Passagens. Ele marca passagens desde seu nome. É uma edição esgotada do livro de Walter Benjamin, um tijolo verde, sólido: esse é meu objeto que carregaria como uma bíblia para ser aberto aleatoriamente, de modo fragmentário e sem método rígido, como um brinquedo pesado e proibido com...Continuar leitura
Passagens. Ele marca passagens desde seu nome. É uma edição esgotada do livro de Walter Benjamin, um tijolo verde, sólido: esse é meu objeto que carregaria como uma bíblia para ser aberto aleatoriamente, de modo fragmentário e sem método rígido, como um brinquedo pesado e proibido com palavras mágicas, feitiços. Nunca pensei que teria essa edição. Mas um dia falava isso em voz alta, em um lugar insólito - a mesa de trabalho - e uma colega (agora amiga) que estava perto, que mal conhecia, disse: "você quer esse livro? Eu te dou. Está lá em casa, ninguém lê. Não gosto muito de texto construído em fragmentos". Ela me deu o Passagens com um caderninho descrevendo o dia em que a Antônia, a filha dela, quase se machucou porque queria pegar o livro. Na capa do caderninho tem a foto da Antônia bebezinha puxando o livro da estante, e a Arali, minha amiga, usou essa foto para fazer vários caderninhos como lembrança do chá de bebê da Antônia. Esse livro me lembra esse caderno e a Antônia, que pensa a ideia da teoria do big bang como se fosse a ideia de Deus, possível de ser refutada; que gosta da história infantil de Ionesco. Também é Benjamin atravessando um mar, fugindo ou jogado pela maldade da guerra, assim como é Benjamin passeando pelas passagens de Paris, refúgio. Esse é meu objeto, minha bíblia pessoal.Recolher