Entrevista de Guilherme Tuzi Pereira
Entrevistado por Gleison Silva e Sílvia Neves
Santa Cruz do Escalvado, 08 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV012
0:20
P1 - Primeiramente, bom dia Guilherme! Como é que você está?
R - Bom dia! Um prazer estar aqui com vocês!
P1 - O prazer é todo nosso! Então tá! O que você faz da vida?
R - Eu? Atualmente eu trabalho como produtor rural, a gente tem uma propriedade rural aqui em Santa Cruz. E no início, antes do acidente da lama, eu era comerciante.
P1 - Você vendia o que? Trabalhava com que comércio?
R - A gente tinha um comércio na área de turismo, no lago Candonga, aqui em Santa Cruz, que é um lago que começou no início de 2000, para a geração de energia. E foi construído uma área em torno do lago, que era uma área para lazer e turismo para a comunidade de Soberbo, que foi atingida pela usina hidrelétrica. E nessa área, a gente foi, depois de algum tempo, essa área que se tornou na margem do lago, ela foi construída para a comunidade e era para ser mantida pelo poder público, ou pela hidrelétrica. Como ela ficou abandonada durante uns 10 anos, nós resolvemos, assim que eu formei, porque eu sou formado em turismo. Eu fui para BH, estudei, formei e voltei. A gente já tinha propriedade aqui perto, eu sou nascido aqui em Santa Cruz. E nós resolvemos fazer uma parceria com o poder público, de manter essa área em torno do lago limpa, pista de caminhada, banheiro, que estava super degradado, tinha vandalizado, estava abandonado. A gente manter ali, a pista de caminhada, os banheiros, recuperar essa área, com a iniciativa nossa de fazer isso. E a prefeitura cederia essa área para utilização, exploração nossa turística. Aí nós trouxemos um barco do Maranhão, a gente construiu um barco lá no Maranhão. Meu padrasto, ele trabalhava com construção de usinas e ele conheceu um senhor que construía barcos, chalana, lá no Rio Tocantins, Imperatriz do Maranhão. Aí ele teve a...
Continuar leituraEntrevista de Guilherme Tuzi Pereira
Entrevistado por Gleison Silva e Sílvia Neves
Santa Cruz do Escalvado, 08 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV012
0:20
P1 - Primeiramente, bom dia Guilherme! Como é que você está?
R - Bom dia! Um prazer estar aqui com vocês!
P1 - O prazer é todo nosso! Então tá! O que você faz da vida?
R - Eu? Atualmente eu trabalho como produtor rural, a gente tem uma propriedade rural aqui em Santa Cruz. E no início, antes do acidente da lama, eu era comerciante.
P1 - Você vendia o que? Trabalhava com que comércio?
R - A gente tinha um comércio na área de turismo, no lago Candonga, aqui em Santa Cruz, que é um lago que começou no início de 2000, para a geração de energia. E foi construído uma área em torno do lago, que era uma área para lazer e turismo para a comunidade de Soberbo, que foi atingida pela usina hidrelétrica. E nessa área, a gente foi, depois de algum tempo, essa área que se tornou na margem do lago, ela foi construída para a comunidade e era para ser mantida pelo poder público, ou pela hidrelétrica. Como ela ficou abandonada durante uns 10 anos, nós resolvemos, assim que eu formei, porque eu sou formado em turismo. Eu fui para BH, estudei, formei e voltei. A gente já tinha propriedade aqui perto, eu sou nascido aqui em Santa Cruz. E nós resolvemos fazer uma parceria com o poder público, de manter essa área em torno do lago limpa, pista de caminhada, banheiro, que estava super degradado, tinha vandalizado, estava abandonado. A gente manter ali, a pista de caminhada, os banheiros, recuperar essa área, com a iniciativa nossa de fazer isso. E a prefeitura cederia essa área para utilização, exploração nossa turística. Aí nós trouxemos um barco do Maranhão, a gente construiu um barco lá no Maranhão. Meu padrasto, ele trabalhava com construção de usinas e ele conheceu um senhor que construía barcos, chalana, lá no Rio Tocantins, Imperatriz do Maranhão. Aí ele teve a ideia de construir um barco lá no Maranhão. A gente construiu esse barco, ele teve a oportunidade de trazer esse barco para cá em 2012, no inicinho de 2012. Então nós iniciamos essa atividade de exploração turística no lago Candonga no finalzinho de 2012. A gente teve que recuperar essa área toda, trazer, colocou o barco. E eu tive a ideia de montar um quiosque, uma bar de apoio para o barco, para o passeio, que a ideia era o passeio de barco. Só que a demanda na região era muito grande para atividades turísticas, então a gente foi ampliando e o negócio deu certo. E nós funcionamos até 2015, até o acidente da Samarco, que destruiu a hidrelétrica e destruiu a nossa área.
3:27
P3 - Guilherme, voltando um pouco, você nasceu onde?
R - Eu nasci na fazenda Cachoeira Alta, em Santa Cruz.
P3 - Quando foi?
R - Em 1981.
P3 - E qual o nome dos seus pais?
R - Meu pai é Valdomiro Martins Pereira, já falecido já. E minha mãe é Maria de Lourdes Cruz Pereira.
P3 - O que eles faziam?
R - Agricultores.
P3 - Lá na fazenda mesmo?
R - Isso! Deixa eu tomar um pouquinho de água.
P3 - Sem pressa, fica à vontade.
4:05
P3 - Você lembra como era essa fazenda?
R - Lembro! Espera só um pouquinho! Quando eu lembro do meu pai, eu… Assim, a fazenda produzia cana-de-açúcar, café e porco. E leite também.
P3 - E como era na sua infância?
R - Era na roça, assim, como todo mundo lá, muito movimento que tinha na propriedade.
4:43
P2 - Fala um pouco do seu pai para a gente, que era uma excelente pessoa?
R - (engasgado) Eu não queria falar não!
4:58
P3 - E aí você trabalhava quando você era criança?
R - Não, não!
P3 - Não? O que você fazia durante o seu tempo?
R - Estudava e ajudava assim, brincando lá, só de brincadeira mesmo. Porque a gente já tinha uma vida mais tranquila, meu pai já tinha uma vida financeira boa, não era muito… movimentava bem a fazenda.
5:22
P3 - Você lembra do que você brincava?
R - Olha, de bola, bicicleta. Na roça é andar a cavalo, essas coisas assim. Mas de roça mesmo.
5:35
P2 - Você tinha muitos irmãos, primos?
R - Não, eu só tenho um irmão só.
P2 - O irmão só, vocês eram muito unidos?
R - Somos! Até hoje! Só tenho um irmão.
5:48
P3 - E aí você falou da escola, você estudava?
R - Estudei em Rio Doce, até o primário, depois eu estudei em Ponte Nova. Aí formei 3º grau, depois eu fiz faculdade em BH.
P3 - E nessa escola em Rio Doce, como era a escola?
R - Escola, assim, bacana, escola antiga, né! Que eu sou de 81, então a gente… na época não tinha transporte, a gente ia… eu morava afastado uns 3km, a gente ia de bicicleta ou carroça de leite. E às vezes vinha de carro, porque ninguém tinha carro. Meu pai tinha carro, mas geralmente, o pessoal ninguém tinha carro, então, às vezes buscava a gente, às vezes não, a gente vinha em carroça de leite com o pessoal. Porque na fazenda e na região, tinha muita gente que estudava, morava na roça e estudava na cidade, hoje tem pouco, mas na época tinha muito. A gente ia. Mas aí eu estudei até os meus 10 anos, depois eu mudei para Ponte Nova, para estudar lá. Até entrar na faculdade.
7:02
P3 - Teve alguma professora dessa escola que você lembra, que te marcou?
R - Algumas. Tinha a Leleta, que era professora em Rio Doce, essa que me marcou mais.
P3 - E quando você foi para ponte nova, o que você sentiu com a mudança?
R - Olha, a gente fica diferente, porque na propriedade rural a gente tem mais liberdade e na cidade é mais restrito. Então, mas como aí eu comecei desde novo morar lá, desde os 11 anos, aí já acostumei mais, fui acostumando aos poucos. Aí assim que eu formei eu voltei para propriedade, para poder a gente implantar. Começamos com uma pousada, a gente transformou lá a propriedade em Pousada, minha mãe que comanda lá. E eu fui mexer com o quiosque, que era da margem do lago.
8:00
P3 - E nessa época em Ponte Nova, o que que você fazia quando você não estava estudando, para se divertir?
R - Pouca coisa! Só jogar bola só. Tinha muita coisa não, na época não tinha muito acesso… não tinha celular, internet, videogame não tinha também, então era só jogar bola, pique esconde, essas coisas. Mas não tinha muita coisa não, para fazer não, assim, só interação mesmo e estudar.
P3 - Que posição você jogava?
R - Sempre meio de campo .
P1 - E era bom jogador?
R - Mais ou menos, quebrava o galho. Porque final de semana a gente vinha para roça e tinha os times na roça, tinha uma comunidade chamada roça Alegre, então tinha time lá, a gente vinha jogar bola. Mas era sempre só mais futebol, no interior era assim, final de semana.
9:02
P3 - Teve algum momento de algum jogo que você lembra? Assim, uma memória marcante?
R - Não, quase todos eram marcantes, não tinha muito assim, muito marcante não. Eu gostava muito de bola, então a gente jogava muito, mas depois também eu fui parando. Hoje em dia eu nem jogo bola, deve ter uns 2 anos que eu não vejo bola.
9:35
P3 - E aí depois de Ponte Nova você foi…
R - Para Belo Horizonte.
P3 - Estudar?
R - Isso!
P3 - Por que você escolheu o turismo?
R - A ideia era otimizar a propriedade rural, que com o tempo foi acabando, na década de 80 que as usinas fecharam de cana, foram também acabando… o pessoal foi saindo. Então as propriedades começaram a render quase nada, propriedade rural hoje em dia aqui a produção é muito pequena, na região toda, não tem muita tecnificação, pela topografia. Aí a ideia era ter uma outra atividade que gerasse renda na propriedade também. Aí eu resolvi estudar turismo, para trazer essa ideia de montar alguma coisa nessa área aqui na região. Porque a gente tem a cachoeira lá perto, aí tinha o lago de Candonga, que tava sendo formado, foi em 2000 que começou a construção da Usina. A gente nem tinha ideia do barco, nem do quiosque não, isso veio depois, aleatoriamente, foi surgindo. Mas a gente tinha ideia de montar a pousada, aí deu certo, a gente montou a pousada. E funciona até hoje.
10:48
P1 - Deixa eu perguntar, e como é que foi essa negociação entre você e o poder público para organizar essa…
R - A ideia primeiro foi da gente limpar lá, a gente falou, “nós vamos limpar lá e manter limpo”. Porque é uma construção de uma área onde tinha campo de areia, banheiros, pista de caminhada, na margem do Lago. E ela estava a 8, 10 anos abandonada, ninguém cuidava, tudo destruído, as pessoas não utilizavam porque estava abandonado. A gente resolveu limpar lá e manter aquilo limpo para a comunidade e deixou o barco lá encostado, nem era a exploração turística a princípio, só para passeio nosso mesmo. Aí como a gente viu que tinha potencial, a gente procurou o poder público, eles fizeram um processo lá de licitação, que teve a gente participar e a gente ganhou e começamos a explorar isso, essa área.
11:52
P1 - E esse período, você acha que foi curto, foi muito longo, como você acha que foi?
R - Período que a gente ficou lá?
P1 - É! Desde que vocês decidiram, começar a limpar até ganhar a licitação.
R - Foi, foi longo! Foi assim, a gente a princípio limpou lá e cuidava da área, sem retorno algum, só para manter limpo mesmo. Aí depois no outro ano, seguinte, que houve esse processo de licitação.
12:24
P3 - E como foi para você, como você se sentiu quando rolou a licitação?
R - Olha, a gente foi participar né? Porque na verdade, essas ações com poder público é bem complicado, porque eles preferem deixar a coisa abandonada a deixar alguém explorar, principalmente se você começar a utilizar alguma coisa, vai ter alguém que vai querer te perseguir, te denunciar, “não pode!”. Então por isso que a gente vê que tanta coisa no Brasil não vai para frente, eles preferem manter uma praça… Às vezes na cidade grande algumas empresas adotam as praças, adotam uma área, para manter aquilo limpo afim de benefício da comunidade que ela está inserida. Só que quando você começa a explorar com retorno financeiro, aí já começa os problemas, outras pessoas querem, tem que passar por todo um processo burocrático. Então, como a gente queria uma coisa organizada, a gente resolveu falar lá com o poder público, para que fizesse um processo que desse um respaldo para gente poder estar investindo lá. Aí a gente começou esse processo, tanto que depois do acidente em 2015, a gente sofreu um problema, que a gente tinha um contrato de 12 anos e o poder público começou a perseguir a gente. Assim que aconteceu o acidente da Samarco, que destruiu a área, a gente não poderia mais prestar serviços turísticos, que era a finalidade do contrato. Então, a Prefeitura de Santa Cruz, entrou com uma medida para retirar a gente da área, alegando que a gente não prestava mais serviço turístico, não estava prestando serviço turístico. Mas em decorrência do acidente que destruiu tudo, não tinha como a gente estar prestando serviço turístico. Então a gente foi levado a um processo judicial, que a gente perdeu a posse da área. E depois dessa posse, que a gente perdeu a posse, já são 7 anos de acidente, que a área está abandonada. A comunidade não tem mais acesso à pista de caminhada, nem banheiro e foi tudo depredado, tudo que a gente construiu foi depredado, foi destruído, roubaram os banheiros, roubaram as pias, roubaram tudo, destruíram tudo, tá abandonado. Essa que é a grande questão do problema do poder público com parcerias com poder privado, porque eles, todos os contratos, eles têm cláusulas que dão ao poder público autonomia de estar desfazendo o contrato a qualquer momento, unilateralmente. Então, mesmo que você recorra na justiça, vai levar tempo e um desgaste muito grande. Então, às vezes você fica com medo de estar investindo numa coisa… você pode trazer o seu retorno a curto prazo, mas depois você vai perder aquilo, por perseguição política, por questão burocrática, são muitas questões envolvidas. E o judiciário no Brasil é muito lento. Então é bem complicado.
15:43
P1 - E para você, como é que foi quando vocês perderam esse espaço?
R - Quando a gente perdeu esse espaço?
P1 - É!
R - Olha, já tinha acabado de acontecer o desastre, então foi bem complicado, a gente ficou bem chateado. Só que aí logo que a gente perdeu o espaço lá, já não estava sendo utilizado… As empresas montaram um ponto de apoio lá, então eles usavam os estacionamentos para parar carros, para receber as mercadorias que iam lá para baixo para obra. E começaram também destruir lá, porque caminhão pesado, essas coisas. Então praticamente… A gente fica meio revoltado, meio chateado, mas os primeiros meses é complicado, depois a gente supera. Inclusive, hoje eu mexo na minha propriedade rural mais é para poder distrair mesmo, porque a minha atividade principal, o meu projeto de vida acabou.
16:42
P1 - Depois do acidente, não deram nenhum respaldo para vocês, não falaram nada?
R - A prefeitura não! Aí a gente entrou no processo do Pim, em 2018, depois de bastante desgaste, a gente foi chamado para uma negociação com a Fundação Renova. Primeiro iniciou o processo com a Samarco, aí eles criaram a Fundação Renova. Aí gente foi chamado para… depois de algum tempo, 2018, o acidente foi em 2015, em 2018, no início de 2018, a gente foi chamado para uma conversa no Pim,que é o programa de indenização imediata da Fundação Renova. Assim que a gente entrou lá, a gente teve que apresentar faturamento, receita, porque o meu negócio era formalizado. Então, a gente conseguiu, depois de bastante discussão lá, aceitar o acordo que eles proporam. Então a partir de 2018 a gente começou a receber o lucro cessante que a gente recebe até hoje.
17:47
P3 - Aí voltando um pouquinho. Como que era o cotidiano no quiosque antes?
R - Era bem bacana, que a gente mantinha atividade, a gente funcionava sexta, sábado, domingo e feriados, só finais de semana. Durante a semana a gente conseguia manter aquela área, porque é uma área muito grande, uma pista de caminhada de 500 metros, a gente tinha que manter a margem do lado, era grama, gramado, árvores, então a gente mantinha limpo para o pessoal pescar, manter a área que a gente atracava o barco, que tinha um deck. Então durante a semana a gente conseguia manter limpo lá, e a gente mexia na propriedade nossa nossa rural, que a gente tinha propriedade rural, tinha pousada, então a gente revezava. E final de semana, era sexta, sábado, domingo e os feriados, a gente abria. A gente abria no início que eu comecei, a gente abria só sábado e domingo, só! Aí com a grande demanda, que foi aumentando, aí a gente começou a abrir os outros dias, feriados também e tal. Aí na sexta-feira, como no início a gente começou, a nossa atividade, que era o passeio de barco e o quiosque, vinha o pessoal de fora, vinha mais gente das cidades vizinhas, o pessoal daqui, não sei, estava meio receoso de começar a frequentar lá, ia pouca gente. Aí o movimento era só de dia, aí eu resolvi criar uma coisa para atrair o pessoal daqui. E tinha o pessoal que cantava aqui na região, tocava, aí eu criei a sexta do forró, a gente criou na sexta-feira. Era para o pessoal da região tocar. Aí a gente começou a ter contato com os sanfoneiros, os cantores daqui da região, era só o pessoal daqui da região que tocava. E nisso deu certo, começou devagarzinho, a gente nem cobrava a entrada, era tudo aberto. Só que começou a encher muito, aí começou a vir gente de todo lado à noite e lotava muito, aí por questão de segurança, a gente teve que fechar e colocar a portaria e segurança, para o pessoal poder entrar, porque enchia muito. Quando a gente começou, era um senhor… que já é até falecido, que tocava, tocava teclado, chamado Tony… Começou pouquinho, pouca gente vindo e tal, o trem foi crescendo, crescendo, crescendo, aí um outro amigo nosso lá de Ponte Nova, chamado Jorge, começou a divulgar, gratuitamente, por isso que era legal amizade que a gente tinha com as pessoas. Ele fazia a divulgação para a gente de graça e vinha tocar, trazia uma cantora famosa lá de Ponte Nova, e cobrava quase nada, barato mesmo. E o trem encheu tanto, que aí a gente deslanchou, aí foi deslanchando. Ficou legal! Foi bom esse tempo!
21:03
P3 - Quem que trabalhava com você?
R - Trabalhava pessoas daqui mesmo, da região, era umas cinco pessoas, daqui da região. E mais o meu irmão, meu irmão também trabalhava.
P3 - No dia da barragem, você lembra como foi o dia?
R - Do acidente? O acidente, ele aconteceu acho que numa quinta-feira à tarde lá em Fundão, só que a gente não tinha a noção de que ia chegar aqui, a lama ia chegar aqui na região, porque é mais de 100 Km. Só que no outro dia, amanheceu o lago vazio, bem vazio, eles tinham esvaziado bem o lago, para poder receber a lama da Samarco. Aí nisso eu acordei, estava lá era umas 7 horas da manhã, e começou a chegar muito entulho, muita lama, aí começou a passar animal morto, muita madeira. Aí eu fui lá em casa, liguei para o meu padrasto, para eles descerem, ele e meu irmão, para a gente amarrar o barco melhor, porque poderia destruir, o barco era muito grande, 16 m, dois andares. Nisso começou a chegar, depois de algum tempo começou a chegar lama, porque veio primeiro muita água e muita madeira, muito animal morto, muito resto de casa. E foi chegando, e nisso ficou o dia inteiro, foi o dia inteiro, material de lama, depois veio aquela lama grossa, e os peixes, aí começou os peixes saírem, invadiu um pouco da área do quiosque e começou muito peixe morto, isso ficou o dia inteiro, esse material. Depois de umas cinco da tarde da sexta-feira que cessou o barulho e a chegada de material. Só que parou tudo em frente ao quiosque ali, que tem a ponte de Rio Doce, o quiosque, muita madeira, muito entulho, muito animal morto, muito peixe. E aquilo ficou até no outro dia que eles esvaziaram o lago, a hidrelétrica teve que abrir todas as comportas e esvaziar o lago. Nisso o material ficou todo parado ali no quiosque, na região do quiosque, muita madeira. E logo na semana seguinte, chegou o pessoal da Samarco, para fazer uma vistoria, começou a descer para cá, para essa área. E chegou o pessoal do corpo de bombeiros, pessoal de Santa Catarina, de Espírito Santo, eles ficaram, trouxeram os cachorros para começar a procurar os corpos. Eles ficaram até na pousada da minha mãe, deixou os cachorros lá, porque os cachorros precisavam de espaço. E começaram, eles ficaram uns 15 dias, mais ou menos eu acho, procurando corpos e procurando as vítimas. Encontraram alguns corpos nessa área.
24:38
P1 - E o seu barco, chegou a estragar muito, você conseguiu salvar ele.
R - O barco? O barco ele é muito grande, então no esvaziar o lago, ele tombou dentro da lama e ficou lá, não tinha como a gente tirar ele, porque esvaziou o lago, a gente não sabia que ia esvaziar, a hidrelétrica não avisou. Ele foi e ficou lá durante dois meses, até janeiro, quando a Samarco tentou tirar ele de lá, mas aí já quebraram ele todo, destruiu tudo, só tem os restos dele.
25:12
P3 - E esse barco que foi construído no Maranhão?
R - Isso!
P3 - Você lembra quando ele chegou aqui?
R - Ele veio para cá em 2012, 2012 que meu padrasto conseguiu umas carretas que vinham para cá, com preço melhor, um conhecido dele lá do Maranhão, vieram buscar uns maquinários aqui, ele veio nessa carreta. Porque o frete de lá, se fosse para trazer ele do Maranhão até aqui, ia ficar muito caro, então conseguiu um frete mais barato, conseguiu trazer ele. A gente desceu ele aqui em 2012. Até o senhor que construiu ele veio, para dar uma reformada nele, no trajeto. A gente pintou ele todo e colocou ele na água, em 2012. Ele ficou de 2012 até 2015, até novembro de 2015, quando foi o acidente.
26:04
P1 - Esse barco tinha nome?
R - Chamava Olga. É a mãe do meu padrasto, foi em homenagem a ela. Ela nem é brasileira, ela é tcheca, porque eles são da República Tcheca, ela nasceu na República Tcheca e veio para o Brasil, casou com brasileiro e teve os filhos aqui no Brasil, já é falecida já.
26:29
P2 - Lá no seu terreno tem dejeto disso aqui, fala um pouco para gente sobre isso?
R - Isso! Quando eles esvaziaram o lago, parou muito entulho nessa área, de madeira, animais mortos, no setor do quiosque, ali da ponte. E logo que a Samarco chegou, eles começaram a limpar por ali. Assim que os bombeiros procuraram, já liberaram, depois de uns 15 dias mais ou menos, começaram a limpeza dessas madeiras. Aí eles falaram… procuraram locais para colocar esse material. Aí eles retiravam esse material, os bombeiros ficavam acompanhando a retirada para ver se achava alguma coisa e colocava em caminhões e depositava ali onde que é a área do quiosque. Aí assim que eles estavam procurando essa área, a gente levou eles lá numa área de canavial que a gente tem e eles interessarem colocar esse material lá, eles falaram que era só material de madeira, que não era lama mesmo. Mas ali vinha tudo misturado. Aí eles depositaram esse material nessa área, acho que conseguiram a licença, depositaram esse material lá. E depois de algum tempo eles descobriram ele, esse material, que foi essa parte retirada na região do quiosque ali, que era madeira, restos de casa, essas coisas assim, depositaram lá, E hoje.. até hoje eles fazem análise lá, nesse terreno, eles tem que manter, fazer o monitoramento dessa área, para ver se tem contaminação ou não.
28:11
P1 - Esse terreno era seu ou não?
R - Era área nossa. É uma área do nosso terreno, fica aqui próximo.
P1 - Depois que jogaram esse dejeto lá ficou improdutivo né?
R - Eles jogaram rejeito e tem que fazer um processo de recuperação dessa área.
P1 - Eles têm feito isso constantemente ou…
R - Fizeram no início, mais ou menos, mais ou menos.
28:39
P2 - Quando chove, da aquela água. Essa água não contamina, essa água suja não vai para a água do pessoal que mora ali, que é uma comunidade?
R - Eles estão fazendo, ele tem os monitoramentos da área, eles têm que fazer. Eles fizeram quatro postos lá, de monitoramento, e eles ficam com a equipe que coleta a água, tanto do governo, quanto da empresa deles. Eles têm coletar a água, fazer análise, para ver se tá tendo contaminação ou não. Eles devem apresentar isso para o órgão ambiental, não sei como que é .
P1 - Mas essa análise é mostrada para vocês?
R - Não!
P1 - Não tem conhecimento nenhum não.
R - Não!
29:26
P3 - Mudando um pouco de assunto, você é casado?
R - Sou casado.
P3 - Você lembra como você conheceu a sua esposa?
R - Minha esposa é de uma cidade aqui perto, Dom Silvério. E eu conheci ela aqui em Santa Cruz, ela tava trabalhando aqui, ela é enfermeira, ela tava trabalhando aqui em Santa Cruz, eu conheci ela aqui numa festa junina, aqui na nova Soberbo, na comunidade aqui .
P3 - Tinha bastante festa junina?
R - Tinha, tinha! A comunidade de Soberbo, que ela foi relocada pela hidrelétrica, então eles têm os espaços bacanas lá. Eles faziam muitas festas, agora com a questão da lama, aconteceu um problema que afastou um pouco as pessoas, por questões de indenizações, alguns grupos, houve muita briga entre eles, uns recebem, outros não recebem. Então aquilo foi esfriando a comunidade, hoje em dia não tem mais festa, muito difícil de interagir a comunidade.
30:37
P3 - E o que você lembra dessas festas?
R - Olha, são festas que já eram tradicionais, vinha do Soberbo antigo, então era a festa bem organizada, bem bacana, bem movimentada e foi acabando aos poucos. Hoje não tem mais! Teve, acho que esse ano, mas bem fraquinha, não interage mais a comunidade como era antes. Porque nesses processos que vai acontecendo, igual, eles foram relocados para a construção da hidrelétrica, aí depois de um tempo vem a lama e afeta a comunidade, então é bem complicado.
31:20
P3 - E aí você conheceu a sua esposa, vocês namoraram…
R - Namoramos e depois casamos. Hoje a gente tem uma filha.
P3 - Você lembra o dia do seu casamento?
R - Meu casamento? Foi durante a pandemia, então não teve casamento, a gente só casou no cartório mesmo, não teve festa não.
P3 - E sua filha, quantos anos ela tem?
R - Ela vai fazer dois, dois anos.
P1 - Tem uma filha só?
R - Só uma.
P1 - Como que ela chama?
R - Chama Laura.
P1 - Laura? Nome bonito.
P3 - Por que vocês deram o nome de Laura?
R - A gente foi analisando alguns nomes, aí gostamos do nome Laura, não tem nenhuma questão específica, assim, de sentimental não, mas pela sonoridade ali, porque gostamos do nome.
P3 - E como você se sentiu quando você virou o pai?
R - Ah, muda pouco né! Eu sempre fui um cara meio tranquilo, então, mais caseiro, mas muda bem, porque a gente tem uma pessoa para criar, você tem um pouco mais de responsabilidade, né!
32:39
P3 - Guilherme, quais são os seus planos para o futuro?
R - Olha, atualmente meus planos é só continuar mexendo na minha propriedade rural e esperar. Não tem como eu fazer uma previsão daquilo que eu vou fazer, porque esse processo da lama, depois acabou o meu projeto, que era o quiosque, então você tá focado naquilo, você tem um planejamento a longo prazo, aí acaba. Aí depois vem a questão, vai voltar ou não? Aí tem a questão de que você depende do poder público, você não sabe se vai voltar aquela atividade. Então hoje em dia eu nem penso mais em voltar, porque eu já vendi quase tudo que eu tinha do quiosque lá, vendi algumas coisas. Porque você começar do zero, aí você vai começar de novo, aí vem outra coisa para destruir, então você fica naquele trem, começa.. Eu sou novo ainda, tenho 41 anos, mas é bem estressante o processo que a gente viveu aqui. Então eu fico mexendo na minha propriedade, que a gente mexe com gado, esperando para ver se eu vou inserir de novo na atividade de comércio, ou não, assim que finalizar essas questões, eu vou destinar, me preparar para começar outra atividade. Mas ainda tô no processo ainda.
34:11
P2 - Quando você era mais novo na sua fazenda tinha muitos funcionários, na época que seu pai era vivo ainda, que a dona Auxiliadora ainda era viva, como você lembra dessa época?
R - Era uma época muito movimentada, porque lá a gente mexia com… o meu pai mexia com cana-de-açúcar, então era tudo manual, década de 70, 80. Quando eu nasci já era 80, eu já peguei o finalzinho, o ciclo da cana aqui na região já estava terminando. Então eram muitos funcionários, o pessoal chegava para receber dia de sábado, a gente lembrava do pessoal vindo, então vinha 40, 50 pessoas, até mais. era muita gente. E tinha muita casa de Colono nas fazendas, nas propriedades. Só que da década de 80 para 90, foi acabando, o pessoal foi migrando para a cidade e foram desmanchando essas casas, acabando com elas. E também o ciclo desses produtos aqui foram encerrando, ficando só a atividade leiteira e pecuária, só pecuária mesmo, na região. Café também acabou, o pessoal parou de produzir. Então foi acabando praticamente quase tudo. Então a mão de obra também foi ficando difícil. E hoje em dia a gente só mexe com pecuária, que é pouca mão de obra, mas também o lucro é pouco, da atividade.
35:51
P2 - E você não quis seguir um pouco do caminho do seu pai, plantar lavoura de café, essas coisas assim?
R - Não porque a região aqui não é muito propícia para essas atividades. Igual cana-de-açúcar, e a questão hoje em dia, tecnificando, a região nossa não é própria para maquinário, é muito amorrada e é muito quente para café, tem que ser mais para o lado de sul de Minas, ou do Espírito Santo ali, que a gente produz os cafés. Viçosa também tem algumas áreas. Mas essa região não é. A cana-de-açúcar também ficou difícil. Então a gente não quis investir muito na propriedade não, porque a gente viu como que era complicado, meu pai mexia com muita gente e era bem complicado. Hoje em dia a mão de obra é muito cara, e a produção, o preço não compensa, então eu decidi usar a propriedade para a área turística e pecuária, que é pouca mão de obra, praticamente eu que faço tudo, quase. E também usar turismo e pecuária só.
37:06
P2 - Vocês usaram o local todinho da fazenda para receber os turistas, como que é?
R - É, a gente adaptou algumas partes para receber, fazer quartos, suítes. E onde era o terreiro de café a gente colocou uma piscina, onde era moinho de água, essas coisas, a gente fez uma cachoeira artificial. E fomos ajeitando lá, ou já a pousada conta com nove suítes, a gente serve o café da manhã, tudo, não serve almoço não, mas tem restaurante aqui perto, então pessoal almoça lá.
P1 - Essa pousada tá bem frequentada?
R - Olha, turisticamente ela era a mais frequentada antes do acidente da Samarco, porque tinha o lago, tinha pessoal que vinha pescar, tinha pessoal que vinha praticar esporte náutico. Só que depois do acidente, ninguém vem mais. Aí ficou a questão de… hospeda lá hoje em dia, o pessoal que presta serviço para limpeza do lago, das obras. Mas é isso, turismo mesmo, não tem mais não
38:15
P3 - E como é seu cotidiano hoje, seu dia a dia?
R - Hoje eu moro em Ponte Nova, porque eu tenho casa lá, apartamento, eu e minha esposa, para facilitar para ela, que ela trabalha lá, e eu venho todo dia aqui para propriedade rural, ajudo minha mãe lá na pousada e tenho que olhar o gado e correr a fazenda, mas eu venho todo dia. Inclusive, agora eu estava mexendo lá, eu vim aqui dar entrevista, vou voltar lá, tem um rapaz lá esperando.
P3 - Guilherme, tem alguma outra coisa que você queria contar, que você quer colocar?
R - Não, acho que não! Agora é esperar para ver como vai desenrolar essa questão do retorno, eles acabaram de encher o lago, deve ter uns 2 meses, 1 mês, para poder voltar a atividade da usina. Mas vamos ver como vai desenrolar a questão turística aqui na região agora, por questão de voltar os peixes, voltar a limpeza, se eles vão continuar dando limpeza. Porque a região aqui, ela tem muito potencial turístico, mas não tem nada de produto turístico. Então o pessoal às vezes não tem um apoio nessa área, o poder público quando vai fazer uma reunião, tanto as prefeituras de Rio Doce, Santa Cruz, ou a Fundação Renova, a hidrelétrica, para poder fazer uma reativação econômica, então todo mundo vem falar, tem a pedra do Escalvado, tem a cachoeira, tem caminho de São José. Mas isso não são produtos turísticos, isso são potenciais turísticos, você não consegue ir lá na pedra do Escalvado, você vai na cachoeira, lá na pedra do Escalvado não tem trilha, não tem um apoio, uma fonte de apoio, tem a pedra, uma beleza natural cênica. Tem a cachoeira, mas a cachoeira é poluída, não tem uma infraestrutura na cachoeira, as trilhas às vezes o pessoal deixa sujeira lá. É complicado, uma cachoeira muito bonita! Então, essas questões… nós tínhamos, o único produto turístico mesmo, era o passeio de barco no lago Candonga, esse era um produto turístico da região, você poderia vender um pacote, você poderia vender um passeio turístico lá na China, em qualquer lugar que você chegasse. Isso é um produto turístico, isso existia aqui. A gente vê que com o acidente, depois da lama, a gente não teve apoio de nada, praticamente… A gente trouxe um barco do Maranhão para fazer turismo aí, uma coisa que ninguém fez, e a gente vê que não teve apoio de nada, eles não dão apoio, tanto o poder público, quanto a questão das empresas, que destruíram. Não dão apoio em nada, eles reúnem, falam, falam, falam, e não tem um projeto. Poderia chegar na gente, ou em outras pessoas que utilizam o turismo como meio de vida aqui na região e implantar um projeto, “vamos implantar um projeto daqui a 10 anos, a longo prazo, para assim que recuperar o lago, a gente fazer isso, fazer isso, fazer isso…” Eles fazem os projetos pontuais que não tem futuro, a gente sabe que não vai dar certo, porque não é uma coisa bem planejada. E a gente sentiu isso, que depois que aconteceu a lama, destruíram o barco e ficou por isso mesmo.
41:38
P1 - E nessas reuniões que eles fazem, eles convocam todo mundo que trabalha no turismo ou só alguns?
R - Não, tem reuniões coletivas, com grupos menores, com vários tipos de grupos. Mas eles trazem o SEBRAE, tem algumas consultorias. Mas eles não montam um projeto para ser operado mesmo, eles ficam naquilo, “olha, vamos reunir com a comunidade, o que que vocês tem turismo aqui?” Uns escrevem, nós temos a pedra do Escalvado, nós temos o Rio.. Mas eles não… vamos pegar isso e desenvolver um projeto em cima disso. Isso não sai do papel!
P1 - É complicado, um potencial enorme que a cidade tem…
P2 - Futuramente, você tem algum projeto ali com a pousada, melhorias, tipo chamar o povo igual era antes… Tentar refazer alguma coisa?
R - A gente tem umas ideias, mas a gente vai investindo aos poucos, porque no Brasil é meio complicado você sair investindo de qualquer maneira. Tem muitas questões que influenciam, questão de estrada, nossa estrada é a gente que cuida, é muito difícil poder público dar uma manutenção. Agora tem um projeto de pavimentação, que são contrapartidas que a Samarco e a Fundação Renova têm que dar para a comunidade. Então tem um projeto de pavimentação dessa estrada que passa lá perto, que vai para a comunidade do Gongo, passa pela Cachoeira. Se isso ocorrer, aí talvez a gente vai ampliando, porque hoje em dia quando chove muito, a gente fica sem estrada, porque as pessoas não querem… Vem da cidade com o carro baixo, não está acostumado a dirigir em estrada de terra, não quer ter acesso a lá. E para a gente manter só com dinheiro nosso é complicado. Então a gente tem projetos, mas a gente investe pouco a pouco.
P2 - Aquela cachoeira, eu conheço ela como cachoeira de Valdomiro, ela tem algum outro nome?
R - Cachoeira alta, a fazenda chama de Cachoeira Alta. Foi do meu avô, passou para o meu pai, minhas tias lá, dividiram. Ela chama Cachoeira Alta. É conhecida como Cachoeira de Rio Doce, Cachoeira Alta, Cachoeira de Valdomiro, tem três nomes. Ela tá em Santa Cruz, mas como é perto de Rio Doce, todo mundo fala cachoeira de Rio Doce.
P2 - E para lá vocês não tem nenhum projeto?
R - Não! Porque lá já pertence ao meu primo, Marcelo. Ele mora em Itabira, a mãe dele que herdou ali, aquela parte da Cachoeira, ele comprou dos irmãos, então é dele agora. E também para fazer intervenção em área ambiental ali é complicado, é bom você ter Cachoeira, manter ela limpa, na coisa natural, e no entorno você consegue construir uma infraestrutura, de uma pousada, um restaurante, a gente tem lá perto, mas dentro, na cachoeira mesmo, não, nenhum projeto.
44:42
P1 - Agora mudando de assunto totalmente, você poderia falar um pouquinho sobre a sua filha?
R - Minha filha tem… vai fazer dois anos agora em maio, ela nasceu também durante a pandemia. Assim que a gente casou, depois a gente descobriu, a gente foi viajar, tava na primeira fase da pandemia, no intervalo, da primeira fase para a segunda, então começou a abrir algumas coisas. A gente resolveu casar e fazer uma viagem ali para região do Espírito Santo, que é a região de montanha. E a gente fazendo uma escalada lá, a minha esposa começou a passar mal. Na volta dessa viagem, que ela descobriu que estava grávida, então ela já estava grávida durante a viagem. Ela nasceu e aí foi uma mudança grande para a gente, já estava durante a pandemia. Mas ela é uma menina muito esperta, muito ativa, gosta muito de roça, a gente traz ela para cá, então hoje em dia bota para andar a cavalo, então uma criança que já vai interagindo mais com os animais. E ela gosta de vim para casa da vó, que é na roça, da minha mãe. Começou a estudar agora, já colocou na escolinha, com dois anos, vai fazer dois anos, começou, para poder integrar mais, porque na pandemia o contato era pouco, então as crianças tiveram até um pouco de problema. Mas agora já está interagindo, é uma criança super bacana e saudável.
46:23
P1 - E você, que você se vê como pai?
R - Eu sou um pai bom, mas só que eu sou uma pessoa muito ansiosa e sem paciência, então eu tenho que trabalhar isso em mim. Mas eu acho, acredito que sou um bom pai.
P2 - Tem projeto de ter mais filhos?
R - Não, no momento não! Uma menina já tá bom, né.
P1 - Faz um casalzinho, pô!
R - Não, não, eu acho que vou ficar só em uma mesmo.
46:55
P3 - Guilherme, o que você achou de contar um pouco da sua história hoje?
R - Ah, bem bacana! Gostei! Bom que a gente deixa registrado.
P2 - Agora me fala uma coisa, voltando lá atrás, porque quando pergunta do seu pai você se emociona tanto?
R - Porque eu perdi ele novo, eu tinha 14 anos, acho, quando ele morreu. Então, ele era uma pessoa deficiente e movimentava muito, a ideia de voltar para fazenda era para ver se a gente conseguia fazer um pouco de reativar aquilo, que ele tinha deficiência. Mas hoje em dia é muito difícil, então a gente não consegue fazer aquilo que ele fazia. Mas mesmo sendo saudável, mas é por isso que eu me emociono um pouco.
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