Projeto Fundação Banco do Brasil 20 Anos
Depoimento de Luiz Ferreira da Silva
Entrevistado por Aurélio Araújo e Eliete Silva
Brasília, 30 de janeiro de 2006
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PB HV 013
Transcrito por: Susy Ramos
Revisado por: Raquel Pontes Alves
P/1 – Ferreira, boa tar...Continuar leitura
Projeto Fundação Banco do Brasil 20 Anos
Depoimento de Luiz Ferreira da Silva
Entrevistado por Aurélio Araújo e Eliete Silva
Brasília, 30 de janeiro de 2006
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PB HV 013
Transcrito por: Susy Ramos
Revisado por: Raquel Pontes Alves
P/1 – Ferreira, boa tarde!
R – Boa tarde, Aurélio! Boa tarde, Eliete!
P/1 – Vou pedir pra você repetir novamente algumas perguntas. Seu nome completo, local e a data de nascimento?
R – Meu nome é Luiz Ferreira da Silva, eu sou natural de Patos de Minas, Minas Gerais, nasci no dia 26 de março de 1955.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai, Orlando Ferreira da Silva; a minha mãe, Aparecida Cirino Ribeiro.
P/1 – Qual a atividade profissional dos seus pais?
R – Meu pai, já falecido, ele era pedreiro, e a minha mãe sempre foi do lar, sempre trabalhou e tomou conta da casa e dos filhos.
P/1 – Qual a origem da família de vocês? Todo mundo sempre foi de Patos de Minas?
R – É, a família é oriunda mesmo de Patos, todo mundo nasceu e criou. Alguns agora da última geração que, seria a última geração, mas da minha geração que começou a sair de Patos de Minas.
P/1 - Você tem irmãos?
R – É, nós somos seis irmãos. Eu sou o terceiro, tenho dois irmãos e três irmãs. A mamãe, ela teve um problema sério de saúde após o meu parto. Após o segundo ano de vida minha a mamãe veio ter um problema, um AVC, então ela ficou paralisada em uma cama por dois anos. Mas mesmo assim, depois de 11 anos ela voltou a ter filhos e teve mais dois filhos ainda mesmo depois de ter sofrido o AVC.
P/1 – Como era a infância em Patos de Minas?
R – Nós somos de uma família pobre e sobrava pouca coisa pra fazer, aliás, muita coisa pra se fazer. Naquela época não existia televisão, não existia cinema, cidade ainda do interior, então a nossa diversão era aquela diversão de toda criança do interior: passava o dia todo no pomar da casa da avó, de ir pro rio nadar, de ir pra lagoa pescar. Essas coisas junto à natureza que nos traziam muito gosto, muita saudade disso tudo aí.
P/1 – Nessa época você freqüentava a escola?
R – É, umas das preocupações que papai e mamãe sempre tiveram apesar do pouco estudo deles, eles vislumbravam que a gente tinha que estudar, era necessário estudar. Eles se preocupavam muito com a formação nossa. Meu pai simplesmente sabia assinar o nome; minha mãe era um pouco mais adiantada na escola: já lia jornais, revistas, mas fez o que? Acho que quarta série primária que a gente chamava na época. Mesmo assim eles tiveram essa preocupação com todos os filhos que fizesse com que eles freqüentassem e fossem pras aulas.
P/1 – Você tem alguma lembrança marcante da escola?
R – Tenho sim. Por ser de uma família humilde a gente sempre ficava meio acanhado no meio dos colegas, e o que eu acho interessante é que naquela época não havia ainda essa segregação entre escola pública e escola privada, então nós convivíamos com pessoas ricas que estavam ali estudando na escola pública. Isso me trazia uma sensação de inferioridade em relação aos outros colegas porque naquela época nem calçado tinha pra ir pra escola enquanto os demais, outros colegas, também estavam nessa situação, mas tinham, a maior parte dos colegas tinha lá seu calçado, o seu uniforme arrumadinho, o material escolar diferente do material da gente. Isso trouxe pra gente um sentimento de inferioridade na época, mas a gente, com o passar do tempo, foi notando que não havia diferença entre eu e eles porque ali o que valia era a questão de quem estava a fim de aprender, de estudar. Aí eu comecei a me destacar no colégio porque eu vi que era o diferencial para eu sobreviver no meio daquela turma.
P/2 – Nessa época que você estava estudando, ____________ já vislumbrava alguma __________ profissional?
R – Olha, Eliete, eu me lembro quando era pequeno, papai sempre perguntava: “O que você vai ser?”, naquela época eu sempre dizia pra ele, acho que puxando um pouco pelo lado dele ser pedreiro, eu dizia: “Olha, papai, eu quero ser engenheiro. Eu quero ser um dia engenheiro pra construir casas, construir prédios”. Isso envaidecia ele demais, deixava ele por demais feliz, quando ele ia dizer pros amigos dele: “Olha, ele vai ser engenheiro! Está se preparando pra ser engenheiro!”. Isso é uma lembrança viva até hoje pra mim e o que mais me satisfaz, o que me traz uma maior alegria é que eu não consegui ser engenheiro. Apesar de ter batalhado bastante pra entrar na faculdade, eu teria que fazer uma faculdade pública, não teria condições de pagar um curso de engenharia, eu não consegui, mas eu tenho o prazer de hoje a minha filha mais velha ser engenheira. Engenheira eletricista formada pela UnB. Isso, de um certo modo, acho que deixou lá o velho alegre, esteja onde ele estiver.
P/1 – E a juventude em Patos de Minas? Tinha grupo de amigos, vocês acampavam lá?
R – Bom, o esporte que eu sempre adorei foi futebol, aliás, restava pouca coisa pra pobre fazer a não ser jogar futebol, e Deus me deu o dom de jogar futebol, e eu gostava de jogar futebol! Os meus amigos, até os 15 anos, se resumiam aos colegas do colégio e os amigos do futebol. Era enquanto eu estava no colégio estudando, saía do colégio, cumpria com as tarefas escolares e já descia pro campinho pra gente bater a nossa famosa pelada que ia noite à dentro. Enquanto a mamãe não descia lá e fazia a gente voltar correndo pra casa a pelada não acabava.
P/1 – E como eram os namoros em Patos de Minas? Paquera...
R – Eu sempre fui muito inibido com relação às mulheres, eu sou meio acanhadinho, meio sossegadinho no canto, mas tinha lá as namoradinhas, a gente ia muito pras brincadeiras, fazia as famosas brincadeiras, ou seja, alguém oferecia a casa e lá íamos nós com o toca-fitas, toca-discos, lá íamos nós e as colegas dançar. Nessas ocasiões sempre sobrava uma ou outra menina, e a gente trocava lá os seus abraços, seus beijos, tudo muito controlado ali pelos pais.
P/1 – O senhor acabou o ginasial lá em Patos de Minas?
R – É, assim que eu terminei o grupo escolar, naquela época tinha, era muito estudante para um colégio público, então tínhamos o concurso de seleção que a gente chamava de admissão no colégio estadual, e eu tive o prazer de – após a quarta série, naquela época, ainda se tinha o quinto ano primário, mas já se adotava que aquele aluno que tivesse boas notas e conseguisse uma média já no quarto ano primário, ele já poderia cursar a primeira série ginasial que a gente chamava. Eu, então, tinha boas médias lá na oitava série, eu fui tentar fazer a admissão no colégio estadual. Lá chegando eu consegui ingressar no colégio estadual. É fato assim, pra mim foi muito, o fato compensador pelos anos que eu vinha já dedicando ao estudo lá no primário.
P/1 – E a família, ficou feliz?
R – Muito feliz, muito feliz porque naquela ocasião já se iniciava um movimento de valorização das escolas privadas, já tínhamos lá o Colégio Marista, outros colégios particulares, mas entrar no colégio estadual naquela época era uma coisa que causava alegria aos pais porque ali estavam os melhores professores da rede de ensino.
P/1 – Lembra quando isso aconteceu?
R – Bom, eu quero crer que isso deve ter acontecido, eu ingressei no primário em 1962, eu quero crer que isso tenha sido em 1965, 1966, por aí.
P/1 – E quanto tempo o senhor ficou nessa escola estadual?
R – Eu fiz o ginásio e, naquela época, se chamava também científico, e cursei o científico no colégio estadual. Daí tive o prazer, já estava conversando com a Eliete, tive o prazer de estudar com pessoas hoje militantes da política. Sem partidarismo aqui falando, mas são pessoas que já tinham esse raio de despertar da política, naquela época vigia-se a ditadura militar e dentre esses colegas vários se lançaram à situação de confronto até às vezes, alguns anos adiante, contra essa forma ditatorial do governo brasileiro.
P/2 – Como foi essa época da ditadura? Você tem lembranças? Como você visualizava isso?
R – Olha, Eliete, até hoje é uma coisa meio obscura pra mim. No interior a gente não ficava sabendo de muita coisa. Você ouvia as coisas pelo rádio, aquilo que o governo queria que você ouvisse. Pelas condições da família, nós não assinávamos jornais, mesmo porque os jornais não traziam grandes notícias. Esse período da revolução eu fui vivê-lo mais agora ao finalzinho, quando me mudei pra Brasília, que aí a gente passou a perceber a abrangência desse movimento que não aceitava essa ditadura imposta pelo governo. Hoje eu fico pensando por que essas notícias não chegavam no interior.
P/1 – Ferreira, a escola estadual era em Patos de Minas?
R – Era. Era Colégio Estadual Professor Zama Maciel. Ele ficava no bairro que a gente chamava bairro Santa Terezinha, não sei se mudou o nome, mas eu lembro que eu morava no sentido oposto, eu morava no bairro da Lagoinha e o colégio ficava lá, tinha que atravessar o Centro pra ir pro colégio, ficava do outro lado. Acho que da minha época de criança e adolescente, foi uma época que marcou muito pra mim porque a cada dia eu vislumbrava um degrau a mais que eu podia subir na vida. Acho que foi nesse colégio, através dos professores que eu tive esse despertar para a vida, para saber que eu era capaz de enfrentar e superar os problemas. Pra mim essa convivência com os professores foi uma forma compensadora.
P/2 - ______________ Havia tinha algum professor em especial? Que incentivo era esse?
R – Meu tio mais velho tem uma oficina mecânica, dentre os clientes dele tinha o meu professor de física e matemática, era o professor René. Como eu ajudava meu tio na oficina, o professor René via aquele trabalho, eu corria pra escola, corria pra oficina, via toda aquela dedicação que eu tinha, então ele procurou me apoiar. Esse apoio se resumia em passar lições extras pra mim. A classe tinha aquele volume de lição pra cumprir, e ele me exigia mais ainda que eu cumprisse alguma coisa. Dizia pra mim: “Passa lá em casa que hoje eu tenho um presente pra você!”, era uma relação de problemas de matemática pra resolver. Eu acho que dessa forma ele despertou em mim o gosto pelos números, tanto é que eu no escolher da minha profissão, já que eu não dei conta de ser engenheiro, fui ser contador, mexer logo com os números. Acho que o professor René é um dos nomes, não esquecendo os demais, mas é um dos nomes que ficaram marcados pra mim.
P/1 – Quando você terminou o curso na escola estadual, você vai prestar o vestibular?
R – Correto.
P/1 - ___________ isso?
R – É. Assim que eu terminei o terceiro ano científico que hoje é o terceiro ano do segundo grau?
P/2 – Do médio.
R – Ensino médio, eu então resolvi fazer como todos os rapazes da minha cidade: procurávamos uma cidade maior pra tentar ingressar na faculdade. Como eu não tinha conhecimento nenhum em Belo Horizonte, que é a cidade mais próxima de Patos - o natural seria ir pra Belo Horizonte -, eu resolvi vir pra Brasília. Naquela época o fluxo de jovens vindo pra Brasília estava muito grande, então eu resolvi tentar ingressar na UnB, mas a faculdade, naquela época a UnB já era, como ainda hoje é, muito concorrida, e infelizmente eu não consegui passar no vestibular da UnB. Naquela época só se tinha os cursos de engenharia da UnB no período da manhã, era outro problema também porque eu tinha que trabalhar pra me sustentar e poder arcar com os estudos, mas não se tinha muito tempo na UnB, os cursos eram quase em tempo integral: aula de manhã e aula à tarde. Acho que na vida tudo você deve tentar, nem sempre a vitória é o que importa. Tentei e chegou um momento que eu percebi que não iria conseguir. Eu vi que estava perdendo muito tempo e eu precisava trabalhar, e foi daí que me surgiu a oportunidade de fazer o concurso pro Banco do Brasil. Entrei para o Banco do Brasil e, após entrar pro Banco do Brasil, aí sim eu fui fazer um curso em faculdade particular.
P/2 – Ferreira, você fez concurso pro Banco do Brasil em Brasília já?
R – Correto.
P/2 – Você já estava em Brasília?
R – Isso, isso em 1976. Assim que eu cheguei, me parece, por volta de março teve o concurso do Banco do Brasil e eu tive a felicidade de passar nesse concurso. Assim como tive na época também a felicidade de passar no concurso do Banco Central. Mas a vontade de voltar pra casa era tão grande que eu pensei: “O Banco Central em Patos de Minas nunca vai ter. Banco do Brasil já tem, é uma oportunidade que eu tenho pra voltar pra Patos de Minas”, então optei em escolher o Banco do Brasil pra trabalhar.
P/1 – Como foi sair de Patos de Minas, que é uma cidade do interior, e chegar em Brasília?
R – Foi difícil, não foi fácil. Eu me lembro como se fosse hoje, a rodoviária ainda funcionava, essa rodoviária que nós temos perto do Conjunto Nacional, antiga rodoviária. Eu havia conhecido antes um colega que tinha vindo no ano anterior que eu vim. Quando ele ia em Patos, ele sempre me convidava pra ir morar com ele, ainda brincava: “Vamos lá dividir o pão comigo porque sozinho não está dando pra dividir! Se eu arranjar alguém pra dividir lá comigo vai ficar mais maneiro lá o aluguel, dividir as despesas da nossa pequena república”. Pra mim foi uma coisa – o que é interessante também, na época da juventude eu mal saía pra conhecer aquelas cidades da redondeza por falta de dinheiro, falta de conhecimento, de outros amigos fora, então a minha vida foi quase mesmo em Patos de Minas. Chegando em Brasília, é uma cidade grande, naquela época, 1976, Brasília me encheu os olhos, não é essa Brasília hoje de tantas pessoas na rua, mas pra mim, como nunca tinha saído, era uma cidade grande. Foi meio assustador. Aos poucos você vai percebendo que a cidade grande te traz novidade, mas te traz também muita frustração, muita solidão, me senti meio sozinho em Brasília.
P/2 – Qual parte seria de Brasília?
R – Esse colega, como eu havia falado, ele tinha alugado um quartinho aqui na 713. As casas da Três, elas têm a entrada pela frente e no fundo geralmente é área de serviço. Então a senhora construiu ali um quarto, acho que 3x4 mais ou menos, e com um banheirinho, então alugava pra esse colega meu. Quando eu cheguei, nós tínhamos, ele comprou outra cama, colocou do lado, colocamos a cama do lado, era a cama dele, a minha cama e uma escrivaninha no meio que a gente usava pra estudar. Fui morar na 713 Sul.
P/1 – Ferreira, chegou em Brasília, tentou o vestibular, não consegue, mas consegue passar no Banco do Brasil. Seu pai queria um engenheiro e ganhou um bancário, ficou satisfeito?
R – Nessa época papai infelizmente já tinha falecido. Mas eu acho que sim, acho que é como eu falei: às vezes a vitória não é tão importante como aquela luta, a busca. Eu acho que para ele, se ele fosse vivo, acho que essa busca minha tinha surtido efeito porque nesse caminhar da vida, às vezes muitos jovens se perdem pelo caminho, e eu não. Eu sempre tive aquele norte, sempre soube onde eu quis chegar e acho que pro papai, se ele fosse vivo na época, sim, seria uma vitória sim.
P/1 – O que significava ser funcionário do Banco do Brasil naquele momento?
R – Aurélio, significava muito coisa. Significava a sobrevivência, significava você ter a certeza que tinha ali um futuro te esperando. Eu olhava os colegas mais antigos do Banco, todos de carro, já com sua casa comprada, com seu imóvel comprado, com sua família, então eu me via ali inserido nesse contexto de futuro. Acho que para mim, nesse momento ser funcionário do Banco do Brasil, acho que foi uma dádiva de Deus.
P/1 – Qual papel você começou a cumprir no Banco?
R – Quando eu ingressei no Banco, eu havia trabalhado em um escritório de contabilidade aqui em Brasília, por cerca de oito meses, por aí. Naquela época, quando eu passei no Banco, o proprietário do escritório me ofereceu não vir pro Banco, que eu continuasse trabalhando com ele. Ele estava ainda estudando, ele já era formado em contabilidade, mas estava fazendo direito, me fez a seguinte proposta: “Você fica, você depois cuida da parte da contabilidade e eu vou cuidar da parte do escritório de advocacia”, mas pra mim o Banco do Brasil me chamava, não me interessava mais ficar no escritório. Então eu ingressei na contabilidade do Banco porque quando eu fui tomar posse tinha vários locais pra trabalhar, aí eu perguntei: “No Banco tem uma área que se faça a contabilidade?” “Claro que tem!” “É pra lá que eu quero ir!”, e tive a honra de trabalhar na Coger [Contadoria Geral]. Na época, quem era o contador geral do Banco do Brasil era, me parece, acho que o senhor Osvaldo (?) – não sei o sobrenome dele - mas quatro ou cinco anos depois o Gil tomou posse na chefia da Coger. O interessante é que o Gil, Aurélio, eu chamo ele de forma tão carinhosa que a gente trabalhou junto antes dele ser contador do Banco do Brasil, nós éramos amigos, trabalhando lado a lado. Por lá eu fiquei 19 anos no Banco do Brasil, na Coger.
P/1 - __________?
R – 19.
P/1 – Gostava?
R – Aurélio, eu fiz uma amizade muito grande na Coger. Naquela época a Coger já tinha cerca de 150 funcionários. Quando me ofereceram a contabilidade da Fundação eu fui falar com o Gil. Ele disse: “Por um lado estou feliz que você vai assumir um posto importante pra você, pra Instituição, pro teu crescimento vai ser muito importante; por outro lado eu fico triste porque nós estamos tanto tempo juntos. Mas eu desejo a você que vá e vença!”. Então eu fui ver a Fundação, fui viver os problemas da Fundação e até hoje há uma integração muito grande entre eu e a contabilidade, a contabilidade do Banco. Lá eu deixei vários amigos que de colegas de banco passaram a ser amigos de convivência, de final de semana, de pescaria... Pra mim foi muito bom esse tempo que eu passei na Coger, tanto é que é difícil uma pessoa trabalhar 19 anos em determinado local. As pessoas às vezes: “Você ficou 19 anos com o mesmo trabalho”. Não! Não é com o mesmo trabalho. O Banco é muito grande e a Coger também é muito grande, então a cada três anos, a cada quatro anos eu fazia um rodízio de um setor pra outro que o serviço era totalmente diferente, por isso acho que eu fiquei tanto tempo na Coger.
P/2 - _____________ transformação tecnológica do Banco? Como você vivenciou isso nos seus 19 anos na Coger?
R – Eliete, aí que mora o grande problema do funcionário que sai do Banco do Brasil cedido, tal qual eu. Quando eu fui pra Fundação, o Banco havia perdido há pouco tempo a conta movimento, então a administração do Banco percebeu que aquele tempo do Banco do Governo já tinha se acabado. Daí se percebeu que o Banco estava atrasado tanto tecnologicamente e com relação também aos seus funcionários. Aquela idéia do funcionário do Banco do Brasil estar trabalhando pro Governo, às vezes dava ao funcionário a impressão: “Ah, sou funcionário do Banco do Brasil, pra mim está tudo bem, está tudo resolvido já!”, então de repente passou-se a perceber que não era bem isso, que os funcionários tinham que lutar pela sua ascensão na carreira, que o Banco tinha que lutar pela sua conquista de mercado que não havia mais espaço para aquele bancão do Governo. Uma das falhas que se notou, uma das falhas que se verificou foi a defasagem da tecnologia do Banco, e foi aí que para mim, em termos do Banco, foi a grande perda. Porque o Banco estava começando um processo de renovação e eu estava saindo pra Fundação. A Fundação é uma entidade não vinculada aos sistemas do Banco, ela possui sua autonomia administrativa, por isso tem sua contabilidade própria, tem seus sistemas de informática próprios. O Banco, nesse momento, começou a evoluir mudando sistemas, integrando sistemas, e a gente estava indo pra Fundação. Hoje é difícil você querer voltar pro Banco do Brasil sem fazer uma revisão da sua atividade profissional, que é hoje uma das grandes preocupações da atual administração de capacitar novamente os funcionários da Fundação pra regressarem ao Banco do Brasil. Nós somos do Banco do Brasil, nós estamos aqui na Fundação prestando um serviço, mas eu digo o seguinte, o ideal é o funcionário vir, conhecer, construir um pedacinho da Fundação e retornar aos quadros do Banco.
P/2 – Você chegou a cursar o ensino superior. Em que momento _______? Você ingressou na faculdade ________ ?
R – Em 1980 eu percebi que eu não tinha como entrar na faculdade federal e resolvi fazer vestibular pra faculdade particular. Passei no concurso, ingressei no CUB e lá eu fiz até o quarto ou quinto semestre, foi quando a minha primeira filha nasceu. Como as dificuldades eram grandes, eu percebi que não ia ter dinheiro pra arcar com as despesas da família e pagar a faculdade, então resolvi fechar, trancar a faculdade até as coisas melhorarem. Logo em seguida veio a segunda filha e as dificuldades eram as mesmas ou até mesmo maiores, mas nesse meio tempo, lá no Banco eu consegui a minha primeira comissão, que foi assistente administrativo, primeiro cargo comissionado na Coger. Então as coisas já começaram a melhorar. Em 1983, quando a minha segunda filha nasceu, eu resolvi então voltar a estudar, só que eu já havia sido jubilado. Quando eu tentei renovar a minha matrícula na CUB, eu descobri que tinha passado muito tempo e eles não aceitaram mais renovar minha matrícula. Eu teria que fazer outro vestibular, aí eu falei: “Entre o CUB que não quer me aceitar pra dar continuidade, eu vou pra AEUDF [Associacao de Ensino Unificado do Distrito Federal]”. Lá eu fiz um novo vestibular, passei novamente, daí aproveitando os créditos que eu havia feito no CUB, trouxe os créditos pra AEUDF e consegui me formar. Isso em 1991, 92.
P/2 – Como era trabalhar e estudar?
R – E ser pai de família, né? (risos) Saía de casa cedo, por volta de 6 horas e 30 já estava saindo pra ir trabalhar. Eu morava em Taguatinga, tinha pouco ônibus naquela época, pegava o ônibus, chegava no Banco 8 horas, tinha que trabalhar o dia todo e aqui pelo Banco mesmo eu fazia as minhas refeições. Às 18 horas o expediente se encerrava, aí eu ia buscar estudar, botar a lição, a aula anterior em dia, rever a matéria pra correr pra Faculdade estudar. Foi difícil porque, uma, era muito cansativo, às vezes saía do Banco – daí já não era nem a falta de dinheiro, mas a falta de tempo, às vezes não dá tempo de fazer um lanche. Tinha que sair comendo qualquer coisa, correndo pra faculdade. E o que pesava mais era você sair do Banco, ir pra faculdade e não ver tuas filhas o dia todo. Quando eu chegava em casa estava todo mundo dormindo, eu só ia vê-los no outro dia e assim mesmo pouquinho porque já estava correndo pra ir novamente pro Banco. Essa vida foi durante três anos até que eu me formei. Acho que tudo na vida vale a pena, esse sentimento de luta que eu trago comigo é importante, acho que as pessoas devem não medir esforços pra atingirem aquilo que elas querem atingir.
P/1 – Ferreira, depois de tantos anos na Coger como surgiu o convite pra Fundação do Banco?
R – Dentro da Coger eu já havia conhecido todas as áreas e parece que despertou em mim alguma assim: “Agora está na hora de procurar outros mares pra navegar”, e eu recebi o convite de uma ex-colega, já aposentada, a Maria Dulce, que na época ela estava como gerente de área na Fundação. Havia também um colega que nós havíamos feito a implantação de um sistema no Paraná, ainda pela Coger, que tinha se aposentado e era conhecido da Dulce. Ela procurou com ele saber quem ele indicaria na Coger pra cuidar da contabilidade da Fundação. Ela me procurou, perguntou se eu topava vir pra Fundação e eu percebi que aquele era o momento da minha oportunidade que eu estava esperando, e eu vislumbrei ali um trabalho contábil, mas com enfoque diferente, com enfoque social. Eram os números, não eram números simplesmente. Os números da nossa contabilidade traduzem, mensuram ganhos sociais e hoje eu digo que pra mim foi uma felicidade estar trabalhando esse tempo todo na Fundação, já por três administrações, três presidentes que passaram pela Fundação e eu continuo aqui como contador da Fundação Banco do Brasil. Isso me dá muito orgulho no momento em que às vezes eu sou procurado por colegas mais novos atrás de um conselho, atrás de uma palavra de carinho, de conforto, então isso faz crescer mais o gosto pelo trabalho que a gente desenvolve.
P/2 – Conta um pouquinho mais pra gente como é essa diferença do ambiente lá na Coger e na Fundação. Como foi essa mudança?
R – Você diz no enfoque...
P/2 – Como foi seu primeiro dia de trabalho, como você se dá conta da Fundação? Você sabia do trabalho da Fundação antes __________? Como foi esse momento de transição?
R – Eliete, eu não sabia. Pra ser franco pra você, eu fui conhecer a Fundação mesmo no momento que eu recebi o convite, aí sim eu saí à procura: “Dentro do Banco do Brasil existe a Fundação Banco do Brasil? O que a Fundação faz?”, e procurei , fui atrás de informações através de colegas da própria Fundação que naquela época lá trabalhavam e outros colegas do Banco na área da presidência que tinha um relacionamento estreito com a Fundação. Daí eu procurei primeiro saber sobre números porque na área contábil eu só vislumbrava naquele momento números, era contabilizar o débito e o crédito, apurar o resultado, nada mais do que isso. Só que quando eu cheguei na Fundação fui ver que aqueles números eram diferentes, eram números que não só traduziam o lucro, o prejuízo, que a gente estava acostumado no Banco, mas eram números de programas sociais, ou seja, é você mensurar em termos monetários, trazer pra termos monetários aqueles ganhos sociais que a Fundação vai aplicar na sociedade. Foi e é
ainda muito importante pra mim. Essa mudança, nesse momento que eu descobri, eu passei a valorizar mais o trabalho nosso da contabilidade da Fundação. Ao final do ano, quando você busca execução orçamentária, a gente não está preocupado simplesmente com os números, a gente quer saber mais do que isso: a gente quer saber quantas crianças foram atendidas em um determinado programa, nesse ou naquele programa da Fundação. Isso pra nós produz um efeito, traz felicidade pra gente e os projetos da Fundação são muito bonitos. Apesar da gente trabalhar muito tempo só quase na parte administrativa, mas eu já tive oportunidade de ir a dois ou três eventos e presenciar as crianças, as pessoas beneficiadas por aquele projeto, a emoção de estarem ali sendo incluídos na sociedade.
P/1 – Então por trás dos números da Fundação existe algo mais?
R – Correto. Isso despertou em mim, sabe Aurélio, uma necessidade de desenvolver algo além desse trabalho da Fundação. Aí eu me engajei no trabalho que a gente chama na Igreja Católica de dos Vicentinos, que é um trabalho da Igreja voltado pra ajudar as pessoas carentes, as famílias carentes. Até hoje eu ainda faço esse trabalho aos finais de semana, eu e a minha esposa, a gente pertence a um grupo que aos sábados e domingos nós vamos desenvolver trabalhos às vezes tachados de “assistencialistas”, mas eu acho que antes de você querer obter, vamos dizer, a integração de uma pessoa nesse estado na sociedade primeiro ela tem que ter o básico que é o alimento, que é a vestimenta, que é um calçado. Eu atribuo a essa ida minha para a Fundação esse despertar do trabalho social.
P/2 – Ferreira, ______ um pouco específico da sua área, né? Hoje a Fundação __________ trabalhando com recursos de terceiros e com recursos próprios.
R – Correto.
P/2 – Você entrou em 96 na Fundação, qual o diferencial que você vê desses anos que você está na Fundação, dos recursos, a possibilidade que a Fundação tem de financiar seus próprios projetos e outros projetos que ajudou a financiar? Como você visualiza essa trajetória financeira da Fundação? Pra você também explicar um pouquinho o que seria recursos próprios e recursos de terceiros que hoje a Fundação está trabalhando.
R – Correto. O Banco, na década de 92, um pouco antes. De 86, o Banco – lembra que eu falei sobre a conta movimento do Banco do Brasil? A perda da conta? – o Banco atravessou uma fase muito difícil, ele vinha exercício sobre exercício tendo prejuízo. Com isso a administração do Banco não podia repassar recursos pra Fundação, então em 1996, quando eu cheguei na Fundação, nós estávamos vivendo essa situação: a Fundação tinha um montante de dinheiro que não podia usá-lo todo em seus programas sociais, porque senão acabando com o montante de dinheiro ela se extinguiria também. O Banco, por sua vez, não podia repassar recursos pra Fundação porque estava tendo prejuízo, não poderia de alguma forma fazer esse repasse. Qual foi a saída encontrada? Foi buscar junto a outros órgãos, sejam da área privada, sejam da área governamental, obter recursos pra se aplicar no social. Eu me lembro até hoje, me parece que o João Rabelo, presidente da Fundação – João Pinto Rabelo –, ele começou a fazer captação de recursos junto aos órgãos governamentais. Também despertou na Fundação um lado mais profissional, acho que nós buscamos obter recursos porque a gente percebeu que se nós não fizéssemos isso a Fundação não existiria por muito tempo. Através de outros dispositivos da legislação, a Lei Rouanet, é outro exemplo, fomos também buscar recursos junto a Brasis, as empresas do Banco do Brasil, e tivemos sucesso. Desenvolvemos alguns projetos grandiosos, tal qual a reforma do Teatro Nacional foi feita toda com recurso captado junto a uma das empresas do Banco que agora não me recordo, sob o amparo da Lei Rouanet. Passou-se também a fazer convênios com o Ministério do Trabalho e Emprego, isso em 1997, me parece que foi o primeiro convênio que a Fundação firmou. De lá pra cá esses convênios só vieram num crescente, eu atribuo isso pelo grande profissionalismo dos colegas da Fundação no trato de recursos públicos. Pela nossa história no Banco, às vezes a gente é tachado até de burocrata, mas não é, a gente tem muito zelo com os recursos públicos porque a nós não pertence, nós estamos trabalhando com esses recursos e temos que prestar contas desses recursos. Nesse momento eu senti que a Fundação começou a se profissionalizar mais. Com os recursos que ela auferia na sua aplicação financeira, com os recursos que ela conseguia na captação, seja via convênio ou seja outros, por exemplo, Lei Rouanet, nós pudemos aumentar nosso volume de recursos, ampliarmos a quantidade de volume pra determinados projetos. Tem um programa na Fundação que pra mim foi a coisa mais bonita que nós conseguimos, que foi o programa Criança e Vida, que foi a diretoria do Banco, em determinado momento, passou, como ela não podia repassar recursos derivados do seu resultado que vinha sendo quase sempre negativo, ela passou então a destinar parte da sua receita dos seguros vendidos para a Fundação, destinados a todos os seus programas, mas com foco no programa Criança e Vida. Eu não tive a oportunidade de conhecer nenhum hospital, nenhuma entidade que está trabalhando atualmente com esses benefícios concedidos pela Fundação, mas a gente sabe que no país que a gente vive, uma criança obter um câncer e que não tem recursos pra se tratar está fadada a morrer. Pra mim esse programa foi de uma sensibilidade enorme da administração, tanto da Fundação como do Banco do Brasil. Com a história da evolução da Fundação, hoje a Fundação já trabalha mais com recursos de terceiros, dos convênios do que recursos próprios. A exceção foi, me parece, esse ano. Nós tivemos o programa Fome Zero, ele foi o programa mais atuante da Fundação. No exercício de 2000 – eu falo hoje porque ainda estou fechando as contas de 2005 – em 2005 nós estamos com um volume de recurso próprio maior do que o recurso de terceiro. Então, esse casamento entre os recursos da Fundação com os recursos provenientes de outras fontes, de terceiros, isso tem ajudado muito a alavancar resultados sociais na Fundação.
P/1 – Ferreira, qual foi a fase mais marcante que você vivenciou na Fundação Banco do Brasil?
R – A Fundação, eu diria que ela não é uma instituição estática, ela está sempre movimentando. Todas as vezes em que há uma troca de diretoria há um movimento, seja pra cá, seja pra esquerda, seja pra direita, mas as coisas não permanecem em seus lugares. Há uma mexida, se mexe na estrutura, se mexe em pessoas, então cada fase dessa é uma fase, essa troca é uma fase meio que complicada na Fundação. Eu acho que você vai acostumando com a diretoria e chega uma nova diretoria, até você fazer o bonde andar novamente, há uma certa dificuldade. A Fundação trouxe pra mim vários momentos felizes e outros tristes. Uma coisa que me marcou bastante foi um fato meio triste. Nós perdemos um colega, o Amílton, e nós éramos muito ligados, saíamos sempre pra almoçar, era uma pessoa que estava imbuída, ele deixava transpirar aquele desejo de fazer o social, de fazer a coisa acontecer. A perda do Amílton pra mim foi um dos fatos marcantes na Fundação Banco do Brasil.
P/2 – Como foi a perda dele?
R – Foi uma coisa inesperada pra nós. Ele chegou pra trabalhar de manhã, reclamou que estava passando mal, com alguma coisa diferente, se queixando de dor de estômago, e naquele momento a gente não percebeu a gravidade da coisa. Ele procurou o serviço médico do Banco, naquela manhã o médico examinou e solicitou a ele que voltasse na parte da tarde já com o pedido de um exame pra ele fazer o exame. Ele retornou pra casa dele e me parece que ele estava sozinho em casa, teve um ataque fulminante do coração, teve um infarto fulminante. Nisso os colegas do Banco começaram a ligar pra casa dele pra saber, os colegas da Fundação começaram a ligar pra saber notícia do Amílton e o telefone não atendia. O Bráulio, Ricardo Bráulio, que trabalhava diretamente com ele pegou o carro e foi até a casa do Amílton. Ele morava no primeiro andar e ele perguntou ao porteiro se ele estava em casa, e falou: “Estava, eu o vi chegar.”. Foi, bateu na porta, ninguém respondia, ligava, ninguém respondia. Eles arranjaram uma escada, alguma coisa assim, subiram e viram que ele estava já morto no sofá do apartamento dele. Isso mostra, esse foi um fato que me marcou bastante porque às vezes a gente se envolve tanto com o trabalho e esquece que ao lado tem um colega que pode estar com problema de saúde, pode estar com problema em casa com filho doente, com esposa doente, e às vezes a gente não tem tempo, nós fazemos o social lá fora e esquecemos de fazer o social aqui dentro.
P/1 – Você podia falar um pouquinho das pessoas que ______ e _____ a Fundação Banco do Brasil crescer?
R – Eu acho que todas as pessoas que estão ou que passaram pela Fundação, eles lá estiveram ou estão porque gostam do trabalho social. Seria difícil citar nomes, mas alguns colegas suscitam na gente uma maior proximidade, maior afeição, acho que algumas coisas em comum nos levam a buscar essas pessoas com mais assiduidade até mesmo fora da Fundação. Entre essas pessoas, eu particularmente tenho vários colegas, o Chicão, por exemplo, o Francisco de Assis que é o nosso secretário executivo, o Alfredo Albano, o Ricardo Bráulio, o Sílvio. Da minha área tem o José _____, apesar de ter chegado há um ano a gente se tornou bastante amigo. Então é difícil citar nomes, eu digo que aqueles que foram, que vieram pra Fundação e que voltaram pro Banco deixaram saudades, e a gente sempre de vez em quando pára, entre um chopinho e outro com os colegas, a gente fica lembrando desses colegas que já não estão conosco mais. Não estão no nosso trabalho, na nossa rotina, mas estamos sempre falando, a gente se comunica por telefone. Foram pessoas que deixaram saudades.
P/1 – Tem algum fato engraçado ou curioso que você tenha vivenciado no dia-a-dia?
R – Aurélio, eu sou um cara meio fechadão, todo mundo diz assim: “Você devia ser mais aberto, ser mais expansivo”, mas é meu jeito de ser. Não sei, eu acho que são tantos fatos, tantas brincadeiras que surgem no dia-a-dia apesar de eu ser essa pessoa meio fechada. Às vezes eu gosto de ouvir esses colegas, a Simone Festari. Eu, pessoalmente, sou meio fechadão.
P/1 – Como você avalia sua trajetória na Fundação Banco do Brasil?
R – Você diz em termos profissionais, em termos...
P/1 – Da maneira que você achar...
R – Eu acho que quando eu cheguei na Fundação eu podia ter muito conhecimento na área contábil, mas eu não tinha um discernimento do social. Como eu falei pra você, isso me trouxe um crescimento muito grande. Eu acho que como crescimento pessoal a Fundação me auxiliou demais no meu trabalho que hoje eu faço fora da Fundação, e até mesmo no seio da minha família, porque de repente a gente passa a se preocupar um pouco mais do que só tratar números. De repente, você quando vê um vídeo do programa Criança e Vida, quando vê o vídeo do programa BB Comunidade, você diz: “Pôxa, eu que deixei três filhas hoje em casa, nem conversei direito com as minhas filhas”. Essa trajetória da Fundação, pra mim, eu diria que foi mais de cunho pessoal. Se eu estivesse no Banco eu teria tido ascensão profissional maior. Dado as características da Fundação, são cargos, é uma estrutura rasa, então você tem pouca chance de ascender a outro cargo, então no Banco acho que profissionalmente para mim, vamos assim dizer, em termos de galgar novos cargos o Banco teria sido melhor. Por outro lado, esse ganho que eu tive na Fundação, esse ganho social do despertar pra esse trabalho tão necessário no nosso país, eu acho que não tem comparação com o trabalho que eu iria fazer no Banco.
P/1 – O que você aprendeu com a Fundação Banco do Brasil?
R – Eu aprendi, sabe que a gente não pode pensar em fazer as coisas só. Eu aprendi que a vida, a gente tem que dividir os nossos momentos bons, os nossos momentos ruins; eu aprendi também que o ser humano, se instigado a trabalhar, se despertado a trabalhar, ele cria um potencial muito grande de ajuda ao seu semelhante. Essas foram as coisas que eu aprendi na Fundação, como eu disse pra vocês, de cunho pessoal.
P/1 – Você poderia resumir a Fundação Banco do Brasil em poucas palavras?
R – Minha segunda casa. Eu digo assim, a Fundação é o complemento do meu lar hoje.
P/1 – Qual a importância de um trabalho como esse de registrar a memória da Fundação Banco do Brasil?
R – Eu acho que nós estamos aqui de passagem, daqui a pouco estou indo pra outra vida – quero dizer de aposentadoria -, outro colega está sendo transferido... Essa memória pode ser perdida, acho que esse trabalho que a administração se preocupou em fazer vai dar perenidade, mais perenidade para a Fundação. Essa preocupação da administração em levar ao conhecimento do corpo funcional do Banco do Brasil o que é a Fundação Banco do Brasil, acho que só trará benefício pra Instituição como um todo.
P/1 – O que você achou de ter dado essa entrevista?
R – Aurélio, quando a Maria Helena me ligou, que eu tinha sido a pessoa indicada pra fazer a entrevista, em um primeiro momento me deu vontade de falar: “Não, não vou não”, mas em outros tempos eu teria dito não. Hoje eu me senti no dever de vir aqui contribuir, dividir esse conhecimento do que foi a Fundação Banco do Brasil há dez anos atrás e o que é a Fundação Banco do Brasil hoje. Acho muito válido esse trabalho que está sendo feito, eu parabenizo a administração que, aproveitando essa data de aniversário de 20 anos, se dispôs a fazer um trabalho tão bonito. Vai ficar para a posteridade, daqui a alguns anos alguém vai saber que estivemos aqui na Fundação, nesses dez anos dedicando com a alma a esse trabalho bonito que a Fundação faz na Sociedade Brasileira.
P/1 – Ferreira, em nome da Fundação Banco do Brasil e do Museu da Pessoa, agradeço a sua entrevista. Muito obrigado!
R – Obrigado a vocês!Recolher