Manifesto

Pequeno Manifesto do Museu da Pessoa

Por que vale a pena ouvir, preservar e transmitir histórias de vida

Não há uma história de vida igual a outra. Isso significa dizer que não há uma vida igual a outra. Imagine: 7 bilhões de vidas sobre a Terra. Nenhuma igual a outra. Cada uma com sua própria trama. Imagine. As vidas são únicas, assim como as formas de contá-las. Se pensarmos que cada pessoa pode construir muitas histórias sobre sua própria vida, isso resulta em 7 bilhões de vidas vezes inúmeras histórias, o que daria algo como infinitas histórias que pairam sobre a Terra.

Quantas delas escutamos? Quantas delas são escutadas? Algumas são narradas em família. Outras se tornam romances, autobiografias, filmes. Outras, muito poucas, terminam dando nome a alguma rua ou a um museu. E todas as outras? Digamos que cerca de seis bilhões novecentos e noventa e nove milhões de histórias nunca são nem serão conhecidas.

E daí? Que diferença isso faz? Estamos perdendo alguma coisa? O que muda, ou poderia mudar, se passássemos a prestar mais atenção nas histórias das pessoas que estão sobre a Terra? Não sabemos exatamente. Apenas sabemos que algo  mudaria. Sabemos que algo certamente mudaria.

O Museu da Pessoa homenageia todos os museus que apresentam esforços humanos para dar valor às nossas vidas. Todos esses museus, assim como o próprio Museu da Pessoa, resultam de escolhas e de percepções de pessoas, grupos ou sociedades de que um certo objeto, um fato, um dado instante na História vale ou valeu a pena. Todos eles valem a pena porque constituem traços de nossas experiências sobre a Terra. Experiências que são narradas, criadas, recriadas e narradas mais uma vez. E ainda muitas e muitas vezes mais. Experiências que valem não porque necessariamente mudaram o curso da história ou glorificaram um instante dela; mas apenas porque revelam nossas múltiplas humanidades.

Contar, escutar, preservar uma história vale a pena porque

  • Nenhum homem é uma ilha.
  • Toda alma é um mundo inteiro e cada mundo desses mundos é diferente de todos os outros.
  • Somos “irrepetíveis”, insubstituíveis e partes de um todo. Nenhum destino pode ser comparado a outro.
  • Cada um de nós é como um elenco inteiro de personagens em um romance ou peça.
  • Nenhuma situação se repete.

Vale a pena porque

  • Os seres humanos, independentemente de sua tribo, de sua cultura, compartilham uma memória.
  • A pessoa singular não é mais pesada que o grupo, tampouco o eu mais importante que o você ou o nós.
  • Cada um deve ser infinitamente importante.
  • Assim, quem quer que destrua uma única alma conta como se tivesse destruído um mundo inteiro; e quem quer que salve uma alma conta como se tivesse salvado um mundo inteiro.

Vale a pena porque

  • O equilíbrio é alcançado quando todos são ouvidos.
  • Ouvir é tão importante quanto falar.
  • Ouvir pode mudar seu jeito de ver o mundo.

Vale a pena porque

  • Um dia haverá em que as histórias, pequenas ou grandes, cheias de aventuras ou plenas de banalidades, sejam percebidas como parte de nosso patrimônio.
  • Um dia haverá em que as histórias serão consideradas as pirâmides do Egito.
  • E os museus do futuro serão, então, as nossas vidas.

Vale a pena porque

  • Construímos a nós mesmos por meio das nossas histórias.
  • Fabricar histórias é o meio para nos conciliarmos com as surpresas e estranhezas da vida.
  • Ter sido é a mais segura forma de ser.

Vale a pena porque

  • O ser humano é, e sempre será,
  • O ser que decide o que ele é.

Este manifesto conta com a generosa colaboração involuntária da Mishná e de Ailton Krenak, Amós Oz, John Donne, Ohran Pamuk, Sigmund Freud e Viktor Frankl.