* Desamparo

Estou na sala cirúrgica de um hospital, sendo submetida a uma intervenção ginecológica. Quem a realiza é o obstetra/ginecologista que me atendeu durante mais de 30 anos. Está usando muletas e com a ajuda delas aciona um botão no lado oposto da mesa que faz levantar meu quadril esquerdo. Depoi...Continuar leitura

Estou na sala cirúrgica de um hospital, sendo submetida a uma intervenção ginecológica. Quem a realiza é o obstetra/ginecologista que me atendeu durante mais de 30 anos. Está usando muletas e com a ajuda delas aciona um botão no lado oposto da mesa que faz levantar meu quadril esquerdo. Depois repete o mesmo procedimento no lado direito. Sinto uma dor muito intensa e me pergunto: porque ele não usa anestesia? O resto diurno foi um barulho que escutei no apto ao lado que me fez imaginar uma transa pelo movimento com que a cama batia na parede. Cena primária talvez. Quanto ao médico, tínhamos essa relação profissional longa. Foi ele quem me atendeu em dois partos e eu costumava brincar dizendo que era sua paciente mais antiga. Ocorre que, apesar de ter cerca de 75 anos, e ser saudável ele morreu dormindo, de um ataque cardíaco. Como foi repentino, todos ficaram muito chocados, segundo me contou sua secretária posteriormente. Me senti muito desamparada depois disso e pela forma como aconteceu foi mesmo “sem anestesia”. Assim o tema da morte, desamparo e a insegurança desse momento surgiu num sonho. Obrigado pela oportunidade de relata-lo.

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