IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ana Lúcia Tilli Erbolato, nasci em São Paulo no dia 13 de agosto de 1962. FAMÍLIA Meu pai chama Nilton Erbolato e minha mãe Dília Tilli Erbolato. A origem é italiana. Meus avós são filhos de imigrantes italianos. Meu pai era engenheiro e minha mãe sempre trabalhou no comércio, na floricultura. Tenho dois irmãos. Um deles trabalha comigo na área de flores e plantas. E o outro trabalha como corretor de seguros. INFÂNCIA Nasci no bairro da Liberdade. Tenho os olhinhos puxados (risos). Mas cresci em Santo André. Ali eu morei até os dez anos de idade. Depois nós voltamos aqui pra Campinas. A base familiar sempre foi aqui. Até os dez anos, morar em uma grande cidade não é fácil. Minha infância não era muito gostosa. Os melhores momentos eram as férias quando nós vínhamos aqui pra Campinas. Nós deitávamos e rolávamos na casa dos meus avós. Os dois avós, tanto maternos quanto paternos são da cidade. Eu tenho boas lembranças. Nós aprontávamos muito (risos). Na época era muito bom. Eu brincava na terra – porque meu avô sempre teve o sítio – e nós brincávamos de guerra de barro. Andava com o pé no chão, brincava com cigarra, caçava passarinho, empinava pipa. As coisas mais gostosas da infância realmente foram aqui. Tinha bastantes amigos, preservamos muitos até hoje. FORMAÇÃO E COMÉRCIO Começou lá em Santo André, mas logo depois viemos aqui para Campinas, onde eu fiz o meu primeiro e segundo grau. Depois a parte universitária também. Quando somos muito pequenos, não pensamos muito na carreira. Mas eu nasci ali dentro da floricultura e pegamos um carinho muito grande com o comércio quando é familiar. Mesmo nas férias, embora eu fizesse muita molecagem, eu também já ficava na floricultura. Sempre tivemos muito contato com os funcionários, muito antigos, sempre o meu avô... Depois na fase de estudo, primeiro fui fazer uma faculdade....
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ana Lúcia Tilli Erbolato, nasci em São Paulo no dia 13 de agosto de 1962. FAMÍLIA Meu pai chama Nilton Erbolato e minha mãe Dília Tilli Erbolato. A origem é italiana. Meus avós são filhos de imigrantes italianos. Meu pai era engenheiro e minha mãe sempre trabalhou no comércio, na floricultura. Tenho dois irmãos. Um deles trabalha comigo na área de flores e plantas. E o outro trabalha como corretor de seguros. INFÂNCIA Nasci no bairro da Liberdade. Tenho os olhinhos puxados (risos). Mas cresci em Santo André. Ali eu morei até os dez anos de idade. Depois nós voltamos aqui pra Campinas. A base familiar sempre foi aqui. Até os dez anos, morar em uma grande cidade não é fácil. Minha infância não era muito gostosa. Os melhores momentos eram as férias quando nós vínhamos aqui pra Campinas. Nós deitávamos e rolávamos na casa dos meus avós. Os dois avós, tanto maternos quanto paternos são da cidade. Eu tenho boas lembranças. Nós aprontávamos muito (risos). Na época era muito bom. Eu brincava na terra – porque meu avô sempre teve o sítio – e nós brincávamos de guerra de barro. Andava com o pé no chão, brincava com cigarra, caçava passarinho, empinava pipa. As coisas mais gostosas da infância realmente foram aqui. Tinha bastantes amigos, preservamos muitos até hoje. FORMAÇÃO E COMÉRCIO Começou lá em Santo André, mas logo depois viemos aqui para Campinas, onde eu fiz o meu primeiro e segundo grau. Depois a parte universitária também. Quando somos muito pequenos, não pensamos muito na carreira. Mas eu nasci ali dentro da floricultura e pegamos um carinho muito grande com o comércio quando é familiar. Mesmo nas férias, embora eu fizesse muita molecagem, eu também já ficava na floricultura. Sempre tivemos muito contato com os funcionários, muito antigos, sempre o meu avô... Depois na fase de estudo, primeiro fui fazer uma faculdade. Sou formada em Biologia, trabalhei dez anos na Unicamp [Universidade de Campinas] e, quando eu me desencantei com a carreira, a única coisa que me veio à idéia foi trabalhar de volta, voltar à origem, trabalhar com a área da floricultura. Porque eu tenho um carinho muito grande quando a coisa vem de gerações a gerações. Eu sou a terceira geração do fundador. Eu espero que minhas filhas também continuem isso. Porque já têm realmente uma quedinha ali pelo comércio, lá pela loja. Eu sempre gostei das coisas da terra. A natureza, animais e plantas sempre foram realmente um amor na minha vida. Tanto é que hoje eu sou assim, quando você fala de tirar mato do meio da mata, eu sou uma defensora, sempre fui uma defensora desde pequena. Realmente isso estava no sangue. Mas quando eu fui estudar já não tive oportunidade de estudar dentro da área de floricultura. Acabei estudando, na Biologia, mais uma área vinculada à hospitais. E depois é que eu retornei à área de comércio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Foi uma virada de vida. Foi realmente uma virada. Você trabalhar dentro de uma universidade é uma coisa, sempre as mesmas pessoas, sempre a mesma rotina. Quando você vai para o comércio, sua vida muda. Você faz muito mais amizade. Eu falava que eu amadureci como pessoa. Eu acho que eu mudei, dei uma virada de página muito grande. É um dia diferente do outro. Hoje eu sou muito mais feliz, não tenho nem dúvida. Falo que eu talvez, na universidade, eu estaria com um cargo muito melhor, porque tem uma carreira, tem alguma coisa que eu poderia ter seguido. Mas, com os amigos que hoje eu fiz no comércio, com a história de vida que nesses últimos anos eu tive, não tem nem dúvida que eu cresci muito e amadureci muito como pessoa. Desde 93 eu estou na floricultura. São 14 anos. COMÉRCIO DE FLORES Nós vemos muitas mudanças. Eu acho que hoje o comércio é uma coisa muito maleável. Eu vejo mudanças de ano para ano, de mês para mês. Quando vemos a história do meu avô, como ele montou esse comércio, como ele passou para a mão da minha mãe, uma outra geração e agora como está hoje, houve uma evolução muito grande. Por alguns motivos: primeiro porque o setor de flores, no Brasil, é muito imaturo; está em crescimento e muda de acordo com a influência, principalmente européia. Segundo, o consumidor também mudou muito. Antigamente, o consumidor não era tão exigente. Não tinha tantas opções e hoje tem uma gama de opções na frente do consumidor. E a própria estrutura do comércio também, com isso, teve que se alterar. Hoje eu vejo que se você entrar na minha loja de dois anos, quatro, dez anos atrás, é totalmente diferente. E eu acredito que, se você não mudar rápido, você “quebra as pernas”. COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu fico triste cada vez que fecha um comércio antigo de Campinas. Eu falo que isso deveria manter uma tradição. Nós vemos comércios muito bons que fecharam e que você não tem mais notícias. O comércio é a evolução da cidade. Não tem como, não é só a parte industrial que é importante. O comércio é onde o povo está. E isso nós vemos que Campinas vem crescendo, vem modernizando, e, infelizmente, os antigos acabaram não sofrendo as modificações que deveriam e não conseguiram sobreviver a essa nova vida. A Caprioli Turismo, que é uma empresa muito antiga. A família Campos, Casa Campos, que eu conheço há muitos anos também. A Farmácia São Luis, Meia Elegante, que são meus vizinhos há anos também. Uma é referência do outro: "Aonde você se localiza?” “Eu sou do lado da Meia Elegante e da Farmácia São Luiz." E vice-versa, é muito engraçado isso. E outros que fecharam, infelizmente, não podemos dar como referência porque acabaram saindo. CAMPFLORES A floricultura foi fundada em 1913. Logo em seguida, passou à mão do meu avô. Originalmente não foi fundada pelo meu avô, mas, logo em seguida, já foi passada para o meu avô, que era funcionário dessa floricultura. Na época, se passava o negócio como se fosse de pai para filho. Financiado, sei lá como foi que ele pagou aquilo ali. E de lá, não paramos de trabalhar. Toda essa família Tilli, aqui em Campinas, a maioria, 90% é ligada no ramo de flores. MULHERES COMERCIANTES Eu acho que o ramo de flores nesse ponto, muito mais fácil para a mulher. Hoje existem alguns estudos feitos pelo Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] que quase 80% das floriculturas são tocadas por mulheres. E podemos até ver a fonte disso. É um comércio que costuma ser mais leve e o dom feminino influencia e muito. Ao mesmo tempo é um comércio que exige muito. E a mulher, sendo muito guerreira, muito participante, eu acho que encaixa muito bem nesse tipo de comércio. E as floriculturas, a maioria, são tocadas por mulheres mesmo. A flor é muito ligada à emoção e sentimento. E a mulher também é tocada por isso. Eu acredito que muito tem a ver com isso. A facilidade que a mulher tem de trabalhar com a flor e transmitir alguma coisa quando você faz um arranjo, quando você faz um buquê de noiva. Você não está só fazendo aquele amontoado de flores, você está fazendo alguma coisa a mais. Hoje para trabalhar com flor tem que ter carinho, tem que ter amor. Nós recrutamos funcionários de acordo com aquilo que a pessoa gosta. Não adianta você falar: “Eu quero fazer um arranjo.” E você não tem carinho de tratar aquela flor como se fosse uma coisa muito melindrosa mesmo, como se fosse um ser vivo, um animal ou uma pessoa até. A flor tem que ser assim. VENDAS A floricultura tem algumas datas de pico: Dia das Mães, Dia da Mulher, Dia dos Namorados e Natal são as principais datas. E o que nós temos lutado aqui no Brasil como um todo, na área de flores, é justamente que a flor é importante no dia-a-dia das pessoas, não só em data de pico. Porque as pessoas não sabem o valor que é dar um botão de rosa para alguém que está triste, para alguém que está doente ou para uma visita, ou se você vai fazer alguma coisa. Como quebra o gelo e como transmite alguma coisa a mais. Hoje nós lutamos aqui no Brasil para que essa cultura do brasileiro se altere. Hoje, nós sabemos que consumo de flores na Argentina, por exemplo, que é nosso vizinho mais próximo, é três vezes a maior do que o Brasil. E, na Europa, quase cinco, seis vezes a mais. Nós vemos o quanto o comércio tem que mudar, a cultura tem que mudar e quanto nós temos para crescer ainda. A flor campeã de venda ainda é a rosa, a tradicional rosa. Foi aí que meu avô começou. Porque, na época, ele não tinha centro de comercialização igual nós temos hoje. Ele plantava as flores que ele comercializava na floricultura. Foi assim que ele começou. Nós tínhamos um sítio que tinha um roseiral. A rosa ainda é o carro-chefe da maioria das floriculturas. Ela é dada de presente entre amigos, com o namorado, quando se quer conquistar alguém, ou quer para representar o amor. E vem crescendo muito o inverso: a mulher mandando rosas para homens. Isso é maravilhoso para nós, ver essa evolução das pessoas. PRODUTOS O manuseio da flor é muito difícil porque é um bem muito perecível. Não tem como você deixar como um quilo de carne dentro da geladeira. Ao mesmo tempo, o pessoal fala assim: "Mas uma rosa dura três, quatro dias." Mas nós temos que valorizar aquele momento que a rosa chegou nas mãos de quem você quer presentear. O quanto aquilo vai transmitir de emoção. Um biscoito, a hora que você abre, você também consome em dois minutos (risos). E as flores, por que tem que durar mais que quatro, cinco dias? E o segmento que vem crescendo muito para dentro de casa realmente são as flores em vaso, plantadas, porque realmente têm uma durabilidade maior. Mas nós vemos que o brasileiro ainda chega lá. Ainda vai ver o valor de presentear com flores. PRODUÇÃO Nós trabalhamos na linha de produção, mas com outros setores, não mais na parte de flores. Nós adquirimos as flores dos grandes centros de comercialização conhecidos pelo Brasil. Mas na parte de sítio, nós continuamos com um dos setores que meu avô desenvolveu: a questão da produção de árvores e palmeiras. Isso sempre foi o amor da família. Também esse nós continuamos, com um sítio de 11 alqueires em Holambra. Lugar tradicionalmente de flores. E esse quem toca é meu irmão que é engenheiro agrônomo. Esse daí eu quase não me meto. Eu entendo de flores e ele entende de palmeiras (risos). DESAFIOS Essas crises do Brasil foram realmente os principais desafios. Nós temos que ser muito fortes para sobreviver. Esses impactos econômicos que o Brasil acompanha. Cada notícia que dá na televisão, o consumidor sai da rua, não gasta. Isso é um problema muito sério para o comércio, porque nós temos que manter nossos pagamentos em dia, os funcionários em dia, nós honramos, tem que tentar honrar. Não tem jeito. São as principais dificuldades que enfrentamos hoje. FLORICULTURA Eu nunca me esqueço que eu aprendi a escrever meu nome ali na loja. Por incrível que pareça uma funcionária, que até poucos anos trabalhou comigo, dona Luzia, há poucos anos mesmo, faz dois, três anos que ela se aposentou. Ela trabalhou mais de 50 anos dentro da firma e foi ela quem me ensinou a segurar no lápis e escrever meu nome. É uma das melhores lembranças que eu tenho dentro da floricultura. E uma coisa que eu nunca esqueço, e que nós tentamos manter até hoje, é que uma vez por ano, geralmente agora no começo da primavera, nós fazemos distribuição de rosas na porta da floricultura. O meu avô já fazia isso há muitos anos. Isso eu estou tentando porque antes ele tinha o roseiral. O custo era outro. Ele cortava as rosas e distribuía para todas as pessoas no centro da cidade, andava com uma rosinha na mão naquele dia. Hoje eu compro as rosas, mas tento manter no começo da primavera, nos primeiros dias da primavera, a distribuição. São eventos que até a própria população de Campinas, fala: "Quando que vai ser a distribuição das rosas?" Temos bastante coisa legal para contar. A minha mãe foi uma mulher muito sofredora, muito batalhadora. A vida não é um mar de rosas, eu aprendi com a minha mãe essa fibra que ela tem, e eu me orgulho hoje de falar isso. Quando nós somos jovens não valorizamos muito isso não. Hoje, com a idade que tenho, eu quero sempre me espelhar na força, na fibra que ela tem. Porque não é fácil, no meu caso, estudava, abandonar uma vida acadêmica, virar e começar tudo de novo. E faria isso novamente se fosse preciso. Isso é muito importante, eu sempre me espelho nela. E, do meu avô, que sempre acabamos herdando uma coisa assim... Meu avô era uma pessoa de coração muito bom, e nós tentamos também manter isso, o mais humano possível. É um comércio, nós queremos faturar, não tem nem dúvida, mas a parte de pessoa ou aquela relação humana é muito importante para nós. FUNCIONÁRIOS Comigo trabalham sete pessoas. Mas, já chegou a ter 25 pessoas, mais ou menos, na época do meu avô. RELAÇÃO ENTRE OS COMERCIANTES Hoje eu acredito que se afastou um pouco, embora nós sejamos referência um para o outro, mas cada um acaba tocando a sua vida. Eu sinto falta um pouco disso. Algumas pessoas, como a família da Casa Campos, nós mantemos contato. E eu tento não deixar a auto-estima baixar, ficar tão baixa. Quando o comércio está ruim, um tentar ajudar um pouco o outro. Mas eu sinto falta realmente dessa relação humana entre os vizinhos. CIDADES / CAMPINAS / SP Eu acho que a principal alteração foi a Treze de Maio. E agora, nesses últimos anos, a revitalização do centro mexeu bastante conosco. Resgatar um pouco a história valoriza muito. Melhorou muito o centro da cidade. O centro da cidade teve uma época que era um pouco pejorativo porque tinha muito bandido, muito trombadinha. Isso nós sentimos no comércio também, isso deixava muito claro que as pessoas não vinham para o centro da cidade comprar porque tinha um problema de violência. Mas acredito que, nesses últimos anos, nós conseguimos resgatar. A revitalização, a valorização de alguns pontos históricos de Campinas, eu acredito que isso foi muito importante. O centro voltou a ser a grande referência na cidade. Campinas ainda tem uma qualidade de vida que dá para nós vivermos bem. Eu não abro mão disso. Tanto que o bairro que eu moro mesmo aqui em Campinas é um bairro um pouco mais afastado, onde nós ainda vemos, escutamos à noite o pio da coruja, vemos araras e tucanos voando nas árvores. Isso é muito bom, e Campinas ainda preserva uma tradição, a qualidade de vida é realmente um pouco melhor que os grandes centros. Vamos tentar preservar isso. COMÉRCIO DE CAMPINAS Ainda no comércio, eu acredito, principalmente na parte social que seja muito importante porque emprega muitas pessoas. Infelizmente, nós não podemos negar isso, que a indústria é boa, mas o comércio também, mesmo na área de floricultura, tem uma alta empregabilidade. Nós sentimos que realmente o pessoal esquece um pouco. A criação da região metropolitana, o crescimento do turismo empresarial é muito forte aqui na cidade, e o comércio tem que acompanhar essa evolução. Quem não acompanhar, realmente não vai sobreviver. Você tem que estar sempre atento às mudanças e ao crescimento. REGIÃO METROPOLITANA Eu acredito que Campinas ainda vai puxar muito essas cidades. Campinas, sendo o pólo, vai puxar o crescimento das cidades vizinhas, eu não tenho nem dúvida. O pessoal vai ter que despertar mesmo para crescer junto. O crescimento em conjunto é muito importante. Não pode pensar Campinas sozinha e as cidades vizinhas também isoladas. Eu acho que o crescimento é importante como um todo. CIDADES / HOLAMBRA / SP Holambra fica a quarenta quilômetros de Campinas. Lá é o maior centro de comercialização de flores do Brasil. Por exemplo, 90% do que eu vendo aqui na floricultura é comprado lá, direto de Holambra. Lá que você vê o pólo de distribuição de insumos, os adubos, os fertilizantes. Todas essas empresas estão ali mesmo. Lá acabou sendo um pólo produtivo de flores e plantas. COSTUMES Engraçado, porque floricultura, eu falo que daria para montar um livro, de tantas coisas engraçadas que nós temos passado nos últimos anos. Eu brinco assim: eu adoro, por exemplo, quando o jovem briga com a namorada, que é um dos que mais gasta para cobrir o... E é engraçado porque antigamente, por exemplo, se dava muitas flores em casamento. Quando era festa de casamento, se dava, além do presente, as flores junto. Hoje já não se faz mais isso. Geralmente, o pessoal só dá os presentes, as flores não são presenteadas mais. Hoje o consumo é mais nesse lado de, uma amiga que vai sair da empresa, se dá flores, como uma despedida e um agradecimento. Quando os namorados brigam, é muito bom...(risos) Embora seja meio chato, mas eu falo: "Olha, eu adoro." As flores não são mais um produto único. O que mudou muito nesses últimos anos, nós agregarmos com as flores alguns outros produtos, como o chocolates, pelúcias e presentes junto com a flor. Às vezes, a pessoa vai à loja buscar um presente ou ramalhete, por exemplo, e leva, além do ramalhete, uma caixa de bombom junto. É engraçado porque você acaba mudando o conceito de presentear. Ontem mesmo, eu atendi um senhor, que ele trabalhou fora durante um mês, longe da esposa, e ele foi buscar uma rosa, mas ele não comprou só uma rosa. Ele comprou a rosa junto com o chocolate para adoçar a vida da esposa. Eu achei muito interessante. E era uma pessoa simples, que não tem nada. Mas você vê que a pessoa gosta de presentear com pequenos mimos. E, uma mudança realmente muito grande nos últimos anos, foi que as flores estão indo junto com outros presentes. E nós acabamos, dentro da loja, mudando esse perfil também. Hoje você pode perceber que um terço da loja ela é destinada a presentes acessórios, como nós falamos. Coisa que antigamente não se tinha. Já estamos na era da internet. Nós atendemos muitos pedidos via telefone, onde a pessoa já conhece nosso trabalho e acaba, sem ver o produto, comprando e acreditando que nós estamos mandando uma coisa de qualidade, de confiança. É a era da internet, existem sites da internet de vendas de flores que hoje em dia nós sabemos que estão indo muito bem em nível nacional. Mas ao mesmo tempo nós percebemos que os consumidores não querem também só a internet. Eles gostam de ir à loja e tentar adaptar: "Eu não quero só um buquê de rosas vermelhas. Eu quero um buquê de rosas vermelhas com uma rosa branca no meio do buquê" Porque aquilo representa alguma coisa para ele. Tem um significado, ele quer dizer alguma coisa. Até a posição da rosa é escolhida por ele. Isso é muito interessante porque um produto sai diferente do outro. É muito difícil nós fazermos duas coisas iguais. É um produto que você personaliza da forma que você quiser. Se você for à minha loja, se você quiser fazer um buquê de ponta-cabeça, eu faço para você (risos). CLIENTES Não é fácil. Você tem que estar bem atenta. A pessoa, pode vir na sua floricultura, tanto muito alegre quanto muito triste. Eu tive clientes de chorar copiosamente no meu balcão e você tem que estar preparado para isso. Como enfrentar a situação. Ou na perda de um ente querido, ou numa briga, ou, alguma coisa. Você tem que estar preparada mesmo. Nós temos que estar preparado psicologicamente para enfrentar essas situações, e não é fácil. Mas é muito engraçado também. Tenho várias histórias. É muito engraçado quando, acontece muito, por exemplo, no Dia dos Namorados, pessoas que vem para presentear duas ou três namoradas. É muito gostoso, é muito engraçado. E nós temos que ser éticos, tem que ter ética profissional e fazer. Mas nós nos divertimos com essas histórias, e estamos preparados para isso. TRANSFORMAÇÕES Na época do meu avô não tinha tanta variedade. Hoje nós temos um investimento em nível de produção muito grande. Antes existiam rosas, por exemplo, duas, três cores. Hoje existe uma gama de, nem sei quantas cores, que o pessoal acaba importando e trabalhando um pouco com isso. A variedade de produtos e a qualidade. E o que se anda em tecnologia, na qualidade desses produtos, sempre tentando fazer com que dure mais na casa do cliente. Que sempre agregue um valor a mais, que a pessoa fique contente e satisfeita com esse produto, eu acho que andou muito. Realmente foi o maior avanço que teve nesses anos. COMÉRCIO NO ESTADO DE SÃO PAULO Eu ainda acredito que o Estado de São Paulo é o que toca o país. Aqui gira muito dinheiro, no estado de São Paulo. Aqui em Campinas, estamos numa região privilegiada por causa disso. Temos um milhão de habitantes, temos um consumo e um giro de dinheiro muito grande. E o estado de São Paulo, é responsável, na área de flores, principalmente, é o maior centro produtor e de comercialização. Como é aí que eu tenho mais conhecimento, nos outros setores eu acredito que não deve ser diferente. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Nossa Eu acho fantástico. Tinha que ter mais iniciativas como essas. Porque isso vai se perdendo com o tempo. Mesmo nós, tivemos dificuldade de resgatar algumas fotos, alguns documentos. Nós sabemos que vamos ter que organizar isso melhor, mas iniciativas como essas são muito importantes. Não deixar morrer uma memória que faz parte da cidade.
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