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Por: Museu da Pessoa, 29 de julho de 2007

A bonequeira do Vale do Jequitinhonha

Esta história contém:

A bonequeira do Vale do Jequitinhonha

Vídeo

Quando minha mãe ia trabalhar, fazendo as peças de barro, meu pai “ponhava” os filho maiores e levava para a roça, para ajudar a trabalhar na roça. Eu era a “mais pequena”: sete para oito anos. Eu ficava para olhar aqueles meninos de colo que a minha mãe criava, sabe? Para ela poder trabalhar.

Eu tinha muita vontade de brincar com boneca. Vivia falando em boneca, mas eu não sabia como é que era. Nesse tempo, essas bonecas que hoje em dia tem de plástico, de louça, e de massa e tudo o que tem, nesse tempo, lá para as roças, para a gente, não existia. Ninguém ouvia falar nisso. Eu ouvia falando em boneca, eu “ponhava” era sabugo de milho. Meu pai colhia os milhos, debulhava para dar às criações. Eu guardava aqueles sabugos, enrolava um pedacinho, retalhinho de pano na cintura. Ou, então, um pedacinho de papel. E falava que era boneca. Eu falava: “Boneca deve ser assim.”

Depois, via a minha mãe mexendo, fazendo o barro, puxando assim, montando aquelas vasilhas. Aí, eu falava: “Eu vou fazer uma bonequinha de barro, para eu brincar.” Minha mãe pega esse barro e mexe com ele assim. E eu vou é fazer boneca. Fazendo a imaginação, fazendo a experiência. Aquele barro lá era difícil de achar onde que nós morávamos. Era meio difícil na fazenda em que nós morávamos, era meio difícil.

E a minha mãe brigava quando a gente ia apanhar um bolinho de barro, fazer um brinquedo. Ela brigava com a gente. Ela ralhava com a gente, porque ela estava assando o barro dela, que o barro estava difícil. Quando ela saía, que ela ia lá almoçar, ia fumar um cigarro, eu pegava um bolinho de barro e escondia. A hora em que o menino dormia, eu botava o menino na cama, o menino deitava no meu colo. Dormia, eu botava na minha cama para dormir, e ia fazer a bonequinha. E eu falei: “Vou fazer a boneca.” Sem nunca saber que ia fazer de barro, a gente fazia a boneca de barro, né? Fazia...

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Projeto Memória dos Brasileiros

Depoimento de Izabel Mendes da Cunha

Entrevistada por Cláudia Leonor e Winny Choe

Santana do Araçuaí, 29/07/2007

Realização: Museu da Pessoa

Entrevista número MB_HV026

Transcrito por Luani Guarnieri

Revisado por Viviane Aguiar

Publicado em 18/03/2008

P1 – Dona Izabel, vamos começar a entrevista? Vou pedir para a senhora falar de novo onde a senhora nasceu, quando, e o seu nome completo.

R – Eu nasci na fazenda de Córrego Novo. O meu nome é Izabel Mendes da Cunha. A idade?

P1 – Que dia que a senhora nasceu?

R – 13 de agosto de 1924, né? 24.

P1 – E o nome dos pais da senhora?

R – João Mendes da Cunha.

P1 – E a sua mãe?

R – Idalina Maria de Jesus.

P1 – E eles trabalhavam na fazenda, Dona Izabel?

R – Trabalhava. Nós morávamos na Fazenda dos Homens. Mas meu pai trabalhava mexendo com roça, fazendo roça. E a minha mãe trabalhava. Trabalhava fazendo panela e pote, mexendo com o mesmo barro que a gente hoje mexe. Mas ela já fazia a peça com uso natural, que a gente fazia.

P1 – Qual era o uso dessas peças? Era no cotidiano da casa?

R – Ela fazia essas peças: panela e pote e prato. Essas coisas ela fazia para vender. Os vizinhos de lá, da roça, para ela e para nós mesmos, em casa. De vez em quando, meu pai levava na cidade, naquelas cidades mais perto. Nesse tempo não usava Rio-Bahia, não tinha, não existia carro. Ele levava... De carro, ele animava. Era muito difícil ele levar para vender fora. Sempre vendia lá mesmo. De vez em quando, né? Mas meu pai trabalhava sempre era na roça. Os filhos maiores, ele levava tudo para a roça. Eu era mais nova, “mais pequena” das “mais pequenas” que tinha. Eu ficava. Quando minha mãe ia trabalhar, fazendo as peças de barro, meu pai “ponhava” os filho maiores e levava para a roça, para ajudar a trabalhar na roça. Eu era a “mais pequena”: sete anos para oito anos. Eu ficava para olhar aqueles meninos de colo que a...

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Título: A bonequeira do Vale do Jequitinhonha

Data: 29 de julho de 2007

Local de produção: Brasil / Minas Gerais / Santana Do Araçuaí

Entrevistador: Cláudia Leonor
Entrevistador: Winny Choe
Revisor: Viviane Aguiar
Transcritor: Luani Guarnieri Bueno
Autor: Museu da Pessoa

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