Conte Sua História - Vivências LGBTQIAPN+
Entrevista com Rolando Cristian Chacon da Silva
Entrevistado por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo/Belo Horizonte, 28/07/2023
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista nº PCSH_HV1406
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:23) P/1 - Bom dia, Rolando, tudo bom?
R - Bom dia, tudo bem e você?
(00:29) P/1 - Tudo joia! Então a gente vai começar com a pergunta básica. Para começar eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Bom, eu me chamo Rolando Cristian Chacon da Silva, sou de Belo Horizonte e nasci em 30 de dezembro de 1987.
(00:54) P/1 - Qual é o nome dos seus pais, Rolando?
R - Rolando Chacon e Marina Cristina da Silva.
(01:07) P/1 - E o que seus pais faziam quando você nasceu?
R - Bom, quando eu nasci o meu pai era engenheiro químico e a minha mãe cuidava da casa, mesmo; fazia cabelos, fazia unha.
(01:25) P/1 - Como você descreveria seu pai e a sua mãe em relação à personalidade, o jeito de ser?
R - A minha mãe, ela tem uma personalidade muito forte. Ela é muito amável com as pessoas, as pessoas gostam muito dela, é uma pessoa muito amorosa. E meu pai era uma pessoa muito… Como que eu vou dizer? Muito inteligente, muito correto com as coisas dele. Ele tinha uma personalidade assim, ele abraçava o mundo. Ele mostrava o amor de outra forma, com a personalidade dele. É um pouco diferente da minha mãe, porque a minha mãe demonstra o amor, mas o meu pai, ele não demonstrava, mas fazia coisas que você via que ele amava você.
(02:23) P/1 - E os seus pais nasceram no Brasil também?
R - A minha mãe nasceu no Brasil, mas o meu pai, não. Meu pai é de Costa Rica.
(02:35) P/1 - E você sabe como eles se conheceram?
R - Eu sei mais ou menos. Parece que foi em um baile que teve da empresa que meu pai tinha vindo trabalhar no Brasil, aí eles se conheceram e ali que começou tudo.
(02:55) P/1 - Certo. Você...
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Entrevista com Rolando Cristian Chacon da Silva
Entrevistado por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo/Belo Horizonte, 28/07/2023
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista nº PCSH_HV1406
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:23) P/1 - Bom dia, Rolando, tudo bom?
R - Bom dia, tudo bem e você?
(00:29) P/1 - Tudo joia! Então a gente vai começar com a pergunta básica. Para começar eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Bom, eu me chamo Rolando Cristian Chacon da Silva, sou de Belo Horizonte e nasci em 30 de dezembro de 1987.
(00:54) P/1 - Qual é o nome dos seus pais, Rolando?
R - Rolando Chacon e Marina Cristina da Silva.
(01:07) P/1 - E o que seus pais faziam quando você nasceu?
R - Bom, quando eu nasci o meu pai era engenheiro químico e a minha mãe cuidava da casa, mesmo; fazia cabelos, fazia unha.
(01:25) P/1 - Como você descreveria seu pai e a sua mãe em relação à personalidade, o jeito de ser?
R - A minha mãe, ela tem uma personalidade muito forte. Ela é muito amável com as pessoas, as pessoas gostam muito dela, é uma pessoa muito amorosa. E meu pai era uma pessoa muito… Como que eu vou dizer? Muito inteligente, muito correto com as coisas dele. Ele tinha uma personalidade assim, ele abraçava o mundo. Ele mostrava o amor de outra forma, com a personalidade dele. É um pouco diferente da minha mãe, porque a minha mãe demonstra o amor, mas o meu pai, ele não demonstrava, mas fazia coisas que você via que ele amava você.
(02:23) P/1 - E os seus pais nasceram no Brasil também?
R - A minha mãe nasceu no Brasil, mas o meu pai, não. Meu pai é de Costa Rica.
(02:35) P/1 - E você sabe como eles se conheceram?
R - Eu sei mais ou menos. Parece que foi em um baile que teve da empresa que meu pai tinha vindo trabalhar no Brasil, aí eles se conheceram e ali que começou tudo.
(02:55) P/1 - Certo. Você tem irmãos?
R - Sim, tenho vários irmãos. Tenho três irmãos e uma irmã. Sou o mais velho
(03:08) P/1 - Você conhece a história dos seus avós? Se eles são realmente de Minas - quer dizer, por parte de mãe. Você chegou a conhecê-los?
R - Eu conheci a minha avó. Meu avô não cheguei a conhecer, ele já tinha falecido quando eu tinha nascido.
Sei pouca coisa da história deles. Minha avó eu sei que era daqui, mas do meu avô eu não tenho muita lembrança da origem dele, se ele realmente era daqui.
(03:49) P/1 - E você sabe como seus pais escolheram seu nome? Foi por causa do nome do seu pai mesmo, ou teve outros motivos?
R - Tem, sim. Foi uma junção, né? O Rolando vem do meu pai e Cristian é uma variação de Cristina, então vem uma parte do meu pai e uma parte da minha mãe, aí ficou Rolando Cristian.
(04:14) P/1 - Vamos conversar um pouquinho sobre a sua infância. Você se lembra da rua, da casa onde você passou a sua infância?
R - Sim, me recordo [da] rua, e a casa é a que eu moro ainda hoje. Tenho algumas lembranças de onde eu vivi, das pessoas que conviveram comigo.
(04:41) P/1 - Rolando, do que você mais gostava de brincar quando você era criança?
R - Quando eu era criança eu gostava de brincar com… Eu brincava com os brinquedos que a minha mãe me dava, com meus amiguinhos. Tinha as brincadeiras de criança, amarelinha, essas coisas.
(05:07) P/1 - Você tinha algum sonho de infância?
R - Tinha. Na minha infância eu tinha o espelho do meu pai, eu queria ser como ele, mas isso acabou mudando com o tempo.
(05:26) P/1 - E qual é a sua primeira lembrança de escola?
R - De escola? Nossa, a escola é uma fase um pouco complicada, porque eu lembro um pouco do bullying que eu sofri nessa época. Foi uma fase um pouco conturbada.
(05:47) P/1 - E nesse período ainda, nos primeiros anos de escola, você ia a pé [ou] ia de ônibus, como era?
R - Não, os meus pais me deixavam [na escola], depois eu passei a ir de [ônibus] escolar. Bem depois eu comecei a ir a pé para o colégio.
(06:10) P/1 - Nesse período do ensino fundamental tinha alguma matéria que você gostava mais, ou algum professor que te marcou por algum motivo?
R - Eu gostava muito de Português e de Inglês, então eram os professores que eu tinha mais intimidade, que eu gostava mais, que eu me relacionava melhor.
(06:37) P/1 - E passando para o seu ensino médio, chegou a mudar de escola? A escola foi mais longe? Conta como foi.
R - Sim. No ensino médio eu fui para uma escola pública, aí eu comecei a estudar… Fiquei com um pouco de terror. Como eu tinha ido para uma escola pública eu não sabia como era, como eram as pessoas, como ia ser. Quando eu fui para a quinta série, fiquei com terror, mas quando cheguei lá eu vi que não era nada disso. Era um ambiente completamente normal, as pessoas eram bacanas - algumas, né? Porque outras, nem tanto…
(07:28) P/1 - Indo mais para sua adolescência, para o seu ensino médio, é o momento que a gente muda de gosto, a gente muda o que a gente está fazendo, começa a frequentar outros lugares. Conte como foi esse período para você.
R - Eu sempre fui tímido. Foi um período meio de descoberta, mas também foi um período que eu estava me entendendo, e eu sempre ficava meio retraído no colégio. Teve também a questão do bullying que acabou deixando essa parte da timidez bem, bem… Agravando mais, né? Eu sofria bullying também por causa do nome e porque eu também sempre fui gordo, então as pessoas associavam isso ao nome. [Isso] acabava agravando toda essa timidez, e eu sempre fiquei muito retraído durante a minha adolescência, durante essa fase.
(08:32) P/1 - Rolando, tem algum filme, disco, ou livro que marcou a sua adolescência?
R - Tem, sim, o disco da Britney Spears, Oops!...I did it again. É um disco que marcou bastante a minha adolescência, porque é um disco que foi a entrada para as divas pops na minha vida. É uma lembrança que eu tenho com muito carinho, porque eu pedi para o meu pai e para a minha mãe me darem esse CD de presente. É uma diva que marcou essa fase da minha vida, da adolescência, e eu amo ela até hoje.
(09:16) P/1 - E nesse período, o que você gostava mais de fazer fora da escola?
R - Bom, fora da escola eu não saía muito, porque como eu era muito tímido, eu ficava meio retraído em casa. As vezes que eu saía era para ir ao cinema, para ver filme, essas coisas, ou então viagens de família, mas quando eu não estava no colégio eu gostava de desenhar. Acho que por isso logo depois eu fiz faculdade de designer gráfico, eu tinha essa paixão por desenho..
(09:56) P/1 - Então quando você estava no ensino médio você já estava pensando em fazer design gráfico?
R - Bom, não tinha esse pensamento de fazer design gráfico, mas eu já tinha essa habilidade de desenhar, de gostar de desenho. Depois que foi formando essa vontade de me direcionar para o design.
(10:21) P/1 - E como foi para você esse período de prestar vestibular, de começar a faculdade, de escolher o curso? Como foi isso para você?
R - É um período que é muito confuso, né? Porque a gente tem muita opção, e a gente não sabe o que vai escolher, então a gente fica meio perdido: “Ai, o que eu vou fazer? O que eu faço?” Mas foi um período bom. Acabei fazendo vestibular, e o vestibular dá muito medo, porque tem a questão da nota, você tem que estudar bastante. Foi uma época difícil, mas foi legal.
(11:05) P/1 - Conte um pouco sobre o seu curso, sobre a faculdade. Como foi a sua adaptação? No início a gente fica meio perdido porque só são matérias… Não tem mais nada a ver com as matérias do ensino médio, o ambiente é completamente diferente, então me conta um pouco como é que foi esse primeiro período de faculdade.
R - Na faculdade é tudo muito diferente, porque você chega e tem uma liberdade maior, uma liberdade interativa na faculdade que você não tem no colégio. No colégio você só aprende as coisas e você não pensa, não tem um pensamento crítico, né? Na faculdade você acaba adquirindo um pensamento crítico, então abriu-se um mundo novo na minha frente quando eu entrei na faculdade, até mesmo ter contato com pessoas diferentes e conhecer outras pessoas, a forma que elas pensam, tudo isso.
(12:15) P/1 - E você chegou a fazer algum estágio ou algo assim durante a época da faculdade?
R - Não, durante a faculdade eu não fiz estágio.
(12:27) P/1 - Quando você finalizou a sua faculdade, você conseguiu entrar na área, você chegou a procurar? Ou você já estava trabalhando em outra coisa?
R - Eu estava trabalhando em outra coisa, trabalhava com atendimento. Acabei fazendo freelance, não cheguei a entrar na área de CLT. Acabei fazendo freelance de design.
(13:02) P/1 - Falando sobre trabalho, então, tem uma pergunta curiosa que a gente costuma fazer a respeito de trabalho: você se lembra o que você fez com seu primeiro salário?
R - Lembro. [Com] o meu primeiro salário eu comprei roupa na C&A. Foi incrível, porque eu trabalhei por aquele dinheiro. Foi a primeira compra que eu falei: “Nossa, isso fui eu que consegui fazer”, sabe? Foi uma sensação muito boa.
(13:41) P/1 - E você continuou em Belo Horizonte durante esse período? Quando você se mudou para São Paulo?
R - Sim, eu continuei em Belo Horizonte durante esse período. Fui para São Paulo no final de 2019.
(14:01) P/1 - Então, correu bastante… Mais ou menos, quando você fez a sua faculdade, em que ano?
R - Eu fiz a faculdade em 2015.
(14:15) P/1 - Então, foi pouco depois que você se formou que você veio para São Paulo?
R - Isso.
(14:23) P/1 - E o que te motivou a vir morar em São Paulo?
R - Eu fui morar em São Paulo porque meu marido tinha conseguido uma faculdade em São Paulo, e ele tinha ido morar com os amigos. Como estava difícil essa coisa à distância, eu acabei juntando dinheiro e indo morar com ele em São Paulo.
(14:51) P/1 - Quando você chegou aqui, o que mais te chamou atenção? Qual foi o primeiro choque que você teve de diferença entre BH e São Paulo?
R - Tive um grande choque. Em São Paulo tudo é muito rápido, as pessoas têm muita urgência; esse foi um choque bem grande que eu tive. E é um pouco diferente a forma daqui de Belo Horizonte, [aqui] as coisas fluem um pouco mais devagar, mas em São Paulo são bem rápidas as coisas, meio de imediato, sabe?
(15:30) P/1 - Você chegou a ter alguma dificuldade nesse primeiro momento de adaptação em São Paulo, além da rapidez?
R - Tive um pouco de dificuldade em questão de pegar transporte, porque a linha de metrô daí é muito grande, então tem muitas possibilidades. Eu fiquei um pouco perdido nessa localização, sabe?
(16:01) P/1 - E quando você veio para cá, você morou em uma região mais central ou você foi morar em algum bairro mais distante do centro?
R - Quando eu fui para aí eu morei na região um pouco próxima do centro, no Jardim Bonfiglioli.
(16:23) P/1 - E como ficou sua vida profissional quando você veio para cá?
R - Quando eu fui para aí eu fiquei desempregado, então fiquei procurando uma oportunidade. Até que demorou um pouquinho, porque eu não fui em uma época tão boa. Fui um pouco antes da pandemia, no final de 2019, aí chegou 2020, veio a pandemia. Acabou mudando muita coisa, então acho que isso acabou dificultando para eu poder ter uma recolocação.
(17:05) P/1 - Você chegou a notar alguma diferença entre ser gay em BH e ser gay em São Paulo? Em relação a liberdade de você ser você mesmo, enfim, você viu alguma diferença nesse cenário?
R - Sim, completamente. Ser gay em Belo Horizonte… As pessoas aqui ainda são um pouco conservadoras. Em São Paulo não, as pessoas não se importam com quem você é, a forma que você demonstra isso externamente. Em São Paulo as pessoas não ficam cuidando da sua vida, olhando para você e reparando o que você veste, da forma que você fala, então você tem uma liberdade maior do que aqui.
(17:54) P/1 - Você disse que chegou em São Paulo e levou um tempo para conseguir arranjar um emprego. Você foi trabalhar com atendimento também?
R - Sim, consegui um emprego de atendimento com antifraude, então eu acabei seguindo na área que já tinha experiência de CLT.
(18:23) P/1 - Você chegou aqui em 2019, então um ano depois a gente já chegou na pandemia. Conta para mim como essa questão da pandemia afetou você, pensando não só no aspecto profissional, mas também no aspecto pessoal.
R - Afetou bastante, porque foi uma coisa muito nova. A gente não tinha informação das coisas, não sabia como ia ser o amanhã, então deu muito medo - medo de perder os familiares, medo de não conseguir sobreviver, medo de não conseguir emprego. Foi uma situação… Acho que foi a pior fase da vida, essa pandemia que veio para todos nós, né?
(19:20) P/1 - E você conseguiu ficar trabalhando de casa? Como foi isso para você?
R - Eu consegui uma oportunidade de trabalhar [em] home office, consegui mais para o final do ano de 2020. Consegui com essa empresa e fiquei trabalhando de casa, tanto que durante a pandemia eu praticamente fiquei de lockdown, não saí, só [saí] depois que teve a vacina.
(19:53) P/1 - Certo. Voltando um pouco, o que você acha que você herdou da sua mãe e do seu pai em relação à personalidade?
R - Da minha mãe eu acredito que eu tenha herdado o carisma, a facilidade de falar com as pessoas hoje, de demonstrar que eu gosto delas, sabe? E do meu pai eu acho que a seriedade com algumas coisas da minha vida.
(20:29) P/1 - Eu queria voltar um pouquinho na sua época da faculdade. Teve algum momento que te marcou durante o período?
R - Durante a faculdade? Sim, teve, eu acho que ter contato com gente que gostava do que eu gostava de fazer, de criar, de fazer arte. Acho que isso mexeu bastante comigo, ter encontrado a minha tribo, sabe?
(21:01) P/1 - Voltando para São Paulo, durante o período que você ficou aqui, o que você gostava mais de fazer?
R - Gostava muito de sair com meus amigos, fazer rolezinhos culturais, e ir para a boate também.
(21:23) P/1 - Do que você gostou mais de morar em São Paulo? Tem algum momento que te marcou também?
R - O que eu gostei foi do contato com todas essas pessoas que eu conhecia da internet, que pareciam [estar] muito longe, mas como eu estava em São Paulo eu estava bem perto delas. Acabei conhecendo muita gente e também os lugares, né? A liberdade, que é maravilhosa, as boates, que são muito boas… Tenho muitas memórias boas de São Paulo.
(22:04) P/1 - Você chegou a sentir alguma diferença entre o bairro que você morou e regiões mais centrais, as regiões que você costumava frequentar para se divertir?
R - Sim, tem bastante diferença, porque o bairro onde eu morei era um pouco mais calmo e as regiões centrais já são uma coisa assim, meio absurda, né? Tem muita gente, tem muito contraste de coisas, porque é uma região central onde você vê muita… Por exemplo, nas regiões centrais de São Paulo você vê muita gente em situação de rua, muita gente pedindo esmola, muita gente que infelizmente é viciada e está ali em uma situação muito difícil. Tem esse contraste, na região mais central.
(23:09) P/1 - Você chegou a visitar a sua família durante a época que você estava aqui em São Paulo?
R - Sim, cheguei a visitar. Vim passar férias e passei o mês aqui. Visitei a família, deu para matar a saudade.
(23:31) P/1 - Você chegou a se mudar dentro da cidade de São Paulo, durante o período que você passou aqui?
R - Sim, cheguei a me mudar. Eu morava em um bairro e o dono do apartamento pediu o apartamento de volta, então a gente teve que fazer a mudança para um outro bairro. Acabamos nos mudando para um bairro próximo, que estava do lado.
(23:59) P/1 - Você viu muita diferença entre esses dois lugares, ou não?
R - Sim, o bairro próximo era um pouco mais pobre, então teve uma diferença de lugar, de pessoas, do próprio ambiente mesmo.
(24:20) P/1 - E qual era o bairro para onde você foi?
R - Eu fui para o bairro Rio Pequeno. Tinha uma diferença do Jardim Bonfiglioli para o Rio Pequeno, tinha esse contraste.
(24:39) P/1 - Entendi. Voltando para a questão da pandemia, como é que você fez para escapar um pouco, para melhorar a sua condição mental durante a pandemia? O que você fazia para tentar se distrair um pouco?
R - Acho que o que ajudou muito na pandemia foi o contato virtual com os amigos. A gente sempre tentava fazer alguma coisa, fazer algum joguinho de internet. Acho que na época o pessoal estava jogando muito Among Us, então [a gente] fazia call e ficava jogando. Também ficava fazendo maratona de filme, de série, essas coisas, para poder não ficar pensando muito no que estava acontecendo naquele momento, que foi muito complicado para a gente. A gente não sabia o que fazer e estava meio sem rumo, sem direção.
(25:45) P/1 - E o seu marido também, ele conseguiu fazer home office ou não?
R - Na época, ele estava somente estudando na faculdade, não estava empregado. A faculdade era presencial, mas como veio a pandemia eles adotaram o modelo para fazer em casa mesmo, então ele conseguiu fazer a faculdade em casa.
(26:14) P/1 - Durante esse período vocês chegaram a ter um contato maior [com a cidade], depois da vacina, saindo um pouco mais, nos períodos em que a pandemia baixou um pouco? Como foi essa questão de ficar em casa, “agora pode sair um pouquinho”, depois “não, subiu, agora a gente volta.” Como foi isso para vocês?
R - Confesso que na primeira vez que a gente saiu depois da vacina eu fiquei com um pouco de receio, porque como a gente ficou em casa… Você saía, mas você ficava com medo de encostar nas coisas, de chegar perto das pessoas, então ficou esse receio durante os primeiros meses. Mas depois acho que a gente acabou vendo que não era assim, que as coisas estavam melhorando, então acabamos perdendo um pouco esse medo, esse receio de multidão, de encostar nas pessoas, de chegar perto, sabe?
(27:23) P/1 - Você chegou a sentir alguma dificuldade no pós-pandemia? Uma dificuldade de se adaptar, digamos assim, à volta do presencial em tudo?
R - Sim, cheguei. Eu acho que ainda tenho um pouco disso, um resquício da pandemia, [com medo de] lugares cheios e da socialização com as pessoas, porque fiquei muito tempo dentro de um apartamento com poucas pessoas. Depois, nessa ressocialização, voltar a ter contato com muita gente, com as pessoas, dava uma sensação um pouco estranha, como se você não tivesse tanta energia para isso. Era uma coisa muito estranha que ficou assim, e ainda tem um pouco quando eu vou em lugares que tem muita gente, que tem que socializar com muitas pessoas. Fica essa coisa meio… É uma sensação um pouco estranha, sabe?
(28:26) P/1 - Conte um pouco como foi seu retorno para BH. Como isso aconteceu? Qual foi o motivo?
R - O retorno foi uma coisa um pouco conturbada, porque eu estava em um relacionamento amoroso com uma pessoa e também estava em uma situação em que eu acabei ficando desempregado, e aí já não conseguia mais me manter em São Paulo. Acabou que juntaram as duas coisas e eu tive que optar por dar uns passos atrás, e voltar para Minas.
(29:07) P/1 - E como foi essa sua readaptação para morar em BH? Foi fácil, foi difícil?
R - Está sendo diferente, um pouco complicado, porque você se acostuma a ter um estilo de vida, a ter uma rotina, e depois você tem que voltar para outro tipo de dinâmica que é diferente da que você estava acostumado.
(29:36) P/1 - Isso aconteceu esse ano, Rolando?
R - Sim, aconteceu esse ano.
(29:44) P/1 - Então, é recente?
R - Sim, bem recente.
(29:52) P/1 - Você voltou para morar com a sua família, ou você voltou para morar com seu marido? Como foi?
R - Momentaneamente, eu e meu marido estamos morando com a minha família, mas futuramente a gente espera mudar um pouco essa situação.
(30:14) P/1 - Ele conseguiu terminar a faculdade, ou ele ainda está cursando?
R - Ele conseguiu terminar. Graças a Deus, conseguiu terminar.
(30:27) P/1 - E me conta como é sua rotina hoje em dia, o que mudou de São Paulo para os dias atuais?
R - Bom, mudou muita coisa, porque aqui na casa da minha família tem muita gente, então é uma loucura. Muita gente, tem três cachorros, meus irmãos, a minha irmã, a minha sobrinha, então é contato com muita gente que eu não estava acostumado no meu dia a dia em São Paulo. Em São Paulo moravam poucas pessoas, era eu, meu marido e o nosso ex-namorado, mas aqui, hoje, são várias pessoas na casa. É uma loucura o dia a dia, eu estou me acostumando a isso.
(31:21) P/1 - Em relação à cidade, você já está circulando mais, já está se acostumando a encontrar espaços para se divertir, para conversar com os amigos? Você tem conseguido retomar isso?
R - Tenho, tenho sim. Tenho saído com os amigos, inclusive dois amigos de São Paulo vieram passar férias aqui e eu saí para passar com eles, para mostrar um pouco da cidade. Tenho conseguido me reconectar um pouco com Belo Horizonte, [com] os refúgios que eu tinha aqui antigamente, para sair para passear, para espairecer. Tenho ido aos lugares para poder voltar a essas origens daqui.
(32:10) P/1 - Então a gente vai se encaminhar para as últimas perguntas. Primeiramente, quais são as coisas mais importantes para você hoje?
R - Importantes para mim? Eu acredito que o mais importante para mim hoje é ter a minha estabilidade, para eu poder conseguir ter a minha vida ao lado da pessoa que eu amo e que escolheu estar comigo. Acho que hoje é o mais importante.
(32:51) P/1 - E quais são os seus sonhos para o futuro?
R - Para o futuro? Meus sonhos para o futuro são eu ter o meu apartamento e ter a minha tranquilidade de vida, o meu espaço, poder ter as minhas coisas, como eu tinha antigamente.
(33:14) P/1 - Tem algo que você gostaria de contar para a gente que durante essa nossa conversa até agora eu não cheguei a perguntar, ou algo assim?
R - Acho que não, acho que já falei bastante coisa.
(33:33) P/1 - Está certo. Então a gente vai para as duas últimas perguntas. Primeiramente, o que você achou de contar um pouco da sua história para a gente hoje?
R - Eu achei muito legal poder contar um pouco da minha história, poder lembrar um pouco do meu passado, de onde eu vim, do que eu vivi. Acho bacana ter dado essa visão do que eu vivi, do que aconteceu comigo. Acho isso muito legal, gostei bastante.
(34:07) P/1 - E a última, então: o que você achou de participar desse projeto?
R - Eu amei participar do projeto. Acho que foi muito legal, gostei bastante de ter participado.
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