forma alguma. Isso trás um aprendizado muito interessante. A parte financeira, também é uma ginástica você entender a gestão financeira do CDI. Porque? Porque a ONG de uma forma geral e o CDI principalmente, nem todas, mas funciona com projetos. São financiadores de projetos específicos e então normalmente tem começo, meio e fim. Então, é interessante porque nesses projetos existem o que a gente chama de dinheiro carimbado, ou seja, aquela verba só pode ser gasta com um fim específico então é interessante a ginástica que você tem que fazer porque no fim das contas o CDI não é só aquele projeto e ele não se restringe ao que foi acordado num projeto específico. Ele é o nosso dia a dia que você vê aqui funcionando. É o acompanhamento das escolas, o aprimoramento das escolas, é atualização, o aprimoramento da tecnologia, enfim. E você mexer com esses projetos e fazer com que toda a casa ande, a roda gire no dia a dia do jeito que ela tem que girar, mas sabendo que daquele projeto você pode tirar só tanto porque aquela verba é destinada pra isso; d'aquele outro você pode só tirar tanto e enfim, é uma gerência financeira que tem que ser muito bem conduzida. Além disso tudo existe toda uma transparência que uma ONG tem que ter, prestação de contas dos mínimos centavos possíveis. Então, também é algo bem interessante pra se trabalhar, uma experiência bem interessante que eu estou tendo.
P/2 – Diego, quando você entrou como é que estava a área da Coordenação Executiva? Quando foi criada essa área e o que foi passado?
R – Ela existiu desde o princípio do CDI. O Paulo Araripe, que é pessoa que exercia essa função antes de eu ingressar, foi um dos fundadores também junto com o Marcelo e a Sabrina. Foi uma das pessoas que fundaram a organização e a coisa acho foi se desenhando aos poucos, essa função, quais eram as atribuições do Coordenador Executivo, mas hoje acho que já é uma coisa bem desenhada, é algo a já está bem definido. Quando eu cheguei aqui foi interessante que, agora eu me considero saindo ou perto de sair do processo de transição porque houve uma perda grande de funcionários em pouco tempo. Além do Paulo, saíram mais três funcionários e isso em um mês se não me engano e logo depois teve -------aí, o CDI passou dois meses sem o -------- do executivo e junto comigo ingressaram mais outras quatro pessoas. Então, teve um processo de transição aí, um acúmulo de tarefas também muito grande. Eu peguei uma carga de tarefa muito intensa logo no início e ela continua intensa ainda, estou diluindo todo esse processo que a gente está passando porque o ritmo é muito forte, muito intenso aqui no CDI, graças a Deus, não é por ser ONG. Trabalhar fundo social que a gente tem um ritmo menor, uma produtividade menor. A gente tem um enfoque e uma preocupação maior com a qualidade de vida dos funcionários, mas a produtividade, pelo contrário, tem que ser a maior possível porque a gente trabalha com algo que a gente, muitas vezes não pode cometer falhas ou ter tempo pra, enfim, qualquer coisa pra estancar o processo porque a gente trabalha com seres humanos que necessitam do nosso trabalho. então não sei se te respondi, mas foi isso. Estou num processo de transição, a gente está desenhando vários processos. Tem bastante coisa acumulada. Alguns processos que não eram desenhados, que não estavam claros e a gente está vindo nesse trabalho dessa forma. Por enquanto estou numa fase muito interna, de arrumação mesmo dos processos, muita coisa acumulada. Acredito que em pouco tempo eu estarei, eu quero me dedicar mais ao mercado, angariar novos parceiros, enfim, fazer um plano de marketing, trabalhar melhor o nome do CDI no mercado de Pernambuco, mas por enquanto estou numa fase muito inter. O CDI está muito voltado aqui pros processos internos.
P/2 – E quais são esses processos? O que está tendo como atividade? Afinal de contas o que foi a sua atividade nesses quatro meses, qual são esses processos que você teve que organizar?
R – Certo. A gente teve que, por exemplo, a gente teve que definir alguns pontos chaves, algumas coisas básicas que até então os colaboradores, a organização não tinha atentado, mas que era preciso. Por exemplo, o ponto de saturação que a gente chama, o número de escolas em atividade que a gente possa trabalhar com qualidade. Então, a gente vinha num processo desenfreado de abertura de escolas. Não existia um processo claro de se instituir, de se inaugurar, de abrir uma nova escola de processo de cidadania e algo que até deixava todos um pouco perdidos, não tinha um planejamento, que era a abertura de novas EICs. Então, a gente chegou que a gente estava chegando a esse ponto de saturação que pra trabalhar com qualidade com as escolas que já existem hoje em dia a gente precisava parar com essa abertura, rediscutir essa abertura com clareza, definindo um prazo pra recebimento de projeto, qual seria o procedimento, o feedback que você dá pra cada projeto recebido. Uma coisa com muito mais critério e mais atenção a esses parceiros, essa clientela que tem interesse em abrir novas escolas e a gente, enfim, começou a definir prioridades. Hoje uma prioridade é investir na qualidade das escolas que estão em atividade, hoje isso está claro, é um dos objetivos hoje da gente. Pode ser que daqui a um tempo... A gente está com perspectiva de receber novos funcionários e aí pode ser que daqui a algum tempo a gente possa voltar a... hoje, a gente não está estancado por completo nessa abertura de novas escolas, mas daqui a algum tempo pode ser que a gente veja que já alcançou um nível em que várias escolas estejam com um grau de sustentabilidade interessante e a gente possa voltar a investir na abertura de novas escolas e aí a gente volta a fazer isso, mas por enquanto a gente está definindo essas prioridades, a gente está deixando transparecer, ficar muito claro as metas que a gente tem com os nossos financiadores, que até então eu acho que também até então não era uma coisa que ficava tão clara. Se você vem aqui no CDI, você passa esses dias aqui no CDI, como eu falei,você vê uma organização funcionando, você não enxerga dentro do dia a dia dela os projetos específicos que financiam e sustentam essa organização. Só que a gente tem que ter uma clareza, e uma transparência muito grande com esses projetos que são os nossos sustentadores, é através deles que a nossa organização funciona e a gente firma compromissos com esses financiadores no início de cada projeto, então a gente tem que ter um foco no dia a dia, em cada reunião, em cada tarefa executada um foco em atingir essas metas acordadas com os financiadores no momento inicial, ou seja enxergar esses projetos no dia a dia de uma organização que é uma coisa muito mais ampla, que é como eu falei: Tais pessoas, tais colaboradores. Os salários de duas pessoas, financiados por determinado projeto, mas aquelas duas pessoas não vão focar só naquele projeto e aí, acho que foi interessante o que você perguntou: "O que vem acontecendo?" Um outro acontecimento que é básico é a gente enxergar com clareza que existem essas metas e esses compromissos firmados no início com cada financiador e esse seria também - eu estou falando de coisas mais palpáveis – mas acho que o grande, eu pelo menos enxergo assim, e aí a gente seria interessante a gente ter um colaborador do lado pra perguntar dele a mudança que eles podem estar sentindo, pra melhor ou pra pior. Mas enfim, qual seria a mudança nesses quatro meses. A meu ver, pode ser que o setor já tivesse essa estrutura, mas eu invisto bastante na gestão participativa mesmo. Hoje em dia vejo, tanto a gestão participativa é uma coisa atrelada à outra como ao desenvolvimento dos colaboradores, na conquista da autonomia, da própria autonomia deles próprios. Eu não quero ver eles como executores, em alguns momentos, se você não tiver um gestor preocupado com o dia a dia. A tendência, existe uma tendência grande de que as pessoas que estão nas pontas se tornem executores e isso eu não quero, eu não enxergo como interessante para o CDI. Então, em cada reunião, em cada oportunidade de se discutir, discutir pontos macros, pontos chaves pra cada indivíduo ter um entendimento claro onde a gente está e aonde a gente quer chegar e não ser um mero executor, isso é uma coisa que eu prezo, esse envolvimento. Então, seria essa a gestão participativa, essa liberdade que existe , eu acho, na equipe.
P/1 – Você falou em termo de qualidade no trabalho. Que critério vocês usam para avaliar a qualidade no trabalho?
R – Eu acabei de criar, inclusive com a rede CDI e aí eu pontuei mais algumas perguntas que eu achei muito interessantes, um questionário pra sentar com cada funcionário individualmente, mas isso é uma coisa que acabou de ficar pronta e eu vou implantar dentro de... menos de um mês eu acredito que eu começo a ter essas reuniões, não foi estabelecida ainda a periodicidade, mas eu acho que vai ser uma coisa bimestral onde eu quero ter um momento individual com cada funcionário. Fazer esse questionário que é uma coisa mais formal, onde ali estar medindo a expectativa dele, a satisfação dele, enfim que ele tenha liberdade pra avaliar a organização, pra avaliar a sua função, pra se auto-avaliar como funcionário, pra saber qual é a expectativa dele junto ao CDI. Se é uma pessoa que pensa ter uma história longa com o CDI ou não enfim, e aí eu quero ter esses momento com ele individual. Não só pra gente criar um clima interessante pra organização de companheirismo, um clima que proporcione um momento em que eu possa ouvir o feedback dele como também dar feedback sem ele se sentir ofendido, ser algo tolhedor. Eu penso muito esse zelo de criar um clima onde todos entendam que o foco é o desenvolvimento, então, nessa conversa individual também eu quero deixar isso muito claro, que eu quero ouvir os feedbacks porque até então eu não estou sendo avaliado, então, eu estou tendo que criar métodos para ser avaliado. Eu tenho meu espírito autocrítico, minha avaliação, mas só isso é muito pouco. Então, se ninguém chegar pra mim e dizer, a não ser as conversas que eu tenho com Marcelo, mas eu preciso ouvir da equipe porque é pra eles que eu trabalho, é pra eles que eu me esforço no dia a dia. Eu preciso ouvir deles pra melhorar o que está sendo bom, o que está sendo ruim e aí a gente vai ter esse momento individual com cada um pra ter uma troca de feedbacks aí.
P/1 – Você falou também na auto sustentabilidade das EICs . você poderia explicar mais um pouco qual é esse conceito de auto sustentabilidade, o que é que se espera, é possível isso?
R – Outra coisa, um outro ponto que a gente vem discutindo bastante internamente entre a equipe é justamente essa questão, esse conceito de auto sustentabilidade, o que fazer pra conquistar essa auto sustentabilidade...
P/1 – Das EICs?
R – Das EICs, exato. Até que ponto é possível elas serem auto sustentáveis ou não. Mas a grande questão, vocês já devem ter ouvido aqui provavelmente de alguém, o grande receio, o grande dilema é o seguinte: é que a gente, como eu falei, a gente é financiada por esses projetos com princípio, meio e fim, ou seja, isso trás um risco natural de chegar em determinado ponto que o CDI deixe de ser financiado, pelo menos nesse modelo hoje que existe. É uma outra discussão inclusive que vem aí intrínseca que é a auto sustentabilidade do CDI, que vem junto aos assuntos, se cruzam. Se existe esse risco do CDI deixar de existir, o nosso grande dilema é o seguinte: se o CDI deixar de existir no próximo mês ou no ano que vem,
ou amanhã, como é que ficam essas EICs? Essas quarenta e seis EICs e outras que estão sendo abertas, como é que ficam esses 1.588 alunos, que é um número ainda maior, hoje a gente está com 1.588 alunos cadastrados em nosso sistema, como é fica a vida dessas pessoas? Então, isso é um dilema que a gente vive aqui internamente e isso só pode ser diluído de duas vias: uma, fomentando e incentivando a auto sustentabilidade das escolas que não que algo nem um pouco fácil mas é algo que está dentro do modelo do funcionamento do CDI. A palavra auto sustentável vem desde princípio. Hoje, pra cada escola que a gente vai abrir a gente... Tive uma reunião, outro dia passado, com uma instituição que está querendo abrir uma Escola de Informática e Cidadania e ela perguntou: "Vocês me cobram o que?" E eu falei: Eu cobro de você, foco na auto sustentabilidade. Que vocês sejam auto sustentáveis. Essa é uma grande preocupação da gente, mas os meios e as formas a gente tem buscado. Hoje a gente tem um projeto da Philips, o segundo ano do projeto da Philips, o primeiro foi o foco na criação de escola (a gente tinha como meta abrir dez novas escolas e fortalecer outras 16) hoje nesse segundo ano a gente só tem como meta o fortalecimento, quer dizer esse fortalecimento é um caminho para a auto sustentabilidade dessas Escolas de Informática e Cidadania, então, hoje existe uma discussão muito forte e uma tendência de se dividir, por exemplo, em nível um, dois e três de auto sustentabilidade; nível um, sendo o mais baixo e nível três, uma escola que está praticamente já andando com as próprias pernas, então, a gente tem hoje a meta de estar desenvolvendo essas escolas e tentando levá-las ao máximo, nível três. Existe até uma própria discussão do que caracteriza o nível um, o que caracteriza o nível dois, o que caracteriza o nível três e qual o tratamento que vai ser dado às Escolas de Informática e Cidadania do nível um, as EICs do nível dois, as EICs do nível três, mas está existindo uma discussão muito forte e acho que a tendência é da gente ter ganhos fortes nessa busca de auto sustentabilidade. Hoje a gente tem poucas EICs que se pode dizer que estão no nível três, eu direi que apenas uma EIC, a gente pode estar considerando no nível três, mas a gente tem que entender que o nível três é um nível realmente muito difícil de ser alcançado, porque seria, para uma EIC, ser totalmente auto sustentável e nesse processo que é um processo de aprendizado ter consciência que realmente é possível alcançar o que a gente almeja. Porque, por exemplo, pra uma EIC conseguir andar com as próprias pernas independente do CDI elas vão ter que ser responsáveis pela própria capacitação delas. Não são mais os nossos capacitadores, a equipe pedagógica, que vai dar a capacitação para os educadores, vai fazer a própria manutenção dos computadores delas, em busca de novos computadores, em busca de rentabilidade. Enfim, é uma coisa que pra você falar em comunidade de baixa renda, onde o nível de escolaridade é muito baixo, o nível de renda familiar é muito baixo, é muito difícil de alcançar, mas a nossa luta é pra que se consiga. Pode ser nessa luta, nesse auto caminhar a cheque a conclusão que auto sustentabilidade ideal nunca vai ser completa, que o CDI sempre tenha que existir pelo menos agindo pontualmente em determinados fatores, mas isso é uma coisa que a gente está em discussão.
P/1 – Você poderia falar um pouquinho só sobre esse projeto da Philips, do fortalecimento das EICs? É baseado em que os objetivos desse projeto?
R – A meta seria o fortalecimento, o inicial, o ano um que terminou esse ano, como falei, exigia cria dez escolas e fortalecer 26. o fortalecimento seria... o que foi colocado no projeto inicial acordado com a Philips, seria a contratação de ---- funcionários...
P/1 – Nas EICs?
R – Não. Aqui no CDI. Por exemplo, nesse projeto a gente contratou a Carol, que é assistente pedagógica, ministra as capacitações e isso trás um ganho enorme pras escolas. Antes de a Carol chegar, existia só uma Coordenadora Pedagógica para ministrar as capacitações (ela só davam um tipo de capacitação que era a capacitação pedagógica) as técnicas eram ministradas por um parceiro, não era nem ministrada por uma equipe do CDI, ou seja, é óbvio que a PPP, Proposta de Política Pedagógica ficava comprometida. Com a vinda da Carol e da Claudia também que é uma pessoa que também foi contratada através desse projeto da Philips, são pessoas que trazem um ganho muito grande pro fortalecimento. É qualidade e quantidade nas capacitações pra gente ser mais objetivo. A Claudia é coordenadora de campo, quinzenalmente ela está visitando a carteira de escolas que ela cuida e ela trouxe já uma experiência. Ela trabalhava, era coordenadora de uma escola da Philips e trouxe uma experiência interessante no convívio e ela já trabalhou internamente numa EIC então ela sabe quais são as dificuldades e aspirações de uma EIC, então ela trouxe um ganho muito grande também pro acompanhamento e ai é fortalecimento também.
P/1 – Você falou sobre a sua intenção de trabalhar mais o marketing do CDI. Poderia falar mais sobre isso daí?
R – Porque na minha visão o CDI tem um apelo extremamente forte. Inclusão Digital é um assunto que está totalmente em voga e sendo discutido nas mais diversas esferas. É uma bandeira que foi comprada pelo governo federal, o governo Lula fala muito em Inclusão Digital e tem bastantes programas desenvolvidos, várias iniciativas para a Inclusão Digital e por a gente estar vivendo esse momento que é a era da informação e que a gente sabe o apelo que esse tema tem na sociedade. Como eu vinha dizendo, o tema Inclusão Digital tem um apelo muito forte hoje no mundo como um todo, não só no Brasil, mas no mundo como um todo por a gente estar vivendo na era da informação, pelas tecnologias da informação estarem se desenvolvendo com muita rapidez e consequentemente deixando essas arestas ai a serem aparadas aumentando o abismo existente entre os incluídos e os excluídos. Então, o trabalho do CDI tem um apelo muito forte junto a sociedade e junto ao mercado empresarial também por a gente saber que está vivendo um processo interessante das empresas cada vez mais
estarem buscando a responsabilidade social. A gente sabe que está acontecendo esse movimento no mundo e no Brasil mais fortemente de um tempo pra cá e agora com muito mais intensidade. Então, a marca CDI tem um apelo muito forte que precisa ser trabalhada e pode ser trabalhada, aqui ou no mercado pernambucano ela já é bem disseminada mas eu acho que ela ainda pode ser muito mais trabalhada. Acho que ela alcançou alguns ganhos mas são coisas pontuais, são parcerias pontuais que trazem extremos ganhos para o CDI só que eu acho que é precisa e é possível massificar mais o trabalho do CDI. Hoje a gente é uma organização muita conhecida no terceiro setor dentro de um universo que é povoado por outras ONGs, por comunidades de baixas de renta, a gente alcançou uma visibilidade muito interessante mas eu acho que a gente está precisando alcançar uma visibilidade maior no segundo setor até para garantir o crescimento e a sustentabilidade do CDI aqui em Pernambuco. Então, o apelo existe, eu acho que a gente precisa só planejar essa marca e trabalhar o CDI no mercado.
P/2 – Diego, tem alguma coisa que você queria falar, algum caso que não foi perguntado?
R – eu pensei, Danilo, caso? Dependendo do tom da nossa conversa. Se fosse uma gravação inclusive, eu me lembro de um texto que eu escrevi, que não pode ser chamado de um poema, mas que foi muito do momento quando eu ingressei no terceiro setor e no CDI. Acho que ele mostra um pouco dessa disponibilidade, dessa abertura, dessa expansão de consciência, mas eu não sei se é o caso.
P/2 – Pode ser.
R – Pode então?
P/2 – Pode ser. Vai.
R – tem um texto que eu escrevi, uma espécie de um poema, foi justamente nesse período de ingresso no CDI, justamente nesse momento inicial e retrata bastante o 23 de Julho, ou seja, tinha 23 dias de CDI – e retrata bastante esse momento que eu estava vivendo de expansão de consciência e intensificação de valores, não de mudança de valores, mas de intensificação de valores, de contacto com esse mundo tão diferente do meu e aí eu escrevi esse texto e já que teve a abertura de se trazer algo que se quiser colocar eu vou... só vou pedir licença porque tem que ter uma certa interpretação, uma teatralização.
P/2 – Fique a vontade.
R – Nesse mundo cão, nesse mundo vão, nesse mundo chão
A gente para pra escrever, a gente para pra remoer, a gente para
Esse mundo tal, nesse mundo tão, nesse mundo cão
Nesse mundo vago, nesse mundo claro, nesse mundo chato
A gente vai, a gente fica, a gente solista, a gente vinga
Nesse mundo vasto, nesse mundo casto, nesse mundo baixo
A gente quase desiste, a gente persiste, a gente finge
Esse mundo claro, mundo magro, mundo pago
A gente fica mudo, fica cego, fica surdo e fica ludo
E para terminar dizeres, abocanhar fregueses, esfacelar burgueses
A gente cala, a gente fala, a gente escreve, a gente dorme
A gente come, beija, a gente para, a gente fala, a gente mata
A gente traça, a gente sela, a gente canta, a gente é gente
A gente, gente, gente da gente, gente, sente, mente, crente
Pente, tente, lente, quente, frente, ente, ente, ente, entre
Enfrente, entre, entre a gente, entre.
P/2 – Perfeito. Mais alguma coisa, Diego?
R – Não. agradecer o trabalho de vocês, a disponibilidade.
P/2 – Eu é que agradeço em nome do CDI e do Museu da Pessoa.
R – Obrigado.
P/2 – Obrigado.Recolher