Meu nome é Maurieli Molas Prudêncio da Silva. Eu nasci dia 19 de fevereiro de 1975, em São Paulo. O meu pai é Rubens Prudêncio, e a minha mãe é Miriam Molas Prudêncio. A minha mãe conheceu meu pai em São Paulo, porque ele é de São José do Rio Preto, mas foi trabalhar em São Paulo. Eles se conheceram lá e me tiveram.
A questão da língua espanhola vem do meu bisavô, que chegou a morar comigo quando eu era criança. A gente tinha familiaridade com a língua, e ele falava muito da cultura da Espanha. Ele serviu na Segunda Guerra. Já da parte do meu pai, ele tem uma história aqui, porque meu avô por parte de pai era da fundação dos charreteiros da cidade. Os primeiros taxistas de São José do Rio Preto começaram como charreteiros. E meu pai seguiu essa profissão de taxista.
Mas em São Paulo, eu fiz o pré e a primeira série. E a história da livraria começa aí, porque minha tia tem o meu primo Fabian que, desde muito pequeno, gostava muito de ler. Então, eu ia pra casa dele em todas as férias, e tinha muitos livros, muitos, umas estantes enormes. Mas desde muito criança eu sempre gostei demais de mexer com animais, com bichos. Então, já tinha uma predisposição pra Ciências Biológicas. Aí, com 16 anos, eu comecei a frequentar sozinha a biblioteca pública. Ia procurar livros, romances pra ler, por indicação do meu primo, que lia muito.
Bom, terminei a oitava série e fui fazer o colegial lá no Monsenhor Gonçalves, uma escola muito conhecida. E lá, quando eu estava chegando aos 19 anos, meu primo me chama pela primeira vez pra trabalhar com ele - o meu primeiro trabalho, que é na livraria. E como eu estava me destacando em Filosofia e Psicologia, as professoras me chamaram para prestar vestibular em uma faculdade nova, que estava abrindo em Rio Preto. Aí eu fui e passei em Biologia. Fiz licenciatura e bacharelado, mas aí a livraria se tornou uma coisa tão apaixonante pra mim, que eu não...
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Meu nome é Maurieli Molas Prudêncio da Silva. Eu nasci dia 19 de fevereiro de 1975, em São Paulo. O meu pai é Rubens Prudêncio, e a minha mãe é Miriam Molas Prudêncio. A minha mãe conheceu meu pai em São Paulo, porque ele é de São José do Rio Preto, mas foi trabalhar em São Paulo. Eles se conheceram lá e me tiveram.
A questão da língua espanhola vem do meu bisavô, que chegou a morar comigo quando eu era criança. A gente tinha familiaridade com a língua, e ele falava muito da cultura da Espanha. Ele serviu na Segunda Guerra. Já da parte do meu pai, ele tem uma história aqui, porque meu avô por parte de pai era da fundação dos charreteiros da cidade. Os primeiros taxistas de São José do Rio Preto começaram como charreteiros. E meu pai seguiu essa profissão de taxista.
Mas em São Paulo, eu fiz o pré e a primeira série. E a história da livraria começa aí, porque minha tia tem o meu primo Fabian que, desde muito pequeno, gostava muito de ler. Então, eu ia pra casa dele em todas as férias, e tinha muitos livros, muitos, umas estantes enormes. Mas desde muito criança eu sempre gostei demais de mexer com animais, com bichos. Então, já tinha uma predisposição pra Ciências Biológicas. Aí, com 16 anos, eu comecei a frequentar sozinha a biblioteca pública. Ia procurar livros, romances pra ler, por indicação do meu primo, que lia muito.
Bom, terminei a oitava série e fui fazer o colegial lá no Monsenhor Gonçalves, uma escola muito conhecida. E lá, quando eu estava chegando aos 19 anos, meu primo me chama pela primeira vez pra trabalhar com ele - o meu primeiro trabalho, que é na livraria. E como eu estava me destacando em Filosofia e Psicologia, as professoras me chamaram para prestar vestibular em uma faculdade nova, que estava abrindo em Rio Preto. Aí eu fui e passei em Biologia. Fiz licenciatura e bacharelado, mas aí a livraria se tornou uma coisa tão apaixonante pra mim, que eu não quis dar aulas.
Eu me lembro quando fui a São Paulo com o meu primo pra comprar livros, naqueles sebos imensos que não têm fim. Fiquei encantada com tudo aquilo. Aí ele comprava os livros, mostrava os autores, e eu tinha que estudar todos os livros do Machado de Assis, eu tinha que saber todos os títulos, todos os livros do Graciliano Ramos, pois ele ficava me tomando a lição lá: “Fala todos os livros do Machado, todos os do José de Alencar, todos os do Paulo Coelho”. Enquanto não aparecia ninguém, a gente ficava dentro da loja estudando. Foi uma parceria muito boa, que deu certo por 15 anos. Até que ele não quis mais a livraria e passou o negócio pra mim.
A primeira loja era uma casa antiga, e na frente tinha um casarão extremamente antigo. Na verdade, no bairro da Redentora era só pasto, e essa casa era de fazenda, uma sede de sítio. Ficamos anos ali, olhando para arquitetura dessa casa, admirando, e depois vendo tudo crescer ali em volta, prédios demolindo casas e sendo transformadas em pequenos negócios, galerias.
Já a questão do público é muito interessante, porque tenho clientes até hoje que, na verdade, não são mais clientes, são amigos. Depois de 27 anos, eles se tornaram amigos. Na propaganda, o boca a boca sempre foi o mais importante da loja. Meu primo nunca gastou dinheiro com propagandas caríssimas, nada. Porque quem se interessa por leitura vasculha, acha qualquer lugar que vende livro. Então, começou a ser muito comentado: “Locadora de livros? Locadora? Nossa, eu vou lá, alugo um livro”.
Mas então, a pessoa ficava tanto tempo com os livros que, se ela fosse pagar pelo livro, ficaria mais barato do que o aluguel. Meu primo começou a ver isso assim: “Nossa, mas a pessoa está gastando muito!” Então ele começou a vender os livros. Foi quando ele começou a transição de locadora de livros pra comércio de livros usados. No caso, a transição para o sebo. Comércio, venda e troca de livros usados.
A leitura, pra mim, é assim. Vejo gente falando: “Eu não gosto de ler”. Não é que você não gosta de ler, é que você não encontrou o livro no assunto que você gosta. Então, depois que eu me dei conta disso, eu falei assim: “Não, eu gosto de ler, sim. Eu só preciso achar o que eu gosto de ler, o que eu me identifico”. Então, eu pegava um romance, pegava outro, meu primo indicava um, e tinha coisas que eu ia até o final, mas tinha livros que eu não ia – e assim você vai selecionando o seu gosto pela leitura. É dessa forma que você vai selecionando, porque tem pessoas que só leem um determinado assunto e tem pessoas que leem de tudo.
O público de hoje é diferente de quando eu comecei. Tem a questão dos jovens de hoje já terem um contato sempre diretamente com as tecnologias. Esse é o grande diferencial, e a gente pensa assim: “Ah, o livro vai acabar, porque a gente vê aquele jovem só com o celular na mão, só com um pager lá, um leitor de livros, baixa tudo no leitor e vai acabar o contato com o livro físico”. Não. O jovem nasceu nessa época, está incorporado a essas tecnologias, mas parece que está no sangue, no DNA, a vontade de pegar o papel na mão. Então, quando os jovens vão à loja, eles ficam encantados: “Poxa, olha que lugar legal! Olha quanto livro!” Hoje eles têm uma parte dos livros no celular, mas quando chegam em casa, querem pegar um livro físico, sentar na cama e ler um livro físico.
E para a gente continuar firme num comércio como este, você precisa ser forte. Tem que acreditar, ter ânimo, dinâmica pra enfrentar o que vem, porque ao longo desses 27 anos, eu aprendi que o comércio tem altos e baixos. Sempre tem altos e baixos. Então, tem época que você fala assim: “Não está vendendo nada”. Calma, vai vender. Quando eu me lembro disso, principalmente na pandemia, que a gente fica mais ansioso, com a cabeça mais preocupada, eu falo assim: “Nossa, eu vou fechar, vai fechar, vai acabar”. Calma. Porque aí surge uma coisa, alguém faz uma compra boa, sabe? Acontece. Entra um lote maravilhoso de livros, a gente dá um jeito de pagar ali, parcela, expõe na internet, e todo mundo começa a perguntar: “Quanto que é, separa pra mim!” Então, eu acredito que é isso que está fazendo as livrarias se manterem em Rio Preto. Pinga, mas não seca. (risos)
E vamos passar isso para o futuro. Minha filha se chama Maísa. A Maísa nasceu no meio de 8 mil livros. Ela já nasceu com rinite. (risos) E eu sempre a coloquei no meio dos livros, justamente pra ela crescer com a vontade, com o gosto pra leitura, mas sem forçar. A gente não deve forçar. Então, os livrinhos estão aí, espalhados pela casa. Ela pega, brinca, a hora que ela quer ler, e eu também leio com ela. É o que eu te falo: chegará um momento em que ela vai se identificar com alguma coisa e vai gostar.
E finalmente, eu resolvi fazer Biblioteconomia, estou cursando. Eu estava muito acomodada, muito sossegada. E eu estou gostando demais, estou muito feliz que meu marido me incentivou. Meu marido estuda demais, gosta demais. Só que ele só estuda a área dele: Contabilidade e mais nada. Não fala de futebol, de arte, de música, nada. Só Contabilidade. Eu não, já gosto de falar sobre tudo, porque trabalhar com livros é isso, é falar sobre tudo. Então, está muito gostoso e eu estou procurando incentivar ao máximo a minha filha também a se interessar, porque eu não sei se um dia ela vai passar a cuidar da loja também. Pois é um trabalho gostoso. Você não enriquece, não faz fortuna, mas você também não tem dor de cabeça.
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