IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Abdo Set El Banate, nasci em Campinas em 4 de julho de 1941. FAMÍLIA Meu pai era Elias Abdala Set El Banate e minha mãe Mari El Banate. Eles nasceram em Antioquia, na Síria, e vieram para cá, eu acredito, na década de 20. Meu pai veio com 18 anos para tentar a sorte aqui no Brasil. Quando chegou, foi alfaiate e mascate. Mascateou pelas fazendas do interior de São Paulo. Naquela época, nas festas regionais, os mascates montavam suas barraquinhas - como os camelôs fazem hoje - e tentavam vender seus produtos. Ele contava que era muito complicado porque as pessoas não gostavam que eles invadissem e fizessem suas vendas de produtos; eles tinham que tentar vender e ao se aproximar a polícia, ou qualquer coisa parecida, recolher e sair correndo, exatamente como é hoje; não mudou muito de lá para cá. Até que ele conseguiu se estabelecer com outras pessoas, montando uma sociedade aqui em Campinas. Eu acredito que, Campinas sempre foi um grande entroncamento ferroviário, e naquela ocasião, a cidade começava a despontar como um mercado promissor. Acredito que tenha sido por isso que ele veio para cá. Meu pai veio sozinho. Conheceu minha mãe e sua família no navio em que eles vieram. Depois de alguns anos, acabaram se casando. Posteriormente, meu pai trouxe família toda, mas o meu avô paterno, que teve uma alfaiataria, já era falecido. Eu conheci minha avó paterna, que se chamava Ana. Ela morou conosco durante uns três anos, quatro anos, e depois faleceu. Não cheguei a conhecer os meus avós maternos. CIDADES / CAMPINAS / SP Eu nasci em Campinas, no centro da cidade, na Rua José Paulino, número 606; hoje a casa não existe mais. Meu parto foi feito em casa. Naquela ocasião, nos tínhamos, na quadra de baixo, um posto de assistência médica, e na outra quadra o Corpo de Bombeiros, que existe até hoje. Eu morei no centro da cidade até os 18 anos. Campinas era uma cidade tranqüila, muito...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Abdo Set El Banate, nasci em Campinas em 4 de julho de 1941. FAMÍLIA Meu pai era Elias Abdala Set El Banate e minha mãe Mari El Banate. Eles nasceram em Antioquia, na Síria, e vieram para cá, eu acredito, na década de 20. Meu pai veio com 18 anos para tentar a sorte aqui no Brasil. Quando chegou, foi alfaiate e mascate. Mascateou pelas fazendas do interior de São Paulo. Naquela época, nas festas regionais, os mascates montavam suas barraquinhas - como os camelôs fazem hoje - e tentavam vender seus produtos. Ele contava que era muito complicado porque as pessoas não gostavam que eles invadissem e fizessem suas vendas de produtos; eles tinham que tentar vender e ao se aproximar a polícia, ou qualquer coisa parecida, recolher e sair correndo, exatamente como é hoje; não mudou muito de lá para cá. Até que ele conseguiu se estabelecer com outras pessoas, montando uma sociedade aqui em Campinas. Eu acredito que, Campinas sempre foi um grande entroncamento ferroviário, e naquela ocasião, a cidade começava a despontar como um mercado promissor. Acredito que tenha sido por isso que ele veio para cá. Meu pai veio sozinho. Conheceu minha mãe e sua família no navio em que eles vieram. Depois de alguns anos, acabaram se casando. Posteriormente, meu pai trouxe família toda, mas o meu avô paterno, que teve uma alfaiataria, já era falecido. Eu conheci minha avó paterna, que se chamava Ana. Ela morou conosco durante uns três anos, quatro anos, e depois faleceu. Não cheguei a conhecer os meus avós maternos. CIDADES / CAMPINAS / SP Eu nasci em Campinas, no centro da cidade, na Rua José Paulino, número 606; hoje a casa não existe mais. Meu parto foi feito em casa. Naquela ocasião, nos tínhamos, na quadra de baixo, um posto de assistência médica, e na outra quadra o Corpo de Bombeiros, que existe até hoje. Eu morei no centro da cidade até os 18 anos. Campinas era uma cidade tranqüila, muito tranqüila. Brincava-se na rua, todo mundo conhecia todo mundo, todo mundo era amigo de todo mundo. Completamente diferente da vida que a gente leva hoje. Eu nunca acompanhei minha mãe nas compras. A cidade, naquela ocasião era muito concentrada, era relativamente pequena; uma cidade com 150 mil ou talvez 200 mil habitantes, quando muito. Próximo da minha casa havia um armazém - não me lembro o nome - onde as compras eram feitas. Um pouco para cima da minha casa, tinha uma padaria onde também comprávamos. Era tudo muito próximo, e às vezes, inclusive, comprava-se por telefone: o dono, ou alguém lá do armazém ia entregar em casa. Eu me lembro perfeitamente que naquela ocasião ainda passava na rua uma carrocinha que eu acho que era o bucheiro, qualquer coisa assim. Comprava-se (risos) do bucheiro na porta de casa. O leiteiro também vinha e entregava o leite na porta de casa; nós íamos de manhã pegar a garrafinha. INFÂNCIA Jogávamos muito futebol. Tínhamos bicicletas e saíamos pelas ruas para os bairros mais distantes: Vila Industrial, Bonfim, Cambuí. Também jogávamos muita bola de gude no quintal de casa. Eram principalmente essas brincadeiras e brincadeiras de esconde-esconde, polícia e bandido. Eu tinha muitos amigos. Ainda tenho muitos amigos. (risos) FORMAÇÃO A primeira escola que eu freqüentei chamava-se Escola Rio Branco, antiga Escola Alemã, do Professor Zink. Uma escola em que o ensino era muito puxado, eles exigiam muito dos alunos, mas isso me fez um bem incrível. Posteriormente, fiz o Colégio Culto à Ciência e, terminando o ginásio, eu fui fazer o científico no Colégio Diocesano Santa Maria. Prestei exame na PUC [Pontifícia Universidade Católica] e entrei em Economia. Fiz o primeiro ano e tranquei matrícula. O Colégio Culto à Ciência é o mais tradicional, excepcionalmente bom. Das escolas que freqüentei, só tenho boas recordações. Quando eu escolhi o curso de Economia, eu já estava trabalhando com meu pai na Casa Paratodos. Seria um caminho absolutamente natural eu escolher o curso de Economia, que poderia me ajudar. Na ocasião, eu acho que Economia e Administração de Empresas eram um curso único em que você, a partir do segundo ano, optava por um ou por outro. O primeiro ano de Economia é um negócio meio maçante, meio chato e eu não via, naquele momento, aplicação prática no que eu fazia no meu dia-a-dia. Era uma loja pequena, tocada de maneira tradicional, familiar, e não tinha aplicação nenhuma daquilo que eu estava vendo em sala de aula. Então resolvi trancar o curso. TRANSPORTE Nós íamos eventualmente para São Paulo - pelo o que eu me lembro - mais para visitar família. Minha mãe tinha irmãos em São Paulo e nós íamos muito mais para fazer visita do que para qualquer outra coisa. Nós íamos de trem. Uma delicia (risos). Saía daqui, parava em Jundiaí, depois íamos a São Paulo. Lá, os parentes iam nos buscar na estação. Isso no começo porque depois passamos a ir de ônibus. Naquela ocasião nos tínhamos o Cometa, a Viação Cometa que fazia esse tipo de percurso com uma tranqüilidade incrível; não existia a pressa que existe hoje. Eu me lembro muito pouco da Anhangüera. Quando você fala em Anhangüera, me faz lembrar no começo, quando nós não íamos a São Paulo. A irmã de minha mãe, minha tia, costumava vir com o marido para almoçar conosco no domingo; passar o fim de semana. Quando eles iam embora, havia uma estátua, um busto do Adhemar de Barros logo aqui na saída da Anhangüera, na entrada de onde era o Bradesco. Hoje, inclusive, acho que estão lançando um empreendimento ali próximo. E nós os acompanhávamos até lá de carro: eles no carro deles, nós no nosso carro e ali nos despedíamos. Era uma festa. Era um acontecimento. Depois, lembro da inauguração da Anhangüera. Foi um acontecimento. Mais tarde, para São Paulo, nós já íamos de carro. JUVENTUDE Uma delícia, (risos). Que saudade Naquela ocasião, os bailes eram animados por orquestras e eram acontecimentos. Nós esperávamos esses bailes. Era onde realmente conseguíamos conversar com as meninas, flertar, às vezes iniciar um namoro. Lembro-me perfeitamente da Fonte São Paulo, do Clube Cultura Artística, do Clube Concórdia e independente desses clubes, naquela ocasião fazia-se muitas festinhas em casa; reunia os amigos, convidava as meninas, os amigos e fazíamos os nossos bailinhos, nossas matinês. Eram matinês muito gostosas, deixaram muitas saudades. O cinema era outra festa. Nós aguardávamos a matinê do domingo com uma ansiedade tremenda. Nós tínhamos o Cine Voga, o Cine Carlos Gomes, o Cine Rádio, o Cine Casa Blanca, posteriormente. No Cine Carlos Gomes, principalmente, todo mundo ia para flertar, para namorar, para fazer footing. As meninas ficavam sentadas e os rapazes ficavam circulando pelos corredores do cinema até conseguir sentar em algum lugar (risos) que agradasse. Era uma verdadeira festa. Aos sábados à noite, havia um footing muito forte na Rua Barão de Jaguara. Ali existia, na ocasião, a Doceria Doney, uma doceria famosa. Todo mundo ficava fazendo footing na Rua Barão de Jaguara, Avenida Francisco Glicério, Barão de Jaguara, Carlos Gomes. Começava-se o sábado passeando pela Rua Barão de Jaguara e, aos domingos de manhã, nós tínhamos a missa na catedral, missa na matriz do Carmo e a saída também era outra festa, outro momento de encontro. As famílias saiam da missa e acabavam subindo pela Rua Treze de Maio para ver vitrines. Naquela ocasião, as vitrines ficavam abertas, expondo seus produtos nos domingos pela manhã. As portas de aço eram fechadas à noite, mas as vitrines ficavam abertas desde a manhã até lá pelas 10 horas da noite, todas iluminadas. As famílias iam subindo, viam as vitrines, e já se programavam para fazer as suas compras. (risos) TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu comecei a atuar no comércio desde criança. Nos Natais, em dezembro, nós descíamos e íamos ajudar a fazer pacote, a varrer a loja. Oficialmente, acho que eu comecei a trabalhar para valer aos 18, 19 anos já assumindo compromissos, bonitinho. Eu morava muito próximo, mais ou menos, a uns oito quarteirões, oito quadras. Sempre ia pé. Aliás, em função de eu morar no centro da cidade eu também ia a pé para escola; tanto para Escola Alemã, no grupo, quanto para o colégio estadual Culto à Ciência. Eu tinha duas opções: ou ia a pé, que era muito próximo, ou tomava um bonde ali em frente, na Rua Treze de Maio esquina com a Glicério, onde existia o Hotel Términos. Aliás, esse era outro local de encontro também porque os estudantes iam lá para tomar condução e era uma festa. COMÉRCIO DE CAMPINAS O comércio, naquela ocasião era concentrado no centro da cidade. Comércio de bairro, shoppings centers, surgiram posteriormente. Na minha juventude havia uma concentração e apesar disso, eu acho que havia uma concorrência muito menor do que a de hoje. Havia uma oferta muito mais compatível com a demanda; hoje há uma oferta excessivamente forte e muito grande em relação à demanda, o que gera um concorrência tremenda. Na época, nós tínhamos Casas Pernambucanas; Casa Cecato, que trabalhava com utilidades domésticas e presentes; Bittar, também, no mesmo ramo; pegado a nós, tínhamos a Casa Gobbo; tínhamos a Casa Campos. SKINA MAGAZINE No inicio, meu pai conseguiu se estabelecer com outros sócios na esquina da Rua Treze de Maio com a Rua Álvares Machado. Posteriormente, ele separou-se da sociedade e veio a se estabelecer na esquina da Rua Treze de Maio com a Rua Ernesto Khulmann, a Casa Paratodos. Inicialmente, era Casa Ipiranga, na esquina de cima. Depois, quando separou a sociedade, meu pai montou a Casa Paratodos. A partir daí, com a vinda da família dele da Síria, meus tios passaram a fazer parte da sociedade e trabalharam juntos durante muitos anos, até mais ou menos 1970. Em 70 meu tio se aposentou e meu pai continuou na Casa Paratodos. Nesta época, eu e meus irmãos já fazíamos parte da empresa, já trabalhávamos juntos. No começo, a Casa Paratodos começou a trabalhar com perfumaria, com armarinhos, com lã, miudezas em geral, e posteriormente ela foi mudando para o segmento de roupas. Passou a trabalhar com roupa feminina, masculina e infantil. Em 1967, nós sofremos um grande incêndio na Casa Paratodos. Ficamos mais de 30 dias fechados, sem saber se conseguiríamos reabrir. Felizmente, conseguimos, reerguemos a loja, a empresa, e em 1975 inauguramos a Skina Magazine, como filial da Casa Paratodos, na esquina da Rua José Paulino com a Rua Treze de Maio. Esta por sinal, esta lá até hoje. A Skina Magazine contava com sete andares. A Casa Paratodos era uma loja pequena, com mais ou menos, dois andares - o térreo e o primeiro andar - e que tinha aproximadamente 400 metros quadrados de área. Com a inauguração da Skina, nós passamos a ter 2 mil e 200 metros quadrados de área. Iniciamos a operação da Skina como uma cópia fiel do que era a Casa Paratodos, lógico. Nós não tínhamos experiência em magazine, era uma empresa familiar. Iniciamos a operação como sendo exatamente uma cópia da Casa Paratodos. Utilizando os três andares - térreo, primeiro e segundo - com roupas masculinas, feminina e infantil. Naquela ocasião, passamos a trabalhar com cama, mesa e banho, com malas, enfim, algumas linhas a mais. Só em 1978 mais ou menos, com a contratação de pessoal que vinha da Sears, de uma Mesbla, com uma visão diferente da nossa, uma experiência maior, no ramo de magazine, é que nos fomos ampliando as linhas, os produtos com os quais a gente trabalhava. Então nós passamos a trabalhar com móveis, com eletrodomésticos, com brinquedos, com perfumaria. Ampliamos bastante a nossa linha, abrimos muito a nossa linha e tivemos um período muito bom de desenvolvimento, de penetração no mercado. Em função disto, em 1985 inauguramos uma loja no Shopping Iguatemi, onde hoje está instalada a Livraria Saraiva. Depois, abrimos uma loja em Ribeirão Preto e tivemos, além dos magazines, várias lojas de decoração - a Skina Decorações - especializada em móveis de um maior valor agregado. Tivemos essas lojas em Campinas, em Piracicaba, em Sorocaba e em Americana. Com as dificuldades da economia, planos econômicos e com uma série de erros estratégicos de nossa parte, acabamos fechando todas essas unidades e ficamos só com a loja aqui de Campinas, a Skina Magazine de Campinas. Isso culminou com o fechamento de todas as outras lojas, venda da Casa Paratodos em 1997. Até esse momento nós trabalhávamos em três, eu e meus dois irmãos - meu pai e meu tio haviam falecido. Éramos nós três e meus irmãos resolveram sair da sociedade. Então, de 1997 pra cá, eu estou tocando sozinho só essa unidade. Tenho perspectiva de abrir outras lojas, mas temos que ir devagar (risos). FUNCIONAMENTO Durante a semana funcionamos das oito e trinta às 19 horas e, aos sábados, das oito e trinta às 16 horas. FAMÍLIA Eu tenho dois irmãos, sou o mais velho. Tenho o do meio que é o Kalil e o caçula que é o Elias. O Elias é formado em Engenharia Civil pelo Mackenzie. Por sinal quando nós construímos o prédio da Skina Magazine, ele estava se formando em Engenharia e houve uma coincidência feliz: como ele estava se formando e nós estávamos com o projeto de construção, ele ficou incumbido de tocar a obra. Enquanto ele tocava a obra, eu e o Kalil trabalhávamos na loja para poder gerar recursos para a construção. Depois de inaugurar, o Kalil cuidava da área de compras; o Elias cuidava da área financeira e eu cuidava da área de vendas. Eu e o Kalil dividíamos a área comercial e o Elias cuidava da área administrativa financeira. Entre eu e o Kalil - que é o do meio - são dois anos de diferença; brigávamos muito, normal (risos). Entre eu e o Elias, são oito anos de diferença. REGIÃO METROPOLITANA Nós viemos fechando essas lojas na região desde 1995. A minha vivência dessa região pode já não mais corresponder à realidade de hoje. Era uma região bastante interessante, muito rica, com grande desenvolvimento. Comparativamente, no comércio de Campinas, naquele momento, a concorrência que existia era muito mais tranqüila, muito menor. A maior concorrência, a maior briga realmente pelo consumidor se travava aqui em Campinas. Mas isso não quer dizer que as outras cidades estivessem deitadas em berço esplêndido, não. Elas também brigavam pelo consumidor, mas aqui essa briga era mais acirrada essa briga, pelo próprio desenvolvimento da cidade. FUNCIONÁRIOS Eu não tenho de cabeça, mas eram muitos porque apesar da Casa Paratodos ter só 400 metros quadrados em dois pavimentos, nós prestávamos um atendimento personalizado. O consumidor era muito fiel ao vendedor. Nós tínhamos situações em que determinadas clientes nossas, determinadas freguesas, iam à loja - mesmo nas épocas de maior movimento como Natal, Dia das Mães, mudança de estação, lançamento de coleção - iam à loja, estavam acostumadas a comprar com determinada vendedora, esperavam por meia hora, 45 minutos, para que essa vendedora terminasse de atender outra pessoa e viesse atendê-las. Isso impactava no número muito grande de pessoas trabalhando. Nós tínhamos um grande número de vendedoras porque nós vendíamos muito bem. E tínhamos um grande número de pessoas trabalhando na retaguarda. O crediário sempre foi a nossa base de apoio, sempre foi muito importante. Naquela ocasião, se fazia tudo mecanicamente, não existia a tecnologia que existe hoje; o número de pessoas para fazer controle de carnê, para receber, enfim, era muito grande. Para se ter uma idéia do número de funcionários que precisávamos ter, imagine o seguinte: primeiro, atendimento personalizado, a cada cliente que entrava eu tinha que ter uma vendedora para atendê-la; se a vendedora atendesse dois ou três clientes ao mesmo tempo era uma tremenda falta de consideração, dona Maria se ofendia; segundo, como nossa base de vendas sempre foi estruturada em cima de vendas a crédito, crediário, naquela ocasião, ao invés de se fazer simplesmente um carnê e ir autenticando o carnê faziam-se duplicatas para cada prestação a ser paga; quando a cliente vinha à loja fazer o pagamento, a menina do caixa era obrigada a procurar a duplicata correspondente aquele pagamento numa pasta e devolver para a cliente, com a sua assinatura, é lógico. Imagine quantas pessoas tinham que trabalhar na área de vendas, quantas pessoas tinham que trabalhar no caixa, quantas pessoas tinham que trabalhar no crediário E também quantas pessoas tinham que trabalhar no pacote. Porque se fazia pacotes, pacotes de presente. No Natal, a cliente entrava na loja, comprava presentes para a família inteira e queria pacote por pacote. E a pacoteira ia embrulhando e ela marcando o nome da pessoa que ia receber o presente. CLIENTES Em relação ao passado eu diria que o cliente hoje é muito infiel. Ele compra contigo enquanto você conseguir oferecer produtos e serviços que agradem a ele. Como hoje a concorrência é muito forte, e como hoje as empresas têm tanto produtos como serviços muito parecidos, a fidelidade do cliente torna-se muito tênue, muito difícil de ser mantida. Coisa que no passado não acontecia, coisa que no passado, dona Maira comprava com seu Elias, ela não trocava de estabelecimento em hipótese nenhuma; ia comprar com seu Elias e ponto final. Inclusive com aquele detalhe, naquele momento, se comprava até com caderneta. A dona Maria ia lá, comprava determinado valor, mês seguinte ela decidia quanto ia pagar daquele valor e já fazia uma nova compra. Quer dizer, completamente diferente; era tudo na cadernetinha. E dona Maria confiava no seu Elias, que anotava e ela não levava comprovante nenhum. Era aquela cadernetinha e ponto final. Hoje é completamente diferente. Para você realmente ter a fidelização do cliente, você tem que oferecer um diferencial, muita qualidade, qualidade de serviço; se você bobear, perde o cliente, perde com uma facilidade incrível. Faz parte e eu acho que existe um lado positivo. O lado positivo é que todos nós, hoje, temos que estar, a cada dia, nos aperfeiçoando mais, melhorando serviço, melhorando o produto, oferecendo um produto diferenciado para conseguir ter a fidelidade desse consumidor. FORMAS DE PAGAMENTO Nós financiávamos as vendas. A inadimplência era muito baixa. Havia uma preocupação com o nome, com o nome da família. Se nós, por alguma razão ligássemos para uma cliente ameaçando colocar o nome dela na Associação Comercial, aquilo era a maior desgraça que podia acontecer. A inadimplência acontecia muito mais por alguns golpes e pessoas que acabavam se mudando da cidade; realmente, preparavam um golpe e se mudavam. Pessoas que perdiam o emprego, pessoas que eventualmente tinham problemas de doença na família e se viam em dificuldade momentânea, essas não eram contas perdidas em hipótese nenhuma. Uma das primeiras lojas que começaram a financiar a vender a crédito para as empregadas domésticas, fomos nós. Naquela ocasião, empregada doméstica não tinha crédito, era difícil conseguirem comprar à crédito. Nós vendíamos sem problema nenhum. Palavra empenhada não precisava ter documento. Realmente se cumpria a palavra ao pé da letra, diferentemente de hoje. Comparativamente, lógico. Naquela ocasião, a pessoa entrava na loja e pedia para abrir um crediário. Nós tínhamos um cadastro que se preenchia e quando nós pedíamos um documento era a maior ofensa. Muitas pessoas deixavam de comprar porque o documento foi pedido. Quer dizer que não se acreditava na pessoa? Simplesmente, davam as costas e iam embora. Diferentemente de hoje que nós preenchemos um cadastro, exigimos “n” documentos: comprovação de renda, comprovação de residência, enfim, tudo quanto é documento e as pessoas atrasam o pagamento. Você liga, cobra, ameaça de incluir o nome dele no SPC [Serviço de Proteção ao Crédito] e a resposta que nós temos hoje é a seguinte: “Olha, você põe o meu nome porque eu não vou te pagar agora. Quando eu te pagar você vai tirar mesmo.” Há uma diferença de comportamento, há uma diferença de valor moral muito grande entre aquilo que se considerava como importante no nome, na dignidade da pessoa, naquele momento, e o que se considera importante hoje. A mudança é brutal. Continuo tendo crediário próprio. Eu diria que sobrevivo graças ao crediário próprio, porque eu acho que desde que existe o comércio, ele existe em função das facilidades de crédito. Hoje, 70% das minhas vendas são feitas através do crediário. Em comparação com aquele período, eu tenho quatro atendentes de crédito e o CPD [Centro de Processamento de Dados], que faz todo o processamento, sem grandes problemas. No meu caso, a utilização de cartões de crédito de bancos é relativamente baixa; não chega a 10% das minhas vendas. A maioria opta pelo meu crediário. Depende muito do consumidor, depende muito do poder aquisitivo do consumidor, enfim de uma série de coisas. Existe uma tendência de crescimento, principalmente nos cartões, não o de crédito, o de débito. Esses estão crescendo de maneira muito rápida em substituição ao cheque. Existem dois lados: o positivo, lógico, é que com isto nós temos maior segurança na transação; em contrapartida, existe um custo muito maior do que o custo que eu teria recebendo um cheque. CLIENTES Eu acho que hoje o cliente opta por um alto serviço. Eu vou relativizar porque também depende muito do produto que ele estiver procurando, do nível de qualidade de produto que ele esteja procurando. Dentro de um magazine, dentro de uma loja com departamentos, o cliente prefere ficar à vontade, ele não quer ser atendido. Ele quer ter liberdade de escolha, circular, procurar. Em algumas situações, ele pede ajuda, mas ele não gosta de ser abordado. Existem lojas que ainda hoje trabalham com abordagem na porta. Eu vejo lojas muito agressivas nesse sentido, tanto de eletrodomésticos quanto de calçados. Eles são muito agressivos, tem um quadro de vendedores muito grande, ficam na porta da loja. Você ameaçou entrar, eles estão pressionando para tentar vender alguma coisa. Eu diria que o consumidor hoje procura muito mais as lojas que dão liberdade do que essas que vendem sob pressão. EMBALAGENS No começo, nós não tínhamos caixas de presente e trabalhávamos com bobinas em que se cortava o papel na hora, de acordo com o tamanho do produto. Era uma arte você acertar o tamanho (risos), porque ou era grande demais ou ficava pequeno demais; aí você era obrigado a cortar outro pedaço. Era trabalhoso à beça, porque fazer um pacote de presente com papel dá muito mais trabalho. Mas também, na ocasião, os clientes não achavam ruim. Posteriormente, passamos a trabalhar com caixas e era mais fácil; era só você dobrar o produto adequadamente, colocar na caixa e fechar. Isso provocou uma velocidade melhor para embalar, entregar e atender o cliente. Hoje, nós abolimos as caixas porque elas ocupam muito espaço e acabaram ficando muito caras. Hoje, nós trabalhamos com um produto que é um saquinho de plástico, lógico, com uma aparência melhor, um layout mais bonito, mas nós trabalhamos com saquinho plástico; você dobra o produto, enfia no saquinho e fecha. Isto quando não tem muito movimento; quando tem muito movimento, pega o saquinho e diz para a cliente: “Olha, eu vou colocar a embalagem de presente na sua sacola.” A cliente acaba fazendo o pacotinho em casa. ORGANIZAÇÃO DA LOJA Quando nós tínhamos o serviço personalizado, o atendimento personalizado, os produtos eram dobrados, ensacados e guardados em prateleiras. Quando o cliente entrava e pedia um produto - “quero ver uma camisa”, por exemplo – se perguntava: “Quer uma camisa de manga curta ou comprida?” “Manga comprida.” Havia a seção de camisas de manga curta, seção de camisas de manga comprida. Aí é que estava o negócio Como estava em prateleiras e tinha um balcão impedindo a chegada do cliente ao produto, a vendedora tinha que abrir as camisas uma a uma e mostrar: “Ah, não, essa aqui eu não gostei.” Deixava de lado. “Essa aqui eu também não gostei.” Ia para o lado e se formava uma pilha grande em cima do balcão até que o cliente achasse aquilo que gostava. E pior, o cliente acabava comprando, muitas vezes, por se sentir mal depois de ter descido uma prateleira de camisas, ou de blusas, seja lá de produto fosse e ir embora sem comprar nada. Acabava comprando alguma coisa, às vezes, a contra gosto. Saiu o cliente, nós tínhamos uma pilha de produtos para serem dobrados, ensacados e guardados novamente na prateleira. Tudo tem sua época; acho que naquela época, todos nós dispúnhamos de mais tempo, não tínhamos tanta correria; o próprio cliente tinha tempo suficiente para entrar, esperar para ser atendido, ser atendido, conversar com seu Elias, perguntar do cachorrinho, do gatinho e depois ir embora feliz para casa porque comprou com seu Elias. Hoje, a coisa está um pouquinho diferente, ninguém tem mais tempo para isso. Além de não ter mais tempo, os custos também são outros. Hoje se penduram os produtos em araras, disponibiliza os produtos da melhor forma possível, de forma que o cliente consiga se auto servir; disponibilizam pontos de caixa em número suficiente para poder dar bom atendimento. O cliente hoje se auto serve, tem mais liberdade e escolha, mas ele tem menos tempo também. E dá uma diferença incrível, tanto na velocidade de atendimento quanto no tempo que a pessoa leva para comprar um produto. VITRINES Vitrines nós sempre tivemos, desde a Casa Paratodos. Um negócio interessante da Casa Paratodos: a Rua Treze de Maio não tinha o calçadão; o bonde ainda passava e passavam os carros. A vitrine era em paralelas, em paredes laterais, e o cliente entrava. Só que aqui no fundo, no final da vitrine, tinha que ter uma porta de vidro para poder fechar a loja e deixar a vitrine exposta. Aos sábados, nós fechávamos ao meio dia, mas nós tínhamos que limpar a loja e arrumar, atrás dessa porta de vidro, uma espécie de vitrine, uma espécie de exposição. Por que ia mostrar o quê? O cliente subia a Treze, para olhar a vitrine, ele tinha duas vitrines já prontas e tinha uma a ser arrumada. Resultado, nós saiamos da loja às duas horas, duas e meia; às vezes, até três horas da tarde porque tinha a vitrine para ser arrumada e havia cliente dentro da loja. O cliente entrava onze e meia, saia uma e meia da loja. Até arrumar... Hoje nós temos vitrine com um conceito diferente. Naquele momento, nós procurávamos expor o maior número de produtos possíveis para que o cliente já fizesse uma pré-seleção. Como havia dificuldade dele poder circular e escolher o produto, ele já fazia uma pré-seleção olhando a vitrine. Quando ele entrava já tinha uma ligeira noção do que ele queria. A vitrine servia pra isso. Hoje, não. Hoje o conceito é diferente. O conceito é de se expor as tendências de moda na vitrine, os lançamentos. Não há a mínima chance de se expor, como no passado, um grande número de produtos porque, inclusive, vai confundir o consumidor, vai deformar a imagem da loja. Quando eu falo em uma vitrine de lançamento de coleção - que é o que acontece agora, lançamentos de verão - o conceito é uma vitrine mais leve, mostrando tendências e sendo renovada com muita freqüência. Semanalmente, trocam-se os produtos que estão na vitrine. Quando você fala numa vitrine de promoção, estamos falando de outra coisa: nós estamos falando de mostrar preço. É preço e promoção, aí é outra história. Aí é uma vitrine carregada, uma vitrine que procura mostrar a maior quantidade possível de preços baixos. Nós usamos muito pouco esse tipo de vitrine porque a nossa política de trabalho tem sido a de ter o maior giro possível de produtos. Para que tenhamos o maior giro possível de produtos, temos que pegar os produtos que não estão girando adequadamente e demarcar. Com isso nós temos produtos em oferta o ano inteiro. Quando chega ao final de uma estação ou num determinado momento, não tem produto para liquidar porque eu já liquidei o ano inteiro. Resultado, dificilmente eu uso hoje uma vitrine para fazer esse tipo de promoção. Eu tenho uma pessoa que cuida da vitrine, cuida da arrumação da loja. É muito diferente daquilo que nós chamávamos de vitrinista no passado. Vitrinista era um cara especializado que ia lá e decorava a vitrine, enfeitava com motivos do momento; no Natal, com bolas e festão; Páscoa, com outros motivos; Carnaval, com outros motivos e assim por diante. Hoje em dia não. Hoje em dia, a vitrine é muito mais simples, muito mais clean. Eu tenho um vitrinista que faz uma série de outros trabalhos; na ausência dele, qualquer menina que trabalha na loja - que nós chamamos de facilitadora de vendas ou atendente do cliente - está apta a ir lá e substituir o produto na vitrine. Ela não vai fazer, evidentemente, uma vitrine com produtos que sejam complementares, mas ela faz uma vitrine. É diferente daquela ocasião que eu tinha que ter um vitrinista. E ele era letrista também, porque tinha que fazer o preço à mão. PROPAGANDA Na Casa Paratodos, indiscutivelmente, meu pai e meu tio, naquela época, sempre se preocupavam em ser agressivos na parte de propaganda. Eles sempre anunciaram. Naquela época, você tinha o Correio Popular; não me lembro se tinha o Diário do Povo, mas sempre fizeram anúncio, tanto em jornal quanto em rádio. Nós nunca deixamos de estar presentes na mídia; mais em alguns momentos, menos em outros momentos, mas sempre estivemos presentes. Houve um momento inclusive - em 1978, 1980 - que nós introduzimos novas seções, novas linhas de produtos na loja e chegamos a ser um dos maiores anunciantes de Campinas. Tanto na TV Campinas, quanto em jornal. Independente dos jornais diários, existia também um jornal semanal, Jornal de Domingo, em que eles veiculavam anúncios. Era um jornal muito mais dirigido para a mulher, com receitas, tratamentos de beleza, enfim, e, em sendo dirigido especificamente para mulher, era um veículo sensacional para que nós fizéssemos propaganda. Nós e a Sears, naquele momento, éramos os maiores anunciantes daquele jornal. Nós fomos um dos maiores anunciantes do varejo na TV Campinas, naquele momento, e nas rádios. Hoje eu estou fora de televisão e de jornal. Eu faço propaganda em pelo menos oito emissoras de rádios, o que dá um volume razoável de lembrança para o público. SHOPPING CENTER Eu não me lembro exatamente o ano em que o Shopping Iguatemi foi inaugurado. Independente do momento em que ele foi inaugurado, houve o momento em que os supermercados, hipermercados se expandiram. Eu acho que o comércio mudou muito a partir daí. Houve uma divisão muito grande de consumidores por poder aquisitivo. Eles fizeram o lançamento do shopping visando a classe de poder aquisitivo maior. Foi um grande erro estratégico, naquele momento. Tanto é que o Iguatemi levou algum tempo para se firmar. Hoje a coisa está diferente, o Iguatemi está mais do que maduro. O Dom Pedro tem um sucesso fantástico e isso provocou, evidentemente, um afastamento de muitos consumidores que compravam no centro da cidade. Inclusive com um detalhe: a região comprava muito em Campinas e com a implantação de shoppings centers nas outras cidades da região, com o desenvolvimento do comércio local, a região deixou de comprar no centro de Campinas. Hoje ainda vêm a Campinas para irem aos shoppings centers. O quê aconteceu? O centro da cidade sofreu durante algum tempo um problema muito sério de perda de clientes, de deterioração, algumas administrações municipais deixaram de ser preocupar com o centro da cidade, de cuidar adequadamente do calçadão e com isso nós sofremos muito. A Izalene Tiene foi eleita vice-prefeita e com a morte do Toninho [Antônio da Costa Santos], assumiu e resolveu recuperar o calçadão da Rua Treze de maio. Nós tivemos mais de um ano de obras, quase que impossibilitando o consumidor de chegar ao centro da cidade. Apesar de todos os problemas, apesar da forma como foi feita essa reforma, cheia de problemas técnicos, hoje, o centro recupera parte daquilo que tinha perdido. Se você for ao calçadão você vai ver, inclusive, a minha loja, sendo totalmente reformada. Eu troquei toda a fachada da loja, recuperando a fachada original. Estou trocando toda a parte elétrica, vou trocar todo o equipamento. A Pernambucanas já fez isso. Enfim, as lojas estão investindo muito porque parte daquele público que havia se afastado, hoje retorna ao centro da cidade. Felizmente, vivemos algumas circunstâncias interessantes: o público voltando, o poder aquisitivo melhorando um pouco, o crescimento do emprego; quer queira, quer não, maior importação de produtos mais baratos, queda de juros, ampliação de prazo de pagamento. Tudo isso facilita o crescimento do consumo. Vivemos um momento muito bom, mas no momento que os shoppings se implantaram e os hipermercados se expandiram, nós realmente sofremos bastante. AEROPORTO DE VIRACOPOS Viracopos para mim é uma história porque na década de 50, era para ser o aeroporto internacional. Naquele momento, a PUC era para ter sido construída; o campi dela era para ter sido construído na região de Viracopos, e assim sucessivamente. Eu acho terrível olhar Viracopos como um aeroporto alternativo quando nós temos uma condição climatológica fantástica aqui em Campinas. São muitos poucos dias do ano em que fecha Viracopos, enquanto São Paulo e outros aeroportos têm um número de dias muito maior. Indiscutivelmente, Viracopos tem uma importância muito grande quando nós olhamos sob o aspecto de transporte de carga. Tem e merece, evidentemente, ser valorizado, ser ampliado do jeito que está sendo feito. Porque nós estamos numa região muito rica. A grande alternativa para qualquer situação é Viracopos. REGIÃO METROPOLITANA Dentro do contexto paulista, eu tenho a impressão que a região de Campinas é a segunda ou terceira região economicamente falando. Hoje você vê o seguinte, região de Piracicaba, cana de açúcar, com a visão do combustível, do álcool combustível, ela tem hoje um desenvolvimento, um crescimento econômico fantástico. Outro dia, eu recebi um telefonema de um corretor de Piracicaba, me oferecendo um ponto na cidade e ele dizia o seguinte: “Abdo, aqui não tem desemprego, com esse boom da cana de açúcar não tem desemprego. Pelo contrário.” Se nós analisarmos a região de Campinas, o interior de São Paulo, o estado de São Paulo em relação ao Brasil, eu acho que nós temos uma importância fantástica e nem sempre recebemos a valorização devida por parte dos governos. SEGREDOS DO COMÉRCIO Eu acho que não existe segredo, existe sim muito trabalho, uma dedicação muito grande e ter um sortimento adequado de produtos, uma diferenciação, quando possível, nos produtos, porque hoje eles estão muito iguais, os produtos estão se tornando comodities, e principalmente o serviço. Serviços, não no sentido dos serviços do passado, não é no sentido de ter um atendimento personalizado, estender o tapete vermelho, servir cafezinho. Não é bem assim, não. Serviço no sentido de atender aquilo que o consumidor precisa: velocidade, conhecimento e simpatia. FUTURO Eu sou casado, casei em 1965, tenho duas filhas, que são casadas, e tenho três netos, duas meninas e um menino. O garoto fez 18 anos, no dia 2 agora, e as meninas têm onze e dez anos. Das minhas filhas, eu tenho uma morando aqui em Campinas, que é a Regiane, mãe do Daniel. E eu tenho uma que mora na Alemanha, acabou de ir embora. Eu acho muito difícil que a empresa venha a ter continuidade dentro da família. Porque a minha filha que mora aqui, a Regiane, é psicóloga e exerce a profissão. A outra filha fez ESPM [Escola Superior de Propaganda e Marketing], mas mora na Alemanha, dificilmente voltará para poder assumir a empresa. Dos netos, o de 18 anos, é muito cedo para saber se esse garoto vai querer seguir ou não. Ele vai prestar Administração de Empresas no final do ano; acho que ainda é uma incógnita. Se ele quiser dar seqüência, maravilhoso. Eu acho que é um trabalho que não se perde. Se ele não vier, não vamos ter seqüência, pelo menos dentro da família. LIÇÕES DO COMÉRCIO Aprende-se muito. Aprendemos muito não só no comércio, na realidade. Lições de vida nós temos todos os dias em qualquer que seja a nossa profissão. Desde que estejamos abertos para aprender. Apanhamos muito. Eu apanhei muito, mas eu tenho a impressão que cresci muito. Porque nesses momentos que você pára, realmente, para pensar, para avaliar, para dar um salto para mudar alguma coisa. E o comércio não é fácil. Eu digo que nós aprendemos em qualquer profissão, mas realmente o comércio nunca foi fácil, e ultimamente menos ainda. Isso serve de desafio, um desafio muito gostoso. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Acho fantástico. Eu vejo a iniciativa de vocês com muito bons olhos, porque isso faz com que nós revivamos parte desse passado; que acabe não se perdendo porque fatalmente ia acabar se perdendo. Eu me sinto envaidecido. Eu me sinto orgulhoso de poder participar. E me sinto feliz por poder colaborar com vocês de alguma forma. Espero que essas lembranças trazidas sirvam tanto para recordação quanto para as futuras gerações olharem e dizerem o seguinte: “Olha, nós podemos aprender alguma coisa aqui.” Se fizer isso, estarei muito feliz.
Recolher