Depoente: Aparecido Donizetti da Rosa
Entrevistado por: José Santos e Cláudia
São Paulo, 07 de dezembro de 1993
Entrevista nº 011
P - Aparecido, eu gostaria de começar a entrevista com você falando seu nome, aonde você nasceu e quando você nasceu?
R - Meu nome é Aparecido Donizetti da Rosa, nasci em Mogi das Cruzes, cinco de janeiro de 1958.
P - E você sempre morou em Mogi das Cruzes?
R - Eu sempre morei em Mogi das Cruzes, mas eu fui... Quando eu nasci eu fui pra um Colégio, em Carapicuíba, interno.
P - Quantos anos você tinha?
R - Eu fui com um ano e fiquei até doze anos, nesse colégio onde estudei é colégio só, primário, nesse colégio. Depois eu voltei...
P - Aparecido, me empresta um papelzinho porque está fazendo muito barulho.
R - Ah é?
P - Como é que era o dia a dia do seu colégio?
R - Meu dia no colégio?
P - O que é que você se lembra?
R - Eu me lembro que eu era um criança que estudava muito sério naquela época, mas é escola mesmo, e eu não... Não conhecia naquela época, muito pouco futebol de molequinho, eu era mais dedicado à religião, era a igreja católica. Ainda sou.
P - Era seminário?
R – É, seminário não era. Mas é como era colégio de católicos, a gente estudava muito mais a religião. Todos esses anos eu estudei religião, né? Religião e também cuidar da escola.
P - Como é que eram os estudos de religião? Como vocês estudavam?
R - Ah. Eu fui coroinha, eu fazia, eu lia o evangelho, eu... E ao mesmo tempo era dedicado à igreja, e ao mesmo eu trabalhava lá, de criança na horta tudo, era uma instituição muito grande.
P - Como é que era o relacionamento com os outros colegas? O que você lembra?
R - Muito boa, brincava bastante. Eu também brigava um pouco, já era um bravinho.
P - Brincava do quê?
R – Eu... Tinha um parque lá, parque muito bom, muito...Continuar leitura
Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Aparecido Donizetti da Rosa
Entrevistado por: José Santos e Cláudia
São Paulo, 07 de dezembro de 1993
Entrevista nº 011
P - Aparecido, eu gostaria de começar a entrevista com você falando seu nome, aonde você nasceu e quando você nasceu?
R - Meu nome é Aparecido Donizetti da Rosa, nasci em Mogi das Cruzes, cinco de janeiro de 1958.
P - E você sempre morou em Mogi das Cruzes?
R - Eu sempre morei em Mogi das Cruzes, mas eu fui.
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Quando eu nasci eu fui pra um Colégio, em Carapicuíba, interno.
P - Quantos anos você tinha?
R - Eu fui com um ano e fiquei até doze anos, nesse colégio onde estudei é colégio só, primário, nesse colégio.
Depois eu voltei.
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P - Aparecido, me empresta um papelzinho porque está fazendo muito barulho.
R - Ah é?
P - Como é que era o dia a dia do seu colégio?
R - Meu dia no colégio?
P - O que é que você se lembra?
R - Eu me lembro que eu era um criança que estudava muito sério naquela época, mas é escola mesmo, e eu não.
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Não conhecia naquela época, muito pouco futebol de molequinho, eu era mais dedicado à religião, era a igreja católica.
Ainda sou.
P - Era seminário?
R – É, seminário não era.
Mas é como era colégio de católicos, a gente estudava muito mais a religião.
Todos esses anos eu estudei religião, né? Religião e também cuidar da escola.
P - Como é que eram os estudos de religião? Como vocês estudavam?
R - Ah.
Eu fui coroinha, eu fazia, eu lia o evangelho, eu.
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E ao mesmo tempo era dedicado à igreja, e ao mesmo eu trabalhava lá, de criança na horta tudo, era uma instituição muito grande.
P - Como é que era o relacionamento com os outros colegas? O que você lembra?
R - Muito boa, brincava bastante.
Eu também brigava um pouco, já era um bravinho.
P - Brincava do quê?
R – Eu.
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Tinha um parque lá, parque muito bom, muito.
Brincava de jogar bola, tinha campo de futebol.
Eu sempre gostava de futebol desde moleque, mas não conhecia um time de futebol ainda, grande não.
P - Mas as bolas, eram bolas mesmo de borracha? Não, era bola de meia, de papel?
R - Eram bolas de borracha mesmo, bola de borracha, a instituição muito boa.
Eu aprendi muita coisa, onde que eu aprendi a encaixar bem na sociedade.
P - E, vocês que organizam esses jogos?
R - Nós mesmos que organizávamos, nós que promovíamos os shows.
P - Que shows que tinham?
R - Música, calouro, tudo.
Desde molequinho a gente já fazia tudo isso.
P - E você participava desses shows?
R - Participava.
P - Cantando?
R - Não, muito pouco (riso), só apresentava no caso, né? E nós íamos também fazer excursão tudo, muitas autoridades ajudavam a excursão nossa naquela época já.
P - E Aparecido, você ficou dos dois anos, até doze anos?
R - Até os doze anos.
P - E nesse período você não teve nenhum contato com a sua família?
R - Tive muito pouco, tinha uma reunião todas as quartas-feiras e a cada vinte dias aqui no Hospital Santa Clínica, aí eu vinha visitava eles tudo e aí voltava pro colégio.
Meus pais também eram muito pobres naquela época, daí eles não podiam ter condições de tratar de mim também, né?
P - O que é que seu pai fazia?
R - Meu pai, ele foi.
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Nasceu em Minas Gerais, Itajubá, era vaqueiro, era fazendeiro.
A minha mãe era doméstica e aí eles vieram pra Mogi das Cruzes, foi onde que eu nasci que fui pra lá.
P - E você tinha mais irmãos?
R - Tinha, tinha.
Tinha quatro irmãos e depois minha mãe casou com outro, e meu pai faleceu, né? E tivemos mais seis irmãos ainda.
Então a família era muito grande.
Hoje estão todos grandes, graças a Deus estão bem.
P - Todos vivos?
R - Tem um só morto, morreu afogado na praia.
E mesmo assim está todo mundo em Mogi das Cruzes, o único que está agora morando em São Paulo sou eu.
Dos doze até os dezoito anos eu fiquei em Mogi das Cruzes com os pais.
P - Como é que era o dia a dia dessa família grande?
R - Era uma família muito.
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P - Depois que você saiu do colégio.
R - Do colégio.
Todo mundo trabalhava, eu mesmo fui, quando eu fui para Mogi fui engraxate, eu comecei a ser engraxate, trabalhei na fábrica, estudei ginásio, e depois estudei a faculdade, hoje Colégio Liceu Brás Cubas.
O colégio e a faculdade, eu não completei o curso, de jornalismo.
P - Quando você era engraxate, como que você.
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R - Eu era um engraxate muito carismático na cidade, foi lá que eu comecei a gostar do São Paulo, inclusive, quem gostava de mim lá, que eu engraxava sapato, era dono de uma lanchonete, cada vez que o São Paulo.
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P - Como é que ele chama?
R - É Orlando Pinto de Souza.
Era um dono de lanchonete muito forte naquela época, eu conheci da.
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Através dele eu conheci a sociedade Mogi das Cruzes e comecei a gostar do São Paulo e aí eu praticamente vim para São Paulo, torcer pro São Paulo, foi lá que eu comecei a gostar do clube.
P - Isso era em que época? Mil novecentos.
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R – Mil novecentos e setenta.
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Mil novecentos e setenta e um, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, até essa época eu trabalhei, engraxate e depois fui para as indústrias, fui almoxarife, estudava a noite.
P - Que indústria você trabalhava?
R - Eu trabalhei na primeira empresa, Estamparia Caravelas.
P - O que você fazia?
R - Trabalhava de.
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A primeira vez que eu comecei com quatorze anos numa oficina mecânica, trabalhei de ajudante de fazer peças.
Depois eu fui pra Caravelas.
Na Caravelas eu trabalhei de almoxarife, almoxarife fui pra a Valmet do Brasil, da Valmet eu fui pra Colmax.
Aí, eu pensei: chegou a minha vez de entrar em São Paulo.
Fui convidado para trabalhar na Fiatallis, aí eu comecei a ficar definitivo.
P - Bem, então você tinha dezoito anos e foi chamado pra vir trabalhar em São Paulo?
R - É, na Fiatallis, na Via Anchieta.
P - Fazendo o quê?
R - Almoxarife, foi a primeira, é uma das melhores empresas que eu trabalhei.
E lá nessa empresa, a firma foi praticamente mudada toda para Minas Gerais e eu não fui pra Minas Gerais por causa do São Paulo.
E já naquela época eu já era torcedor da Independente já viajava.
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Viajava pra Porto Alegre, pra todo o Brasil.
Mas mesmo assim continuei trabalhando em São Paulo.
P - Então Aparecido, olha, você veio para São Paulo, pra trabalhar, você lembra a primeira vez que você foi assistir a um jogo do São Paulo?
R - Me lembro.
São Paulo e Palmeiras, Pacaembu, dois a zero.
P – Para?
R – Para o São Paulo.
Ganhou de dois a zero.
Foi, aí foi que comecei a gostar do São Paulo, ser Independente, a Independente foi.
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Surgiu em 77, né? Setenta e oito e 79 eu fui associado deles número 60, 62.
Eu era o torcedor primeiro da Independente e do São Paulo.
P - Certo, mas quanto a esse jogo, esse dois a zero no Palmeiras, você foi sozinho? O que é que.
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Você foi com amigos? O que te levou a ir ao estádio?
R - Eu fui com um torcedor que era do Palmeiras de Mogi das Cruzes.
Ele que me levou pra São Paulo para conhecer, né? A primeira que eu conheci, já fui as outras vezes sozinho.
P - Mas nesse jogo você ficou em qual torcida?
R - Eu fiquei entre os torcedores neutros, fiquei no meio da do São Paulo.
Mas a Independente já estava surgindo naquela época 77, 78.
P - E qual foi a emoção de entrar num estádio de futebol grande assim?
R - Foi onde que eu gostei muito, eu mesmo fiquei admirado, eu achei que era uma coisa que era uma opção pra gente passar o dia.
Tudo isso aconteceu, aí eu comecei a gostar do São Paulo, a Independente me convidou pra alguns jogos, eu fiquei associado e tudo.
Em 78, 79, 80, 81 que eu fui diretor social da Independente, em oitenta e um diretor social convidado, e de lá eu fiquei fanático, ia a todos os jogos já.
Aí houve uma rescisão, uma briguinha, aí eu fui convidado pra Força Jovem do Mais Querido.
E da Força Jovem do Mais Querido onde a torcida cresceu e a Dragões estava pequena, isso eu não vou mentir, a Dragões juntou com nós e ficou grande de novo.
Banda Real Força Jovem atual.
Que antigamente tinha Dragões da Torcida Jovem que eram outros elementos e hoje praticamente tem poucos elementos que são dessa época.
E 80, oitenta e dois fui convidado pra ser o presidente da torcida, a primeira fundação, de 82 a 86.
P - Então Aparecido, a gente tem tempo pra poder tratar de tudo isso.
Então vamos lá, ainda no período da Independente, uma pessoa te convidou pra você fazer parte de uma torcida organizada e.
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R – Exatamente.
E foi onde que eu conheci vários colegas, conheci os fundadores da Independente, o Nilton Ribeiro, o Fernando não era presidente, na época era o Palma, era o.
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Era mais o Nilton Ribeiro, né? Que foi o fundador da Independente, diz ele, agora eu não vou mentir, que eu conheci ele.
Eu conheci também o Mirandinha, conheci o Turiassu, esse pessoal que fizeram nossa turma aí, e nós que mantemos até essa época as torcidas, só que eu fui pra Dragões da Real.
P - E então quer dizer nesse período da Independente você já estava viajando pelo Brasil, vendo o São Paulo?
R - Já, em 81 eu viajei pra Porto Alegre e foi a maior decepção, o São Paulo perdeu, né? Foi, ele perdeu de dois a um.
E aí foi onde que a gente ficou mais fanáticos ainda, que os caras lá do Grêmio me quebraram meu ônibus, da torcida e aqui em São Paulo falou: “não, lá em São Paulo também vão ser revidados”.
Que nós passamos um frio, chuva, que estava, aquela época estava muito frio mesmo, do campeonato, né?.
E nós começamos a gostar da torcida mais por causa das viagens também, conhecer o Brasil inteiro.
P - Como é que era, como que foi essa experiência de ir pro sul?
R - Foi onde que eu achei que.
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Foi uma coisa que abriu a minha cabeça, teve uma abertura de conhecer novas gentes, novos estados.
Como eu estudava já estava aprendendo na prática, conhecer os gaúchos, tudo, formar cultura também.
A gente vai assistir o futebol, mas também a gente vai ao mesmo tempo ver os outros estados, outros comportamentos de outras sociedades.
Foi tudo isso que eu aprendi, eu nunca mais larguei até hoje estou viajando.
P - Aparecido, por exemplo, uma viagem para Porto Alegre, são doze horas de ônibus.
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R - Dezoito horas.
P - Dezoito horas.
O quê que vocês faziam nessas dezoito horas?
R - O que nós fazíamos? (risos) Dentro do ônibus é.
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Tá certo que torcida de futebol, torcida de futebol são meio bagunceiras, cantam umas musiquinhas, entendeu? Tem uns sambas, e tem discursos, às vezes eu mesmo, a minha brincadeira é mais discurso, discurso de político de brincadeira, tudo.
P - Sei.
R – Entendeu? E conta histórias.
Porque o pessoal que conhece conta histórias do futebol, a gente dá uma parada no restaurante pra tomar um lanche ou almoçar, tomar um banho também, tudo isso.
A gente para nos restaurantes.
P - Que histórias de futebol você se lembra dessa viagem, que você ouviu, que te contaram?
R - Em 81?
P - Você se lembra de alguma história pra contar pra gente?
R - De história.
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É sempre aquelas histórias antigas, né? Do Sastre, 1943 lá.
História de 1943 e a história da inauguração do Morumbi.
E o Pacaembu que já tinha o nome do Paulo Machado de Carvalho, que é um grande são-paulino, e a gente em toda essa época começou a estudar também, conhecer o São Paulo profundamente.
P - Essa história do Sastre, conta pra gente.
R - Do Sastre, eu posso contar muito pouco, viu? Porque eu não.
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P - Mas conta o que você aprendeu.
R - Que foi o maior jogador da história de 43, foi um dos goleadores.
O Poy naquela época, tinha o.
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Assim, de memória, eu não vou me lembrar muito.
P - E ó Aparecido, nessa viagem, por exemplo, só iam homens ou tinham mulheres também lá?
R - Ah ia um pessoal.
Mulheres, tudo, e todo mundo respeitava as mulheres.
Realmente está certo que em um ônibus de torcida sai muitos palavrões, né? Até hoje saí, mas mesmo assim brincadeira de bom gosto, não era de mau gosto, não tinha nada a ver com as moças.
E nós, graças a Deus, aonde nós íamos nós levávamos a camisa do São Paulo pra fazer propaganda da torcida.
Já vendíamos naquela época chaveirinho, adesivo, vendíamos camisa da torcida e do próprio São Paulo às vezes levávamos para vender, ajudar arrecadar também dinheiro, fundos pra torcida.
P - E Aparecido, como é que vocês voltaram se a torcida do Grêmio quebrou o ônibus de vocês?
R - Nós voltamos com o vidro quebrado mesmo, com um frio e tomando uns gorozinhos (riso) senão não dava, não dava pra aguentar.
Tinha que tomar uns “mézinho”, senão não aguenta o frio não.
Mesmo assim, a gente, ficou um dia histórico pra gente, em 81 pra mim foi dia histórico.
De outra vez eu fui pra Porto Alegre conheci novas torcidas, tive boas amizades com as torcida do Grêmio.
Oitenta e quatro, por aí.
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Oitenta e cinco, a torcida do Grêmio pegou a maior amizade comigo, eu fui convidado para um congresso das torcidas, o Carlos Miguel Aidar que fez o grupo dos Treze, no qual eu fui convidado, eu fiz o discurso mesmo falando que o São Paulo tem que jogar com time grande, não tinha nada que jogar em Manaus, jogar num time Piracaide (?), não sei o que mais, uns times muitos, que não tinham projeção como time grande, aonde que.
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O pessoal gostou muito do meu discurso, do Inter, do Grêmio, foram uns torcedores do Rio de Janeiro, uns quatro grandes clubes, daqui de São Paulo foi o Corinthians, o presidente hoje que foi fundador, que está falecido, o Flávio Lacerda, naquela época nós já tínhamos muito boa amizade.
Foi em 87 a fundação do grupo dos Treze e lá começamos a ter mais jogos, jogos importantes, só jogos grandes que tinham muitos jogos que nós não íamos mesmo, jogos de pequena proporção.
E a gente tinha mais amizade naquela época também é com o campeonato paulista, viajar por esse interior do estado de São Paulo.
Viajei muito.
P - Que cidades que você conheceu?
R - Conheci várias.
P - Aqui do interior?
R - Do interior conheci muitas: Campinas, Limeira, Araraquara, conheci São Carlos, conheci.
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Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Bauru, Jaú.
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Do lado do vale do Paraíba também conheci todas: São José dos Campos, Taubaté, tudo isso a gente já estava com uma torcida muito grande organizada através do interior, também já tinha muitos filiados já.
P - Quantas pessoas eram mais ou menos nessa época, a torcida? Tem uma ideia?
R - Ah, naquela época que começou mesmo, no interior era só, era a TUSP, que era do Hélio Silva naquela época, que era conhecido depois, na época de 80, né? Era TUSP e Independente que iam a todos os jogos, nós éramos muito fortes no interior, mas mesmo assim naquela época o São Paulo não gritava, não tinha uma proporção como tem agora, naquela época tinha a maioria do pessoal da cidade torcia por seu time.
Hoje não, hoje não estamos viajando, metade das torcidas tudo é da capital agora, torce pelo time da capital, é onde que ficou mais organizado, muito mais.
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Menos perigoso para viajar.
Que na minha época viajar era muito perigoso, o pessoal do interior nos pegava.
Em Marília, por exemplo, muitas vezes.
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Muitos torcedores tinham medo de ir pra Marília, muitos torcedores.
P - O que acontecia quando vocês iam pra Marília?
P - Era uma guerra pesada mesmo, os caras não deixavam entrar na cidade, tinha que entrar com o caminhão de polícia.
E lá dentro os caras jogavam tijolo em nós.
Tijolos, pedra, não davam moleza, garrafa e mesmo assim nós não tínhamos medo, nós que tinha que enfrentar.
Se o time do São Paulo vai jogar lá a torcida também tem que ir, então era uma proporção, o São Paulo jogar mais tranquilo tem a torcida a seu lado e hoje é muito mais fácil torcer no interior, tem muitos torcedores do São Paulo, muitos mesmo.
P - Então a cidade, assim, difícil de ir era Marília?
R - É Marília.
Até hoje é.
Até hoje a briga é feia lá.
Lá e em Campinas, Ponte Preta, no campo da Ponte.
Lá a praça de guerra também é pesada.
P - Uma cidade tranquila?
R – Tranquila.
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Falar francamente, ó, tem várias: Jáu é fácil chegar lá, Bauru, nós fomos essa última vez foi muito bom, o Noroeste de Bauru nos recebeu muito bem.
E muitas cidades aí, Ribeirão Preto agora tá mais calmo, muito bem recebido, pode ser que influência do Raí, né? Hoje nós somos muito bem queridos lá também, muitos são-paulinos, tem bastante.
E a cor do Botafogo é a cor do São Paulo.
E as viagem que eu gostei mesmo mais, gosto até hoje é Bauru.
P - Por quê?
R - Porque é uma cidade que eu me senti bem lá.
E a proporção de ser muito longe é aonde que eu tenho muitos associados lá, muitos filiados lá.
P - Da Independente?
R - Hoje da Dragões, né?
P - Da Dragões.
R - Hoje da Dragões.
A Independente hoje é uma torcida grande.
Hoje está sendo uma das maiores do Brasil, a torcida do Independente, eu hoje sou da Dragões.
P - Sei.
Você ficou na Independente até que ano?
R - Fiquei até 83 praticamente.
Oitenta e três, em oitenta e quatro eu fui pra Dragões da Força Jovem.
P - Por que é que você saiu da Independente e foi para Dragões?
R - É que eu briguei com o presidente hoje, Nelson Novaes Nardini (risos).
Uma briguinha de nada, eu tinha convidado a torcida pra ir lá e aí eu falei: “não eu vou sair da torcida que eu vou pra uma outra pequena que pra mim é muito mais fácil”.
A Força Jovem eu estreei foi em Santo André, como presidente da torcida, aí eu levei essa molecadinha, que muitos hoje são casados até, tudo formado.
Eles nasceram tudo pequenininho com doze, treze anos era tudo Força Jovem, eu já levava eles pra viajar pro Rio de Janeiro, já era responsável, eu mesmo era responsável pelos torcedores.
P - E os pais não criavam caso?
R - Não, eu falava que “eu vou me responsabilizar” e eles confiavam em mim e nunca deu problema, porque a torcida nossa era tudo muito comportada.
P - E qual foi, quando foi esse jogo em Santo André?
R - Santo André? Foi a guerra das pilhas, eu me lembro, acho que foi um a um.
P - Guerra das pilhas?
R - É, porque, quem entrava, pra entrar no estádio tinha dar uma pilha, entrava de graça.
É, entrava de graça.
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Eu lembro que estava chovendo, o estádio lotado não tinha lugar pra torcida do São Paulo e aí eu, eu naquela época já era meio bravinho, entrei na marra fui lá ao meio do gramado e falei: “agora vou exigir a torcida do São Paulo para entrar”.
Estavam todos lá fora, e aí a hora que nós entramos lá quebramos o maior pau, guerra de pilha.
Pilha, é.
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P - A torcida tampou pilha em vocês?
R - Jogaram pilha em nós.
Foi a época que o Marinho era presidente da Federação que faziam essas promoções.
Não precisava pagar ingresso, era pilha Rayovac no caso, né? E mesmo assim nós paramos o jogo lá, fizemos nós entrar no estádio torcer pro São Paulo.
Entramos, mas quebramos o maior pau lá dentro.
P - Você fazia?
R – Eu.
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Em setenta e oito, primeira firma que eu trabalhei em São Paulo foi na Fiatallis, trabalhei na.
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Trabalhei na Fiatallis, almoxarife.
E eu morava na pensão do bairro do Ipiranga, bairro Ipiranga.
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E final de semana eu ia embora pra Mogi das Cruzes, pra casa de meus pais.
Depois dessa época morei no Sumarezinho.
Antes do Sumarezinho morei na Liberdade também.
P - O que você se lembra do Ipiranga?
R - Bairro Ipiranga? Naquela época eu já era torcedor, já carismático, conhecido.
O pessoal já brincava comigo, tinha lá vários sócios do bairro, também eu fazia o cadastro do pessoal.
É que pra ser sócio da torcida precisa ter uma carteirinha de associado e é filiado à torcida, não é qualquer um que pode ser sócio.
P - Mas, como é que era essa pensão que você morava?
R - Era uma pensão, até falando francamente, viu? Só deu briga lá, viu? Uma “brigaida” lá, os caras me quebraram a minha televisão, que só punha no jogo do São Paulo.
Eram uns mineiros que moravam lá e um dia lá num carnaval me quebraram toda a minha televisão (risos).
A briga foi feia lá.
Eu também não dei moleza não, dei umas porradas neles, eles estavam.
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Eles estavam tudo com cara inchada.
E foi isso aí que aconteceu nessa pensão.
Aí depois eu fui embora, fui pra Liberdade.
P - E lá você morava em casa? Onde você morava?
R - Era casa mesmo.
Nessa casa, na pensão da Liberdade é por causa também que eu trabalhei pra revista IstoÉ, eu fui vendedor de assinatura da revista IstoÉ, vendedor de título de clube, e depois na.
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Vendia também título do São Paulo, naquela época nós podíamos vender título do São Paulo.
Depois fui pra Sumarezinho.
Sumarezinho é minha casa lá, alugada.
Até hoje moro lá, desde 88 até agora.
Por causa de um são-paulino que o filho dele era são-paulino era sócio nosso e aí eu perguntei se ele não tinha mais casa pra alugar.
Ele me pegou e me alugou pra mim, falou: “É um chiqueirinho”.
Chiqueirinho nada, a casa tá boa, no Sumarezinho, até hoje moro lá e final de semana moro em Mogi das Cruzes.
P - E você mora sozinho, ou você é casado?
R - Eu moro sozinho, sou solteiro.
Sou solteiro e graças a Deus eu não tenho dor de cabeça.
Pretendo casar futuramente, mas casamento que dê certo, pra casar pra dar zebra eu não faço isso.
P - Então você tem que casar com são-paulina.
R – É, são-paulina, justamente.
E inclusive já tive namorada são-paulina, né? E me traíram meu, me traíram e inclusive nem quero contar essa história, deixa pra lá, é coisa particular do passado já.
P - E você já teve namorada que torcia pra outro time?
R - Eu?
P - É, namorada corinthiana, palmeirense.
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R - É, graças a Deus, nunca.
Eu nunca tive.
Apesar de que eu tenho muitas colegas corinthianas, tenho colega são-paulina, colega.
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Mas mesmo assim, eu sempre namorei com são-paulina.
Eu sempre.
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Tenho futuramente que vou casar ainda com uma são-paulina, não sei como.
Isso pode contar histórias pra outras pessoas, eu não gosto que conte a minha, eu mesmo fico com vergonha de contar a minha vida assim.
Casamento, isso é uma coisa particular, não sei.
P – Ô Aparecido, você contou que quando você entrou pra Dragões era uma torcida pequena e que depois cresceu.
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R - Exatamente.
P - Conta essa história pra gente.
R – A Dragões em oitenta e quatro já estava em minhas mãos, e 84, 85 já uma das melhores torcidas, a primeira era a Independente e a segunda era Dragões da Real.
E em 85 já conseguia oitenta bandeiras grandonas daquelas pra colocar em estádio de futebol, tinha muitos sócios que eram donos, empresários que ajudavam a gente, eu conseguia muitos instrumentos musicais, conseguia vender muitas camisas para associados.
Foi aonde que a Dragões começou a fazer aquela mancha vermelha nos estádios.
Todo mundo conhecia a TUSP, a Independente e depois ficou a Dragões da Real, terceira torcida, né? A TUSP caiu, a Independente cresceu e a segunda ficou nós, mas em 86, 87 foi o ano que explodiu de uma vez a Dragões.
A Dragões ficou com muitos associados, mais de cinco mil simpatizantes.
São Paulo e Corinthians, foi o jogo mais histórico da Dragões, onde que eu consegui um bandeirão, não era tão grandão como hoje, mas consegui muitos patrocínios, muitas firmas, foi aonde que foi o auge da Dragões da Real.
P - Conta a história do bandeirão.
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R - O bandeirão eu consegui muitos panos de graça das lojas, dos empresários, e nós fizemos, pintamos tudo lá no Rio Pequeno.
E.
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Ah! No Rio Pequeno foi onde que tem muitos associados da torcida e inclusive em 87 foi o.
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Começou a cair a Dragões da Real depois do jogo contra o Corinthians.
Porque em 88 foi uma guerra, isso eu falo francamente, que teve um desentendimento com a Independente, por causa de uma faixa no Pacaembu.
São Paulo e XV de Jaú, rasgaram a minha faixa, entendeu? E eu não gostei disso, onde houve uma guerra muito feia.
P - Por que rasgaram a sua faixa?
R - Por quê? Porque dizem que eu estava colocando no lugar deles, da Independente, e aí eu peguei falei: “Não.
Essas brigas não podem continuar, está certo”.
E aí começaram, comecei a perder muitos sócios, os caras estavam querendo levar todos os meus associados para a Independente.
P - Mas antes você conseguiu um monte de associados.
R - Consegui muitos.
P - Como você conseguia esses associados?
R - Como eu conseguia? Em primeiro lugar eu era um brincalhão no estádio, né? Muito bagunceiro, fazia meus discursos, entendeu? Eu.
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P - Dias de jogos assim?
R - Eu gritava bastante, bem alto, fazia a molecada gritar “São Paulo!”, cantar o hino do São Paulo, fazer, trazer escola de samba pra fazer barulho, era uma torcida agitada mesmo.
Era no ginásio do São Paulo que nós também conseguíamos muitos associados, que eu era sócio do clube do São Paulo.
Eu todos os jogos lá, eu ia com a camisa do clube, foi aonde que eu peguei muitos sócios, simpatizantes do São Paulo, foi onde que o São Paulo pegou simpatia pela Dragões da Real e naquela época o presidente Aidar ajudava nós, muito.
Carlos Miguel Aidar levava a gente para participar de tudo no clube, inauguração do Centro de Treinamento, e nas festas do clube, carnaval do clube e onde que eu também me projetava nesse setor aí muito forte.
Foi até 1990 isso aí.
P - Quantas pessoas chegou a ter a Dragões?
R - Na minha época tinha cinco mil sócios.
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Cinco mil sócios.
Aí em 1990 fizeram novos cadastros, 90, 92 ainda fiquei presidente, né? Noventa e dois que surgiu novo cadastro onde houve uma decadência da Dragões da Real.
O São Paulo parece que entrou em uma crise, ficou na repescagem, houve problema de eleição muito grande no São Paulo e eu, como era muito ligado ao Aidar, Juvenal Juvêncio, eu fui praticamente.
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Perdi minha força lá no clube.
Mas aí pra não perder também a Dragões, eu fiz uma nova diretoria, e essa nova diretoria está levantando a Dragões de novo, hoje a Dragões hoje é uma torcida muito respeitada de novo.
P - Aparecido, o que é importante pra uma torcida dar certo, crescer, aparecer? O que é preciso ter?
R - Em primeiro lugar o São Paulo dar acesso para nós entrarmos no clube, certo? Eu.
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Minha opinião é ter um projeto de sócio torcedor do clube, sócio torcedor do clube.
Em segundo lugar, tem que ir à imprensa divulgar a programação da torcida e em terceiro lugar eu acho que o São Paulo tem que fazer o sócio torcedor ter projeção e participar de todas as festas do clube também, com a camisa.
Parece que eles têm medo hoje que a torcida vá ao carnaval do clube, isso é verdade.
O seu Basílio barrou os torcedores do clube, o Aidar não fazia isso, nem o Dallora, nem o próprio Galvão não fazia isso com nós.
Foi aonde que começou a perder muito também a divulgação da torcida, a torcida hoje quer ser de outra maneira, festa de escola de samba, é festa de feijoada, assim pra crescer e divulgar em outros setores, que não é só torcer pelo clube, mas divulgar, fazer a parte social do clube, ter time de futebol de salão e ter também um espaço pro São Paulo.
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O Andrade, ele projetou muito isso aí no São Paulo e as torcidas cresceram bastante nessa época, muito mesmo e na época do Seu Pimenta, ele pode ser um grande presidente, num estou falando mal dele nem criticando, ele foi um presidente até melhor que muitos no futebol, mas a torcida não teve tanto projetos como nas diretoria antes.
P - E ó Aparecido, o que é que precisa ter pra torcida ficar forte em termo de música, bandeira, instrumentos, gente?
R - Em primeiro lugar eu conseguia muitos patrocínios com os políticos, eu conseguia muita força na imprensa, eu fazia as camisetas mais baratas para o torcedor, colocava patrocínio, nem que fosse de político eu colocava.
E a torcida crescia, porque a proporção era de torcedor não tinha dinheiro tinha condições de ter a camisa, hoje as torcidas crescem de outras maneiras (risos).
E eu não vou nem falar pra não dar repercussão, isso eu não quero.
P - De onde que vem o dinheiro da torcida?
R - O dinheiro vem da venda das camisas, venda de chaveirinho, venda de adesivos, sócios torcedores que são sócio-ouro e outras maneiras, os empresários às vezes ajudavam.
Na época minha mesmo ajudava bastante, essa época nós estamos tendo muita pouca dificuldade, muito difícil de arrumar empresários.
P - Qual é a vantagem de uma pessoa fazer parte de uma torcida organizada?
R - A vantagem.
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A torcida.
Como você gosta do time do São Paulo, eu gosto.
Eu.
E o sócio torcedor hoje tem um privilégio, o torcedor tem.
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Paga metade do ingresso no Morumbi, esse privilégio eu tenho e a torcida que aí está, essa época está mais difícil para ir a todos os jogos, estão muito caras as coisas, a economia não está fácil, então o sócio torcedor tem essa regalia.
Foi aonde que as torcidas.
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Também pra ir a todos os jogos tem que ser sócio da torcida e se esforçar também, nós vamos lá só.
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Dizem muitos aí que nós vamos lá só pra brigar, é tudo mentira.
Tem imprensa aí que é corinthiana aí que só pensa que nós somos briguentos, que tem que acabar com as torcidas organizadas.
Acabar com as torcidas organizadas não, eu sou a favor sabe do que? Por uma lei para as torcidas então, pra todas, na Federação Paulista de Futebol com os clubes e a torcida vai ter que respeitar as normas do clube, o futebol não tem dezessete regras, como as torcidas não podem ter as suas regras.
P - Que regras você colocaria nas torcidas? Que tipo de regras?
R - Em primeiro lugar: disciplina.
Em segundo lugar: o associado ter que ser filiado à Federação também.
Terceiro lugar: precisamos, o torcedor não precisa ir a todos os jogos, mas mesmo assim o torcedor que for indisciplinado, fazer qualquer briga, assim grave, não precisa ser briguinha, que isso é normal, briga grave, ser expulso.
Isso nós fazemos na torcida, ser filiado à Federação que, um, por exemplo, matar uma pessoa no estádio de futebol, isso que é o mal.
P - Ô Aparecido, você acha que a questão da violência é por causa, é um fruto da torcida organizada ou não?
R - Isso aí, eu falo francamente, que não é fruto de todas as torcidas, não é de todas, mas parece que ultimamente eles estão fazendo esse projeto muito diferente nas torcidas organizadas.
A torcida que é mais briguenta cresce mais, a torcida que não briga é uma torcida fraca.
Está sim o negócio, então isso é que o caminho das torcidas está levando a isso.
As torcidas que mais brigam que estão crescendo mais, que tem mais sócio, que tem mais camisas na rua, e as que não brigam não tem nada também e ficam pequenas.
P - Quando você começou a ir ao estádio, as torcidas já brigavam assim?
R - Já.
Uma vez eu tive um briga feia com a torcida do Palmeiras, muito feia.
A Mancha Verde com a TUSP na frente do estádio do Morumbi, eram umas oito horas da noite e o Morumbi já estava quase fechado, tinham quatro elementos só a Mancha Verde e a TUSP estava esperando os são-paulinos pra pegar, aí foram pegar o Hélio Silva que era da TUSP.
E eu, como são-paulino, na época fui dar uma força lá na briga, veio cinquenta pessoas em cima de mim, quiseram me linchar, eu.
Aí o Cilinho comprou a briga, estava lá era o Cilinho, técnico do São Paulo, e como técnico do São Paulo foi lá ele me proteger, eu.
Jogou a caminhonete em cima dos torcedores para afastar, né? Já tinha mais de quinhentos torcedores, eram dois ônibus lotados.
Aí jogaram tijolo em nós, pedras, fizeram a maior arruaça lá em frente do estádio.
Então que aconteceu, nós fomos lá se proteger contra os “porcos” mesmo, foi o que aconteceu, Cilinho levou uma tijolada no ombro e quebraram toda a caminhonete do homem, então não tinha condições, nós afastamos e fechamos os portões na marra.
E é isso que eles querem, aparecer em jornais.
Acho que toda a torcida que briga pra sair no jornal, melhor nem a imprensa fazer divulgação.
Faz.
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As torcidas estão precisando sabe de que também? De premiação, que tínhamos antigamente, a torcida mais comportada receber prêmios.
A Federação fez isso uma vez e a melhor torcida foi a Dragões da Real e a Gaviões da Fiel.
P - Que prêmios vocês recebiam?
R - Recebemos um prêmio em dinheiro, aí ajuda a torcida, em vez de procurar violência, as autoridades do clube, autoridade da Federação tem que promover as torcidas em comportamento e também divulgar coisas boas da torcida.
Antigamente nós tínhamos isso aí e hoje nós não temos mais nada.
Proibiram nós de colocar bandeira, proibir colocar papel higiênico, pó de arroz, proibiram tudo isso no estádio, então, papel picado, a torcida não tem nada pra fazer no estádio, tem só pra ver briga mesmo e ver o time ganhar, isto é verdade.
P - Bem, vamos consertar a luz aqui, pega uma aguinha pro Aparecido.
Quer uma água, Aparecido?
R - Eu não tomo água.
P - Não toma água.
R - Não, só depois.
Precisava era tomar uma cerveja mesmo (risos).
P – Ihhh.
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Cerveja não tem agora não.
R - Não, não quero agora não, eu estou brincando! Cerveja agora eu não quero (risos).
P - Essa bandeira que vocês fizeram, como é que foi? Do início até a hora de estender no jogo.
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R - O bandeirão? De 87 ou de agora? Que nós temos outro bandeirão que foi proibido no estádio.
P - Dos dois.
R - O primeiro bandeirão que eu fiz era médio, era até um bandeirão que, muito bonito até.
Esse bandeirão aí trouxe mais associados ainda, e a molecadinha, a criançada gosta de festa, por isso é que eu estou falando: o futebol está virando muito torcedor carrancudo, fechado.
Na minha época não, nós éramos todo mundo alegre, tinha mais festa, arruma sacolinha plástica, aquelas bugigangas lá pra fazer a festa, papel picado, era.
Tudo nós tínhamos, hoje nós não temos nada no estádio é só, pra dizer que não tem nada só os instrumentos que estão liberados e isso também que estragou o futebol.
Para fazer uma organização, o futebol tem que voltar ao que era antes, problema de limpeza, isso aí eu até falo com os torcedores que nós colaboramos e vamos lá limpar o estádio, a festa era importante naquela época.
Foi o visual que cresceu a bem torcida, eu arrumava papel higiênico ali na Rua 25 de Março, arrumava sacola plástica, bexigas, apitos, tudo isso era festa pra torcida e hoje não, hoje nós vamos lá com meia dúzia de instrumentos e pronto.
P - Desculpa, mas hoje não tem uma movimentação com as mãos que também fica muito bonita?
R - Visual?
P - Um visual muito bonito, o que você acha disso?
R - Isso falta, nós estamos perdendo a criatividade no estádio, as torcidas, mesmo, assim, as grandes torcidas estão inventando outros negócios.
P - Por exemplo?
R - Com mão mesmo, agitar assim.
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Entendeu? Então tem outras criatividades, mas o que nós tínhamos naquela época, dos chocalhos, tínhamos tudo, sacola plástica também que agitava bem a torcida, e, as bexigas também que dá um visual bonito e o grito de guerra que hoje é o que está mais chamando as torcida mesmo é grito de guerra.
P - Fala uns gritos de guerra pra gente (risos).
R - (cantando) “Sou da Dragões eu sou, vou dar porrada eu vou! E ninguém vai me segurar, Dragões Real!” Depois tem outra: (cantando) “Lê, lêleo, lêleo, lêleo, lêleo, lêleo, lêleo São Paulo!”.
Então tem várias musiquinhas.
P - Eu soube que já fizeram uma pra você também.
R - Ah tem, a minha é de palavrão.
P - Não, e uma outra.
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R - A outra (cantando): “Três, dois, um, Aparecido é ‘bebum’!” (risos).
Que eu bebo mesmo gosto de ir ao estádio para beber cerveja também (risos), porque a gente vai pra animar o pessoal também, né?
P - Ô Aparecido, das bebidas qual a que você mais gosta? É a cerveja?
R - É a cerveja, a cerveja está no número um, é mais cerveja mesmo que eu tomo.
Quando.
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Sempre que o time vai jogar, antes do jogo e depois também.
Ah esta vez perdi pro Palmeiras, pensa que eu fui chorar lá em casa? Não fui não, fui tomar cerveja para mostrar para os palmeirenses que ninguém estava com medo e que o São Paulo já ganhou muitos títulos e nós ainda estamos pra disputar mais um agora lá no Japão.
R - Ô Aparecido, quando você começou a beber?
P - Quando?
P - É.
R - Eu comecei a beber mesmo foi, foi em 80, já na torcida Independente.
Oitenta e depois agora, também só bebo em dia de jogo, dia de semana mesmo é difícil eu beber, só bebo dia de jogo, e depois vou comemorar nas lanchonetes, que vai divulgando a torcida.
Hoje eu sou conhecido muito nas lanchonetes de São Paulo.
P - Que lanchonetes você vai?
R - Vou ao Garrote, no Sujinho, tem o Coparola, Gonçalito, eu tenho.
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Como vendedor de lanchonete também, eu tenho muita facilidade, sou muito conhecido no meio das lanchonetes, tem lá da Augusta que eu vou bastante, mas só dia de jogo também.
P - E por que que você gosta mais da cerveja e não do vinho, da cachaça.
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R – Ah, eu sou de uma opinião: uma cerveja bem gelada mil vezes melhor.
Dá pra fazer horas e ainda você consegue enrolar (risos) o dono do bar.
Uma pinga não, quanto mais beber você fica mais bêbado rápido, a cerveja eu consigo beber umas dez e não fico bêbado.
P - E Aparecido então você estava falando da bandeira, você não falou o tamanho dela e como é que você.
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R - A primeira ou a segunda?
P - A de 87.
R - Era uma bandeira mais ou menos de quarenta metros por cinquenta.
Quarenta por cinquenta, era uma bandeira bem respeitada, era Dragões da Real Força Jovem e tinha um dragão, e o símbolo do São Paulo no meio e esta bandeira já não existe mais, já ficou podre, já usaram muito ela, muita chuva que tomou também, nós tomamos muita chuva nos jogos.
P - E como é que você estende a bandeira no jogo? Ela chega enrolada e aí abre, quando?
R - A gente.
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Ela vem toda enroladinha, depois pega o pessoal na ponta, uns seis em cada ponta, e vai abrindo ela, vai segurando e o pessoal vai pegando na lateral e aí abre ela todinha.
Nós tínhamos uma pra estrear agora, não deu.
Ninguém vai ver, só vai ver o ano que vem.
Justamente, nós íamos estrear contra o Palmeiras, a polícia não deixou.
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A polícia não deixou, ia ser a bandeira mais bonita, ia ser um espetáculo no jogo contra o Palmeiras.
P - E porque a polícia não deixou?
R - Foi uma briguinha que teve antes do primeiro jogo aí, São Paulo e Palmeiras, e a polícia pegou molecadinha (riso), jogaram pedra na molecada, não, a molecada jogou na polícia e aí de bronca eles pegaram fizeram esta punição pra nós.
Não deixaram.
P – O que tem esta bandeira? O senhor pode falar pra gente?
R - Essa bandeira?
P - É essa que a gente vai conhecer o ano que vem.
R - Não, vocês podem até filmar para por, para colocar lá, nos estenderemos no Morumbi.
É um dragãozão, bem grandão mesmo, e o dragão soltando fogo e o símbolo do São Paulo aparecendo, uma coisa muito bonita e ninguém pode ver.
Inclusive a torcida com esse bandeirão ia crescer mais ainda, sócios.
P - Por que é que a.
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Por que você consegue mais sócios com um bandeirão? O que acontece?
R - Porque o bandeirão vai sair toda a vez que o time faz o gol.
Por exemplo, gol do São Paulo, a Globo, as televisões vão filmar, vai filmar o bandeirão, a torcida, a hora que está abrindo o bandeirão e não é só isso, né? O visual da Dragões é vermelho única torcida que usa o vermelho no São Paulo somos nós, e eu sempre acreditei que o vermelho ia ser o visual mais bonito do estádio, que o branco dá um visual bonito, o vermelho é melhor ainda chama mais a atenção, e juntaria, unir todos os torcedores de novo que a Dragões já tinha na minha época.
Só tem mais de dez mil camisetas vermelhas e os torcedores pegam e escondem as camisas com medo de ficar com a camisa no estádio, aonde nós temos o projeto de fazer o seguinte: nós pegamos o torcedor, vai ter a sua camisa dentro da sede para passar a usar só dia do jogo.
P - Chega lá pega a camisa.
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R - É e usa lá, pronto.
Ainda não tem jeito do cara escapar com a camisa e ir embora pra casa, ai o visual vai voltar a ser grande, que a arquibancada do Morumbi cabe várias torcidas organizadas.
Cabe.
Então, eu acredito que o único projeto que nós vamos fazer quando estiver filiado à federação, tudo organizado, cada um tem a sua camisa, seu bonezinho, porque eu acho que vai ser a coisa mais organizada que dá pra fazer.
O torcedor vai embora sem camisa de volta, se ele levar embora então não fica mais sócio da torcida, onde tem o compromisso de ir a todos os jogos.
Então não quero que o torcedor vire fanático, só viver de futebol, né? Tem que trabalhar e estudar, principalmente a criançada, eu neste ponto eu sou a favor de os jogos serem muito poucos, só quarta e aos domingos porque tem jogo toda terça, sexta, domingo e isso é uma baderna total, isso atrapalha o trabalho da gente, e atrapalha os estudos.
P - E o que é que você acha do time do São Paulo hoje? Como você define o time do São Paulo hoje?
R - O São Paulo é o clube mais estruturado, que projetou mais atletas, que tem uma escola e estrutura de primeira linha e eu acompanhei muito a molecadinha na taça de juniors do São Paulo.
O São Paulo é que tem alojamento, que dá boa alimentação aos atletas, tem diretoria que, qualquer uma que entrar lá, tem ótima administração, todas que passaram lá não podemos nos queixar de nenhuma, e é nessa estrutura que o São Paulo dá força para as torcidas também sempre estarem avante a tudo.
O São Paulo hoje é proporção que está crescendo demais no interior, em todo o Brasil.
Fomos lá a Aracaju e tinham muitos torcedores do São Paulo, nem parecia que nós estávamos noutro estado, parecia que nós ficamos à vontade lá e eu achei uma coisa muito admiradora nisso aí, o São Paulo é o clube que futuramente vai ser a maior torcida do Brasil.
E já é, né? Está em terceiro do Brasil já, né? Do Brasil, e a proporção é crescer no Nordeste o São Paulo, não no Sul.
P - Por que a torcida do São Paulo cresceu tanto?
R - Cresceu justamente por vários títulos que ganhamos, é a participação do São Paulo aí nos mundiais, dessas Supercopas, da Taça Libertadores.
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Deu essa abrangência total pro São Paulo ter um nível de crescer sua torcida que está participando mais dos jogos na televisão, eu mesmo, se não fosse o futebol, eu não ia nunca pra Argentina.
Eu fui à Argentina, fui ao Paraguai assistir o jogo São Paulo e Newells Old Boys e São Paulo e Cerro Porteño, então foi tudo isso, acontece que é o torcedor também, ele vai sentir que não é só os torcedores que fazem torcida que podem viajar, eles também vão ter chances.
P - Ô Aparecido, quantas.
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Você foi pra fazer essas viagens de ônibus, de avião, de que é que foi?
R - Foi tudo de ônibus, a viagem inteira fomos de ônibus.
P - Quanto tempo demorou?
R – Trinta e oito horas.
Uma viagem longa, essa viagem aí não foi difícil também, a gente leva uns lanches, leva uns “mézinhos”, né? Dá pra divertir bastante até, então a gente leva um sambinha, os caras.
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A gente vai viajando pelas estradas vai conhecendo tudo.
Eu mesmo, quando eu viajo com motorista de ônibus eu fico lá na frente, eu quero conhecer tudo, sou curioso de conhecer todas as cidades e eu vou aprendendo muitas vezes, conhecimento geral, de muitos lugares dos estádios eu que conheço mais porque eu já viajei por toda essa parte.
P - E ao Paraguai como é que foi?
R - Paraguai foi uma viagem até meio.
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Não foi muito tão boa como na Argentina, muita chuva, muitas barreiras e é uma.
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Justamente como dizem, né? O Paraguai não pode comparar ao Brasil então o país está crescendo agora, e lá os torcedores de São Paulo tiveram muitos problemas, brigaram entre os cerro portenhos, houve briga feia lá, quebraram o nosso vidro do ônibus também, o vidro da frente ainda e pra passar na divisa nós tivemos que passar de madrugada, e aconteceu que a gente foi lá e enfrentou.
Libertadores não é só flor, é guerra mesmo, e dá guerra feia.
Eu vi os diretores lá, sendo roubados lá, no Paraguai, vi.
Resta ao São Paulo apoiar os torcedores, mesmo organizados, põe coragem para não ter medo não, jogaram rojão em nós lá, tudo, pedra.
Não tivemos medo não, enfrentamos eles com chuva e tudo, empatamos zero a zero e fomos classificados pra final.
P - Ô Aparecido, me diz aqui, tem outros lugares, assim, fora da América Latina que você foi? Você foi no.
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R - Não, só foi nesses dois.
Dois países, só dois mesmo.
P - E Equador? Você nunca foi?
R – Não, porque nunca fui, nunca fui de avião pra lá.
Aliás, as torcidas organizadas para viajar de avião com a diretoria, eles tem que convidar um só, então a gente sorteia a passagem, então pro Japão, por exemplo, vai o Renato Rondini, hoje o presidente atual da Dragões.
Então ele vai representar nós lá no Japão e a Independente vai ter um representante, Sampashow vai ter um representante, mesmo assim só pra representar, agora tem muitos torcedores que vão por conta própria, viagem assim pra Colômbia eu nunca fui nem pro Equador, nunca fui porque também não, é que.
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Se eu quisesse ir eu poderia ir, mas tem que ir com a diretoria, ir sozinho de avião também não dá, né?
P - E o que você acha do time do São Paulo hoje? O time que está jogando?
R - O time? Ah acho que é um dos melhores times que o São Paulo está proporcionando, coisa que no ano passado venderam um Pita, que saiu de lá, o outro lá, como chama? Está lá no México, Pintado, um grande jogador, Raí.
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Então o São Paulo agora está formando outro time, e esse time aí tem.
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E nós também, torcedores, não podemos exigir agora, tem muito jogador novo lá: o André, o Doriva.
São todos jogadores novos.
Mesmo assim, o São Paulo com fé vai ganhar esse jogo no Japão, temos fé, se nós não tivermos fé quem vai ter? Eu estou sabendo que muitos torcedores do Brasil, não do São Paulo, de outros times estão torcendo pro Milan.
Eu estou sabendo, que eu ando na rua o dia inteiro eu estou sabendo disso.
E eu acho que o São Paulo vai dar uma volta por cima, está certo? Porque perdeu pro Palmeiras agora, mas vai ganhar esse jogo.
P - E de todos os jogadores do São Paulo, qual que você acha, que você viu jogar, qual que você acha um dos melhores?
R - Ah, eu.
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De hoje ou de.
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P - De todos que você viu jogar.
R - De todos.
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Eu gostei muito do Oscar, Darío Pereyra.
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Foram muitos grandes jogadores, Leonardo, hoje jogador nosso, Cafu, muito bom, o Zetti, goleiro do São Paulo, temos o Careca, que naquela época jogou muito bem, fez um gol em 86 que deu o título pro São Paulo, o brasileiro.
Foi um dos jogos mais emocionantes que os torcedores de São Paulo viram, eu também achei.
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P - Por que, hein? Que esse jogo foi muito emocionante?
R - Porque foi no último minuto que o São Paulo fez o gol na prorrogação, que foi pros pênaltis, e aí ninguém estava acreditando que o São Paulo ia ganhar aquele título do Guarani e a onde que a torcida também invadiu lá.
Que o São Paulo, naquela época do Aidar, a gente invadia o interior.
Em Campinas nós levamos trinta ônibus de uma vez.
No Rio de Janeiro uma vez levamos cinquenta ônibus.
Que os empresários naquela época davam uma força, não ia só torcedor da organizada, quem fosse com a camisa do São Paulo ia viajar e aonde que os empresários também ajudavam bastante a gente.
P - Aparecido o que é, por exemplo, torcer num jogo na chuva? Na chuva o tempo todo?
R - Ah, como é torcer? Nós tomamos uns “mézinhos” lá e tomamos banho de chuva, toma uma.
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Quem tem tequila lá, tem que tomar tequila pra.
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Pra gritar o jogo inteiro, tem que, e como diz o ditado, tem que ficar em pé o jogo todo e pulando, animando o torcedor porque senão.
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Uma chuva de verão até que é gostoso, mas uma chuva de frio não é brincadeira não.
Então a gente faz as brincadeiras, os discursos, as palhaçadas lá para o pessoal ficar animado.
Parece que a.
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Que eu tenho até minha musiquinha feia, que eu inventei que não tem rima, não tem problema.
Posso cantar ela?
P - Ah, canta!
R - (cantando) “Na chuva, no sol, Dragões chegou e arrepiou (risos)”.
Essa música a gente anima o pessoal, a gente tem cantar algumas músicas sem rima.
P - E Aparecido, conta um fato engraçado que você já viu aí no estádio?
R - Eu?
P – É! Umas coisas engraçadas que você já viu entre torcidas.
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R - Eu já vi.
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Na minha época, quando era presidente, a gente tinha recursos bastante.
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Divertia, levava o pessoal pra tomar cerveja, então o pessoal animava, né? Eu lembro que uma vez eu estava de cueca lá tomando banho de chuva, os policiais todos doidos comigo.
Falei: “Deixa nós se animar meu, é banho de chuva não tem nada de mais!”.
E aí o pessoal, o pessoal já tá tudo revoltado mesmo tomando banho tudo de chuva, deixava só o calçãozinho e estava lá e aí eu tinha que fazer as palhaçadas lá.
É isso que é o futebol também, né? Vou falar que, hoje pode ver que nos outros países os caras usam fantasias e tudo, aqui no Brasil nós não usamos fantasia, nem de palhaço nem nada, que é o estilo das nossas torcidas.
É mais bateria, escola de samba, mas poderia fazer uma promoção uma vez, torcedor que for fantasiado ganhar um prêmio, pra animar os torcedores, não é só os jogadores que tem que animar.
E outras coisas, no futebol também em muitos jogos as torcidas estão revoltadas, foi por causa de juiz de futebol, prejudicam jogos, né? Já teve um jogo lá no Pacaembu, que nós fomos torcer pro Santos Futebol Clube, fomos obrigados a torcer pro Santos, dependíamos da classificação.
O Cruzeiro precisava perder e o Santos precisava ganhar pra nós classificarmos, aí o que aconteceu o juiz, Roberto Wright, aos 48 minutos do segundo tempo deu gol pro Santos, não deu gol pro Cruzeiro e aí o que aconteceu: nós, que éramos do São Paulo, fomos em peso lá no jogo, quebramos o maior pau lá, maior briga meu, e eu fui o primeiro que briguei com os policiais.
Não que eu queria brigar, porque foi uma revolta, além de torcer pro Santos ainda ser debochado do Santos e Cruzeiro, o São Paulo não levou desaforo de gente nenhuma, foi a maior briga da história do Pacaembu.
P - Aparecido, você já foi preso muitas vezes?
R - Eu? Eu fui umas três vezes por causa de briguinha com o Palmeiras.
P - Sempre com o Palmeiras?
R - Sempre com o Palmeiras.
Eu tive muita sorte, eu nunca briguei com corinthiano, não sei por que, eu nunca briguei.
Inclusive aquele jogo que teve no nacional, os caras da Gaviões queriam pegar uns são-paulinos lá e eu falei pros caras da Gaviões: “Não pega o pessoal não”.
O pessoal me conhece justamente por causa do.
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Justamente do congresso das torcidas e eu também evito briga, por mais que.
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Eu não sou de brigar muito, só na hora em que a cabeça está quente mesmo que a gente briga, mas é muito difícil.
Eu não sou muito briguento.
P - Que emoção que você sente quando o São Paulo faz um gol?
R - Um gol?
P - É.
R - A emoção? A gente praticamente fica emocionado só, a gente fica feliz, fica contente, né? A gente fica comemorando a.
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É uma alegria que a gente comemora, a gente fica cinco minutos lá com aquela emoção de alegria.
O São Paulo é clube grande, principalmente quando é debochado a semana inteira, encrencado, aí que a gente fica mais fanático pra torcer.
E aí a gente grita até o São Paulo fazer gol e a galera, quando você consegue ajuntar, fazer a emoção junto mais bonito ainda.
O São Paulo tem uma torcida grande e a torcida do São Paulo hoje grita mais do que antes, antes tinha que bater neles pra eles gritarem, era verdade.
Eu batia mesmo, falei: “Vai gritar São Paulo, tem que gritar, aqui não é cinema, nem teatro, aqui é estádio de futebol, e estádio de futebol é pra gritar, entendeu?”.
P - É pra torcer mesmo.
R - É pra torcer.
P - Oh Aparecido nós já estamos terminando o depoimento e eu queria saber o que você está fazendo hoje? Você tá trabalhando.
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R - Ah, eu sou hoje vendedor atacadista, eu vendo balas, chocolates, chicletes pra lanchonete, restaurante.
Eu vendo embalagem marmitex no atacado, eu tenho um preço muito bom, eu consigo muita freguesia e eu também faço uns bicos aí, né? (risos).
P - Que bicos? (risos)
R - Bico é o seguinte: eu pego e vendo camisa da torcida pra um são-paulino que está na rua e que conhece, que quer camisa, adesivo, eu vendo, mais vendedor de tudo.
E eu faço também campanha política às vezes, pra alguns candidatos.
Eu vou lá à, no.
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No comitê, eu sou muito procurado, fiz muita campanha do PDS, principalmente do Maluf, eu faço mesmo e até hoje eu farei.
O Maluf do PDS ajudou muito as torcidas também, está certo que agora está meio parado, mas se eu for lá ao comitê dele eles lembram muito que eu fiz muita campanha.
Eu faço meus bicos.
P - Você trabalha remunerado fazendo campanha?
R – Faço, e isso aí não tem nada de mais.
Mandar entregar santinho na porta do estádio, mandar fazer camisetas, entendeu? Porque a torcida pensa, depende de todo mundo, não depende só de nós, os políticos às vezes precisam de uns torcedores, porque quem vai votar? É massa humana, e a massa humana tem que ter esse privilégio.
P - Aparecido, pra terminar, qual é o seu maior sonho?
R - Meu maior sonho?
P - É.
R - Era ser sócio do São Paulo de volta, que eu vou voltar a ser sócio do clube, mas eu quero em primeiro lugar que o São Paulo faça o sócio torcedor, o cara que é são-paulino e sócio torcedor, existe no Grêmio porto-alegrense e poderia fazer aqui no São Paulo e o sócio torcedor pagar menos ingresso.
É um privilégio que o São Paulo var voltar a ser grande na social também, isso é que eu estou preocupado, que a social.
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Se eu estiver vivo, ainda com sessenta anos eu quero ser conselheiro, está certo que eu interrompi meu o título, mas é por causa de uma bronquinha, mas eu volto, volto tudo atrás e vou voltar a ser conselheiro.
P - E Aparecido, qual foi uma grande emoção, assim a maior emoção que você teve na sua vida, boa ou ruim, que te mexeu lá dentro?
R - Emoção?
P - É.
R - Eu juro por Deus, a maior emoção que eu fui presidente seis anos da torcida, né? E nesses seis anos sempre tive sorte, sempre o São Paulo foi campeão, teve vários títulos e é uma coisa que, eu ando nas ruas de São Paulo, todo mundo me conhece, tratam como “Cidão”, Aparecido, tudo são-paulino.
Em Mogi das Cruzes também, muitos me conhecem de são-paulino, e eu admiro isso aí, aonde eu vou eu sou conhecido como são-paulino.
E gostaria também que o São Paulo fizesse um projeto, voltar a ter um marketing forte, fazer as torcidas vender os produtos do São Paulo também, é uma coisa que na época do Aidar nós tínhamos isso, é isso que eu queria mais, vender o título do São Paulo, carnê do São Paulo, tudo isso eu fazia.
Que para nós torcedores é um dinheiro a mais que entra.
P - E você queria fazer um encerramento, falar uma coisa a mais pra terminar a entrevista?
R - Faremos.
P - Uma mensagem assim pros torcedores do São Paulo?
R - Farei.
Eu quero que a torcida do São Paulo, principalmente a criançada que está nascendo hoje, tudo são-paulino, que continue estudando, continue trabalhando futuramente, mas seja torcedor do clube.
Nas horas do São Paulo torcedor, ir ao estádio em primeiro lugar, não ser torcedor de televisão, de rádio que é lamentável e participar mais das arquibancadas, que é mais importante.
E o São Paulo hoje é um clube que vai ser um clube não só de elite, é um clube de toda a sociedade e isso é que eu desejaria mais pra essa criançada de hoje, mas não deixar de estudar, nem de trabalhar, mas cuidar do São Paulo nas horas e momentos que o São Paulo precisa e ir aos jogos.
Só isso que eu desejaria.
P - É isso aí.
Então Aparecido agora você estica mais que vou gravar a camisa ali, o escudo da Dragões da Real, isso assim, fica reto, assim, assim.
Pera aí, pera aí que eu vou fazer uma gravação (pausa).
Está muito sério Aparecido, pode rir!
R - É campeão, pronto! (palmas) São-paulino!
P - Legal.
Fantástico.
Então Claudinha, a papelada depois se vira.
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R - Convida mais gente pra entrevistar, eu ia trazer a Maquiba.
A Maquiba conhece bem a história do São Paulo também, é uma moça, moreninha, ela foi presidente nos dois anos da Crise, ela foi da Crise.
Ela chama Maquiba, eu não sei onde eu deixei o telefone dela.
P - Eu vou pegar.
Tem que arrumar uma torcedora velhinha.
R - Velhinha?
P - É.
R - Ih, mas eu tenho uma bronca de uma aí, viu?
P - Não, só uma que seja sua amiga.
R – Ah! Tem várias, tem a Dona Inês.
P - Dona Inês?
R - É.
Da Independente, ela é boa.
Que tem a Dona Laura lá, que fazia todas as fofocas que nós fazíamos na viagem e ela vai falar pro São Paulo lá (risos).
É Dona Laura, ela fazia cada fofoca.
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