Sra. Marlene Oliveira Raitz, nasceu em Timbó em 27 de março de 1951. Primeira filha de um casal que brigava constantemente, ela se lembra com muita afeição de seu pai a quem dá o nome de “pãe” e muito ressentimento da sua mãe, especialmente por ela ter tentado doar a filha várias vezes no tempo da infância. Após as brigas do casal, a mãe ia embora com o irmão, deixando para trás a emoção de abandono na filha. A primeira vez que esse fato se deu ela conta que sentiu muito, mas foram tantas outras vezes que ela diz que não sentia mais.
Sua infância foi marcada por uma história de vulnerabilidade, desnutrição, ausências da mãe, a morte de uma irmã ainda bebê, a que Marlene atribui a falta de cuidado materna, além das brigas entre os adultos e as mudanças de casa constantes. Seus pais mudaram de casa várias vezes e, chegando em Joinville, o pai conseguiu com o prefeito, um pequeno terreno no conhecido “morro do Boa Vista”, onde construiu sozinho uma casa para a família, plantou horta e um pequeno pomar. Mesmo com esse ar de estabilidade, a família mudou novamente anos mais tarde, dessa vez para um bairro distante conhecido como Morro do Meio. A sua matricula na escola aconteceu aos 12 anos e ela também se ressente por isso. Ela precisou esperar o irmão ir para a escola e assim ela pode ir com uma companhia. Na igreja ela se encantou com a catequese aos domingos e foi um aprendizado que lhe mostrou que sua vida poderia ser diferente. A imagem das tias, irmãs do seu pai, que cuidavam da horta e tinham a casa organizada vieram em sua lembrança compondo uma memória de vida possível. Ficou sabendo de uma aula de bordado no bairro e enfrentou a mãe para participar, ela tinha claro em mente que necessitava aprender algo para posteriormente trabalhar. Nessas saídas soube também de uma palestra sobre aborto e se inscreveu. Aos poucos foi compondo aprendizados além do bordado veio a costura e as...
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Sra. Marlene Oliveira Raitz, nasceu em Timbó em 27 de março de 1951. Primeira filha de um casal que brigava constantemente, ela se lembra com muita afeição de seu pai a quem dá o nome de “pãe” e muito ressentimento da sua mãe, especialmente por ela ter tentado doar a filha várias vezes no tempo da infância. Após as brigas do casal, a mãe ia embora com o irmão, deixando para trás a emoção de abandono na filha. A primeira vez que esse fato se deu ela conta que sentiu muito, mas foram tantas outras vezes que ela diz que não sentia mais.
Sua infância foi marcada por uma história de vulnerabilidade, desnutrição, ausências da mãe, a morte de uma irmã ainda bebê, a que Marlene atribui a falta de cuidado materna, além das brigas entre os adultos e as mudanças de casa constantes. Seus pais mudaram de casa várias vezes e, chegando em Joinville, o pai conseguiu com o prefeito, um pequeno terreno no conhecido “morro do Boa Vista”, onde construiu sozinho uma casa para a família, plantou horta e um pequeno pomar. Mesmo com esse ar de estabilidade, a família mudou novamente anos mais tarde, dessa vez para um bairro distante conhecido como Morro do Meio. A sua matricula na escola aconteceu aos 12 anos e ela também se ressente por isso. Ela precisou esperar o irmão ir para a escola e assim ela pode ir com uma companhia. Na igreja ela se encantou com a catequese aos domingos e foi um aprendizado que lhe mostrou que sua vida poderia ser diferente. A imagem das tias, irmãs do seu pai, que cuidavam da horta e tinham a casa organizada vieram em sua lembrança compondo uma memória de vida possível. Ficou sabendo de uma aula de bordado no bairro e enfrentou a mãe para participar, ela tinha claro em mente que necessitava aprender algo para posteriormente trabalhar. Nessas saídas soube também de uma palestra sobre aborto e se inscreveu. Aos poucos foi compondo aprendizados além do bordado veio a costura e as informações de que havia muito para aprender.
Aos 12 anos, sentada sobre uma pedra no meio do mato, no Morro da Boa Vista, ela conta que imaginava como seria sua vida no futuro. Em seus planos, ela se casaria com um homem bom como seu pai, teria filhos e os trataria de forma bem diferente que sua mãe. Mas para isso, deveria ter um trabalho fixo. Quando o primeiro candidato a namorado apareceu sua mãe a doou para uma família que a queria para ajudar na rotina doméstica, sob as condições de que ela não poderia sair de casa. Marlene se ressente porque que ela não queria namorar com aquele rapaz, mas sua mãe não confiava nela. Mas, o surpreendente aconteceu. Dona Polônia, a senhora que a acolheu, preencheu o lugar da mãe que ela carecia. Nessa casa, Marlene aprendeu sobre cuidados da casa, organização da vida, regras e confiança e especialmente os hábitos da vida que Marlene sonhou.
Com um curso de costura conquistou um novo trabalho e sua vida se passou como ela previu: se casou com o Sr. Protásio, um homem bom e teve três filhos. Sobre o seu trabalho ela narra com ênfase: fazia costuras finas de acabamentos e cumpria todas as metas da fábrica com facilidade. Se fez uma mulher senhora de sua vida pelo fruto do seu trabalho. Marlene sofreu também uma experiência com a dependência alcóolica do marido. Ela silenciou o fato do marido beber todos os dias, protegeu os filhos e evitou brigas com a mãe. Sempre em controle da vida que havia planejado, ela buscou ajuda para o marido na Associação dos Alcoólatras Anônimos, AA e diante da melhora do marido se sentiu quase como traída. Como não havia conseguido aquele resultado com tantas tentativas e em apenas algumas reuniões o AA conquistou as melhoras? Ali ela percebeu que suas ações estavam implicadas na compulsão dele e buscou ajuda para si. A ajuda dele veio como um desdobramento daquilo que mudou em si mesma. Ela se narra a partir do discurso da competência, do planejamento e controle da vida. Esse percurso foi arranhado quando os sintomas da Esclerose Múltipla apareceram. Com muita fadiga, ela já não atingia as metas da produção e, sem diagnóstico não se reconhecia nos resultados que apresentava. Uma identidade construída no trabalho ela se sentia como se fosse descartada e fez uma profunda depressão que se agravou com a morte do seu pai. Marlene chora ao narrar esse fragmento da sua história como se fosse presente a dor de todas aquelas perdas, uma fissura no sonho da menina sentada na pedra. Sempre narrando a importância de informações e buscar conhecimentos e ajuda diante da necessidade ela narra que depois do diagnóstico foi paciente da Clínica Escola de uma universidade e ainda hoje é paciente da Clínica de Psicologia que do estudante que naquela época lhe atendeu.
Com esse suporte, enfrentou a aposentadoria e se refaz todos os dias. Quando da entrevista, seu filho mais novo é solteiro e ainda vive com ela e o marido que são aposentados e muito criativos em casa. Ela faz artesanatos, especialmente o crochê, faz geleias de frutas, nata e seu marido, Sr. Protásio é um bricoleur como seu pai, fabrica pequenos utensílios para a casa, cuida das frutas e legumes do quintal. Tudo que fazem são para o consumo da família e se mostraram cumplices na alegria quando os netos vêm lhes visitar.
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