Aliciene: Para iniciar a nossa entrevista eu gostaria que você me dissesse o seu nome completo, o local onde nasceu e data de nascimento.
Raquel: Eu sou Raquel Alverenga Sena Venera, eu nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 20 do 05 de 74.
Aliciene: Certo, como é que você gostaria de ser chamada?
Raquel: De Raquel.
Aliciene: Ok, Raquel. Então, descreve para mim quais lembranças você tem da sua infância...
Raquel: Então, eu nasci em Belo Horizonte, mas... eu não tinha dois anos ainda e a minha família se mudou para Passos em Minas Gerais, então eu sou de Minas. Até os oito anos de idade a gente morou nessa cidade, eu tinha oito anos quando a gente voltou para Belo Horizonte, então a primeira infância eu passei em Passos. Na verdade, eu gosto de cidade pequena até hoje. Todas as memórias que eu tenho boas de infância, é de Passos, é uma cidade pequena... eu via a calçada da frente de casa, enorme, a gente brincava de roda na calçada... acho que ela não era nem tão grande assim, mas na minha memória ela era gigante. E as mães ficavam ali, conversando na calçada e a gente brincava. Tinha o hábito de ir para paraça a tarde... então, era muito bom!
Aliciene: Na sua casa em Passos, você poderia me descrever um pouquinho mais como era essa casa, a sua rua, o seu bairro?
Raquel: Então, a gente se mudou para Passos por que o meu pai era funcionário público e foi transferido para Passos. Como ele já sabia que a gente ia sair de lá um dia, a gente não tinha uma propriedade nossa, da família. Eram na verdade várias casas, e a mudança é uma coisa que marcou a minha memória. Fazer uma mudança era uma coisa assim muito mágica. E aí, na casa nova, não entender onde ficam os quartos, errar a porta de quarto... era uma coisa muito divertida. Eu tenho isso como uma boa memória. Mas, algumas casas me marcaram, tinha uma delas que era um porão. Tinha uma casa enorme, gigante, de um senhor, assim vovô, daqueles bem fofos... um casal de...
Continuar leituraAliciene: Para iniciar a nossa entrevista eu gostaria que você me dissesse o seu nome completo, o local onde nasceu e data de nascimento.
Raquel: Eu sou Raquel Alverenga Sena Venera, eu nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 20 do 05 de 74.
Aliciene: Certo, como é que você gostaria de ser chamada?
Raquel: De Raquel.
Aliciene: Ok, Raquel. Então, descreve para mim quais lembranças você tem da sua infância...
Raquel: Então, eu nasci em Belo Horizonte, mas... eu não tinha dois anos ainda e a minha família se mudou para Passos em Minas Gerais, então eu sou de Minas. Até os oito anos de idade a gente morou nessa cidade, eu tinha oito anos quando a gente voltou para Belo Horizonte, então a primeira infância eu passei em Passos. Na verdade, eu gosto de cidade pequena até hoje. Todas as memórias que eu tenho boas de infância, é de Passos, é uma cidade pequena... eu via a calçada da frente de casa, enorme, a gente brincava de roda na calçada... acho que ela não era nem tão grande assim, mas na minha memória ela era gigante. E as mães ficavam ali, conversando na calçada e a gente brincava. Tinha o hábito de ir para paraça a tarde... então, era muito bom!
Aliciene: Na sua casa em Passos, você poderia me descrever um pouquinho mais como era essa casa, a sua rua, o seu bairro?
Raquel: Então, a gente se mudou para Passos por que o meu pai era funcionário público e foi transferido para Passos. Como ele já sabia que a gente ia sair de lá um dia, a gente não tinha uma propriedade nossa, da família. Eram na verdade várias casas, e a mudança é uma coisa que marcou a minha memória. Fazer uma mudança era uma coisa assim muito mágica. E aí, na casa nova, não entender onde ficam os quartos, errar a porta de quarto... era uma coisa muito divertida. Eu tenho isso como uma boa memória. Mas, algumas casas me marcaram, tinha uma delas que era um porão. Tinha uma casa enorme, gigante, de um senhor, assim vovô, daqueles bem fofos... um casal de velhinhos, mas ele muito fofo. E eles alugavam, tinham propriedades de aluguel. Eles moravam em cima e a gente morava embaixo, no porão. E tudo isso dava para os fundos que era uma chácara, que ia dar em um rio lá atrás. Então a gente podia brincar nessa chácara, tinha pé de jabuticaba, tinha pé de manga e era muito gostoso esse lugar, muito gostosa essa casa. Eu gostava muito! Depois a minha mãe tinha um irmão que veio morar com a gente e a gente precisou de mais um quarto, então o meu pai foi procurar uma outra casa maior. E essa outra casa maior era reconhecida na cidade, todo mundo conhecia ela como uma casa mal assombrada, que a pessoa da casa tinha sido... a princípio tinha sido suicídio, depois descobriram que ele tinha sido assassinado na casa, então ninguém queria morar na casa. Isso foi em 1978, 79, e era uma casa que na época era quase uma mansão, sabe era uma casa enorme: tinha piscina na parte de trás, tinha coisas assim que a gente não estava acostumado com aquilo tudo. E ele alugou bem barato porque a casa era mal assombrada. Então, claro, meus pais faziam toda uma preparação para a gente não ficar com medo, mas era divertido... a gente tinha um pouquinho de medo de noite, mas era muito divertido. Era uma casa que tinha menos quintal, não era tão divertida quanto a outra, mas era bacana, era bem legal, essa coisa da assombração perturbava a gente, era muito legal.
Aliciene: Raquel, você tem outros irmãos?
Raquel: Somos três, tenho dois irmãos mais velhos e eu sou a única menina e a caçula. E a gente tem pouca diferença de idade. A gente foi muito grudado, então todas as memórias que eu tenho é brincando com eles, sempre juntos.
Aliciene: E sobre a sua vida escolar, algum professor te marcou? Conta um pouco da tua vida escolar, da tua trajetória...
Raquel: Então, a vida escolar sempre foi um desejo muito grande, eu via meus irmãos mais velhos indo para escola, e eles iam cedo para a escola. Naquela época, as crianças que sabiam ler e escrever entravam mais cedo na escola. Então meus irmãos faziam aniversário no meio do ano, uma coisa que não sei por que, mas podia ir para a primeira série, e eles tinham seis anos na época, então os dois foram assim. Então, eu fiquei com uma expectativa de que com seis anos eu iria para escola, e naquela época se entrava com sete. Eu sei que a professora perguntava para minha mãe se a gente já sabia ler e escrever e a gente sabia, então era muito esperado o momendo de a gente ir para escola. Eu morava nessa casa que era um porão e a escola era bem perto, então a gente podia ir a pé, era bem tranquilo. Tinha um amiguinho que morava na frente que também estudava na mesma sala, então a gente ia, era o Rodrigo, a gente ia juntos... e essa escola era a escola que os meus irmãos já estudavam, então eu tinha muito desejo de ir para essa escola. Essa escola era muito mágica para mim, tinha um sino enorme, daí então ficar perto na hora de bater o sino já dava uma curiosidade de olhar para cima e ver aquele sino. E tinha os pátios, tinha que descer uma escada que tinha os pátios, então eu tenho boas mémórias disso. E teve uma professora, que foi a primeira professora, a Regina, ela tinha sido professora dos meus irmãos então eu já a admirava. Entrar para aquela escola era ser aluna da Dona Regina, ela tinha um Dona na frente, era Dona Regina. E essa professora, ela casou na época... porque ela era professora do meu irmão e teve o primeiro filho na época em que ela era minha professora. Ela foi minha professora do primeiro ano e do segundo ano, e o menininho dela nasceu no segundo ano. Então, curti tudo isso, e ela era uma pessoa muito afetiva e eu lembro do perfume dela... sabe ela era muito carinhosa. Eu lembro que algumas vezes eu chamava ela na carteira só para sentir o cheirinho do perfume dela, eu achava tão ótimo... ela me marcou muito.
Aliciene: E sobre a sua juventude, conta algumas passagens para mim.
Raquel: Na minha juventude a gente já estava de volta em Belo Horizonte, e aí a gente sentiu muito, muito mesmo, porque já era uma cidade maior, era um bairro de periferia que a gente morava, então já tinha certos cuidados, não podia isso e não podia aquilo. Não podia sair na rua. A gente tinha uma sensação de vitória de chegar em casa todos os dias, de chegar vivo, de ter sido aprovado mais um ano na escola, porque os colegas, já tinha gente do tráfico, já tinha colegas vizinhos que morreram... e a gente assistia tudo isso. Então, eu tenho memórias de um pouco de violência. Mas, eu não participava disso, era uma coisa de proteção, isso que eu quero dizer, a memória que eu tenho era eu me protegendo o tempo todo. Aí já era mais punk assim o tempo todo: pegar ônibus, ir para escola com o ônibus lotado, sobreviver a essa cidade grande. Tinha coisas muito bacanas, eu estudava no Instituto de Educação de Minas Gerais, que é uma escola muito tranquila do ponto de vista de ser uma escola pública e tem muitas opções bacanas paras alunas. A grande maioria eram alunas de magistério. Então, precisava pegar ônibus para ir... só que no caminho era bem pertinho do Palácio das Artes e do Conservatório de música, então tinha algumas atrações, alguns espetáculos de graça e a gente podia participar. Eu lembro, por exemplo, de assistir Milton Nascimento, enfim, tinham coisas interessantes... tinha teatro, e algumas colegas participavam de teatro... Tinha esse burburinho cultural ali próximo que eu podia participar e isso foi muito bacana, apesar de eu estar na periferia e lá não acontecia nada, mas eu curti isso em alguns momentos no centro da cidade. E o movimento estudantil também acontecendo aí, Fora Collor. O Fora Collor foi uma coisa que me marcou muito na juventude. Eu fui cara pintada, eu era do DCU da escola, fui a primeira secretária do DCU. Ali eu tinha a sensação de que tava nascendo um sujeito político e para mim isso marcou muito, e eu acho isso positivo. Mas, tinha essa necessidade de ficar protegendo o tempo todo, sabe assim “poxa vida, eu vou terminar o ensino médio e eu sei que tem muitos jovens que não terminam... ufa, essa parte eu passei”. Então assim, estava acontecendo cortes de cabelo, os pivetem iam cortar o cabelo das meninas... então eu chegava em casa com meus cabelos e tinha a sensação de mais um dia... a vizinha morreu atropelada... nossa, a gente tá chegando em casa, tá tudo bem. Então, tinha essa proteção muito grande assim, essa auto proteção o tempo todo, ter que ficar cuidado. Mas tinha muitas coisas boas, bem bacanas. Aliciene: E na sua graduação, o que você gostaria de me contar? Raquel: A minha primeira graduação foi na faculdade de artes, que hoje é a Estadual de Minas Gerais que naquela época era uma fundação, chamava “Fundação Aleijadinho”, depois foi estatizada. O curso era Licenciatura em Desenho e Plástica, e eu era fascinada por isso. Naquele momento, eu entrei em contato com coisas que eu não estava muito acostumada, uma linguagem de estética, um teatro, tinha muita gente que fazia teatro, a música popular brasileira intensamente. Então assim, tinha esse burburinho acadêmico, artístico, que me seduzia muito. Essa faculdade de artes eu não terminei, daí eu acabei me apaixonando e ele era de Santa Catarina e casei e vim para cá e não consegui terminar o curso. Aí eu fiz vestibular de novo e fui fazer História, daí eu comecei tudo de novo. A faculdade de História, a graduação de História eu fiz na UNIVALI e eu tenho ótimas recordações desse momento, considero que tive ótimos professores que hoje são meus amigos. Era um grupo forte de professores, era um currículo muito bacana, e tem duas coisas que me chamaram muito a atenção, que me marcou na graduação. A primeira é que a gente tinha um econtro em que toda terça-feira a noite a gente ia para o bar em frente. Então era bacana assim, a gente conversava sobre outras coisas. A aula era sempre mediada por um texto, era uma coisa mais sitemática, e ali no bar não, ali no bar a gente discutia política, a gente discutia a música nova, o cinema, a gente dava risada, enfim... mas foi uma formação. Foi uma formação muito importante porque alguns laços afetivos se estabeleceram com alguns professores que são amigos até hoje. Acho que não eram todos os alunos que iam lá para frente, mas acho que isso era espontâneo, de uma identificação e a gente ia. E a segunda coisa é que eu tive um professor que hoje é também um grande amigo, hoje nos somos compadres, e ele, por amor à camisa, não tinha nenhuma remuneração por aquilo, não tinha nenhum projeto que estava amarrando aquilo, era uma coisa muito espontânea. Ele fazia um grupo de estudo que funcionava duas vezes por mês e a gente se encontrava no sábado a tarde. O zelador abria uma sala um pouco mais tarde, e a gente sempre tinha um texto ou alguma coisa e a gente ficava discutindo e aprendendo, mais coisas, que a gente não ia fazer na sala. Então eu acho que uma formação mais teórica, mais verticalizada foi por aí, foi nesse grupo. Essas duas coisas me marcaram muito na minha graduação.
Aliciene: Você foi professora de mestrado da primeira turma da UNIVILLE, então como é que foi a sua participação no mestrado em educação da UNIVILLE?
Raquel: Quando em cheguei na UNIVILLE, foi em 2010. Eu recebi um e-mail dizendo da necessidade de aumentar o quadro por conta do projeto do mestrado, e eu fiquei muito feliz com o e-mail. E foi tão engraçado porque naquela semana eu tinha decidido que eu ia pedir demissão da UNIVALI porque eu trabalhava na UNIVALI, e quando eu fazia graduação eu era professora do Colégio Aplicação e aí eu fui ficando e e depois eu fui pro ensino superior, eu fiquei quase 12 anos na UNIVALI, e naquele momento já tava bastante desgastada a relação eu tava sofrendo muito com aquilo e decidi que ia pedir demissão e daí eu já tinha feito as contas de quanto tempo eu ficaria para não deixar os alunos na mão, para cumprir um 30 dias de aviso, aquela coisa toda. E decidir isso foi assim, né... e eu não tinha nenhuma expectativa de depois, mas eu precisava sair daquela relação. E naquela semana eu recebi o e-mail parece que tudo conspirou para que as coisas acontecessem. E eu vim para UNIVILLE com muita expectativa, um novo desafio, eu nunca tinha trabalhado num mestrado em educação. Na UNIVALI eu tinha feito como se fosse um estágio num mestrado em turismo. A ideia era de que eu continuasse no mestrado de turismo na UNIVALI, mas acabou não dando certo porque eu pedi demissão. Mas, o mestrado em educação que é a área do meu doutorado era um grande desafio, e eu era recém doutora. Era um desafio, eu não me via muito preparada. Daí, eu me lembro que uma das primeiras coisas que eu coloquei na entrevista foi que eu era recém doutora. [e disseram]: - É isso mesmo, é essa a nossa inteção de pegar recém doutores e construir junto. Daí eu falei: “- Opa! Ficou um pouco mais tranquilo, instigador e possível”.
Aliciene: E hoje, quais são as suas expectativas de desenvolvimento profissional dentro desse programa? Raquel: Hoje a minha expectativa é para um pós-doc, eu tenho isso em mente, não sei se para final de 2015, não sei se vai dar certo, muitas coisas para organizar, enfim, mas o caminho é esse. Hoje eu tenho afunilado mais a minha pesquisa dentro daquilo que me trás mais prazer também, porque quando você chega num programa novo tem muita resposta daquele programa que já estava pronto, então eu tive que adequar muita coisa que já estava previsto. E agora não, agora a gente já tá num outro momento, em que a gente vai construindo mais a nossa marca, e eu vejo isso em todas as colegas. Cada uma já tem mais construído, cada uma a sua marca. E a minha perspectiva hoje é isso, eu sinto que eu estou imprimindo essa marca, e a minha perspectiva é isso, é continuar esse trabalho. A gente tem uma responsabilidade grande com a formação de recursos humanos na região, é um assunto que tá bacana. Eu tenho um projeto para o doutorado e isso abre mais caminhos e, enfim, é por aí. É uma janela aberta, as perspectivas são uma janela aberta, as coisas estão acontecendo.
Aliciene: Raquel, o que você achou de contar um pouco da sua história?
Raquel: Ah, eu adorei, adorei. Foi um bate papo.
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