Entrevista de Vanda Maria dos Santos de Souza
Entrevistada por Wesley Cunha e Maria da Consolação Soares
Rio Doce, 07 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV010
0:21
P1 - Qual o seu nome?
R - Vanda Maria dos Santos de Souza.
P1 - Você nasceu onde e quando?
R - Eu nasci aqui em Rio Doce, no dia 30 de junho de 1957.
P1 - Qual o nome dos seus pais?
R - João dos Anjos Matias e Efigênia Maria dos Anjos.
P1 - O que que seus pais faziam
R - Meu pai era servidor público e a minha mãe do lar.
0:52
P1 - Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Os principais costumes? Trabalho e o meu pai era muito festeiro, ele gostava muito de mexer com festa e tudo. Foi isso aí que a gente herdamos dele.
P1 - Você gostava de ouvir histórias quando você era criança?
R - Sim, muito!
P1 - E quem contava para você?
R - Os vizinhos, amigos, meu pai, minha mãe.
P1 - E você lembra de alguma história especial?
R - Ah, no momento assim… Eu posso te falar sobre São João.
P1 - Pode falar!
R - Então, São João, a festa de São João, era feita pelos meus avós, daí quando meu pai nasceu a minha avó colocou o nome dele de João, para ele dar sequência, era o pensamento dela, para dar sequência a festa de São João. E por muitos anos a minha avó fazia essa festa e a gente pequenininha tava sempre lá ajudando, carregando os tabuleiros pra ela, ajudando a recepcionar o pessoal que chegava, a gente não tinha muita noção disso, tudo pequenininha ainda. Mas, daí quando ela faleceu, um ano depois, aí o meu pai assumiu as festas, a festança lá de São João. Então, era do mesmo jeito, fazia com mais dificuldade do que agora, mas sempre com o auxílio da comunidade. E foi por muitos anos assim, e a gente auxiliando ele, fomos crescendo ali naquele meio. E ele gostava muito, era a felicidade dele e fazia a felicidade da gente também. Aí depois quando ele faleceu, a minha mãe ficou muito triste, aí ela falou, “ah, a gente...
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Entrevistada por Wesley Cunha e Maria da Consolação Soares
Rio Doce, 07 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV010
0:21
P1 - Qual o seu nome?
R - Vanda Maria dos Santos de Souza.
P1 - Você nasceu onde e quando?
R - Eu nasci aqui em Rio Doce, no dia 30 de junho de 1957.
P1 - Qual o nome dos seus pais?
R - João dos Anjos Matias e Efigênia Maria dos Anjos.
P1 - O que que seus pais faziam
R - Meu pai era servidor público e a minha mãe do lar.
0:52
P1 - Quais eram os principais costumes da sua família?
R - Os principais costumes? Trabalho e o meu pai era muito festeiro, ele gostava muito de mexer com festa e tudo. Foi isso aí que a gente herdamos dele.
P1 - Você gostava de ouvir histórias quando você era criança?
R - Sim, muito!
P1 - E quem contava para você?
R - Os vizinhos, amigos, meu pai, minha mãe.
P1 - E você lembra de alguma história especial?
R - Ah, no momento assim… Eu posso te falar sobre São João.
P1 - Pode falar!
R - Então, São João, a festa de São João, era feita pelos meus avós, daí quando meu pai nasceu a minha avó colocou o nome dele de João, para ele dar sequência, era o pensamento dela, para dar sequência a festa de São João. E por muitos anos a minha avó fazia essa festa e a gente pequenininha tava sempre lá ajudando, carregando os tabuleiros pra ela, ajudando a recepcionar o pessoal que chegava, a gente não tinha muita noção disso, tudo pequenininha ainda. Mas, daí quando ela faleceu, um ano depois, aí o meu pai assumiu as festas, a festança lá de São João. Então, era do mesmo jeito, fazia com mais dificuldade do que agora, mas sempre com o auxílio da comunidade. E foi por muitos anos assim, e a gente auxiliando ele, fomos crescendo ali naquele meio. E ele gostava muito, era a felicidade dele e fazia a felicidade da gente também. Aí depois quando ele faleceu, a minha mãe ficou muito triste, aí ela falou, “ah, a gente não vai mexer com festa mais não, seu pai que gostava tanto, aquela alegria, aquela coisa toda…” Acolhia muito bem as pessoas. Aí a minha mãe falou, “ah não, não quero mais não, não quero mexer mais não, fica me lembrando dele”. A gente respeitou, por certo tempo, aí ficamos uma média de 7, 8 anos, sem fazer a festa. Aí quando ela faleceu, a gente sentiu uma vontade imensa de retornar. Aí quando foi em 2005, aí nós resgatamos a festa de São João, juntamente com a comunidade, com o apoio da cultura e estamos há 17 anos fazendo a festa.
3:50
P1 - Como chamava sua avó e seu avô, os pais do seu pai?
R - O meu avô, eu não conheci, mas ele chamava João Pedro. E a minha avó Joana.
P1 - Foram eles que iniciaram a festa de São João aqui em Rio Doce?
R - A festa é bem tradicional, certamente veio de outras épocas, dos pais deles e tal, mas eu não sei muito sobre isso, porque eu não os conheci muito bem.
P3 - Você comentou da sua avó, o que que você lembra dela?
R - Eu lembro que ela era muito… assim como meu pai também, ela era toda festeira, ela gostava muito, ela aplaudia as festas, sabe? Tinha banda de música que ela ficava entusiasmada, com as crianças, com o povo que chegava, isso aí que eu lembro, da acolhida dela. Mas assim, sei também que era com a ajuda da comunidade, porque a situação era precária, aí a comunidade ajudava, fazia os donativos, assim como faz hoje com a gente. E é isso que eu lembro.
5:06
P1 - Mas essa festa, como foi os seus avós que iniciaram, essa festa que acontece hoje de São João, ela acontecia sempre nesse mesmo lugar, ou tinha um outro lugar primeiro, quando começou?
R - Acontecia era na casa dos meus avós, lá na casa da minha vó.
P1 - Que é na rua de cima, né?
R - É! Por coincidência até, que a gente não sabia nada disso, fomos morar quase na mesma rua, só numa rua abaixo, você sabe. Então, ela fazia naquela subidinha ali, o pessoal juntava todo mundo, limpava o terreiro lá para ela, tudo terra, aí ia, batia a terra para eles dançarem o forró, aquela coisa toda. Daí quando meu pai foi fazer… quase que do mesmo lado.
6:04
P1 - Vanda, e você lembra da casa que você cresceu, que você passou sua infância toda?
R - Sim! Eu nasci na zona rural, aí de lá para cá a gente morou em várias casas, não foi assim, eu nasci e vivi só num lugar, foram várias moradias.
P1 - Fala para a gente um pouquinho, Você nasceu onde, então?
R - Eu nasci no Porto Alegre, fazenda Porto Alegre
P1 - Aí você ficou lá e depois você mudou para onde? Vocês mudaram para onde?
R - Mudamos ali para rua… não sei o nome da rua, rua do Brejo, ali onde mora, atualmente mora. Rafaelzinho. Aí a gente foi trocando de casa, porque ali era uma casa até de São Vicente, que nós viemos da roça, não tinha lugar assim, adequado, eles acolheram a gente. A gente morou ali, depois nós mudamos lá para casa onde mora hoje as meninas de Zito, por ali. Depois a gente mudou para uma casa ali, sempre rodeando a minha avó, que ela morava ali, sempre rodeando a casa dela. Depois a gente morou ali onde morou Iraci, você sabe onde é, é pertinho de onde a gente mora. Até o meu pai ter condição de comprar a nossa casa, mas aí já estava com… quando meu pai adquiriu a casa própria eu estava com uns nove anos. Aí minha família, nós somos uma família de… a minha mãe teve 11 filhos, perdeu dois recém-nascidos, então somos nove, recentemente oito, porque perdi um recentemente.
8:08
P1 - Você poderia falar o nome dos seus irmãos?
R - Sim! Raimundo Geraldo, falecido recente, Vera Lúcia, João Pedro, tem João Pedro lá também, para dar sequência, João Pedro, Maria Geralda, Mário, Edna, Dalva e Adriano.
P1 - Família grande, né! E assim, essa quantidade de filhos em casa, era boa a convivência de vocês? Como que era essa meninada toda junto?
R - Era muito interessante, eu como mais velha, primogênita, tive muito trabalho para ajudar a cuidar daquela meninada, que minha mãe só não dava conta. E a gente não tinha água encanada, a gente tinha que lavar roupa no córrego, aí eu muito pequena, saía com uma bacia na cabeça para lavar roupa, para ajudar minha mãe e carregava o menino daqui, ficava um bocado lá com ela. Tinha que esperar a roupa secar, porque não aguentava trazer uma bacia de roupa molhada, então tinha que esperar a roupa secar e tocar os bois que ia comendo as peças lá, para eu voltar para casa. Com um menino na cintura e uma bacia na cabeça, assim que foi… eu lembro muito disso aí, ajudei muito minha mãe. Trabalhava e estudava também, com dificuldade, meu pai com aquele monte de criança para ir para escola, para comprar material. E a gente dava uns recursos, vendia uns ovos, comprava os cadernos, coisa assim. Que era muita criança, só meu pai para trabalhar.
10:06
P1 - E você na sua infância, durante o tempo que você entrou na escola, você teve assim alguma fase que te marcou, algum professor, ou alguma fase na escola que te deixou mais lembranças?
R - Eu sempre fui estudiosa, sempre fui muito estudiosa, gostava muito de estudar. É, foram vários professores, estudei muito tempo com uma professora chamada Teresa, Teresa, o sobrenome me falha. Mas assim, ela era muito dedicada, e nos momentos de intervalo da escola, de trabalho, de ajudar minha mãe, a gente ia para casa dela ver televisão. Tereza Blandina, então, ela foi minha professora, porque naquela época era professora assim do início, aí eu fui assim da primeira série até o quinto ano, hoje em dia eu não sei como que fala a fase escolar. Mas ela me acompanha esse tempo todo, então é marcante, lembro sempre dela, sempre das nossas conversas.
11:13
P2 - Nessa época de criança, o que que vocês faziam para se divertir?
R - Nossa! Igual eu te falei, eu era muito ocupada, porque muito cedo com responsabilidade, para cuidar dos irmãos e tal. Mas a gente brincava muito, a rua não tinha calçamento, ainda era terra, então a gente corria, a gente brincava de pic, a gente brincava de roda, reunia os vizinhos que estavam ali por perto, muita criança, não tinha celular, como nessa época, então todo mundo ia para rua. Não tinha iluminação direito, e era muito bacana, as amizades eram assim, mais aconchegantes, a gente entrava… tinha sede, corria todo mundo para tomar água no mesmo canequinho lá na casa do vizinho, era bem acolhido. As mães também saíam para fora de casa e sentava do lado de fora, olhando a gente assim, não dava conta de ver tanta criança, olhava para um para outro, tá tudo bem, só não podia brigar, se brigasse parava a festa, ia para dentro de casa.
12:25
P1 - E assim, quando você era criança você tinha algum sonho, quando você crescesse ser alguma coisa diferente? O que que você queria ser quando crescesse, você tinha esses sonhos assim?
R - Pensava em crescer e estudar, formar, mas nem sabia muito em que, não tinha muito isso não, a gente vivia mesmo era o momento.
12:49
P3 - Voltando um pouco você falou que vocês brincavam de roda, tinha alguma música, alguma cantiga que vocês cantavam?
R - Tinha várias, né! Mas assim, no momento assim, não tô me lembrando.
P1 - Vanda, quando você começou a sair sozinha, para sair com amigos, amigas, para passear de noite, sair sozinha! Qual a idade mais ou menos?
R - Quando eu tinha 12 anos, já tava assim, mocinha formada assim, sabe? Mas com questão de sair, o meu pai era bem rígido, ele não gostava muito que a gente saísse sozinho. Mas a minha mãe apesar de tantos filhos, e ele também, eles saiam com a gente para os forrós. A gente saía mais acompanhado, ele nunca foi liberal assim de deixar a gente sair sozinho. Agora, quando eu completei maioridade, aí sim, desde que eu me responsabilizasse por algum irmão, alguma irmã e que levasse comigo e tal, aí já estava liberado.
P1 - Mas aí você saía com amiga sua, amigas, ou só com as suas irmãs?
R - Saia com as minhas irmãs… é, tinha as minhas amizades também. Tinha, eu sempre fui muito assim de amizade, aí saía muito com Joseli, com o Zale, eu tinha assim minha turminha.
14:25
P1 - E vocês faziam o que, iam aonde?
R - Passear na praça aqui! Fica andando para lá e para cá, ali na rua, na praça, acho que é o que a maioria fazia, para olhar os rapazes (risos).
P1 - E quando você conheceu o seu marido?
R - Em que ano eu conheci ele, eu não lembro. Quando a gente começou a namorar eu estava com 22 anos, já era bem madurinha, quando eu conheci. Aí a gente namorou 5 anos e casamos. E estamos até hoje, graças a Deus, há 38 anos.
P1 - Você lembra como que foi, como que vocês se conheceram?
R - Eu lembro, foi através de uma amiga. A gente ficava passeando, como eu te falei, e como ele era de família daqui mesmo, a gente já conhecia toda família, aí comecei a me interessar por ele. Só que nessa época… Ele é mais novo que eu, ele é mais novo que eu três anos. Aí eu ficava imaginando assim, que ele estava bem novinho para mim, mas ele era tão engraçadinho, tão bonitinho (risos). Aí eu falei, vou tentar, né! Mesmo assim sendo com mais a idade que ele. E não é que ele topou, gostou! A gente já começou a conversar, a gente ia ali para o jardim conversar. Quando a minha mãe descobriu, ela falou assim, “nossa, você não tem vergonha não! Tá namorando com um menino!” “Também não é tanto assim, né mãe”. Porque três anos.
P1 - É pouca coisa.
R- Aí nós começamos a namorar ali no jardim, mas logo, logo, ele foi lá conhecer os meus pais, que acolheram muito, meu pai gostava demais dele, minha mãe e tal. E foi tudo assim.
P1 - Foi bonito, né!
16:28
P2 - Tem uma curiosidade do dia do seu casamento, a data.
R - Ah tá! Eu me casei no dia 23 de junho, porque para o meu pai não ter que fazer feio, porque tudo de casamento aqui é muita festa, como ele já se propunha fazer a festa de São João e tinha despesa, tinha cansaço físico, aquela coisa toda. Daí eu resolvi me casar no dia 23 de junho, para fazer uma festa só. Quando eu falei com meu pai, que Roberto chegou, ele tava deitado até, aí a gente chamamos ele e falamos com ele. A gente já tinha ficado noivo, aí ele falou comigo que… conversamos sobre isso, “vamos falar com seu pai.” No dia que a gente decidiu conversar com o meu pai, chegamos em casa, meu pai já estava deitado, “seu pai já está deitado, como é que a gente vai fazer?” “Vamos chamar, né!” Aí chamei meu pai, ele veio, porque não tinha aquela liberdade de você entrar no quarto onde tava. Aí o meu pai veio para sala, que a gente tava conversando na sala e tal. Aí ele falou, “seu João, nós decidimos casar”. “Ai que bom, vocês vão casar, já tá na hora mesmo!” Aquela coisa de pai assim. Ele foi e falou, “quando vocês querem casar?” “Nós estamos querendo casar no dia de São João, fala aí Vanda”. Falei, “ô pai, a gente tá querendo ver se o senhor não se importar, a gente casa no dia de São João, porque aí já tem festa mesmo, não precisa do senhor se preocupar em fazer festa para os convidados e tal.” Ele falou assim, “nossa senhora, será que eu vou dar conta? Vocês vão casar no dia de São João, mesmo?” Mas ele ficou tão feliz, tão feliz, que ele adoeceu, sabe! Ele idoso, já tava, ele teve febre, ele ficou doente, ficou de cama. Ele ficou tão emocionado com aquilo, eu não sei o que que passou na cabeça dele. Daí ele chamava minha mãe e falava, “eles vão casar dia de São João Efigênia! Efigênia, eles vão casar no dia de São João”.
P1 - A alegria foi muito, né?
R - Foi, foi! Daí, mas ele ficou muito feliz, muito feliz! Aí ele saía daqui, ia para Ponte Nova resolver as coisas dele, convidou muita gente de Ponte Nova, muita gente eu nem conhecia. Mas veio os amigos dele, aquela coisa tudo. Foi uma festa muito bonita.
19:12
P1 - Vanda e vocês tiveram quantos filhos?
R - Tivemos três filhos
P1 - Você pode falar o nome deles?
R - Meu primogênito é Plínio Alberto de Souza, Daisy Auxiliadora de Souza e Camila Aparecida de Souza.
19:30
P1 - E como foi a sua vida como profissional? Você trabalhava fora ou foi só dona de casa?
R - Eu sempre trabalhei fora, sempre fui funcionária pública.
P1 - E você lembra quando você começou?
R - Comecei em 79, 1º de agosto de 1979.
P1 - Onde você trabalhava?
R - Eu comecei a trabalhar na Minas Caixa, antiga Minas Caixa, aí trabalhei 13 anos, quando a Minas caixa fechou, em 91, como eu já estava grávida de Camila, da minha caçulinha, aí já estava grávida dela. E a gente tinha garantia de emprego, com a Minas Caixa fechando. E tinha uma vaga na saúde, como já estava quase na época de ganhar ela, aí fui e optei pela saúde. Aí trabalhei mais 33 anos na saúde.
P1 - E foi bom para você a saúde, você gostou?
R - Foi, foi, foi, toda vida!
P1 - Foi bem acolhida?
R - Nossa, como, adorava! Trabalhava com todo amor.
20:37
P3 - Vanda, você lembra seu primeiro dia de trabalho?
R - Do meu primeiro dia de trabalho? Eu lembro assim, lembro que o gerente da Minas Caixa, seu Luiz, ele foi até meu pai. Meu pai tinha um botequinho, um barzinho ali no centro da rua ali, para ajudar um pouco. Então ele chegou perto do meu pai e falou com ele, “o João, eu estou querendo que a sua filha vai trabalhar com a gente, pede ela para ir lá conversar comigo”. E eu nunca tinha trabalhado assim fora, trabalhava na roça, em casa e tal. Aí o meu pai ficou todo feliz, porque a gente tinha assim uma comunicação extrema a gente era muito ligado eu e meu pai as fotos assim dele comigo é a mesma cara eu pareço muito com ele aí ele falou assim a Vanda Luizinho falou para você ir lá que ele vai arrumar um serviço para você aí eu fui toda poderosa querendo trabalhar aquela coisa doida chegando lá comecei a fazer cafezinho fazer o cafezinho você sabe fazer café sei então faz um cafezinho para a gente ah não gostei muito do seu café você vai ficar aqui com a gente aí trabalhei muito de serviço e tal até você promovida depois eu fiz concurso concurso no estado para auxiliar administrativo e dei sequência Quando eu fui para a saúde Eu fiz auxiliar de enfermagem Voltando meu primeiro dia de serviço foi isso aí ele chegou falou assim comigo do cafezinho e falou agora você pode ir lá fazer os seus documentos que eu não tinha ainda e pode vir trabalhar com a gente.
22:47
P1 - E você falou da mudança, que você optou para a saúde e isso foi bom para você, né! Que você foi trabalhar numa área que você queria e foi bem acolhida. Mas quando que você fez o curso de pedagogia?
R - Então, eu fiz o curso de pedagogia, eu fiz aqui mesmo, pela UBRA, sabe? Tinha aqui, com Bete, Bete que organizou tudo. E aí saiu para fazer o curso de pedagogia, eu já tinha formado e tal. Falei vou fazer! Já tinha saído da escola, voltei para fazer, eu tinha vontade de fazer uma faculdade. Aí fiz o UBRA, matriculei e fiz. Foi aqui mesmo!
P1 - Mas aí você nunca atuou não, só fez o curso.
R - Não! É!
23:58
P1 - Vamos voltar um pouquinho lá na festa de São João, Vanda. Eu queria que você falasse para gente o que que tem na festa, como que acontece a festa?
R - Então, a festa é no dia 23 de junho, todo 23 de junho. E como é com a ajuda da comunidade, uma semana antes a gente começa a fazer os preparos. Daí a gente sai pelas ruas da cidade, porque o pessoal ajuda com os donativos. Aí eles doam farinha, eles doam feijão, eles doam tudo que a gente gasta lá, porque lá tem broa, tem rosca, tem caldos de feijão, mandioca, canjiquinha, canjica doce. Então isso tudo aí é angariado, a gente sai coletando aí nas ruas. E depois a gente tem uma equipe lá junto comigo, dos meus irmãos, vizinhos, amigos, e a gente vai preparar tudo e dou de volta para a comunidade. Daí a gente sai com a sacolinha, chega ali na casa de um pega um pacote de farinha, pega um quilo de feijão, pega a canjiquinha, pega o açúcar, já tem as coisinhas dele assim que tem. Produtores de leite que doa leite para gente e a gente sai correndo atrás. Meu marido vai com carro depois, recolhe tudo aquilo, deixa lá em casa, e a gente vai separando e depois tem o dia da preparação, que é no dia 23, 22, 23, a gente começa a preparação.
25:40
P1 - Que é fazer o quê, as quitandas?
R - Fazer as quitandas, para cozinhar o feijão, para fazer os caldos, a canjiquinha, já deixa a canjica branca de molho, para ficar mais fácil. Eu tenho uma equipe muito boa que trabalha comigo, que não são muitas pessoas, mas são poucas que valem por muitos.
P1 - Certo! E no dia da festa como que é festejado?
R - O dia da festa sempre começa por volta das 18 horas, tem gente que já vai até um dia antes e já fica! Mas é por volta das 18 horas. O Wesley mesmo, Wesley consegue, porque tem que ter barulho, nós gosta muito de barulho. Aí chega por volta das 18 horas, começa a chegar o pessoal. Antes, no dia anterior, a gente levanta o mastro, tem o terço dos homens, porque tem muito homem ajudando, a gente dá prestígio para eles. Aí tem o terço dos homens e a gente levanta o mastro de São João, uma bandeirinha bonitinha, foi confeccionada pelos meus amigos, meu primo Júlio, por Roberto, meu marido, eles fizeram bonitinho. Aí a gente levanta o mastro, aí a gente já tá aquela equipe toda fazendo os quitutes lá, a gente já distribui um pouquinho, começa a distribuir um pouquinho para eles ali de véspera. Mas outro dia só de volta. Aí tá, no outro dia, dia 23, começa a chegar o pessoal às 18 horas, o som já está ligado. E começa, o pessoal começa a dançar, começa aquela…. A gente se propôs a começar a distribuir os alimentos após a quadrilha, se não o pessoal vai comer e não vai nem ver a dança da quadrilha. Aí tem a quadrilha, daí depois da quadrilha que começa, a gente coloca assim no passeio lá na rua, os caldeirões com os tambores lá, os tabuleiros com os quitutes. E aí o pessoal vão se servindo, tem as meninas lá também que ajuda a servir, tem o quentão da Dona Maria que é inesquecível, que todo mundo adora. E é isso.
28:02
P1 - E as brincadeiras lá como que fica?
R - Aí depois da quadrilha tem a dança, logo depois quando chega meia-noite tem a passagem da fogueira, o pessoal passa nas brasas, não se queima. Eu não me atrevo muito a passar não.
P1 - Eu já passei
R - Quando eu era mais nova passava, depois… mais pesada, acho que se pisar nessa brasa vai afundar no meu pé. Mas a minha irmã, meus sobrinhos passam. As brincadeiras assim, a gente não tem muita diversidade de brincadeira, mas é isso, é o forró, as comelança, a quadrilha, pau de sebo, tem pau de sebo e tem o boi laranja.
P1 - Como é que o boi laranja?
R - Boi laranja é assim, é uma cabeça de boi mesmo, com corpo de balaio, de taquara. Aí é o meu marido mesmo que faz, ele não abre mão disso não, o boi laranja tem que ser confeccionado por ele, toda enfeitado, as meninas também, minhas filhas ajudam, meus sobrinhos, fica todo mundo rodeando ali. Aí ele veste uma roupa de caipirão lá, entra naquele balaio e dá cada salto naquele boi, corre atrás dos meninos, a gente faz uma passeata até aqui embaixo, para chamar mais atenção, sabe? Com uma sacolinha de bala, jogando as balas lá para as meninadas que fica alvoroçada.
P1 - O que que não pode faltar na festa dos Matias?
R - Então, não pode faltar… Primeiro as pessoas que a gente agradece muito, que tem que ter para ver aquilo tu lá, o boi, as amizades não pode faltar, o boi, a fogueira, aquilo tudo ali Consola, sabe, é um conjunto de coisas assim, que faz a festa ficar legal e eleva o ego da gente, porque o nosso prazer é saber que todo mundo ficou feliz, sabe.
30:17
P1 - Você falou no princípio com a gente, que seu pai mudou várias vezes, mas sempre procurou morar perto de sua avó, né?
R - Sim!
P1 - E vocês, como vocês moram hoje? Vocês moram todos próximos um do outro, mora em cidades diferentes, seus irmãos?
R - A maioria moramos perto, porque o meu pai, quando ele adquiriu a casa, ele adquiriu um terreninho assim mais extenso, que aí dá para a gente morar. Eu fiz a minha casa, a minha irmã do lado, tem um outro irmão também. O meu irmão caçula fez a casa dele por cima da casa dos meus pais. E tem também os que moram fora.
P1 - Mas a maioria mora aqui?
R - A maioria mora aqui
P1 - E na mesma rua que seu pai morava e onde fazia a festa.
R - Sim!
31:14
P1 - O Vanda, tem mais alguma coisa da festa de São João que você gostaria de falar para a gente?
R - Assim, eu tenho que agradecer o pessoal que está lá na minha equipe, que sem eles também quem eu seria. Tem a Elma, que é um pedacinho de mim, tem Maria, a irmã, que é o braço direito, o marido, sem ele quem sou eu e as minhas filhas, que estão sempre me apoiando. E toda a comunidade de Rio Doce, inclusive vocês.
P1 - Obrigada!
31:58
P1 - Vanda, a gente sabe que essa tradição de São João, vocês estão mantendo e é uma tradição da sua família, da família do seu pai. Mas além disso, a sua família, lançou uma outra festa tradicional no Rio Doce, tem uma outra tradição que vocês fazem, gostam muito de carnaval. Você poderia falar um pouquinho?
R - Sim! A gente gosta, te falei antes, que a gente é muito festeiro e tal. E não nos contentamos só com a festa de São João naõ, ainda inventamos um bloco de carnaval. Que hoje em dia, assim, é muito procurado, é muito, como se diz, participativo, muita gente participativa, a gente criou o bloco “Juntos e Misturados”, até porque quando a gente resolveu colocar esse nome, era porque aqui tinha essa escola de samba, você lembra, né? Então, tinha aquelas regras, que não podia entrar todo mundo, era só quem participasse ali da escola que podia. E a gente tinha que ficar do lado de fora da corda, porque a gente não participava e tal. Então, nós resolvemos lá conversando, eu, Cilei que é meu amigo também, e os familiares, aí resolvemos, “vamos criar então, um bloco, que é tudo junto e misturado, pode todo mundo, pode tudo. Daí nós criamos o “Juntos e Misturado”. E qual que era o foco, os homens vestidos de mulher e as mulheres de homem, hoje em dia ainda tem uma resistência, mas no início era muito legal, as mulheres tudo de homem, se confundiam, e os homens se vestiam de mulheres, aí que se soltava mesmo. Mas até hoje é muito procurado, esse ano, nós ficamos dois anos sem fazer, mas esse ano com a pandemia foi um sucesso.
34:13
P1 - E tem uma particularidade, porque esse bloco seu tem todo um formato diferente, que os blocos saem todos à noite e o seu Bloco começa que horas?
R - Na verdade é uma concentração. Aí a gente faz a concentração lá em frente a minha casa, lá na Rua Silveira Lobo. E para facilitar já fizemos a concentração open bar, open bar, open food, que tem comida, tem bebida. E o pessoal paga, a gente taxa lá o valor dos ingressos, aí a gente compra bebida, compra comida. E é isso.
35:00
P1 - O que você sentiu ao dar essa entrevista para gente?
R - Legal! É bom a gente falar, a gente relembrar, porque às vezes a gente no corre, corre do dia a dia, não tem assim, oportunidade de estar falando, de estar sentindo, porque tudo que a gente fala sai de dentro, é com sentimento mesmo, emoção de lembrar dos pais, porque apesar dos pesares, eu rio muito, mas para vocês que me conhecem, sabe que a minha vida é bem sofrida.
P1 - E você está linda! Para você hoje o que é mais importante na vida?
R - Viver! Viver em paz, ter saúde, ter amizades, a minha família, o apoio da minha família, dos meus amigos. É isso tudo que eu gosto.
P1 - E você tem algum sonho ainda? Alguma coisa que você gostaria de realizar?
R - Sonho a gente sempre tem, né? Eu sou muito sonhador e tal. Mas eu quero continuar, se puder assim do mesmo jeito. Quero viajar um pouco, sabe, sair um pouquinho para ver outros lugares diferentes, coisas diferentes, que a gente fica muito preso aqui no lugar que a gente vive. Agora estou esperando meu marido aposentar, porque a gente está sempre junto, sempre lado a lado, então eu não acho muito justo eu sair e deixar. Já sai outras vezes e deixei assim, mas nunca fui para lugar tão longe. Aí eu quero que ele aposente, já está no ano certo, acho que ele aposenta esse ano. Para a gente passear um pouco, sair um pouco, as minhas filhas já estão crescidas, cada uma já está vivendo a vida delas. E voltar para a festa de São João e para o Carnaval, que eu não abro mão de jeito nenhum. Vou continuar, se Deus quiser, até quando ele quiser.
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