P/1 – Seu Pedro, o senhor pode falar o seu nome completo?
R – Meu nome é Pedro.
P/1 – Pedro? Fala completo.
R – Pedro Battistella.
P/1 – Qual a data de nascimento do senhor?
R – Dia 10 de novembro de 1916.
P/1 – Em que local o senhor nasceu?
R – Eu nasci no município de Fern...Continuar leitura
P/1 – Seu Pedro, o senhor pode falar o seu nome completo?
R – Meu nome é Pedro.
P/1 – Pedro? Fala completo.
R – Pedro Battistella.
P/1 – Qual a data de nascimento do senhor?
R – Dia 10 de novembro de 1916.
P/1 – Em que local o senhor nasceu?
R – Eu nasci no município de Fernando Prestes.
P/1 – Que fica onde?
R – Fernando Prestes fica pro lado de Catanduva. Eu não sei porque eu nunca mais voltei pra Fernando Prestes.
P/1 – E seus pais são de onde? Seu pai e sua mãe?
R – Meus pais são de Treviso, da Itália.
P/1 – Como é o nome do seu pai?
R – Meu pai chama João Giuseppe Battistella.
P/1 – E a sua mãe?
R – Anna Calloder.
P/1 – Os dois são italianos?
R – Os dois são italianos.
P/1 – Que região da Itália?
R – Do Treviso.
P/1 – Os dois de Treviso?
R – Os dois são de Treviso.
P/1 – Seus avós também são italianos?
R – São italianos.
P/1 – Você sabe o que seus avós faziam?
R – Meu avô trabalhava em posto de tecelagem lá em Treviso.
P/1 – O pai do seu pai ou o pai da sua mãe?
R – O pai do meu pai. O pai da minha mãe eu não sei.
P/1 – E o seu pai fazia o que na Itália?
R – Ele não fazia nada, ele veio com 11 anos.
P/1 – Os pais deles vieram juntos?
R – Vieram. Os dois.
P/1 – Por que eles vieram pro Brasil?
R – Vieram pro Brasil porque lá na Itália eles estavam muito mal. Eram muito pobres, então, abriu esse negócio de imigrantes, eles aproveitaram e vieram. Chegaram aqui em 1888.
P/1 – Vieram de navio?
R – De navio.
P/1 – Seu pai te contou como foi essa viagem?
R – Contou. Foi uma viagem dura, né? Durou mais de mês. A única coisa boa que ele trouxe da viagem é que ele fez amizade com mais três famílias, essas três famílias aqui no Brasil não se separaram, foram sempre, onde ia um, principalmente o meu pai, era tipo de chefe da quadrilha. Só se desfez quando morreram porque até os filhos casaram uns com outro. Das quatro famílias que vieram, o meu pai por exemplo, se casou com uma Calloder, e Callodercasou com uma irmã do meu pai.
P/1 – As irmãs casaram com os irmãos?
R – Não, não era...
P/1 – Da família?
R – A família. Por exemplo, do Calloder, só tinha filhas. Ele teve um filho, mas morreu com 10 anos, ficou só com filhas. Dessas filhas, duas casaram com uma família chamada _0:04:21_, que faz parte das quatro famílias. Outra casou com um (Lugoli? _0:04:32), que vieram os dois velhos e um filho chamado Angelo, só em três. Vieram pra cá e ficamos morando sempre perto um do outro. E o Angelo casou com a irmã da minha mãe.
P/1 – Deixa eu voltar. O seu pai veio nesse navio. Eles chegaram aonde? No porto de Santos?
R – No porto de Santos.
P/1 – E eles foram pra onde?
R – Foram pra imigração.
P/1 – Pra Casa do Imigrante?
R – Pra Casa do Imigrante.
P/1 – E de lá?
R – De lá a primeira parada e saíram com serviço contratado, foram pra Amparo, pra fazenda. Ficaram lá não sei quanto tempo.
P/1 – Fazenda do quê?
R – Fazenda de café. Eles só trabalharam em fazenda de café. Depois mudaram para uma cidade chamada Dobrada, que fica também pro lado de Amparo, lá perto de São Paulo.
P/1 – Isso seu pai, a família do seu pai?
R – Isso o meu pai com os filhos que ele já tinha, né? Depois eles mudaram pra fazenda...
P/1 – Mas sua mãe veio quando da Itália?
R – Veio junto.
P/1 – Ahhh, ela estava no navio também.
R – No navio. Eles fizeram amizade no navio.
P/1 – Mas eles crianças?
R – A minha mãe e meu pai eram crianças. Meu pai tinha 11 anos.
P/1 – E a sua mãe?
R – Minha mãe era um ou dois anos mais nova.
P/1 – Mas quando eles chegaram aqui foram pra Amparo, a família da sua mãe também foi pra Amparo?
R – Foram as quatro pra Amparo.
P/1 – Sempre pro mesmo lugar eles foram?
R – Sempre, pra fazenda que ia um, iam os outros. Aí foram pra Dobrada. De Dobrada foram pra Fernando Prestes.
P/1 – E todos foram juntos?
R – Todos. O sujeito que arrumava o serviço já tinha que arrumar pras quatro famílias. _0:07:11_ eram só três. Meu tio Calloder, que era irmão da minha mãe, ele morreu cedo. Morreu lá onde a gente morava, em Potirendaba. Eu nasci lá em Fernando Prestes, mas de Fernando Prestes nós mudamos pra cidade chamada Potirendaba, que ficava na zona de Rio Preto. Lá ficamos sete anos, eu me lembro bem. E depois dos sete anos, nós, os _0:08:10_ e o _0:08:12_ compraram terras perto de Araçatuba, a 20 quilômetros de Araçatuba, e fomos todos pra lá. Os Calloder como era só minha tia e três filhas, eles ficaram junto com nós.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Quando o senhor nasceu essas famílias moravam perto?
R – Moravam perto, acho que moravam perto, não sei bem, mas moravam na mesma fazenda.
P/1 – E quando você era criança, seu pai conta como era trabalhar na fazenda de café, as dificuldades?
R – Dificuldades, meu pai contava que quando ele começou a carpir, do café ele não falou nada, eles achavam dificuldade, né? Não conheciam nenhum pé de café, mas aprenderam logo e foram trabalhando, trabalhando. E sempre muito pobres. Ali mudamos pra Fernando Prestes, lá ficaram não sei quantos anos, sei que eu nasci em Fernando Prestes e fui pra Potirendaba.
P/1 – O senhor lembra da sua infância em Fernando Prestes ou só a partir de Potirendaba?
R – Não lembro nada de Fernando Prestes. Eu lembro só de Potirendaba.
P/1 – Como era essa cidade?
R – Potirendaba? Potirendaba era uma cidade muito pequena, estava em formação. Só tinha um médico e não tinha nem táxi. O médico pra vir em casa precisou buscar ele a cavalo. Agora é uma cidade boa. Nós ficamos sete anos lá nessa fazenda, eram só nós, as quatro famílias. A fazenda era pequena. Mas foi um lugar mais ou menos bom.
P/1 – O senhor tinha irmãos?
R – Nós éramos em oito irmãos.
P/1 – E como era a casa? Como vocês dormiam?
R – A casa era grande porque era casa de pau a pique, era uma casa feita... Fazia armação assim com, em vez de na madeira, madeira tinha bastante, e a parede tinha os pontaletes e depois uma tira, mais ou menos assim, de taquara, pra poder jogar o barro, pro barro impregnar. Era casa de barro. É duro (risos). E depois de dois anos melhorou um pouco a nossa vida. Primeiro quando o café já tava dando um preço bom eles só aproveitaram um ano porque o fazendeiro enganou eles, não fizeram o contrato, o contrato era só verbal. E quando eles foram lá o café não tinha preço, então em dois anos eles pouco lucraram lá. Depois no terceiro ano que eles estavam lá já deu uma melhorada. Mas aí o fazendeiro cortou a meia e pôs eles como colonos. Como colonos eles pagam uma importância por mês do que eles produzem dentro da fazenda. Menos arroz, milho, essas coisas. No café só podia plantar uma fileira de arroz, um pé de milho cada pé de café. Mas os fazendeiros davam pedaços de terra que eles podiam plantar e colher, quer dizer, arroz, milho e feijão nunca faltou, mas outras coisas era dureza. Era só ovos, nós tínhamos porco, matávamos um porco por mês. E as quatro famílias, no começo, quando matava um porco levava um pedaço assim, um pouco de carne, pras outras três famílias. Isso durou até uns quatro anos, depois a família _0:14:34_ cresceu, eram em 15, eles gastavam mais do que nós, mais do que a minha tia Calloder. Então eles chamaram meu pai e falaram: “Não dá, melhor a gente acabar de distribuir carne quando mata o porco, cada um fica com a parte dele e nada de repartir pros outros porque senão nós temos a cada 15 que matar um porco pra ter carne pras famílias”. E assim foi indo.
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância?
R – A minha brincadeira de infância, infelizmente, acabou cedo. Quando eu tinha nove anos, antes disso, a brincadeira era jogar bola de meia e abaixar vara. E fazer içamento do cavalo que aconteceu coisa que arruinou com a minha vida, né? Eu ia levando o cavalo pra pastar, eu e meu irmão, e tinha um corregozinho pra atravessar. Eu já tinha passado por lá diversas vezes e o cavalo passava andando, né? E esse dia meu irmão correu quando chegou na subida de lá do riozinho, ele correu e o cavalo que eu estava em cima, estava em pelo, só uma corda no pescoço do cavalo, não tinha segurança nenhuma, ele deu um pulo, assim alto e me jogou pro lado de lá da cerca. Eu caí um tombo feio, mas não senti nada na hora. Eu subi, peguei o cavalo, montei e fomos até onde eles comiam, onde tem um capim muito bom. Mas aquele tombo, depois de quatro, cinco dias, ele se transformou em dor e febre, começou aqui nesta perna. Dor e febre e a perna começou a inchar. Ali veio o médico cortar, só tinha aquele lá. Ele falou: “Aqui não tem nada a fazer, aqui precisa arrancar”. Aí, ele abriu, saiu aquela quantidade de pus e já passou a dor, inclusive a febre. Mas demorou poucos dias e começou a doer aqui, bem na virilha e aqui no quadril. Começou a doer, doer, ali formou dois focos que explodiram sozinhos. Só com coisa quente. Remédio pra isso não tinha. Sabe o que é osteomielite? Osteomielite é uma doença que começa na medula do osso e ela arrebenta o osso. Por exemplo aqui, ela arrebentou o osso e um dia saiu um pedaço de osso onde tinha aberto. E não tinha remédio pra isso. Se naquele tempo tivesse penicilina em dez dias eu ficava bom, mas como não tinha remédio, eu não tomei uma aspirina, não tomei nada e passei mal que eu fique sete meses, sete meses e meio de cama. Três lesões purgando, saindo pus. Aquele pus, só fechou da virilha, que foi o que me deixou a articulação, a doença destruiu a circulação e depois, como eu era novo, ela se refez, mas se refez e não articulou nada, deixou tudo igual. Tanto esse osso aqui, como esse estão grudados, tem anquilosa que chama. E eu comecei a andar manco desde aquele dia, depois de sete meses que eu fiquei de cama.
P/1 – Ficou sete meses de cama desse acidente?
R – Sete meses de cama. O médico não ia em casa porque a gente não sabia o que era, a gente não sabia, nem o médico falou que era osteomelite. E foi assim. A minha infância acabou, não pude mais correr. Até hoje. Bom, mas hoje eu já sou muito velho. Não podia correr, não podia jogar bola de meia, não podia ir nos bailinhos que a turma fazia lá, todo mês tinha um baile na casa de um e de outro. Não podia fazer mais nada, né?
P/1 – O senhor fazia o quê?
R – Não fazia nada.
P/1 – Mas lia?
R – Meus irmãos não deixavam eu ir na roça, então eu ajudava um pouco a minha mãe. Pouco porque a gente era muito machista, sabe, que lavar o prato é coisa de mulher. Agora é que depois que a gente criou juízo que soube o quanto eu era machista, era besta.
P/1 – O senhor estava na escola nessa época?
R – Não tinha escola lá. Eu fiquei sete anos, não tinha escola lá na fazenda. Se eu sei ler e escrever um pouco é o meu irmão mais velho que tinha ido na escola na fazenda que ele morou em Fernando Prestes, em Dobrada. Ele sabia um pouco e ele ensinava pra mim, minha irmã mais nova e pros vizinhos lá daquela gangue. Ele ensinava e fui aprendendo um pouco assim, foi a única escola que eu tive. Depois, quando eu tinha 22 anos eu venho aqui pra São Paulo.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Posso voltar um pouco?
R – Pode.
P/1 – Como era na sua casa? Tinha costumes ainda da Itália, as comidas? Como era?
R – Lá em casa só se falava em veneto. E as comidas eram a mesma coisa que eles comiam na Itália.
P/1 – Que comidas eram?
R – Nós tínhamos cabras. Eu só lembro de ter tomado leite de cabra, é um leite bom. Só tinha aquilo, arroz e feijão à vontade, ovos também tinha à vontade. A minha mãe criava galinha. E carne era mais... Por exemplo, frango só de domingo, quando matava um frango. Carne de porco durava 15 ou 20 dias, mas era cozida e conservada dentro da banha, dentro de uma lata. E de vez em quando alguém matava um boi lá, um bezerro. A vizinha. Era um lugar de pouca gente quando meu pai comprou esse sítio em Araçatuba. E lá só tinha pequenos sitiantes, então, às vezes, matavam um boi e a gente comprava dois, três quilos de carne e cozinhava tudo. Não tinha refrigerador, não tinha nada. A luz só à lamparina e assim foi vivendo até que com 22 anos...
P/1 – Como que era na sua casa? Quem exercia a autoridade, seu pai ou a sua mãe?
R – Meu pai. Era meu pai que fazia ou desfazia as coisas. Depois meu irmão também, meu pai deixou ele, por exemplo, pra tomar conta de muitas coisas, inclusive da turma que, às vezes, a gente contratava pra ajudar lá no sítio.
P/1 – Como seu pai era?
R – Meu pai era um cara meio seco, não era muito agradável, mas era uma pessoa honestíssima e bom com a gente também. Ele chorou mais quando de São Paulo eu vim passear em casa, quando eu vim embora meu pai chorava que nem uma criança porque eu fui o primeiro a sair de casa. Eu fui pra São Paulo depois que eu já tinha 22 anos.
P/1 – E sua mãe, como era?
R – Minha mãe era uma santa. Santa mesmo porque ela teve tempo de morar em casa com quatro noras. Meus irmãos casados, depois uma nora morreu, o meu irmão mais velho casou com uma das _0:27:18_, eles tinham duas meninas e ela teve uma infecção no pé. Na cidade não tinha hospital, ela foi pra casa de um amigo do meu pai lá em Araçatuba, né? O médico foi lá e começou a tratar dela, mas ela tava grávida, teve um aborto da febre do pé, depois deu infecção e ela acabou morrendo.
P/1 – Seus pais tinham costume de contar histórias pra vocês?
R – Não, não. Quem contava história era a minha avó.
P/1 – Que histórias ela contava?
R – Contava histórias da Itália, eu nem lembro. Mas o que mais ela fazia era ensinar a rezar. Ensinar a rezar era o chá dela, a gente tinha que rezar. Ficava em volta dela e rezava (risos).
P/1 – O que o senhor aprendeu a rezar com ela?
R – Aprendi tudo, Pai Nosso, Ave Maria, Salve Rainha e mais não sei o quê lá (risos).
P/1 – E festas na sua casa? Se comemorava Natal, tinha alguma festa que se comemorava?
R – Não comemorava nada. Natal, a única coisa que tinha era macarronada. Meu pai comprava uns vinhos lá, se você abusava ficava ruim (risos), era isso daí. Pra mim foi muito horrível. Quando nos mudamos lá pro sítio não tinha escola lá naquela zona, depois quando eu já tinha 15 anos, aí os sitiantes todos se juntaram e fizeram uma escola. E o município de Araçatuba mandava professora. Meus irmãos mais novos foram na escola, eu já tinha passado da idade e não fui. Ali, por exemplo, eu sabia male mal ler e escrever, né? Mas muito mal, como até hoje. Aí eu fiquei lá no hospital sete meses e ajudava muito lá o hospital. Ajudava tanto na limpeza como nos outros. Eu operei três vezes lá no hospital, depois de dez dias já podia levantar e andar, não tinha nada, mas essa perna aqui não fechada. Essa daqui, a primeira operação já fechou, essa não fechava. Ali operou outra vez. Abriu aqui, eu tenho uma cicatriz horrível aqui e não tenho osso, a cicatriz aqui tá pregada no osso, numa cartilagem que formou. Meu pé não encolhe mais do que isso, isso também não encolhe mais do que isso. Eu não levanto esse pé, não faz isso. Pra subir essa ladeirinha aí eu subi de ré, de frente eu não subia porque esse pé não levanta. E é isso que tá aí.
P/1 – O senhor escutava rádio? Tinha rádio lá?
R – Nós tínhamos um rádio em casa, sim.
P/1 – O que vocês escutavam?
R – Eu me lembro que a gente só escutava a novela. Novela da Globo, Direito de Nascer. Escutava se tinha uma oração, alguma coisa porque era tocada à pilha, menos que ligava, meu pai não queria saber de ligar muito porque gastava a pilha (risos). E assim a gente foi vivendo.
P/1 – E música? Escutava música?
R – Não, não escutava música. Mas rezávamos em casa toda semana, toda semana tinha rosário lá na nossa casa. Meu pai, porque meu irmão ficou muito ruim dos olhos, inclusive ficou com a vista inutilizada, aí ele se apegava com Santa Luzia. Meu irmão mais velho era meio carpinteiro, ele fez um bonito altar e pôs Santa Luzia no altar. A gente rezava toda sexta-feira, juntava os vizinhos e nós e rezávamos. E tinha, por exemplo, uma oração que chamava Di Profundis, que eles cantavam. E a minha mãe e minha irmã Angelina tinham uma voz mais ou menos boa, então, juntavam com os outros e cantavam. Cantavam Salve Rainha. Mas Salve Rainha não em português, meio latinizada, hoje em dia nem sei como que era. E cantavam isso daí.
P/1 – E o senhor lembra da primeira mulher que o senhor se apaixonou quando era criança, jovem?
R – Quando era jovem, não era que eu me apaixonei, eu fui benzer, benzimento de todo jeito. Foi na casa de um caboclo lá, era longe de casa, mas fui de ônibus, já sozinho, tinha uns 16 anos, mais ou menos. E tinha uma moça, não sei se era filha do homem, ou o que ela era, mas era da família. Era um benzedor e quando chegava lá ele tava lidando lá com a criação dele, então eu ficava sozinho lá. E tinha uma moça, chamava Janaína, começava a cantar lá na cozinha. Ela me trazia um café, mas não conversava nada, nem perguntei, só perguntei o nome, essas coisas e ela falou. Nunca tinha ouvido falar em Janaína. E aí eu fiquei gostando dessa moça. Eram dez benzeduras. Aí eu falei pro homem: “Será que você não podia passar pra 15?” (risos). Ele disse: “Não. Se com dez não adiantou nada, então nem adianta”. Aí nunca mais vi a Janaína. Não foi namoro, mas quem despertou na gente o gostar de uma moça. Aí fui pra São Paulo.
P/1 – Por que o senhor decidiu ir pra São Paulo?
R – Porque eu não sarava, então o médico mesmo disse: “Isso daqui precisa abrir, raspar o osso pra melhorar”. Fomos pra São Paulo (interrompido)
P/1 – Quem veio pra São Paulo com o senhor?
R – Meu pai.
P/1 – Veio você e seu pai? Os irmãos todos se mudaram? Quem veio? Quem se mudou pra São Paulo?
R – Não, só foi eu e meu pai. Ninguém veio.
P/1 – Veio só pra tratar.
R – Só pra tratar. Mas como eu fiquei sete, oito meses no hospital e eu ajudava lá, tinha um enfermeiro muito meu amigo, um chefe lá da enfermaria. Tinha uma enfermaria com 40 pessoas. Eu ajudava, ele me ensinava, e me ensinou, inclusive, a aplicar injeção. Ele dizia: “Eu vou falar com uma superiora pra te contratar. Você fica aqui se contrata?”, eu falei: “Fico. Recebendo o serviço eu fico”. Ali a superiora me chamou. Primeira coisa perguntou se eu era católico, se tinha pai e mãe, família, ela perguntou tudo lá. Eu era muito católico, muito carola. E aí ela disse: “Você quer ficar trabalhando?”, eu falei: “Eu quero” “Então, vou te contratar”.
P/1 – Que lugar era esse?
R – Era Hospital Umberto I, perto da Avenida Paulista. Era o único hospital, ele e a Santa Casa em São Paulo, que tinha hospital grátis pros pobres. E aquele hospital era só do Matarazzo, não tinha ninguém. Tinha hospital, maternidade, tinha pediatria, tudo o Matarazzo que fez. Eu vi ele uma porção de vezes lá.
P/1 – Mas vocês ficaram pra morar ou vieram só pra tratar? Isso que eu não entendi.
R – Eu vim só pra tratar.
P/1 – E ficou hospedado onde?
R – Lá no hospital eles davam moradia pra quem morasse longe, essas coisas, então eu fiquei morando lá.
P/1 – O senhor já tinha vindo antes pra São Paulo?
R – Não, nunca tinha vindo.
P/1 – Qual foi a sua impressão quando chegou em São Paulo?
R – Eu fiquei abestado porque a gente não tinha roupa, nada, então já viam que a gente era caipira. Lá no hospital fui mais ou menos bem tratado, me trataram muito bem, apesar de não ter roupa, minha mãe me comprou um terninho lá. Depois lá no hospital puseram dentro de um saquinho (risos) e eu fiquei com a roupa do hospital. Eu fiquei lá e ela falou: “Você vai falar com Fulano de Tal lá na Seção de Pessoal”. Eu falei lá, assinei tudo pra ser funcionário. Isso foi em 1938. E aí eu escrevi pra casa. Meu pai chorou, meu irmão mais velho ficou bravo. “Pai, você quer que ele venha aqui carpir café? Depois ele já fica ruim outra vez. Deixa ele lá, tá no hospital, se ele ficar ruim, eles tratam dele lá. Deixa ele lá, ele fez muito bem”. O único que ficou triste foi meu pai. Ali eu fiquei trabalhando e depois de uns seis meses eu pedi licença pra superiora para ir visitar a minha família. Aquela viagem de linha de trem demorava 24 horas pra chegar lá. Fazia baldeação em Bauru, de Bauru pegava a Noroeste e tinha uma estrada de ferro que passava perto de casa. Essa estrada de ferro foi construída depois que nós compramos o sítio, nós estávamos lá quando construíram. A estrada de ferro passou uns 500 metros longe da nossa casa e a estação era mais ou menos a um quilômetro. E naquele tempo o trem funcionava, não tinha ônibus, não passava, trem resolveu tudo. Depois não sei porque acabaram com os trens. Eu fui em casa, um enfermeiro, meu amigo também, me emprestou um dinheiro e eu fui fazer um terno. Ele telefonou pro alfaiate e falou assim: “Olha, vai lá o Fulano de Tal e o pagamento é por minha conta, pode fazer”. Ele fez um terno bonitinho, bom, paguei 250 reais, naquele tempo não era cruzeiro ainda, era reais. Cheguei em casa todo garboso, de terno bom, comprei camisa. Aí eu fiquei oito dias em casa e vim embora. Até hoje eu to aqui.
P/1 – Aí o senhor voltou pro hospital?
R – Voltei pro hospital.
P/1 – Lá no hospital eles ensinaram o senhor a ser enfermeiro, foi isso?
R – Não ensinaram nada. Eu fiquei três anos no hospital, à noite, tomando conta de uma enfermaria de 40 doentes. Era uma enfermaria que não tinha cirurgia, era só de medicina. O que eu fazia lá? Tinha os doentes que precisavam, se tinha um doente ruim eu chamava a irmã, tinha uma irmã de plantão a noite inteira. A irmã ia lá, se ela via que o caso era ruim, chamava um médico. Se podia resolver com remédio, tudo, ela dava. Mas eu mesmo não fazia nada. Fiquei três anos.
P/1 – E o senhor morava lá no hospital?
R – Morava no hospital.
P/1 – E onde o senhor passeava por São Paulo quando o senhor tinha folga?
R – Aos domingos, geralmente eu ia na casa do meu tio lá em São Bernardo. Eu trabalhava, não tinha folga de domingo, trabalhava domingo, 12 horas, no outro domingo entrava às sete e saía às sete. Aí eu ia lá, almoçava lá na casa da minha tia, irmã do meu pai, lá em São Bernardo. Eles tinham uns filhos maravilhosos, queriam me levar passear pra cá, pra lá. Me levaram uma noite num carnaval em São Paulo, fiquei abismado com o que vi, aquelas fantasias, aquela coisa. O consul era na Avenida São João. Fiquei abismado de ver aquilo lá. Aí eu voltei depois. Eu lia muito à noite, esse meu colega me deu um livro de enfermagem, esse que era chefe de lá onde eu trabalhava. É a única coisa que eu fiz, escrever eu escrevia muito mal. Depois o Ademar de Barros, ele era interventor, foi um bom interventor, e ele via que o serviço de enfermagem no Brasil era uma porcaria, não tinha uma escola de enfermagem em São Paulo. Ele expediu uma portaria que quem tivesse cinco anos de prática em hospitais ou clínicas médicas receberia um atestado de enfermeiro prático licenciado e podia até chefiar uma enfermaria. Eu não tinha ainda os cinco anos, só tinha três anos e meio de hospital. Aí eu escrevi pro meu irmão que trabalhava com médicos lá em Guararapes: “Eu preciso de um atestado assim e assim, que eu trabalhei aí três anos”, eu já mandei a data que deveria por. Ele pôs, o hospital me forneceu a data que eu trabalhei no hospital, quase quatro anos, e mais três anos recebi esse atestado fajuto do médico de Guararapes que eu tinha trabalho de tanto a tanto na clínica dele (risos). Não tinha clínica nenhuma, era só médico. E meu irmão trabalhava lá. Aí eu fui, precisava prestar dois exames, um falado e um prático. Ele marcou a data do exame, o primeiro exame. Não faz mal que eu to contando isso?
P/1 – Claro que não.
R – Ali era um exame escrito. Eles liam uma espécie de história e a gente tinha que copiar o que ele escreveu. Menina, eu nunca tinha entrado numa sala de aula. E tinha mais de 30 comigo. Quando ele apareceu lá e começou a falar eu fiquei tão ruim, não sei. Quase que eu vomito lá. Depois me conformei e falei: “Seja o que Deus quiser. Eu vou fazer o que eu sei aqui”. Até hoje eu não sei o que foi que eu escrevi, né? Ele: “Agora, às duas horas, todos na Santa Casa pra fazer o exame prático”. Pra mim, eles me puseram lá num doente mais ou menos bom, praticamente podia até ir embora, pra fazer uma ventosa. Sabe o que é ventosa, né?
P/1 – Explica. Pode explicar?
R – Aplicar uma ventosa no cara e uma injeção na veia. Eu fiz a ventosa, fiz a injeção na veia, eu já tinha boa prática disso, né? Eu descobri que puxando a pele assim, fora da veia, tirava agulha e a veia não sangrava, que a pele já cobria. E o médico disse: “Muito bem. Você tá aprovado. Agora depende da outra lá. Daqui dez dias você volta aqui pra saber se você foi aprovado ou não”. Eu fui, veio o cara com uma coisa desse tamanho, um envelope assim, com o meu certificado de aprovado (risos). Eu cheguei no hospital e mostrei pra diretora lá: “Olha aqui. Agora eu sou enfermeiro”. E lá os enfermeiros mais velhos, eles comiam separado da operariada toda, só enfermeiro mais velho, algum cara da diretoria que trabalhava lá que ia comer naquela sala. Aí já me passaram pra comer na sala. E assim eu fui ficando lá, fiquei seis anos no hospital.
P/1 – Humberto I.
R – Humberto I. Peguei uma enfermaria que chamava de Terceira, tinha a Primeira, a Segunda e a Terceira, que era a mais barata que tinha. Mas aquela foi construída mais porque já tinha começado esse negócio da rede de seguros, as empresas faziam seguro de acidente de trabalho, então naquela enfermaria já... Era mais gente da Antartica e do Matarazzo. Um ou outro particular, pouco. Lá foi onde que foi um menino com a mesma doença que eu tive. E eu acabei casando com a tia dele.
P/1 – O senhor já tinha namorado antes?
R – Tinha namorado umas duas lá no hospital.
P/1 – É? Qual foi a sua primeira namorada?
R – A primeira namorada que eu gostei chamava Virgínia. E sabe o que ela foi? Ela foi ser freira. Quando ela me falou... Depois eu comecei a namorar uma enfermeira, com aquela enfermeira eu banquei o safado. Ela chamava Diva, eu gostava dela. Ela era um pouquinho mais velha do que eu, mas bonita, eu gostava dela e ela gostava muito de mim. Mas a gente não tinha dinheiro pra alugar uma casa.
P/1 – Você continuava morando no hospital?
R – Eu continuava morando no hospital. Então eu falei pra ela: “É melhor nós largar a mão e você achar um que tenha a possibilidade de arrumar uma casa, que desse jeito não dá”. Ela disse: “Tá bom”. E não é que ela começou a namorar um cara que trabalhava comigo de noite e casou com ele? Aí depois eu comecei a namorar essa tia desse menino que tava lá.
P/1 – Que é a sua esposa?
R – Que é a minha mulher.
P/1 – Como você conheceu?
R – Conheci no hospital, ela foi visitar o sobrinho. Ele tava lá onde que eu trabalhava, eu que tratava dele.
P/1 – Ela foi visitar, como foi o encontro?
R – Ela foi visitá-lo. Ele ficou quase um mês lá. Ela ia lá, não todo dia, mas pelo menos umas três vezes por semana. Ela era atendente num consultório de dois médicos, e esses dois médicos trabalhavam no hospital. E ali foi namorando e a casa da mãe dela tinha um quarto vazio e nesse quarto tinha uma cozinha separada da cozinha da casa, cozinhinha, que acho que quem morava lá cozinhava. Eu casei por causa disso porque (risos) os dois pobres, eu era pobre, ela também era pobre, e casei. E fiz um casamento, felizmente, muito bom. Muito bom por quê? Eu tenho duas filhas que são maravilhosas, são minhas duas filhas, quando eu to sozinho eu começo a chorar em pensar na bondade delas, como me tratam. E é assim.
P/1 – Vocês casaram, o senhor continuou no hospital Humberto I ou mudou de emprego?
R – Eu mudei.
P/1 – Aí o senhor foi pra onde?
R – Fui trabalhar numa companhia de seguros que tinha começado e o médico do hospital era diretor da companhia. No hospital eu ganhava 400 reais e fui ganhar 800 lá. E tinha pouco serviço, não tinha nada. Nessa companhia eu fiquei quase dez anos. Pouco serviço, o médico deixava eu fazer o que eu queria, eu cortei muita ponta de dedo de funcionário caído, dei ponto. O que era ruim eu mandava pro hospital, o que eu podia fazer eu fazia.
P/1 – Deixa eu voltar um pouquinho. No hospital, qual foi um caso que marcou o senhor, que o senhor tenha atendido?
R – Que eu lembro até hoje foi de um italiano que era prisioneiro. Tempo da guerra e o navio que foi a pique retiraram uma porção de prisioneiros italianos e alemães. Tinha 15 italianos lá, puseram eles na enfermaria comigo. E seis alemães. Os alemães e os italianos nunca se falavam. Os alemães ficavam quase o dia inteiro dentro do quarto, tem um quarto só pra eles. Eram seis. O médico que atendia era um médico brasileiro, mas falava alemão. Quando o médico vinha, todas as manhãs ele vinha, então eu entrava com ele lá na sala onde estavam os alemães. E um se queixava disso, outro se queixava de dor, o médico receitava uma injeção chamada (Iodazin? 1:02:09), doía pra diabo (risos). Ali eu ia com o médico e o médico, então, escrevia pra mim: Fulano de Tal, punha a receita e como aplicar, quantos dias.
PAUSA NO ÁUDIO
P/1 – Volta um pouquinho, a injeção.
R – Ele receitava as mesmas injeções pros italianos e pros alemães. Quando eu aplicava nos italianos, os italianos faziam um escarcéu desgraçado: “Aaiii, aaaiiii”. O alemão nem abria a boca. Que coisa, que gente desgraçada. Bom, mas a coisa foi de um italiano, coitado, que ele tava com úlcera no estômago. O médico abriu e fechou porque não era úlcera, era um câncer que ele tinha. Ele foi piorando, piorando e um dia ele falou pra mim, para que eu chamasse os companheiros dele, que ele ia falar umas coisas pra eles. Ele começou a falar em italiano, mas eu entendia tudo: “Por favor, eu não saio mais daqui, eu vou morrer aqui. Se encontrar com a minha mulher e os meus filhos, por favor, vocês falem pras ele que eu vim pra guerra não porque eu quis, não porque eu gostasse do Mussolini, ou da Itália, eu vim foi obrigado. Fala pra eles. E que eu tenho muitas saudades”. Ele falou e eu comecei a chorar. Até hoje eu me emociono. E com um menino, o outro caso de um menino que também tinha câncer no fêmur aqui. Esse menino foi lá na minha enfermaria, eu não sei o que houve com a mãe dele, só a mãe dele ia visitar. Eu não quis perguntar porque era uma pessoa muito triste. Aí, ela ficava vendo o filho e chorava e ele dizia pra mãe: “Mãe, não chora. Não chora, eu vou morrer, eu sei que eu vou morrer, mas você não chora”. Cada vez que eu vi eu chorava também. Foram os dois que me lembro até hoje e me dá vontade de chorar.
P/1 – O senhor casou, que bairro que o senhor foi morar?
R – Fui morar com a sogra.
P/1 – Onde que era a casa?
R – Lá em Santana.
P/1 – Como era Santana naquela época?
R – Ah, Santana era muito diferente, não era tão habitada como agora, né? Agora tem prédio, tem tudo lá. Mas logo, logo eu comprei uma casa pra mim. A minha sogra arrumou com a patrícia dela, que morava sozinha lá, 25 mil reais sem pagar juros, que naquele tempo juros era de 1%, 1,5%. 25
mil. Meu pai me deu seis mil. Meu irmão emprestou 12 mil. Quem mais? Meu cunhado me emprestou cinco mil, outro meu irmão me emprestou seis mil. Sei dizer que eu juntei 50 mil reais. E aí eu tinha três e comprei uma casinha lá. E a casinha tinha duas moradias, em cima e embaixo. Eu tinha um cunhado meu que era empreiteiro, ele mudou a escada. A escada precisava ir lá no fundo da cozinha pra subir a escada comprida. Ele disse: “Ah, vamos fazer uma escadinha que você sobe aqui e já tá lá em cima”. Aí, ele fez tudo. Derrubou uma parede, a cozinha dividia com a sala, aí ficou uma casinha regular. Pintamos a casa, tudo. Eu fiquei lá com essa dívida desgraçada, né? Aí eu já tinha saído do hospital e eu recebi uma indenização de 13 mil reais, já era cruzeiros já. Com aqueles 13 mil cruzeiros eu juntei mais um pouco e paguei a hipoteca, que era a amiga da minha sogra, ela quis fazer a hipoteca. Paguei a hipoteca e fiquei devendo pros meus cunhados, meus irmãos. Meu pai me deu os seis mil. Depois que eu saí dessa empresa, onde eu recebi os 13 mil reais, eu fui trabalhar na Boa Vista, que é uma empresa grande de seguros. E tinha mais três enfermeiros lá, ficamos em quatro e tinha serviço pros quatro. Era uma empresa grande, eles tinham muitos segurados. Aí apareceu uma vaga, porque a empresa, por exemplo, que tinha 800, mil funcionários, eles mandavam um enfermeiro lá pra tratar dos casos que aconteciam lá sem precisar ir no ambulatório. Aí, um que trabalhava na União dos Refinadores me avisou: “Pedro, eu vou sair, eu vou montar uma farmácia lá em Presidente Armelino, uma área de São Paulo. Você fala pro Luís que você vem pra cá, você ganha o que você tá ganhando lá e a companhia te paga também um ordenado x”. Aí eu falei com meu chefe: “Olha Luís, me manda lá no lugar do coiso” “Você quer ir?” “Eu quero”, aí eu fui lá. Foi o melhor lugar que eu achei pra trabalhar! Trabalhei 18 anos lá. Tinha um laboratório grande, sozinho. Tinha dois médicos, mas eles ficavam fora da fábrica, mais ou menos uns 100 metros longe da fábrica e eles nem iam lá. Eu fiquei lá 18 anos, foi o melhor lugar que eu achei pra trabalhar.
P/1 – Nessa Boa Vista?
R – Não, era Seguro da Boa Vista. Mas depois que veio a Revolução eles fecharam todos esses seguros particulares. Esses acidentes do trabalho passaram tudo pro INSS.
P/1 – Isso nos anos 60?
R – Nos anos 60, foi em 64.
P/1 – O que o senhor lembra de 64, o que estava acontecendo na política?
R – Eu fiquei com medo deles me mandarem embora, né? Porque tinha pouco tempo que eu trabalhava na União, tinha uns dois ou três anos. Aí eu fui falar com o vice-presidente da empresa, seu _1:13:58_. Falei: “Acontece isso assim, assim e assim. Eu não queria ir embora daqui. Eu to tão bem”. Ele disse: “Você não queria e não vai. Você vai continuar nosso empregado”. Eu passei da Boa Vista pra ser empregado da Companhia União dos Refinadorese aí eu trabalhei 18 anos. A União foi vendida para a Copersucar e já mexeram comigo, me tiraram de lá, eu tinha um espaço muito grande, e me puseram num cubículo meio desajeitado. Mas, eu já tinha tempo de aposentadoria e ali eu me aposentei. É isso.
P/1 – Quantos anos o senhor tinha quando o senhor se aposentou?
R – Eu me aposentei com 37 anos de serviço. Recebia a mesma coisa que eu trabalhava, o ordenado que eu trabalhava recebi na aposentadoria. Depois que acabou a revolução que o negócio foi piorando pros aposentados, porque veio primeiro o Plano Funaro, já não eram mais os generais, o Sarney era o Presidente da Repúblia e o Ministro da Fazenda era o Funaro. E o Funaro abaixou, por exemplo, o que valia mil ficou valendo um. De mil reais ficou um real. Abaixou bruscamente a moeda. E os aposentados ficaram no prejuízo porque eu não recebi porque mudou de mil reis pra cruzeiro no tempo do Collor. Depois o Funaro mudou de cruzeiro pra cruzado. E eu não recebi em cruzados o que eu ganhava na aposentadoria. Aí, eu fui ficando assim...
P/1 – E o senhor continuou, seu Pedro, morando nessa casa?
R – Eu continuei morando nessa casa.
P/1 – Era em Santana também?
R – Em Santana. Quando meu pai e minha mãe morreram, no mesmo mês morreram meu pai e minha mãe. Ali a família, ziz. Os irmãos venderam o sítio e pagaram pra todo mundo 80 mil reais, pra quem tava lá, pra quem tinha saído, pras minhas irmãs que moravam longe. E me mandaram 70 porque eu deixei dez pra eles fazerem o túmulo dos meus pais. E com esses 70 reais eu construí uma casa nos fundos da minha casa lá em Santana. Eu fiz uma bela casa, boa casa, só que ficava nos fundos. Com 70 mil reais. Porque o empreiteiro não me cobrou, eu tinha tratado do sogro dele uma porção de tempo, não me cobrou nada. Eu também não cobrei, nem antes, era meu vizinho. O empreiteiro não me cobrou nada. O eletricista não me cobrou nada. O eletricista era meu inquilino, eu morava embaixo e ele em cima. Ele que fez toda a parte elétrica. O telhado foi o meu primeiro inquilino que morou comigo lá, que eu conheci ele bem antes, ele que fez toda a armação no telhado. A armação do telhado, pôs as calhas, ele não me cobrou um tostão.
P/1 – Aí o senhor morou na casa dos fundos e alugou as da frente?
R – Aí eu fui morar na casa dos fundos e aluguei as da frente. Foi aí que deu uma melhorada na minha vida. A gente já tinha as meninas crescidas.
P/1 – O que mudou na vida do senhor quando o senhor foi pai?
R – Mudou pouca coisa. Mudou que eu adorava as minhas filhinhas e a minha primeira filhinha quase morre. Minha mulher não tinha leite e o médico insistindo pra dar o peito pra ela. Chegamos a arrumar uma ama de leite. Aí me ensinaram que no Sesc, eu já tinha estado no Sesc você vê, eles assistiram as duas filhas, as duas se trataram no Sesc na gravidez. E me falaram que tinha um pediatra lá muito bom. Eu peguei a minha menina, você via as costelinhas nela, coitada, a primeira. Foi lá, o médico examinou, examinou e disse assim: “Essa menina está com fome. Essa menina não tem se alimentado”. Aí eu contei o caso, contei inclusive que tava até o médico tratando dela. “Começa a dar hoje mesmo o leite”. Ele receitou o leite que tinha que dar e a quantidade, tudo. Ali, eu comecei a fazer as mamadeiras, não deixava minha mulher fazer. Eu fazia as mamadeiras e nós tínhamos uma geladeira de madeira que funcionava com gelo. A Antarctica levava todas as manhãs meia pedra de gelo. Eles levavam cedo e chamavam, e a gente ia pegar. E aquela geladeira gelava bem, deu pra criar a menina. Eu fazia o leite à noite e até o outro dia ficava na geladeira. A minha mulher aquecia o leite antes de dar. A menina num instante se transformou. Coitadinha dela. E a outra não, a outra assim que nasceu, experimentou dar de mamar na maternidade: “Essa mulher não tem leite, não, você precisa dar um jeito de dar uma mamadeira pra essa menina”. Então já deram a mamadeira lá na maternidade mesmo. E assim, as duas se criaram com mamadeira assim.
P/1 – E a esposa do senhor? Ela é viva ainda?
R – Não, minha esposa morreu já faz dez anos.
P/1 – Como era a sua esposa?
R – Minha esposa era uma boa esposa. Mas, por exemplo, não ia ao cinema. Ela ia depois que as meninas estavam crescidas, a gente ia ver o Palmeiras, ela gostava do Palmeiras, eu também gostava e a gente ia. O único lugar que a gente ia junto, no campo (risos). De teatro ela não gostava, cinema ela não gostava, não queria ir. E assim, mas era uma boa mulher. Nunca brigamos, nunca brigamos. Tivemos discussões, mas nunca teve.
P/1 – O senhor torce pro Palmeiras?
R – Torço.
P/1 – Quando que o senhor começou a torcer?
R – Eu comecei a torcer ainda quando estava lá no sítio. Eu não sabia nada, mas como era Palestra Itália, naquele tempo era Palestra Itália, eu torcia lá sem saber, sem nunca ter visto um jogo. Agora em São Paulo eu ia ver quase todos os jogos do Palmeiras, depois quando deu uma melhorada na vida, né? Só não ia com o Corinthians porque tinha medo que o Palmeiras apanhasse, eu não ia ver jogo Palmeiras e Corinthians.
P/1 – Copa do Mundo. O senhor lembra de ter assistido algum jogo pela televisão?
R – Lembro.
P/1 – Qual Copa do Mundo o senhor se lembra mais?
R – Aquela que o Brasil ficou campeão lá no Japão, que eu lembro mais, né? Porque tinha quatro ou cinco jogadores do Palmeiras nessa Copa, então foi a Copa que eu mais assisti jogos. Das outras não lembro. Lembro um pouco da África do Sul, que é a mais recente, naturalmente lembro, mas das outras não lembro nada.
P/1 – E o senhor gostava de ir no cinema, gosta de ir no teatro?
R – Eu gostava muito de teatro, principalmente no tempo da ditadura que tinha algum teatro que dava umas chacoalhadas na ditadura quando a censura deixava passar, esse a gente não perdia.
P/1 – O senhor lembra de alguns?
R – Lembro, lembro. Lembro de um brasileiro, “Eles não usam black-tie”, muito bom, era do Guarnieri. Outros teatros não lembro.
P/1 – O que o senhor lembra da ditadura militar?
R – A ditadura militar, pouca coisa, porque a gente ficava sabendo quase nada. Rádio não dava nada. Mas lembro quando começou, por exemplo, a libertar a censura do que eles fizeram com aqueles loucos que inventaram de fazer uma revolução lá no Araguaia, coisa que nunca devia ter começado, fazer uma revolução lá. Mataram quase todos. E sumiram com os cadáveres. Foram uma porção de vezes com polícia e gente que morava lá pra ver se descobriam algum cadáver, descobriram. E eles mataram de uma vez só sumiram 70, que eles tinham feito prisioneiros. Isso daí é horroroso. Mas não tenho nada contra certas coisas que eles fizeram. Comigo nunca mexeram, mas também eu não me expunha.
P/1 – Mas o senhor teve alguma participação política, participava de alguma coisa?
R – Não, não, nunca participei de nada. Eu não ia, por exemplo, como é que se chama aquele comício famoso? Diretas Já. Diretas Já foi um comício que abalou São Paulo. Ainda tinha os fiscais da ditadura vigiando e a turma que ia assistir passou em frente de casa, eu morava num apartamento na Rua Augusta e eu vi a minha filha lá no meio: “Pai, desce, vem comigo! Vem com nós”. Aí eu desci e fui com eles lá na cidade assistir ao comício lá. Foi uma coisa formidável, o povo. E a gente gritando pros caras que saíam nas janelas: “Desce! Vem com a gente! Desce! Vem com a gente!”. E muitos desciam, como eu desci. Minha mulher não foi. E essas coisas.
P/1 – O senhor então mudou pra Augusta, chegou uma época que o senhor morou lá?
R – Mudei pra Rua Augusta. Eu vendi aquelas duas casas lá em Santana e comprei uma casa lá na Mooca, uma casa boa. E ali depois as duas filhas casaram, ficamos eu e a mulher, aí vendemos a casa lá na Mooca e compramos um apartamento na Rua Augusta. Vendemos a casa por 700 e lá vai fumaça e compramos o apartamento por 400, mas assim mesmo, dando 100 de entrada e o resto em prestações sem juros. Aí ficamos na Rua Augusta bastante tempo. Depois eu fiquei síndico lá no prédio por nove anos, eu não pagava o condomínio. Eu sempre oferecia pra quem quisesse, ninguém queria ser síndico, então eu continuei, fiquei nove anos. Até que depois um alemão: “Eu vou ser síndico”, eu falei: “Muito bem” “Mas só se você ficar de vice” “Fico de vice”. Eu fazia tudo outra vez, mas a mesada era dele, né? Aí eu pagava o condomínio. A minha filha morava perto e com o dinheiro que sobrou que eu vendi a casa e comprei um apartamento, eu entrei com 100 mil reais e minha filha comprou um apartamento por 600 mil reais lá na Vila Mariana. Aí, ela já foi embora e ficamos longe outra vez.
P/1 – Como foi sair de Santana pra Mooca e morar na Augusta? Como era morar na região da Augusta?
R – Eu gostava de morar na região da Augusta. Gostava mais do que na Mooca. Na Mooca era bom porque eu morava e trabalhava lá, então eu trabalhava perto, ia a pé pra trabalhar. Quando eu fui lá na Augusta eu já tava aposentado. Eu não senti nem um pouco o afastamento do serviço porque eu já tava com 60 anos, eu aposentei com 60 anos e pouco. Fiquei lá na Rua Augusta, depois a minha filha tinha comprado um apartamento, mas chamava venda de gaveta, é um apartamento que o sujeito tinha comprado e não conseguia pagar, aí a minha filha comprou. Ela foi falar com uma moça da prefeitura lá sobre isso: “Pode comprar, esse endereço que vai vender o apartamento vai dar graças a Deus porque o homem vive devendo”. Aí, minha filha comprou um apartamento lá na Vila Pompeia, um bom apartamento. Nós fomos morar lá quando ela comprou. Não podia alugar e eu pagava a prestação, antes de vencer, dois, três dias antes eu já ia lá e pagava a prestação. Terminou, aí o dono da casa onde minha filha mora até hoje gostou, a esposa dele gostou do apartamento, então, eles pediram se eles queriam ficar com o apartamento, se queria vender a casa em troca do apartamento. “Trocar elas por elas não dá, mas você faça uma oferta e a gente faz a troca”. Ele pôs, não sei se foi 80 mil, acho que uma coisa assim, a diferença é de mais ou menos 20 mil reais. Aí a minha filha aceitou, ela e o marido, acertaram a proposta, pagaram o apartamento e ficaram com a casa livre e o apartamento também livre. Ele tinha um pouco de dinheiro, cobriram essa diferença que o português queria. A esposa dele que se engraçou com o apartamento.
P/1 – O senhor está morando na Pompeia até hoje?
R – Eu to morando na Pompeia porque eu to morando com a minha filha. A minha filha tá na mesma casa.
P/1 – E quantas netas o senhor tem?
R – Eu tenho três netos, uma menina, essa que está aqui. Essa menina é um doce, pena que ela foi muito mal com a gravidez que ela teve há pouco tempo. Mas ela é um doce de criatura. E tenho dois netos da outra, tenho um bisnetinho já.
P/1 – E o que o senhor faz no cotidiano? O senhor tem alguma atividade, algum hobby?
R – Nada, não faço nada.
P/1 – Tem alguma coisa que o senhor gosta de fazer, um lugar pra passear?
R – Passear eu passeava um pouco quando a gente tinha um dinheirinho. Nós fomos umas três vezes na colônia de férias do Sesc lá em Bertioga. Fomos em diversas excursões que a turma da União fazia e eu participava. Fomos duas vezes em Minas Gerais, outra vez fomos no Paraná e do Paraná fomos pra Assunção, essa foi a minha...
P/1 – E aqui, o senhor gosta de passear, de andar na Pompeia? O senhor passei por algum lugar?
R – Agora não passeio, agora não posso andar, não posso nem ir à farmácia, as minhas pernas já não aguentam mais ir à farmácia.
P/1 – O senhor gosta de ler?
R – Eu gostava de ler, li muitos livros. Mas de um tempo pra cá eu não leio porque eu esqueço, quando eu to no meio do livro eu esqueci o que tinha no começo, eu não leio mais. Só leio jornal, só política. Jornal eu leio a manhã inteira, pego a Folha que a primeira parte é muito política, leio a manhã inteira. Só livro não to lendo. Comecei a ler um livro que a minha neta me emprestou, cheguei na metade do livro, parei. Mas ainda vou começar a ler outra vez.
P/1 – Seu Pedro, quais são seus maiores sonhos hoje?
R – (risos) Eu tenho um sonho. O maior sonho que eu tenho é chegar nos 100 anos. Se eu chegar nos 100 eu não me incomodo de morrer com 100 anos e um dia, mas eu gostaria de chegar nos 100. Porque eu fiz umas festas, uma primeira foi a minha filha que pagou tudo, quando eu fiz 90 anos. Vi todos os meus sobrinhos, acho que faltaram alguns só. A de 95 foi também muito boa. As duas festas, na de 90 tinha mais gente, tinha 162 ou 163, porque eles marcam, eles cobram por pessoa. Eles marcam. E essa outra foram 154, essa paguei eu, com o dinheiro do apartamento que eu guardei porque eu devia dar metade pras filhas, mas não dei nada, elas não precisam. E com esse dinheiro que eu guardei, eu tirei 15 mil e dei pra minha filha fazer a festa. Agora de 100, se eu fizer 100 anos, aí eu vou tirar uns 20, 25 mil que eu tenho lá porque não me incomodo mais em guardar dinheiro porque 97 anos. O meu problema é as pernas porque eu ia muito bem, eu fiz uma prótese aqui, isso foi em 93. Ali eu andava bem, andava de bengala, mas eu tomava ônibus, tomava metrô e ia onde queria. Aí, eu caí lá na casa da minha filha, eu fui subir um degrau que ela tem no quintal, estava chuviscando, não tinha segurança nenhuma porque eu subia lá tranquilo, eram só dois degraus. Quando eu pus o pé pra subir eu escorreguei, meu pé escorregeu assim, pra dentro. Eu caí bem em cima da prótese. E a prótese minha era prótese cimentada, que eu já tinha idade, eles não podiam por a prótese, tem prótese que eles não põem nada e ela se consolida sozinha. O osso gruda na prótese. E de uma certa idade pra frente tem que cimentar, eles usam o mesmo cimento que o dentista. Então, a minha prótese aqui em cima, onde era mais importante, não mexeu, mexeu da metade pra baixo. Mas essa parte da metade pra baixo não grudou mais, tá solta e me tirou o equilíbrio para eu andar, aí não pude mais andar, precisei começar a andar de andador.
P/1 – Seu Pedro, o que o senhor achou de contar a sua história?
R – Ahhh (risos). Distraio, ter uma pessoa me ouvindo assim distrai muito, né? A gente conta as coisas mais importantes. É isso daí, filha. Agora, se eu quero ir na farmácia eu tenho que tomar um táxi, é. Quando a minha netinha era solteira eu ia sempre com ela no teatro porque ela trabalhou no teatro, ela fez três peças. Depois largou, ela desmanchou a companhia e não trabalhou mais. Mas o querer dela é ser atriz, sei lá se ela vai ser ou não (risos). As três peças que ela trabalhou, ela trabalhou bem. Pelo menos eu gostei. E ela me levava. Qualquer teatrinho novo que surgia, ia eu e ela lá pro teatro. Agora, o último teatro que eu assisti foi esse que tem só artista velho fazendo. A mais nova deve ter uns 60 anos. São três mulheres e dois homens, uma é a... nem sei o nome dela, eu esqueço. É uma artista velha, já tem 80 anos, precisa ver como ela trabalha ainda. Sei lá. E as pataquadas dela, que o teatro tava assim. Era a vida deles de solteiro, um que namorou outro, outro que namorou: “Você só me tapeou durante tanto tempo” “Não é que eu tapeei, eu achei que você não dava pra ser minha mulher”, essas coisas assim. Mas eles são tão engraçados que você também dá risada de ouvir as besteiras deles. Foi o último que eu assisti agora.
P/1 – Seu Pedro, eu queria agradecer a entrevista do senhor, foi super bonita.
R – Ah, é?
P/1 – Tem alguma coisa que eu não tenha perguntado e que o senhor queira contar?
R – Acho que não. Não tenho porque eu nunca briguei com ninguém, nem com a minha mulher. As minhas filhas me tratam melhor não podia ser. É isso, vou vivendo.
P/1 – Obrigada.
R – Nada.
P/1 – Queria agradecer a entrevista linda.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
Dessas filhas, duas casaram com uma família chamada _0:04:21_, que faz parte das quatro famílias. Outra casou com um (Lugoli? _0:04:32), que vieram os dois velhos e um filho chamado Angelo, só em três.
– Página 2.
R – Todos. O sujeito que arrumava o serviço já tinha que arrumar pras quatro famílias. _0:07:11_ eram só três. – Página 3.
E depois dos sete anos, nós, os _0:08:10_ e o _0:08:12_ compraram terras perto de Araçatuba, a 20 quilômetros de Araçatuba. – Página 4.
Isso durou até uns quatro anos, depois a família _0:14:34_ cresceu, eram em 15, eles gastavam mais do que nós, mais do que a minha tia Calloder. – Página 4.
Meus irmãos casados, depois uma nora morreu, o meu irmão mais velho casou com uma das _0:27:18_, eles tinham duas meninas e ela teve uma infecção no pé. – Página 6.
E um se queixava disso, outro se queixava de dor, o médico receitava uma injeção chamada (Iodazin? 1:02:09), doía pra diabo (risos). Página 11.
Aí eu fui falar com o vice-presidente da empresa, seu _1:13:58_. – Página 13.Recolher