P/1- Então Cris, para gente começar, gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R- Meu nome é Cristina Pires, sou nascida aqui em São Paulo capital e nasci em 23 do onze de 1961.
P/1- E quais os nomes dos seus pais?
R- Meu pai Custódio Pires e ...Continuar leitura
P/1- Então Cris, para gente começar, gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R- Meu nome é Cristina Pires, sou nascida aqui em São Paulo capital e nasci em 23 do onze de 1961.
P/1- E quais os nomes dos seus pais?
R- Meu pai Custódio Pires e minha mãe Amélia de Oliveira Pires. Os dois já falecidos.
P/1- E você sabe quais eram as atividades profissionais deles?
R- A minha mãe foi empregada doméstica, muito tempo na vida dela e depois ela passou a ser funcionária pública, através de uma ajuda, ela passou a ser funcionária pública. E meu pai sempre foi pintor, pintor de casa.
P/1- E como era a relação de vocês?
R- Não era muito boa a relação, porque meu pai infelizmente bebia muito e aí, por conta da bebida, ele batia, entendeu? Ele fazia toda aquela arruaça, né? Então não foi uma infância muito boa. Só que eu sou a caçula de três irmãs e a caçula é sempre o xodozinho né? Então ele me levava pra onde ele ia: pro bar, né? E a minha mãe sempre foi junto.
E com seis anos de idade ele tentou matar minha mãe e aí foi a separação de vez. E depois, ele foi morar com outra pessoa, fazer a vida dele e eu fiquei morando eu minhas irmãs e com a minha mãe, aqui em São Paulo mesmo, na Zona Norte, que é onde eu moro hoje, que é no terreno onde eles construíram a casa. Hoje os filhos dividem essa casa. Eu tenho mais uma irmã que tem a vida dela na Zona Leste e moro eu e meu filho na minha casa e os filhos de outra irmã, que já faleceu também, moram na outra casa, dentro do mesmo quintal, que era a casa dos meus pais.
P/1- E você se lembra desse episódio do seu pai com sua mãe?
R- Lembro muito, muito. Era muito triste. Minha mãe sempre foi guerreira, sempre trabalhou, sempre fez tudo que pôde para nós, eu e minhas irmãs. E meu pai não era a mesma coisa. Depois de muito tempo acho que caiu a ficha dele e tentou mudar a sua vida, mas já velho, sem mais muita bebedeira. Já não bebia mais, foi para a religião evangélica... Então tiveram as mudanças, mas boa parte da sua vida foi bebendo bastante. E as pessoas que viam ele na rua, não falavam que aquele homem era agressivo em casa quando bebia, entendeu? E essa cena dele tentar matar minha mãe foi muito marcante. E quando ele bebia ele batia na rua, sabe? Não era o tempo de hoje, que a mulher… Hoje você tem recursos para se defender. Antigamente não tinha, né? A mulher separada… Antigamente tinha outra visão. Era mulher de rua, não importava tudo aquilo que ela estava passando. Hoje não, a consciência já é outra.
Então foi muito difícil, muito marcante. É uma coisa que é complicado de você esquecer. Não dá para você simplesmente passar uma borracha. Você supera, mas esquecer mesmo, você não esquece.
P/1- E nessa época, você já tinha consciência de tudo?
R- Sim, porque era na nossa frente, ele baita na nossa frente. Batia nela na rua… Então não era uma coisa só “ele e ela”. Era na frente de todo mundo que estava em casa. Na minha casa a gente não podia assistir uma TV; se a gente dava risada de um programa de TV… A gente, às vezes, estava assistindo “Os Trapalhões” e dava risada. Se ele estivesse bêbado, era motivo de briga. Ele subia na casa, derrubava a antena da TV, então era aquele violento só dentro de casa, na rua ninguém falava. Se contasse na rua, ninguém acreditava não: “Vocês estão mentindo”. Mas eu amo meu pai, amo minha mãe, é que os tempos eram outros, infelizmente. Eu sou a caçula das irmãs, então pra mim acho que ficou mais marcante.
P/1- E essa relação com suas irmãs?
R- Então, tínhamos muita afinidade e depois da morte da minha mãe, uma das minhas irmãs, faleceu. Eu sou a caçula, a do meio faleceu e a mais velha mora na Zona Leste, que por conta da minha religiosidade, por que ela e evangélica, e depois que minha mãe morreu, ela não veio mais em casa. O contato é pela internet: parabéns em dia de aniversário sabe? Não é aquele contato mais como era. A gente era unida, de repente a coisa.. com a morte da minha mãe, a coisa acabou mesmo. Mas eu tenho os meus sobrinhos… a gente tem o contato.
P/1- E você comentou que nasceu na Zona Norte, que bairro você nasceu?
R- Eu nasci no Mandaqui, na Água Fria, na Mariquinha Viana. Eu nasci lá e sempre vivi na Zona Norte. Depois eu tive um problema de saúde, já uns vinte anos atrás… Tive um AVC e depois fui para a casa da minha irmã, na Zona Leste. Fiquei lá por um tempo e voltei para a Zona Norte, onde eu tenho minha casa hoje, no terreno da minha mãe eu construí a minha casa e moro lá até hoje.
P/1- Onde?
R- No Lauzane Paulista, que também é na Zona Norte.
P/1- Depois vou querer saber dessa sua mudança de Zona. Mas por enquanto, o que você gostava de fazer quando era criança, do que você costuma brincar?
R- Eu gostava de queimada. Tudo é brincadeira de moleque. Eu subia em árvore. Jogar bola não, porque sempre chutava para um lado e ia pro outro, então nunca deu certo. Mas eu fazia parte na escola do handebol, apesar de ser baixinha, mas eu tava sempre em atividade. Pula-pula, tudo que era brincadeira de moleque eu fazia, empinava pipa, carrinho de rolimã... Eu era bem moleque, eu não era muito menina de boneca. Eu tinha bonecas e tudo mais, mas eu sempre gostei de adrenalina, brincadeira que agitava mais.
P/1- E que lembrança você tem da sua casa?
R- Da minha infância?
P/1- Isso.
R- Era uma casa muito movimentada de… Teve uma época... Eu nasci na Água Fria, morei na Avenida Água Fria quando eu era criança a gente morava numa casa, onde o dono da casa construía artesanato nas madeiras. Fazia casinha, tudo em madeira. Ele montava sofá, era muito legal, porque a gente aprendeu, e ele dava presente para gente. E nesse local, eu gostava... Como eu disse, eu era muito moleque, e eu adorava no carnaval, ficar… Porque a gente morava na avenida, só que não podia sair na rua porque era perigoso, então a gente ficava no quintal, enchia aquela seringa de carnaval de jogar água e jogava água em todo mundo que passasse, pra fora do portão. Era brincadeira! Então era com as casinhas que ele fazia. E depois eu fui crescendo e tudo mais, e gostava de baile, eu sempre gostei de música, desde de criança. Então eu ia pros bailinhos onde ninguém podia entrar, porque eu sempre tive carinha de mais velha, então eu entrava nas matinês que tinham ali perto do Mandaqui mesmo. Ali perto da igreja tinha um salãozinho que fazia baile e eu sempre ia. Eu entrava porque eles me conheciam e eu acabava entrando no bailinho. E fazíamos festas em casa, depois no próprio Mandaqui, mas em outra casa, fazíamos bailes e aprendi dançar samba-rock, através dos amigos da minha irmã. Eu era pequena, mas eles me ensinavam e eu dançava com eles. Era pequena, me jogavam para cima, e era muito bom. A minha infância, tirando essa parte de sofrimento da minha mãe apanhar, disso tudo, a gente era feliz, porque a gente era unido e hoje a gente não é. Mas a gente era feliz, com todo o sofrimento a gente tinha a nossa felicidade. Porque minha mãe era lutadora e não deixava faltar as coisas pra gente. Ela tinha que trabalhar, a gente também não podia ficar na rua, então o mais velho cuidava do mais novo. As minhas irmãs cuidavam de mim. Elas iam trabalhar na época que elas começaram a trabalhar, mas sempre de olho em mim se eu não estava na rua, o que eu tava fazendo… Era muito bom a minha infância, eu não posso reclamar não. Porque assim, eu tive uma infância, acho que razoável, feliz. Apesar dessa parte ruim, mas eu sempre buscando superar, sempre fazendo amizades, porque eu gosto muito de ter amizades.
P/1- E assim, do que você tem lembrança do seu bairro, naquela época?
R- Olha, no bairro da Água Fria, naquela época, que eu era criança, tinha o cinema. Hoje não tem mais, mas tinha o cinema e era muito legal, a gente ia lá, bem no bairro, bem próximo. Porque não dava para fazer longos passeios; íamos ao Horto Florestal, tinham os bailes de domingo no Horto Florestal. Hoje ainda tem, mas são mais para a terceira idade. Tem um local lá que eles alugam para fazer os bailes. Como eu falei, eu sempre gostei de festa; eu mesmo não tendo idade eu sempre gostei. Então eu ia para os bailes.
Então o que me marcou bastante foi o cinema que tinha ali. A gente ia muito pra Santana a pé, a gente juntava a turma e ia para lá, porque em Santana tinha outro cinema, onde hoje é um shopping. E era muito bacana, a gente juntava o bando e ia andando. “Vamo, bora!” Não tinha dinheiro e a gente se divertia assim.
P/1- E, nessa época, você já gostava de cantar? Porque você já gostava de ouvir música.
R- Eu gostava de ouvir música. Eu sempre gostei de música e eu cantava, mas eu era criança, cantava com o rádio. Nunca cantei… Eu passei a cantar já depois de velhinha, em 2012, quando eu comecei a cantar profissionalmente. Eu sempre gostei de participar de roda de samba, então no meio da roda de samba, eu sempre ficava de pé, cantando junto com os músicos, mas não cantando profissionalmente, acompanhando na roda. A partir de 2012, que eu comecei a cantar profissionalmente; quando eu fui em um barzinho de um amigo meu e aí tava todo mundo cantando… E o samba, ao invés de ir para cima, o samba estava caindo, estava indo para baixo, eles estavam sentados do lado de fora do bar. E eu falei para ele: “Como é? Vai ficar esse negócio? Tá horrível! O samba, ao invés de estar indo para cima, está indo para baixo!” E aí eu falei: “Desse jeito até eu canto”.
Ele pegou o microfone e deu na minha mão e falou… - até hoje está sendo o aniversário dele - ele pegou o microfone e eu falei: ”Então vou cantar, e eu não vou ser ameaçada”. Eu peguei o microfone e fui. Não sabia tom, não sabia nada. Fui com a cara e a coragem. Sabia a música e falei para os meninos a que eu queria cantar e quando terminei, todo mundo gostou; bateram palmas, elogiaram e daí para frente eu comecei. Fui buscando aprender a cantar, participei de coral. Hoje eu faço um pouco de violão, cavaquinho, mas estou estudando ainda. Sai do coral por causa de tempo, mas ainda estudo em casa mesmo. Mas eu gosto. A música é minha alma. Tanto que eu to fazendo as lives por causa disso, porque eu fiquei… Quando a pandemia, eu tinha alguns projetos para fazer, eu tinha quatro projetos já agendados, fechados direitinho. E aí a pandemia veio e parou tudo. Eu fiquei três dias em depressão, e eu falei: “E agora? O que eu vou fazer da minha vida?”. Ai eu falei: “Não, pera aí. Eu não posso cair. Se eu não caí até agora, eu vou cair agora por quê? Eu vou começar a fazer lives”.
Daí comecei a fazer lives de domingo a domingo, sem ninguém, só eu à capela. Eu comecei em junho, fiz junho, julho e agosto, só que agora eu mudei, eu estou fazendo de segunda a sexta, porque sábado e domingo alguns amigos fazem live, me chamam... E também a concorrência é grande, porque todo mundo agora está fazendo live, né? Então eu estou buscando outras coisas para o final de semana. Descansar um pouco a voz, porque eu tenho calo na corda vocal e eu sou abusada (risos). Não podia estar fazendo tanto sacrifício, mas é que eu faço com amor. Eu gosto do que eu faço, então…
P/1- A gente vai querer saber disso. Mas antes, eu vou voltar um pouquinho tudo bem?
R- Vamos voltar, vamos voltar. É que uma coisa vai levando à outra. Só deixa eu tomar uma água.
P/1- Claro! É assim mesmo!
P/1- Eu queria saber, se quando você ainda era criança, se você tinha alguma vontade, um desejo, se você pensava o que você queria ser quando crescer?
R- Eu queria ser, quando crescessem, professora de educação física. Porque como eu falei, eu sempre fui agitada, então eu queria ser professora de educação física. Só que não tinha teste vocacional, não tinha essa condição que se tem hoje. Eu era… E não tinha ninguém para auxiliar, porque minha mãe fazia tudo, mas ela trabalhava muito para poder sustentar a casa, até que as minhas irmãs tiveram uma idade para sair para trabalhar, ajudar… Então não tinha teste vocacional, porque hoje tem. E era o que eu queria: trabalhar com educação física. Só que ai eu fiz um Curso de Técnico de Contabilidade e desse curso eu falei: “Bom já que fiz o técnico, vou seguir para contabilidade, porque amanhã eu posso ter o meu escritório e tudo mais”. Só que foi o que eu falei, não tinha ninguém para te dar um incentivo e não tinha o que você tem hoje. Hoje você vai no Google e acha um monte de dicas, um monte de coisa com que você pode se virando… Não tinha. Aí eu estacionei; trabalhei em alguns escritórios contábeis, mas não era a minha praia, porque eu queria trabalhar com educação física. Então você está frustrada em uma coisa que você acaba também não trabalhando com aquilo, com aquele amor… Você trabalha porque você precisa ganhar o seu dinheiro, ganhar o seu sustento. E aí eu achei nesse meio a massagem, que era uma coisa que eu aprendi e eu amo fazer também, e daí deixei a parte contábil de lado e comecei a fazer a parte de massagem. Eu tinha minhas clientes de massagem, eu faço a massagem relaxante, redutora e tudo mais. Consegui comprar meus aparelhos para fazer a massagem. Trabalhei em uma clínica e fui aprendendo. Fui buscando mais curso, informação... A contabilidade foi uma coisa que eu achei que ia ser, mas não aconteceu, porque não estava dentro de mim, mas me formei. Das minhas irmãs eu sou a única que sou formada. Elas não tiveram oportunidade, até porque trabalharam bastante para ajudar e também acho que não tiveram aquela vontade... Foram felizes como elas gostariam de ser. Não posso culpar.
P/1- E voltando um pouquinho. Quais as suas primeiras lembranças da escola? Ainda pequena.
R- Olha, muito pequena eu não tenho lembrança da escola. Eu tenho lembrança na fase já de sete, oito, nove… Eu sempre gostei de estudar, isso até hoje. Eu gosto muito de me informar. Sempre gostei de estudar, buscava tirar boas notas, mas como falei, eu era muito sapeca, só que nunca burlava aula. No dia que eu não queria ir à escola, eu não ia, mas cabular aula para ficar na porta da escola não era a minha arraiá, entendeu? Ou eu ia para ir à escola, ou ficava na minha casa e até hoje eu sou meio assim. Eu não sou muito de ficar na rua se eu não tiver o que fazer. Na rua que eu moro ninguém me vê, a não ser quando eu vou ao mercado, quando vou sair para algumas coisas, ou eu tenho alguma coisa para resolver. Fora isso eu tô na minha casa fazendo as minhas coisas. Então desde pequena eu sou assim, mas a lembrança da escola é muito boa, até porque eu era muito briguenta. Eu brigava na porta da escola, batia nos outros, apanhava… Eu era briguenta. Eu sempre fui muito molecona e defensora das causas dos outros, sempre. Sempre fui muito brincalhona.
P/1- E essa escola era perto da sua casa, no seu bairro?
R- Era. Quando eu morava na Água Fria eu estudei na [Escola Estadual] República da Bolívia, que era uma escola pertinho. Não era longe não.
P/1- Como você ia para escola?
R- Andando. Da minha casa eu ia andando, porque é uma travessa dessa Avenida Água Fria, que é essa escola, que se chama [Rua] Manoel de Soveral, a rua da escola, que é uma travessa, da Avenida Água Fria. Ali entre a cantareira e a Água Fria, tem uma bifurcação, Doutor Zuquim… E a escola era ali. Então era perto, a gente ia andando e era muito bom.
P/1- E nessa escola teve algum professor ou alguma professora que tenha te marcado?
R- Todos eles, porque como te falei, eu gostava de estudar e gosto de estudar. Então eu prestava atenção, eu era boa aluna. Apesar de bagunceira, não bagunceira… Como eu vou falar? Eu sempre fui falante, então… E às vezes eu era hiperativa. Então eu, às vezes, atrapalhava um pouquinho, porque eu aprenderia… Mas eu também ajudava as pessoas que não sabiam… Eu sempre ajudava, aquilo que eu sabia eu ajudava o outro, meio que prestativa.
P/1- E você tinha amigos? Como era seu…
R- Tinha. Tinha uma amiga de infância que era a Terezinha. Eu ia na casa dela, ela ia na minha casa, a gente ia para escola junto, voltava junto. Às vezes fazia as lições juntas. Como a minha mãe era doméstica, ela trabalhava em uma casa, casa da dona Ruth, e essa dona Ruth tinha um filho só, o João Fábio e muitas vezes eu saia da escola e ia para casa da dona Ruth, porque lá ela me ensinava, me ajudava na matéria, como minha mãe estava trabalhando em outras casas, não só na casa dela, eu ia para lá e ela me ajudava a estudar, me tratava como uma filha. Nessa época, a dona Ruth, que eu tenho muita lembrança... A minha madrinha Rosa Maria, também tenho muita lembrança, que são pessoas que marcaram minha infância, que ajudaram muito minha mãe, para eu não ficar na rua, para não acontecer nada de mais grave, eu ficava com essas pessoas.
P/1- E você se formou nesse colégio ou você mudou de escola?
R - Não, eu me formei nesse colégio. Eu fiz o primário todo lá e depois no colegial, que naquela época tinha o colegial, eu fui para outra escola, porque lá era só a parte do primário que havia, da primeira à oitava série. E aí no colegial eu fui para outra escola. Como eu queria fazer a contabilidade, eu fui… Trabalhava para pagar o técnico. Época dura também, em que eu não conseguia fazer nada a não ser pagar. Eu trabalhava para pagar a escola. Minha mãe e minhas irmãs continuavam mantendo a casa e eu trabalhava para pagar o meu colegial. Me formei no técnico da escola.
P/1- Como eram essas aulas no técnico?
R- Foram boas as aulas, mas como sempre, eu era a protagonista do… Se não tava bom o professor, eu ia para a diretoria, eu reclamava. Se o professor não era bom… Eu sempre fui meio polêmica, tipo chefe da turma, sabe? Chefe da gangue (risos). Eu era meio que a líder, porque eu tomava as dores e ia para a diretoria. Se eu visse que alguma coisa estava errada, eu ia atrás para saber… Nunca gostei de injustiça.
P/1- E você fez amigos nessa escola?
R- Fiz. Hoje cada um… Já não temos amizade. Alguns já morreram, mas assim… Ficou numa época lá atrás. Hoje são novos amigos. Daquela época lá atrás, eu já não tenho mais muitos amigos.
P/1- E também era perto do seu bairro essa escola?
R- A técnica era em Santana. Era perto, era ali no final da [Rua Doutor] Zuquim, era outro bairro. Não era longe.
P/1- E você também ia andando?
R- Ia. Eu ia andando.
P/1- Acompanhada?
R- Não. Eu já era mocinha, aí eu já ia só, porque às vezes eu saia também do trabalho, porque como eu falei, como eu sempre fui meio autoritária, com seis anos, seis para sete anos, eu queria uma calça jeans e minha mãe não podia, minha mãe fazia o sustento da casa e tal. Já era separada, meu pai já estava meio assim… E aí eu queria uma calça jeans e eu fui trabalhar, e tinha uma pessoa que precisava de… A gente morava na Senhor Drummond nessa época, e essa pessoa precisava de alguém para limpar o vidro, a janela. E essa mulher me colocou. Eu era pequetitinha, bem miudinha, e me colocou para limpar a janela e eu fui. E eu limpei a janela, só que a criança não está acostumada, limpei, fiz tudo bonitinho. Quando eu cheguei na minha casa eu encostei no sofá e bodiei. Ai quando minha mãe chegou do serviço ela falou: “O que ela tem?”, para minhas irmãs. E minhas irmãs: “Eu não sei o que aconteceu”, porque eu saí sem ninguém saber. Quando foi no dia seguinte - porque eu fiquei ali no sofá mesmo, cansada - no dia seguinte minha mãe questionou: “O que aconteceu?”, e aí eu falei: “Fui na casa da Fulana limpar o vidro, porque queria comprar minha calça”. E aí, minha mãe pegou na minha mão e fomos bater lá na casa da Fulana. Minha mãe deu mó bronca nela e tudo mais, porque eu era criança. O perigo e tudo mais. Ai tudo bem, né? Nem lembro que final deu dessa calça jeans, mas eu sempre fui assim. Quando eu quero eu vou atrás. Eu vou à busca, não fico esperando. Vou buscando os meios de fazer acontecer. Às vezes dá certo, às vezes não dá, mas eu não fico parada.
P/1- E você falou que você pagava a escola técnica...
R- Sim.
P/1- Qual era o seu trabalho? Qual foi seu primeiro trabalho?
R- Eu trabalhei numa… Meu primeiro trabalho foi numa fábrica de silk-screen de fazer caneca. Era em uma travessa da [Rua] Doutor Zuquim. Tinha essa fábrica e eu trabalhava lá. Depois fui trabalhar na antiga Christian Grey, antes do Avon... Tinha Avon, Christian Grey, que eram as maiores disputas em beleza. Era lá na Vila Mariana, trabalhei uma boa parte lá também. E eu trabalhava para fazer dinheiro. Trabalhei no antigo MAP, trabalhei no banco econômico...
P/1- Esses trabalhos aconteceram no período em que você estava estudando ainda, ou já foi seguido?
R- Não, já foi seguido. Eu comecei na fábrica e aí depois eu não parei mais de trabalhar. Saia de um e ia arrumar outro, e trabalhar. Eu sempre gostei de trabalhar.
P/1- E no período em que você estudava ainda, você falou que pagava a escola...
R- Sim.
P/1- Depois que você saiu o que fazia com seu dinheiro?
R- Então, eu fui para a faculdade. Porque eu fui funcionária pública também um tempo da minha vida e eu também tive uma chefe que foi muito bacana para mim e me ajudou muito a conseguir entrar na faculdade. Eu fiz faculdade da São Judas e ela falou para mim: “Cris, vai tentar, tentar. Tentar não custa”. E eu tentei e ela deixava eu sair mais cedo para eu estudar, porque eu estudei sozinha, não dava para pagar vestibulinho. Então eu via as matérias e estudava em casa. Então eu saia mais cedo do trabalho, chegava na minha casa, abria os livros e vamos estudar, e vamos embora. E passei. Graças a Deus passei entre os cem na época e eu pude escolher o horário. Então eu estudava da tarde para noite. Eu trabalhava. Nessa época eu era funcionária pública, trabalhava, saía e ia para a faculdade, da faculdade eu ia para casa. Na faculdade eu reencontrei uma amiga do tempo da escola, que morava do lado da escola, do primário, e ela me dava carona, às vezes até em Santana, às vezes eu até conseguia carona até o Belém e vinha de metrô embora.
Me formei em Ciências Contábeis com ajuda; e essa chefe me ajudou muito porque quando eu fiz… Passei, eu não conseguia. Falei: “Bia, e agora? Preciso pagar a matrícula. Passei, tenho que pagar”, eu não tinha o dinheiro. Ela pegou o dinheiro dela e falou: “Toma! Vai lá e faz, depois você me paga”. E aí eu fiz. E graças a Deus, eu sempre tive pessoas boas. Tiveram algumas fases ruins na vida, mas eu sempre tive pessoas boas ao meu lado, então eu sou muito grata; a Deus, à vida, às pessoas que fazem parte da minha história. E sempre de um caminho vem outro; de uma pessoa vem outro caminho, às vezes você ajuda alguém e vem outro alguém e te ajuda.
P/1- Como foi entrar na faculdade?
R- Foi maravilhoso, porque eu tinha toda aquela expectativa, como eu te disse, de ter o escritório, de fazer, de acontecer. Quando você está no pique, naquele gás, você vai em busca, você vai atrás, então era muito bom. Foi difícil, porque era muita coisa, muita matéria. A contabilidade muda todos os dias; todos os dias tem uma lei nova em que você tem que estar ali, no pique. Os livros que você precisa ter. É um gasto né, mas... Um vem, tira um xerox para você, te empresta, outros já trazem a xerox: “Ó, no meu trabalho eu posso tirar, vou lá tiro a xerox do livro pra você, da matéria”. Então foi sempre com ajuda de alguém. Eu sou muito grata por todas as pessoas que passaram na minha vida mesmo, de coração.
P/1- E aí, assim que você se formou, você foi… Mas calma, nessa época você já tinha desistido de educação física?
R- Já, porque…
P/1- Acabou.
R- Acabou, porque não dava. Eu fazia uma coisa ou eu fazia outra. Como eu já tinha feito técnico, na minha mente, o mais fácil era fazer a contabilidade, seguindo a contabilidade. Só que eu tava fazendo uma coisa que não era aquilo que realmente estava dentro de mim.
P/1- E quando e como você percebeu que não era isso o que você queria?
R- Quando eu estava dentro do escritório de contabilidade trabalhando, fazendo todo o trabalho.
Aí eu fui ser massagista, eu trabalhava em duas… Eu saia do escritório e ia atender minhas clientes, e aí eu vi que estava ganhando muito mais das minhas massagens do que fazendo a contabilidade e não estava tendo reconhecimento. Ao contrário, as minhas clientes eu via emagrecendo, perdendo as gordurinhas que elas queriam, estando bem. Eu falei: “Não, peraí, eu posso fazer bem para o outro e ser feliz? Parei”. Aí eu saí do último escritório, não entrei mais e continuei com as minhas massagens. Arrumei clínica para trabalhar, mas a clínica não te paga o que você merece ganhar, porque o trabalho é todo seu e fica com eles a… E aí comecei a fazer sozinha. No começo eu levava maca no ônibus, eu ia de final a final, porque a maca é dobrável, é grande; eu não tinha os aparelhos ainda, eu tinha que levar a maca no ônibus, descer e depois ir até a cliente. Às vezes eu andava um bom pedaço da rua carregando a maca, mas eu amava fazer isso e amo. Depois eu consegui um carrinho para poder carregar a maca, os aparelhos, aí ficou mais fácil, mas nessa… Foi onde eu descobri que eu não tinha nada a ver com a contabilidade. Foi bom? Foi bom, porque foi aprendizado, eu adquiri uma formação, que é muito importante, mas…
P/2- Cris…
R- Oi.
P/2- Eu quero te fazer uma pergunta. Você falou que teve uma experiência como funcionária pública, né?
R- Sim.
P/2- Queria que você falasse um pouco dessa experiência como funcionária pública, antes de você fazer e depois acho que paralelo à faculdade de contabilidade e dessa chefe de quem você falou que foi uma apoiadora nos seus estudos, queria que você falasse um pouco desse trabalho e dessa relação com essa chefe.
R- A minha mãe, como eu disse, era empregada doméstica e depois passou para o funcionalismo público e depois foi trabalhar na Secretaria de Segurança Pública e lá tinha um senhor, que já faleceu também, o senhor Gilberto, ele era um pai e tinha antigamente… Você era contratado, eu entrei primeiro como contratada, através do seu Gilberto. Ele me levou para secretária para trabalhar; minha mãe trabalhava nessa época como funcionária, mas ela ficava na cozinha e fazia o almoço de todo o departamento, para não terem que comer fora, trazer marmita… Então tinha o refeitório e ela fazia o almoço para os funcionários, além do setor dela, era de levar o papel para um andar para o outro, os mensageiros, que eles chamam. Quando ela saiu de empregada doméstica e foi para lá... E aí conversando com ele, ele falou: “Ah, fala para ela vir aqui para conversar”, e eu fui. Eu entrei como contratada primeiro, depois eu prestei concurso, passei e trabalhei na Secretaria de Segurança Pública também. Fiquei sete anos, de oitenta a 87, trabalhando como funcionária pública na Secretaria. Lá eu trabalhei na divisão de comunicações, porque minha mãe trabalhava no décimo primeiro andar, que era a parte de administração e eu fui trabalhar no décimo oitavo andar, que era a divisão de comunicações da polícia civil. Eu era escriturária, vamos colocar assim, digitava sobre as coisas que entravam para a gente fazer, dos processos. De lá eu tinha chefe que era a Lu e ela precisava de alguém no departamento dela, que era o de finanças. Como eu tinha feito a contabilidade, me indicaram para trabalhar com ela dentro deste departamento. Aí fui para a sala dela que eram três pessoas: eu, ela e a Anaemi, que cuidava da parte de… Mexia com o dinheiro, distribuía o dinheiro, para onde ia o dinheiro. E ali eu aprendi a lidar com os processos, tinha... Eu esqueci o nome agora… lLcitação. Eram feitas licitações para comprar material de todo tipo pro departamento, para a parte de comunicação… Tudo que era comprado passava pelo setor de finanças, pela nossa sala e surgiu a oportunidade no Instituto de Criminalística para ser chefe de seção e ela me indicou. E daí eu fui ser chefe de seção lá. Ela me ajudou na parte da faculdade, quando eu trabalhava com ela, ela viu meu esforço, me ajudou e depois ela me indicou para ser chefe. Ela me ensinou tudo que eu sabia e me indicou para ser chefe em outro departamento, pra onde eu fui e fiquei um prazo e depois sai do funcionalismo, porque funcionário público é legal, mas você não tem pra onde correr. Como eu trabalhava na polícia, ou eu saía ou eu entrava para polícia, que não era o meu intuito ser uma policial; ou eu ia para outra secretaria, fazendo concurso e tudo mais, e ai resolvi sair, fui para outros cantos.
P/1- E aí depois quando você saiu do serviço público, ai você entrou na massagem?
R- Isso! Quando eu saí da parte de contabilidade? Você diz do funcionalismo público, não, ainda não fui.
P/1- Sim.
R- Aí eu fui para os escritórios, continuei nos escritórios de contabilidade trabalhando.
P/1- Tá. E aí depois que você saiu dos escritórios você foi para a massagem?
R- Isso, porque nesse intermeio eu casei. Em 87 eu casei e aí eu continuava trabalhando fora, sem ser funcionária mais. Depois que surgiu a massagem.
P/1- E onde você conheceu o seu marido?
R- Ele era primo… É não né, é primo de uma amiga. Através dela eu conheci ele.
P/1- E vocês chegaram a casar, comemoração, festa?
R- Casamos, teve festa… Tenho um filho, tem trinta anos, vai fazer trinta anos, meu filho. Só que não deu certo, porque a gente só namorou dez anos e só ficamos cinco casados, porque a mente dos dois é… Cada um pensava diferente e tudo mais, mas valeu, meu filho está aí.
P/1- E após o seu… Você ainda faz massagem, é isso? Ainda trabalha com isso.
R- Isso. Hoje eu não tenho mais a mesma clientela que eu tinha, porque eu ia depois de certo tempo, eu comecei a fazer, como eu disse que eu consegui o carro, e consegui ir na casa das clientes, mas houve um incidente em que bateram no meu carro e eu fiquei sem condições e perdi minha clientela toda. E hoje eu não faço mais, hoje eu estou mais na música do que na massagem. Ainda continuo como massagista, mas não estou atuante.
P/1- Com foi o desenrolar dessa trajetória profissional?
R- Então, eu comecei profissionalmente em 2012 a cantar e aí em 2014… 2015 ou dezesseis eu recebi uma proposta para fazer um show na CCJ, que é na [Avenida] Deputado Emílio Carlos, que é o Centro de Conveniência da Juventude, e era para ganhar um bom dinheiro. E a pessoa que me levou para fazer esse show... Foi um bom dinheiro, mas essa pessoa ficou com a maior parte do dinheiro. E ai falei: “Bom, fui enganada. O que eu vou fazer? Eu vou abrir a minha empresa de eventos”. Porque eu posso assinar, eu posso tirar as minhas notas e eu posso ajudar outras pessoas que precisam também e eu sei que não vou roubar ninguém”. Então eu abri em 2017 a minha empresa de eventos, mas em 2012 eu já comecei a cantar profissionalmente, então eu fazia de um projeto Terapia dos Boêmios, fizemos no bar brahma, São João, fizemos ali perto do Anhembi também, os dois bares brahma, que era muito bom, que eram mulheres que cantam. Eu tenho projetos que só mulheres cantam, muito bacana… E aí comecei a ser convidada para outros lugares cantando, alguns remunerados, outros não, mas quem não é visto não é lembrado e todo começo tem sua trajetória de percalços. Então eu tirei isso como uma lição para prestar mais atenção nas pessoas a minha volta, para não ser enganada.
P/2- Cris.
R- Oi.
P/2- Eu quero aproveitar a deixa dessa frase que você trouxe: “Todo começo tem sua trajetória de percalços”, e você falou um pouquinho antes, quando você começou a trabalhar de forma autônoma como massagista…
R- Sim.
P/2- Que você ia, levava a maca dobrada nos ônibus, né?
R- Sim.
P/2- Enfim, queria que você lembrasse um pouco dessa trajetória como massagista e enfim, essa coisa de formar uma clientela, como que era, enfim, essas dificuldades do cotidiano, de ter que levar a maca dobrada, pegar os ônibus até que você consiga ter uma melhor estrutura com carro próprio, veículo próprio…
R- Isso. Então, é como falei. Um indicando o outro nesse começo, porque assim, a massagem é muito delicada porque você vai mexer no corpo do outro. E nem todo mundo… uns tem vergonha, outros tem algum trauma, então você precisa ter uma psicologia também para poder lidar com outro né. E eu faço a massagem através de indicação e aí eu comecei a fazer uma massagem e uma pessoa indicou a outra, que indicou a outra… Às vezes elas se reuniam na casa de uma e fazia em uma e depois na outra, era assim. E sempre foi por indicação, o que é muito bacana isso, porque as pessoas confiam no seu trabalho e te indicam, para depois eu conhecer a Raifa, que tinha essa clinica e ela me levou para lá. E aí eu fazia na clínica dela, ela tinha a sala toda preparada e fazia fora. Eu atendia meus clientes fora e tinha o horário da clínica e eu fazia fora, foi onde eu fui conseguindo juntar um dinheiro, guardar um dinheiro para comprar meus aparelhos, comprar meu carro, para poder chegar onde a gente quer. Sempre com a luta e a batalha, a vontade, você tem que ter a vontade, tem que ter força senão a gente desanima no primeiro, não dá certo. É o que eu falei, quando eu estava com a clientela legal e tudo certo, bateram no meu carro e eu sem condições financeiras de arrumar o carro. Na realidade quem bateu no meu carro foi a polícia e ela queria jogar para cima de mim o B.O. da batida, quando eu não tive culpa. Então isso rolou dois anos. Ficou nem para mim e nem para você. Eu fiquei com o meu prejuízo e eles com os deles. Mas eu podia ter parado, não. E ainda nos que eu conseguia eu ia, sem maca, eu fazia na cama das clientes, mas chegou uma hora que não dava mais. Ai dei um breque e falei: “Não”.
Agora to com um convite para retomar as massagens, mas por causa da pandemia também to esperando, porque uma amiga minha tem um salão e ela fez um convite para mim. Então estou esperando para ver o que vai acontecer.
P/2- E eu queria saber qual é a linha de massagem que você faz. Enfim, você falou muito dessa coisa de... Tem uma coisa do contato com outra pessoa, do respeito ao espaço, de uma conquista desse espaço.
R- Sim.
P/2- Você tem alguma história que você lembre… Muito tempo imagino né, mas alguma história que você lembre de uma pessoa que você tenha atendido, que tenha sido marcante?
R- Eu atendia uma cliente, aliás, eu atendia o marido e a mulher, foram duas clientes que me marcaram bastante: a Mirna, que eu ia na casa dela, eu fazia a massagem dela, acabei fazendo pra filha dela também algum tempo e quando eu chegava na casa dela eu era muito bem recebida, muito bem tratada, ela me deu até o crachá de estacionamento dela para quando eu chegasse no prédio, já entrar, para eu já ter minha vaga para eu descer com a maca. Enfim, pessoas que entendem o sacrifício que você faz, porque é peso, então eu pegava a maca e ia até o elevador, deixava a maca. Ia, pegava o aparelho, deixava lá, depois enfiava tudo dentro do elevador, subia. Na volta, fazia a massagem, é a mesma coisa. E ai o carinho, o tratamento deles comigo, dela do marido, dos filhos, acabou sendo como se eu fizesse parte da família, sabe? Às vezes o marido dela chegava e queria que eu assistisse jogo com eles: “Não, não vai embora fica aí”. Fazia as coisas para mim... A Vera e o Arme sempre me ajudaram também, também tinha a minha vaga lá, dentro do estacionamento deles para não deixar o carro na rua, porque eles moram ali perto do Brás, que é meio ruim o entorno para parar e tudo mais. Tinha que pagar estacionamento, para não pagar o estacionamento, eles me ajudavam com isso, eu colocava o carro lá e assim, me tratavam muito bem. Tinha sempre um chazinho quando eu acabava... “Senta um pouquinho, descansa”, sabe? Olhar o outro, que é muito importante, porque o dinheiro com certeza é importante e é bom, porque senão a gente não tava em busca dele todos os dias, mas o carinho das pessoas, a reciprocidade que é o que eu falei: “É um trabalho onde se você gosta, você vai me indicar para outro. E você me indicar para o outro e o outro me indicar para outro, isso é maravilhoso, esse networking, como a gente chama hoje, que as pessoas fazem, para mim é show, para mim é tudo”. E graças a Deus eu tenho pessoas boas, é o que eu falo: o que me leva a sempre estar em busca e não desistir é que sou cercada de grandes pessoas. Não pessoas ricas de dinheiro, pessoas ricas de coração. Essa é minha valia. Nesses tipos de massagens, como te disse, tem o toque. Eu faço a massagem relaxante. Eu sou Reikiana também, que é um tipo de equilíbrio dos chakras e tudo mais e automaticamente eu fazendo qualquer tipo de massagem, o Reiki já caiu nas minhas mãos, então com a imposição a gente já faz isso. Faço a massagem relaxante, faço a drenagem linfática, cuido de limpeza de pele… Então é tudo toque e você tem que ter a licença do outro para isso.
P/1- E Cris, você contou que começou a cantar naquela roda de samba que começou a esfriar.
R- Isso.
P/1- Foi nesse dia que você entendeu que era isso que você queria fazer, que queria começar a cantar?
R- Sim! Porque eu sempre estive no meio. Eu acho que é uma coisa que estava dentro, mas eu não buscava, porque para mim era só um divertimento estar presente, fazer parte. “Ah, vou desestressar, vou pro samba”. “Ah, vou pro samba”. Eu sempre gostei. “Ah, vou pro samba”. E aí quando eu tive esse desafio, eu fiz e deu certo, eu falei: “Opa, pera aí”, a luzinha fez (estalo). “Vamos embora”, mas aí foi o que eu falei, eu não sabia tom, não sabia nada e aí tive que procurar aprender. Ainda mais para mulher, é muito difícil em uma roda de samba, onde a maioria, quem impera é homem, se fazer presente… É preciso se fazer presente. Não da para fazer a meia boca da presença, senão simplesmente você é retirada. Eu já vi… Já teve gente que fez cara feia, gente que tocou… Teve gente que... Ele levanta para não tocar para certas pessoas, porque não gosta, então assim, é um… Tem uma panela, tem um jogo aí também, mas isso não me afeta, porque eu sei o que eu quero. Eu busco fazer… Não é que eu sou a top de linha, não eu, não sou, não. Eu acho que falta muito para eu chegar em um patamar maior, mas por tudo aquilo que… Desde que eu comecei… Nós estamos em 2020, vai fazer oito anos de carreira né? Eu fui tirar minha carteira da ordem, fui participar de coral, para eu poder... Fui aprender violão, fui aprender cavaquinho para ter uma noção de tonalidade, comecei a compor, porque sou compositora também. Gravei as minhas músicas. Tenho um CD ai com doze músicas gravadas, participa de festival… Então assim, para mim é currículo, não só currículo musical, mas currículo de vida, porque nunca me imaginei, voltando àquela época lá de criança, que eu seria uma cantora. Eu ia ser professora de educação física, como a contabilidade, ficou lá atrás. Hoje eu sou a massagista também? Sou, porque está dentro de mim. E outra, é uma fonte de renda que você pode fazer um ganho, mas a música está
muito mais dentro de mim. É o que eu falo, o dinheiro eu não tenho, mas pelo pequeno andar da carruagem da minha carreira eu acho que estou no caminho certo, porque hoje estou sendo mais vista, chamada para algumas coisas, alguns eventos que eu não era. Ontem mesmo eu fiz um evento importante, que foi o “Terceiro Caldeirão Cultural”, da Secretaria Municipal de cultura, que foi das dez horas da manhã até meia noite, só eventos, só artistas se apresentando, uma hora cada um. Fazer parte é muito legal. É currículo. Estou tentando aí um PROAC, um PROMAC da vida para poder fazer, porque eu tenho projetos. Um projeto que se chama “Samba D'Marias”, que são só mulheres que cantam, que é um dos projetos que foi afetado por conta da pandemia. E o outro projeto se chama “Samba do Santo”, que é feio na garagem da minha casa, porque como disse, eu sou espirita, sou mãe de santo e aí eu tenho um centro onde trabalho e faço nessa garagem, de todo segundo domingo, tava fazendo, [no] segundo domingo do mês…
Segundo domingo do mês, a roda de samba com compositores autorais, novos cantores, novos músicos, para dar a oportunidade que eu não tive. E por conta disso eu tenho contatos de rádios que fazem com autorais, que é a rádio de samba, que trabalha com autorias… Não sei se pode falar nome das rádios, que é a rádio Raízes do Samba, que é rádio web, que é Raízes do Samba, Rádio Sintonia Black, Radio Boa Nova FM, de que estou fazendo parte, tem vários e chama um outro, e um mostra o trabalho para o outro. Então eu já estou na Bahia, estou no Sul, fora do país, porque elas levam a música para vários lugares. Então acho que estou caminhando né? Devagarinho, mas estou caminhando.
P/1- E Cris, você comentou que você frequentava bailes de samba-rock e rodas de samba lá na ZN...
R- Sim.
P/1- ...ainda quando era nova. Quais lembranças você tem dessa época e qual relação você consegue fazer agora, fazendo rodas de samba e fazendo isso intensamente?
R- A minha recordação é como eu falei, pequenininha eu comecei a aprender. Aprendi o samba-rock pequenininha e lá na Zona Norte a gente tem um espaço que chama Cruz da Esperança, que é ali perto da [Avenida] Braz Leme e nesse espaço tem todo o último domingo do mês… Agora não, porque está parado… A noite nostalgia, com samba-rock. Então eles fazem só samba-rock e é o que eu falei, eu sempre fui do meio da roda de samba, eu sempre gostei de dançar o samba-rock, que isso traz boas lembranças, fiz muitas amizades lá, eu tenho muitos amigos que eu trouxe para junto também, para esse meu lado musical, porque eu também compus o samba-rock dentro do samba, eu também fiz samba-rock. Então assim, está dentro da amizade. Tem além dali que... Tem outros espaços também na Zona Norte, que… Tem na Zona Oeste, não sei nem se tem ainda, porque tá tudo parado né? Ali na… Acho que é Guaicurus que chama, outro espaço também onde eles fazem baile nostalgia, reúnem toda aquela velha guarda, porque eu sou do tempo de casa de Portugal, que fazia aqueles bailes, em que ia todo mundo muito bem trajado, com o seu bom salto, desfilar na pista, dançando… É muito bom o samba-rock. Até hoje…
P/1- Hoje então você mantém contato com algumas pessoas daquela época? Os artistas…
R- Alguns DJs que fazem festa. Tenho amizade com alguns deles que fazem bailes, mas hoje eu não vou tanto pro samba-rock por causa do canto, de cantar, por conta disso. Hoje eu não saio mais pra divertir tanto como antigamente, antes de começar a cantar.
P/1- E daí você comentou que você fez um evento e não foi paga pelo seu trabalho.
R- Eu fui paga pela Secretaria, a produtora que não me pagou. Ela simplesmente… O dinheiro foi para ela e ela pegou o valor. Eu fiquei com uma parte e ela ficou com outra parte e pagou… Eu paguei os músicos, paguei tudo e ela… Eu ganhei na justiça, entrei na justiça, mas ela tirou todas as coisas do nome dela e eu fiquei sem receber.
P/1- E antes desse evento, como você trabalhava?
R- Então, eu fazia algumas apresentações, umas eu tinha remuneração e outras não. Então às vezes tirava de onde não tinha para poder aparecer, porque quem não é visto não é lembrado, que é o que eu falei. Todo mundo que inicia - eu bato sempre nessa tecla - tem os prós e os contras. “Opa, vamos lá, batalhar! Vamos atrás! Se é isso o que você quer, tem que ir atrás.”
P/1- E foi a partir desse momento que você falou: “Agora eu vou criar o meu negócio”.
R- Sim. E ai…
P/1- E como foi tudo isso?
R- Então, aí criei o meu negócio, abri a minha microempresa e depois eu conheci o SEBRAE. Eu abri primeiro e depois eu conheci o SEBRAE, onde eu fui buscando as orientações para estar cada vez mais interada no que eu estou fazendo, que é a parte de eventos, que é a parte que eu estou me dedicando, que é a parte que eu estou me dedicando atualmente. Nessa parte de eventos, de música e tudo mais… De alavancar um pouquinho mais a minha carreira, buscando meios, porque assim, mesmo com a pandemia hoje, eu fui obrigada… Eu sempre gostei de fazer postagens e tudo mais, mas não era uma coisa efetiva. E hoje você é obrigado a fazer efetivamente, diariamente, semanalmente, às vezes duas vezes por dia, postagem. E não era assim. Tanto que eu não fazia vídeo nenhum e eu comecei a fazer live a semana inteira e mudou. E tudo isso eu recebi ajuda também do SEBRAE, porque eu tive orientação do que eu devia postar, o que ficava melhor, onde eu podia estar fazendo um diferencial, e é onde eu busco as minhas coisas.
P/1- Aproveitando a deixa, gostaria que você contasse como foi a experiência de ter participado do Projeto “1000 Mulheres” do SEBRAE.
R- Então, o Projeto “1000 Mulheres”, é o que eu estou falando, foi muito bacana, porque ele me trouxe outra visão do meu negócio, porque é o que falo, hoje eu sou a cantora, a produtora, a pessoa do marketing, eu sou a pessoa que vai buscar, eu sou tudo né, tudo em um. Tem que fazer de tudo um pouquinho e aí o Projeto “1000 Mulheres” deu para você… Em cada pedaço saber o que você tem que saber. Financeiramente o que você tem que fazer, não misturar uma coisa com outra, porque senão vira bagunça. Apesar de eu ser contadora, eu falo que eu era contadora de história, porque meu financeiro está uma bagunça, porque é fácil ser contadora e você não fazer a própria contabilidade. Então assim, eu sou franca e sou realista. E com essa dica de você ter que separar cada coisa, para formar o todo, foi muito bom o “1000 Mulheres”, porque me mostrou outro horizonte, me mostrou onde eu estava falhando, para mim… Como eu poderia arrumar? Não simplesmente jogar lá o problema e não te dar uma solução. Me mostrou o problema, me mostrou a solução. E é o que eu busco fazer, estou buscando fazer e é onde eu falei que eu acho que estou indo, por estar sendo mais vista, mais curtida, outras pessoas estão me chamando de outros locais que eu nem imaginava, como vocês mesmo. Eu nem imaginava fazer parte dessa maravilha.
P/1- E você dá conta de tudo sozinha, ou precisa de alguma ajuda?
R- Como eu disse eu tenho os projetos. E aí tenho a Karen, tenho meu filho, tenho a Claudete, a Alexandra, a Elaine, que são pessoas… O Benê, que me ajudam na parte estrutural, porque… Vamos supor, eu vou fazer o evento do “Samba do Santo”, eu vendo cerveja e faço porção, tudo isso. Quem vai atrás de tudo isso? Eu. Eu vou comprar, trago, deixo tudo lá. No dia do evento a bebida fica com meu filho, o caixa fica com a Karen, a Alexandra e Elaine, elas me ajudam. Tem as porções para vender, então elas vão, fritam, servem. Então tem um almoço? Faz, serve, que estão ali comigo. Tudo isso a gente faz sem ganho, porque estou buscando patrocínio, apoio para conseguir subsistir. Tem alguns apoiadores que me ajudam, mas muito pouco. E eu vou levando para este projeto, para o projeto de mulheres essas mesmas pessoas estão comigo, para se eu precisar de ajuda… Porque, às vezes, você vai para um local onde eles já têm toda estrutura, então vou lá com as mulheres para cantar, para apresentar o show. Essas parte toda de bebida, comida fica por conta do dono do estabelecimento. Mas quando eu faço o projeto na minha casa, é assim que eu faço. Mas eu faço tudo, então para mim foi muito bom, porque deu essa divisão: “Pera aí, estou errada aqui. Eu tenho que arrumar alguém aqui, eu tenho que fazer isso...”, porque sozinha é impossível. Mas eu busco, tem um povo aí e fazendo na semana do evento eu saio correndo para fazer um pouquinho de cada coisa, fora fazer o marketing todo para a coisa acontecer.
P/2- Cris, eu queria te perguntar, porque você falou um pouco antes sobre um processo de conquistar uma aceitação dentro de toda uma cultura que existe nas rodas de samba. E imagino também que é muito mais difícil também sendo uma mulher ocupando esse espaço ali de uma intérprete e agora também como compositora. Eu queria que você contasse como foi esse processo de você ir superando essas barreiras e conquistando esse espaço.
R- É o que eu disse, eu fui fazendo um aprendizado e sempre contando com as pessoas boas que me ajudam. Como eu disse, eu tinha já uma amizade dentro da roda de samba com algumas pessoas, que eu tenho até hoje. E que sempre que eles podem, eles me ajudam. Eu participei do “Samba Fest”, que foi um festival de 2015, que foi um festival de samba onde eu fiz minha primeira composição, através de um amigo, eu não ia nem participar. Ele falou: “Não Cris, você vai. Você vai se inscrever. Você pode inscrever a música e você vai entrar, você vai participar”. Então eu fiquei entre os trinta. A minha música não ganho, mas eu fiquei entre os trinta classificados. Para quem nunca tinha escrito nada, participado de nada, eu fiquei muito feliz. E nesse intermeio todo, eu também fazia parte de escola de samba, então eu conheço algumas pessoas dentro da escola com quem eu tenho amizade, que me chamaram… Eu fiz a feijoada da velha guarda com camisa verde, nesse mesmo ano de 2015, eu fiz… Foi 2015 ou 2016. Fui convidada para participar da feijoada, cantar lá para o grupo que estava presente… Então uma coisa te leva a outra. Um vê o seu trabalho e fala: “Para, não, pera aí. Tem potencial”. Fui convidada para ir para a Zona Leste, para mostrar com as meninas do Pura Raça, que só mulher que toca, que faz o trabalho também. Então uma coisa… Entendeu? Um vai puxando a ligação do outro. Foi assim que eu fui me soltando. Sempre buscando aprender, sempre buscando melhorar dentro da mesa, dentro dos eventos que eu participo, dentro das coisas, dos eventos que eu faço. Quando termina: “Pera ai gente, como que foi hoje?”. “ Olha, aconteceu isso, aquilo, aquilo...”, “Opa, precisamos arrumar.”, ou “Tá faltando isso…”. Tanto que eu estou na pandemia, eu estou quietinha sem o evento, mas eu estou articulando para quando voltar eu já ter coisa para me apoiar para estar me incentivando para começar uma coisa mais… Porque fez um ano agora em maio um projeto e o último que eu fiz desse projeto foi em março, foi no dia da mulher o último evento que eu fiz. Em Abril já começou a pandemia e parou. E ele fez um ano em maio agora. Então eu não comemorei esse um ano. Tem a festa de um ano pra fazer, então já estou pensando nos convidados que vou trazer. Tudo isso eu estou articulando, bem quietinho, mas já estou articulando, porque é o que eu falo, eu amo isso. Eu amo o que eu faço.
P/2- Acaba logo né pandemia, para poder fazer (risos).
R- Por favor.
P/2- (risos).
R- Por favor vacina, chegue para nós.
P/2- Sim… E Cris, você falou dessa rede de apoio que você conta para poder organizar as suas rodas de samba né?
R- Sim.
P/2- Mas como foi a ideia? “Ah, eu vou ter a minha própria roda de samba. Vou usar aqui esse espaço para ter uma roda de samba...” E enfim, chegar em uma ideia, um formato para sua roda. Questão de planejamento da comida, da bebida, dos artistas convidados… Como foi essa construção de todo esse desenho.
R- Então, é isso que eu estou falando. Eu escrevi um projeto que chama o Projeto Samba do Santo, porque eu via que muitos compositores autorais não tinham vez, e não tem. Só que assim, hoje os autorais na música estão tendo mais visibilidade do que antigamente. Então eu construí esse projeto, escrevi o projeto para dar oportunidade para os compositores, os novos cantores, porque eu sou assim: chega lá na roda, se você canta, eu falo: “Maurício, ó, o microfone é seu, canta.”. “O que eu vou cantar Cris?. “Não sei”. Se eu vejo que você ta com vergonha, eu pego outro microfone e vou lá do seu lado. To junto, ó, tô aqui, vamos lá. Se você é músico eu canto junto com você. Eu estou te apoiando. Porque eu não tive isso, simplesmente jogaram o microfone na minha mão: “Se vira aí. Você quer fazer, então faz”. E eu tive que ir com a cara e com a coragem. Hoje tem muita gente que vai no meu projeto e que agradece muito essa oportunidade. Tem gente que não vê o dia que chega e a hora do projeto, para estar fazendo parte, para estar somando, para estar mostrando a sua história dentro do projeto, mostrando as suas músicas, para estar somando. Então ele surgiu, o projeto, dessa necessidade que eu senti, que a gente não tinha. Então falei: “Aqui vou criar um espaço onde todos possam cantar, da criança ao mais velho.” Lá tem criança que vai tocar, tem criança que mostra seu trabalho tocando e além de tudo eu busco ajudar as pessoas no entorno. Como? Dando alimento. A minha cobrança da minha entrada é o alimento. Eu junto esse alimento e dou para o vizinho que está carente, ou uma instituição do bairro que eu vejo... Eu busco ajuda, apesar de que é muito difícil. Agora está pior, com essa pandemia eu tinha um projeto e eu não consegui um quilo de arroz para poder doar, mas como entrada eu cobro isso. E aí voltando lá no “1000 Mulheres”, eu aprendi que eu tenho que dar um valor nisso, porque além dos “1000 Mulheres”, o Sebrae me trouxe também outro ensinamento, que eles me colocaram para buscar aquilo que eu preciso e eu também tenho que dar um preço. Então tanto quando voltar no projeto, eu vou ter que cobrar um mínimo simbólico, ou eu vou passar um chapéu, mas alguma coisa vai ter que adiar, porque as pessoas, muitas vezes, não lembram de levar um quilo de alimento, elas querem é ir ao samba, querem curtir, então elas vão ter que pagar pelo menos cinco reais para juntar, para a gente poder estar fazendo a doação. Para podermos nos sustentar, porque nisso tudo, todo mundo que está lá pé por doação: os músicos que fazem parte da banda, eles vão por doação, não ganham nada; e todos merecem ganhar. Porque o músico não vale só por uma cerveja, porque uma cerveja é boa? É boa, mas ela não paga a conta, ela não traz o que a gente precisa levar para casa. Muitos músicos saem e deixam a mulher com os filhos e vem tocar. E aí volta para casa, às vezes manguaçado, porque recebeu só em bebida. E o dinheiro para sua casa? Não leva. Então, agora quando voltar, eu vou fazer alguma coisa para poder arrecadar alguma coisa, pois também tem a água, a luz, tem gasto que está saindo só de mim… Como eu disse, eu tenho poucos apoiadores. Eles ajudam um pouco, mas ainda está faltando muito para chegar no empate das despesas e da receita. Respondido?
P/1- Pensando um pouco nos seus desafios, acredito que esse de ter ainda poucos apoiadores seja um deles.
R- Sim.
P/1- Mas tem então outros, teve outros, tem sentido os desafios? Como está sendo para você?
R- Se eu sinto outros desafios? É isso? Eu não entendi a pergunta. Faz de novo.
P/1- Isso.
R- Tenho.
P/1- Você tem outros…
R- Tem… porque é aquele negócio: mulher, negra, entendeu? É tudo desafiador. Para a gente é um pouco mais difícil: a valorização, a remuneração, é tudo mais complicado. E para o novo, que é meu caso, porque eu sou nova, dentro da música eu sou nova. Você ter as pessoas que ouçam o seu trabalho, que prestem atenção no seu trabalho e valorizem o seu trabalho… Porque o dono de um comércio que vem te apoiar quer um retorno, então tudo bem, eu exponho a marca dele na minha divulgação e tudo mais... Às vezes eu peço para eles: “Ah, você dá um desconto até as pessoas que vão até você, para poder estar indicando e tudo mais”, mas é assim, eu não tenho dinheiro. Só que o apoio muitas vezes não é só o dinheiro, porque eu vou falar o seu nome e você o meu; você está me ajudando. Porque às vezes, as pessoas, os donos de comércio - pelo menos no bairro onde moro - eles são meio braço curto em visibilidade, porque vejo que eles não tem essa visibilidade. “Pera eu vou estar falando o nome dela e ela vai estar falando o meu”. Isso vai propagar. O outro está falando: “Nossa, mas olha...” O outro está ajudando o pequeno, ele está ajudando o pequeno que está começando. E eu vejo que não tem isso. A preocupação quando você chega para pedir alguma coisa, mesmo um dinheiro… Porque assim, a primeira vez que fiz um evento, eu não pedi dinheiro para ninguém. Eu falei: “Olha, quando você chegar…”, você falou: “Dinheiro eu não tenho.”, e eu falei: “Eu não quero dinheiro.”, “Peraí, você não quer dinheiro?”, eu falei: “Não.”. Cheguei com a cara e a coragem: “Não quero dinheiro.”, “O que você quer?”, “Eu quero mercadoria. Você vai me dar o que de mercadoria?”. Aí todo mundo se espantou, eu fui muito cara de pau. E é o que eu falo, graças a Deus eu tenho muita ajuda, eu fui muito cara de pau. Eu cheguei com a cara e a coragem. Eu acordei um dia e falei: “Não, é hoje. Chega. Sai desse… Vamos lá! Você precisa seguir atrás. É você e você, então tem que ir!”. E eu fui batendo de porta e porte e falei: “ Eu quero em mercadoria.”, “Que mercadoria?”, “Eu preciso de cerveja. porque eu tenho que fazer dinheiro. Você não precisa me dar o dinheiro, me dá cerveja.” E aí no primeiro evento eu ganhei cerveja de todos que fui pedir. Eu fiquei espantada, até de um turco que eu dei mãozinha eu consegui água. Então eu consegui água, consegui cerveja, para poder começar a rodar, começar a fazer a coisa funcionar. Então muitos continuam comigo, outros saíram, mas porque não tem essa visibilidade de que não é o dinheiro. Tudo bem, a cerveja só pedi nesse primeiro evento porque eu não tinha… Eu tinha que começar. Eu escrevi o projeto, coloquei e falei… E botei data. E falei: “Então tem que acontecer.” E eu tive que sair em busca do… Para acontecer. E aconteceu. Lógico, com poucas pessoas de início e tudo mais, mas quando chega no final, “Opa, o que aconteceu de errado? Onde a gente tem que melhorar?” e vamos indo. E vamos ajeitando a cada evento. Mas é muito desafio, porque as pessoas não querem dar alimento, não querer doar dinheiro, as pessoas não querem nada. Tudo bem que agora estamos na pandemia, que ninguém tem… Eu mesma estou na situação que também não tenho, como todo mundo, mas as pessoas tem que olhar que um sem o outro não é nada e uma palavra que leva o outro pra outro lugar. Porque é o que eu estou falando, nesse prazo de pandemia eu não ganhei dinheiro, mas ganhei muita ajuda. Muita. Eu ganhei cesta básica das pessoas que me ajudaram a não passar fome, eu ganhei mistura das pessoas, coisa que eu nem imaginava na minha vida. Eu ganhei o amor das pessoas. “Eu tô aqui ó, tamo junto.”, que eu não imaginava. Como eu disse, eu faço as lives todo dia, tem gente que me segue todo dia. Se eu for cantar a mesma música, tem gente que está lá como diz: “Ó, tamo aqui com você, de mão dada”. A live não me traz dinheiro, mas me traz visibilidade, onde eu estou buscando os parceiros da rádios, que estão levando meu nome para outros lugares. E já tem depois que a pandemia acabar, shows para serem feitos, e agora também consegui uma gravadora para estar podendo fazer a produção, porque eu tenho as músicas em CD e essa gravadora vai me fazer… Levar uma música para o álbum deles, é lá no Rio de Janeiro. Mês que vem agora… Amanhã já é mês que vem, a gente já vai começar… Eles vão marcar data esse mês para fazer o lançamento do álbum que vai ter a minha música. É muito legal também, que é mais uma prova que eu estou nessa caminhadinha aí, tendo a visibilidade que é necessária para minha carreira, para minha vida.
P/1- E Cris, o que significa para você ser empreendedora e atuar na Zona Norte de São Paulo, que é o lugar onde que você nasceu, cresceu e vive até hoje?
R- Para mim é muito gratificante estar na Zona Norte, ter nascido na Zona Norte e continuar na Zona Norte e estar fazendo a minha vida na Zona Norte, porque são muitas recordações, muita gente boa. A Zona Norte é que nem aquele colinho de mãe, que você é carregada assim, entendeu? E é muito gratificante mesmo fazer parte de tudo isso, estar trabalhando dentro da Zona Norte, que mesmo nesse meu trabalho de massagem, eu trabalhei muito na Zona Norte. Eu saí para tipo Zona Sul algumas vezes, mas a maioria foi na Zona Norte. Então é desde criança e acho que vou morrer na Zona Norte, né? (risos) É muito importante, muito legal mesmo.
P/1- E quais são os seus projetos que você tem tentado? Você comentou de dois: a roda de mulheres, a roda que você faz na garagem da sua casa… Do samba...
R- Isso.
P/1- Tem outros que você tem tentado mais?
R- É, então, além desses dois projetos, o projeto da minha carreira que é expandir a minha carreira, Chris Pirês cantora. Voltar para uma escola de samba, porque eu parei também com a escola de samba, que é uma coisa que eu gosto, sou intérprete, já disputei samba enredo… Então isso faz parte. Voltar compor mais, voltar um pouquinho para o lado de samba enredo, porque também é um campo masculino, né? Hoje já tem mais mulheres fazendo, mas ir um pouquinho mais para esse lado de escrever samba enredo. Esse ano ainda não escrevi nada, apesar que mais para 2021 está mais engajada. Escolher uma bandeira para eu me firmar, porque tem uma escola para você se firmar. Eu sou Unidos do Peru, Camisa Verde do coração; são as escolas do meu coração. Mas estou aberta para a escola que me receber aí para ala musical, eu estou aberta para fazer, para minha carreira andar, deslanchar. Então além desses dois projetos que eu tenho, que são muito importantes para mim e para as outra pessoas, porque tem pessoas que eu também quero ajudar através desses projetos, é minha carreira. Estar mais… Ser remunerada pela minha carreira, ser melhor vista pelas pessoas, galgar outros lugares. Eu não vou lá… Não quero ser o Zeca Pagodinho? Não. Mesmo porque eu já tenho 58 anos, já não sou mais menininha para falar: “Não sei, o dia de amanhã pertence a Deus.”, e eu estou vivendo. Eu vivo cada dia um dia. Tenho meus propósitos para o futuro, mas procuro viver cada dia, o dia. Então assim, eu quero minha carreira com boa visibilidade, ser reconhecida financeiramente também, ter bons lugares para cantar, ter bons músicos, ter dinheiro para pagar bons músicos, remunerar os músicos que trabalham comigo também de uma forma bacana para eles levarem o ganha pão para a família, para casa. O que eu acho que é muito legal, necessário.
P/2- E Cris, você falou um pouco das escolas de samba, na Zona Norte tem muitas escolas de samba. A maioria das escolas são da região e eu queria te perguntar como é essa relação que você construiu com o Carnaval, com as escolas de samba…
R- Isso daí é amante desde de criança, de assistir os carnavais pequena. Minha mãe levava a gente para assistir o carnaval na Vila São João, quando o carnaval ainda era lá. Depois aí quando eu fui entendendo e crescendo, a gente fazia fantasia para ir assistir o carnaval. A galera toda se armava com a mesma roupa e ia assistir o desfile. Então desde criança esse contágio, esse contato. E aí você vai tendo uma escola ou outra que você vai tendo mais afinidade. E quando eu comecei a me entender por gente, saí e comecei a frequentar as escolas de samba, a fazer amizade dentro das escolas e sempre tive vontade de fazer parte de uma ala musical depois de que eu comecei a cantar. Ainda não tive essa oportunidade. Eu faço… Tenho convites de ir em algumas, já fui na Águia de Ouro cantar, no [Unidos do] Peruche, no Camisa [Verde], mas eu quero fazer parte de uma ala musical, para eu poder lutar por aquela bandeira. Mas isso chega, eu sou confiante que uma hora vai chegar e quando chegar eu vou ficar muito feliz. Faz parte das minhas realizações pessoais, não é nem como artista. Realização pessoal. Já disputei samba enredo, então eu gosto, dentro desse… Quando eu gosto de interpretar, de cantar o samba enredo que eu acho que é muito bacana; e uma mulher cantando, tem várias hoje, que cantam. Eu acho muito lindo a mulher estar fazendo parte dessa massa, englobando essa massa. Assim, a gente está buscando em um espaço masculino, mas já está conseguindo abrir bastante espaço.
P/1- O que significa para você e como é o processo, o seu processo de composição?
R- Eu não tenho uma regra. Às vezes eu acordo e vem uma música na mente, então o que eu faço? Eu escrevo… Quando ela vem com a melodia, eu tenho um gravadorzinho, ou mesmo no celular, eu já canto aquele pedaço. Canto e deixo, para não ficarem… E vou fazendo as outras coisas. Quando eu paro e to relax eu vou ouvir, e aí vem… Vai vindo a outra parte. Às vezes vem como uma poesia. Eu começo a escrever e quando eu olho… Aí tem que pôr a melodia. Então eu não tenho uma regra. Outro dia eu estava tomando um banho e eu comecei com uma batida e eu falei: “Agora não dá para eu sair...” e eu continuei tomando banho e cantando. E saí, já coloquei… Agora estamos colocando a melodia. Já passei para um amigo que me ajuda quando preciso. É até meu professor de violão, ele está me ajudando agora para colocar a melodia e eu vou fazer uma guia e vou gravar, só com a guia, até poder ir para estúdio, fazer tudo certinho, ter as guias das músicas gravadas.
P/1- E para você qual foi o momento mais marcante nessa trajetória de mulher empreendedora?
R- Olha, o meu momento mais marcante nessa trajetória toda foi o primeiro deles quando eu fui fazer CCj, que eu te falei, porque era coisa para grandes e eu consegui. Então eu fiquei muito feliz. Nessa fase toda de sempre… Quando eu fui fazer parte também da poesia afro, que eu tenho uma poesia escrita que para mim foi marcante também, que era um outro campo que eu nem imaginava que eu tinha dentro de mim e ai… Também fiquei em terceiro lugar e fizemos até um CDzinho só de poesias. Ficou muito bacana, poesia afro, que foi o momento bem legal… E quando eu fiz com a Tula Melo, lá na Zona Leste, o Projeto de Marias, que é uma cantora já com nome no mercado e ela topou fazer um projeto comigo, começar do zero, para fazer um projeto. Confiou, acreditou em mim. Então eu acho isso muito importante… E agora, que as rádios estão me dando esse apoio, me dando esse incentivo, para mim também é muito importante. Estar aqui, para mim também, é muito importante, porque eu nunca imaginei na vida que eu teria minha história na História. Mesmo, de coração. Para mim é muito emocionante. Não esquenta não que eu sou um chorona mesmo, viu? Eu sou assim mesmo, do mesmo ponto que eu dou muita risada, na hora que a emoção pega, eu choro mesmo. E sou grata às pessoas que estão no meu entorno, ao meu filho, meus filhos de santo, que sempre me ajudam, estão juntos comigo… E os amigos que eu estou arrumando hoje. Gratidão (choro).
P/1- Para nós também é muito lindo dividir, conhecer um pouco mais da sua história. E Cris, queria saber como foi a sensação de se apresentar em um palco grande como o CCJ?
R- Foi muito legal. Antes até do CCj eu me apresentei no Bar Brahma, que é um local muito especial de São Paulo, então para mim foi muito bacana porque eu tenho uma mulher, que se chama Duda Ribeiro, que é embaixatriz do samba em São Paulo, que é uma pessoa muito importante para mim, porque ela também… Ela me levou para dentro da casa dela para me ensinar logo de começo a cantar. Então para mim é uma honra muito grande tê-la como madrinha e ter dentro do meu projeto o seu Dadinho da velha Guarda, do Camisa Verde, que também é embaixador do samba, dentro da minha vida. São duas pessoas de nome dentro do samba, que acreditam no meu trabalho. Então para mim é muito gratificante isso, porque eu sou pequena, mas uma pequena grande.
P/1- Vai conquistar tudo ainda. Tenho certeza.
R- Eu também.
P/1- (risos) E Cris, como é o seu dia-a-dia?
R- Bom, meu dia-a-dia, sou dona de casa. Trabalho, atendo espiritualmente as pessoas também, que eu tenho meu lado espiritual… Cuido da minha casa, cuido do meu filho, cuido da minha carreira… E é isso. Acordo cedo, vou… Preciso fazer exercício físico. Tenho até lá, como se fosse uma esteira, não é uma esteira, é um simulador de caminhada lá. De vez em quando eu pego ele, faço um pouquinho. Com essa pandemia, eu entrei para uma coisa legal, que é fazer virtualmente um pouco de ginástica. Conheci um grupo ai, fiz um pouquinho, foi muito bom e aí eu falei: “Bom, agora eu vou fazer sozinha.”, então de vez em quando… Não faço todo dia, não vou enganar, mas de vez em quando faço meu exercício lá, meu tempinho de exercício e fora o dia-a-dia, normal. Ensaio minhas músicas…
P/1- E como você entrou para esse lado mais da espiritualidade, o que significa para você?
R- Significa para mim tudo na minha vida, porque sem fé a gente não é nada, a gente não é ninguém. Entrou para minha… Quer dizer, quando eu era pequena, minha mãe me levou num terreiro e nesse dia eu lembro até hoje; era um salão e nesse salão tinha bastante gente na assistência e eu lembro que tinha uma porta - e eu era criança - e nessa porta… E quando começou lá bater o tambor e tudo mais, que era uma festa e até então eu não sabia; eu sabia que era uma festa, mas não sabia o que era, porque eu era criança; e começou bater o tambor e veio de lá uma pessoa já incorporada gritando e aí passou por mim e eu senti um negocio estranho, diferente. E até hoje eu lembro disso e a mesma sensação da energia vem para mim. Então eu conheci quando criança, através da minha mãe, que também no final da vida se evangelizou, deixou de ser espírita para ser evangélica; não era uma espírita fervorosa de estar indo no terreiro direto e reto, mas tinha sua espiritualidade, tanto ela quanto meu pai, tanto que eu herdei isso deles tambem. Porque eles não cuidaram e alguém tem que cuidar e esse alguém fui eu, das minhas irmãs também… Então sobrou para mim essa parte espiritual, que eu amo de toda paixão. E aí o tempo foi passando, eu fiz o santo, tomei as obrigações necessárias para que isso se realizasse; hoje eu tenho o terreiro, onde eu tenho os meus filhos de que eu cuido, que eu zelo… E é tudo na minha vida, sem eles eu não sou nada. Acima até de mim mesma.
P/1- E Cris, o que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R- Nas minhas horas de lazer eu gosto de dançar. Muito. É uma das coisas que eu gosto e eu gosto também de andar, de estar em um parque, sabe? Dar um relax. Porque eu sou os dois extremos né? Se eu estou quieta, eu estou quieta, se eu estou agitada, eu estou para o agito. Então uma das coisas que eu gosto muito é dançar.
P/1- Então me conta uma coisa. Como que essa pandemia influencia sua vida pessoal, nesse sentido de talvez não conseguir andar tanto, ficar no parque... E profissional, que você já comentou um pouco… Comentou aqui que já começou a fazer lives, mas queria saber um pouquinho melhor sobre isso.
R- Então, quanto a minha parte, como eu te disse… Quando eu soube da pandemia, eu fiquei três dias estátua. Parei e falei: “E agora? O que eu vou fazer?”. Porque já tinha me planejado para fazer o trabalho da música, já tinha planejado com as meninas…. Tinha até feito os convites para… Vender convite. Então assim, é aquela hora que você fala assim: “Agora eu vou conseguir ter um dinheirinho entrando, pagar as pessoas, fazer aquilo que está dentro de mim.”, e aí aquilo morreu. Só que é o que eu falo, essa pandemia para mim ela… É lógico, com a morte de tanta gente, é triste, é doloroso, essas passagem de necessidade, porque eu também não passei por isso antes, e agora você está sentindo a dificuldade das pessoas te ajudar com uma coisa ou outra que é difícil, ela é uma parte, que eu acho que é para todas pessoas, não só para mim, de você parar, se conscientizar de muitas coisas. Porque não parou… Será que ia dar certo? Porque logo que eu fiquei esses três dias parada eu comecei a ver as pessoas que estavam na minha volta dentro desse projeto maior, tipo indo para trás. Eu estava investindo muito nas pessoas e as pessoas não estavam investindo no projeto, então o não ter dado certo, será que não foi bom? Para não ter dado pior. Então essa pandemia me faz parar para tudo isso, que é o que falei, eu fui ajudada no “1000 Mulheres” a perceber as coisas, então eu tenho que ir em cada foco e colher: “Peraí, isso aqui tá certo? Isso aqui não está…”. Então foi ruim, pela falta de completação dos projetos, mas foi bom para eu me fortalecer dentro do que eu quero fazer. Tentar… Estou tentando buscar outras pessoas para agregar nisso, outras vozes que falem como eu; porque uma coisa é você falar, e outra coisa é você agir. Você pode falar lindo e maravilhoso, mas se não tiver atitude, você não vai sair do lugar. Você pode se encher de atitude, mas se não souber o que vai falar, só fala besteira, você também não vai chegar a lugar nenhum. Então esse meio termo que eu acho que é muito importante e eu consegui esse meio termo com a pandemia, como ser humano… Porque assim, é como eu falei, essa necessidade toda que eu passei de estar vivendo, esperando o dinheiro do governo cair, o Auxílio Emergencial cair, quando vai cair, se vai cair… É duro para quem é…Porque assim, eu sou a dona da minha vida, eu sempre fui. Então para mim.. Você chegar para mim e falar: “Então Cris, olha… Você está precisando do quê?”, eu não me orgulho. No começo eu até acho que foi um pouco de orgulho. Para nós.. Eu sempre ajudei, porque se eu estivesse na minha casa eu pegava e: “Ó, toma, leva.”, você nem precisava falar nada; e hoje estar precisando, no começo acho que foi um pouco de orgulho sim, hoje não é orgulho, porque hoje eu aceito de boa, sabe? Como eu ofereço de boa, se eu tiver sobrando eu ofereço de boa.
Nesse meio tempo, que eu esqueci de contar, eu fiz um curso de educador social, que também me ensinou um monte de coisas sobre o outro, porque a minha busca com o outro é grande, de estar com o outro é grande; então eu fui aprender. Uma amiga falou: “Cris, se eu fosse você eu faria esse curso”, ela fez esse curso e ela falou: “É a sua cara”. E aí eu ganhei a bolsa no Senac e eu fiz o curso no ano passado. Eu fiz o curso de educador social ano passado, que me mostrou uma outra visão. Me deu uma outra visão de muitas coisas, o que foi muito bacana também para essa parte de mim, hoje, em todos os sentidos: no sentido eu como pessoa, eu como artista, eu como ser humano.
P/1- Esse curso você fez durante a quarentena?
R- Não foi antes, foi no ano passado. Foi em 2019. Ainda não tinha…
P/1- E como tem sido para essas experiências de live, já que você faz isso todos os dias, quase?
R- É muito bacana, porque tem dias que… Porque assim, a live é feita… Eu resolvi, depois desses três dias que eu falei que eu fiquei depressiva, eu falei: “Não, como que eu canto, eu levo a música… Música é alegria, música e descontração, como que eu posso me jogar? Não, vai achar a sua luzinha aí minha filha e vai fazer alguma coisa.” E aí eu comecei a fazer. Como disse, eu tenho calo nas cordas vocais, mas eu sou uma pessoa que não paro e essas lives eu faço sem microfone, faço elas na capela, no gogó; porquê? Você não pode estar com outra pessoa junto com você por causa da pandemia, então não podia trazer um músico de fora para estar na minha casa. E aí eu comecei a fazer as lives diárias, hoje ninguém assistiu, amanhã assistiu um, depois foi outro… E começou. Tem gente que já voltou a trabalhar, então não assiste no horário que eu faço todo dia, das cinco e meia às seis e meia. E aí tem gente que voltou a trabalhar, assiste depois. Tem gente que acorda de madrugada, não tem o que fazer, “Deixa eu ver o que essa pretinha está fazendo” e assiste. Então assim eu vou conseguindo seguidores. Vou aumentando… Porque eu faço ela no Face, no Instagram e, às vezes, no Youtube também. Às vezes consigo fazer nos três lugares. E ai vou, vou passando de um para o outro. Eu fiz justamente para isso, para levar um pouquinho de alegria para as pessoas espairecer e tal. E é bom para mim porque de uma certa maneira também é um ensaio, eu vou te dando músicas novas, eu faço samba, eu faço MPB, tem dia que faço samba-rock, faço as minhas autorais… E vou fazendo.
P/1- E seu filho? Ele ajuda nessa caminhada?
R- Então nessa parte das lives não, porque eu uso computador, ou uso meu celular, eu sento lá e eu faço. Mas assim, como ele já trabalhou com a parte de som, então ele entende um pouco, então quando faço os projetos ele que liga a caixa, liga os microfones, deixa tudo no ponto… Quem faz essa parte é ele também. Quando faço projeto ele sempre está comigo para colocar tudo em ordem, mas na parte da live não, porque como é ali… Não é dificultoso. Tanto que assim, eu aprendi a mexer em programa OBS, saber o que é passar em multistream, tudo na pandemia. Porque é o que falei, eu vou à busca, eu não tenho preguiça. Eu me informo com um: “Ah, não sei, espera um pouquinho”, o outro: “Ah, teme o programa tal, vai buscar.” E aí eu tô… A pandemia serviu para mim para isso também, porque eu vou buscando. Peço informação para um, peço pra outro. “Vê por aqui, vai lá, vai no Youtube…”. Assisto, tento, não dá certo… As lives eu comecei a fazer no Youtube, através desse programa, eu errava, travava, aí eu falei: “Bom, uma hora vai dar certo”. Fui, fui, fui até que eu consegui alguém que falou a palavra mágica que eu precisava ouvir, que era colocar uma câmera virtual dentro do programa, que eu não sabia, para eu poder passar nos dois lugares. Pronto. Baixei, agora eu faço linda, maravilhosamente bem. Passo em tudo, sozinha. Opa, assiste uma vez não entende, assiste outra, tenta… Porque é errando que a gente aprende.
P/1- E Cris, qual é o nome do seu filho?
R- Luís Felipe. Luís Felipe Pires de Oliveira.
P/1- E para você como foi se tornar mãe?
R- É, então, mais uma novidade, porque eu não pensava quando... Eu tinha assim, eu tinha minha vida de solteira muito boa, porque eu saía, passeava, viajava, então eu não estava pensando em casar e ter filhos. Aí um certo dia… Porque namoramos dez anos, aí um certo dia falei: “Bom, ou a gente vai casar, ou a gente vai separar, porque dez anos é muito tempo.” Porque as pessoas cobram: pai, família… “E aí vão ficar nessa enrolação aí até quando?”. E aí casamos, mas foi assim, tipo “ou faz, ou não faz”. Ai fizemos, casamos e continuamos passeando quando dava… E não pensava: “Vou ter filho logo”, mas aconteceu e para mim foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Porque toda mulher quer ser mãe; porque a folia estava boa, então eu tinha que parar, porque você tem que parar. Não dá para você, pelo menos eu penso assim, não dá para você querer fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ou você está para a folia, ou você está para ser uma dona de casa, porque a casa te consome um bom tempo, filho te consome um bom tempo, você tem que se preparar para isso, não é simplesmente ter um filho pronto; o mundo está aí para.. Não. É muita coisa envolvida, é muito amor envolvido para você continuar simplesmente da mesma maneira. Para mim foi muito importante, muito gratificante. Se tivesse que fazer faria de novo. Não deu certo o casamento por outras questões pessoais, mas estamos aí. Ele conversa com o pai, tem o contato com o pai, o pai hoje tem outra família, ele tem irmã, tem o contato, visita… Então para mim está bom. Não temos eu e o pai um contato, mas ele e o pai tem, porque a família é tudo na vida da gente. E às vezes o amigo está mais para família do que a própria família. Tem amigos que valem muito mais que a família.
P/1- E Cris, a gente está encaminhando agora para o final e eu queria saber quais foram os maiores aprendizados que você consegue perceber na sua trajetória como empreendedora.
R- Como empreendedora eu acho que falta ainda eu aprender mais, mas eu acho que eu consegui me… Gabaritar né? Que se fala, bastante. Porque é o que eu falei, hoje eu consegui definir até o que eu sou, em cada etapa desses um e muitos, hoje eu sei o que eu sou em cada parte dessa etapa, então ser empreendedora me gabaritou para isso, para poder saber aonde eu tenho que mudar, quais são as atitudes que eu tenho que tomar, como eu tenho que me planejar para chegar no meu objetivo. E isso serve para minha vida também, porque a gente sem um planejamento… Tudo bem, as coisas na minha vida, se a gente for pegar de lá de trás, de pequena até hoje, ela sempre aconteceu um supetão; eu nunca pensei muito “vou ter um carro, vou ter uma carreira tal…”, e as coisas aconteceram, mas aconteceram porque estavam dentro de mim e eu mesma não sabia definir o que estava dentro de mim. Hoje eu sei definir o que está dentro de mim. Hoje eu sei exatamente o que eu quero: eu quero ter uma carreira sim, de ganhos financeiros, de ganhos em termos de visibilidade, de carreira… De repente fazer uma viagem pro exterior, o que eu nunca pensei para minha vida. Estar tocando lá no exterior, porque não? É o que eu falei, não é aquela fama de estar em dez mil capas de revista, não, mas é eu ser tocada na… por que não? “Olha só! É Chris Pirês que está tocando aqui”. É importante para mim, é gratificante para mim. E como pessoa, também. Eu, hoje, poder ajudar as pessoas, para mim é maravilhoso. Ajudando fisicamente quando eu posso, espiritualmente… Às vezes a pessoa me liga: “Cris, eu estou com um problema assim…”, eu falo: “Tá bom, vamos rezar. Vamos pedir.” e depois a pessoa fala: “Cris olha, graças a Deus está melhor, a pessoa está bem.”. Essas coisas, Credicard não paga. Tem coisa na vida que Credicard não paga, e essa é uma delas; você poder estar bem com você. E hoje, graças a Deus, eu estou bem comigo, comigo como pessoa, sabendo o que eu quero, aonde eu quero, até onde eu posso… Porque tem isso também, você quer, mas você pode chegar lá? Você tem condições para isso? Então tudo isso me fez ter essa maturidade de aprendizado, tanto no meu particular, como pessoa, como na minha parte empreendedora, porque eu não tenho medo. Então essa falta de medo me impulsiona muitas coisas… E eu busco. Se eu quero, eu busco.
P/1- Para você, o que é ser uma mulher negra empreendedora?
R- É muito importante. Eu acho que todas as pessoas negras, brancas… Porque o preconceito, ele existe, ele é sofrido por muitos. Só que o preconceito desde os tempos… Que ele existe. E a gente muitas vezes não sabe lidar com isso. Eu acho que dentro desse preconceito todo, dentro da nossa raça mesmo, existe preto com preconceito com preto, branco com preconceito com preto, preto com preconceito com branco, branco com preto… É aquela mistura, aquele bolo de que a gente é um ser humano, que o importante para mim é essa visibilidade, é o ser humano. Porque cada um de nós, todo dia tem que matar dez leões. Tudo bem que, nós, pretos temos que matar dez mais um, mas todo ser humano tem que matar um leão, mesmo aquele que nasceu em berço de ouro, que tem a vida boa, porque cada um tem que buscar a sua individualidade. Não adianta eu nascer no berço de ouro, o meu pai ter dinheiro, minha mãe ter dinheiro, família ter dinheiro, se eu pego meu dinheiro e vou usar com droga, se eu pego meu dinheiro e vou jogar no lixo, se eu pego meu dinheiro e vou me colocar assim, me prostituir como pessoa, não vou me valorizar como um ser sem saber o que eu vim fazer. O que eu vim fazer aqui? Eu só estou de passagem? Eu acho que é muito importante descobrirmos o que viemos fazer. Eu estou velhinha, mas eu descobri o que eu vim fazer. Eu acho que então, para mim, é importante... E eu lido com o preconceito diante disso também, pela cor, por ser mulher, por ser pobre… Eu estou buscando a minha melhoria, eu sempre busquei a minha melhoria. Então eu acho que cada um de nós tem que buscar, primeiro dentro de si: “O que eu quero?”. Porque é muito importante; “eu só vou lutar por aquilo que eu sei que realmente eu quero. Eu não quero ser mais um.” Então eu negro, eu branco, eu amarelo, eu vermelho, vou lutar por aquilo que eu acredito, por aquilo que eu sou, independente desse preconceito, porque ele não é de hoje. Hoje está aberto, hoje está revelado coisas que era enrustido, mas sempre houve. Hoje não, a gente tem a oportunidade de falar. Se formos sofrer algum tipo de abuso, temos que falar; e hoje a gente pode, e antigamente não podia. Então se fazer valer desse direito de poder falar, ter o dom da fala, mas a fala na hora correta. E também falar para quem quer ouvir, porque as vezes queremos falar, mas a outra pessoa do outro lado não quer ouvir o que você tem para falar, e ai fica em vão. Então seja negro, branco, amarelo, vermelho, que não pare na situação de preconceito, pré-conceito. Se descubra e vá à luta, independente de que cor, de que credo, que raça, vá à luta do seu eu. Eu acho que é um recado, de repente, para dar. Não que eu não tenha sofrido preconceito, sofri. Como muitas vezes ainda sofro, mas isso não é mais importante do que meus objetivos. Se eu quero eu vou chegar… A minha força de vontade. Esse acho que é um recado que eu tenho para deixar, para dar, que é muito importante para mim. Eu nunca imaginei, eu nunca pensei que eu seria uma pessoa que estaria contando a minha história, a minha história de vida. As coisas para mim acontecem no supetão, então assim, eu sei que pode ser banal para muitos, mas para mim é muito importante eu estar aqui hoje, fazendo parte do Museu da Pessoa. Uma pessoa comum que não tem atrativos de fama, de… Mas eu sou eu. E eu estou feliz por poder contar a minha história aqui. Só gratidão, só tenho o que agradecer. Mais nada. Gratidão a todos vocês. Gratidão ao SEBRAE que me deu essa oportunidade também. Ao “1000 Mulheres”. À Débora, que faz parte, que foi a minha professora que até hoje vem para qualquer coisa que eu preciso, eu mando para ela, ela torce pelas minhas vitórias, pelas minhas conquistas…”Olha, tô fazendo isso!”, “Bacana”, ela curte, ela divulga… A Adriana também, faz parte do SEBRAE, que sempre me ajuda. E as pessoas todas do SEBRAE da Zona Norte ali, que me ajudam sempre que eu preciso; que eu chego lá com uma dúvida, eles tiram minha dúvida: “Vai por esse caminho. Faz mais isso.” ou “Tira isso, faz aquilo”... O que é muito importante.
P/1- Quais valores pessoais que definem a sua trajetória de mulher empreendedora?
R- Valores… Eu acho que é… Eu não desisto fácil; eu acho que é garra. As pessoas dizem que eu levo alegria para elas, então acho que garra. Levar um pouquinho de felicidade para o outro, que eu acho que fazem parte de mim. Humildade, porque eu acho que faze parte daquilo que me fortalece e que me faz ser o que eu sou; que com humildade se chega em qualquer lugar, do pequeno ao mais alto grau. E não pode desistir. Tem horas que você parece que vai... Que não vai conseguir, tem horas que é difícil, até mesmo para mim, que tem esse pique todo, tem horas que é difícil. Você fala: “Nossa, parece que eu nado, nado, nado e vou morrer na praia”. Tem horas que falo: “Nossa, não vai sair disso?”. E aí parece que você pisca o olho e quando você abre o olho novamente, está ali a coisa acontecendo. A coisa sendo realizada; e com êxito, com glória. Mas por quê? Porque você persistiu, porque você insistiu, porque você fez com amor… E uma hora aparece, uma hora acontece. Então isso não me faz perder o meu entusiasmo, não me faz perder minha força. Não sou uma super-herói. Tem horas que eu também dou uma queda, mas procuro sempre… “Opa, vou lá! Eu mesma vou lá e pá! Volta aqui, não é o seu lugar. Vamos lá.”, entendeu? Para sobreviver.
P/1- E o que a Zona Norte representa na sua vida?
R- A Zona Norte é minha infância, a minha adolescência, tudo o que eu sou é parte da Zona Norte, porque eu nasci lá, tô lá até hoje. Saí, voltei, porque eu sempre gostei da Zona Norte. Então assim, é a minha vida.
P/1- E quais são seus sonhos?
R- É como eu falei, ter a minha música fora do Brasil; pelo Brasil e fora do Brasil. Meu sonho: conhecer o Brasil que eu não conheço. Eu falo da música no exterior, mas eu primeiro quero conhecer o Brasil, que eu não conheço. Todo mundo fala que é mais caro conhecer o Brasil do que o exterior, mas eu quero primeiro conhecer o Brasil. Depois se eu tiver a oportunidade… Não é: “Ah, eu quero”, mas… A minha música sendo tocada lá, já estou lá de uma certa forma, não é? Ter meus projetos realizados com sucesso, com êxito; poder ajudar pessoas com isso, trazer mais pessoas. Eu tenho outros projetos além desses que estão no papel, que é Mostrando Talentos, é trazer os talentos independentes do samba. Esse que eu faço é mais voltado para o samba, mas tem outras coisas que abrangem outros ritmos, que eu também tenho; que está em um papelzinho ali, guardadinho…
P/2- Acho que a Luiza deu uma travada mesmo. Mas Cris, como estamos para terminar, eu queria te perguntar: você acha que tem alguma coisa a mais, alguma coisa que você queria contar e que não teve oportunidade de falar ao longo dessa entrevista?
R- Não. Eu só queria agradecer às pessoas que me apoiam mesmo, que estão todo dia comigo, que me ajudam, como eu falo, que quando dá aquela caída: “Opa, não negona, vamos bora! Vamos que você está chegando lá”. Nesse caminho que eu quero, na trajetória da minha carreira, na minha vida… Graças a Deus com saúde. Eu busco fazer o melhor para as pessoas. Então só agradecer mesmo a todos que fazem parte da minha trajetória, da minha carreira, que estiveram comigo do início; ao meu pai, à minha mãe, aos meus orixás, que estão todo dia me trazendo luz, energia, prosperidade e alegrias.
P/2- Acho que agora, não sei se a Luiza voltou, senão eu vou fazer a última pergunta que a gente tem aqui.
R- Tá.
P/2- Na verdade são duas. O que você acha da proposta, que é essa proposta do Museu, de convidar mulheres empreendedoras a contar a sua história de vida?
R- Eu acho maravilhoso, gratificante. Porque tem… Eu estive dando uma olhadinha, quando eu fui convidada, no site tem histórias maravilhosas. Fazer parte desse universo é maravilhoso para nós, mulheres… Estarmos fazendo parte, contando um pouquinho de nós mesmas.
P/2- E para terminar, queria saber o que você achou de ter participado dessa entrevista. Como foi essa experiência?
R- Show! Para mim foi show de bola. Que é o que falei, eu choro, eu dou risada, me emociono, essa sou eu. E fazer parte da história, porque estou fazendo parte da História agora, né? Já faço parte. É gratificante, é maravilhoso; que isso se estenda por mais de… Já tem trinta anos, né? Que estenda por mais trinta, sessenta, noventa... E vamos aí, cada um que vem continue a história do Museu, porque isso é muito importante para as pessoas. Gratidão.
P/2- A gente que tem muito a agradecer. Enfim, acho que falando em meu nome, mas também em nome da Luiza, do Museu da Pessoa, é motivo de enorme gratidão, muita alegria, poder agora também ter a sua história fazendo parte desse acervo e muito obrigado Cris, por ter disponibilizado esse seu tempo e ter compartilhado a sua história conosco.
R- Obrigado. Gratidão. Mesmo, de coração. Muito feliz e emocionada.
P/1- Oi!
R- Oi?
P/2- Agora acho que a Luiza voltou.
P/1- Gente, desculpa. A internet caiu e eu não tenho nenhum controle sobre isso. Vocês estão me ouvindo?
R- Sim.
P/2- Sim.
P/1- Cris, eu quero te agradecer imensamente. Você pode ter certeza que pelo menos para mim você trouxe uma felicidade; como você mesma falou, você leva felicidade por onde você passa, com quem você encontra e para mim você trouxe esse privilégio enorme de poder ouvir a sua história hoje e nós estamos aqui justamente porque acreditamos que todas as pessoas têm importância e todas as histórias impactam e ensinam. Por isso muito obrigada por dividir com a gente.
R- Gratidão. Eu é que agradeço. Muito obrigado mesmo, do fundo do coração. Eu estou muito feliz por fazer parte.Recolher