Entrevista de Terezinha Severina de Souza
Entrevistado por Maria da Consolação Soares e Sofia Tapajós
Rio Doce, 4 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista_MRD_007
00:22
P1: Qual o seu nome?
R: O meu nome?
P1:É
R: Terezinha Severina de Souza
00:29
P1: Onde a senhora nasceu e quando?
R: Em Rio branco
00:33
P1: A senhora lembra o ano que a senhora nasceu? Quantos anos a senhora tem hoje?
R: Não lembro não, mas quando eu vim de lá eu estava com a idade de 1 mês.
P1: A sim.
00:47
P2: Qual o nome do seus pais?
R: É Raimundo Miguel de Souza,
00:53
P2: E a sua mãe?
R: A minha mãe?
P2: É
R: Mivervina Francisca de Souza
00:58
P1: O que que eles faziam?
R: O que que nós fazíamos?
P1: É
R: Bom, é, eu, quando eu nasci e cresci, foi um sofrimento grande, mas a gente lutou até chegar no ponto que chegou. Aí a gente morou em muitos lugares, mas depois a gente se mudou para cima do Porto Alegre, lá a gente ficou lá até quando eu casei, quando eu casei eu mudei para o outro lado do rio, é que a gente foi lutar com tudo lá, principalmente, mais com o rio.
01:41
P2: Como que foi a infância da senhora, dona Terezinha?
R: Em?
P2: Como foi a sua infância ? Quando a senhora era criança…
R: A minha infância foi muito difícil,porque desde criança, assim, que eu tinha 7 anos eu comecei a trabalhar né, com tudo, para ajudar em casa, porque meu pai morreu eu estava com 8 anos.
01:59
P2: A senhora guardou alguma lembrança da infância, assim, que a senhora poderia contar para gente?
R: Tem, porque… Oi?
P2: A senhora poderia contar pra gente essa lembrança?
R: É, a lembrança é assim, porque quando a gente tinha um tempinho da gente brincar, a gente brincava, mas mais era ajudar a mãe da gente no serviço, não teve tempo da gente estudar. Depois quando eu cresci um pouco a gente foi para a beira do rio, tratar de uma rocinha na beira do rio, mas mais era convivendo com o ouro, né.
02:36
P1: Você falou das brincadeiras,...
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Entrevistado por Maria da Consolação Soares e Sofia Tapajós
Rio Doce, 4 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista_MRD_007
00:22
P1: Qual o seu nome?
R: O meu nome?
P1:É
R: Terezinha Severina de Souza
00:29
P1: Onde a senhora nasceu e quando?
R: Em Rio branco
00:33
P1: A senhora lembra o ano que a senhora nasceu? Quantos anos a senhora tem hoje?
R: Não lembro não, mas quando eu vim de lá eu estava com a idade de 1 mês.
P1: A sim.
00:47
P2: Qual o nome do seus pais?
R: É Raimundo Miguel de Souza,
00:53
P2: E a sua mãe?
R: A minha mãe?
P2: É
R: Mivervina Francisca de Souza
00:58
P1: O que que eles faziam?
R: O que que nós fazíamos?
P1: É
R: Bom, é, eu, quando eu nasci e cresci, foi um sofrimento grande, mas a gente lutou até chegar no ponto que chegou. Aí a gente morou em muitos lugares, mas depois a gente se mudou para cima do Porto Alegre, lá a gente ficou lá até quando eu casei, quando eu casei eu mudei para o outro lado do rio, é que a gente foi lutar com tudo lá, principalmente, mais com o rio.
01:41
P2: Como que foi a infância da senhora, dona Terezinha?
R: Em?
P2: Como foi a sua infância ? Quando a senhora era criança…
R: A minha infância foi muito difícil,porque desde criança, assim, que eu tinha 7 anos eu comecei a trabalhar né, com tudo, para ajudar em casa, porque meu pai morreu eu estava com 8 anos.
01:59
P2: A senhora guardou alguma lembrança da infância, assim, que a senhora poderia contar para gente?
R: Tem, porque… Oi?
P2: A senhora poderia contar pra gente essa lembrança?
R: É, a lembrança é assim, porque quando a gente tinha um tempinho da gente brincar, a gente brincava, mas mais era ajudar a mãe da gente no serviço, não teve tempo da gente estudar. Depois quando eu cresci um pouco a gente foi para a beira do rio, tratar de uma rocinha na beira do rio, mas mais era convivendo com o ouro, né.
02:36
P1: Você falou das brincadeiras, você lembra de alguma brincadeira?
R: Lembro, nós brincávamos de roda, brincava de esconder, de esconde e esconde. E de quando em quando dava uma briguinha também, jogava uma pedrinha no outro (risos), mas por aí foi a minha luta com meus irmãos também, foi muito difícil porque meu pai morreu eu estava com 8 anos, aí foi aquela luta para gente pode trabalhar, para ajudar minha mãe a manter, aí depois a gente começou a mexer com o rio, né. No rio não tem nada que eu não sei fazer do rio, e de roça, a gente sabe tudo, tudo.
03:23
P2: Quantos irmãos a senhora tem?
R: Agora?
P2: Não. a senhora já teve. Quantos irmãos ?
R: 7.
03:29
P2: A senhora poderia falar o nome deles?
R: O mais velho Zé Miguel, e o mais novo Geraldo, o mais novo assim, o primeiro Zé Miguel, depois teve o Geraldo, o Raimundo que morreu aqui. E as mulheres, nós éramos 3, mas só resta só eu, porque morreu Maria minha irmã, morreu Luzia, aí ficou eu.
04:01
P1: E como era a relação de vocês?
R: Era bem, a gente combinava muito bem, muito bem.
04:10
P2: a senhora se lembra, da casa que a senhora morou quando a senhora era criança?
R: Se eu lembro?
P2: É, como que era…
R: Lembro, nós moramos numa casinha de sapê, a cobertura era de sapê, banhada com barro. Teve uma vez que veio uma chuva arrancou tudo, nós dormimos no meio da lama, aí depois a gente mudou lá para o marimbondo, o marimbondo também a gente ficou uns tempos. Aí a gente foi, cada tempo a gente mudava para um lugar, quando a gente ficou mais foi quando a gente mudou para cima do Porto Alegre, o terreno de irma de carneiro, de lá foi que eu cresci e casei, e mudei para o outro lado do rio. Foi ali onde que eu fiquei 17 anos.
05:02
P2: Mas aqui para o rio doce, a senhora mudou para aqui quando?
R: Dentro do rio doce tem 38 anos que eu moro aqui.
05:10
P2: Aqui na sede né?
R: É, aqui no rio doce.
5:13
P2: Mas aí na região?
R: É, quando eu vim de perto de barra longa para cá eu vim direto aqui para o rio doce.
05:20
P2: Para aqui dentro, né?
R: É,.
05:22
P: Dona Terezinha, quando que a senhora conheceu o seu marido? A senhora é casada, foi casada, né? Como que a senhora conheceu ele?
R: O meu marido?
P2: Sim.
R: É porque nós moramos do outro lado, do lado de cá do rio, e ele morava do outro lado do rio.
05:39
P2: A senhora poderia falar o nome do rio?
R: O rio que vem de Barra Longa?
P2: É.
R: O que vem de Barra Longa é Rio de Peixe, né? E esse daqui é Rio Doce. O que vem de Barra Longa, ele deságua lá naquele …de ferro lá, e ele passa pelo Rio Doce.
06:03
P2: Aí a senhora morava…
R: Eu morava do outro lado de cá do rio, aí eu cresci, comecei a namorar esse rapaz, que eu casei com ele eu tava com 16 anos, e me mudei para o outro lado de lá. Foi lá que eu tive os meus meninos, e a gente tratava uma rocinha, mas o resto era mexer no rio mesmo.
06:27
P2: E a senhora morou quanto tempo lá com seu marido?
R: 17 anos
06:31
P2: 17 anos? Quantos filhos vocês tiveram?
R:3
06:35
P2: Como é que eles chamam?
R: José Geraldo é o mais velho, João Bosco Tenorio que é o do meio e Geraldo Natalino que é o mais novo.
06:47
P1: Só voltando um pouco, você falou que você casou com 16 anos,você lembra o dia do seu casamento?
R: Eu casei no dia primeiro de julho, mas só que não dá para mim lembrar, mas eu era muito bobinha quando eu casei, tava nem aí nos outros negócios, eu gostava mais de brincar, fazia as coisas direitinho, mas não tinha muito juízo não. Cuidei dos meus meninos, a gente, na hora que a gente não estava trabalhando eu levava eles para beira do rio, para eles pescar lá também, colocava eles no balainho e ia pescar,mas a gente trabalhava muito lá na roça, muito, muito.
07:30
P1: O que que tinha na roça de vocês?
R: É, nós plantamos um pouco, plantamos um pouco de feijão, um pouco de milho, um pouco de arroz. O meu sogro tinha uma lavorinha também de café, tinha umas criaçõeszinhas, mas era dele, não era nosso não, a gente ajudava. E depois quando eu fiquei morando 17 anos, lá eu perdi a minha sogra, perdi minha tia, perdi meu cunhado, perdi meu marido. Aí eu adoeci lá, e vim embora para aqui com os meninos, mas tava tudo mais pequeno ainda, aí eu sofri demias aqui no Rio Doce, demais, porque Rio Doce ainda era muito pequenininho, tava começo, quase começo de Rio Doce, mas agora não, agora graças a Deus as coisas tudo mudou.
08:24
P2: O que que motivou a senhora a voltar pro Rio Doce? Foi a senhora ter ficado viúva?
R: É.
08:30
P2: E a senhora já tinha família aqui em Rio Doce, parentes?
R: Tinha, minha familia quase toda mora aqui, né. Meus cunhados, meus irmãos.
08:40
P2: E era, a senhora se lembra quando a senhora mudou para cá onde que a senhora morou?
R: Lembro.
08:46
P2: Onde que a senhora morou?
R: Quando nós mudamos para cá, nós moramos naquela casa que Ladinho mora hoje, mas quando eu mudei para ali, era um assoalho assim, que era tipo assim, parece que a gente estava morando no tempo, era muito ruim lá mesmo. Um dia eu enfiei o pé no assoalho, bati lá no fundo, machuquei meu braço aqui a fora.Aí a gente começou trabalhando, buscando uma lenha, para poder ajudar, tirava cascalho no rio para poder vender, tirava pedra, tirava lenha, o principal era o ouro, tirava ele durante o dia e vendia de tarde para comprar a scoisas para os meninos, né. Até que eles acabaram de crescer e cada um foi caçando um servicinho para fazer
09:44
P2: Então, quando a senhora vem para o Rio Doce, a senhora trouxe os 3 filhos? Eles eram crianças ainda?
R: Eram de 14 para baixo, Ladinho era bem novinho ainda, que eu levava ele lá para Valdomiro para tirar caldo de cana, e eu colocava ele de baixo da árvore para a gente trabalhar. Depois o outro foi amansar um animal também, para ganhar uns trocadilhos, e o mais velho buscava lenha também para vender, até que ele começou na prefeitura.
10:19
P2: O mais velho né?
R: É
10:20
P2: Voltando só um pouquinho lá, o que a senhora falou da infância da senhora, a senhora chegou a entrar na escola? Foi para escola?
R: Eu fui no mobral 1 ano e meio.
10:31
P2: Quando a senhora era criança ou depois que a senhora…?
R: Não, depois que eu mudei para aqui, lá nunca que teve escola não.
10:38
P2: A senhora sempre morou na zona rural?
R: Era longe, da onde que nós moravamos em barra longa , é mais longe do que aqui em Santa Cruz a pé.
10:51
P1:E aí você falou depois que você mudou com seu marido que quando tinha um tempo vocês ião com os filhos pescar?
R: Em?
P1: Quando você morava com seu marido, você ia com seus filhos pescar?
R: Lá em barra longa?
P1: É
R: A gente pescava também muito lá, assim, na hora que a gente, a tarde, a gente armava anzol. Pegava muito peixe mesmo, mas não é peixinho pequeno igual aqui, é peixe grandão mesmo, porque lá nós moravamos na margem do rio.. Quando a gente ia tirar o ouro, a gente levava os anzóis, armava lá, enquanto a gente tava tirando o ouro pegava muito peixinho, a gente repartia com os vizinhos, porque não tinha negócio de vender, né
11:40
P1: Como eram os seus vizinhos?
R: Tudo bom, a minha família lá foi tudo bem, mas só que depois, pegou e mudou um bocado para barra longa, e acabou a gente ficando mais pouquinha gente lá, mas durante o tempo que eu tava lá, era assim, todo mundo no rio, mexendo com ouro,
12:04
P1: E o ouro, como que você aprendeu a mexer com ele?
R: O ouro foi assim, porque a minha mãe tinha 4 cabras, e a gente levava elas para uma ilha que tinha lá para poder comer capim né, e a gente levava uma bateia para lá, e uma pá, aí minha mãe ficava tirando o ouro na bateia e eu com a pá, aí eu pegava, toda a vida eu fui muito curiosa, aí ficava aquele ourinho no fundo da pá,aí a gente pegava, depois veio o uso de fazer a banca. Fazia a banca, em cima da banca colocava um pano que nem carpete não tinha não, era cobertor, agora que tem o carpete, e fazia um ralo, punha a banca assim, punha o pano por cima da banca, punha o ralo na cabeceira da banca, e ia tirando aquele material, aquela massa na beira do rio dentro da água, para por no ralo. Aí depois que a gente lavava bastante mesmo, tinha uma bacia grandona assim, aí a gente pegava aquele pano e batia ele na bacia, ia vinha com, como é que eu falei aqui agora? Com a bateia mas só que não era dessa bateia que tem hoje não, era bateia feita de raiz de gameleira, de gameleira fazia assim, tipo aquela gamelia, aí a gente batia aquele pano na bacia e punha aquela massinha preta na bateia e ia fazendo assim, dentro da água, o ouro ficava tudo no fundo da bateia, 3 vezes a gente batia o pano na bacia, o segundo….que ia embora, a gente fazia assim na água. Aí o ouro ficava todinho no fundo da bateia, ali a gente pegava, trazia para casa, tinha o … que era mistura para juntar o ouro, aí a gente colocava um pouquinho de … naquele ouro,e mexia assim um pouquinho, e coava ele num paninho, aí o… voltava para o rio, o … voltava pro vidrinho, e a gente pegava uma colher, ou uma conhcha, e ascendia o fogo, que era fogo de linha, que não tinha fogão a gás , e queimava o ouro ali, ele ficava amarelinho, amarelinho. Todo o dia a mesma coisa, todo o dia, lá, e aqui também foi a mesma coisa. E a gente continuou no rio, igual aqui, o pessoal do Rio Doce, das outras regiões, eu acredito que fez, mas aqui no Rio Doce não tem ninguém que não sabe mexer no rio. E por igual, todo mundo aqui do Rio Doce sabe tirar ouro, todo mudo, que não sabe tirar o ouro é que as vezes nunca aprendeu, mas tem outra atividade, areia, cascalho, lenha, pedra. E aqui no Rio Doce foi mais construído as coisas com material do rio, do rio. Até a prefeitura que tá aí tem material do rio.
15:33
P2: O Dona Tereza , esse trabalho da senhora, começou com a sua mãe lá em …
R: Barra longa
P2: Barra longa, quando a senhora chegou aqui em Rio Doce, a senhora também voltou a mexer com ouro aqui?
R: Até 2015.
15:48
P2:E a senhora ia sozinha?
R: Não, o pessoal do Rio Doce ia quase todo mundo, quem ia mexer com o ouro ia mexer com o ouro, quem ia tirar areia, ia tirar areia, quem ia tirar cascalho, ia tirar cascalho. E mesmo assim, muitos mexiam com material do rio, mas tirava ouro também, nas horas em que podia, tirava, era dia de semana, era de domingo.
16:13
P1: E como vocês organizam esses dias de trabalho? Encontrava todo mundo e ia?
R: Voltava, só a época que a gente não ia muito aqui no rio, quando rio estava cheio,aí não tinha como a pessoa ir, mas quando o rio fazia onda seca, ia todo mundo para a beira do rio. Ia as criancinhas, você podia levar uma criancinha recém nascida e da banho na água, que a água do rio era limpinha. Tinha nascentes, essas beiradas todas afora, hoje não existe nenhuma mais, acabou tudo depois que fez essa barragem aí, acabou com a água, acabou com nascente, acabou tudo.
16:53
P1: E vocês enquanto vocês trabalhavam vocês conversavam, vocês cantavam?
R: Conversava, cantava, a gente levava merenda para a beira do rio, quando tinha merendinha mais boa a gente levava, o dia que não tinha a gente levava o que tinha, e era todo mundo naquela alegria, quem não tinha dava pro outro, era muito bom.
17:14
P1: E o que vocês cantavam?
R: Em?
P1 Você falou…
R: A, nós cantávamos muitas músicas, né, cantávamos parabéns para você, cantávamos uma porção de coisa lá, e era muito bom mesmo, era todo mundo alegre, porque você levava assim, uma cavadeira, você virava aquelas pedras, você tirar um material de ouro por baixo, tirava aquelas pedras para lá, e tirava aquele material amarelinho, aí dava ouro que é uma beleza.
17:48
P2: E assim, era só, vocês que iam de manhã, para ir pro rio?
R: A gente?
P: É, ia de manhã?
R: Ia, 8:00 assim que o sol esquentava um pouquinho a gente ia.
17:56
P2: E passava o dia todo no rio?
R: Passava
17:59
P2: E como que era esse serviço do ouro? A senhora todo dia tinha um produto, conseguia todo dia tirar todo dia…?
R: Não, tinha dia que a gente passava uma prova boa, mas tinha dia que era menos, nem todo dia a gente acertava a prova boa, e a gente punha a banca nas costas e ia procurar outro lugar melhor.
18:20
P2: Aí a senhora tava falando que a senhora usava bateia, a banca né e…
R: É, primeiro a banca, depois o pano, e depois o ralo, e depois a gente usava a pá para tirar o material na beira do rio, e uma lata para lavar, porque você punha o material naquele ralo, e ia pegando água no rio para lavar, mas a gente fica até quase sem unha, por conta daquele cascalho. Aí lavava assim umas 9 ralo de ralo de lata, e depois a gente batia no pano para curar o ouro.
18:58
P2: E a senhora chegou a levar os filhos da senhora para faiscar também, os meninos?
R: Lá no Barra Longa?
P2: Não, aqui.
R: Aqui pescava, todo mundo pescava.
19:08
P2: E chegaram a faiscar também os meninos?
R: Os meninos?
P2: É
R: Pescaram muito
P2; Faiscar… Eles mexiam com ouro também?
R: Os meus meninos?
P2: É
R: Mexiam, todo vida, mesmo lá em Barra Longa, leva eles todos na beira do rio. Ladinho era mergulhador aqui, e Dimas, Zezé , todos conviveram mexendo com… Mesmo, quando estava na prefeitura trabalhando, nos dias de folga ia lá e tirava um pouquinho.
19:37
P2: A senhora quer falar , quer dizer que o Ladinho mexia com ouro, mas ele trabalhou muito foi com draga né?
R: É, ele trabalhava na balsa né?
19:45
R: Era extração diferente, né, a da senhora era manual, né?
R: Isto
19:49
P2: E o dele era através draga, ele trabalhava para alguém ou a draga era dele?
R: Não, ele trabalhava, ele tinha porcentagem.
P2: A sim.
R: Só que essa época, nós que éramos faiscadores, não fomos aceitos, nós só recebemos um pouco por conta dessa tragédia da barragem, mas quando a gente veio para cá, que a gente tirava ouro direto, nós não fomos reconhecidos, só os balseiros foram que receberam, nós não, nada, nada, até hoje.
20:22
P2: A senhora está falando da época que foi indenizada?
R: Que foi feita a barragem
20:27
P2: Essa indenização da barragem só reconheceu o pessoal que fazia com draga?
R: É, só quem trabalhava na balsa, que eu nem sei se hoje fala é balsa mais. O meu menino tem uniforme, ele entrava meia noite, saia de manhã, outra hora ele entreva de manhã, saia meio dia para outro entrar, no fundo da… Agora o João nunca mergulhou não, o João tirava nadando também.
20:55
P2: Igual a senhora, o João tirava o ouro igual a senhora, manual?
R: É
21:00
P1: E aí, quando vocês ião fazer esse trabalho no rio, quando terminava o dia de trabalho o que a senhora fazia?
R: Depois que a gente chegava em casa?
P1: É
R: Se a gente chegasse mais cedo a gente ainda buscava uns pés de lenha para a gente vender ainda lá no baixadão, longe, mas quando a gente chegava mais tarde, aí não dava tempo de ir mais não, ia curar o ouro para poder vender, para comprar as coisas para no outro dia voltar.
21:27
P2: E a senhora vendia o ouro de quanto em quanto tempo?
R: Nós vendíamos para …, eu vendia para fazenda…
21:37
P2: A senhora vendia todo dia, ou a senhora…?
R: É, quando tinha precisão de vender, vendia, mas quando não tinha precisão aí a gente juntava, juntava assim 15 dias, um mês, né.
21:49
P2: Dona Terezinha, a senhora lembra quando que a senhora começou a construir a casa que a senhora mora hoje?
R: Em?
P2: Quando a senhora começou a construir a casa que a senhora mora hoje?
R: A que eu moro hoje?
P2: É
R: A que eu moro hoje deve ter uns 18 anos que eu moro lá, onde é que você foi hoje.
22:08
P2: Mas antes daquela casa a senhora morou em outra lá em cima?
R: Morei aqui na que Ladinho mora hoje, meu menino mais novo.
22:15
P2: A sim, essa eu sei onde que é, aí aquela casa já tem uns 18 anos que mora lá?
R: Tem
22:24
P2: E foi difícil construir?
R: Só Deus sabe
P2: É, conta pra gente um pouquinho
R: Porque aquela casa, eu, quando eu construí ali , teve muito material do rio ali também naquela casinha que eu moro nela, as vezes eu vendia ouro, eu comprava 2 sacos de cimento, guardava lá no Zé…, eu comprava duas varas de ferragem e guardava lá. O dia que eu tinha oportunidade de pagar um trabalhador, que naquela casinha que eu moro deve ter passado umas 50 pessoas para fazer ali. Fui fazendo aos pouquinhos, fiz aqueles 3 comodinhos de cá, depois fiz aqueles outros 3 de lá, e depois, quando eu recebi aquele dinheiro da barragem eu fiz o muro, porque o barranco tava em tempo de jogar minha casinha no chão.
23:15
P1: E como a senhora se sentiu quando você mudou para essa casa?
R: Eu senti assim, que eu tava no céu, porque eu pedi a Deus para me dar um cômodo para eu dormir, e nem tinha problema, que eu cheguei a fazer comida aqui no fogão de tijolo, a vida tava muito difícil, né. E com os meninos, depois os meninos casaram e eu tive que ajudar eles um pouquinho também, que tava todo mundo no fundo do poço, aí foi isso, mas eu falei com Deus, se ele me desse um cômodo pra mim dormir, que não tinha problema eu fazer uma comidinha no fogão de tijolo, E .. os meus amigos ião lá me ver e eu fazia café para eles na tenda de tijolo do lado de fora, aconteceu tudo isso, mas eu nunca desesperei, sempre eu pedi a Deus que me desse saúde para que eu crescesse meus meninos, para eu casar eles, que graças a Deus estão todos os 3 casados. E eu venci na vida o que eu pedi a Deus, eu não pedi a ele uma casa grande, eu pedi a ele um cômodo, para eu poder dormir, e ele me deu. Hoje eu, outro dia foi um moço lá, e eu tenho vontade de vender, lá onde que eu moro, porque o meu irmão morreu num serviço trabalhando, foi arrumado lá na minha casa, a minha irmã morreu do outro lado de lá que me traz muita lembrança, aí eu sou apaixonada por vender lá e comprar outra casinha.Agora ela ta no valor de 250, agora, mas a minha casa não é chique não, é uma casa, ela é grande, mas chique ela não é não. Da para gente esconder, né.
25:04
P1: E a senhora sempre foi religiosa?
R: Toda a vida.
25:09
P1: A sua família era?
R: A minha família?
P1: Sua mãe, seu pai…
R: Minha mãe era, minha irmã, minha mãe era do sagrado coração de Jesus. Agora a minha família do Rio Doce, a metade deles são crentes, mas assim, todo mundo respeita a religião um do outro, né, mas eu sou católica toda a vida. Gosto muito de ir no meu forrozinho mesmo.
25:34
P2: A senhora vai na terceira idade?
R: Ainda não fui não
P2: Não…
R: Mas eu quero ir ainda
P2: Mas lá tem um forrozinho toda quarta
R: Eu vou lá, se Deus quiser
24:43
P2: O dona Terezinha, a senhora falou que a senhora estudou aqui no Rio Doce quando a senhora veio no mobral, aquele projeto que tinha, a senhora estudou quanto tempo?
R: Estudei só 1 ano e meio.
25:21
P2: E a senhora gostava de ir? Deixou alguma lembrança boa?
R: Gostava demais, até hoje ainda se tiver eu vou, mas depois parou, mas eu aprendi muito, depois que veio muita luta na minha cabeça, que fugiu. Hoje eu faço aqui assim meu nome não muito bem, mas assim, qualquer conta também eu faço, de cabeça, mas a conta que vale mesmo é a de caneta, mas dinheiro não me embaraça não, graças a Deus.
26:19
P1: Quando foi isso mais ou menos?
R: Ah, já tem bem uns, a deve ter mais de 9 anos.
26:30
P1: E o forrozinho?
R: Forrozinho não tem mais não,
26:33
P1: Mas tinha?
R: Primeiro tinha, muito mesmo, na época que fez a barragem lá embaixo, tinha muito,mais agora é muito dificil.
26:43
P2: Onde que a senhora costumava ir dançar forró?
R: Eu ia lá em Aparecida… quando tinha, quando era domingo, lá na linha de Aparecida fazia também, a gente não sabia o forró que a gente ia, agora não tem mais nada não.
26:59
P1: E como erra esse forró?
R: Era bom que era assim, todo mundo assim com muito respeito com o outro, todo mundo dançava, não tinha briga, não tinha nada. Agora de vez enquanto eles fazem alguma festinha aí, mas não é festa que as vezes a gente pode participar,mas eles falaram que iam fazer um forró aqui no Rio Doce para os velhos, iam fazer passarela também para os velhos, ião fazer muita coisa aqui no Rio doce, mas por enquanto não fez ainda não fez ainda não, as vezes ainda né.
27:38
P2: Dona Terezinha, quantos netos a senhora tem?
R: Em?
P2: Quantos netos a senhora tem, netos?
R: Quantos netos que eu tenho?
P2:É
R: Eu tenho 5 né, dois netos e três netas
27:49
P2: A senhora poderia falar os nomes deles para a gente?
R: As minhas netas são Luiza Aline, Lilian, Leila, Alan e Iepe
28:03
P2: Iepe, a senhora já tem bisnetinhos?
R: Oi?
P2: A senhora já tem bisnetos?
R: Bisnetos?
P2: É
R: Tenho
28:10
P2: Quantos que são?
R: São 4 né, são duas de Alan, e é duas de Alan e uma de Iepe,é 3.
28:23
P1: E quando você se tornou vô, seu primeiro neto ou neta, como você se sentiu?
R: Queria carregar dia e noite, mas a mãe dele tinha ciúmes da gente carregar ele muito, mas eu também não tive muito tempo para cuidar de neto, que a gente tinha que trabalhar para ajudar, buscar lenha para vender para ajudar em casa, né, mas eu senti assim que o céu tava descendo. Mas, até hoje essa bisnetinha do meu netinha do meu menino, do meu neto que mora no terraço que deu um problema para ele no … ele veio embora para cá com a esposa, e ele mora no meu terraço, lá em cima, e a menininha tá com 9 meses, eu não posso nem chegar lá no terreiro que ela quer descer a escada para vim para cá, e eu adoro criança, adoro. Se eu pudesse juntar as crianças tudinho e levar lá para casa, mas hoje a cabeça não da também.
29:21
P1: E você brincava com seus netos?
R: Brincava, muito, de tudo, até hoje nós brincamos, nós dançamos lá dentro de casa, essa pequeninha, que eu to falando que vai fazer 1 aninho ela chega lá em casa e eu coloco um radinho lá, ela fica levantando as perninhas e eu tenho que dançar com ela lá.
29:41
P1: E aí você falou que você continuou trabalhando no rio até 2015.
R: É, até 2015.
29:49
P1: E como foi essa mudança para a senhora?
R: Foi muito ruim, para mim e para todos né, para o mundo inteiro que foi atingido, porque atrapalhou tudo. A gente conviveu, o rio, era primeiro Deus, era o pai e a mãe de todo mundo, depois que veio essa tragédia acabou,veio foi doença, que até hoje tem, esses pernilongos que mordem a gente de tarde assim, eu eles não me mordem não, por causa que meu sangue é meio amargo, mas tudo é meio verdade, todo mundo fica reclamando que pernilongo tá mordendo eles, eles não me mordem, mas reclamando que dói muito. Essa pequenininha minha, bisnetinha, ela tá com o corpinho todo assim, pipocado, desses mosquitinhos que mordem. Não é só isso, porque essa tragédia que teve, trouxe muita doença pro Rio Doce, o pessoal do Rio Doce não era igual é agora, agora é muito difícil você ver uma pessoa que não tá, né, reclamando as coisas, é problema no joelho, é problema na coluna. Eu pelo menos, os dias que eu fui mostrar para eles como que tirava o ouro no rio, eu fui com dois advogados no rio, e umas meninas… No dia que nós chegamos lá, não é culpa deles não, o rio estava abaixando, e na hora que a gente foi tirar o ouro na bateia, para mostrar para eles como que era o trabalho do rio, eu escorreguei e bati numa poça de água, esse calcanhar meu aqui, ficou pretinho igual um carvão, e foi muito tempo. Aí os meninos do rio, que foi conosco lá na beira do rio com advogado, falou: “O dona Terezinha, e agora?”, eu falei: “E agora meu filho, o mal está feito, porque pretiou na hora, aí eu tive que consultar, tomar remédio, a cabeça também, ainda me dói aqui desse lado aqui, assim desse lado dói. É do rio, a água do rio ainda ela tá, tem vez que ela tá meia lenta assim, mas ela tá contaminada, e trouxe muita doença pro Rio Doce mesmo, muita doença. Se vê, aqui no Rio Doce conviveu mais com defunto ué, os defuntos foram achados lá comporta de Sanatana, até chegar em Porto Alegre, não tinha um dia que você nãoia para beira do rio que não tava achando um defunto na beira do rio, chegou a achar cabeça, chegou a achar braço, fora os inteiros que encontrou. Então, essa água do rio é contaminada, essa água do rio não vai limpar nunca,nunca, nunca ninguém vai ter chance mais de ir na beira do rio tirar ouro, não vai.
32:44
P2: Dona Terezinha, a senhora lembra assim, exatamente o dia que veio a lama, a senhora foi lá no rio? A senhora estava na beira do rio? A senhora viu como é que aconteceu? A senhora sabe contar algumas coisas?
R: Assim, o dia assim, eu não sei falar o dia não, mas na hora nós estavamos em uma reunião, lá no…, tinha gente de Mariana, tinha gente até de Belo Horizonte tinha vindo para essa reunião que nós estávamos lá … Na hora que um rapaz chegou e falou: “Gente, aconteceu uma tragédia no(… é Brumadinho, né, que chama, né) e o rio tá complicado “. A gente desceu todo mundo para beira do rio, e nós ficamos lá até a noite, no outro dia nós voltamos. Lá passava caminhão, lá passava balsa, lá passava bote,lá passava criação, até defunto, Deus que me perdoa, mas a gente via assim, umas cabeça assim, depois quando chegava mais pra baixo achava. E lá da barragem para cá, teve que abrir a comporta um cadinho, para descer um pouco de água, porque se não abrisse lá, a água ia subir tanto que ia passar em cima da ponte. Você só via assim, aquela névoa, aquela espuma amarelinha, e aqueles coitados daqueles bichos passando, e o pessoal vindo procurando para tirar bujão de gás, muitos tiraram, mas foi uma coisa horrível quando, aquela enchente. Você olhava assim , você só tinha mesmo que chorar, tinha ambulância, tinha corpo de bombeiro, tudo lá na beira do rio, e muita polícia lá na ponte, porque o pessoal ficou todo mundo apavorado, e demorou pro rio abaixar, demorou. E aí depois que foi abaixando, começou a achar os defuntos, foi muito triste, é muito triste ainda, porque a lembrança passa, né. E hoje tá aí, eles mexem muito com a rua, é muita gente trabalhando, concerta num lugar o outro lugar já tá atrapalhado, é uma confusão. Umas casas também, tem muitas casas que estão abaladas com aqueles caminhãozão que passaram, minha, lá no alto que eu moro, mesmo assim na hora que passa um carro pequeno a minha porta faz assim, com o choque. E tá muito complicado.
35:24
P2: E a senhora acha, que mudança que a senhora acha que aconteceu aqui no município, depois desse acidente, que começaram as obras. O que a senhora acha que mudou aqui no Rio Doce?
R: O que que eu acho?
P2: É, o que a senhora acha
R: É né, tá complicado, melhorou alguma coisa, que deu serviço também pra muita gente, graças a Deus, porque Rio Doce é pequeno, mas está muito complicado também, que você vai para fonte nova, você tem que ir com muito cuidado, por conta de acidente, porque tem acontecido muito acidente. E assim, muito complicado, tem hora que você vai lá na rua, você tem que estar passando nuns bequinhos a fora, que tem muito enchimento, muita coisa demais, muita zueira também.. O dia que até eu fui lá embaixo na rua tive que parar para esperar um trabalhador passar.. Acho que era, acho que eu contei umas 80 homens, passando. E complicou muito, mas o que que pode fazer?
36:36
P2: É, então a senhora acha que teve pontos positivos e teve negativos, né?
R: Tem, tem positivo e negativo.
36:43
P2: E a senhora já acostumou com essa rotina, essa mudança de 7 anos de obra aqui na cidade?
R: É, tem que conformar, mas não é que a gente acha que está perfeito, porque é zueira demais da conta, você está la em baixo e passa um caminhão e a gente tem que fazer aqui assim ó… Lá no alto na minha rua também, é dia e noite aquelas picapes que passam pra lá e pra cá, ´é madrugada, você está dormindo um soninho e passa aquele miserável daquele carro, você tem que acordar.
37:17
P1: E fora essa movimentação, o que que você acha que mudou na cidade de Rio Doce desde que você veio?
R: Aqui? Depois que eu mudei para aqui? Depois que eu mudei para aqui teve muita melhora, das coisas né, teve muita melhora em muitas coisas, porque aqui a área da saúde é muito boa, não tem como reclamar disso, porque a área da saúde é muito boa, são muito prestativos, todo mundo que trabalha lá… Se você adoeceu na hora, você não leva 5 minutos a assistência está chegando pra gente, na casa da gente, com ambulância, com as meninas, e eles tratam a gente muito bem també,m Isso aí a pessoa não tem o que reclamar, por que é muito bom. Só essa coisa dessa confusão com essa gentaiada aí é que pertuba bastante, essa zoeira né. E tem também a terceira idade que quem gosta pode ir, como é que fala aquele negócio também que eles podam lá, artesanato também tem pras pessoas. As professoras também são todas muito boas, todo mundo que trabalha aqui são gente que tratam as pessoas com respeito, né. Eu pelo menos não reclamo, eu vou lá, sou muito bem atendida, todos são muito bem atendidos. Então,o que na cidade que precisa é disso, né. Agora Rio Doce é meio pequininho, e negócio de ter muita gente da barragem trabalhando, as vazes faz falta também aqui do Rio Doce, que as vezes, tem uns que não tem, as vezes muita chance, também as vezes também não tem experiência, não sei né.
39:11
P2: A senhora está falando aí né, oportunidade de emprego nas empresas?
R: É.
39:18
P2: Mas ainda em relação ao Rio Doce, quando a senhora veio para cá, aquelas ruas aonde a senhora mora hoje, já tinham aquelas ruas lá?
R: Que?
P2: Aquelas rua lá no alto onde a senhora mora, já tinha aquela rua quando você chegou aqui?
R: É, quando eu… Não, não tinha não, tinha não
39:35
P2: Então o Rio Doce cresceu pra cima?
R: È, depois aquele salvador ali, aquele salvador era muito ruim, indo para os lado de João Matias ali era tudo ruim, aí na medida que foi entrando os prefeitos, aí foi fazendo o
poucos, né.
39:51
P2: Se a senhora fosse falar de uma festa que a senhora gosta de participar do Rio Doce, qual que a senhora falaria, qual que a senhora gosta mais?
R: Aqui?
P2: É
R: A igreja, que primeiro Deus e a igreja católica, né, que são muito boas. Para gente, que somos católicos, e pros crentes também, que tem muita igreja de crente, e depois eu gostaria de um forrozinho para gente, quando você precisa ir lá em Fonte Nova no palmeirense, tem que pagar o taxista, tem que pagar para entrar lá também,
. 40:25
P2: A senhora então já foi lá muitas vezes?
R: Oi?
P2: Lá no forró em palmeirense?
R: Nós vamos de vez em quando, na quaresma agora eu não vou não, tem que respeitar né.
40:34
P2: E senhora vai com quem?
R: Eu vou com cumade Tequinha,
40:39
P2: Ah seim, então a senhora vai longe atrás do forrozinho né? Muito bem, a senhora gostaria de que tivesse mais forró, né?
R: Gostaria que tivesse um salãozinho, um forrozinho para nós irmos
40:50
P2: Quando a senhora fala de forró, a senhora fala do espaço né? Que tivesse um espaço…
R: É, um lugar, assim da pessoa, igual quando teve aquele encontro de cavaleiros, pouco tempo lá no …Ali era um lugar muito bom, porque não ia pertubar ninguém na cidade, porque todos os forrozinhos que começam no Rio Doce, as vezes, o pessoal reclama por conta da zoeira, porque tem gente doente, ás vezes, em casa. Qualhada mesmo ia fazer, mas reclamaram, então dentro da rua, que não tem como fazerum forrozinho, para não pertubar os outros.
41:24
P1: Você falou desse encontro de cavaleiros, pode falar um pouco mais sobre o que foi isso?
R: Teve um encontro de cavaleiros, e lá teve um forró muito gostoso lá, lá teve muita… Teve barraquinha, foi muito bom, ,mas foi essa vez, não sei se aquela cobertura está lá ou desmancharam, é la no correguinho, lá era bom, se pudesse fazer um forró lá. Assim, eu acho que os prefeitos as vezes não gostam e tem medo também, as vezes de problema, que hoje está muito complicado, as vezes pode ser isso também, né. não sei. A gente não ´pode fazer um forrozinho por conta própria, porque passou de 21h, se o som estiver meio alto, a polícia vai e reclama, e está certo, né.
42:18
P1: E você falou das igrejas, você frequentava as igrejas, aqui?
R: Catolica?
P1: É
R: Eu gosto, não vou a missa todo dia não, mas de vez enquando eu vou.
42:32
P1: Tem alguma igreja aqui que você gosta de frequentar?
R: Tem a igreja paroquial né,
P2: É santo Antônio?
R: É. eu gosto
42:39
P1: E você lembra a primeira vez que você entrou nessa igreja?
R: Daqui? Foi quando eu mudei para cá, já tem, deve ter 37 anos, por aí, que eu moro. Aí eu ia à missa todos os domingos eu ia à missa, todos os domingos, mas eu não sou assim muito chegada e ir a missa muito não, eu gosto mais de rezar em casa, não sou muito chegada em ir na igreja todo dia não, eu vou de vez em quando.
43:09
P2: E qual é o seu santo assim, que a senhora, que quando a senhora fica apertada a senhora pede socorro para quem, qual santo?
R: Eu rezo muito lá em casa, mas eu asim, eu sou muito devota mesmo de Divino Pai Eterno, Senhora Santana, Senhora Aparecida, Senhora de Fátima. Eu peço pra todos os santos e os anjos, mas tem um santo que você tem mais… É o anjo Gabriel, São Miguel Arcanjo, São Jorge Guerreiro, né. Eu gosto muito de rezar meu terço todo dia.
43:45
P1: Como é o'seu terço?
R: Em?
P1: Como ele é?
R: Meu terço, ele tem, ele tem… Você reza 5 mistérios Ave Maria, Santa Maria e você vai rezando até terminar ele, você demora assim uns, uma meia hora rezando o terço.
44:07
P1: Você ganhou esse terço?
R: Em?
P1: Você ganhou esse terço, você comprou?
R: Ganhei, eu troquei também, minha nora também arrebentou, minha nora me deu dois. è, eu gosto de rezar o terço, e eu gosto muito de rezar a noite, depois que está muito silêncio, que não tem mais muito movimento, eu gosto muito de rezar assim no silêncio, quando eu acordo de noite eu gosto de rezar pros 4 cantos desse mundo , porque do modo que as coisas estão hoje, né menina. Está muito complicado, muito complicado. Hoje a gente está vendo coisas que a gente, da idade que a gente está. a gente nunca viu, né. Então, tem que rezar mesmo.
44:51
P2: A senhora tem saudade de alguma época da vida da senhora?
R: Se eu tenho?
P2: É
R: Eu tenho, muita saudade, de muita coisa.
44:58
P2: A senhora poderia falar de alguma coisa para gente, dar um exemplo?
R: A, eu tenho saudade assim, que a gente trabalhou muito e hoje se o rio tivesse, a gente estava mais velho, tudo, mas se o rio estivesse funcionando a gente estava lá, tirava uma pedra, que tem hora… Eu comprei meu barraco ali com muita pedra, comprei brita, comprei metro de areia, quando eu comprava o metro de areia era 80 reais, agora eu nem sei quanto que tá valendo. E a gente no rio, a gente tinha isso tudo, a gente tirava de graça, né…
P2:Então a senhora tem saudade …
R… Se o rio estivesse limpinho nós trabalhávamos nele, hoje, por exemplo, é um sábado que nós não iríamos querer sair da beira do rio para poder ir embora para casa, fazia as coisas de noite, ainda a gente lavava roupa de noite, modo daquela ansiedade de ficar lá… No dia que a gente não ia “o gente hoje eu to perdendo o ouro desse dia”, então da muita saudade, né. Porque o rio acabou e trouxe muita doença, ainda tem ainda, e acabou muito a alegria do povo, morreu muita gente com , também, por causa do rio, né… Na minha vida, de tudo que eu perdi.. um pouco
46:19
P2: Então, hoje como que a senhora passa os dias da senhora? Como que a senhora faz hoje durante o dia, como é sua rotina?
R: Lá em casa?
P2: É
R: Lá em casa na hora que eu não estou mexendo na cozinha eu gosto muito de arrumar as minhas roupas, de costurar as minhas roupas, eu tiro as roupas do guarda-roupa, pra mim também não ficar sentada lá atoa, e tome voltar com as roupas por guarda-roupa de novo, eu gosto muito de mexer assim, em casa, né, porque o dia passa.
46:46
P1: A senhora costura?
R: As minhas roupas eu faço, mas não é na maquina não, eu faço na mão, com potinho atrás, nem aparece.
46:55
P1: Com quem você aprendeu a costurar?
R: Com a minha mãe, eu tinha uma maquinazinha de mão, né, daquelas… Depois aí ela acabou e eu não comprei mais, depois não fez força de comprar mais também. Maquina de pé é muito difícil.
47:16
A senhora nunca usou essa de costurar de pé não?
R:Não, não, só aquelas de mão mesmo, é.
47:24
P1: A sua mãe costurava mãe costurava na mão também, ou na maquina?
R: Oi?
P1: Tua mãe costurava a mão?
R: Costurava
P1: Na mão?
R: É, com essas maquinas mesmo, hoje acho que não tem mais.
47:37
P1: Você lembra como era a maquina dela, como ela mexia?
R: Da minha mãe? A maquina da minha mãe ela era pretinha, pretinha, aí punha aquele… e tinha um pratinho assim de pôr os … na agulha, né, você era ensinado também, a gente… A minha mãe ensinou a gente a remendar, quando eu morei lá do outro lado, que eu morei com a minha sogra também lá do outro lado, em barra longa, eu morei com a minha sogra também. É, 7 anos dentro de casa ela morando com os meus meninos pequenininhos, depois ela morreu, continue com ele lá, a gente trabalhava no rio, olhava meus meninos e ainda remendava roupa dos outros filhos dele ainda, que de primeiro nem tinha dinheiro pra comprar roupa também, tinha que remendar roupa de baixo em cima. Agora não, agora graças a Deus, a roupa não falta né.
48:35
P1: E a senhora falou também que gosta de cozinhar durante o dia, o que você gosta de cozinhar?
R: Comida, eu adoro quando chega gente lá em casa pra mim fazer uma comidinha, porque pra mim, eu to sem almoço até agora, e eu não to com fome não, eu não ligo de fazer comida pra mim não, mas quando chega uma pessoa lá em casa eu adoro, pra mim ir pro fogão fazer comida, adoro.
48:59
P1: O que que você diz que é sua especialidade na cozinha?
R: A comida do tipo de carne que eu gosto é frango e peixe, carne de boi eu como, mas não sou chegada não, de porco eu sou proibida tem mais de 50 anos, que eu fui proibida de comer carne de porco, gordura, nada de porco eu posso por na boca, é óleo. Doce, também o doce que eu posso comer, somente doce de leite sem nada assim, sem nada de coco, nescau, toddy, abacaxi , nem bolo de aniversário eu não posso comer, também não. Mas, eu não tive nada,também graças a Deus, eu não tomo remédio pra nada de farmacia, eu tomo de pressão todo o dia, mas o meu remédio que eu tomo é raiz, eu faço chá. Toda vida, desde pequena, que minha mãe ensinou nós a tomarmos chá de horta, e eu nunca quis tomar remédio de farmácia assim pra outras coisas. Agora essa dor de cabeça que eu tenho, isso é norio que eu peguei, e eu acho que ela não melhora não, porque não é todo dia não, mas tem dia assim, que parece que tem, sei lá, parece que fica pinicando assim, fica é assim, parece que tem uns bichinho dentro da cabeça, eu vou lá, tomo umas gotas de dipirona, cheiro um álcool com raiz que eu tenho lá também, melhora, mas eu sei que é do rio, porque eu não tinha isso, acho que é cloro do rio, não sei, porque aqui ficou pretinho, dessa cor que tá aqui aí na medida que eu fui, consultei, tomando remédio, aí limpou,mas eles olhavam assim, daqui para baixo, onde é que eu escorreguei, daqui, até aqui, virou um carvão. e Deja ficava muito incomodada, porque a gente sempre viajava ia para Mariana e ela “ O aí Terezinha quando você pensa que vai limpar?" , eu falei: “A, uma hora Deus ajuda que limpa “, mas esse primeiro aqui é dormente, eu acho que se você ter um beliscãoziho aqui não doi não.
50:59
P2: A senhora falou que gosta de usar chá, não gosta de remédio da farmácia, a senhora tem plantinha lá no quintal?
R: Oi?
P2: A senhora tem plantinha de chá lá no quintal?
R: Agora naquele lugar ali eu não tenho, porque não tem onde plantar, mas eu quero… de mel, e eu pego muito naquele quintal pra lá que não é meu ali, raiz carrapichinha picão, é outro negócio que chama, algodão, também é muito bom para o pessoal tomar chá.
51:28
P2: Chá de algodão, da folha do algodão ?
R: Da folha do algodão, muito bom pros rins.
51:36
P1: E as raízes que você falou?
R: É raiz de picão, e de carrapichinha, lava bem lavadinho, deixa cozinha bem cozidinho, daqui a pouco coa e toma, você sente assim, por dentro, tudo fresquinho né, igual remédio de farmácia mesmo, não acostumei não, mas o de pressão não tem como você não tomar, porque o coração funciona, primeiro Deus, depois o remédio né, porque minha pressão é alta, altissima. O dia que eu perdi meu irmão, que ele chegou lá em casa morto, ele fez isso, minha pressão foi na hora em 22, a ambulância foi lá em casa 3 vezes para me levar, eu não quis ir, mas não dei conta mais de nada não. Quando passou um ano e pouco a minha irmã morre do outro lado de baixo também, que ela morava pertinho de mim, aí eu não gosto lá de casa mais não, eu quero vender lá pra mim voltar lá pra baixo, mas pra baixo, por causa das lembranças, né,.
52:43
P2: Essas lembranças incomodam a senhora?
R: É, só que eu quero mudar de casa também e a lembrança continua, mas é menos, né?
P2: Sim
52:54
P2: Hoje dona Terezinha, o que que a senhora acha que foi mais importante na vida da senhora? O que que a senhora conseguiu na vida que a senhor poderia dizer que foi o mais importante?
R: Primeiro Deus, e depois eu consegui casar meus meninos, porque o pai deles, quando o pai deles morreu com 40 e poucos anos, e ele, antes dele morrer falou: “Terezinha, eu sei que eu to indo embora, mas você naõ deixa ninguém judiar dos meus meninos não, casa eles “. E eu sofri demais, demais, mas eu consegui casar eles todos, hoje cada um deles tem sua casinha deles, e depois eu consegui meu barraco também, e a gente tem amizade com todo mundo né, graças a Deus. E se precisar de um favor meu também, só se eu não puder, né, se eu puder, o que eu puder fazer, eu faço., se tiver um pão eu parto com a outra pessoa, se eu tiver um real e chegar uma pessoa: “Oi, eu to com vontade de comer um pão “ eu dou 50 e fico com 50, a gente não vai levar nada desse mundo, né. Só as amizades que a gente tiver, que a gente vai levar também, e o que a gente fizer para Deus ter misericórdia da alma da gente.
54:11
P2: A senhora tem algum sonho que a senhora quer realizar ainda na vida, a senhora tem algum desejo assim, de fazer alguma coisa que a senhora não fez ainda?
R: Eu tenho
P2: A senhora pode contar para a gente?
R: Eu tenho desejo de ter um salaozinho com meu forrozinho, continuar as minhas amizades com as pessoas né. Que Deus me dê, eu e todo mundo, saúde, força. Que eu tive um problema nesse joelho, eu esqueci de falar também, eu tive um problema nesses dois joelhos também, depois do rio, você sabe que eu fiquei 1 ano e meio pulando … você lembra..?
P2: Não
R… A minha filha, doia, doia que eu ficava no sofá lá em casa com uma vasilhinha de água morna passando nesses dois joelhos, doia deu gritar, porque eu falei com meu compadre que morava lá para ele eu cortar uma perna e ele cortar a outra, e eu ficava assim sentindo muita dor, falando “meu Deus”, o meu menino estava trabalhando lá em casa também, eu falei “ O .. eu acho que se você cortar essa perna acho que vai parar.. “ “O mãe, para com essa bobagem, nós vamos arrumar um doutor pra senhora”. Eu falei “ Mas eu não estou aguentando a dor não”. Aí eu comprei uma pomada, comprei uma caxinha de … fui passando e banhando também com folha de fumo, com espada de são jorge, acabou. Eu ficava com muito medo deu não poder dançar o meu forró, porque eu ficava pulando, e mesmo, eu ficava pulando pra casa a fora, uaí, pulando, eu pendurava aqui, daqui eu esperava a dor de um aliviar pra eu poder passar e fazer o café da manhã, um ano e meio sem mentira nenhuma que Deus estava vendo, sarou, sarou, graças a Deus. Aí eu quero ainda passear em lugares mais pertinhos, lugar longe também eu não vou não, é de Fonte Nova para cá, quero continuar as minhas amizades, se eu precisar de um favor também. E Deus vai abençoar também o pessoal do Rio Doce para todo mundo.. acabar de receber, tem muita gente precisado receber também, e Deus o Senhor vai entrar no meio, na cabeça desses advogados que fica trabalhando, cada dia vai por uma luz a mais na cabeça deles.
56:28
P2: A senhora já recebeu a indenização?
R: Recebi
P2: Recebeu, né.
R: Recebi, foi aí que eu fiz aquele muro que tem lá em casa
P2: A tá
56:35
P2: E desse época de faiscação da senhora, esse tempo todo, o que a senhora guardou dessa época?
R: É, eu tenho assim, assim, a lembrança que eu tenho, porque eu construí muito lá em casa com o dinheiro do ouro, né, mas muito, mas muito mesmo, e a lembrancinha pequenininha que está aqui eu trouxe, para vocês poderem ver, mas foi preciso, eu tinha muito, mas depois da tragédia foi preciso a gente vender para poder manter as coisas né, aí ficou um pedacinho de lembrança, eu vou mostrar pra vocês que eu trouxe aqui. Mas, se o rio tivesse bom, a gente estava lá mexendo, porque o sonho de todo mundo aqui do Rio Doce, das mulheres, dos homens , das crianças, é todo mundo ir lá para beira do rio, aquela alegria, você levava uma criancinha lá, você podia dar banhozinho nele com aquela água do rio clarinha, aqueles … andando, os meninos querendo pegar eles com a mão e tudo, depois agora não tem mais nada, né, acabou, os peixes do rio tá contaminado também. Eles abriram tem pouco tempo, e estava por dentro pretinho,pretinho, e aí todo mundo fica naquela ansiedade, achando, acha que as vezes um dia o rio pode dar uma oportunidade, mas no meu modo de pensar, nunca mais, nunca mais
58:08
P2: E o que que a senhora está sentindo agora contando para nós aqui a história da senhora, sua história de vida, como que você está se sentindo?
R: Eu?
P2: É
R: Ai, eu fico bem, graças a Deus eu tenho saúde, mas a gente sente muita saudade.
58:23
P2: E foi bom estar conversando com a gente hoje, contando pra gente ?
R: Muito bom, só que às vezes a gente fala muito, fica muita coisa sem falar, e a gente também fala mais ou menos, quem não tem leitura não fala muito bem não. Mas foi um prazer grandão de conversar com vocês, porque a gente fala o que a gente sabe, mas a gente aprende muita coisa também, né?
58:48
P2: Nesses lugares todos que a senhora morou né, que a senhora nasceu, a senhora nasceu lá em Ouro Branco, né, Rio Branco?
R: É, Rio Branco
P2: Rio branco, e depois a senhora mudou por várias vezes né?
R: Várias vezes , quando a gente era criança meu pai , todo 8 anos, 9 anos, meu pai mudava, cada ano ele mudava para um lugar, às vezes a gente não tinha nada para levar, também porque não tinha, a gente mudava com uma tristeza… tá boa,colocava, secava no sol , batia ela pra fazer travesseiro , e a gente era tudo alegre não tinha cobertor direito para poder cobrir, a gente também comia o que tinha , não tinha negócio de reclamar nem nada, né. E a gente cresceu assim, naquela luta e venceu.
59:34
P2: Mas o por que a senhora acha que os pais da senhora mudaram com frequência, mudaram várias vezes?
R; É porque chegava assim, a gente era tudo criança, morava um ano num lugar, não dava certo, queria ir para outro lugar para ver se tinha uma melhora, chegava naquele outro lugar também não tinha salário nem nada, aquele pouquinho que trabalhava .. Achava que cada ano que fosse para um lugar tinha melhora, mas as vezes não tinha, meu pai morreu eu ia fazer, eu tava com uns 8 anos quando ele morreu, minha mãe ficou cuidando de nós.
1:00:07
P2: Ficou essa dúvida, como que a mãe da senhora deu conta de criar esses filhos todos ?
R: Deu, minha mãe deu.
P2: Sozinha, né
R; É, o meu irmão que o Dico que morreu lá em casa , a minha mãe, as vezes quando eu era bem pequenininha ainda, minha mãe plantando na rocinha, eu ficava com ele, cuidando dele, eu ia lavar roupa no rio, porque o lugar que a gente morava , as criações sujavam a água toda, e bebia água limpa. Eu levava dico pequenininho para beira do rio, para lavar roupa, chegava lá eu colocava ele debaixo de uma árvore, e lavava aquelas roupinhas, pouquinha roupa que tinha também. Quando minha mãe chegava eu já tinha dado banho nele, já tinha colocado a água pra fazer o angu, aí a gente foi crescendo, depois que ele foi crescendo ele foi aprendendo um pouco da realidade da vida e minha mãe sofreu demais também para nos por grande. o tanto que eu sofri também, para cuidar da minha família.
1:01:04
P2: A senhora casou nova, né e mudou,e depois desse lugar que a senhora morou com seu marido de lá a senhora já veio pro Rio Doce ?
R: Vim para o Rio Doce, mas quando eu vim do Rio Doce eu não trouxe nada de lá, isso é até … deu falar, mas o meu sogro não deixou eu trazer nada de lá, eu morei com ele mais o meu marido , nós moramos lá 17 anos , mas que eu morei com eles dentro de casa, quando a minha sogra morreu foi uns 6 ou 7 anos, mas quando eu vim para cá meu sogro não queria que a gente viesse, queria que ficasse lá trabalhando, com os meus meninos todos pequenos, e eu não quis ficar lá mais, porque lá era assim, lugar de mato, se tava assim no terreno, nessa de brincar a noite , lá era assim, você via aqueles cobrão passando pelo terreiro a fora, mas não era cobra pequena não, e aquilo foi me aborrecendo, que a minha sogra morreu por mordida de cobra, meu marido também… ele não morreu dessa vez que a cobra mordeu ele , ams ficou sequela, sempre ele tava doentinho, sempre ele tava doentinho. Aí eu aborreci com aquilo lá, que a gente, convivia mesmo mais com o dinheirinho do ouro, aí quando eu vim para cá eu comprei, tirei ouro duas semanas, foi que eu comprei 2 colchões, duas camas, umas roupinhas de cama, e aí eu trouxe pro Rio Doce, o que eu tinha lá na minha casa deixei tudo para ele, porque ele não quis deixar a gente trazer nada. Aí vim para o Rio Doce, aí o dia que eu cheguei aqui, lá na rua que eu morava eles pensaram assim “ Ta chegando uma mudança aí”, mas a mudancinha que chegou lá, veio uma pick -up pequenininha , veio dois colchões, duas camas, umas vasilhas, foi só isso, e 3 malinhas que eu tinha de por as roupinhas dos meninos também. Aí nós chegamos pelo Rio Doce, eu fui trabalhar com meus meninos, o tempo passou, assim, igual eu falei, que eu pedi muito a Deus, e queria trabalhar, igual eu trabalhei, pra mim cuidar deles, mas não ficar morando na prefeitura para pedir as coisas, eu nunca gostei, não gosto, de ficar morando na prefeitura. Nós trabalhávamos, sinceramente, tinha dia que nós almoçavamos na hora de almoço e não dava para janta, aí a janta eu dava a les um pedaço de pão, uma água doce. Eles nunca foram de reclamar também, até achar um rumo para todo mundo trabalhar, e nós vencemos não tá todo mundo aí? A gente vence, com Deus a gente vence, né? Eu não gostava assim, eu mais preferia trabalhar do que eu ir na prefeitura e pedir, e sair nas portas pedindo as pessoas, sabe que eu se eu pedisse dava, o povo de Deus tudo é muito bom, mas eu tinha vergonha de pedir, eu achava que eu tinha… Eu também tinha que ensinar eles a trabalharem, se eu saisse de porta em porta pedindo, eles não aprendiam a trabalhar , né? Aí nós vencemos.
01:04:20
P2: Eles aprenderam né, a trabalhar com a senhora
R: Comigo
P2: A senhora foi o exemplo para eles, né?
R: É, e graças a Deus até no dia de hoje, se eu manda, ou precisa eu falar qualquer coisa com um eles não… comigo, não me respondem,nenhum deles. Agora os netinhos da gente são mais topetudos um cadinho né,os netinhos da gente querem saber mais do que a gente, mas eu não deixo eles levantarem a cabecinha pra mim não, tem que ficar caladinho escutando eu falando, é, porque a gente não sofreu para por a família da gente grande? Um neto não é a mesma coisa de um filho? Então eles também tem que escutar a gente, tem que escutar.
01:05:00
P1: Tá certo, tem mais alguma coisa que você queira falar, contar para gente?
R: É, mas aí Deus abençoa aqui o Rio Doce que não está ruim não, mas se tiver alguma melhora a mais, alguma coisa seria bom, né
P2: Um forrozinho, né?
R: Um forrozinho, não posso falar que possa ter um hospital aqui no Rio Doce, que a água é pouca, né, muito pouca, mas graças a Deus quando adoece uma pessoa também a ambulância está na hora para poder levar, graças a Deus, não tem de esperar não, é na hora, Lá perto de casa mesmo eu fico olhando assim, de primeiro quando você via uma ambulância chegando na porta a gente quase morria de susto, com medo de gente doente. Agora o moço que mora lá perto de casa ele trabalha na ambulância, a ambulância chega lá na porta agora não assusta mais não, tinha dia que eu sai correndo para ver se era gente doente, mas ele é de plantão, aí ele chega com a ambulância e fica lá na minha porta… Se precisar é só chamar. Mas, se eu não falei direito, aí vocês podem me fazer mais perguntas, que as vezes fica muita coisa que a gente não lembra de falar, né? Aí pode perguntar.
01:06:20
P2: Não, a senhora falou direitinho, se a senhora quiser falar alguma coisa nós estamos aqui para registrar, se a senhora lembrar de mais alguma passagem…
R: Depois quando chegar lá em casa, quando for a noite que eu vou lembrar de alguma coisa que ficou sem falar, mas tá bom, se eu tiver falado alguma coisa que não não foi certo, aí eu peço desculpa, né, e peço a Deus para tomar conta de vocês , para ele guiar seus caminhos, seus trabalhos e de todos, dela também, porque Deus é acima de tudo, né? Sem ele nós não somos nada. E vocês desculpem porque as vezes eu não falei certa.
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