Projeto Memória Unimed-Rio(Memória)
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Edmundo Castilho
Entrevistado por Carla Vidal
Santos, 12 de Abril de 2006
Código: UMRJ_HV010
Transcrito por Felipe Peirão Cecchi
Revisão por Silvia C S Coelho
P/1: Bom, a gente agora vai começar...Continuar leitura
Projeto Memória Unimed-Rio(Memória)
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Edmundo Castilho
Entrevistado por Carla Vidal
Santos, 12 de Abril de 2006
Código: UMRJ_HV010
Transcrito por Felipe Peirão Cecchi
Revisão por Silvia C S Coelho
P/1: Bom, a gente agora vai começar. Primeiro obrigado pelo senhor receber-nos para fazer esta entrevista. E a gente começa assim, doutor Edmundo, pedindo para que o senhor se identifique dizendo o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R: Meu nome é Edmundo Castilho, eu nasci em Penápolis, Estado de São Paulo, dia 5 de dezembro de 1929. Fui criado, a minha infância foi em Glicério é uma cidadezinha que praticamente não existe mais. É o meu xodó. E vim pra Santos em 1957, sendo hoje cidadão santista com muita honra, eu me casei aqui, eu tive filhos, aqui eu tenho netos, e aqui eu desenvolvi a minha atividade de médico foi um sonho de infância e que se realizou nesta terra maravilhosa, que é a Baixada Santista.
P/1: Com quantos anos o senhor foi pra Glicério, o senhor saiu de Penápolis, o senhor se lembra?
R: Não, eu morava na fazenda e da fazenda eu fui para a cidadezinha de Glicério eu tinha quatro, cinco anos.
P/1: Como é a vida na fazenda? Quem morava lá? O pai do senhor como ele se chamava? O que ele fazia?
R: Meu pai é José Castilho Sobrinho, era Ziquinho Castilho, era um cidadão de uma moral irretocável, era muito rígido e que teve sete filhos homens. E a minha mãe, ao contrário, era de origem italiana, mistura de italiano com português, e era muito humilde, mas muito cuidadosa com os filhos. E como na fazenda ela que fazia pão, ela que fazia tudo, lavava a casa, cozinhava, então nós fomos criados ajudando a mãezinha na cozinha, ajudando a desnatar leite, tirar leite, roçar, capinar, enfim, mexer com o gado, de um modo geral, que era o métier do meu pai. E era uma sociedade absolutamente machista: o homem não chora, homem não cai, o homem tem que ser uma fortaleza.
P/1: E em Glicério o senhor se lembra da casa em que o senhor morou?
R: Eu morei em algumas casas. Uma quando nós viemos da fazenda, porque viemos da fazenda por conta de uma onda de malária, eu tive malária com três, quatro anos. E na crise de 1929 do café, porque o meu pai estava formando o café, e ali ele perdeu quase tudo com a crise do café, ele apanhou dinheiro para fazer investimentos no café e não deu certo. Tanto que meu pai tinha um ódio de café que ele nem tomava café, para você ver como ele era radical. E então nós viemos como agregados de um tio na chácara, hoje se chama São Sebastião, que depois o meu pai comprou, né? Numa casa muito modesta, uma casa realmente sem nenhum conforto, e assim que eu despertei para o mundo, nessa casa com todas essas dificuldades. Depois ele melhorou, ele foi, veja bem, ele comprou um carro de boi que puxava a lenha para a estrada de ferro Noroeste do Brasil, e assim que ele vivia. Sendo que nos sábados ele comprava, ele saia comprando garrotes, como eles chamam lá, como eles gostam de chamar bezerros. E aí, ia comprando, vendendo, comprando, vendendo, assim é que ele se recuperou financeiramente a ponto de depois comprar essa chácara, que tinha 28 alqueires, e ele transformou num sítio perto de 80 alqueires. Uma fazenda que era a Costa Rica, então essa se chama São Sebastião, e a Costa Rica que foi onde eu nasci e que hoje é uma coisa maravilhosa. É nossa ainda, tem 20 alqueires de mata. O meu pai, um outro viés bacana do meu pai é o ambientalismo, tem 20 alqueires de mata virgem na fazenda, coisa que é raridade por lá. E lá tem onça, tem veado, veado bicho, tem uma série de coisas, e houve a barragem de Nova Promissão e os dois rios que contornavam a fazenda formaram um lago. Então hoje é um lugar assim, um lugar super aprazível. A casa que eu nasci era uma casa de madeira que era para ser o paiol da fazenda, porque o meu pai com a crise de 1929 ele teve que morar na fazenda, e foi morar nesse paiol e foi lá que eu nasci. E pra mim hoje, na divisão das coisas, essa parte ficou comigo porque para mim é uma glória imensa eu ter nascido lá, né?
P/1: Isso lá em Glicério?
R: Lá em Penápolis.
P/1: Em Penápolis.
R: Na fazenda Costa Rica.
P/1: Na Costa Rica, Glicério o senhor passou a infância depois voltou pra fazenda?
R: Não, não voltei pra fazenda.
P/1: Então me explica melhor.
R: De Glicério eu ia estudar em Penápolis, então ia de ônibus, que lá não se chamava ônibus, se chamava jardineira. Não tinha asfalto, não tinha nada, a jardineira atolava quando chovia, a gente desatolava a jardineira. Então, era aquela vida difícil, né?
Em que eu ia, eu estudava o ginásio lá em Penápolis e eu ia à biblioteca do ginásio e pegava livros e levava pra chácara de São Sebastião que não tinha energia elétrica, era lamparina. E eu li Os Sertões do Euclides da Cunha com uma lamparina, quer dizer, queimava realmente a pestana, não é? E eu sempre gostei de leitura, lá em Penápolis eu já sentia uma, porque é incrível isso, mas eu sentia uma certa discriminação de eu ser de Penápolis e estar em Penápolis, embora Penápolis fosse fundação do meu avô. A principal rua de Penápolis se chama Eduardo de Castilho, que é o pai do meu pai, ele foi o fundador, só que ele morreu com 38 anos e a família perdeu o líder, né?
P/1: Seu Edmundo, como eram os seus pais, moralmente, na relação com os filhos?
R: Como eu disse, uma disciplina muito rígida, o meu pai era um cidadão fantástico, eu tinha uma admiração muito grande por ele. Porque ele não, na parte ética não tinha nenhuma desorientação, quer dizer, era aquilo e ponto final, né? Machista, meu pai tinha umas tiradas assim incríveis, por exemplo, ele dizia que homem, no jargão bem caboclo que eu tenho a honra de ser, ele dizia: “Mulher, soldado e criança não tem querer.” Então quando a gente chegava em casa, a gente tinha que ficar quietinho, não abrir o bico. E a minha mãe era uma criatura, trabalhava demais, sabe, e bem adaptada ao grande varão que ele era, né?
P/1: Não, além de ele ser um grande varão, tinha mais sete homens em casa, então ela viveu com oito homens.
R: É, oito homens.
P/1: Será que isso influenciou um pouco o senhor estudar, ter seguido a carreira na Medicina, ginecologia?
R: Não, o que eu acho é o seguinte, eu acho que não era aquilo que eu queria, acho não, tenho certeza, não era aquilo. Haja vista que o meu pai tinha vindo comigo aqui em Santos, e quando chegou em São Paulo eu falei: “Papai, eu não vou voltar pra lá, eu vou ficar em São Paulo porque eu quero estudar aqui porque eu quero ser médico ‘’. “Não, mas e aquele negócio?”.
“Não interessa, eu não gosto daquilo.”. Quer dizer, eu era ruim para andar a cavalo, eu era ruim pra laçar boi, eu era ruim pra montar em bezerro, eu era ruim em tudo aquilo, eu era o pior, porque eu não gostava.
P/1: E os outros irmãos?
R: Os outros irmãos ficaram lá. Hoje tem um que e é deputado, né, do PV, o Ricardo Castilho, né, é deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo, é o terceiro secretário lá da Assembleia, eu tenho muito orgulho disso, né, o Mauro se formou contador, o João, que é o caçula, João Antônio, é advogado também. Então, quer dizer, e a partir daquele momento a família Castilho que não tinha nenhum médico, hoje tem um número muito grande de médicos que seguiram o meu exemplo, né?
P/1: O senhor abriu...
R: Abri o caminho.
P/1: E nessa família que o senhor cresceu, enorme, com esse pai firme, o senhor teve uma educação religiosa ou política?
R: Religiosa sim, a minha mãezinha era muito religiosa, o meu pai também era muito religioso, ele tava sempre rezando. E a noite ele não deitava sem rezar, a minha mãe também, e a gente frequentava a Igreja, e eu sem muito entusiasmo, porque eu via a vida de uma maneira diferente, né? Agora quando ele resolveu, em vida, dividir o patrimônio dele, ele veio aqui em Santos e disse: “Olha, você que tem experiência de cooperativa...”. Porque eu já tava na Unimed ( Confederação Nacional das Cooperativas Médicas). “... Você é que vai comandar esse negócio, essa divisão.”. Então eu fiz um consórcio, não é, num regime assim bem próximo do cooperativo, e a parte curiosa é que: “O pai, então é nosso?”. “É.”. “Então eu vou plantar café aí.”. “Puxa, mas filho, vamos criar outra alternativa, né, sair da mesmice da criação de gado.”. E aí formamos café, lindo de morrer o café, eu ia lá tirava fotografia, e tal, aí vinha a geada e queimava, na segunda vez que queimou a gente desistiu e até hoje os irmãos, igual o deputado, o advogado, o contador, vivam intensamente essa parte agropastoril, aliás, além das outras atividades eles continuam com a atividades agropastoril.
P/1: Nessa escala de sete, o senhor tá em...
R: Segundo.
P/1: O senhor é o segundo.
R: Tem mais velho que é o Eduardo, porque na família a tradição é o primeiro filho varão ser Eduardo, por causa do patriarca Eduardo José de Castilho, que foi o grande bandeirante da região da Noroeste, ali da região de Penápolis, e da araraquarense, na região de Rio Preto, São José do Rio Preto. Ele nasceu, o meu pai e o meu avô nasceram, eu disse, em Potirendaba que é uma cidadezinha ali que veio antes de São José do Rio Preto que hoje é uma metrópole.
P/1: E é essa família que está vinculada às sesmarias?
R: Isso, a família Castilho. Quer dizer, a virago, que representava a família Castilho, ela foi ama de leite do Dom Pedro II, Dom Pedro I, ela veio com o Dom João VI, era portuguesa.
P/1: E essa história o senhor que recuperou ou já estava sistematizada?
R: Não, eu tinha uma prima que tinha uma escola lá em Guarulhos, faleceu até. Então, ela pesquisou e foi até Portugal, ela foi fundo. E tem o livro dela A saga dos Castilhos, que infelizmente não está aqui senão você poderia dar uma espiada.
P/1: E a escola, doutor Edmundo, como que era a escola lá em Penápolis, em Glicério?
R: É, eu fiz o primário em Glicério, a diretora era a dona Mariquinha Castilho, né, era tudo Castilho, o delegado era Castilho, o prefeito era Castilho, lá em Glicério, o exator era Castilho e a professora era casada com um Castilho, né, a diretora. Tanto que o grupo escolar que eu estudei era um grupo escolar em Glicério, o primário, se chama hoje Maria Matilde Castein Castilho. E depois eu fui para o ginásio em Penápolis, fiz os quatro anos de ginásio e fiz o científico em Penápolis, e aí que eu fui para São Paulo e fiz o Anglo Latino pra fazer o curso preparatório. Mas eu tinha que trabalhar, então eu trabalhei no Matarazzo, na seção de transportes do Matarazzo, ali na Avenida Água Branca que não existe mais, perto do Palestra, e eu sou corintiano, né?. Posso falar isso, não?
P/1: Pode, deve.
R: Então o ginásio de Penápolis era um excelente ginásio, haja vista que em 1946, houve um concurso dos professores da área do ginásio e Penápolis perdeu quase que todos os professores, porque parece que três ou quatro passaram em primeiro lugar no Estado todo. Professor de Geografia, professor de Português, professor de Latim, porque a gente estudava naquela época Latim, Francês, Inglês, porque depois é que caiu o Latim, né? Mas eu tinha Espanhol, eu estudei tudo isso no ginásio de Penápolis.
P/1: E o senhor era bom aluno?
R: Eu era. Eu nunca fui muito estudioso, mas eu era de sentar sempre na primeira fileira e ouvir prestar atenção, o que eu não entendia eu perguntava e era de virar a noite. Até porque eu trabalhava, então eu passava a noite estudando na véspera do exame, e assim foi na faculdade também.
P/1: Mas o senhor tava dizendo que o senhor gostava muito de leitura, a leitura, a literatura, mas ela vem da infância?
R: Não da minha casa, porque na minha casa a única coisa que tinha para ler era o Diário de São Paulo que a minha mãe usava mais para forrar a prateleira pra botar os negócios. Mas o meu pai assinava o Diário de São Paulo, mas não lia, eu lia, principalmente sobre a guerra, eu acompanhava muito a guerra, essa última guerra mundial. E trazia livros, quando eu fui para Penápolis eu trazia livros da biblioteca do ginásio do estado de Penápolis. E nesse período, eu vinha passar as férias em Glicério, então no período que eu estava em Glicério eu fazia teatro em Glicério. Então peças que eu mesmo escrevia com assuntos regionais, locais e ensaiava, o pessoal tinha uma parenta que era a professora, a Zulmira Castilho, que tinha o piano, então ela fazia a parte de música. E a gente fazia o espetáculo, vendia, e o resultado nós dávamos para a Igreja, Igreja de São João, Igreja católica de Glicério. Então isso foi muito importante para mim, da mesma forma que quando surgiu o serviço de autofalante, a igreja de Penápolis criou o serviço de autofalante, e eu fui locutor, eu comecei a fazer locução no serviço de autofalante da igreja de Penápolis, depois do clube Atlético Juventus de Glicério. E em Penápolis eu trabalhei também no serviço de autofalante, e quando eu vim para São Paulo eu entrei num concurso na Rádio Excelsior e passei, eu fui locutor da Rádio Excelsior. Então o que aconteceu, eu tinha o Anglo Latino à noite para fazer cursinho, eu trabalhava no Matarazzo na seção de transportes, eu não tinha tempo de estudar. E eu tinha dificuldades para sobreviver em São Paulo o meu pai, nesse momento houve uma ruptura entre mim e o meu pai, ele falava: “Você quer, então o problema é seu, se vire.”.
P/1: Mas como que surgiu esse movimento de vir para São Paulo, só o senhor pensou nisso entre os sete irmãos?
R: Só.
P/1: E como é que foi isso?
R: É que desde o início eu era bom pra tocar desnatadeira, porque a gente tirava o leite e desnatava, eu era bom, aquela desnatadeira Alfa Laval, que tinha uma campainha, e se você não tocava no ritmo a campainha começava a bater, então eu era bom pra isso. Eu era bom pra serviços mais violentos, por exemplo, roçar, eu era bom, eu era bom pra carpir. Agora gado, eu não queria nem saber, meu negócio era o gado, não era nada disso. E eu desde o início eu sonhava, eu lembro que eu tinha cinco anos eu perguntava pro meu pai se ele me deixava ser general, cinco anos. Depois ele falava: “Deixo.” Eu ficava todo feliz da vida, né? Então, sei lá, eu era o segundo filho, o meu irmão mais velho, que tem um ano mais que eu, que é o Eduardo, é um espetáculo em fazenda, laçador, montador de boi, de cavalo, ele tá lá na fazenda até hoje. Depois foi pra Mato Grosso, a vida dele é completamente diferente da minha, e ele era o bom e eu era o ruim. Por quê? Porque eu não nasci para aquilo, eu não queria aquilo, deu para entender?
P/1: E quando o senhor verbalizou isso...
R: Eu vinha verbalizando, o meu pai não acreditava. Aí ele veio, nós tínhamos um tio que morava aqui em Santos, nós viemos visitar o tio, e na volta, quando chegou em São Paulo, fomos na casa de um outro tio. Aí chega lá eles: “Como é que é?”. Eu falei: “Pai, eu quero ficar.”. Ai ele tirou um conto e 200, sabe o que é isso?. “Um conto e 200 tá aqui, tá encerrado o nosso, o problema agora é seu.”. E a minha mãezinha por fora me mandava um dinheirinho, e aí eu fui morar em pensão em São Paulo, eu morei ali na Aclimação, numa vielazinha lá dá, como é que chamava? Não me vem o nome. Depois eu fui pra Liberdade, pra Galvão Bueno.
P/1: O senhor conheceu bem então São Paulo então?
R: Conheci, conheci São Paulo ainda aquele São Paulo poético, né, a Avenida Paulista era um negócio isolado. O detalhe é o seguinte, a avoenga, porque o meu pai ficou órfão de pai e mãe com nove anos, e ele foi criado pela avó dele, que era a grande virago da família que era a dona Maria da Conceição Goulart, eu sou Goulart também, Goulart Castilho. Os dois troncos de família, ela era Goulart de origem mineira, o meu pai foi criado por ela, e a minha avó no auge do domínio deles naquela região, ela teve casa na Avenida Paulista, e foi a segunda pessoa a ter automóvel em São Paulo. Aí vieram pra São Paulo, não estudaram, não tinha líder, aí começou a, adivinha o que começou a acontecer? O pessoal foi ocupando. E tinha índio, enquanto tinha índio o pessoal não ia para o lado de lá, quando a estrada de ferro Noroeste do Brasil abriu aquilo lá e amansou os índios, aí eles começaram a perder e acabaram com nada, né? Quer dizer, o meu pai na região da Noroeste foi um dos poucos que ficou com o patrimônio, ficou com a fazenda porque ele não vendia, ele dizia: “Não, isso aqui é da minha mãe.”. Porque nem era do pai. A herança dele lá do outro lado do rio, lá em São José do Rio Preto eles não viram nada, porque os tutores tomaram conta.
P/1: E em São Paulo, quando o senhor vai para São Paulo, qual é a sensação que o senhor tem da cidade, como o senhor se relaciona com a cidade?
R: Eu adoro São Paulo.
P/1: E em particular quando o senhor chega o senhor tem o quê? 17, 18 anos?
R: Eu tinha 18 anos?
P/1: Quais eram os programas, o que o senhor fazia pra trabalhar?
R: Programa, eu trabalhava e fim de semana eu saia, saia com os amigos, ia naqueles, como é que chama aqueles... Que a gente dançava, e o tempo que dançava era picotado, aqui em Santos...
P/1: Nas matinês?
R: Não, à noite, à noite. Aqui em Santos tinha o Sambadança e o Imperial, lá em São Paulo eu não me lembro mais quem era.
P/1: E o senhor fazia footing, essas coisas, tirava linha?
R: Footing lá em São Paulo, assim, footing naquela época, era na São Bento, lugar de encontrar caipira era na São Bento e na Rua Direita no sábado. Então no sábado eu ia a noite para a Rua Direita e pra São Bento pra flertar, naquela época a gente falava em flertar, arranjar namorada e tal e coisa, e reencontrar caipiras.
P/1; E a Medicina, como ela surgiu para o senhor, como o senhor decidiu, quando que o senhor percebeu?
R: Eu desde pequeno eu queria ser alguém com destaque dentro da comunidade. Primeiro eu pensei em ser militar depois, graças a Deus, desisti, hoje eu até me repugno um pouco com isso aí. E quando eu comecei a frequentar a Igreja que eu era obrigado, eu comecei a fazer teatro e fazer benemerência e tudo mais, eu me identifiquei com a Medicina. E aí eu comecei a frequentar, em São Paulo eu comecei a frequentar um cursinho, mas frequentava hospitais de São Paulo, também já, e aí eu me apaixonei, e aí eu vi que realmente o meu destino era a Medicina. Tanto que quando eu fui para Curitiba, eu fui para Curitiba porque em São Paulo tava difícil de eu me manter. E lá em Curitiba tinha o CEU, Centro dos Estudantes Universitários, que a gente provando uma certa inteligência a gente não pagava. Então eu fiquei como indigente lá até entrar na faculdade, estudando, e eu entrei de “prima”, né? E aí o meu pai acordou, o meu pai começou a me mandar 500 mil réis por mês pra mim, e eu comecei a trabalhar numa clínica urológica, porque naquela época era o auge da blenorragia, em Curitiba era terrível. E penicilina o gonococo já não dava mais bola, até a amicacina também não, então a gente tinha que fazer aqueles tratamentos antigos que era de lavagem uretral com permanganato de potássio, passar em benique, sabe o que é benique? Porque a blenorragia é estenose, ela estreita a uretra. E antigamente tinha muito disso, aqueles velhinhos que tinham a uretra estreitada e não conseguiam urinar, tinha que fazer uma talha, através da bexiga, então pra prevenir isso aí a gente passava benique para dilatar a uretra. Então, eu ia das sete até as 11 horas da noite todo dia numa clínica urológica, em que eu ganhava mais 500 mil réis.
P/1: Fazendo isso?
R: Fazendo isso e na faculdade. E já começando a acompanhar professor, a assistir cirurgia, pronto socorro da Cruz Vermelha lá de Curitiba, já comecei frequentar desde essa época e os hospitais de lá também, né, eu era peru, eu gostava, e começou a militância política.
P/1: Como foi esse começo?
R: Estourou assim, quer dizer, eu achava que o cidadão que teve a aventura de chegar a uma condição, naquela época, de escola superior, a faculdade de Medicina, tinha que devolver ao país algum trabalho importante no campo econômico, no campo social, no campo revolucionário inclusive. Porque tinha a obrigação de enxergar melhor do que os iletrados, do que os Lulas da vida.
P/1: E o senhor foi se encantando por que ideias, como que o senhor teve acesso?
R: Não, comecei a ler com o Marx, comecei a ler Nietzsche. Naquela época o Perón era o dono da Argentina, e o Perón até me ajudou porque ali em Curitiba tinha um intercâmbio muito grande com a Argentina. E o Perón mandou editar os clássicos, os grandes clássicos, em papel de jornal, e custava um Real, um mil réis, dez tostões que a gente chamava. E eu lia os clássicos em espanhol por conta da visão do Perón.
P/1: A tradução pelo menos devia ser boa, né, os argentinos traduzem bem.
R: É, é verdade. Agora,pra mim, o Espanhol pra mim é o normal, porque os livros de Medicina também eram em Espanhol, depois é que começaram a chegar os livros em Inglês. A gente estudava em Espanhol normal, a gente dominava o Espanhol, isso me ajudou muito nessas andanças que eu comecei aqui primeiro pela Argentina, Venezuela, Colômbia. Nós criamos. Paraguai, o Paraguai tem Unimed.
P/1: Mas isso é depois, nesse período de Universidade a gente tá formando o Edmundo corporativista?
R: Então, e Universidade eu me preparei assim. E frequentava muito São Sebastião do Rio de Janeiro, porque naquela época a UNE (União Nacional dos Estudantes) era Juscelino Kubitschek, Juscelino foi meu amigo. Porque a greve que eu comandei lá, como eu disse, começou em 10 de abril, 28 de abril, e terminou em 10 de agosto, segurar no sexto ano não é fácil. Porque o Juscelino tinha o negócio dos excedentes. Então, tinha 78 excedentes e o Juscelino foi lá e o reitor era o Suplicy de Lacerda, um radical de direita. Ele não falava o meu nome, ele falava: “Aquele comunista de casaco verde.”. Eu era o maior agitador de lá. Então Juscelino foi lá visitar e aí falaram com o Juscelino, o Juscelino era uma figura humana fantástica, ele pediu ao reitor, ao Suplicy, pra ele matricular os 78 excedentes. E aí o Suplicy que era “capachinho” também, falou: “Um pedido de vossa excelência é uma ordem.”. Aí eu peguei esse refrão ai e comecei em cima disso, falando do “capachismo”, convocamos assembleia e fizemos a greve para que não fosse, nós queríamos o contrário, nós queríamos que reduzisse para melhorar, enquanto não existisse Hospital das Clínicas não dava pra aumentar. Eram 120 mais 78 e que iam acrescentar, e o hospital? Porque a base do ensino médico é o hospital.
R: É a residência.
R: É a residência. Desde o início o estudante tem que frequentar o hospital. E aí tinha também o seguinte: que lá em Curitiba Medicina, Odontologia e Farmácia faziam parte de uma faculdade só, então as dotações orçamentárias para as três eram a mesma que pra Minas Gerais que era só Medicina, pra de São Paulo que era só Medicina, entendeu? Então nós queríamos a separação de Odontologia e de Farmácia, cada uma recebia a sua dotação, e dinheiro para terminar o Hospital das Clínicas, que tava parado, cheio de mato, eu ia lá de vez em quando. Fui candidato a presidente do diretório Nilo Carmo, mas não ganhei, aí fecharam o negócio. Porque sempre o reacionário prevalece, né, naquela época prevalecia, quer dizer, no frigir dos ovos, o radical de esquerda, ele ficava sozinho.
P/1: O senhor chegou a se filiar ao PC (Partido Comunista) , ou não?
R: Não, eu frequentava, mas não me filiei. Eu fiz toda a minha formação marxista no PC.
P/1: Que aí a gente já tá em Cuba, tá acontecendo Cuba.
R: Não, Cuba veio depois quando eu estava aqui, foi antes.
P/1: O senhor já tava aqui, foi antes, que período que foi isso?
R: Bom, mas só para voltar o Juscelino, O Juscelino depois se tornou meu amigo, porque não me deixavam falar com o Juscelino. Eu ia para o Rio e ia para o
Catete e ficava esperando. O Álvaro Lins era o chefe do gabinete, e volta outro dia, até que um dia eu ganhei pelo cansaço, o Juscelino mandou dizer que ia me receber. Aí eu fui, cheguei lá: “Meu colega...”. Ele era fantástico, eu sou fã dele, não era, mas sou, naquela época a gente o chamava de “Sujelino”. Então: “Meu colega...” Porque ele era médico formado, fez curso em Paris, era médico da força pública de Minas Gerais e era um grande estadista, sem dúvida. E aí ele, puxa, já me desarmou: “Castilho, vamos resolver fácil isso. Qual é o negócio? Você quer o quê? Que eu retire o meu apelo, eu faço um “desapelo”?”. “É.”. “Onde é que tá escrito?”. “Tá aqui.”. Ele assinou pedindo “desapelo”. “Antes desse eu quero dinheiro especificamente para o Hospital das Clínicas.” Ele assinou. “Que mais?”. “Eu acho que chega. E que a gente tenha a oportunidade de não perder esse ano.”.
P/1: Tava no sexto ano?
R: Sexto ano. Aí ele falou: “Castilho, tudo bem, a gente conversa mais e tal, mas você vai me fazer participar de um sacrifício terrível.” Porque naquela época o xodó era a eleição da Miss Brasil, ele: “Lá embaixo, no Catete, estão as candidatas a miss Brasil, e eu quero que você me acompanhe nessa recepção.”. Então eu fui. No dia seguinte o Diário de Notícias que era importante naquela época...
P/1: Isso era 1957?
R: 1956. Diário de Notícias que era o maior jornal de lá, O Globo e o Jornal do Brasil, não tinha o Jornal do Brasil, principalmente o Diário de Notícias, aparecer lá, o Juscelino...
P/1: Diários Associados?
R: Diários Associados é. Aparece o Juscelino, as misses e eu.
P/1: Na fotografia?
R: Na fotografia. Aquilo para mim foi uma glória, imagina um caipirinha que sai lá de Glicério e posa junto com o Presidente da República e com as candidatas a Miss Brasil em São Sebastião do Rio de Janeiro.
P/1: Agora, é uma glória nesse sentido. Agora, para um estudante universitário que tava indo reivindicar melhores condições de ensino, como é que ficou lá com a turma de Curitiba quando eles viram essa foto?
R: Muito bem.
P/1: Não criaram...
R: Não, porque veja bem, naquela época era tão remoto a gente chegar ao Presidente da República que o resto era o resto. Quer dizer, eu venci pelo cansaço, porque antes ia eu e mais dois colegas, e os outros dois desistiram e eu ia sozinho, eu ia lá e o Ministro da Educação, eu dizia que ele era chinês, ele parecia um chinês, ele não falava nada, eu chegava lá, falava, falava. Era o Celso Brant, que me ajudou, que era também da esquerda, que era chefe de gabinete do Ministro, que era o Salgado, era professor em Minas Gerais. Mas não conseguia. Nessa agitação eu consegui que um dia o Celso Brant fosse comigo a Curitiba e promovesse uma reunião do Conselho Universitário de Curitiba. E eu acho que eu fui o primeiro cara a participar, eu com o corpo docente, participei deste Conselho Universitário. Com um protesto assim fantasticamente violento de todos os diretores, de todos os professores, o Celso Brant diz: “Não, ele vai participar porque ele chega lá e ele conta um monte de história, quero que ele conte isso aqui.”. “Eu na frente de todo mundo eu vou repetir.” E aí repeti, quando eu falava um negócio que não concordava professor queria partir para cima de mim, calma. Aí quando acabei de apresentar o meu relatório, eu tinha as anotações eu ia lendo, eles disseram: “Esse rapaz não vai ficar aqui agora na reunião.” Aí fica, não fica, fica, não fica, eu falei pro Celso: “Celso, eu vou ficar olhando pelo vitrô, não cria encrenca não, realiza isso.”. E aí já tava cheio de estudante lá, e os caras chegaram assim: “Você tá louco? Agora ninguém sai mais dessa faculdade.”. “Não, agora eu acho que nós estamos dando um grande passo no sentido da moralização de tudo.”. E aí terminou a reunião, e aí foi que o Celso Brant fez um relatório, levou ao Juscelino e o Juscelino me recebeu.
P/1: Que expectativas que o senhor tinha em relação a sua vocação, a sua formação como médico, o seu exercício da Medicina?
R: Eu achava que eu ia ser um médico como eu fui, um médico humano, socialmente ajustado, considerando o paciente como o elo fundamental dessa cadeia. Eu já definia antes de surgir esse código de ética, essas coisas, eu definia que o fundamental era a relação médico-paciente que era o encontro de uma consciência com uma confiança. Então se o paciente está inferiorizado, está diante de um médico, e o médico, eu falava assim “usa rendinhas”. Ele não tem que usar rendinha coisa nenhuma, ele tem é que prestar atenção no doente e fazer o necessário para recuperar a saúde desse doente, até porque isso representa produção, representa trabalho, ele vai voltar a trabalhar.
P/1: E o senhor já tinha em mente a sua especialização ou foi uma coisa que o senhor definiu no caminho?
R: Não, isso aconteceu porque naquela época a gente fazia de tudo. Eu depois de três anos em Santos, eu fui para Apucarana. E eu fui. Eu tinha noiva, então daqui a seis meses eu volto para me casar, e eu me casei em 59. E aí realmente eu entrei de parceria em um hospital em Apucarana, Apucarana era uma vilazinha, que não tinha nada. E eu trabalhava demais, e eu tinha que fazer tudo, no interior você tem que fazer tudo. Então eu fazia ortopedia, traumatologia, cirurgia geral, obstetrícia, ginecologia, no interior você tem que fazer tudo e a domicílio. Eu cansei de fazer fórceps nas fazendas de café lá, botava uma mesa, botava travesseiro, colocava a paciente ali, continha os membros e fazia o corte, e o resto Deus ajudava, levava soro, ligava o soro, isso dava uma autossuficiência fantástica. Tanto que eu apresentei ao Ministério da Saúde uma proposta para que os médicos, depois de terminada a residência, por obrigação, ao invés de servir o exército, porque eu achava que servir exército era perder tempo, ao invés de servir o exército, servia o Ministério da Saúde ficando um ano no interior, no interior remoto, para ele levar aquele conhecimento e levar assistência médica lá para o interior. Então é aquela história, a gente começou a ir descobrindo um mundo novo, comecei a ler, então quando eu chego a conclusão, eu fui a França, que é o melhor serviço de assistência médica do mundo, que é o Seguro Saúde Estatal, Universal e Compulsório. Então aqueles arruamentos, que Paris é dividido em arruamentos, são bairros, né, onde tem um médico de família. Esse negócio de Medicina domiciliar isso daí tava na minha cabeça, e nessa época surgiu o Sandu, Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência. E aí foi que no quarto ano eu fiz concurso para o Sandu, eu passei, e aí que eu comecei a ganhar alguma coisa, aí que eu fui morar em apartamento, que eu comecei a ter mais mordomias. E no quinto ano também eu fiz Sandu, agora Sandu, aquele frio do Paraná, três abaixo de zero, eu levantava, eu dava plantão no Sandu, os médicos ficavam dormindo e os acadêmicos é que saíam. Então a gente pegava o trolezinho na estrada de ferro que ia até Paranaguá, a gente ia atender paciente lá perto de Paranaguá. E eu adorava isso, eu achava que era o sacrifício, mas o detalhe de Apucarana é que lá eu tive mononucleose infecciosa e depois da mononucleose infecciosa eu tive tuberculose, tuberculose com disseminação broncogênica, com disseminação hematogênica. E eu fui para Campos do Jordão e fiquei parado um ano para me curar. O detalhe é que, sobre doença, eu tive aos 16 anos lá em Penápolis, eu tive, oh meu deus, deixa eu pedir água lá pra mim.
P/1: Vamos parar agora, a gente vai dar uma paradinha.
P/1: O senhor tava falando que o senhor ficou doente e foi para Campos para se tratar, e antes o senhor tinha tido uma experiência de... O senhor tava contando a história de Campos, do tratamento, mas o senhor voltou um pouco ao passado para contar a experiência que o senhor teve da coma em função da meningite, como é que foi isso?
R: Eu tava no quarto ano do ginásio, e aí comecei a ter febre, mal estar, náusea, vômito e entrei em coma. E aí tava chegando um médico novo em Penápolis, chamava Fausto Giácomo, a última coisa que eu vi foi ele entrar, eu já estava com uma contratura dessa região e com uma dor de cabeça lancinante, e a maneira melhor que eu me sentia era colocando a nuca, que a gente faz um (opstóculo?) que se diz, aliava com a cabeça na guarda da cama. Aí de repente eu passei por aquele túnel azul e aí acabou?
P/1: Como assim túnel azul?
R: A sensação gostosa que você sai do inferno e você entra em alguma outra coisa que eu acho que é o céu, que é azul.
P/1: Que é o coma?
R: É. Todos aqueles que tiveram quase morte eles contam essa história, comigo foi real. Eu entrei em coma, só que a sensação é você sair da, o coma o que é, é a parada das atividades mentais, todas, né, e você entra num sono ali que... Então quando acordei, eu acordei bom. Então eu tenho um colega, não sei se você conhece, você não mora aqui, mas tem o doutor Heitor Defino que é meu colega, meu amigo, ele fala: “Castilho, o pouco de Medicina que você sabe, você aprendeu com você mesmo.”. Porque eu tive malária, eu tive meningoencefalite, eu tive mononucleose infecciosa, eu tive tuberculose, eu operei apendicite aguda, eu que mais? eu tenho hérnia de hiato, essa rouquidão é esofagite de refluxo. Então que mais que eu tive, puxa vida, eu fui operado de várias coisas.
P/1: Automedicina quase?
R: Não, mas tudo, a maior parte, o mais grave foi aqui, né, em Campos do Jordão. E Campos do Jordão, essa história é importante porque eu entrei em parafuso em Campos do Jordão. Porque você imagina um cara de 31 anos, sonhador, tá lá pagando o hospital, no dia que eu tive hemoptise, eu tive que ir ao banco reformar o papagaio, peguei um avião, vim pra São Paulo, o doutor (Jamil de Queiros?), que era um grande pneumologista lá em São Paulo, ele falou: “Você tem que ir lá pra Campos de Jordão, ficar no Sanatorinho. Você tem pra pagar?”. “Não tenho.”. “Então você vai ficar no quarto dos médicos, lá que não tem médico interno. E você vai ficar deitadão tomando (esteptoglicina?), (Patz?) e (hidralazina?).” Televisão já tinha, então chegou lá um dia de noite, temporal, apagou a luz, eu não via ninguém, aí de repente quem me levou, né, os meus primos me levaram lá. Quando eu acordei começou aquele desfile de gente torto, porque lá operavam muito, então faziam a toracotomia então todo mundo torto. Então, eu com 31 anos, com uma mulher muito bonita, com um filho de um ano e torto e limitado em atividade. Aí eu tava lá no, me levaram psicólogo, psiquiatra e eu... Aí aparece o meu pai, sentou: “Filho, escapou, saíram do poço.” Sabe o que é “saíram do poço”?
P/1: Não.
R: É aquela roldana, você conhece poço para puxar água?
P/1: Sim.
R: Então você tá puxando a água, então quando escapa o sarilho, aquilo volta com uma velocidade incrível, então ele diz: “Se você tentar segurar o sarilho, você se machuca. Você tem que se afastar, deixar o balde cair lá no fundo d’água e aí você dá um tempo, limpa a mão, limpa aqui. E não puxa a água em seguida porque vem água suja, então você tem que deixar. Aí você puxa devagarinho que aí vem a água limpinha.”. E aí lá em Campos do Jordão o pessoal operava muito bem tórax, pulmão, mas cirurgia geral, neca. Dali umas duas semanas eu estou lá deitadão, cheio, porque você imagina, eu não lia, eu não via televisão, eu não lia nem jornal, eu ficava arrasado. Aí aparece um colega todo desesperado: “Você é médico cirurgião geral?”. “Sou.”. “Puxa, eu estou perdido aí numa hérnia. Você quer me ajudar?”. Aí eu levantei: “Eu posso?”. “Pode.”. Fui lá, me paramentei tal e coisa, em 15 minutos eu resolvi. Você imaginou o que me fez bem isso? Porque eu tava naquelas, bolas, eu vejo um paredão na frente que não tem como, quer dizer, a tuberculose vai cronificar, eu vou ter que fazer, o (Jamil?) dizia: “Você vai ter que fazer uma segmentectomia ou uma lobectomia.”. Eu tinha uma caverna enorme, eu tô roubado, não tem jeito. Aí eu disse: “Não, eu não estou morto.” E aí ele fazia esse controle lá com planigrafia todo mês e eu fazia parte da reunião na discussão dos casos. Quer dizer, no mês seguinte a esse episódio, quer dizer a melhora que teve ninguém acreditava.
P/1: Tava na cabeça.
R: E aí eu tive o que se chama de restitutio integrum. Quer dizer, hoje se hoje fazem uma radiografia parece que eu tive um complexo primário, na infância.
P/1: E aí o senhor parou de fumar?
R: Parei, puxa, o dia que eu cheguei lá eu parei. Então eu quase fiquei louco também por isso, eu parei de fumar, eu fui radical.
P/1: Agora, doutor Edmundo a gente pulou aí. Como que o senhor veio parar em Santos, o senhor já tinha casado? Como o senhor casou? Como que é essa história?
R: Eu já tava casado.
P/1: Acabou a faculdade lá em Curitiba...
R: É, e por conta eu tinha já certo fazer a minha residência nos servidores do Estado do Rio de Janeiro para depois ir para os Estados Unidos. Aí com essa greve, com tudo isso daí eu não me formei com a turma, eu não tive formatura, eu me formei em abril do ano seguinte. E aqui em Santos tinham feito a Santa Casa nova que era uma maravilha, um hospital com 1800 leitos, e o superintendente do Hospital das Clínicas lá de São Paulo era o professor, meu Deus, que foi o grande administrador do Hospital das Clínicas de São Paulo depois brigou.Veio para cá e queria fundar uma nova escola de Medicina aqui, já que o importante é ter hospital, então ele começou fazendo a residência. E aí eu tinha o meu primo, o Eduardo Castilho Salvador, que foi vereador aqui, que é meu irmão, que faleceu agora faz um ano, e tô num vazio danado, né? E o Eduardo: “Não, você vem para Santos, tem residência.”. Aí eu vim aqui, vi o negócio, gostei e vim pra cá. E aí quando eu terminei o primeiro ano de residência na Santa Casa, o doutor Marcílio Dias Ferraz, que foi o maior cirurgião que eu já vi operar, ele era dono da Casa de Saúde em Santos, então eu fui o primeiro médico residente da Casa de Saúde de Santos. E depois eu me tornei quando houve a crise do hospital eu fiz uma sociedade limitada unindo o corpo clínico, e nós compramos 51% das ações porque o doutor Marcílio, o doutor Paulo de Oliveira e o doutor (Leomir?) Moura que eram os donos, já não tinham condições de manter. E então como eu tinha experiência de Unimed, fizemos um consórcio, né, em que nós éramos os donos, e agora, há pouco tempo que o grupo vendeu, porque aí eu fui pra São Paulo, construí o hospital lá em São Paulo, aí eu fui pro mundo, né? E o pessoal que ficou aqui abandonou, e hoje a minha Casa de Saúde, que era um sonho também...
P/1: E o casamento, como que aconteceu?
R: O casamento foi aqui...
P/1: O senhor conheceu a sua esposa...
R: Aqui em Santos, era santista, filha única, não conhecia o interior. E o meu primo que fez o, ele era amigo da família dela e... Ela tem olhos verdes e ele me conhecia, então ele diz: “Olha, eu vou te apresentar o meu primo, que vocês vão se casar.”. E ele era muito bom, mas ele era uma sarna, eu fiquei: “Não, eu não quero casar, eu quero ir pro...”. E aí acabei casando, não me arrependo e tenho três filhos, tenho essa netaiada toda aí.
P/1: E o cooperativismo, como que ele surgiu na cabeça do Edmundo Castilho, como que foi essa ideia de criar a Unimed?
R: Bom, é eu tinha a ideia, eu chamava de Seguro Saúde Comunitário, que ao invés de haver várias tentativas, vários segmentos fazendo tentativas. A comunidade deveria somar migalhas e o todo com certeza, se bem administrado pelo usuário e pela comunidade, daria pra se prestar melhor assistência médico-hospitalar possível. Então quando eu fui eleito presidente do sindicato, eu já comecei a agitar essa parte aí, e quando veio a crise, quer dizer, houve a unificação dos Iaps (Instituto de Aposentadorias e Pensões), quer dizer, a clínica privada acabou. Então a Associação Médica Brasileira, a Associação Paulista de Medicina, condenavam a mercantilização e aÍ surgiu a mercantilização, que são as seguradoras, a Samcil, a Amico, Interclínicas, esses vagabundos aí que ganharam rios de dinheiro com esse negócio, explorando o trabalho do médico e explorando a doença. Então eu fui inclusive da comissão da Associação Médica Brasileira de Seguro Saúde, e nós defendíamos, inclusive o presidente naquela época era o (Chistize?), ele defendia o Seguro Saúde Estatal, Universal e Compulsório como era o francês. Só que a houve a experiência do Leonel Miranda, Ministro da Saúde da ditadura, que fez lá em Mossoró, Minas Gerais e lá no Rio e foi um desastre, fizeram o Kassab da MD, que era o presidente, fez a experiência junto com o Passarinho lá em Goiás que foi um desastre também. E aí eu comecei aqui a experiência, patrocinada pelo sindicato, inicialmente eu fiz a união da comunidade toda, e de repente vai um saindo, saindo e no fim eu fiquei literalmente sozinho, inclusive com relação aos diretores, fiquei falando sozinho, então não vou parar. E aí veio a ideia do cooperativismo que quem me influenciou foi o Francisco Toledo Piza, que foi o maior líder...
P/1: Só um minutinho que ele vai trocar a fita e a gente continua.
(troca de fita)
P/1: Francisco Toledo Piza
R: Foi meu professor, ele tinha uma cooperativa, ele estudou na Europa, estudou na França, ele era um homem, ele era irmão do (Hélio?) Toledo Piza que foi prefeito de São Paulo, mas completamente diferente. Ele era um galã, ele era uma figura humana fantástica em todos os sentidos; e ele foi pro interior, ele foi lá pra alta noroeste e criou uma cooperativa de aves e ovos e depois veio pra São Paulo, foi presidente do equivalente a OCESP, né, a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo, depois foi fundador da Cooperativa Brasileira, depois foi fundador da OCA, da Organização das Cooperativas da América, ele era intelectual e era assim um engajado assim no cooperativismo e pra mim, que eu conhecia pouco de cooperativismo, puxa, eu comecei a ter uma verdadeira idolatria pelo Doutor Piza, e quando eu comecei, eu tinha começado, já tinha batido a ideia de cooperativismo, então um advogado que nós tínhamos aí ele conforme eu fui definindo ele foi estudando ele falou: “Castilho eu acho que nós temos que fazer uma cooperativa”. E aí começamos a procurar como que formava a cooperativa, as leis não estavam bem claras ainda e quando a gente aparecia nos órgãos de representação, inclusive do Estado a turma dizia: “Mas Américo, cooperado isso não existe cooperativa é pra coisa”. Os próprios líderes do cooperativismo de São Paulo e do Brasil diziam isso, não é, e não é isso mesmo. Aí o Chico Piza um dia telefonou pra mim e ele era o presidente do Montepio do cooperativismo, do Multicooper também. Aí ele me telefonou: “Olha eu queria falar com você”, aí veio aqui disse: “Escuta, você sabe com que você tá mexendo?”, “Como?”, “______Castilho você está abrindo um negócio aí que não tem fim”. E aí passou pra mim as ideias dele, e aí, puxa vida, eu convivi com ele intensamente e o dia que ele morreu pra mim foi a mesma coisa, morreu meu pai, sabe. O Multicooper, o Chico Piza ele propôs se criar uma lei da previdência privada, essa lei da previdência privada foi o Chico Piza que despertou, só que na lei para os Montepio, eles queriam acabar com o Montepio ficou o seguinte, que o Montepio só poderia ter empresa de capital no máximo de 10% das ações. E ele tinha a brasileira de segura, ele tinha a Cooperdata que até hoje tem lá em São Paulo a Cooperdata, tinha enfim, ele tinha uma série de empresas porque o cooperativismo não funcionou e ele ficou entusiasmado que nós iríamos começar alguma coisa que batia
com o que ele pensava do cooperativismo. E aí ele antes de morrer, então por conta disso o Multicooper entrou em crise, ele saneou o Multicooper e fez a doação do Multicooper a mim, pra Unimed, por mim. E hoje esse Multicooper é a seguradora Unimed do Brasil. Bom, eu acho que isso é importante porque essa figura realmente foi importante na minha vida, foi uma das figuras mais importantes da minha vida, o cara que mais me influenciava. E aí o meu radicalismo marxista isso daí começou a desaparecer quando eu descobri, comecei a estudar o cooperativismo. Por conta inclusive da assessoria dos livros que o Chico me deu. E hoje eu sou um cooperativado, juramentado. Então eu costumo citar o seguinte que o (Aba Ébano?) o grande líder judeu que foi o patriarca da fundação do Estado de Israel, o povo mais utilitarista que existe no mundo que é o povo judeu, quando veio no meio dos árabes lá, o negócio conflagrado já o diabo a quatro, eles só se instalaram lá porque eles criaram Moshavim e Kibutz que são formas de cooperativismo em que pasmem: judeu não tinha moeda, era escambo, todo mundo trabalhava, todo mundo estudava, era obrigado todo mundo trabalhar, todo mundo estudar. E o Estado de Israel só aguentou o tranco por duas razões: primeiro porque era cooperativo e segundo porque tinha essa história aí que o mundo inteiro manda dinheiro pra eles, principalmente os Estados Unidos, porque na minha visão hoje o Estado de Israel é um Estado Norte-Americano e os Estados Unidos são um país judeu. Tenho nada contra, mas é uma realidade.
P/1: Interessante. E aí o senhor pra criar essa cooperativa, como o senhor convencendo seus pares, o grupo?
R: Não se convence por quê?
P/1: Qual o trabalho que o senhor fez?
R: Foi dificílimo, a reação muito grande, eu acabei ficando sozinho. E aí eu, o advogado, o contador, nós fomos organizando, fomos em frente, fomos pegando assinatura e eu tinha muitos amigos e muitos entraram sem saber o que era, confiando em mim. Tanto que quando acordaram para o que era, houve uma “assembleia para liquidar a cooperativa”. Liderado por um grande amigo meu que eu não vou dizer o nome, que hoje inclusive é funcionário nosso, vive da Unimed, ele conta comigo, ele falou assim. E foi uma assembleia fantástica que se não fosse a minha experiência, a minha dialética aprendida com marxismo, aprendida com a UNE, aprendida com a União Paranaense dos Estudantes e toda essa história aí, teria começado e acabado e estava liquidado. Então eu consegui postergando, dialogando, embrulhando e aquela história quem não tem convicção, não tem paciência também. Então, o pessoal foi indo embora, quando eu vi que tinha a maioria, parece que nós ganhamos por dois votos. Eram duas, três horas da madrugada, botei em votação e confirmaram a existência. Digo: “Bom agora morreu”. E aí não fiquei parado, eu toda sexta-feira pegava o meu carro e divulguei. A Associação Médica Brasileira me convidou pra ir a Porto Alegre num congresso, num Congresso da Associação Médica Brasileira em que ia ser discutido o modelo de Nova Friburgo, Mossoró e Barbacena, é esse do Leonel Miranda e outro do Passarinho e do Kassab que era Goiás e a Unimed de Santos. E nesse debate lá em Porto Alegre, adivinha o que deu? Unimed. E aí depois na outra reunião da AMB que foi no estado do Rio, aprovaram a tese da Unimed, só que a AMB queria tutelar como entidade maior dos médicos. Negativo, a chave maior do cooperativismo é a singularidade e a autonomia. Então houve muita briga por isso, e aí houve a agregação de vários estados e o Paraguai foi um dos primeiros que aderiu. Paraguai me convidou, um dos primeiros países que eu conheci fora do Brasil foi o Paraguai, por conta da Unimed. E hoje eu posso dizer que conheço, eu conheço o mundo por conta da Unimed.
P/1: E o senhor conhece experiências internacionais também como a da Unimed...
R: Não, não, não.
P/1: Não.
R: O que em 1918, se tiver errado é por pouco, o (James Peter Wallace?), (James Peter Wallace?) em Nova York no Memorial Hospital criou a primeira cooperativa de saúde do mundo, só que ele congregava os usuários, então a nossa aqui foi a primeira no mundo dia 18 de dezembro de 1967. Nós fundamos a primeira cooperativa de trabalho de médicos do mundo. E aí volta aquela história que eu fui a Barcelona em 80, depois fui sendo convidado para então São Paulo, depois Rio Grande do Sul, depois Santa Catarina, Paraná – o meu Paraná –, Norte e Nordeste, enfim, aí hoje nós somos uma coisa fantástica. Eu fui convidado quando essa lei 9656, que é a lei da Medicina suplementar, que é uma desgraça, porque o Consenso de Washington que fez um Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial fizeram uma receita de bolo, e eu tive a felicidade de ser convidado pela Academia da Colômbia que já tinha, já estava em andamento o processo da receita de bolo na Colômbia, nós criamos a cooperativa lá na Colômbia, e eu então vi como é que era o negócio, qual foi o caminho que eles usaram e o que quê eles queriam. Então nós começamos aqui a montar um esquema reativo a atuação das seguradoras, porque o pessoal aqui do Brasil tava de acordo que tinha que entregar, quer dizer, iria ter o Estado, o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), né, o SUS e complementado, suplementado pela iniciativa privada com ______ de lucro tendo pela frente as seguradoras. E aí foi um desgaste incrível porque eu já conhecia, e o negócio foi tão violento que nos Estados Unidos eles diziam o seguinte, pra entrar no Brasil as seguradoras, por exemplo, (Machion White?), (Machion White?) que se dizia, que foi uma cooperativa nos primórdios, não sei quando, tudo mentira. E eu fui convidado pelo Banco Mundial para ir fazer uma palestra e entrar num debate, numa reunião com vários países, principalmente os em desenvolvimento, em que eles apresentavam, os americanos apresentavam (Azeite Mols?) que são a Medicina de grupo lá dos Estados Unidos e eu apresentava a cooperativa. Eu apresentei primeiro, quando eu coloquei lá que naquela época, faz uns 10 anos isso, o nosso sistema movimentava algo por volta de 5 bilhões de dólares por ano, naquela época os americanos, que falar em bilhões de dólares para os americanos é uma coisa terrível, né, fantástica pra eles, então viraram um inferno. Primeiro eles não acreditaram, porque eles não acreditam em latino-americano, né, essa novela que tá passando aí tem muita coisa verdadeira, sabe, você conhece os Estados Unidos?
P/1: Não
R: Não, é dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Bom...
P/1: Não acreditaram que a cooperativa movimentava 5 bilhões.
R: Bom, quando terminou a reunião, aí veio o debate, no debate eu comi os americanos, tinha um cara que representava o modelo americano no Egito, né, com hospital, que dizer mercantilista do jeito que eles estavam fazendo aqui no Brasil e na Colômbia e em todo canto, né? E aí eu almocei, jantei todo mundo, eu não falo bem o inglês, mas eu tinha um assessor o (Cortada?) que era o meu intérprete rapidinho, ele morou nos Estados Unidos há muito tempo, então nós demos um show. Quando terminou a reunião todos vieram em torno da gente e aí eu comecei a ser convidado pra ir no mundo inteiro. Inclusive em países do tipo da Suécia, que a Suécia pra mim era uma organização social perfeita, e cheguei lá tava se degradando, não é? Então minha estada na Suécia, Noruega, Itália. Itália é aquele caso complicado que o italiano, viu, tenho origem italiana, mas o italiano é complicado pra burro, não é? E Portugal, Espanha. Espanha é aliada, né, a Espanha hoje tem um monte de hospitais, compostas por, porque tem a Usimed aí eu imaginei que a Usimed que é a cooperativa de usuários e imaginei a Usicred. Bolas, se eu tenho a capacidade de gerar 5 bilhões de dólares naquela época, porque que eu não tenho a capacidade de administrar isso. Então vamos criar um instituto de cooperativa de crédito, que é a Unicred que é uma maravilha a nossa Unicred aqui em Santos, uma maravilha a Unicred de Penápolis.
P/1: A do Rio.
R: Na minha terrinha lá em Penápolis é uma maravilha, tem doido feito eu lá, que puxa vida, ele não é médico, ele é usuário. Então em Penápolis ele tinha onze farmácias numa cidade de 70.000 habitantes e hoje só dá Unimed, inclusive entraram com uma ação no (CAD?) contra a Unimed de Penápolis, a Usimed de Penápolis, como se ela estivesse praticando como é que se diz? Monopólio, então é isso daí.
P/1: E qual foi a trajetória do senhor dentro da Unimed, os cargos que o senhor exerceu, foi fundando?
R: Nós fomos fundando a Unimed Paulista, eu que fundei a Unimed Paulistana.
P/1: Em São Paulo tinham duas Unimeds.
R: Duas, duas.
P/1: Uma não tinha nada a ver com vocês e outra tinha como que é essa história?
R: Não, as duas tinham tudo a ver conosco. Então o que aconteceu foi o seguinte, a Unimed Paulistana eu fundei, mas ela ficou controlada pelo pessoal da Associação Paulista de Medicina e pela Associação Médica Brasileira e quando nós fizemos um convênio no Rio de Janeiro para o Citibank para dar um atendimento para todo o Brasil tinha 2000 usuários, em São Paulo a Paulistana diz: “Eu não vou atender”, e quando nós apertamos ela saiu do sistema. Então o sistema Unimed se reuniu e criou a Unimed São Paulo, que a Unimed São Paulo foi então com a condição de que o presidente fosse sempre o presidente da Unimed do Brasil e o vice-presidente o presidente da Federação de São Paulo. Porque não era confiável o mercado em São Paulo, onde tava todo complicado com o mercantilismo. Que lá que nasceu a Samcil, a Amico.
P/1: Mas a Unimed São Paulo não existe mais agora?
R: Não, ela está em liquidação extrajudicial e dando um trabalho desgraçado.
P/1: Só agora existe a Unimed Paulistana que voltou para o sistema.
R: Voltou, voltou e voltou bem porque realmente o doutor Thyrson é um líder, é uma pessoa, hoje ele é diretor financeiro do sistema Unimed. Agora a Unimed São Paulo ela criou, ela é a responsável principal pela seguradora, porque quando precisar de capital não tinha capital, nós colocamos o hospital lá. E aquele hospital era a menina dos meus olhos, porque aquele hospital é um hospital inteligente, hoje ele tá lá com aquela publicidade, aquele negócio lá me...
P/1: Que hospital que é?
R: Ali na 23 de maio, aquilo lá os terrenos tudo em volta são da Unimed São Paulo, agora foi uma conjura, aconteceu uma conjura contra a Unimed São Paulo porque nós fomos aos Estados Unidos e trouxemos o melhor serviço aeromédico do mundo. Criamos, nós tínhamos avião, nós tínhamos helicóptero, nós tínhamos um Hangar em Congonhas, nós desenvolvemos um sistema de informática fantástico para todo sistema, mas aí começou o negócio que o cooperativismo e nada no mundo é perfeito aquele regionalismo. Então bolas, se era pra ter um sistema só, eu presidente da Unimed São Paulo dizia: “Olha, Rio Grande do Sul entra aqui, participa desse negócio que a gente domina o mercado na América”. Os caras criaram uma concorrência. Concorrência interna dentro do cooperativismo é uma desgraça e os fatores da inviabilidade da Unimed São Paulo foi isso, foram esses. E aí a informática tá aqui o negócio feito vamos montar para o sistema. Eu fiz uma Assembleia Nacional Constituinte e aí houve um racha, o pessoal que tava engajado com esquema de: “Olha não tem jeito, essa lei 9656 não tem jeito, então vamos aderir, vamos ter uma seguradora”. “Mas tudo girando em torno da seguradora, eu digo: Negativo”. Então houve a eleição em que houve um racha, um grupo do nordeste e do interior de São Paulo mal liderados por um sacana lá de Ribeirão Preto, né, atrasou tudo, felizmente hoje a coisa retornou e hoje tá bem unido, bem.
P/1: E o senhor foi presidente da Unimed Brasil durante...
R: 30 anos
P/1: 30 anos, o senhor teve um substituto, né, o doutor Celso.
R: Celso Barros que é meu amigo, que é uma pessoa que eu confio, porque íamos criando, então criamos a Federação do Estado de São Paulo, aí eu fui eleito presidente, aí ajudamos a criar a Federação do Rio Grande Do Sul, a Federação do Rio de Janeiro, e aí fundamos aqui em Santos a Unimed do Brasil, a Confederação.
P/1: Nesses 30 anos, Doutor Edmundo, quais foram os momentos mais marcantes pro senhor dentro da Unimed?
R: Olha, foi o crescimento, né, foi o engajamento, foi realmente a consolidação de uma ideia em nível mundial.
P/1: Mas o senhor quando pensou na cooperativa o senhor tinha essa dimensão?
R: Não, nem de longe. É aquela história, o idealista, ele, pra mim, a definição de idealista é o cara que vê, e de líder, idealista tem que ser líder, é o que enxerga o óbvio primeiro, uns 30 anos na frente. Então a minha saída foi importante, primeiro porque eu cheguei a uma idade provecta, eu tava voando, eu saia aqui de Santos, eu pegava avião três vezes por semana. E às vezes eu ia no nosso avião, ia lá para Manaus, uma vez eu fui a Manaus, de Manaus eu fui a Belém, de Belém eu fui a Recife, de Recife eu fui a Porto Alegre, e vim dormir aqui no mesmo dia. Eu ia a Buenos Aires, eu costumava brincar, e os cariocas adoravam essas brincadeiras, o melhor bairro de São Paulo é Santos. O segundo melhor bairro de São Paulo é o Rio de Janeiro, porque eu pego a ponte aérea vou lá resolvo meus negócios e volto e o terceiro está começando a ser Buenos Aires porque em Buenos Aires nós criamos um modelo parecido. Porque a Argentina é muito avançada em cooperativismo. Mas na Argentina degradou tudo, né, mas tinha um líder lá, o Lopes, cirurgião, era não, é, que escreve sempre, me chama de padrinho. Nós unimos a cada segmento do cooperativismo na Argentina tinha o seu departamento de Medicina, de assistência médica. Então nós integramos esses departamentos fazendo um arremedo da Unimed.
P/1: E o senhor não sente falta desse cotidiano hoje?
R: Meu deus do céu. Eu vou a São Paulo, eu fico, eu volto, porque eu tenho saúde graças a Deus. Eu tenho, eu sonho ainda, né, e eu estou fazendo uma vida muito burocrática. Quer dizer, eu venho pra cá, atendo os meus doentinhos, leio, escrevo, não é, porque eu resolvi dar uma (recueta?), porque como é que eu posso ir numa assembleia aqui da Unimed de Santos? Não tem condição, eu vou numa assembleia aqui, vou ouvir um monte de besteira, e eu, como diz na minha terra: “Eu não posso ver defunto sem chorar”. Eu vou abrir a boca, vai quebrar um pau que não tem nem tamanho. E eu não tenho mais pretensão nenhuma, eu acho que eu cumpri a minha missão. E agora a minha expectativa é que se crie um Instituto, como existe já o Instituto Espriu na Espanha, que é a base dos grandes estudos do cooperativismo de Saúde.
P/1: A Fundação já existe.
R: A Fundação existe, que é boa e tudo mais, só que essa Fundação é ligada ao Ministério Público, o Ministério Público é um atraso de vida, né?
P/1: E o Instituto seria para trabalhar questões de ordens mais teóricas, estudos, filosóficas?
R: Exatamente.
P/1: O senhor poderia estar dando aula lá?
R: Não, o Espriu faleceu agora a pouco tempo, com 80 e tantos anos, ele era o...
P/1: É catalão o Espriu?
R: Não, é catalão. É de...
P/1: Barcelona.
R: Barcelona, você conhece lá?
P/1: Conheço.
R: Maravilha, né?
P/1: Os Estados Unidos ainda não fui por convicção, mas a Europa eu conheço. Doutor Edmundo, por que é que o senhor acha que a Medicina no Brasil, quer dizer, a gente tem bons cursos a priori, temos universidades de grandes trajetórias, o que o senhor acha que acontece com o Serviço Público de Saúde, como que o senhor faz esse diagnóstico? Por que a gente passa décadas e é diário o bombardeio diário com as questões da saúde, na sua visão como...
R: É o seguinte, eu fui relator na Subcomissão de Saúde porque eu era muito amigo do Mário Covas, e o Mário Covas foi o grande líder da Constituinte. E nós definimos, né, aquilo que está na Constituição? é um sistema, é um direito de cidadania e um dever de Estado. Isso aqui foram as (chegas?) que nós levamos ao Covas. E o Covas, porque o Covas era o meu fraterno amigo, era tão amigo que eu que cuidava da mãezinha dele. Operei a Lilá, então nós tínhamos uma convivência muito íntima, e ele foi o grande líder, um pecado ele ter ido porque o Brasil não teria chegado nesse ponto que tá chegando. Ele realmente era uma figura fora do comum, admirador do Covas assim, como sou admirador do Geraldo, quem apresentou o Geraldo ao Covas fui eu. Geraldo era prefeito em Pindamonhangaba e veio conversar comigo, me apresentá-lo, porque ele queria ser candidato a deputado estadual e começou uma convivência, e eu tenho uma admiração profunda pelo Geraldo Alckmin, eu acho que um puro, é um sujeito íntegro até debaixo d`água. É aquela história, a gente nunca se cerca só de pessoas brilhantes, até porque cada vez se tornam mais raras, né, ele pode ser que ele tenha assessores lá que não estejam à altura, eu até sábado ele vem aqui eu vou fazer uma visita a ele, tô com saudades dele porque realmente ele ta levando umas sem merecer, porque ele é um grande líder, ele é um idealista, é um “figuraço”.
P/1: Mas voltando à questão da saúde no Brasil.
R: Não, então, na Constituinte a gente aprovou direito de cidadania, o dever de Estado, o Sistema Público de Saúde Integrado, regionalizado, descentralizado, complementado por entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Isso foi tudo deturpado, por essa lei 9656 que é do Consenso de Washington e que tem por objetivo entregar à iniciativa privada seguradora, que por objetivo o lucro, não pode na assistência médica é um regime cooperativo ou algo, por exemplo, as autogestões, eu acho que é correto.
R: Incorreto?
P/1: É correto.
R: Correto.
P/1: Correto por quê? Porque a empresa levanta e eles gestionam, não é, gestionam aquela assistência, fazem investimento e tem o retorno. Então quando começou essa história eu ia pra Brasília e brigava feito um doido, não é? Porque eu sou manjado lá, os caras têm nem que ter ódio de mim graças a Deus. Então essa 9656 foi uma burla porque houve, veja bem, houve no Senado um projeto de lei com um artigo e três parágrafos para resolver um problema de sua menos importância da assistência médica. E depois vem o Consenso de Washington e que não passou pelo Senado, passou foi direto para Câmara dos Deputados. E foi aquela briga, aquele negócio e querendo vincular todas as operadoras à Susep (Superintendência de Seguros Privados) como se fosse uma empresa de capital comprando, seria maldade, comprando assistência médica. O nosso negócio não é comprar, o nosso negócio é ser parceiro, é cumprir uma obrigação, né? Bom, e eu briguei à beça contra essa lei achando que está tudo errado e que é inconstitucional, e é mesmo. E a outra que eles acertaram o cooperativismo é que a gente tinha levado o princípio das imunidades tributárias. Então, o que foi aprovado para Igrejas, para Partidos Políticos e para, eu sempre me esqueço desse terceiro, e o quarto era o Cooperativismo que era o mais importante. Então colocaram lá que é uma excrescência dizendo o seguinte:
“Que uma lei complementar será elaborada
o mais breve possível, estabelecendo relações especiais no campo tributário com o cooperativismo”. Essa lei até hoje não saiu.
P/1: Que poderia ser uma grande solução.
R: Bom, fomos podados. Fomos podados, mas não basta isto, quando aprovaram essa desgraça e na briga eu digo: “Eu não vou a Susep”. Quando me chamavam pra ir na Susep eu dizia: “Eu estou em lugar errado, eu não sou plano de saúde, eu sou cooperativa de trabalho de médicos, meu negócio é a Lei 5764, que regula o cooperativismo”. E essa Agência Nacional de Saúde, ela saiu porque o professor que era meu amigo, é meu amigo, meu afilhado, que é o Marcos Vinícius, que era suplente, nós tentamos eleger e a classe não acordou, ele era suplente do deputado federal, diz olha: “Susep? Nós não vamos”. Então por que é que quê não cria, tava na onda da agência, porque que não cria uma agência? E essa agência está sendo um fiasco desgraçado, mas é melhor do que se fosse a Susep), porque era passar recibo de que a gente aceitava ser uma empresa de capital. Mas essa agência é muito influenciada pela Susep e pelas seguradoras porque as seguradoras não desistiram inclusive as multinacionais. Então a situação é essa. E hoje por incrível que possa parecer a imunidade tributária o que quê é? É a relação, é a não incidência, veja bem, não é a isenção, isenção é _______, é imunidade tributária não cabe porque a figura jurídica é o seguinte, o médico, o cooperado e a cooperativa são a mesma coisa. E o médico tudo que ele recebe, ele declara, paga todos os tributos, cobrar a cooperativa é abrir tributação.
P/1: Entendi.
R: Então o objetivo dessas encrencas aí é acabar com o cooperativismo mesmo, para entregar tudo para o capitalismo mais sórdido mais desgraçado do mundo que é aquele que explora a doença. Então eu tive um desgaste muito grande, porque eu fui violento quando eu vi que eu tava, eu não sei perder né, ainda mais no campo social, sei perder futebol, sei perder uma série de coisas, agora isso daí eu não sei, porque na realidade é uma luta que tem 40 anos aí, tem mais de 40 anos, não é? Por um Brasil melhor, por uma assistência médica modelo no mundo, pode ser modelo no mundo e realmente enfrentando dificuldades muito grandes. Então a história é essa.
P/1: E o que é ser médico para o senhor?
R: Ser médico é ser sacerdote, é uma missão de vida, é uma missão de vida, de trabalhar para socorrer seu semelhante e no momento dessa relação que é sublime, a coisa mais importante do mundo dos dois personagens é a doença do paciente. Infelizmente a coisa está mercantilizada eu tive que fazer um, lá em São Paulo, não vou dizer o local para não, e realmente voltei escandalizado porque é a mercantilização, é a mercantilizaçäo, a primeira coisa que faz é cobrar. É evidente que sendo um país capitalista, né, tem que se cuidar dessa parte, mas isso aí é administrativo, não é função de médico, o médico em obrigação de ser fiel ao paciente, para que o paciente seja fiel a ele. Porque está evoluindo aqui no Brasil o mesmo que aconteceu na Medicina sólida lá dos Estados Unidos de que vive preocupada, essas pesquisas, essa alta tecnologia que eles investem pra burro, mais o objetivo é ter lucro. Quer dizer, de registrar como propriedade industrial. Nós fomos convidados, eu conheço os Estados Unidos inteiro porque eu fui convidado para vários lugares, mas o cuidado que eu tinha, porque eu conheço, a gente chegava lá e já registrava como propriedade industrial o que eu ia falar.
P/1: Pra não correr risco.
E como que é o cotidiano do doutor Edmundo hoje?
R: Hoje, hoje...
P/1: Os lazeres, os prazeres...
R: Não, o lazer é leitura, é escrever, eu tô muito chato, eu tô um velho chato, porque eu adoro futebol, eu vejo futebol, televisão pra mim é futebol, informativa e debate político. Quer dizer a cultura é o que eu mais vejo, não é, então ontem, por exemplo, tava lá o...
P/1: O Jabor.
R: O Jabor que foi muito bem, não é? Eu conheço o Jabor, eu levei o Jabor a Curitiba para fazer conferência pra nós, eu conheço toda essa tropa aí, porque eu convivi, não é? E eu estou bem de saúde, a minha neta me deixou muito feliz, a mais velha a Natália, que quer ir à Casa de Saúde onde ela nasceu, né, pra ela passar um dia lá pra ver, porque ela tá pensando seriamente em ser médica. E isso pra mim, eu nunca influi nos meus filhos, nenhum quis ser médico e eu achei: “Tem que fazer o que gosta”. E agora me parece que é vocação mesmo, então eu espero que seja, se não for também, que ela faça aquilo que a faça feliz,né?
P/1: E o que o senhor acha desse movimento da Unimed Rio de estar organizando a memória, a história,...
R: Importantíssimo. Eu acho que uma instituição sem história não existe. Porque aí começam a surgir versões completamente divorciadas da realidade, porque cada um, por exemplo, houve eleição agora e tinha um colega lá que ia sair, eu falei: “Amigo você é a memória desse grupo, você não pode sair” e felizmente o grupo analisou e ele continua, porque sem memória, porque é processo, é um processo que começa a querer descobrir a pólvora, que lá trás já viu que não era bem pólvora, né? Então eu acho importante, eu tô feliz com o grupo que está lá, eu acho que o grupo está indo bem, já fizeram uma gestão que me sucedeu, não é, que eu acho que eles foram felizes, eles harmonizaram o sistema, que o sistema estava...
P/1: Teve eleição agora?
R: Agora.
P/1: E ele continua?
R: Continua. Eu acho que muito bem, quer dizer, houve poucas mudanças. E em São Paulo que era uma oposição muito mais por vingança, porque eu errei muito na vida e um dos erros crassos que eu cometi na vida foi tripudiar sobre um analfabeto, sou um ignorante, que ao Felício que era presidente da Federação do Estado de São Paulo, que felizmente, Felício, felizmente, foi afastado da presidência. E aí acalmou tudo, harmonizou tudo, porque houve uma, ele fazia eleição, eu gostaria que não pusesse isso porque é muito fresco ainda e ele fazia eleição, ele é Presidente da Federação, ele foi o presidente uns vinte e tantos anos, 25 anos parece. Mas ele fazia a pré-singular que era vinculada, então uma cidade queria fazer, então ao invés de partir já pela singular, fazia um segmento da federação. E na época da eleição ele transformava aquilo em singular e era um voto igual, porque o cooperativo tem um negócio que a gente tem que rever, na prática e na constituinte a gente reviu. Quer dizer, o peso do voto duma Unimed São Paulo, por exemplo, foi a maior que teve no Brasil, né, que tinha um patrimônio fantástico, e tem um patrimônio um fantástico, embora os meus sucessores lá dilapidaram com tudo, quer dizer são, parece esse bicho no arrozal, né,
essa praga no arrozal, não é, mas destruíram tudo, acabaram com o hospital, acabaram com a Usimed, acabaram com tudo, porque a Unimed São Paulo era recuperável, tranquilamente era recuperável. Inclusive houve uma proposta do Estado para comprar por 30 milhões de reais aquele hospital, que teria resolvido o negócio. Porque é um hospital inteligente, (e só?) que o usuário remoto, os médicos de São Paulo porque o grande centro é São Paulo, os médicos de São Paulo ajudam o cooperado lá de Corogogó, lá de Glicério pra por via da informação, né, orienta com o tratamento e se precisar trazer o helicóptero e a buscar o avião, ia buscar e ponto final. Porque hoje vem muita gente do Brasil inteiro, até da América do Sul para São Paulo e nas relações em que a gente não conseguiu oficializar, que é o intercâmbio, a gente tem que fazer o que os bancos fazem, quer dizer, aquele encontro de encontros, como é que chama aquilo? Você deposita um cheque tem um momento...
R: Compensação.
P/1: Compensação. Isto aí não foi feito, então o que é que acontecia? O usuário do Brasil todo vinha pra São Paulo, ia para os hospitais melhores, quem era responsável era a Unimed São Paulo que tinha o vínculo. Então ficava um monte de tempo, embora a Unimed São Paulo ficava vigiando, mas impossível você tirar um doente mal e fazia parte da nossa filosofia. Então isto daqui a Unimed depois levava o doente embora e a conta 10 dias depois vinha pra Unimed São Paulo pagar. E pra receber, recebia em um mês, dois meses, três meses, ou não recebia. Então isso daí na Constituinte foi tratado e era pra se fazer esse encontro-encontro, como é que chama que você falou aí?
R: Compensação.
P/1: Uma câmara de compensação, pra ser automático. Porque se não fizer isso daí a própria Paulistana que cresceu absurdamente e bom que cresceu, né, que segurou o rojão e a Central Unimed que a gente criou assim nós (espectadores?) da coisa, que a Central é a que une as Unimeds de primeiro grau. Que hoje tem junto com as seguradoras, são duas empresas extremamente fortes graças a Deus. Então tem uma série de coisas, a mais o pessoal que está lá está atento. E a coisa está evoluindo muito bem e acho que o gosto da crise está superado e eu que este tempo todo fiquei quieto porque se eu fosse falar a gente ia criar pro grande público um conflito, mostrar um conflito...
R: Que é interno.
P/1: Interno que não fazia bem...
R: Pra imagem institucional.
P/1: Faria mal a imagem, então eu fiquei quieto, agora imagine eu ter que ficar quieto. Isso me custou muito, mas eu sou por isso que eu sou católico, que eu sou humilde, eu vou à Igreja, eu rezo à beça e Deus não me abandonou não.
P/1: Já passou?
P/1: Já, já porque eu vejo os resultados hoje, né, que primeiro ninguém é insubstituível, segundo houve uma renovação que é fundamental, terceiro a preocupação com a história é a prova de que realmente está dando certo. Porque instituição que não tem história...
R: Não teria vindo aqui contar a sua.
P/1: Não existe, não existe.
R: Isso aí. Então eu agradeço ao senhor.
P/1: Tá tudo gravado, né?
R: Tá, mas pode ficar tranquilo que isso a última parte a gente (desfaz?)...
P/1: É isso daí são certas coisas que...
R: A gente edita. Agradeço o senhor por falar com a gente e agora a gente tem que ler esse livro aqui pra ver...
P/1: É o livro vai ajudar muito.
R: Vai.
P/1: Porque o meu afilhado, ele...
R: O Ricardo.
P/1: O Ricardo Viveiros ele me conhece muito então realmente ele sintetizou, porque eu sou muito prolixo e ele é sintético, então ele sintetizou e....Recolher