Projeto Metrô
Depoimento de Rejane Rosenberg
Entrevistado por Karina Nakao e Valquíria Hein
São Paulo, 08/06/2018
Realização Museu da Pessoa
MET_HV09_Rejane Rosenberg
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Pra começar, nós gostaríamos que você falasse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento, por favor.
R – Meu nome é Rejane Rosenberg. Nasci em São Paulo, em 30 de agosto de 1954.
P/1 – Você poderia contar um pouquinho a história, a origem dos seus pais?
R – Meus pais são de São Paulo mesmo, não da capital, mas do interior de São Paulo. Os meus avós, eu já tenho uma ascendência de avós italiana, espanhol, por parte do meu pai foi italiano e espanhol, mas praticamente já aqui em São Paulo há muito tempo.
P/1 – Os seus pais por parte da sua mãe?
R – São do interior de São Paulo.
P/1 – De qual cidade?
R – Barretos e Rio Claro.
P/1 – E um pouquinho da sua infância, você pode falar? Por exemplo, descreve um pouquinho o bairro que você viveu, a rua que você cresceu, o que mais te marcou na sua infância?
R – A minha infância, eu costumo dizer assim, ela não foi uma infância como a maioria das crianças, de subir em árvore, porque a minha infância, até uns dez, 11 anos de idade, mais ou menos, eu morava no Centro de São Paulo, atrás do Correio, na Rua Capitão Salomão. E na época que nós saímos lá da cidade todas as residências ali já estavam se transformando em escritório. Por que eu não sei andar de bicicleta até hoje? Porque no Centro de São Paulo era difícil andar de bicicleta, né? Então, o pouquinho que eu passava, que eu conheci esse outro lado sem ser cidade, era quando nas férias eu ia pro interior, na casa dos meus tios. Mas praticamente a minha infância foi no Centro de São Paulo. Eu estudava também no Centro de São Paulo, no colégio de freiras ali, na Alameda Glete, enfim, foi muito... não consigo lembrar o termo, mas quando se fala quando a gente vive muito em cidade?
P/3 – Urbano.
R – Isso, a minha infância foi muito mais urbana do que uma infância de pé na terra.
P/3 – Essa infância urbana é o quê? Porque é diferente da de hoje, em condomínio. O que é essa infância urbana perto do Centro? Ali perto tinha cinema, tinha o Vale do Anhangabaú, conta pra gente.
R – Ah sim...
P/1 – O que era esse bairro nessa época?
R – A pracinha, por exemplo, que eu brincava junto com as minhas amigas que moravam tudo na redondeza, era a Praça do Teatro Municipal, ali do lado do Teatro Municipal. A gente chamava aquela praça de Praça dos Gatinhos porque tinha muuuito gato por ali. Então a minha infância era estudar no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, que era ali, acho que tem até hoje, na Avenida São João. Então todas as minhas amigas desde o primário, ginásio, era tudo ali, central. Então era cinema, clube. Se quisesse alguma coisa ia no clube. Porque ali mesmo, no Centro, eu não podia andar sozinha. Pra ir na casa de uma amiga, ou na casa de outra os pais levavam. Então foi uma infância curiosa nesse sentido.
P/1 – Você tem ainda amigos, amigas dessa época?
R – Tenho. Eu tenho várias amigas que eu sei delas, mas uma em particular, além de ter sido minha madrinha de casamento, a gente se encontra até hoje. Esse fim de semana próximo eu vou estar com ela, inclusive.
P/1 – E você morou no Centro de São Paulo até que idade?
R – Por volta de 11 anos. Eu saí de lá e nós fomos pra Vila Madalena.
P/1 – E quando você foi pra Vila Madalena... no Centro você morava em prédio e depois você veio pra Vila Madalena, você veio morar em casa?
R – Isso.
P/1 – E aí como foi essa experiência de você ter vizinhança no nível horizontal?
R – Totalmente diferente a experiência, né? Ainda mais na Vila Madalena. Que aí eu pude começar a andar sozinha, circular mais a pé, ver outra realidade, que eu estava entrando na adolescência quando eu fui pra Vila Madalena, né?
P/1 – Então conta um pouquinho da sua adolescência, como é que foi, que época que era? Você lembra dos anos da sua adolescência, que período que era? Os anos de ouro, os anos 70?
R – Acho que é um pouco...
P/1 – Final dos anos 60 e anos 70.
R – É, foi na época da Jovem Guarda. Na época da Jovem Guarda meu pai ia me levar pra assistir o Roberto Carlos. Que vergonha, né, faz tempo (risos). Faz tempo, né?
P/1 – Você era fã de quem nessa época da Jovem Guarda?
R – Ah, sem dúvida nenhuma do Roberto Carlos! Sou até hoje (risos).
P/1 – E você passou a sua adolescência até que idade na Vila Madalena?
R – Até quando me casei.
P/1 – Você se casou com qual idade?
R – Eu me casei em 78.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Fala um pouquinho da sua juventude. Que a sua juventude você passou na Vila Madalena, o período que você terminou o antigo ginásio, aí você fez o colegial. Foi o colegial que você fez?
R – Sim. Já fiz o colegial na Vila Madalena, no Maximiliano. E foi uma adolescência, não sei muito (risos). Não lembro muitas coisas desse período. Namorados. Eu acho que um namorado que marcou muito a minha vida foi com quem eu me casei. Enfim, muitas amizades. Eu me lembro que eu namorava na Vila Madalena, minha mãe vigiava muito a gente. Por quê? Porque ele era judeu e na época namorar com judeu era uma coisa, assim, tinha um monte de fantasias: “Ah, porque vai separar a família”. Então a gente namorava dentro do Cemitério São Paulo (risos). Porque a minha mãe tinha um Fusquinha e ela ficava rodeando pra ver se achava a gente e tal. Então a gente entrava no Cemitério São Paulo.
P/1 – E você tinha que idade quando você começou a namorar com ele?
R – Acho que uns 14, 15 anos, por aí.
P/1 – E ele tinha que idade?
R – Ah, dois anos mais velho que eu.
P/3 – Rejane, deixa eu perguntar. Porque a Vila Madalena nessa época era bem diferente do que é hoje. Então, muro baixo, bem bairro, muita gente na rua.
R – Sim.
P/1 – Você já pegou o pessoal da USP entrando aqui já no bairro, artistas. Conta um pouco desse lugar. Vocês iam pra bar, qual tipo de diversão, por exemplo? Além de fugir com o namorado pro cemitério (risos).
R – Ah, a gente saía muito em turma. No colégio, no Maximiliano, a gente tinha muitas amizades. Então ia em bando para um monte de lugar. Foi uma época conturbada. Na verdade assim, politicamente eu passei por duas épocas. No Golpe de 64 eu estava num colégio de freira atrás do Palácio Campos Elíseos, onde tudo aconteceu. Então eu me lembro que eu era muito criança, mas eu me lembro muito bem dos meus pais preocupados porque não podia sair da escola. E já na Vila Madalena, quando eu estava lá, foi um período da ditadura, muitos professores meus, a gente conhecia. Na época eu não tinha muito uma noção porque a gente ainda é adolescente, estava com a cabeça em outros lugares. Depois de uns anos que a gente veio a saber de uma série de coisas que aconteciam lá com os professores. Então também foi uma época conturbada, vamos dizer assim, que marcou.
P/1 – Esse período você já estava no colegial.
R – Sim. Já estava no colegial.
P/1 – E aí você estava falando um pouco do seu namoro. Como que ele chama?
R – Vanderlei.
P/1 – O Vanderlei. Você estava falando do seu namoro com o Vanderlei e você namorou quantos anos?
R – Ah, foi um namoro de idas e vindas até a gente se casar em 78. Mas foi bastante tempo, dos 15 anos até os 23, quando eu me casei.
P/1 – E concomitante ao namoro você, lógico, continuou estudando.
R – Sim.
P/1 – Você terminou o colegial e você foi fazer o quê?
R – Terminei o colegial e escolhi Psicologia. Tinha muita dúvida se eu fazia Arquitetura, Psicologia. E eu me lembro que nessa época o Metrô já entrou um pouco assim na minha vida porque o meu avô era uma pessoa que lia muito, lia muito jornal. Eu tenho uma lembrança do meu avô lendo jornal. E como a gente morou no Centro e o meu avô trabalhava no Centro, ele acompanhou toda a história do Metrô, da implantação do metrô no Centro e tal. E meu avô dizia pra mim: “Rejane, essa empresa aqui vai mudar São Paulo. Era uma ótima empresa pra você fazer carreira”. E eu falava: “Vô, não quero ser engenheira”. Porque pra mim, Metrô estava muito mais ligado à Engenharia do que qualquer outra coisa. E isso foi acontecendo. Enquanto eu estava na faculdade, nos últimos anos da faculdade, em 74 quando o Metrô começou a andar mesmo, que foi a operação do Metrô, eu estava na faculdade e acompanhei isso muito de perto. Até quando eu fui fazer estágio, que aí voltou o Metrô pra mim e eu fui entender que Metrô não era só Engenharia, podia ter outras coisas e foi onde eu optei.
P/1 – Então vamos começar a falar um pouquinho do Metrô. Você disse que quando você entrou no Metrô você entrou como estagiária. Quando foi que você entrou no Metrô como estagiária, como foi o seu processo pra você chegar até o Metrô? Pra você chegar e falar: “Pô, eu quero fazer estágio no Metrô”. Foi motivado pelo teu avô ou você teve um outro motivo, foi uma oportunidade que apareceu por acaso?
R – Na época, antes de me formar, procurando estágio eu me lembro que Metrô foi uma das minhas primeiras opções. Tanto por conta de eu ouvir falar tanto do Metrô, do meu avô dizer: “Essa empresa vai ser uma empresa de ponta e tal, uma empresa que está começando. É legal você começar numa empresa que também está começando, tal”. Eu fiz entrevistas em outras empresas, foram umas quatro ou cinco entrevistas que eu fiz, mas o Metrô era a minha primeira opção. Então, em 76, antes de me formar, eu entrei no Metrô como estagiária. Entrei na área que cuidava especificamente de avaliação de desempenho. O Metrô teve uma história de avaliação de desempenho, tem até um livro do Metrô que conta a história da avaliação de desempenho. Então eu entrei numa área que a minha formação me ajudou muito nessa área.
PAUSA
P/1 – Rejane, você estava dizendo que você fez o estágio, você entrou no Metrô como estagiária, em 76, mas o que acabou te motivando foi a oportunidade mesmo de você entrar no Metrô, até porque você foi em outras empresas, tal, mas também já tinha todas essas dicas que você já ouvia falar, do seu avô. Antes de você falar um pouquinho da sua experiência, o seu início todo no Metrô, queria que você falasse qual foi a faculdade que você estudou.
R – Eu fui a primeira turma da Faculdade Objetivo de Psicologia.
P/1 – E quando você entrou no Metrô, você foi fazer estágio em qual área?
R – Na área de Recursos Humanos. Na verdade, toda a minha carreira foi dentro da área de Recursos Humanos. E eu entrei numa área de Avaliação de Desempenho, na área de Recursos Humanos lá era uma área específica que cuidava de Avaliação de Desempenho.
P/1 – E você se lembra quem eram as pessoas que trabalhavam com você nesse período?
R – Sim, lembro, me lembro. A chefe do departamento se chamava Deobel e a Deobel era uma pessoa muito conhecida, inclusive um livro sobre Avaliação de Desempenho, foi escrito um livro sobre Avaliação de Desempenho no Metrô, que a Deobel participou. E eu tinha uma chefe direta, que se chama Regina Julie, e que até hoje nós somos amigas. A Regina era uma chefe que me ensinou muita coisa, né? Eu, saída da adolescência, ainda aprendendo um monte de coisa e a Regina me ensinou muito. Acho que todas as coisas que hoje, ou até então, eu vivi no Metrô, eu lembro muito da fala dela, dos princípios dela enquanto profissional, foi uma pessoa que me ajudou muito. E somos amigas até hoje.
P/1 – Você se recorda do seu primeiro dia no Metrô? Mesmo como estagiária, você se lembra?
R – Lembro. Meu primeiro dia no Metrô, acho que a gente nunca esquece o primeiro dia na empresa, afinal, eu só trabalhei no Metrô. Foram 42 anos e o primeiro dia que eu entrei no Metrô, pra mim era de uma importância muito grande porque o meu grupo de faculdade era uma época que todo mundo estava procurando estágio e o estágio, conseguir estágio no Metrô, ou estar estagiando no Metrô era um status muito grande. Então a minha apresentação pras pessoas, enfim, até hoje eu me lembro, não com uma riqueza de detalhes, mas eu acho que me lembro mais do sentimento, das sensação de estar entrando na empresa, no lugar onde eu ia ser mais responsável. Enfim, isso a gente não esquece.
P/2 – Onde foi, Rejane?
R – Era na Augusta. A sede do Metrô na época era na Augusta e é lá que eu entrei.
P/1 – Rejane, você se lembra quais foram os momentos mais importantes que você viveu nessa primeira fase da GRH? Quando eu falo a primeira fase da GRH, aquela fase onde você ainda viveu na avaliação de desempenho.
R – As minhas primeiras experiências no Metrô, em função da área que eu trabalhava, me concedeu um conhecimento da empresa e das pessoas muito grande, imagino. Porque assim, o Metrô era uma empresa muito jovem e, portanto, muitos jovens na empresa, naquela época. E eu fui trabalhar diretamente com a área operacional. Eu era da área de Recursos Humanos, mas eu ficava dentro do pátio de manobras da manutenção. Então, eu tinha muito mais relacionamento com as pessoas da manutenção, com os engenheiros de manutenção do que com a própria área de Recursos Humanos, aonde eu prestava, tinha algum contato, mas eu desenvolvia o meu trabalho dentro dessas áreas. Então, nós crescemos juntos, esses profissionais. Muitos hoje que são diretores, gerentes, chefes de departamento, a gente era tudo jovem naquela época. Somos ainda, né? Mas a gente era mais jovem naquela época, então, íamos em festa de aniversário dos filhos, casamento, então assim, a gente cresceu junto, tanto profissionalmente como pessoalmente. E isso traz um vínculo com a empresa e com as pessoas, um vínculo muito grande.
P/1 – Dentro desse processo, desse amadurecimento, foi nesse período que você se casou, que você teve filhos, como é que foi esse período?
R – Sim.
P/1 – Junto com o metrô.
R – Sim. A vida pessoal e a vida profissional foi caminhando junto, numa época em que tudo estava florescendo, né? Saí da adolescência, entra na vida adulta, junto com uma empresa que também estava se desenvolvendo. Então, nesse meio tempo, logo depois, eu fui efetivada no Metrô, em 77 eu fui efetivada no Metrô. Em 78 eu me casei, dois anos depois, três anos depois nasceu a Thaís, depois nasceu o Thiago. Então, esse início da minha carreira, foi o início também da minha formação como pessoa, como mãe, como profissional. Então, não tem como dissociar a minha maturidade como pessoa e como profissional da minha maturidade de mãe.
P/1 – E como é que você conciliava a vida de profissional com a vida de mãe, com a ausência do celular?
R – (risos) Sabe que na época, eu fico pensando assim, como é que a gente conseguia fazer tantas coisas e ter o contato de tudo, como você falou agora mesmo, sem o celular e tal. Eu tinha muito a ajuda dos meus pais. A minha mãe me ajudou muito nos primeiros anos da educação das crianças, mas a gente tinha tempo pra tudo, né? Levava a criança de manhãzinha na escola, ia trabalhar. O marido pegava na hora do almoço. Era uma vida, até porque eu trabalhava no Pátio do Jabaquara e ficava difícil vir pra estar mais próximo das crianças. Mas foi muito gratificante esse período porque a gente, todo mundo tinha uma vida muito parecida, com filhos também, então se trocava coisas tanto pessoais como profissionais, então isso dava uma liga muito legal com as pessoas. O vínculo de amizade no Metrô, tanto profissional, como pessoal, era uma coisa muito próxima.
P/1 – Então você está dizendo o seguinte, as pessoas no Metrô tinham também, a faixa etária era muito parecida.
R – Sim.
P/1 – Ou seja, todo mundo se casando, todo mundo tendo filhos, todo mundo crescendo junto, foi essa a experiência.
R – Sim, é isso mesmo.
P/1 – Tá. E voltando um pouquinho agora pro seu desenvolvimento profissional. Depois que você saiu da Avaliação de Desempenho qual foi a sua experiência, qual foi a área dentro da GRH que você foi trabalhar?
R – Toda a minha experiência no Metrô foi dentro da área de Recursos Humanos. Depois que eu saí da área de Avaliação de Desempenho, que me deu uma condição muito grande de conhecer as pessoas, conhecer a base de trabalho de todas as pessoas, o desempenho e como as pessoas trabalhavam, eu fui pra área de Treinamento e Desenvolvimento. E grande parte da minha vida no Metrô foi nessa área de Desenvolvimento e Treinamento. E essa minha formação, o Metrô, nessa área de Recursos Humanos também era referência. O Metrô não era só referência técnica, de Engenharia, o Metrô tinha uma referência extremamente forte no mercado na área de Recursos Humanos. Então o Metrô era chamado pra fazer apresentações em outras empresas, a gente tinha um vínculo grande com algumas empresas porque a gente era pioneiro em uma série de assuntos, inclusive treinamento e desenvolvimento. Até que a gente passou por todas essas mudanças, né, deixando o treinamento e desenvolvimento como era no passado e eu acompanhei toda a mudança pra universidade corporativa, quando a universidade corporativa começou a ser desenvolvida no Metrô sim, foi uma mudança de época bastante significativa. E dentro dessa área de desenvolvimento, na universidade corporativa, eu diria assim, que o meu final de carreira no Metrô foi quando eu fui promovida pra Chefe de Departamento na área de Departamento Pessoal. Folha de pagamento, benefícios, né, inclusive as assistentes sociais. Pra mim foi uma mudança da água pro vinho, foi um susto, na verdade. Quando me disseram: “Você vai assumir a folha de pagamento, benefícios”, pra mim foi um baque. Nossa, minha experiência toda em treinamento, desenvolvimento, vou assumir essa área? Mas eu digo pra você assim, foi uma das melhores experiências que eu tive no Metrô porque trabalhar na Folha de Pagamento do Metrô primeiro foi uma experiência forte porque eu deixei de dormir muito, eu acordava de madrugada: “Será que eu assinei aquilo ali? Será que tinha zero a mais?”. Porque era um trabalho com números e que eu não tinha essa experiência. Mas a equipe foi uma das equipes assim, não vou dizer uma das melhores equipes que eu trabalhei porque, claro, eu fiz um vínculo e gosto muito das pessoas em todas as áreas que eu trabalhei, tenho amizades até hoje com muita gente, mas a folha de pagamento dá uma diferença na área de Recursos Humanos que é mais ou menos assim: quando você trabalha numa área de desenvolvimento, você desenvolve um trabalho e esse trabalho demora um pouco pra você ver o resultado. Às vezes ele morre no meio, às vezes é um projeto pra implantar alguma coisa de desenvolvimento que vai demorar pra acontecer. Na folha de pagamento não, a folha de pagamento cada mês é um sucesso. “Conseguimos! Ok, fechamos a folha, tudo ok”. Então é um prazer mais imediato, vamos dizer assim. Claro que com todas os problemas que aparecem, tal, mas é gratificante por isso, é um esforço voltado que cada mês você pode renovar aquele resultado positivo que você teve. Ou arrumar as coisas que deram errado. Então pra mim isso foi muito importante.
P/1 – Você foi falando toda essa evolução até você chegar na área de pessoal. Mas você teve outros momentos dentro da tua carreira que te proporcionaram cursos, saídas pra fora do país onde você teve experiências maravilhosas, marcantes. Você quer falar um pouquinho dessa sua experiência?
R – O Metrô me trouxe uma experiência profissional muito significativa. Eu acho que o fato de eu ter trabalhado a maior parte do tempo, embora na área de Recursos Humanos, mas muito ligada à Gerência de Manutenção e Operação, me fez ter uma experiência da empresa com áreas que estão ligadas ao usuário final. Então, muitas das coisas que a Operação fazia, que era todo o desenvolvimento das pessoas. Por exemplo, atendimento ao usuário. Lá atrás quando o Metrô começou, claro, nós sempre fomos referência em relação ao atendimento, mas era um atendimento mais frio, vamos dizer assim. Não é que é mais frio, não existia tanta preocupação em agradar ao usuário porque o Metrô já agradava por si só. Então era uma atenção ao usuário, mas sem a necessidade de chamar o usuário pro Metrô. Com o passar do tempo, esse atendimento teve que ser mudado, teve que ter uma mudança na visão do empregado pra atender melhor aquele usuário. Então foi um grande projeto que eu participei muito diretamente, que se chamava Projeto SER, que é o atendimento Solidário, Ético e Responsável. Isso deu uma mudança em como os empregados do Metrô viam esse atendimento. Então foi um projeto muito grande que fez com que o foco do empregado do Metrô não fosse só o Metrô na recepção dos empregados, mas fosse uma atenção especial a esses usuários. Então esse desenvolvimento no Metrô, além de instigar e fazer com que a gente, de Recursos Humanos, fosse além, procurasse outras coisas, porque a área Operacional demanda da área de Recursos Humanos uma série de coisas, esse foi um exemplo. E me fez também participar também de alguns eventos muito importantes, um deles foi uma viagem que eu fiz ao Japão, na época muitos engenheiros do Metrô estavam fazendo trabalhos com relação à qualidade e nessa época eu tive a oportunidade de fazer um curso no Japão, que foi uma experiência muito gratificante. E eu estava com um grupo de sul-americanos, eram só argentinos, chilenos que estavam nesse grupo. E pra mim foi um desafio muito grande, foi um divisor de águas, fazer o curso e a gente tinha que apresentar um trabalho no final. Então, apresentar um trabalho em outra língua, em um outro país, foi uma das experiências marcantes.
P/1 – Rejane, agora eu queria que você falasse o seguinte, vamos falar sobre fatos importantes do Metrô. Tem alguns fatos que marcaram muito a história do Metrô. Por exemplo, você se recorda da implosão do Edifício Mendes Caldeira?
R – É, a implosão do Edifício Mendes Caldeira na Praça da Sé era um rebuliço na empresa. Todo mundo falava. Na época meu avô ainda estava vivo e meu avô torcia muito por mim, me perguntava muitas coisas do Metrô. Porque ele conhecia muito de fora, de ouvir falar, de jornal e eu levava pra ele esse colorido. E nessa época, eu me lembro que a família inteira me perguntava muito: “Como é que é? Como é que funciona?”. É essa lembrança que eu tenho.
P/3 – Você entra no Metrô e esse período está em plena ditadura militar e o Metrô é uma estatal e o Exército olhava o que vocês estavam fazendo. Isso influenciava no dia a dia? Com colegas, com inteligência, como que sentia isso na empresa?
R – Acho que no meu nível não, viu? Não lembro de nada disso.
P/3 – E as conversas de corredor ali também não?
P/1 – Eu acho que eu vou fazer a pergunta de uma outra forma, já que eu vivenciei isso, Danilo. Por exemplo, Rejane, você se lembra que existiam muitos cargos no Metrô que, estrategicamente, provavelmente, não sei, as chefias eram de fato coronéis reformados. Por conta da situação era normal tudo isso. Nós víamos até como algo natural, nós não fazíamos questionamentos. Nesse sentido você percebia que essas pessoas em cargos mais estratégicos influenciavam alguma coisa no Metrô ou não? De fato eles só eram gestores.
R – Olha, eu acho que no nível em que eu estava, no nível de analista, recém-chegada, assim, eu não conseguia ter essa visão. O que eu me lembro que a gente tinha era um coronel que trabalhava na operação, que é ligado à segurança no Metrô. Não lembro de outros cargos que tivesse.
P/1 – É, mas nós tínhamos, sim. Tinha uma das assessoria do DE. Tinha o próprio Cirilo Jacomello, RHP.
R – Mas ele era?
P/1 – Era coronel reformado. Mas tudo bem. Mas a pergunta do Danilo foi super importante nesse sentido até pra marcar época mesmo, né? Mas a sua resposta também foi importante porque é aquilo que você falou, como analista era o que te chegava, ok? Então, voltando pra fatos importantes do Metrô. Um outro fato importante, e que marcou muito a categoria toda e você pode falar um pouquinho a sua experiência, a sua visão, a greve de 88.
R – A greve de 88 foi uma surpresa pra todo mundo, eu acredito. Foi um susto pra nós, na verdade. Porque mobilizou o Metrô de uma forma, assim, uma forma assustadora mesmo. Eu me lembro que nessa época, num desses dias de greve, eu queria entrar na empresa, eu trabalhava lá na Augusta, e tinha muito medo de tentar furar aquele cerco. E eu me lembro que na época uma das minhas chefes pegou um grupo que estava querendo entrar e ajudou a entrar, senão a gente não conseguiria entrar. E dali pra frente foi uma mudança muito significativa na empresa porque aí começaram os concursos públicos. Até então o Metrô admitia pessoas independente de concurso, era seleção por uma empresa particular, passava por todo processo seletivo, que na época o Metrô também era referência em relação a isso, com toda a bateria de testes que era feita pros outros empregados entrarem. Então isso deu uma mudança. Na área de Recursos Humanos isso foi também um marco significativo, é trabalhar de uma outra forma aonde a relação do Metrô, da área de Recursos Humanos, com os empregados passou por uma mudança significativa nesse aspecto. E com os projetos, os trabalhos também. Eu acho que foi muito significativo, foi um degrau e uma mudança que passamos lá.
P/3 – Eu imagino que a greve de 88, você estar na área de RH, não sei, me parece que é o olho do furacão. E eu queria ver quais eram os temas, o que era reivindicado e o que mudou e o que permaneceu nesse divisor de águas assim?
R – Eu não lembro.
P/3 – Quando você fala desse degrau acima, o que se reivindicava?
R – Então, eu não lembro, eu não sei se é isso.
P/3 – Mas no seu trabalho mesmo. Porque é um momento de crise e de repente muda, aí passa. Mas não volta a ser igual. O que mudou e o que permaneceu?
P/1 – Nós tivemos 357 empregados que foram demitidos na época. Vários deles retornaram por questões legais, licença médica, auxílio-doença, era diretor de sindicato. Mas bastante gente foi demitida. Essas demissões, dentro daquilo que o Danilo estava perguntando, o que é que, por exemplo, vem na sua lembrança, até como que ficou, como você percebeu a categoria, como que você percebeu as pessoas à sua volta, o que isso acabou interferindo, por exemplo, em algumas mudanças de RH no seu trabalho?
R – Então, aí fazendo um parênteses. Eu não sei se essa minha percepção é uma percepção que eu vou falar hoje, por exemplo, é uma percepção real. Eu não sei se eu vou dizer que era assim, mudou assim. Não sei se isso, essa mudança, foi por conta da greve ou não foi, eu não tenho essa clareza, então eu prefiro não entrar nisso.
P/1 – Tá bom.
R – Sabe por quê? Eu vou fazer um parênteses ainda. Antes a gente tinha um contato direto com os empregados. Era entrevista de acompanhamento, perguntava de tudo, família, a gente tinha uma ficha histórica daquele empregado. Eu não sei se foi a greve, é isso que eu estou dizendo, ou se foi um processo de mudança da empresa onde isso não foi feito mais. Então eu não vou arriscar, dizer que isso foi por conta da greve ou não. Teve mudança, será que ela interferiu nisso, será que não? Não sei. O contato da área de Recursos Humanos mudou bastante nos projetos, mas eu não vou saber e não queria pecar aqui.
P/1 – Então vamos avançar um pouquinho mais em fatos importantes, por exemplo, da época. Vamos sair de 88, vamos pegar por exemplo, a concessão do Terminal do Tietê. Você se lembra desse episódio, dessa época?
R – Lembro. O Metrô começou a passar por algumas mudanças de concessão, como terminal, e isso fez com que as pessoas começassem a pensar um pouco fora da caixa, imagino. Não só a área de Recursos Humanos, como as outras áreas porque as pessoas começaram a sair do assunto Metrô e ter outras atividades no terminal, alguma coisa assim. É como se o Metrô tivesse abrindo alguns braços, colocando algumas pessoas nessas outras vertentes, né? Isso abriu muito a cabeça da empresa pra outros aspectos que não Metrô. Porque na época a gente não tinha concorrência, né? A gente foi começar a pensar em concorrência algum tempo depois, mas isso já plantou alguma coisa na cabeça do metroviário.
P/1 – E Rejane, avançando um pouco mais no tempo, vou falar um pouquinho da construção da Linha 4. A Linha 4 teve um acidente gravíssimo, que foi o acidente de Pinheiros. Você se lembra como foi esse fato, como você percebeu no seu trabalho e no dia a dia, no próprio Metrô?
R – É, outra ocorrência que marcou demais o Metrô foi o acidente da Linha 4 ali na estação, daquele buraco que abriu. Aquilo lá é como se tivesse, sabe quando tem o sinal, você sai do recreio e tem que voltar pra aula, que tinha um sinal? Assim, o paralelo que eu faço é mais ou menos isso, quer dizer, saiu daquele converse e silenciou. Foi um susto, foi um baque pro Metrô, que sempre prezou demais, demais na segurança técnica, enfim, no primor, na construção das estações. E aquele acidente foi muito triste pra todo mundo. Eu me lembro que na época a área de Recursos Humanos fez vários trabalhos com esse pessoal que estava diretamente ligado às obras, com o pessoal de obras, porque muitos tiveram muitas dificuldades de assimilar aquilo lá, então a área de Recursos Humanos fez muitos trabalhos. Trouxemos profissionais de outras áreas, de outras formações pra nos ajudar a entender aquilo e fazer com que as pessoas conseguissem outra vez voltar a respirar um pouco depois daquele fato.
P/1 – Então, Rejane, com esse olhar todo e mais a sua experiência em funções tão importantes que você teve dentro da empresa, como que você entende hoje as concessões que a empresa está organizando?
R – Eu acho que já há algum tempo que a gente fala e ouve dentro do Metrô que o Metrô tem que mudar, tem que mudar pra acompanhar uma série de coisas que estão acontecendo, não só tecnicamente, como no nosso país. E as mudanças vão acontecendo, às vezes você nem percebe que as coisas estão acontecendo, mas você identifica alguns marcos. As concessões das linhas é uma coisa que é evidente que precisa acontecer porque o Metrô tem um escopo de conhecimento e de experiência que ele nunca vai deixar de ter. Ele vai sempre suportar isso, suportar no sentido técnico, no conhecimento, mas as coisas têm que andar. Então as concessões vêm porque o Metrô tem que ampliar suas linhas, nós temos que ter mais Metrô na cidade de São Paulo, já deveríamos ter isso há muito tempo. E se nós vamos precisar das concessões pra que isso aconteça, o caminho vai ser esse.
P/1 – Rejane, agora vamos sair um pouquinho dos fatos e vamos começar a entrar um pouquinho já pra uma finalização pra tentar fechar um pouquinho mais toda essa história. Quando você entrou no Metrô você tinha uma expectativa. Você se sentiu atendida? Como você viu, você foi correspondida na sua expectativa?
R – Olha, eu posso dizer que o Metrô foi além das expectativas pra mim. Porque quando eu entrei na empresa, é claro, eu tinha uma expectativa não só de conhecimento, mas era mais ligada a uma expectativa de conhecimento e desenvolvimento pessoal, profissional do que pensar: “Quero ser isso, quero ir até tal lugar, quero ter esse cargo”. Na época eu não tinha muito essa ambição, mas o Metrô me proporcionou uma série de coisas, um desenvolvimento e um crescimento profissional dentro da empresa não só de técnico, d conhecimento, como de cargos. Eu fui promovida à coordenadora, fiquei muito tempo como coordenadora em vários processos, até chegar à chefe de departamento, que foi extremamente gratificante pra mim. E eu vou dizer pra você, quando eu resolvi sair do Metrô, no PDV, eu queria sair do Metrô, mas eu queria sair com um projeto assim, olha, fiz isso, concluí esse projeto e agora eu posso sair. E na época, conversando com a gerente, eu manifestei isso, eu falei: “Olha, eu estou entrando no PDV, mas eu não quero sair da empresa, eu gostaria de sair com um projeto realizado mais palpável do que todos esses anos que eu tive aqui”. E aí eu ajudei na implantação do eSocial da empresa, que mexeu com toda a GRH, mas com toda a empresa por conta do eSocial que está sendo implantado em toda, que é um projeto, ai, agora me fugiu, vou lembrar... enfim, não vou lembrar agora. Mas nós conseguimos implantar o eSocial agora em março, que foi o mês que eu saí do Metrô, depois de 42 anos eu saí da empresa.
P/3 – Posso fazer uma pergunta aproveitando a questão da sua expectativa, tal? Você colocou vários lugares, a parte de treinamento, de pagamento, citou alguns projetos. Bom, dessas trajetórias, se você pudesse contar um causo que tenha sido, que você tenha vivenciado ali e que tenha sido um desafio, ou que tenha resolvido uma conquista pessoal. Eu queria também entender o que foi o Projeto SER, como foi a concepção, de onde veio essa ideia, de onde saiu isso. Saiu numa reunião em um café na Copa, veio de fora, como que vocês fizeram isso? Então um desafio pessoal e esse projeto em específico. Nessa longa trajetória de 40 anos, escolher um causo é difícil, mas...
R – Bom, o Projeto SER foi muito interessante. Porque quando a gente fala em treinamento e desenvolvimento a gente acaba pensando, na época pelo menos, era uma coisa muito estática, que envolve você chamar o empregado, desenvolver um programa de treinamento, chama, ele entra na sala de aula e faz o treinamento, adquire aquele conhecimento. No Projeto SER ele tinha que envolver, como ele envolvia uma necessidade de mudança de postura de pessoas, ele tinha que ser uma sensibilização e um convite para o empregado olhar o atendimento de uma outra forma. Então foi um treinamento extremamente diferente no sentido que é um treinamento em sala de aula. Então eu me lembro que a gente trouxe um professor de História, que levou para todos os empregados, contou a história de como é que era, como é que foi o Brasil em termos da colonização, da onde veio esse atendimento, quem atende, sensibilizando o momento em que a gente estava na empresa, onde atender bem e fazer a diferença nesse atendimento ia ser um marco pra história do Metrô, uma necessidade. Então, por exemplo, como fazer para o operador de trem, que ele era recrutado pra ficar dentro da cabine. Quer dizer, qual é o perfil de quem está dentro da cabine? É um perfil de quem não gosta muito de conversê, né? Se eu entro na empresa pra ser operador de trem, eu estou querendo mais é sentar ali e ficar ali. E o Projeto SER tinha que envolver também os operadores de trem porque eles tinham que entender que eles também tinham que dar satisfação aos usuários. Então às vezes o usuário falava: “Pô, a gente fica parado aqui, ninguém fala nada”. Então, uma mudança pra esse operador de trem ter que falar: “Estamos aguardando” “Estamos com problema”. Então foi um treinamento não só de dicção para o operador de trem, envolveu todas as áreas, tanto de sensibilização, de como é que você gosta de ser atendido? Conte suas experiências de quando você é bem atendido ou não. Então foram experiências muito ricas, com estilos de treinamento e sensibilização muito modernos, vamos dizer assim. Então, eu diria que esse foi um projeto muito... nós fomos dar palestras fora em outras empresas, em congresso nós apresentamos esse programa de treinamento. Então eu acredito que foi uma das coisas muito importantes que aconteceram na empresa em termos da área de Recursos Humanos.
P/1 – Você falou de bastante trabalhos, projetos, desafios. E me passou agora na cabeça te perguntar assim: você lembra de algum fato engraçado do seu dia a dia no Metrô? Alguma situação engraçada?
R – Olha, situação engraçada, várias. Mas uma coisa que ficou muito marcada e que eu brinco até hoje. Aconteceu o seguinte, a época que eu entrei no Metrô a gente fazia muita entrevista de acompanhamento. E na sala que eu ficava lá no Pátio do Jabaquara, eu me lembro que eu tinha muitas samambaias ali perto da janela e eu tinha um tucano de madeira, pendurado ali nas samambaias. E uma vez entrevistando o empregado eu perguntava pra ele: “Conta pra mim um pouco o que você faz aqui, quais são os seus desafios”. Silêncio, ele não respondia. Ele só olhava ali as samambaias. Aí eu perguntei outra vez: “Conta um pouco pra mim qual o seu trabalho, o que você faz aqui, tal”. Eu não me lembro quantas vezes eu perguntei, mas eu tive que insistir um pouco até que ele falou assim pra mim: “Bonito o seu tucano”. E aquilo pra mim foi muito engraçado, a resposta dele, e eu me lembro quando eu contei isso pras colegas de trabalho, isso virou uma piada. Porque cada vez que alguém me fazia alguma pergunta que eu não tinha resposta: “Rejane, você sabe quando é...”. Eu dizia assim: “Que bonito aquele tucano, que bonito aquele tucano”. E a equipe a mesma coisa comigo. Às vezes eu cobrava alguma coisa e elas me respondiam: “Muito bonito aquele tucano” (risos). Tanto que quando eu saí do Metrô, a minha equipe que eu trabalhei mais tempo me deu, pena que eu não trouxe, mas eles me deram uma joia, um tucaninho de pedrinhas assim e foi meu presente de despedida da equipe. Então eu acho que esse foi um fato pitoresco, eu até tinha um desenho de um tucaninho, respondia já o e-mail com a imagem do tucano quando alguém me fazia uma pergunta, eu já punha a imagem do tucano (risos). E eu acho que uma outra coisa assim, que era muito gostosa no Metrô, na Gerência de Operação, fim de ano tinha algumas festas históricas na Gerência de Operação. No prédio que ficava o CCO, no Centro de Controle Operacional, todo andar a gente arrastava as mesas lá dos andares e quem queria ensaiava um número. E eram números mesmo, assim, ou cantar, isso era o de menos, mas eram temas ligados ao momento que se vivia. Então por exemplo, não sei se vocês lembram daquela propaganda que tinha da Prefeitura que falava dos pombos: “Ah, nós que somos pombos que estamos vendo, tal, que está acontecendo”. Então os empregados, teve um quadro que se fantasiavam de pombo, ficavam atrás de um muro desenhando um pombo e ali ficavam: “Ah, nós que somos pombos sabemos que Fulano de tal chega mais tarde”. Hilário, era uma festa que todo mundo se mobilizava praquele momento.
PAUSA
P/1 – Você estava falando das festas da GOP e quantas pessoas mais ou menos participavam naquela ocasião, você lembra?
R – Então, essas festas da GOP, elas aproximavam muito as pessoas porque elas faziam com que todo mundo pensasse em alguma coisa pra fazer essa apresentação no final do ano. E uma coisa que marcou demais pra mim foi no ano que tinha o filme do Titanic. Então, foi muito interessante porque acho que um grupinho de cinco pessoas, eu e mais algumas pessoas pensamos num roteiro rápido pra mostrar, em vez de Titanic, o Metronic. Então nós fizemos uma filmagem desse, nós fomos lá no Metrô, no Pátio de Itaquera, na vala onde se lavava os trens. Eu me lembro que eu pus uma roupa longa, como se fosse a artista lá do Titanic e tentamos caracterizar com uma série de coisas. Na época o Metrô dava cesta básica, então eu entrei no trem com uma cesta básica na mão, com uma sacolinha como se fosse a cesta básica. Enfim, fizemos uma série de cenas dentro do Metrô. Tiramos, na época eles estavam lavando o trem, tiramos todo mundo que estava ali lavando o trem pra fazer essa cena lá, até dramatizar na hora que começa. Como o navio caía, também ia ter alguma coisa. Então a gente pedia pras moças levantarem a água, o esguicho da água, pra parecer que tinha água caindo e nesse momento a gente pegava a boinha. A gente não, eu e o outro rapaz que estava fazendo a encenação, né? Então, foi muito interessante porque aí nós fomos lá no Pátio de Itaquera e pedimos pra Manutenção levantar a gente até o Metrô, então nós dois subimos o metrô, na área lá de manutenção, e fizemos a pose lá do Titanic, né? Mas o filme era Metronic. E mais interessante ainda, na época o nosso presidente, o sobrenome dele era Goldschmidt. Então, a abertura do tema foi Metro Goldschmidt Mayer apresenta Metronic (risos). Então a filmagem ficou muito legal e não dá pra esquecer. Eu acho que muita gente que acompanhou isso também não vai esquecer nunca.
P/2 – E esse filme passou?
R – Na verdade o filme só passou mesmo pra Gerência de Operação e talvez um pouco pra Gerência de Manutenção em alguma festa, tal, mas não foi divulgado pra empresa inteira, não (risos).
P/1 – Você falou de momentos de bastante alegria. Vamos falar agora de momentos de tristeza. Você teve colegas, amigos que você perdeu no Metrô? Você se recorda? Aquelas pessoas que mais marcaram, que, de repente, foram embora, faleceram?
R – Próximo, próximo eu não lembro, Valquíria. Lembra de alguém?
P/1 – Não. Você lembra de alguém importante que depois saiu do Metrô, que faleceu? A Astrid, por exemplo, eu não sei se ela era sua amiga.
R – Não, eu não tinha muita ligação com ela, não. Não tenho nada assim que tenha marcado, não.
P/1 – Essa parte de perdas, então, você não teve ninguém que te marcou, que trouxe pra você alguns momentos de tristeza?
R – Não.
P/1 – Então vamos tentar melhorar um pouco, vamos ficar mais alegre. Qual é a importância do Metrô na sua vida?
R – Que difícil essa pergunta! É difícil e fácil ao mesmo tempo, dizer qual é a importância que o Metrô tem na minha vida. Porque 42 anos trabalhando numa empresa, 42 anos de muita satisfação dentro da empresa. Você trabalhar numa empresa onde você acredita naquilo que ela faz, que você identifica o que o Metrô faz pra São Paulo, o que o Metrô auxilia as pessoas. Não tem preço. Então trabalhar numa empresa durante esse tempo todo aonde a gente tem muita gratificação profissional, isso resume. Foi minha vida, 42 anos. Até outro dia eu peguei um Uber e não sei porque comentei com o rapaz que estava dirigindo que eu tinha trabalhado 42 anos no Metrô, até eu me assustei e falei: “Gente, 42 anos!” (risos). É muita coisa, é muita coisa mesmo. Então, qual a importância que ele teve na minha vida? Tudo o que eu tenho foi graças ao Metrô. Meu apartamento, a educação dos meus filhos, as viagens que eu fiz, poder ter proporcionado uma segunda festa de casamento pros meus pais. Isso tudo, que é importante pra mim, foi o Metrô que me ajudou a realizar. Até se a gente pensar na minha segunda profissão, também tem a ver com o Metrô. Há uns 15 anos eu comecei a ter um hobby de fazer cerâmica. Tanto que na época a área de Marketing fez uma exposição nas estações sobre os talentos do Metrô e eu levei algumas peças que ficaram, acho que na Estação São Bento. Então a cerâmica me dava muita satisfação, como um hobby. Mas eu deixei a cerâmica de lado porque as minhas responsabilidades no Metrô foram crescendo, tal e eu não podia me dedicar com eu queria. E quando eu assinei o PDV eu falei pra minha filha: “Thaís, eu quero ir pra Cunha”. Porque Cunha é onde tem os grandes ceramistas também. Então eu fui passar lá com ela uma semana porque eu assinei o PDV já pensando nisso. E aí eu solidifiquei uma segunda profissão pra mim, como ceramista, depois que eu fui pra lá. Então esses dois anos que eu ainda fiquei no Metrô me ajudou muito a pensar no meu futuro e em toda essa minha história do Metrô.
P/2 – Eu fiquei bem curiosa que você comentou do segundo casamento dos seus pais. Voltando um pouquinho.
R – Então, das coisas que eu proporcionei, e quando eu digo o segundo casamento dos meus pais, porque eles oficializaram um retorno deles, né? Os meus pais se separaram durante um tempo e voltaram depois dessa separação e a gente fez uma festa pra eles, pra comemorar esse segundo casamento deles mesmos, não foi um segundo casamento com outras pessoas, mas deles mesmos. Então foi muito legal também.
P/1 – Você tem seus pais ainda?
R – Tenho meus pais.
P/1 – Você tem quantos irmãos?
R – Nós somos em três mulheres com a diferença de seis anos cada um. Eu sou a mais velha e temos uma diferença grande. Então eu só fui ser mesmo companheira das minhas irmãs e a gente começou a ter uma relação mais próxima depois que elas se casaram, né? Porque até então, imagina, eu com seis anos, veio uma intrometida na minha vida (risos), minha mãe teve uma outra filha única com seis anos e depois quando estava adolescente, com 12, veio uma outra criança. Então a gente não tinha, eram épocas muito diferentes. E a gente hoje se dá bem, mas por conta de outras coisas em comum, né?
P/2 – O que te levou à adesão ao PDV, qual foi a motivação?
R – Bom, o que me levou a querer sair do Metrô, entrar no PDV. Imagina como isso foi uma decisão difícil, né? Primeiro porque eu achava que não ia conseguir viver sem o Metrô, eu tinha essa fantasia: “Será que eu vou conseguir sair dessa empresa e viver normalmente, sem ter o crachá de metroviária?”. Eu tinha muito receio. Mas eu pensava assim, uma hora eu vou ter que sair, né? Então que eu saia em um momento em que eu ainda estou bem, né, e não sair porque tenho que sair ou porque você é obrigada a sair. Mas enfim, pensei muito nisso, nessa minha saída. Mas esses dois anos que depois eu fiquei, porque o PDV do Metrô tinha a possibilidade da empresa desligar o empregado no período de dois anos. E como eu tinha um trabalho e eu quis mesmo ter um desafio de trabalho pra poder concluir ao sair do Metrô, esses dois anos me prepararam um pouco, emocionalmente, e foi isso que me ajudou a sair do Metrô porque se eu não tomasse uma decisão dizendo: “Rejane, uma hora você vai ter que sair mesmo” (risos), se não tem essa consciência que uma hora tem que sair fica difícil.
P/1 – Fala um pouquinho do seu projeto de vida agora.
R – Bom, meu projeto de vida. Como eu falei, né, quando eu pensei em sair do Metrô, eu pensei: “O que é que eu vou fazer?”. Embora eu tenha formação de coaching e muito contato com amigas que são consultoras de Recursos Humanos que me convidaram pra fazer isso eu pensei assim: “Não, trabalhar nessa carreira de Recursos Humanos é no Metrô, só”, eu não queria mais fazer isso. Embora tivesse essa experiência e muitos convites de algumas amigas, eu não queria ter isso. Então eu pensei numa coisa que eu pudesse, diferente de trabalhar em Recursos Humanos, onde o produto seu não é palpável, você vê o desenvolvimento de uma pessoa, que você ajudou essa pessoa a se desenvolver, mas você não pega muito aquilo; você tem uma sensação, você tem feedbacks do que você fez, que são gratificantes, mas é uma coisa muito, muito mais mental e emocional do que física, propriamente dita. E fazer cerâmica pra mim me dá esse complemento, eu consigo ver o meu produto palpável e é um produto que tem todo um trabalho anterior que você tem que preparar, tem que ter o conhecimento do torno, tem que ter conhecimento de resina, tem que ter conhecimento do forno de alta temperatura, que a cerâmica, pra ela se sedificar, é uma temperatura de mil e 300 graus. Isso me traz muita satisfação. Então, daqui pra frente vou me dedicar a alguma coisa que era hobby e que a satisfação pra mim vem nisso, é eu ver o meu produto aqui.
P/1 – Bacana. E só pra gente ir finalizando. Hoje seus filhos estão casados, como é que está?
R – Eu sou uma pessoa muito caseira. Às vezes me perguntam: “Rejane, por que é que você não vai viajar mais, tal?”. Eu gosto muito da minha casa, gosto de estar em casa, eu curto a minha casa. E curto muito meus filhos, eu sou muito família. E uma das coisas que, claro, sem dúvida nenhuma, a gente guarda e marca foi o casamento da Thaís, a minha filha mais velha. Ela se casou há uns seis anos e foi uma coisa muito bonita. Então acho que isso me, eu sempre fui muito próxima da Thaís, mas eu acho que depois que ela se casou a gente é mais próxima ainda. A Thaís também é psicóloga, só que ela é psicóloga clínica, mas o casamento em si dela foi muito bonito pela paixão que ela tinha em se casar. E uma outra, falando em família, uma outra época legal, que de qualquer forma é essa que eu estou vivendo, foi o Thiago que saiu de casa. O Thiago foi morar sozinho, ele não se casou, mas ele foi morar sozinho. A gente até pensa, todo mundo fala: “Agora o ninho vazio”, porque os filhos saem de casa, tal. Mas ele implica um pouco comigo porque ele fala que parecia que eu estava torcendo pra ele sair de casa. Um pouco estava, porque eu acho que ele ia ter que viver a vida dele, não podia esperar casar pra sair. Vai, vai viver a sua vida. E assim que ele casou foi ótimo porque eu transformei o quarto dele no meu ateliê de cerâmica (risos). Então ele fala: “Mãe, nem bem saí de casa, você já reformou todo o quarto”. Porque eu mesma pintei as paredes, tal. Então hoje eu vivo numa época, num momento muito feliz da minha vida porque eu tenho meus filhos próximos, mas não diretamente comigo, fazendo uma outra coisa que eu gosto, aprendendo uma outra coisa diferente. Então, é isso.
P/1 – Você quer finalizar deixando uma mensagem pros metroviários?
R – Olha, o que eu diria pros metroviários. Viver a época que eu vivi, aonde você ajuda a construir uma empresa, é diferente, por exemplo, de quem entra agora na empresa. Porque essa oportunidade de caminhar junto, eu acho que é ímpar, né? E quem está hoje entrando na empresa provavelmente vai viver uma outra mudança do Metrô e não a mudança que eu vivi, de implantação da empresa. Mas o que eu acho que eu gostaria de dizer pros metroviários é assim, a gente tem que ver o produto do nosso trabalho, nós estamos trabalhando pra quem? Porque se eu não olhar isso, não ver nessa pergunta uma resposta de alguma coisa positiva que eu estou fazendo, eu acho que fica um trabalhar por trabalhar e o Metrô traz isso, traz o orgulho. Porque o Metrô é referência pros outros metrôs. Por exemplo, em termos de limpeza, o Metrô é referência pra muitos metrôs. Em termos de atendimento, em termos de experiência profissional. Por exemplo, esses trens que a gente anda até hoje são trens que começaram a andar lá atrás, a maioria, muitos deles, que foi o próprio Metrô, a área de Manutenção do Metrô que fez a reforma nesses trens. Então, tem que ter um orgulho tanto por conta do que a empresa faz, a importância dessa empresa para a população e a importância dessa empresa no desenvolvimento técnico. É isso. Se não gostar disso, se não entender isso como uma empresa que faz essas coisas positivas fica difícil gostar da empresa, mas o Metrô tem tudo pra gente gostar.
P/1 – Pra finalizar, deixa uma mensagem pro Metrô
R – Pro Metrô? A mensagem que eu podia deixar pro Metrô é assim: que pena que eles vão me ver menos (risos).
P/1 – Tá bom.
P/3 – Tem alguma pergunta que não fizemos e que você gostaria de contar, de algum causo, de alguma situação?
R – Tenho certeza que vou me lembrar depois que eu sair daqui. Não lembro, não.
P/2 – O que você está achando dessa experiência, de ter sido uma das convocadas?
R – Ai, gente, foi muito bom. Foi muito bom. Foi assim, é um reconhecimento. Foi muito gratificante mesmo.
P/3 – Existe uma cultura metroviária? Você que está na área de RH ali? Tem um perfil desse funcionário? E qual é, se existe?
R – Olha, não sei se a gente pode dizer que é cultura, mas o Metrô é uma área muito hierarquizada, né, onde a hierarquia existe mesmo e, embora isso esteja mudando, tenha muita participação dos empregados, mas acho que a cultura metroviária, uma das características, é a hierarquia. O que mais que tem? Até outro dia a gente estava falando, mas isso faz parte da nossa cultura, agora não vou me lembrar.
P/3 – E a mulher nessa hierarquia?
R – Então, uma coisa que é cultural no Metrô e que faz parte. Por exemplo, imagina, o cerne do Metrô é uma área técnica, é uma área de engenheiros. Então, ser engenheiro do Metrô, eu me lembro que eu brincava assim, eu falei: “Puxa vida, se eu tivesse feito uma segunda faculdade de Engenharia, por exemplo, enquanto eu estava no Metrô, não ia ter pra ninguém” (risos). Porque juntar a minha experiência com aquilo que eu podia fazer e com uma outra formação de Engenharia não ia ter pra ninguém. Porque realmente o Metrô é uma empresa de engenheiros, né? E com uma empresa técnica, de engenheiros, é uma empresa onde tem muito mais homem do que mulher. Embora eu nunca tenha sentido nenhuma restrição, acho que o metroviário não tem isso de ter alguma restrição em relação à mulher. Mas que é uma empresa que tem muitos homens, sem dúvida nenhuma é. Nós mulheres que temos que mostrar que podemos.
P/1 – 80% é masculino e 20% só somos nós, né?
R – É.
P/1 – E o que você achou de ter contado a sua história?
R – Olha, vou dizer uma coisa pra vocês, quando me chamaram, eu recebi por e-mail um convite da UniMetro se eu gostaria de participar. Gente, foi muito bom! Foi muito gratificante, depois eu entrei no site aqui pra ver do que se tratava. Eu falei: “Putz”. Foi um presente, foi um presente o Metrô entender que eu tenho alguma coisa a dizer e que eu deixei uma história, né? Então, eu só tenho a agradecer mais uma vez ao Metrô por depois de sair me dar essa oportunidade de falar dele e de falar, de agradecer e de contar essa experiência.
P/3 – Em nome do Metrô, do Projeto 50 anos do Metrô e do Museu da Pessoa, muito obrigado pela entrevista.
R – Obrigada vocês, viu?
P/3 – Obrigado aos entrevistadores, muito obrigado, gente. Muito bom.
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