P/1 - Primeiro eu quero que você se apresente, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento. Fica tranquila, assim a gente pode… Se quiser parar, tomar uma água, respirar, é a sua vida, você que sabe de tudo.
R - Meu nome, data de nascimento e local de nascimento?
P/1 - Isso.
R - Tá. Meu nome é Érica Gabriela Silva de Lima, eu nasci em treze de outubro de 1992, na cidade de Cubatão, São Paulo.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Ginaldo (Flauzido?) da Silva e Maria Jacira de Oliveira Silva.
P/1 - Qual é a atividade deles?
R - Hoje a minha mãe trabalha como auxiliar de limpeza em um escritório e o meu pai, no momento, está desempregado, mas a profissão dele é encanador.
P/1 - E como é a relação de vocês?
R - Minha família… Nós nos damos muito bem, tanto os meus pais, eu e meu irmão a gente tem um vínculo muito forte, não só eles como toda família. Minha família é bem grande, só por parte de pai… Meu pai tem dezessete irmãos, eles vieram do Nordeste, um pouco antes deu nascer, então a gente tem um vínculo muito forte tanto por família de mãe quanto de família de pai. Parte da minha família é de Pernambuco, alguma parte está em São Paulo e meus pais vieram aqui para Baixada Santista, mas a gente tem o vínculo muito forte, sempre que possível a gente tenta se reunir.
P/1 - E você sabe porque o seu pai veio para cá?
R - Eu acho que eles e os meus tios vieram para tentar uma vida melhor, porque lá tanto ele como a família da minha mãe também, todos trabalhavam em roça, a vida lá é muito difícil até hoje, então eu tenho uma parte dos meus tios que optaram por permanecer lá, ficar na roça com a família, minha vó ainda é viva, e alguns tios meus junto com o meu pai vieram para cá, alguns estão em São Paulo, meu pai decidiu vir pra cá, em Cubatão, foi quando ele ingressou a carreira na parte da área da Usiminas também e a minha mãe veio junto para tentar a sorte, e deu certo.
P/1 - Eles se conheceram lá?
R - Sim, eles se conheceram lá, eles casaram lá e em 92 eles vieram, minha mãe estava grávida de quatro meses.
P/1 - E a sua irmã? Conta um pouquinho dela.
R - Na verdade eu tenho um irmão, ele tem 23 anos, caçula, nasceu em 1997, e ele veio para completar a família, a gente se dá muito bem. Eu acho que se ele não tivesse nascido eu ia ser uma criança meio sozinha, não sei, fez muito bem o nascimento dele, a gente se dá super bem. Hoje eu sou casada, então ele mora com os meus pais, também por conta que ele está desempregado, está recém-desempregado, mas ele trabalha na área de compras.
P/1 - E você lembra da sua casa de infância?
R - Ó, a casa de Cubatão, essa minha primeira casa, eu lembro que é próximo do Parque Anilinas, ali na Avenida, é um beco, na verdade, são uns bequinhos bem pequenos e eu morei lá por dois anos, eu não tenho muita memória, tanto que naquela época não tinha muitas fotos, mas eu lembro vagamente de um vizinho que eu tinha, que hoje acho que ta em Minas Gerais, não tenho muito contato. Eu tenho ainda vínculo com alguns amigos dos meus pais, então às vezes a gente ainda visita as famílias deles, que eles já saíram de lá.
P/1 - E o bairro, a região da sua casa, você tem recordações?
R - Então, lá em Cubatão, é uma cidade bem industrial, polo industrial daquela época, então era um bairro bem pequeno, não tinha muita coisa, hoje também não tem muita, assim muitos __________, é industria, né? O que eu me recordo mais é… Depois de dois anos eu fui morar no Parque São Vicente, em São Vicente, eu fiquei também dois anos, na época era uma casa de aluguel, que eu me recordo. Eu morava perto de uma padaria e de uma locadora, também por mais ou menos uns dois anos eu fiquei lá, tenho vizinhos que eu ainda tenho contato, também já saíram de lá, uns moram na Praia Grande e outros já são casados, já saíram do local. A maior parte da minha vida eu passei mesmo no Humaitá, que é um bairro de São Vicente, fica ali próximo do pedágio, de quem vai para São Paulo, passa ali por perto, Jardim Humaitá, que foi onde foi a minha infância toda, eu saí de lá faz três anos. Então lá que eu construí mesmo as amizades, eu tenho maior vínculo lá, então eu sempre estudei lá também, nas escolas públicas, e minha família… Meu esposo é de lá também, nós nos conhecemos lá, então parte da minha vida, dos cinco anos até os 24 anos eu passei nesse bairro.
P/1 - E como era? Quais eram as suas brincadeiras favoritas? Se você brincava na rua, dentro de casa?
R - Olha, eu não brincava muito na rua, porque, na verdade a minha mãe, depois de um tempo, começou a exercer a função de babá, no meio dessas crises e de desempregos, teve uma oportunidade, tinha uma moça que precisava trabalhar e uma das nossas vizinhas perguntou: “Olha, eu tenho uma amiga, você não tem interesse em ser… Em cuidar da filha dela? A mãe da moça acabou de falecer e ela precisa ir trabalhar”, aí foi quando a minha mãe começou a exercer essa função, então eu tinha mais ou menos uns dez, onze anos. Antes disso eu participava bastante da igreja, eu sou católica, então a minha infância sempre foi dividida entre escola, eu fazia capoeira, eu lembro quando era mais nova, então era o lazer que eu tinha, da escola, e participava da igreja, então eu fui catequista, fui coroinha, também dancei, então eu não era muito de brincar na rua, mas também eu sempre tinha alguma atividade fora de casa. Mais ou menos com uns dez anos, onze anos, foi quando a minha mãe começou a ser babá, assim, foi muito de repente e assim, ela começou cuidando de uma criança, duas crianças, aí uma foi passando para outra, e a minha mãe ama criança, então chegou uma época que ela tinha… Na minha casa para cuidar de doze, treze crianças, então eu comecei a ajudar, porque… Desculpa gente, eu me emociono. Mas não é triste, é bacana lembrar. Calma, deixa eu respirar.
P/1 - No seu tempo, por favor, faz super parte a emoção. Fazia tempo que você não lembrava dessas coisas?
R - Não, eu lembro, mas no momento de contar da uma… (Pausa). Acho que a gente pode continuar.
P/1 - Você estava contando da capoeira, da igreja, como era a sua vida com a família, que você ajudava a sua mãe a cuidar das crianças…
R - Sim. Bom, então, a partir dessa época eu comecei a ajudar minha mãe, então a nossa vida meio que mudou totalmente, então foi a hora que eu comecei a ganhar maturidade, porque querendo ou não tinha bebes, tinha mãe que trabalhava de madrugada, então a gente tinha que ficar com as crianças… Aí calma, tô nervosa, deixa eu voltar. (Pausa). Bom, então quando foi por volta de dez, onze anos, minha mãe teve essa oportunidade de começar a cuidar de criança, e uma mãe foi passando para outra, a gente começou com um casal, que foi a Carolina e o Henrique. Eu conheço a Carolina desde os quatro meses de idade, então hoje é como se fosse a nossa irmã. Como a mãe trabalhava de noite, ela tinha o cantinho dela, ela dormia junto com a gente, o Henrique também, até hoje nós somos muito próximos. A gente começou com esse casal de crianças, aí foi vindo, vindo, aí chegou uma época que nós tínhamos doze, treze crianças dentro de casa para cuidar, a partir daí foi quando eu comecei a ter mais maturidade, porque minha mãe sozinha não ia dar conta, então a gente tinha que ajudar. Meu irmão também foi ficando mais velho e foi ajudando, e foi o que começou a aumentar a renda da família também, porque nessa época também teve um tempo que o meu pai ficou desempregado, então foi quando a minha vida começou a mudar. Então desde nova eu tive que ter maturidade, porque criança você tem que cuidar, tem que dar banho, tem que levar para escola, então foi uma fase muito marcante na minha vida. Nesse meio tempo também a minha mãe teve um problema de saúde, ela teve que tirar o ruim, logo em seguida ela teve que tirar safena, e eu tive que ficar na situação, tive que continuar cuidando das crianças para dar um apoio para minha mãe, foi uma fase muito marcante na minha vida, que a gente passou lá no Humaitá. Mesmo assim eu sempre tive amigas da escola, da igreja, a gente tem um vínculo muito grande até hoje, eu sou madrinha de algumas, a maioria já casou, já teve filhos, sempre que possível a gente ainda se reencontra, algumas a gente não tem muito contato, mas a gente sempre se fala, então toda a minha infância foi passada no Humaitá, eu tenho uma lembrança muito boa de lá. Eu morava em uma casa, era perto do mercado - meus pais ainda moram lá - na frente tem uma escola também. As minhas amigas também, alguns moram lá, outras já se mudaram, já casaram, até hoje eu participo de alguns encontros, tanto da minha família lá ou com os meus amigos. Com treze anos de idade eu tive a oportunidade de fazer também espanhol, pela escola pública, então foi quando… Eu sempre tive esse pensando assim, que eu queria trabalhar fora, eu queria ter uma renda para poder ajudar a minha família e também me ajudar a evoluir, porque quando você vive numa situação um pouco mais precária, a gente sabe que desde cedo você tem que começar a batalha, então eu sempre tive esse pensamento. Eu estudava, aí eu fiquei toda segunda-feira fazendo espanhol, quando foi com catorze anos eu também entrei no CAMP, que foi quando eu tive o meu primeiro emprego registrado. O CAMP era lá no Humaitá mesmo, era um programa para Menor Aprendiz, então eu 2008, foi setembro de 2008 eu tive o meu primeiro emprego registrado, era um contrato de dois anos, no primeiro eu trabalhei numa clínica, numa clínica de ultrassonografia, a gente fazia trabalho na clínica e em hospitais públicos também, que eram próximos, São José e o CREI, eu fiquei esse primeiro ano e encerrou o contrato porque a clínica ia fechar; e no segundo ano de contrato dessa empresa, do CAMP, eu comecei a trabalhar numa loja de produtos automotivos e oficina mecânica, que se chama Monumento, ali em São Vicente. Lá também foi uma fase muito boa na minha vida, porque foi quando eu comecei a ganhar um pouquinho mais e eu fui registrada pela empresa também. Terminei os estudos, o Ensino Médio com dezoito anos, continuei trabalhando nessa empresa, na época a gente ganhava… Acho que o salário era trezentos, quatrocentos reais, e foi quando eu prestei o ENEM pra fazer faculdade, porque a renda não dava pra pagar nenhuma faculdade, mas eu queria fazer a faculdade, então eu prestei o ENEM naquela época mesmo trabalhando e estudando e consegui uma bolsa de 50%, que já me ajudou bastante, que foi a minha primeira faculdade com dezoito anos, isso foi em 2010, de Comércio Exterior, eu terminei a faculdade, nessa época eu já tinha três anos na Monumento, é uma empresa muito boa, familiar, até hoje eu tenho vínculos com alguns amigos de lá. Eu trabalhei na parte da oficina, foi na parte do _________, para mim foi muito bacana também porque é bem dinâmico, é um pouco fora assim, do geral, porque naquela época você via as meninas secretárias, tinham atendentes, eu me interessei na _______ porque era algo muito dinâmico, então foi quando eu fiquei três anos lá, só que por ser uma empresa familiar, você não tem muitas chances de crescimento, então foi quando eu fiz a faculdade. Eu escolhi Comércio Exterior, na verdade, por uma indicação lá atrás no CAMP, quando eu fiz esse curso. Eu não sabia muito bem o que fazia, mas eu lembro que uma das professoras falou para mim: “Olha, você leva jeito para trabalhar em alguma área do ramo Logística, de Comércio Exterior e fiquei com isso na cabeça. Lá no Humaitá não tem tanta oportunidade de trabalho, é o último bairro da cidade de São Vicente, então eu não tinha muita carreira, e São Vicente também é uma área de comércio, então eu fiquei com isso na cabeça, fiz o Prouni e coloquei essa opção de Comércio Exterior. Quando eu trabalhava na Monumento também eu já corria atrás de oportunidades aqui em Santos, porém não ter experiência é um pouco difícil, mas assim a gente não desanimava. Muitas vezes… Eu entrava dez horas, sete horas da manhã eu e uma amiga minha a gente vinha para o centro de Santos e jogava currículo. Quando foi em 2012 eu finalizei a faculdade e decidi sair da Monumento para tentar alguma coisa na minha área, porque eu cheguei a fazer algumas entrevistas, só que às vezes davam oportunidade para quem já estava desempregado, porque o salário é um pouco baixo, então eu tentei arriscar. Conversei na época com a minha gerente, a gente fez um acordo, falei: “Olha, estou terminando a faculdade e eu quero ingressar no que eu estudei”, isso foi no final de 2012, dezembro de 2012 foi o último mês lá e esse último mês eu fui chamada para fazer entrevista na Embraport, que é a antiga Embraport, atual DP World Santos. Ele iniciou em 2013 e era uma empresa nova, totalmente nova, que foi o que eu tive oportunidade. Eu fiz entrevista na época para Assistente de Gate… Eu não tenho conhecidos, não tinha nenhuma indicação do Porto, então a gente sabe que é difícil você entrar, então eu posso dizer que eu entrei na fé e na coragem, pelo que eu estudei, por insistência mesmo, de mandar currículo. Eu terminei… Na penúltima semana de dezembro, na Monumento, eu encerrei o contrato, quando foi dia 27 de dezembro me ligaram falando que eu tinha passado no processo da Embraport, foi quando iniciou a minha carreira no Porto. Eu inicie como Assistente de Gate, então o trabalho… Como era um Porto que ia iniciar no meio do ano de 2013, então a princípio a gente entrou como… Para você pegar todo o processo para você divulgar para as demais pessoas que iriam entrar no Porto, no Gate, no caso. Eu comecei do zero, comecei a aprender o sistema, a gente começou a fazer uns testes, porque lá é um Gate, trabalho no Gate, é onde a gente recebe os caminhões, então é um processo automatizado, então era tudo novo para mim e também para quem já estava entrando lá e já trabalhava em Gate, mas era um processo diferente, então foi a oportunidade de aprender junto com os demais. Durante esse período, quando foi uns seis meses depois, iniciou as operações e tinham, na época eram três supervisores, e faltava um supervisor, e uma das pessoas, dos gestores que estavam lá, viu o meu trabalho e perguntou - na época eu tinha vinte anos - e perguntou: “Érica, você tem interesse de ser a quarta supervisora?” Para mim foi um choque, porque a maioria das pessoas que trabalhavam comigo eram bem mais velhas do que eu. Na verdade eu fiquei assim: “E agora? O que eu faço? Porque eu não sei se estou preparada, só que também quando eu vou ter uma oportunidade dessa? Pode ser a minha primeira e última chance”, aí eu topei. Então foi quando começou a minha carreira como supervisora de Gate lá na Embraport.
P/1 - Érica, posso só te interromper um pouquinho? Eu vou querer saber de tudo isso, mas só vou voltar um pouco, a gente vai dar um saltinho, porque eu quero saber mais da sua infância ainda. Então se você pensava, quando criança, em alguma profissão que queria ter, se você pensava algum trabalho que você queria realizar… Você tinha isso em mente?
R - Na minha infância eu tinha uma ideia totalmente diferente (risos). Quando eu era criança eu pensava em ser Jornalista, totalmente fora da área que eu fazia, porque eu achava super bonito, notícias, você via Fátima Bernardes, Glória Maria, nossa, eu achava muito legal o potencial delas como mulheres, você conseguir divulgar o mundo pro mundo. Então a minha ideia era totalmente diferente. Eu comecei a gostar da área de Logística com as mudanças dos meus empregos, assim, no CAMP você tem oportunidade de conhecer outras áreas e quando eu trabalhei na Monumento eu fiquei como atendente um tempo, só que depois eu tive a oportunidade de ir Almoxarifado, e era algo bem dinâmico, então naquela época eu vi que eu queria alguma coisa que fosse mais dinâmica e mexesse com a área de operações, então foi quando eu comecei a pesquisar e veio em mente trabalhar no Porto, e também por conta das notícias, porque aqui na Baixada Santista, para emprego a gente começa… Quando você vai ficando mais velho você vê que o Porto que move, a área de Santos é movida pelo Porto, então foi quando eu pensei: “Poxa, vai ser uma área que eu possa correr atrás e ter oportunidade, talvez ter um melhor salário, ter chances de desenvolvimento, então foi a partir daí que eu decidi a minha carreira.
P/1 - E pensando na sua escola, você lembra - voltando também - do primeiro dia de aula? Você tem essa imagem? Se teve algum professor que foi marcante?
R - Meu primeiro dia de aula ainda foi quando eu morava no Parque São Vicente, lá no maternal, minha professora Cecília, eu estudei lá por seis meses, que foi logo depois que eu mudei para o Humaitá, mas eu me recordo muto bem das minhas professoras e elas fizeram um papel essencial para mim, de incentivar, de “ah, vamos fazer trabalhos…”, de comunicação também. Eu lembro muito das minhas professoras da quinta série em diante, a professora Joice, que era de Português, a professora Regina de Ciências, a de inglês, que é a Conceição, eu lembro de todas as professoras, até mesmo porque logo depois elas foram professoras do meu irmão, e das irmãs e dos irmãos das minhas amigas também, então a gente tem um carinho muito grande por elas, assim, apesar de ser escola pública elas sempre tiveram vontade de incentivar os alunos, até mesmo em trabalho, “vamos fazer teatro, fazer uma apresentação diferente, vamos divulgar de forma diferente, fazer uma exposição”, então elas sempre incentivaram você procurar desenvolver, então eu tenho um carinho muito grande por elas, das que eu me recordo. As que mais me marcaram foram da quinta a oitava série.
P/1 - E como foi essa mudança de escola, que foi junto com o bairro, cidade?
R - Sim, como eu era muito nova, para mim não foi tão marcante, porque eu fiquei pouco tempo lá. E depois, quando eu fui pro Humaitá, eu mudei de escola, que eu estudei no Kelma, na época, com a professora Denise e com a professora Edicéia, só que acaba que as minhas amigas também foram saindo junto. Eu tenho amigas desde seis, sete anos de idade, então para gente foi sempre marcante, porque a gente acompanhou umas as outras na escola.
P/1 - E como você ia para escola?
R - Lá no Humaitá a gente tem as escolas bem próximas, então a gente ia a pé mesmo, lógico, até a terceira série a minha mãe levava, a partir da quarta série, que foi aquela correria, quando começou… Quarta, quinta série, que a minha mãe começou a cuidar de criança, aí já foi ao contrário, eu já ia e levava as crianças também, a minha mãe levava uma parte, eu levava uma parte. Muitas amigas minhas já tinham irmãs, eu me lembro muito da Alice, da Caroline, da Thais, então a gente ia juntos, “ah, vamos para escola? Vamos juntos”, “a gente tem que ir para creche pegar as crianças”, a gente ia junto, eu e a Caroline, hoje ela é casada também, tem a filha dela. Da igreja também, as minhas amigas, Alice, (Enanda?), (Tainy?), a Camila, até hoje nós somos muito unidas, a gente ia junto, então assim, apesar da correria, eu sempre tive acompanhamento das amigas, e as mães também das minhas amigas conversavam bastante, então sempre teve essa união.
P/1 - Nessa época que você começou a ter mais responsabilidade por ajudar a sua mãe, como era a sua rotina? E se você tinha consciência de tudo que estava fazendo?
R - Olha, eu acho que é tão rápido, passa tão rápido que só depois você para pra pensar: “Nossa, eu fazia tudo isso”. Eu sempre fui muito dinâmica, então até mesmo antes, eu ia para escola, eu ia para igreja, fazia capoeira, aí depois comecei a dançar na igreja, fazia teatro, sempre tive essa vida corrida, então quando eu comecei a criar de crianças, foi acrescentando. Eu ia para escola, na escola eu já pegava uma criança, aí já pegava, dava banho, dava almoço, já tinha outra criança para dar banho e almoço, levava para escola, então era tão rápido que a gente… Eu mesma não parei para perceber, o que eu fazia, quão rápida eu era, mas assim, o que eu me lembro é que eu sempre tive a vida corrida, apesar disso eu nunca deixei de estudar, minha mãe sempre me incentivou e eu também tive essa vontade, nenhum momento eu pensei: “Caramba, eu vou parar de estudar porque está corrido”, eu fazia. Tanto que até hoje eu tenho as minhas loucuras, eu não parei de estudar, eu faço… Terminei a minha faculdade, aí eu fiz a minha pós de Logística, fiz um tempo de inglês e agora eu voltei a estudar outra pós de Engenharia de Produção, então desde a minha infância eu sou muito dinâmica, então eu faço, entendeu? Porque eu penso que a vida é muito curta, se eu não fizer agora, eu acho que lá na frente eu ia falar: “Poxa, poderia ter feito e não fiz”.
P/1 - E como você se divertia no meio disso tudo?
R - Eu sempre fui muito caseira, então a minha diversão era sempre com as minhas amigas dentro de casa, lógico, adolescente você começa a namorar, você saí, mas assim, eu sempre fui muito assim, sair com as amigas, ficar em casa com as amigas, ir para a praia, às vezes a gente ia pra praia também, é uma coisa que eu sempre gostei. Eu ia muito para igreja, então tinha retiro da igreja, atividades, então sempre foi voltado… Sair com as minhas amigas, conversar, às vezes coisa besta, você vai para casa - na época era DVD, CD - ligava um CD, DVD e começa a dançar que nem umas doidas, era um vínculo das amizades. O que eu me recordo da minha infância é isso, eu sempre fui muito unida com as minhas amigas. Na correria sempre tinha trabalho de escola, então a gente se reunia aí, quando eu comecei a ficar mais velha a gente ia para show juntas, para praia, então a minha infância sempre foi praia, ou ficava em casa com as minhas amigas, fazia trabalho, a gente aproveitada, a gente foi muito de conversar, não era muito de sair porque era um pouco longe do centro e não tinha muito entretenimento, então foi sempre conversa, “ah, vamos assistir filme, vamos ao cinema”.
P/1 - E nessa época você namorava?
R - Eu comecei a namorar com catorze para quinze anos.
P/1 - Você lembra?
R - Lembro (risos). É, na verdade, eu comecei a namorar… Meu primeiro namoro foi bem rápido, três meses, aí depois eu namorei um rapaz da igreja por dois anos, não deu certo também, muito nova, e depois de um tempo eu comecei a namorar o meu esposo, eu sou casada há três anos, mas eu estou junto com o meu esposo vai fazer dez anos, então assim, a gente começou a namorar eu tinha dezoito e ele tinha vinte anos, foi naquela época que eu comecei a fazer a faculdade, e pouco depois também ele começou a fazer… Ele já fazia técnico de Logística na época que eu fazia Comércio Exterior, e sempre foi aquela correria, ele trabalhava também no comércio, eu trabalhava no Monumento, então sempre foi, estudar, trabalhar e a gente namorava de fim de semana, depois ele começou a trabalhar no comércio, então ficava um pouco mais difícil, porque trabalhava de final de semana também, eu trabalhava no sábado e folgava no domingo, mas sempre foi um pouco corrido por conta de trabalhar e estudar. O que deu certo na gente é que tanto eu quanto ele, tinha aquela vontade de crescer, desenvolver, então um incentivou o outro, então sempre teve essa troca. Quando eu comecei a trabalhar no Porto, eu rodava turno, então a gente se via pouco logo no início, muitas vezes quando ele estava de folga eu estava trabalhando e vice-versa. Depois que ele terminou a Faculdade de Logística, ele começou a fazer Engenharia Civil, e trabalhar também, então foi mais corrido ainda, e eu trabalhava no turno, então a gente é muito família também, ele é muito vinculado com a minha família e eu com a dele, então a gente sempre teve a vida corrida, lógico, se divertia, a gente ia pro cinema, sempre gostou muito de praia também, mas sempre teve essa correria e um sempre incentivou o outro.
P/1 - E como vocês se conheceram?
R - A gente já se conhecia de vista lá na escola, no Humaitá, e depois de um tempo, num show mesmo, uma amiga apresentou a gente, mas não rolou nada. A gente foi começar a se falar um ano depois, em um outro show que a gente combinou de ir junto e foi quando a gente começou a namorar.
P/1 - Como foi esse momento?
R - Olha, no início eu… Eu até falo, quando comecei a namorar eu pensei que não ia dar certo, porque essa correria, ele era bem agitado, falei: “Ah, vou começar a namorar, mas não vou colocar muita ficha”, ainda mais nessa época de faculdade, cada um fazendo faculdade em um lugar, só que com o tempo a gente foi… Tendo as mesmas ideias, a gente tinha os mesmos objetivos, acho que foi o que fez dar certo. Sempre eu estudava e ele também, ele me incentivou muito, isso foi uma coisa que me ajudou, porque quando você começa a trabalhar no Porto, você trabalha com muito homem, e você trabalha de turno, e logo em seguida também eu fui promovida para supervisora, então às vezes na cabeça de outro homem, você ter uma namorada que tem um cargo maior que você, que tem uma vida diferente, que tem muito amigo homem, às vezes é complicado, mas ele levou de boa, ele sempre me incentivou: “É isso aí, você tem que ir”. Muitas vezes eu falava: “Caramba, será que vai dar certo?”, aí ele: “Não, vai lá e dá, eu sei que vai dar certo”. Às vezes ele confiava mais em mim do que eu mesmo, então acho que foi o que fez dar certo. A gente já passou por crises, por exemplo, ele ficou muito tempo desempregado, ficou uns dois anos, só que assim a gente já tinha na cabeça que ó: “A gente vai estudar, vai trabalhar, vai casar, vai ter nossa casa”, então a gente foi muito focado. Tipo respira, não deu certo agora, não tem problema, continuo trabalhando e a gente vai ver no que vai dar. A gente casou há três anos, foi logo na época que ele perdeu o emprego, então foi minha vez de incentivar, porque assim, é uma fase da vida, né? Poxa, ele estudou, ele se formou em Engenharia, só que com aquela crise, na época das empresas, Lava Jato e tudo, não teve oportunidade, todo mundo passa por isso. Só que aí a gente já tinha os planos de casar, nós casamos, hoje a gente mora na Praia Grande, graças a Deus é gente é bem focado, então a gente conseguiu terminar o financiamento da nossa casa, do nosso apartamento, ele está trabalhando de novo, graças a Deus também, ele trabalha na área do Porto também, então a gente sempre incentivou um ao outro, acho que isso fez total diferença.
P/1 - Como foi o dia do casamento de vocês?
R - Olha, foi bem emocionante, porque foi aquele momento, assim a minha família sempre foi muito unida né, então a gente fez o casamento mais pensando assim, lógico é uma vontade, acho que toda mulher tem vontade de casar, mas muito pensando na nossa família, ele também tem uma família muito unida. Então o meu casamento tinha bastante gente, tinha acho que 230 pessoas e praticamente só a minha família e a dele, então foi um momento emocionante porque a gente fez mais para ter esse vínculo, essa memória, sabe? Porque não é sempre que a gente consegue juntar a família, a minha família é distante, a dele também é um pouco distante, tem família em Minas, tem família em São Paulo, então assim, foi quando todas as famílias se esforçaram, meus avós - meu avô ainda era vivo - veio para cá de Pernambuco, todo mundo se juntou: “Ó, em 2017 vamos todo mundo juntar a família pra fazer o casamento”, então foi um momento muito marcante nas nossas vidas também.
P/1 - Você lembra da preparação toda? Do dia, o nervosismo?
R - Sim, assim, a gente planejou o nosso casamento em nove meses, foi muito rápido. E eu fui uma noiva bem tranquila também, lógico que não foi tão tranquilo, porque o carro que eles estava quebrou, por exemplo, então ele que se atrasou, mas foi bem tranquilo, foi emocionante, porque é aquele momento… Por mais que você está perto - hoje eu tenho muito contato com a minha família - mas você vai sair da casa dos seus pais, né? Então assim, principalmente para minha mãe, ela sentiu muito e eu também, porque eu sou super chorona, só de lembrar já da vontade de chorar. Então foi muito emocionante, pela lembrança da família, pelo momento, foi uma conquista também, porque a gente saiu da casa dos nossos pais para ir para nossa casa, então foi quando a gente parou e pensou: “Pô, tudo que a gente está planejando está se concretizando”, então foi um momento muito emocionante também.
P/1 - E Érica, você falou do seu primeiro trabalho, mas eu queria saber quando você acha que você começou a trabalhar, se foi ajudando a sua mãe, ou se foi já com a carteira assinada, em que momento você acha que foi o seu primeiro trabalho?
R - Olha, eu sempre tive essa vontade de trabalhar, e quando eu comecei… Antes de ser babá mesmo eu tenha uma lembrança que eu comecei a pegar revista Avon, Natura, Boticário, isso assim na primeira a quarta série, “ah, mãe, vamos pegar?”, “vamos”. Comecei, eu vendia para professora, eu vendia para mãe de amigas, então assim inconscientemente… Desde do início eu tive essa vontade, tipo: “Meu, eu preciso ter a minha independência financeira, ter o meu dinheiro”, não por vaidade, mas porque a gente sabe que você consegue coisas melhores, você consegue algo melhor pra sua família se você se mover, então desde pequena, nessa correria, inconscientemente eu já começava. Já vendi calça jeans, então assim, eu procurava as coisas para vender e vendia, isso desde novinha. Na época que eu ajudava a minha mãe, eu não tinha um salário, mas eu já trabalhava inconscientemente também, acho que foi muito bom, principalmente para minha carreira, porque eu acho que o que me destacou na empresa, foi o fato deu ser muito nova, só que eu era, sempre fui muito madura, muito séria com o trabalho, então talvez assim, se eu não tivesse passado por tudo que eu passei no passado, eu seria hoje uma mulher diferente, eu penso isso em relação ao meu trabalho. Eu acho que eu comecei a trabalhar inconscientemente, sem pensar que eu estava trabalhando, só por “ah, vamos ver no que isso vai dar”. E depois eu fui cuidando de criança e foi quando eu falei: “Meu, a gente precisa…” É importante, principalmente para mulher, não, lógico, eu defendo muito as mulheres que decidem ser mães, dona de casa, é uma escolha e é uma dedicação total, porque a gente sabe que em casa você rala também, mas eu acho que você se desenvolve bastante quando você começa a trabalhar, você ter a sua independência financeira, então eu sempre tive isso na cabeça inconscientemente. Com o tempo você vai trabalhando e o mundo foi levando e eu fui me tornando a Érica dessa forma, mas foi muito bom para mim, talvez se eu não tivesse passado por todo esse processo no passado, tivesse uma infância normal - não que a minha não foi normal - mas só brincando, estudando, casa, estudo, casa, estudo, talvez eu não seria acelerada quanto eu sou hoje aos 27 anos (risos).
P/1 - E você lembra o que você fez com o seu primeiro salário? Onde você estava? Em que época era…?
R - Ah, eu lembro. Assim, o meu primeiro salário mesmo da clínica era cento e… Era por hora, então dava 160 reais, eu comprei calça jeans, eu lembro, porque quando você era pequena, assim, a gente sempre teve isso de olha, você tem um casaco, você compra aquele casaco melhor para durar, então quando eu tive o meu primeiro salário eu comprei roupa, nunca esqueço isso.
P/1 - E você já estava na faculdade nessa época?
R - Não, eu comecei a trabalhar eu tinha quinze anos, eu não estava ainda na faculdade, então eu estudava de manhã, eu estuda de manhã, saía da escola e já ia pra o trabalho, trabalhava na parte da tarde, saía seis, sete horas da noite.
P/1 - E como foi a decisão de fazer faculdade, escolher o curso?
R - A decisão de fazer a faculdade foi para ter uma oportunidade melhor, e o curso foi a partir do momento que eu comecei a fazer CAMP que eu recebi a mensagem da professora, né? “Olha, você vai se dar bem se você for para área de Logística, algo mais dinâmico”, aí eu comecei a pesquisar: “Ah, Logística?” Aí eu: Comércio Exterior, o que faz? Quais são as oportunidades? Aí eu comecei a pesquisar sobre o Porto, aí eu vi: tem o Porto de Santos, na época tinha Libra Terminais, ainda não tira a Brasil Terminais, nem a DP World, a antiga Embraport, aí comecei a pesquisar o que fazia dentro do Porto, aí eu vi que na época tinha Gate, planejamento de pátio, de navio, eu fiz curso de vistoriador na época, logo depois que eu terminei a faculdade, não, junto com a faculdade, foi no final da faculdade eu fiz alguns cursos na área operacional, porque a minha faculdade era Comércio Exterior, então era mais a parte de documentação, só que aí eu fui pesquisando e vi que tinha algumas funções operacionais que eram bem legais, bem dinâmicas também, aí foi quando eu fiz curso de vistoriador de contêineres, de plano de pátio e plano de navio, então eu comecei a… Eu sabia que eu queria trabalhar na área de Porto, Comércio Exterior, só que eu ainda não tinha definido qual função eu ia exercer, então eu fui jogando currículo, eu tentava desde office boy até ir no Porto, eu levava no Porto e levava nos escritórios, eu falava: “Meu Deus, o que tiver que ser, vai ser, quando eu começar eu vejo quais são as oportunidades que a vida vai me dar”.
P/1 - Então quando você estava na faculdade você já pensava em trabalhar no Porto?
R - Sim, já pensava.
P/1 - E como foi quando você conseguiu, recebeu a notícia que você ia começar a trabalhar no Porto?
R - Ah, foi muito legal, porque eu já tinha feito algumas entrevistas, tanto em escritório, não tinha dado certo, aí foi quando eu pedi a demissão para tentar correr mais atrás e em 2012 foi quando começou pegar currículo para Embraport porque ela iria abrir no ano de 2013, aí eu já fiquei de olho, falei: “Essa empresa vai abrir, talvez seja mais fácil entrar numa empresa que está iniciando agora, do que as que já estão iniciadas, já tem a sua equipe”, então eu fui tentando. Eu me lembro que quando eu recebi o telefonema da entrevista eu ainda estava na Monumento, aí eu atendi no almoxarifado, falou: “Ó, você tem a entrevista - acho que treze de dezembro, senão me engano - você tem a entrevista para assistente de Gate. Aí foi quando eu falei: “Meu Deus, deixa eu pesquisar o que é isso”, aí eu vi que era pra trabalhar com recebimento de caminhão. Eu me recordo muito bem da entrevista, eu fiz a entrevista com - na época - o supervisor do Gate e tinha um coordenador também, que era um peruano, e pediram pra eu contar um pouco da minha história, eu contei também do que eu fazia e me perguntaram: “Érica, como vai ser pra você trabalhar com motorista? Porque o comportamento deles, às vezes, são um pouco agressivos, porque eles estão nervosos, muito tempo fora de casa, então assim, você tem que ter cuidado para falar”, só que pelo fato deu ter trabalhado numa oficina mecânica, eu tinha muito vínculo com os meninos. A gente sabe que rola, tipo, às vezes vai sair um palavrão, vai ter uma pressão maior, porque eles precisam das peças muitas vezes, então eu me dava muito bem naquele mercado, então pra mim eu falei: “Poxa, se eu já tenho contato com pessoal, com os mecânicos, porque não tentar com motorista?” E atendimento ao público, desde a época que eu trabalhava no consultório, são pessoas né? Não é só porque é homem que vai ser agressivo, às vezes você vê assim… Ser humano, quando está nervoso ele vai às vezes extrapolar, não só por ser homem ou por ser mulher ou por ser gestante - que na época eu trabalhava com gestante também - então eu falei assim: “Para mim, sem nenhum problema, eu acho que vai dar certo”. Me perguntaram em relação ao turno também, porque eu nunca tinha trabalhado de turno, eu falei: “Ah, eu nunca trabalhei, mas eu topo. Eu topo e vamos ver no que vai dar”. Eu vou me dedicar, eu vou ter que dormir de dia? Vou ter que dormir de dia, mas eu penso que... Na época eu pensei: “Tudo que eu tenho que fazer, eu tenho que arriscar agora, eu sou nova, se não der certo, tudo bem, mas vamos tentar”.
P/1 - E você lembra como foi o primeiro dia de trabalho?
R - Lembro. Era um canteiro ainda, o Terminal ainda não tinha finalizado, ainda não tinha chegado os contêineres, o Gate ainda não tinha sido construído, mas era muito grande, pra mim era encantador, porque eu trabalhava numa loja e fui para um lugar que é uma cidade, então no início era muita fase de teste, “ah, vamos testar o sistema”, e eu sempre fui curiosa quanto a isso, tanto que hoje, na função que eu exerço - hoje eu não trabalho mais de turno, estou no administrativo - mas eu cuido das melhorias, então para mim foi ótimo porque eu participei de todo o processo de Gate de automação. O que me marca mesmo no começo, quando começou… O Terminal começou a operar e as automações não deram muito certo, tiveram muitas adaptações até ficar como está hoje, então assim, era um caos, era um movimento, o sistema não funcionava e o sistema veio em inglês, então teve que adaptar pra português, muitas vezes o motorista chegava nervoso, aí ele via aqueles pedidos para colocar o indicador em inglês, ele queria morrer, ele estava xingando, então você tinha que ter muita paciência. No começo foi bem, bem corrido, porque a gente tinha uma ideia de que a automação ia vir tudo certinho, não ia precisar de muitas pessoas, só que o sistema não deu muito certo, teve que fazer adaptação, então era muito volume de caminhão na época e o sistema não estava preparado, então no começo foi um desafio, tipo se eu não conseguir passar agora então…
P/1 - E qual foi o momento mais desafiador? Você tem uma história dessa sua trajetória profissional inteira.
R - Eu acho que logo nos primeiros meses da minha equipe, minha primeira equipe eram de 25 pessoas e eu rodava turno, e no começo eu era… Vinte anos. Aí vem o motorista: “Ah, eu quero falar com o seu supervisor”, aí eu falava: “Eu sou a supervisora, pois não” aí ele já ficava, tinha um que falava: “Poxa, você é uma aprendiz, está aqui pra que?” E você tinha que mostrar que você independente da sua idade você estava aqui para trabalhar e você conseguia ajudar ele. Eu lembro de uma história de um motorista, ele tava super estressado, aí ele chegou e falou assim… Começou a descascar, porque teve um problema com a documentação dele, que o Terminal não tinha a documentação e ele não conseguia sair com o contêiner. Então ele veio super nervoso e começou a falar: “Não, vocês são muito incompetentes, que o meu filho de três anos consegue trabalhar melhor do que vocês”, aí eu: “Calma motorista, está acontecendo isso, isso e isso, infelizmente a gente precisa que a sua documentação chegue, tal” e ele começou a ficar nervoso, nervoso, aí deu certo, ainda brinquei, falei: “Não, tudo bem motorista, mas faz o seguinte, quando o seu filho fizer dezoito anos entrega o currículo dele, que eu estou interessada no seu filho”, aí deu uma desbaratinada assim, depois ele acalma. Aí depois de um tempo ele voltou e me trouxe um chocolate, tanto que até hoje o pessoal brinca por conta desse motorista comigo. Aí depois ele: “Pô, foi mal, eu tava nervoso naquela hora”. Então assim, eu acho que no início, até o pessoal se acostumar que a Érica era a supervisora daquele turno, entrevista mesmo quando participava, então assim, você ia entrevistar um candidato que era bem mais velho do que você, quando chegava e te via, algumas pessoas levavam aquele choque: “Poxa, essa pessoa vai ser a minha supervisora?”, então é fase de adaptação, tanto com ______ de trabalho também, tudo é adaptação, assim, no tempo tudo é um choque, para todos, até para você mesma, às vezes você não sabe lidar com certas situações, mas depois o pessoal vai se acostumando e se torna natural.
P/1 - Você já enfrentou alguma dificuldade por ser mulher, você acha que existe isso?
R - Olha hoje, em relação a isso, eu acho que é um pouco mais ameno, assim, por trás, não é tão escrachado em relação ao preconceito. Eu tive assim… Teve um caso de um supervisor chegar e: “Você acha que você é quem? Você chegou agora” e foi um momento de choque também, porque eu não sabia como me comportar, era tudo muito novo, então eu sempre fui assim… Eu saí na época da Monumento, eu me dava super bem como todos os mecânicos, com todo mundo, então pra mim era assim, quando você tem o mesmo nível da pessoa, é mil maravilhas, entendeu? Quando eu tive esse caso com esse rapaz, que começou a me questionar no meio da minha equipe, eu não sabia o que fazer, eu travei, aí eu: “Meu Deus, e agora? O que eu faço?”, porque você não pode abaixar a bola, aí eu fui, esperei ele falar, aí eu falei: “Não, eu sou supervisora tanto quanto você”, porque na época eu fui cobrir o turno dele e o Gate tava travado por conta de um motorista e ele não sabia resolver e eu fui ajudar, eu fui com a intenção de ajudar, eu cheguei no integrante eu falei assim: “Poxa, ó a gente faz assim”, aí eu cheguei na outra pessoa e falei: “Pô, você consegue acordar o motorista?”, porque quando eles ficam nervosos às vezes eles travam o Terminal, eles travam o Gate, e estava um caos, a gente precisava resolver, e ele se incomodou com isso, porque eu tinha pedido, eu falei: “Ó, a gente vai resolver assim…”, eu pedi para um integrante dele, eu falei: “Vai lá, tenta acordar o motorista pra gente fluir a fila”, aí ele ficou nervoso e começou a falar: “Eu tenho tantos anos de Porto, você chegou agora, você veio de uma merda de uma oficina, você pensa que você é o quê?”, aí foi um momento de… Também foi muito inconsciente, eu só pensei: “Pensa rápido, como você pode responder isso?” Aí eu respondi.
P/1 - Como você respondeu?
R - Eu falei: “Ó, eu sou supervisora tanto quanto você, estou aqui para ajudar, se não deu certo eu preciso que saia, porque agora eu que vou assumir o turno”. Aí ele começou a falar… Sempre tem essa provocação, agora está menos, a pessoa também não está trabalhando lá, mas assim, cada dia você vive um momento diferente, e para mim foi um momento muito marcante porque eu não sabia como eu ia responder. Depois eu: “Nossa, acho que eu respondi certo”, aí depois uma menina que estava do meu lado: “É isso aí, está certo”, aí eu: “Então eu acho que deu certo”, mas foi muito inconsciente. Tem pessoas assim, principalmente quando você tem um cargo maior, você vai ter que enfrentar preconceitos, não só porque você é mulher, mas às vezes porque você tem um cargo maior que a pessoa, não só a mulher enfrenta isso, o homem também, a crítica vem de todos. Então é assim, hoje eu escuto mais por trás, assim, eu não tive mais casos como esse, da pessoa chegar, me encarar e falar que eu não sabia de porra nenhuma - desculpa, não posso falar palavrão, né? Posso? (Risos) Tá bom - mas assim, teve sim conflitos com pessoas que às vezes não queriam ajuda, ou às vezes que eu precisava de ajuda também, porque eu não sei de tudo. Hoje eu trabalho num Gate, também trabalho na ferrovia, então assim, às vezes você não vai ter essa ajuda, não vai ter pessoas que vão querer trabalhar junto contigo, não vão querer dividir o trabalho, e não é só lá. No começo eu pensei: “Caramba meu, eu vou ter que passar por isso mesmo?”, mas assim, se você não for para frente, não muda as coisas, entendeu? Principalmente em relação a mulher. Hoje lá é uma empresa que eles dão muito valor à mulher, então tem um quadro maior de meninas, vem crescendo, tanto em gestão quanto operacional, então a gente precisa disso. Tem horas que a gente dá uma travada, tipo: “Meu, eu não acredito que eu estou passando por isso”, mas se você não passar e der para trás, é isso que eles querem, entendeu? Eles querem que você se intimide e pare de trabalhar, então… Hoje não tem tanto descarado quanto no passado, mas você tem que filtrar, você vai escutar muito tipo: “Aí, olha, Fulano falou isso, isso e isso”, ou fala por trás: “Essa menina tal, tal, tal, não sabe de nada”, aí você tem que filtrar: “Será que é isso mesmo?” Vão ter críticas que são construtivas, que realmente você vai precisar escutar e vai precisar melhorar, mas vai ter muita coisa que eles vão falar para te intimidar.
P/1 - E como você faz para filtrar? Às vezes você leva para casa tudo isso?
R - É, você tem que levar (risos). Você leva para casa e faz o filtro, porque às vezes, no momento você tem que ignorar, muita coisa você ignora porque as pessoas não falam na sua cara, elas falam por trás, tem isso né? E isso acontece em todo trabalho, não é só no Porto. Eu acho que todo ambiente de trabalho você vai ter esse conflito com o ser humano, o ser humano não é perfeito, né? Então, às vezes a pessoa fala, às vezes é inconsciente, nem porque quer te prejudicar, mas porque não está bem consigo mesma e vai falar.
P/1 - E o que significa, para você, trabalhar e atuar numa área que é historicamente considerada “masculina”?
R - Olha, para mim, eu acho que é muito importante, não só eu, quanto para as minhas amigas de trabalho, assim, uma incentiva a outra, acho importante, a minha história é importante, mas eu vejo assim, eu me espelho em outras mulheres lá também, tem operadoras que são mães - porque eu ainda não passei por essa fase, vou passar um dia, mas por enquanto - então assim, eu vejo… Uma acaba incentivando a outra, porque a história de ninguém é fácil, você vê pessoas que já passaram por situações piores que a minha, então acho que assim, quando eu paro para ver onde eu estou hoje, eu acho que eu estou no caminho certo, porque a gente precisa disso, às vezes a gente precisa seguir em frente, ignorar, fingir demência mesmo e ir, porque se não tivesse… Se toda vez a gente recuar, não vai mudar essa história de... Vai ser um público totalmente masculino, então a gente precisa nos incentivar, dar um empurrão em você mesma e ir para frente.
P/1 - E você e suas amigas se incentivam, quando acontece alguma situação desafiadora vocês conversam? Vocês tem isso?
R - Então, hoje, o meu contato com... Meninas, hoje, que ficam na parte de gestão ADM, eu não tenho… Eu tenho algumas amigas de trabalho sim, mas por conta… Assim, que a gente se vê mesmo, a maioria das mulheres, tem aquele encontro tipo, banheiro. Na época a gente tinha academia, agora por conta da pandemia a gente não tem. Então tem essa assim, ah, tem no vestiário, tal, às vezes uma passa: “Pô, passei por isso” ou “ah, caramba, está corrido lá em casa”. Tem isso: “Cara, você é demais, porque você é mãe, dá conta do filho, do trabalho, da casa”, então eu acho que várias incentivam umas as outras, entendeu? E tem que vibrar com a oportunidade cada uma tem também, porque eu acho que é uma coisa que faz diferença, eu acho que se todo… Porque às vezes assim essa parte de preconceito, às vezes vem até de uma outra mulher, então tem que uma incentivar a outra mesmo.
P/1 - E quais foram as barreiras e dificuldades que você passou até chegar nessa cargo de liderança?
R - Olha, eu acho que a principal barreira é que você tem que tratar dentro de si mesma, porque você vai escutar muita coisa, então você tem que aprender a fazer esse filtro, porque se você não fizer esse filtro, você desiste no meio do caminho. No início é tudo muito novo, então você tem que se sentir… “Poxa, eu sou capaz”, às vezes você não pode se intimidar, acho que esse foi o principal tratamento que eu tive… Porque lá nos meus empregos anteriores eu não tinha esse conflito, não tinha, era todo mundo assim, todo mundo muito amiguinho do outro porque você não tem competitividade, entendeu? E você tem que fazer esse filtro. Agora, você vai ficando mais maduro, mais adulto, o mundo corporativo é assim, mas também não é só pedra, a gente tem muitas amizades, você tem muitos amigos que se tornam família.
P/1 - E o que você acha que é necessário para que mais mulheres alcancem cargos de liderança ou entrem no Porto?
R - Olha, eu acho que assim, as empresas tem que incentivar isso, é um trabalho que é de formiguinha, onde eu trabalho eles tem feito isso bastante, tanto que cada vez mais você vê entrada de operadoras de equipamento, cargos de liderança, e eu acho que tem muito esse tratamento de querer incentivar, porque com o tempo, quanto mais mulheres conseguirem entrar, mais vai se tornar natural, mas no começo é difícil, quando você está só você no meio dos homens, ou você está em cargo de liderança e você é muito novo, então eu acho que é um trabalho de dentro da empresa para fora. E assim, as mulheres, uma incentivar a outra, acho que é muito importante, porque no começo você tem essa dúvida, sabe? Eu acho que é uma coisa que é diferente de homem para mulher, por exemplo, você tem um cargo… Tem uma oportunidade para vaga tal, homem: “Cara, vou nessa”, é muito isso. Às vezes você não tem todas as especificações, mas ele aposta. Mulher, pelo menos eu acho que tem esse pensamento: “Caramba, eu não tenho isso, então deixa quieto, eu não vou”, entendeu? Então é um trabalho mesmo com as mulheres que tem que fazer tanto dentro do Terminal ou assim, tem que ter mais programas como esses para que incentivem, para que mostrem que a gente é capaz, porque às vezes você é, mas você não sabe que é.
P/1 - E qual foi o momento mais marcante nessa sua trajetória toda profissional?
R - Olha, acho que mais marcante foi essa transição, também um momento muito marcante que foi de assistente para supervisora e logo em seguida também… Assim, eu sempre tive o incentivou do meu coordenador - hoje ele não trabalha mais lá - mas também teve um momento que foi muito marcante, que foi quando eu comecei a cobrir as férias dele, porque hoje eu sou supervisora também, só que fico no administrativo, então eu tomo conta de outros supervisores, eu faço toda parte de programação de sistema, processos, então foi um momento que ele falou: “Olha, eu vou precisar sair de férias, tem como você cobrir minhas férias?”, aí eu fiquei… Meu, já foi um desafio, agora outro desafio em menos de três anos, tipo… Aí eu falei: “Aí, mas poxa, tem um pessoal que já é mais velho do que eu, mas poxa, eu gostei do teu perfil”. Por que às vezes, quando você está no administrativo, você tem que ver o processo, você tem que saber lidar, tem que ser muito assim. Principalmente em um operacional, você tem que seguir. Então eu falei: “Ah, vai dar merda, acho que é melhor não”. “Não, você consegue”. Então assim, o incentivo dele também contou muito, porque às vezes as pessoas se desanimam por isso, né? Às vezes você sabe, você quer, mas não tem quem te incentive. Então lá, as pessoas te incentivam a fazer. Então foi um momento muito marcante e acabou que desde então eu não voltei mais para o turno e fiquei sempre apoiando esses processos, então eu já apoio todas as equipes, a parte de ferrovia também, eu tenho a interface com as transportadoras, com os operadores ferroviários, então os dois momentos marcantes que eu tive na empresa fora esses, porque as pessoas acreditaram no meu potencial.
P/1 - E como foi essa transição de assistente para supervisora?
R - Olha, foi… Eu pensei que seria pior, pensei que ia ser mais traumatizante. Mas com o tempo, como as pessoas entraram comigo, a minha equipe na época eram 25 pessoas, você vai ganhando respeito com o tempo. A partir do momento que você… Que a pessoa vê que você está com ela para apoiar. Era muito corrido, né? Porque o sistema ainda não estava funcionando, tinha muito volume, só que eu sempre estava junto. Até hoje, o bicho tá pegando, eu tô lá do outro lado no workshop, deu problema, eu vou lá e vou fazer a mesma coisa que um assistente está fazendo. Porque acho que você tem que ter essa humildade também, não é só porque eu estou em um cargo de supervisão que eu vou apagar tudo que eu fiz lá atrás. Então eu acho que isso faz com que você ganhe o respeito das pessoas. Isso fez a diferença nessa trajetória para não ser tão “punk”.
P/1 - E como é seu dia-a-dia, hoje em dia?
R - Hoje em dia? Bom, eu moro na Praia Grande, a trinta quilometros de onde eu trabalho, eu saio às sete da manhã de casa, pego minha moto, venho aqui para o centro de Santos, às oito pego uma barca. Trabalho, geralmente eu participo de reuniões durante o dia, nove e meia é minha primeira reunião, a gente passa tudo o que aconteceu no dia anterior, operacional, o que a gente tem de programação, programação de ferrovia. A gente faz um controle de metas também, no caso a meta de tempo de atendimento do caminhão, meta de automação, o que a gente precisa fazer, quais são os principais problemas. Respondo bastante email, leio bastante mensagem. Às vezes estou de plantão. Você está em casa, você atende também o telefone e tem algum “B.Ozinho”. É bem corrido, mas saio por volta das cinco e quarenta, vou para casa. Agora com a pandemia, faço academia em casa. Estudo também, então no fim de semana eu faço minhas aulas, faço Engenharia de Produção agora, pós graduação. Aí eu faço as minhas aulas, procure sempre, agora com a pandemia está um pouco difícil, mas quando não tinha pandemia, eu sempre fui muito família, então eu e meu esposo estávamos na casa dos meus pais, do pai dele ou a gente estava com os amigos. Eu sempre fui muito caseira, então muitas vezes reuníamos os amigos em casa, ou íamos almoçar juntos, sempre foi assim. Quando caí as folgas também, porque meu esposo, hoje, trabalha de turno, a gente tem o nosso dia, o nosso momento. Vamos descansar, vamos curtir, vamos passear… Então assim, é corrido, continua sendo corrido, mas eu procuro isso. Talvez se eu ficasse dentro de casa seria entediante. Tanto que ano passado eu parei de estudar. Aí eu falei: “Nossa, acho que vou voltar a estudar”. Então vamos lá, vamos voltar a estudar.
P/1 - E como foi voltar a estudar?
R - Assim, agora eu estou fazendo online. É a primeira vez que estou fazendo faculdade EAD. Mas para mim, pelo fato de morar longe, tem sido melhor, e é bom porque você sai um pouco da sua zona de conforto, né? Ah, tem um momento legal também que eu lembrei e posso falar, que eu fui pro Equador pela empresa. (Pausa).
P/1 - Me conta como foi essa experiência.
R - Bom, um momento muito marcante na minha trajetória no Porto, foi no ano passado quando tive a oportunidade de fazer parte do início do Porto da DP World no Equador. Tudo que eu vivi lá em 2013, aquela emoção de: “Vai começar a operação. Como que vai ser? Será que vai dar certo? Será que não?”, eu vivi novamente no ano passado em outro país. Para mim foi super importante, porque conheci outra cultura, outras pessoas… Lá, os processos são totalmente diferentes, e foi muito legal. Lá também era um Porto que tinham mulheres iniciando como supervisoras. Então foi muito legal trocar essa experiência, porque foi como se eu tivesse visto a Érica de 2013 só que em outra pessoa. Então foi muito legal dar um toque, porque agora eu já tinha um pouco mais de experiência e tinha muita gente também que estava vivendo aquele momento pela primeira vez. Então você dá as dicas: “Faz isso, você tem que ver por aqui, avalia tal coisa, é importante ver…” Foi um momento muito marcante também, dentro do Porto, eu fiquei lá dez dias, conheci uma cultura diferente, operações diferentes, porque lá os processos são um pouco diferentes do Brasil, algumas coisas mais simples, outras mais complexas. Então foi um momento muito marcante também, lá no Equador.
P/1 - Vocês conseguiram implementar alguma coisa?
R - Na verdade foi o início, o “set-up” do terminal. Então o processo já estava montado, porque o pessoal já tinha vindo para cá também há um ano. Então muita coisa que a gente passou de treinamento para eles, há um ano, para ver como funciona o que eles levaram daqui para o Equador. Então quando a gente foi para lá, foi mais para dar apoio, ver se deu certo. Algumas coisas deram falhas no sistema, então levamos daqui para lá para eles corrigirem. Então foi um momento muito bacana, foi uma troca de experiência muito legal.
P/1 - E me conta mais de como o Coronavírus e a pandemia afetaram a sua vida individual e profissional. Por exemplo, não dá para fazer esse tipo de viagem agora, né?
R - No profissional, agora temos que ter mais cuidado. Você precisa passar álcool em gel, usar máscaras direto, tem o distanciamento entre as mesas, você tem um cuidado maior. Muitas coisas você tem que se adaptar, porque é tudo muito novo. Acho que todo mundo teve que se adaptar. Em relação a família, é um cuidado maior, com família e amigos. Não vou com tanta frequência para a casa dos meus pais. Eu os vi mês passado, só que você toma aquele cuidado, porque eu sou muito grudada. Aquele negócio de abraçar, de beijar, tem que tomar cuidado, tem uma preocupação maior. Fico pensando principalmente nos mais velhos, na minha mãe que já teve problemas de saúde, é hipertensa, tirou o rim, a safena, ela é pela metade, como a gente fala. A gente tem uma preocupação maior e no trabalho também, porque querendo ou não, assim, é uma preocupação que você tem que passar principalmente para os motoristas, então é assim, tem que sempre estar com passe e sempre usar o álcool; e é algo que na rotina deles, é totalmente… É tão corrido que às vezes você deixa, tem que ter o cuidado, deixa o álcool lá perto do Gates para eles. Então você tem que se readequar. Como é o Terminal e, portanto, não parou, não teve esse home office. Eu fiquei em home office acho que umas duas semanas, por conta dos estacionamentos que fecharam, muita coisa a gente vem em moto, mas assim, tudo mudou bastante em relação às reuniões, por exemplo. Hoje a gente usa muito o Microsoft Teams, Google Meets, então você precisa se adequar a tecnologia, porque é algo que é assim, é mais fácil você colocar no HDMI, apresentar do que ter que ir lá, já preparar antes, comprar áudio… Então a forma de se trabalhar, a gente não parou de trabalhar, o que é bom, mas teve que se adaptar a forma de trabalho.
P/1 - O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R - Eu gosto muito de praia e comida. Adoro comidas diferentes, a minha família também é nordestina, então conheci um hobby, que tenho muito com meu pai: “Pai, vou na sua casa, o que vamos fazer hoje?” Meu pai também gosta de ficar na cozinha. “Ah, vamos fazer feijoada, vamos fazer rabada.” Então: “Ah, tá bom, então vamos lá. Vamos lá no mercado e comprar isso. Vou pegar no Google a receita”. Então eu tenho muito envolvimento com meu pai com isso, porque essa culinária, esse eu nordestino eu amo, meu irmão já nem tanto. Enta uma coisa que eu gosto de fazer com minha família é isso: “Vamos cozinhar?”, “Vamos”. Porque eu não gosto muito de cozinhar, mas de vez em quando, nesses momentos: “Vamos fazer uma coisa diferente”, então eu já gosto. Praia também é uma coisa que me traz paz, eu gosto muito. Então a gente sai de casa, não estamos fazendo nada na praia, mas é uma paz tão diferente (risos). Eu gosto muito de praia. Praia, família, meus prazeres são muito envolvidos a família e amigos também. "Vamos ao restaurante tomar umas bebidas”. Eu acho que é muito importante isso, porque foge da rotina e você precisa ter esse momento, esse vínculo ai, minhas amigas de infância, até hoje temos muito vínculo, então assim, eu falo que quando acabar tudo isso, aí eu vou ficar tendo esses momentos (risos).
P/1 - E quais foram os maiores aprendizados que você tirou da sua trajetória profissional?
R - Olha, não ________ do que você vai receber; você nunca sabe de tudo; tente mesmo, às vezes você pensando que você não é capaz, às vezes você precisa tentar para você saber se você é capaz; e incentive umas as outras também, porque às vezes é o que falta.
P/1 - E para você, o que é ser uma mulher empreendedora? E quero saber se você se identifica, se você representa uma mulher empreendedora?
R - Eu acho que é muito importante fazer a diferença, eu acho que eu faço a diferença no mercado de trabalho e com as mulheres, para mim isso é muito importante. Eu acho que a gente precisa cada vez mais de mulheres que se arrisquem para que outras façam o mesmo. Então para mim é super importante e eu acho que cada vez mais a gente precisa de meninas assim. Incentivar… Eu acho que principalmente uma coisa que é muito importante, que faria toda a diferença, desde a adolescência, porque essa fase é a fase que muda a vida de uma menina para uma mulher, então se desde lá do início você conseguir fazer que a pessoa tenha o pensamento de que ela consegue, às vezes ela não fique só se prendendo dentro de casa. Ru acho que às vezes, “não, a minha vida via se restringir a somente isso, porque eu não consigo…” Eu acho que é super importante.
P/1 - E quais valores pessoais definem a sua trajetória como mulher atuando nessa área nova?
R - Força de vontade… Deixa eu ver. Perseverança, força de vontade e garra, porque se não tiver você desiste no meio do caminho.
P/1 - E o que o Porto de Santos representa na sua vida?
R - Representa toda mudança na minha vida. Eu acho que a partir dessa oportunidade que eu consegui ter uma vida melhor, eu consegui minha moto, eu consegui meu apartamento, nosso apartamento e assim, foi o que me fez mudar, que me incentivou também a mudar. Porque minha personalidade mudou, minhas escolhas mudaram a partir dessa oportunidade que eu tive no Porto de Santos.
P/1 - Eu queria saber se você gostaria de apresentar alguma história, ou falar sobre alguma coisa que a gente não tenha incentivado?
R - Que eu me lembre… (Risos).
P/1 - Então a gente está encerrando e queria saber duas coisas.
R - Tá.
P/1 - O que você acha da proposta de mulheres empreendedoras que atuam em cargos que eram considerados super masculinos, mas que agora estamos vendo essa transformação, serem convidadas para contarem sua história de vida através de um projeto de memória?
R - Eu acho super importante, tem que ser cada vez mais divulgado. Eu acho que se isso fosse feito antes e divulgado antes, hoje a gente não estaria com essa… Lógico, tem aumentado o número de mulheres em locais que eram considerados masculinos, mas acho que quanto mais você incentivar essa proposta e você leva para fora, mais as pessoas vão ser surpreendidas. Porque… Eu vim de uma história que as mulheres que estavam ao meu redor também foram guerreiras, então muitas mecânicas, eu tenho amigas que trabalham com elétrica, eu tenho amigas que são muito multi família, que considero uma super garra, que se dedicam também. Então assim, talvez o meu histórico e o que eu passei na minha vida me incentivou a ser assim, mas não é todo mundo que vai ter esse histórico para você incentivar a sua vida. Então eu acho que é super importante, tem que ser cada vez mais divulgado, principalmente em escolas, as públicas também, porque geralmente quando você mora em bairro assim, um pouco mais populares, escola pública, está cada vez mais difícil. As professoras são ótimas, eu sou prova viva, porque estudei em escola pública, achei professores que me incentivaram, mas só eles não é o suficiente. A gente precisa de mais pessoas para nos incentivar.
P/1 - E o que você achou de ter dado essa entrevista, contado um pouquinho da sua história?
R - Eu achei muito legal, emocionante (risos). Foi muito bacana. Espero que vocês tenham gostado também.
P/1 - Muito! O começo é sempre um pouco mais difícil, mas aí a gente vai percebendo que, poxa, é a nossa história. Eu quero te agradecer imensamente por você ter vindo aqui, por contar a sua história. Em nome de toda a equipe do Museu, muito obrigada. Tenho certeza que sua história vai inspirar muitas outras mulheres com sua força, sua garra e quando estiver tudo pronto eu te mando ela e você vai fazer parte de um Museu.
R - Tá bom (risos). Muito obrigada.
Recolher