Depoimento de Romeu Fiod
Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 26 de outubro de 1994
Transcrita por Wilton Garcia
P - Senhor Romeu, eu gostaria que o senhor começasse falando o seu nome, onde o senhor nasceu e a data de nascimento do senhor.
R - Pois não. É Romeu Fiod, nascido na cidade de Igarapava, no Estado de São Paulo, no dia 22 de abril de 1922.
P - O nome dos pais do senhor.
R - Meu pai se chamava Fiod Antônio e minha mãe, Saída Mussi Fiod.
P - E onde eles nasceram?
R - Meu pai nasceu no Líbano, na cidade de Kafaraka, minha mãe nasceu em Jaú e foi para o Líbano com um ano de idade, depois voltou casada com 16 anos.
P - Quando que o pai do senhor veio para o Brasil?
R - Meu pai veio para o Brasil em l917, tendo se instalado na cidade de Igarapava e exerceu a profissão de comerciante de arroz. Se instalou lá e fez dois armazéns lá na cidade de Igarapava. Importou uma máquina de arroz de Hamburgo, da Alemanha, porque naquela época ainda não tinha máquinas eficientes aqui no Brasil. E iniciou atividade dele lá. Teve nove filhos, três mulheres e seis homens e eu sou um deles.(riso)
P - No Líbano, o pai do senhor já trabalhava com arroz, ou não?
R - Não. No Líbano eles eram agricultores, quase todos sitiantes, e naquela época também família numerosa e não tinha uma atividade a exercer. Isso dito por ele, e meus tios também, e se emigravam com 18 anos de idade, uns para o Brasil outros para a Austrália, e tal. Criavam os filhos até os 18 e depois colocavam no mundo por falta de atividade comercial.
P - Por que é que seu pai saiu do Líbano, senhor Romeu?
R - Ele saiu por família numerosa, também com nove irmãos. Nós somos em nove promovidos por ele, mas eram em nove também e vieram, oito dos irmãos vieram todos para o Brasil na mesma época, mas por falta de atividade comercial lá. Era difícil, ao contar naqueles idos tempos, quando a...
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Entrevistado por Valéria Barbosa e Roney Cytrynowicz
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 26 de outubro de 1994
Transcrita por Wilton Garcia
P - Senhor Romeu, eu gostaria que o senhor começasse falando o seu nome, onde o senhor nasceu e a data de nascimento do senhor.
R - Pois não. É Romeu Fiod, nascido na cidade de Igarapava, no Estado de São Paulo, no dia 22 de abril de 1922.
P - O nome dos pais do senhor.
R - Meu pai se chamava Fiod Antônio e minha mãe, Saída Mussi Fiod.
P - E onde eles nasceram?
R - Meu pai nasceu no Líbano, na cidade de Kafaraka, minha mãe nasceu em Jaú e foi para o Líbano com um ano de idade, depois voltou casada com 16 anos.
P - Quando que o pai do senhor veio para o Brasil?
R - Meu pai veio para o Brasil em l917, tendo se instalado na cidade de Igarapava e exerceu a profissão de comerciante de arroz. Se instalou lá e fez dois armazéns lá na cidade de Igarapava. Importou uma máquina de arroz de Hamburgo, da Alemanha, porque naquela época ainda não tinha máquinas eficientes aqui no Brasil. E iniciou atividade dele lá. Teve nove filhos, três mulheres e seis homens e eu sou um deles.(riso)
P - No Líbano, o pai do senhor já trabalhava com arroz, ou não?
R - Não. No Líbano eles eram agricultores, quase todos sitiantes, e naquela época também família numerosa e não tinha uma atividade a exercer. Isso dito por ele, e meus tios também, e se emigravam com 18 anos de idade, uns para o Brasil outros para a Austrália, e tal. Criavam os filhos até os 18 e depois colocavam no mundo por falta de atividade comercial.
P - Por que é que seu pai saiu do Líbano, senhor Romeu?
R - Ele saiu por família numerosa, também com nove irmãos. Nós somos em nove promovidos por ele, mas eram em nove também e vieram, oito dos irmãos vieram todos para o Brasil na mesma época, mas por falta de atividade comercial lá. Era difícil, ao contar naqueles idos tempos, quando a gente se conheceu por gente, ele contava um pouco das passagens do Líbano e era uma vida realmente muito difícil. Então eles vieram tentar no Brasil, que naquela época era a coqueluche do momento: "Vamos tentar a vida no Brasil."
P - E quando ele veio para o Brasil ele foi direto para Igarapava?
R - É, naquela época o cidadão que chegava no Brasil ele vinha para a agricultura. Era taxativo no passaporte: agricultura. E ele foi e chegou aqui uns cinco, seis dias, já tinha um outro patrício árabe na cidade de Igarapava. Ali era uma corrente pra frente, em correspondência etc. Um puxava o outro, vamos dizer, quase a influência do nordestino de 1960 pra cá, que era também dentro do Líbano. E ele veio pra agricultura, mas depois seis meses em Igarapava ele resolveu exercer essa atividade. Já começou a constituir família, e tornou-se como um cidadão brasileiro praticamente.
P - Qual era a atividade que ele veio exercer?
R - Ele veio, inicialmente, pra agricultura. Passaporte só era permitido a receber estrangeiro dentro da agricultura. A não ser que viesse para uma atividade de cúpula, ministério e outras coisas mais em função do governo de lá. Então, veio pra agricultura, mas se adaptou melhor como comerciante, como mercador árabe antigo etc., né?
P - Ah, eu queria que o senhor contasse um pouco como foi a infância do senhor lá em Igarapava.
R - A minha infância foi uma infância muito melhor do que a infância dos meus filhos. Eu estudei relativamente bem. Só fiz cinco anos de ginásio, naquela época era ginásio de cinco anos, mas era um ginásio muito bem feito, austero, não sabia lição apanhava, tomava régua, régua de dez centímetros. E quando se queixasse também para os pais que apanhou, apanharia também dentro de casa. (risos) Então, tem uma passagem da minha infância, que existia aquele famoso rabo de tatu atrás da porta. Então, o rabo de tatu você conhece é um chicote, né. Existia esse chicote. E um belo dia meu pai mandou que eu fosse na marcenaria perto, ainda jovem. E eu saí, fui perambular, fui caçar de estilingue. Não sei se você conhece estilingue.
P - Conheço.
R - É o passarinho, pegar aquele marolo no mato, que é o que se chama Ticunha, não é do tempo de vocês também. E quando eu voltei minha mãe disse: "O seu pai perguntou por que é que, onde é que você estava, por que é que você não fez o que ele mandou." Então pensei: "Já vou apanhar." Mas cheguei e falei pro meu pai: "Ô pai, o senhor me desculpe e tal." Ele tinha mandado eu buscar um martelo. Eu me lembro como se fosse agora, numa oficina, marcenaria. Aí ele me disse: "Pega o rabo de tatu." Aí eu peguei, deitei na cama e ele dava tantas quantas chibatadas achava era de direito pelo castigo. (risos) Então eu falei: "Não, mas eu esqueci, pai." Ele falou: "Bom, você vai apanhar, porque você falou que esqueceu. Se você dissesse que não fez porque não quis eu não lhe bateria." (risos) Então tudo bem, daquela época em diante, nunca mais esqueci na vida, porque gravei bem. E tem também uma pilhera do turco, do árabe que esqueceu o dinheiro em cima do balcão. Você conhece?
P - Não.
R - Não? Não tem anedota, (risos) porque o árabe não esquece. Não existe anedota. Mas contando um pouquinho da minha vida lá, eu tinha uma vida boa. Em ginásio, nossa classe era mesclada, masculino e feminino. E nós tínhamos constantemente aquelas brincadeiras dançantes da época, no clube. Fazia brincadeira dançante na casa de uma menina. Fazíamos uns jogos, jogos eu fui um exímio jogador de basquete da região lá, por isso que eu tenho esse porte meio afilado. (risos) Mas fazia-se bolo, tinha sempre uma madrinha que dava um bolo. A gente ia, botava umas músicas do passado. Não é bem La Cumparsita, mas é algumas do Orlando Silva, outras do Nélson Gonçalves etc. Mas foi muito bom. Naquela época não tinha piscinas em clubes, mas nós tínhamos o Rio Grande, que corta e divide Minas com Igarapava, e a gente ia no sábado, no domingo, a beira rio. Fazia sempre aquele churrasquinho. E a vida, realmente, era uma vida mais pura, mais bem vivida, do que a vida atual. Não se discutia, não existia drogas. Se falava em esporte, em pureza e outras coisas mais. A minha infância foi boa e não arrependo do passado.
P - A casa do senhor. O senhor lembra como é que era a casa?
R - Lembro, perfeitamente. A minha... casa nós éramos seis irmãos que, quando... comigo ainda jovem as três irmãs casaram. Mas existe uma rua na cidade de Igarapava que parte dela é Capitão João Maciel. Era de um político tradicional lá da época e que foi prefeito e puseram o nome de Capitão João Maciel. E um segmento dela tem o nome do meu pai, Fiod Antônio. E eu tenho, redundando de seis filhos e três mulheres, nove.Eu tenho mais ou menos ah, não posso contar aqui, agora, mas uns 40 sobrinhos! Então, nós na área do arroz, trabalhava-se pra comer e pra tentar estudar os filhos. E nós estudamos. Eu tenho mais ou menos uns dez, 12 sobrinhos médicos, tenho aí engenheiros uns oito ou dez advogados, uns primos também.
P - Uma parte da família ainda mora em ...?
R - Mora em Igarapava e é muito grande lá. Meu sobrinho lá, um sobrinho meu é vice-prefeito, lá. Advogado mais renomado é um primo-irmão. O segundo mais renomado é um irmão meu, com 67 anos. Então todos ainda residem lá. Eu é que resolvi aventurar a vida aqui em São Paulo. Sempre tem aquele que pensa um pouquinho mais. Ou é também o oprimido pela vida difícil que se leva, porque naquela época era tudo difícil. Quando a gente queria um par de sapatos tinha que esperar o par de sapatos do irmão mais velho ficar velho, propriamente dito, pra você herdar e o pai dar um para o irmão mais velho. Então a gente punha cinco, seis meias-solas num par de sapatos. Terno nem se fala, né?
P - Antes do senhor falar de São Paulo, né, que veio pra São Paulo e tal... eu queria que o senhor falasse da época em que o senhor trabalhou com o pai do senhor lá em Igarapava.
R - Certo. Eu trabalhei, eu iniciei a minha atividade, não me lembro bem... parece que com 11 anos é que eu comecei a ser um foguista na máquina de arroz, um ajudante intermediário, mas procurando aprender.
P - O que é que era exatamente a máquina, senhor Romeu?
R - A máquina de arroz ela faz o arroz em casca, vem do produtor, ele em casca, digamos, em natura. E ele quando vem ele é colocado num secador, mas naquela época não, porque ele vem com uma umidade além do permitido. Naquela época não tinha secador. Então nós colocávamos o arroz num terreirão. Esse terreirão é igual hoje você passa o rodo no café, passava-se no arroz também. Com o sol quente do interior aquele arroz ia, ia secando pra pegar uma umidade em torno de 13 graus, que era o permitido. Mas quando ele vinha da lavoura, vinha em época de chuva, com 17, 18, 20 graus. E se ele não sofresse o processo de secagem ele entraria num estado de, de mofo. Ele passaria a mofar, a arder e outras coisas mais. Então teria que... Aí baldeava pra máquina. Existia um moegão, colocava o arroz naquela moega e ele entrava num processo de descascar, descascamento, digamos. É um descascador que tira toda a camada superficial. A primeira camada que é a palha. A palha tem de 20 a 21% da, do grão de arroz. Depois tem a segunda camada que é o farelo, que é o tegumento. Denominado tecumento. Esse farelo é meio oleoso, tira-se 10 a 11%. Depois sobra a camada final, que é o amido propriamente dito. Que é este que você consome, que eu consumo, que está aí na rede de supermercados para ser consumido. É o amido branco. Ali ele passa por um processo também de (uns triês?). (Triês?) são (tamborões?) que eles recebem um impulso, o tambor é meio inclinado e tem uns orifícios. O quebrado vai ficando naqueles orifícios e cai numa moeguinha, um quebradinho, outro quebrado maior, e sai o grão inteiro, de acordo com a nomenclatura brasileira. Nós temos uma portaria que rege o arroz. É a portaria 269. Essa portaria que classifica o arroz. Então nós temos hoje o tipo 1, tipo 2, tipo 3, 4, 5 e AP, Abaixo Padrão. O tipo 1 é o que está aí nas gôndolas. Se você comprar o tipo 2, ele é um pouquinho mais barato, mas a diferença tipo 1 e tipo 2 é o índice de quebrados. O tipo 1 é até a 10, o tipo 2 é de 11 a 20% de quebrados e assim sucessivamente. Mas a máquina de arroz é que faz o descascamento do produto e leva ele. Hoje, naquela época não existia, mas hoje existe o empacotamento do arroz, e algum maquinário mais moderno criado, principalmente, por umas grandes indústrias nossas aqui de Limeira, da cidade de Limeira, que hoje nós temos uma tecnologia bem avançada na hora, na área do arroz, em se tratando de beneficiamento, aprimoramento e levá-lo até à mesa do consumidor.
P - E o senhor começou trabalhando nessa máquina?
R - É, nessa máquina. Mas nós tínhamos fatos pitorescos. Primeiro, o arroz era... quando ele saía ele saía numa moega e vinha em sacos de 60 quilos. Então, nós chuleávamos a boca do saco, costurava bonitinho até o seu estágio final. Você conhece o saco de polietileno, de juta. Aí empilhava o produto. E não existia máquina de costura de saco de arroz naquela época. Então havia umas agulhas pontiagudas com o bico torto na ponta, quase igual a agulha de tricô etc., com os fios de meada, uns novelos grandes. E nós costurávamos.
P - O senhor mesmo costurava?
R - Costurava. O rato comia. (risos) O rato às vezes abria buracos no saco, né. Então, aqueles sacos que quando o arroz ia pra moega ensacado, ele vinha vazio para nossas mãos e nós preparávamos, eu, meus irmãos. Fazia até, eu sabia fazer remendos bonitos etc. Aí, eu já com 16 anos por aí, já comecei também a atirar o saco de arroz nas costas e colocar já na pilha de arroz pra ser enviado ao centro consumidor. Também trabalhei no pesado.
P - Como que esse arroz chegava para o pai do senhor? O pai do senhor produz este arroz?
R - Não. Naquela época, existia um fato até interessante que vale lembrar e deixar consignado no seu acervo aí. Naquela época não existia financiamento do governo - hoje, nós temos financiamento de custeio, de AGF (Aquisição do Governo Federal), de EGF (Empréstimo do Governo Federal), de Proagro -, não! Os produtores da Alta Mogiana eram elementos, imigrantes também, que vinham de outros países: espanhóis, japoneses, italianos. Então os produtores, naquela época, eram todos imigrantes e eles moravam na própria fazenda. Então eles já levantavam 5, 6 horas da manhã, já iam cuidar da lavoura, com conhecimento de causa, com interesse pela lavoura. Os funcionários que trabalhavam como peões nas lavouras, também moravam em colônias, em casas boas e tal. Então nós íamos buscar o arroz na lavoura, nós levávamos um caminhão, desse caminhão toco, antigo que levava uma balança dessa de cinco sacos pra pesar. Hoje é tudo diferente, moderno. Chegava às 3 horas da manhã, quando eles diziam: "Ó, mandaram avisar que..." Não tinha meio de comunicação, telefone, estradas ruins e a gente ia com os caminhões lá. Chegava os caminhões, 3 horas da manhã e começava a pesar o produto e colocar no caminhão e trazer. Então eu ficava de 3 e meia da manhã até 8 horas da noite baldeando. Cinco, seis viagens naquele caminhão pra trazer pra máquina, tudo. No outro dia já ia iniciar o processo de secagem.
P - Mas o que é que... qual era a sua função, exatamente, senhor Romeu?
R - A minha função dentro da máquina, muitas das vezes eu era balanceiro. Eu aprendi de tudo um pouco. Balanceiro pra tirar o produto, carregar é quando ameaçava uma chuva, carregar o produto do terreirão para o armazém da máquina, onde estava o beneficiamento. E a outra costurar os sacos também. E a outra ajudar assim numa conferência de entrada e saída do produto. Cuidar do farelo, porque o farelo era vendido para animais, pra ração. Então o farelo saía em dois bicos do (bronidor?) da máquina, porque é o (bronidor?) que tira o farelo, o descascador tira só a palha. Depois ele passa por um (bronidor?) e no (bronidor?) ele é (bronido?), quer dizer, tira aquela camada de 11% e que ele se transforma nesse amido branco que nós comemos, né. Então, eu tive vários segmentos na máquina, e procurava, também, tentava aprender um pouco de contabilidade porque eu não queria ser sempre um peão de máquina, né? (risos)
P - Seus irmãos também trabalhavam?
R - Trabalhavam. Todos trabalhavam. Uns estudaram mais, outros menos etc. Mas eu, quando vim pra São Paulo...
P - Com que idade? Desculpa, senhor Romeu.
R - Eu vim com 18 anos.
P - Ah, com 18 anos?
R - É, eu vim em 1940, 12 de fevereiro de 1940, e eu peguei um trem da Mogiana, à 1:15 da tarde na cidade de Igarapava e cheguei aqui, na Estação da Luz, às 10:25 da manhã do dia seguinte, num trem de segunda classe. Quando eu vim, eu vim com 500 mil réis no bolso para a passagem e para viver alguns dias até que começasse a trabalhar e ganhar alguma coisa. Meu pai me disse: "Olha filho, se você quer ir, você pode amanhã conquistar alguma coisa, porque aqui não está dando pra manter todos vocês aqui. Comer a mesa é farta, mas vestir, algum vício, alguma coisa, naquela época eu fumava. Meu pai tinha aqueles fumos goianos que era aquele fumão de corda. Ficava embaixo da cama dele. Então a gente cortava aquela tora de fumo, fazia aquele cigarrinho de palha, toda palha bonitinha que tinha em Jardinópolis, no Estado de São Paulo, tinha uma palha denominada palha tiberiana, que o sujeito fazia. Então a gente fazia aquele cigarrinho bonito. Tinha até, iniciamos com aquele isqueiro de pedra e de bater saía fagulha pra acender, depois veio aquele outro isqueiro de gasolina. E assim eu vim pra cá tentar a vida realmente. Fui, me instalei numa pensão com oito num quarto, pensão na Rua Marquês de Itu, 326, se não me falhe a memória. (risos) Instalei lá, tinha dois também da cidade de Igarapava que, como eu, foram pra lá. E eu procurei ir pra zona cerealista, que alguns comerciantes, dois ou três ou quatro que compravam o produto do meu pai, eles é... eu procurei eles pra fazer contato. A princípio eu senti uma certa relutância porque eles compravam de um atacadista que era meu pai, um maquinista, mais desinformado. Eles... eu senti que eles relutaram um pouquinho mas eu com um de perspicácia, habilidade, fui penetrando e consegui, então, em dois ou três meses já fazer uma corretagem ou outra. E tinha dois, três tios, também em Igarapava, que trabalhavam com arroz e também eles começaram mandar uma amostrinha pra gente vender e tal.
P - O senhor era uma espécie de representante?
R - É, eu fui, assim, um corretor volante. E visitando um, visitando outro e tal mas sempre procurando aprender, procurando correr e me atualizar. E ali eu fiquei na zona cerealista como um corretor volante, vendendo de um e de outro, uma espécie de representante de dois ou três da cidade de Igarapava, que seria o meu pai e mais dois, outros dois, percebendo uma comissão. Mas confesso pra você que seis meses pra mim foram muito difíceis, tinha época que, semana que às vezes a gente almoçava e não jantava, botava três copos de água na barriga pra não roncar e dormir porque não tinha realmente dinheiro no bolso. Quando a gente veio pra cá a gente fumava então procurava controlar o cigarro moderadamente para que não faltasse dinheiro para o bonde. Quando faltava eu descia da Alameda Itu, que era Alameda Itu, descia a pé pra zona cerealista, andava dez, 12 quilômetros pra economizar 500 réis do bonde, na época que tinha o bonde, né? Era mais bonde, né? E era realmente tudo difícil, mas a gente se adaptando devagarinho e chegamos a uma posição de no futuro abrir um armazém da própria firma e então aqui ficou um tipo de filial e a matriz na cidade de Igarapava com a razão social de Jamil Fiod e Irmãos, que era dos seis irmãos homens e o mais velho, então e eu também fazia parte, eu fiquei o gerente aqui e o cinco irmãos lá trabalhando.
P - Só uma pergunta ainda um pouco anterior. O senhor falou que seu pai chamava...
R - Fiod Antônio.
P - É isso que eu ia perguntar: ele nasceu no Líbano?
R - Ele nasceu no Líbano, é interessante. O Antônio significa Saad aqui na nossa... no Brasil. É aqueles nomes de guerra que adaptavam. O Fiod significava Faiade, então, Faiade Saad! Pra não... ficava meio destoante. Então adaptou-se o nome Fiod Antônio.
P - O senhor sabe o nome da origem da sobrenome da família?
R - A origem seria a família Saad, é uma família grande dessa cidade de Kafaraka.
P - É nas montanhas?
R - É, nas montanhas. Meu pai até dizia, quando ele contava aquelas histórias lá do Líbano, ele dizia que quando produzia melancia, aqueles riachos das montanhas descia gelado e a melancia (risos) quente, no topo do meio dia, mais ou menos, eles pegavam a melancia e colocava no fundo do córrego, e em meia hora, quarenta minutos eles olhavam aquela água cristalina, sem poluição, a melancia rachava, aí eles tiravam ela estava pronta pra comer. E o meu avô, ele emprestava os filhos para outros sitiantes em troca da comida. Emprestava os filhos pra outros sitiantes em troca da comida. Era difícil a situação e eles iam trabalhar satisfeitos porque ganhavam a comida, e também o sistema de alimentação era diferente e lá os climas, o clima montanhoso, as manhãs eram frias e o topo do dia meio quente e lá não tinha almoço, jantar como nós temos aqui. As mulheres faziam aqueles pratos de lentilha, de trigo e colocavam naquelas cumbucas de barro e ficava lá. Quando terminava uma, fazia outra, colocava, um tinha fome, ia comer e aquela coisa. Tudo num sistema completamente diferente do trivial aqui, almoço, janta, café da manhã e outras coisas, né? (risos)
P - O senhor poderia contar mais um pouco do casamento, o senhor falou que a sua mãe nasceu aqui mas foi para o Líbano?
R - É, minha mãe nasceu aqui, e foi para o Líbano com os pais dela e depois ela voltou com 16 anos de idade, casada, e meu pai ao que parece tinha vinte... 21 anos e voltou. E aqui já tinha uns patrícios de mais idade que já estavam... ao sistema brasileiro, minha mãe dizia que ela ainda dormia com uma boneca que ela ganhou aqui (risos) de uma patrícia mais velha, porque ela tinha 17 anos, ainda inexperiente e tal. E ali iniciou criando a família, minha mãe até os 75 anos de idade, não tinha, nós tínhamos uma empregada que colaborou na nossa vida, no nosso crescimento, o irmão dela trabalhava na máquina de arroz com meu pai e ela trabalhava com minha mãe. A máquina de arroz é aqui, a residência é aqui, dividia por alpendre, aqueles casarão antigo, que a casa ainda está lá pra quem quiser ver. (risos) Então foi uma vida de luta dura, mas minha mãe viveu até 83 anos, bem lúcida etc. e morreu de uma trombose. Meu pai faleceu com 75 anos, com um enfarte, ainda estava falando pra vocês que isso é genético na família, né. Mas, é uma vida completamente diferente, aqueles patrícios, os árabes, aqueles dez, 15 da mesma época, da mesma cidade ao fechar as máquinas de arroz, a máquina ou seu estabelecimento, cada um tinha sua dedicação comercial, eles reuniam na casa de um. Então, naquela época comia-se muito ovelha ou carneiro e eles faziam a ovelha na casa de um, bebia, não tinha, não bebia cerveja, era mais a pinguinha feita do alambique do amigo, aquela boa, né? Então eles faziam assim um ritual de comida depois das 4 horas até 11, meia-noite, lembrando o passado, recebia algum jornal do Líbano e tinha sempre aquele mais intelectual que lia, então eles sentavam e liam aquelas revistas, jornais pra eles atualizarem do que estava se passando realmente na terra deles. Então era como um ritual do Alcorão, ficava todo mundo sentado, e um lendo, depois aí vem a palavra (lida?), a discussão entre eles, (risos) era assim, mas havia muita pureza. Na minha infância, e eu vim pra São Paulo em 1940 como já disse, mas na minha infância e aqui em São Paulo eu nunca deixei de ir para Igarapava, nunca passei um mês sem ir pra lá.(fim da fita 009 / 01-A) Porque nós tínhamos atividade comercial conjunta, matriz e filial, mas eu ia pra Igarapava quinzenalmente, pegava um carro aqui, chegava às 9 horas da noite, depois que fechava o estabelecimento, jantava, tomava banho, a gente ia pra lá às vezes chegava às 5, 6 horas da manhã dirigindo a noite inteira. Chegava lá, fazia tudo que tinha que fazer, depois a gente ia pra um recanto de pescaria que os irmãos tinham lá, dava peixe naquela época, o rio não era poluído, e a gente comia um peixe lá à noite, tudo na maior harmonia. Agora, na casa de meus pais, meu pai sempre foi muito aberto a receber visitas, minha mãe foi sempre uma... em arte culinária, era uma das primeiras na cidade com aqueles pratos árabes etc. Existia aqueles políticos antigos também, então havia aquela confraternização: "Passa lá!" E já vai na cozinha, o café, o fogão a lenha, aquele bule grande de quatro, cinco litros tá sempre em funcionamento, sempre tinha lá um doce, sempre tinha um quibe, sempre tinha uma esfiha, sempre tinha alguma coisa pra se comer, então eles reuniam, era uma época completamente diferente e que dá saudades.
P - O seu pai falava árabe em casa?
R - É, o meu pai falava. Interessante, eu não aprendi o árabe. Eu tenho uma filha que, uma irmã, digo, que estudou aqui no colégio Sírio Libanês. Na época, é aqui na Avenida Paulista, elas lá tinha tudo, aprendia canto, a língua árabe, e essa irmã que era das três a mais nova, ela aprendeu o árabe e ela até, na cidade, passou a ser tradutora para os demais e depois ela mudou-se, casou-se e foi pra Paranaguá, no Estado do Paraná e lá ela constituiu também a família e ela também passou a ser tradutora, lá pro pessoal em Paranaguá, da língua árabe. Mas eu, pelo fato de ter saído com 18 anos, meu pai também nunca obrigou. Porque, naquela época, em qualquer raça eles obrigavam que casasse com gente da mesma família, da mesma raça etc. Meu pai nunca obrigou, meu pai sempre, eu tenho os três irmãos, as três irmãs casaram com descendente de árabe, as três irmãs, mas os seis irmãos casaram tudo com brasileira, portuguesa, espanhola, inclusive eu. (risos)
P - Quando que o senhor casou?
R - Eu me casei em 1951, pela primeira vez, ali, me casei no Brás mesmo e fiquei conhecendo a primeira mulher, porque sou casado duas vezes.
P - Como ela se chamava?
R - Ela chamava-se Laura Santaella Fiod. Laura Santaella porque é descendente de espanhóis, e os pais eram comerciantes na zona cerealista também. E eu tinha armazém lá por perto, e tinha a Igreja São Vito, que promovia todas essas festas bonitas. Mas as festas da Igreja São Vito eram outras, hoje não, hoje tem lá uma quadra e não tem mais nada. As festas tinham quermesse, tinham procissão de São Vito, tinha uma série de coisas que chamavam realmente a atenção. Então num correio elegante, aquela história do antigo, escrever um verso bonito: "Não quero amá-la e amo com loucura." né? (risos) E aonde eu me embarquei, mas vivi bem, tive uma filha com esse primeiro casamento e com cinco anos e meio acabei desquitando, por motivos óbvios, não deu certo mais e aí fiquei três anos e meio desquitado, trabalhando, dentro de uma luta meio difícil, minha filha eu levei para o interior, dentro de um acordo com a mulher, deixei lá com a minha família em Igarapava, ela foi criada até os oito anos, de dois anos e meio até os oito, e nos oito anos de idade eu me casei pela segunda vez e eu trouxe então a filha pra ficar com a gente, fim de semana deixava com a mãe e de segunda a sexta ficava comigo.
P - Como chama a sua filha?
R - Minha filha chamava-se Sônia Maria Fiod.
P- E a sua esposa?
R - A minha esposa, a atual, chama-se Genoveva Soares Fiod. E a minha filha até... não criei com complexo, criei muito bem criada. Ela era muito inteligente, fez o Colégio São José, na Rua da Glória, depois ela fez o vestibular na USP, passou em comunicações, ela fez comunicações e trabalhou em alguns órgãos do governo, até naquele (Cenafor?), não tem um (Cenafor?) aqui perto, no Bom Retiro? Não sei se foi destituído o (Cenafor?), e hoje ela tem uma empresa de eventos e comunicação, de marketing, ela e o marido, o marido também administrador, é administrador de empresas, Getúlio Vargas, então tem uma vida boa, eu tenho uma neta com 19 anos e tenho um neto com 11 anos e tenho um filho com a segunda mulher que também é engenheiro eletrotécnico da USP, trabalhou na Brown Boveri, na Rhodia, fez estágio na Suíça, tem dez anos de inglês, tem administração de empresas no Mackenzie, depois entrou esse processo econômico nosso difícil naquela época de que essas multinacionais começaram a ficar desativadas, parece a época de Figueiredo e Sarney, então ele, que nunca quis trabalhar com arroz na vida, então quando ele saiu disse: "Pai, eu estou trabalhando por 700, por 800 dólares e não tem... ali se crescer, cada quatro anos por um mérito, e tal." Então eu disse: "Você quer, você não quis, em outra época, trabalhar com arroz enquanto meu escritório estava no apogeu, mas se você quiser ainda é tempo." "Muito bem", ele falou, "eu vou topar a parada". Então, arrumei uma cooperativa do Rio Grande do Sul e ele fez um teste, foi aprovado, está há três anos no arroz, está satisfeito, está trabalhando com muito interesse, dentro da área do arroz, vive bem, é casado, tem dois filhos, mora perto de mim, e assim a gente criou a família, cumpriu a missão.
P - Eu queria que o senhor voltasse um pouquinho, no que a gente estava falando sobre quando o senhor chegou aqui em São Paulo. O senhor falou que trabalhou como uma espécie de representante. Quanto tempo?
R - De representante, por algum tempo, depois é... por força das circunstâncias, os irmãos disseram: "Não, vamos abrir uma firma etc." Mas, aí nós abrimos uma firma, se não me engano foi em 1940, depois abrimos essa firma, passou de trinta e seis. Em 36 existia a Firma Jamil Fiod e Irmãos e nós abrimos a filial em São Paulo. Era na Rua Ceres, número 309, deve estar aí nos seus apontamentos. (risos)
P - Todos os irmãos eram sócios?
R - É, todos os meus irmãos, naquela época era todos por um, um por todos! (risos) Era uma coisa boa e hierarquicamente, respeitava. Eu fumava e não fumava na frente do irmão mais velho, era uma coisa gostosa e hierárquica. Hoje não, hoje está tudo esquisito. (risos) É a mesma coisa do que hoje ver uma mulher de tanguinha e ver uma mulher da época com vestido abaixo do joelho. (risos) A pureza! Então, depois nós abrimos a Firma Jamil Fiod e Irmãos, na Rua Ceres 309, explorando também o ramo de cereais como filial de Igarapava.
P - Como é que era esse armazém?
R - Esse armazém era um armazém para distribuição do produto. Vinha o produto de Igarapava via férrea, naquela época era por estrada de ferro, tem até Estação do Pari lá, tinha até na Rua Santa Rosa, que você teve lá, tinha até um terminal também que descia no Largo do Pari, aquele carvão pra fazer o gás na esquina do gasômetro, não sei se você chegou a ver lá aqueles tamborão na esquina da Rua do Gasômetro. Aquilo era levado por dois vagões de trenzinho, o dia inteiro, que saía do Largo e passava na Rua Santa Rosa, apesar da Rua Santa Rosa ser a rua de grãos em alta escala. A gente fala Santa Rosa e mais adjacências, a Rua Assunção, Álvares de Azevedo, que hoje é Polignamo A Mare, a Rua Mendes Caldeira, e outras confluências da Rua Santa Rosa, então nós recebíamos o arroz, vinha na sua maioria na estrada de ferro, em vagões, ele era... quando o vagão chegava a estrada de ferro avisava por um conhecimento, nós íamos e liberávamos pagando o frete e já dava pros carros a burro, tocados a burro, eram umas carrocinhas tipo daqueles dos tempos pré-históricos, (risos) elas não eram grandes mas eram com seis burros puxando e eles davam 30 viagens, 40 viagens, daqueles vagões até o armazém e voltava e descarregava.
P - Isso quantas vezes por semana?
R - É, nós recebíamos vagões quase todos os dias.
P - Quando o senhor fala cereais, seu Romeu, mas era só arroz?
R - A especialidade maior e que dedicávamos mesmo era o arroz, mas depois começamos diversificar, passou-se um pouco para feijão também, passou-se um pouco, naquela época o Estado de São Paulo era um grande produtor de gergelim, essa semente oleoginosa que hoje... existia muito óleo de gergelim, mas hoje já não existe mais, muito pouco, o gergelim quase que é aplicado nos doces árabes, pães, e hambúrguer, cheesburguer, tem sempre aquele gergelim. Então vendia-se muito daquilo para indústrias de óleo de gergelim, mas 90, 95% da nossa atenção era para o arroz, realmente, que nos tornamos especialistas em arroz. Naquele tempo não tinha arroz em pacote, o arroz era todo vendido em sacões de arroz de 60 quilos, e ele era conduzido para as feiras. Existia as feiras livres, porque a cidade ainda era pequena e as ruas mais a vontade, então vendia... os feirantes faziam a feira até à 1 hora da tarde, meio-dia, das 5 da manhã e depois às 2 horas aquele fluxo grande de compradores de cereais lá na zona cerealista, na Santa Rosa, então eles lotavam os caminhões: arroz, feijão e outras coisas e vendia tudo na concha, tinha feirante que vendia seis, sete até dez mil quilos de arroz na concha. Era trabalhoso, os feirantes maiores, naquela época, eram portugueses e japoneses Os japoneses, vindos de Okinawa, aqueles japoneses mais agricultores, eles eram feirantes. Depois começou em 1956, cinqüenta e sete... cinqüenta e oito... começaram a aparecer os primeiros supermercados de periferia, que eram familiares, essas japonesas foram saindo da feira e abrindo lojinhas pequenas de supermercado, uma filial às vezes, no futuro até duas e aí começaram os gigantes a proliferar, que hoje nós temos toda essa rede aí grande de Carrefour, Makro, Pão de Açúcar e outras tantas mais que aí...
P - Pra esses pequenos supermercados o senhor vendia também?
R - Vendia também, vendia porque o... 70% dos feirantes na maioria eram japoneses e naquela época a gente trabalhava mais era com dinheiro, não tinha quase cheque, os bancos eram centralizados na Rua XV, Rua da Quitanda, por ali. Então, nos bairros não tinha bancos, começou a aparecer. O primeiro banco foi o Itaú, em 1948, na Rua Santa Rosa, eu fui um dos primeiros a abrir conta no Itaú, e tenho conta até hoje por tradição, porque não aboli a conta lá. E começaram. Então, era tudo com dinheiro e a gente, por incrível que pareça, falando, às vezes vocês jovens podem até não acreditar, mas a gente deixava o dinheiro num gavetão (risos) e três, quatro, não tinha inflação, três, quatro dias assim, e duas vezes por semana ia um chapa, quer dizer, aquele descarregador carregava o saco de dinheiro pra gente, subia a Ladeira Porto Geral e ia depositar no Banco Holandês Unido ou no Banco de Crédito Real, ou no Banco de Minas Gerais, ou Banco de São Paulo. Chegava lá, você punha aquele dinheiro, os caixas pegavam. Quase sempre dava certo, não tinha aquela malandragem de você virar as costas, surrupiou, nada disso, era coisa feita assim, bonitinha. Eu almoçava num restaurante árabe, na Rua Basílio Jafet, anexo à Vinte e Cinco de Março, pra depois subir pro banco, que às vezes ia fazer uma operação bancária. Eu almoçava, comia uma comida árabe e subia. Naquela época a gente comprava vale pra almoçar lá até 30 dias, então você comprava e ele dava um desconto e você ficava com vale 30 dias pra almoçar, o dia que não ia, também com 32 dias, não tinha problema. Um dia eu levei um pacote de dinheiro, tudo bem contadinho, embrulhado, existia um garçom lá, árabe também, chamava-se Alexandre e serviu: "Ô... pá, pá, e tal" E eu deixei o pacote na mesa e com um envelopão também. E depois, ele ainda brincou: "É dinheiro? O senhor já vai pro banco?" E eu falei: "É, é dinheiro e eu já estou indo pro banco." "É, vou passar a mão nesse dinheiro, vou fazer um vale com você!" Aquelas brincadeiras. Então, acabei de almoçar, peguei o envelope, subi a Ladeira, quando eu estou chegando no banco me lembro que esqueci o pacote do dinheiro. (risos) Voltei, apareci na porta o Alexandre (risos) me entregou o pacote de dinheiro, não tinha aquela preocupação. Mas você fez uma pergunta e eu pulei a sua pergunta. E nós tínhamos Jamil Fiod e Irmãos, na Rua Ceres, número 309, depois nós demos baixa em Jamil Fiod e Irmãos. Naquela época, a cada três, cinco anos dava-se baixa numa firma, abria-se outra, tinha aqueles problemas fiscais, que sobrava coisas do passado, fiscalização amolava, então punha-se uma esponja no passado e recomeçava uma vida nova. Depois nós passamos, é... pulamos para a Adib Fiod e Irmãos, que era firma em seqüência à Jamil Fiod e Irmãos, mas todos os irmãos.
P - Sempre no mesmo lugar?
R - Sempre no mesmo lugar. Não! O Adib Fiod e Irmãos ainda foi na Rua Ceres, depois eu pulei, três, quatro anos depois eu pulei para a Rua Álvares de Azevedo, número 77, num armazém mais amplo porque a firma cresceu um pouco, o fluxo já de beneficiamento lá na matriz nossa era maior e a gente já havia conquistado um mercado com um produto bom. Meu produto, apesar de ser produto de saco de 60 quilos, mas ele tinha uma marca, naquela época já tinha, era a marca Imperial, era bem famoso e eu, modéstia à parte, mas ainda sou famoso do passado em torno do arroz Imperial, eu conquistei o mercado durante 27 anos com padrão de arroz em saco.
P - O senhor tinha produtores exclusivos?
R - Tinha produtores, naquela época os produtores que forneciam pra nós eram esses de imigração. Mas eles cuidavam da lavoura com muito carinho e eles, também, quando eles levavam para plantar na próxima safra o meu pai fazia uma seleção de sementes pra eles, sempre aprimorando num tamborão, num (triê?) pra ficar a semente sempre grande, homogênea, aquela mais compacta, pra ele plantar sempre o melhor e conseqüentemente uma melhor qualidade na sua colheita. E assim acontecia, os produtores traziam. Então havia também a maneira de financiar o produtor. Existia os armazéns de secos e molhados, o produtor vinha no sábado, na sua charrete, na sua carroça, pra levar mantimentos pra fazenda, então meu pai dava a garantia para o armazém de secos e molhados durante o plantio, toda a fecundação da semente, a rama crescendo até o arroz entrar, desculpa, no processo de cacheação, ele, o produtor era amparado por um endosso moral junto ao armazém de secos e molhados pelo meu pai, pela nossa firma. Então, quando ele colhia o produto, ele levava um bornalzinho com a amostra do produto. E esse bornal, meu pai fazia a seleção: "Muito bem, o mercado tá assim, eu te pago tanto, mas você fica no direito de procurar os outros comerciantes de arroz pra ver se o que eu estou fazendo está certo ou errado." Então ele procurava uns dois ou três. Quando havia uma leve discrepância do preço, do outro ser maior do que o do meu pai, preço a preço, ele entregava para o meu pai, fora disso ele entregava pra outro, mas na maioria das vezes nós nunca deixávamos de também acompanhar o preço como bom ou como mal negócio. Ao receber o produto, o primeiro ato é pegar aquela caderneta do armazém de secos e molhados, naqueles quatro meses de plantio, somava tudo e muito bem. Primeiro, meu pai pagava o armazém de secos e molhados e, em seguida, fazia a conta do produto dele e dava o restante pra ele sob todas as circunstâncias. Era uma coisa pura, sem documentos, sem nota promissória, sem cheque pré-datado, sem cartão de crédito, mas tudo funcionava maravilhosamente bem. Aí prosseguindo nós fundamos a firma depois, a de Fiod e Irmãos que eu já disse, depois em 1952, se não me falha a memória, fundamos a Firma Irmãos Fiod Ltda., e a Firma Irmãos Fiod foi até 59, 1959. E em 1959 nós demos baixa na Irmãos Fiod Ltda. e passamos a Cerealista Igarapavense Ltda., cuja fotografia está estampada até o nome, por ocasião da inundação de 68, está em sua mão, né?, depois você vai... E com, nós fomos então até 74 com Cerealista Igarapavense Ltda.
P - Fala um pouquinho da Cerealista. O senhor me mostrou uma fotografia da inundação, conta um pouco a história daquela foto.
R - A história da inundação... Nós tínhamos... em 1958, iniciou a primeira inundação na zona cerealista. Com esse fluxo de asfalto, de residências, a água não suga, não é sugada pela terra, a água normalmente acumula um índice pluviométrico - que fala né?- maior, conseqüentemente, a água ficava estagnada lá. Então todos os armazéns, nós fizemos estrados pra cinco sacos, alto, que quando a água entrava até ela abaixar não atingia o saco em si. Mas depois veio a inundação de 1968. Essa choveu sete, oito dias consecutivos e nessa de 68 a água chegou a um metro e 80 em toda a zona cerealista! E quando a água estava subindo, foi no dia 25 de Janeiro, feriado acumulado de fim de semana de 1968. E a água foi subindo, a gente ali no armazém e eu morava na Praça São Vito, minha residência, e não tinha condições. Tinha um bar pegado ao meu até, até umas poucas horas, por volta de meia noite, 1 hora, a água por aqui, mas o bar ainda dava um pedaço de pão com mortadela pra gente, mas depois, nada disso. E, conclusão: a água começou a subir, a gente dentro do estrado, a água corria a 20, 30 por hora naquela Avenida Senador Queiroz, que saía da Avenida Mercúrio e corria ali. Absurdo! Aquela água contaminada, suja de óleo, todos esses detritos de armazém do ABC, porque ela vinha de lá, o Tamanduateí começa lá, né? E as coisas foram... três dias nós ficamos ilhados lá dentro, um problema danado, foi a pior inundação, todos os armazéns daquela região perderam em torno de 70% dos seus produtos armazenados.
P - E não era possível secar esse arroz depois?
R - Não, o arroz molhou, ele não tem mais condições, porque ele arde, ele incha, ele fica com um sabor desagradável, embora possa ser próprio para consumo humano. Mas ninguém ousa, por exemplo, pegar assim o produto que já sofreu a contaminação e etc., não era brincadeira! Então, nessa inundação, ela foi catastrófica, foi absurda! Inclusive, eu acionei a prefeitura pelo que... peguei o serviço sanitário da prefeitura, me deu um laudo, com perícia, acionei a prefeitura, eu ganhei a demanda contra a prefeitura, mas quando eu ganhei, depois de 11 anos, naquele tempo não tinha correção monetária e eu entrei com ação dentro da correção monetária, quando eu fui receber não dava pra ir no Fórum. Falei pro advogado: "Você fica." O advogado era meu primo, então: "Você fica com o valor." Valeu, satisfez o ego de ter ganho a demanda, né? Mas foi realmente difícil. Tem um fato pitoresco nessa inundação que eu, nós tínhamos um rancho de pescaria, lá na cidade, na barranca do Rio Grande, lá em Igarapava e o rio lá, sempre nesta época de chuva, dava um pouco dessas cobras grandes, o sucuri, porque naquela época não era hoje, tornou-se represa depois, mas a água era de rio corrente e, de vez em quando, meus irmãos armavam a rede de pescaria com o caseiro lá do rancho e às vezes pegava o peixe, mas o sucuri ia abarcar o peixe e ele se emaranhava na rede e ficava. Tinha um sucuri que ele pegaram na rede e mandou pra mim dentro de um engradado, em cima do caminhão de arroz. Uma cobra dessa grossura (risos) pesava 59 quilos, dava sete metros, coisa absurda! Então ela ficou lá no armazém como ponto de atração (risos) e eu... Passava o pessoal e: "Você sabia que tinha sucuri?" E aquilo era o armazém, era uma maneira de divulgar sem mídia, né? (risos) Conclusão: esse sucuri ficou lá um tempo, depois veio um outro sucuri, menor, de quatros metros e pouco, esse eu doei pro zoológico, esse grandão porque ele estava com dois meses e sete dias, uma coisa assim, sem comer. Ele fica raivoso e não come. Também não punha nada, porque ele não come, ele gosta de ele caçar a presa, e ele estava ficando meio mole, eu doei pro zoológico, o zoológico deixou ele lá, queria até me dar um macaco de presente, então (risos) que é que eu ia fazer com um macaco? Mas eles trocaram com a Alemanha em troca de cisne, né? (risos) Nós enviávamos (risos) cobra pra Alemanha e a Alemanha mandava cisne pra nós. Mas a outra cobra teve um final infeliz, ela estava lá na época da inundação, e por incrível que pareça, saiu até naquele jornal Notícias Populares que existia, hoje até nem sei se existe mais esse jornal, ele era aquele jornal que você aperta e pinga sangue, né. Então ele tirou a fotografia e depois intitulou a cobra morta como boneca, pôs a cobra denominada boneca, faleceu dentro, afogada na inundação, fez uma primeira página bonita e, realmente, a cobra faleceu porque ela estava dentro do engradado e a água cobriu um metro e 80. São fatos da história, ou do passado, né? E, em 1974, os irmãos também deixaram de... já também um pouco cansado, um já tinha diversificado lá pra uma fazenda, o outro exercendo a profissão de advogado, o outro também tinha dispersado e nós fechamos a firma em 1974. Essa firma era a Cerealista Igarapavense Ltda. Dali, então, eu fiquei um corretor ambulante (riso) e, trabalhei dois anos com uma firma de Pelotas, gerenciando São Paulo, filial de São Paulo.
P - Um atacadista também?
R - Um atacadista, que tinha matriz em Pelotas e eu era o gerentão aqui.
P - Nessa em Igarapava...
R - Não, em Igarapava nós demos baixa, parou em Igarapava, mesmo porque tem uma história que, é... aquela zona parou de ser produtora de arroz e, então, diversificaram pra cana, pra algodão, pra laranja, e aquilo veio café, e veio vindo e o arroz passou pra essas zonas de fronteira agrícola, vamos dizer, a longa distância: Mato Grosso, Goiás, esse arroz de sequeiro. E entrou, então, essa semente de arroz agulhinha que é essa que hoje está imperando, dominando o mercado, via Rio Grande do Sul (Final da fita 009/02-A) e o Rio Grande do Sul aprimorou a semente, que eles tinham três, quatro tipos de semente que era um arroz que empapava, não ia de acordo com o paladar da dona de casa (risos) brasileira. Esse arroz então, o Rio Grande do Sul foi diversificando essas sementes, essa semente era denominada Blue Rose, a outra chamava 404, 405, 406, é uma semente bonita, mas ela empapava um pouco, como nós estávamos acostumados com um arroz bom, de sequeiro, da Alta Mogiana, Goiás, não adaptávamos e o Rio Grande atravessou essa semente, que é uma semente lá do Vale do São Francisco, de Houston, Texas, veio pra o Uruguai, o Uruguai plantou essa semente, deu certo, é irrigada, é uma semente precoce, do plantio até e colheita são 120 dias e é... uma falta de arroz no período de entressafra, nós trouxemos a semente pra cá já beneficiada do Uruguai e a semente foi... proliferou aqui, foi dando certo e o Rio Grande do Sul, de 75 pra cá, aperfeiçoou essa semente. E hoje nós temos um excelente arroz, um dos melhores do mundo, um dos quatro melhores do mundo, é o nosso produto do Rio Grande do Sul. O Uruguai é muito bom também, o da Argentina é quase semelhante, porque ali estamos grudados quase pelo cordão umbilical dentro do cone sul e, finalmente, esse arroz tomou conta. Hoje, o Rio Grande do Sul é detentor de uma safra de 4 milhões e 500 até 4 milhões e 800 mil toneladas, dependendo das condições climáticas que se oferecerem no período de plantio até a colheita. E, em seqüência, esse arroz foi indo, conquistou o mercado brasileiro, o arroz sequeiro tá desocupando espaço em favor dessa semente irrigada, que é o arroz agulhinha, mas ela depende muito da topografia para plantio. Aqui, em Mato Grosso e Goiás, o plantio da agulhinha é muito pequeno, já têm algumas cooperativas desenvolvendo as sementes e nós acreditamos, nesses sete, oito anos, alcançar a nossa produção de arroz, com quase todo ele irrigado a exemplo de outros países, mesmo países subdesenvolvidos: Tailândia, Paquistão, o Vietnã, a Índia, todos eles produzem até, vamos dizer, China também, Japão, países subdesenvolvidos produzem o produto irrigado. Então, de 79 pra cá, o governo, com esses empréstimos de governo, esses custeios agrícolas, essa coisa, essa política de produtor pagar imposto sobre aquilo que produz, um saco de arroz hoje, por exemplo, acabou de colher ele já é onerado de 23 a 27% de imposto, então se colhe mil, 250 sacos vai para o governo, vai ser diluído aí, nós sabemos nem como, mas estamos pagando, é quando o mesmo não acontece às vezes em outro país, em outros países que estimulam o outro produto.
P - Depois de trabalhar nessa empresa do Rio Grande do Sul, o senhor voltou a abrir um negócio?
R - Depois que eu trabalhei vem a... vem a penúltima etapa e eu trabalhei também, eu sai dessa empresa, parece que foi em 77. Aí eu abri um escritório na Rua Santa Rosa, 262, sala 1, e esse escritório eu também me registrei, abri uma firma como representante comercial autônomo no (Consesp?) e eu continuei dentro da corretagem de arroz.
P - Isso era dentro da Bolsa de Cereais?
R - Não. Ah, também na época da Bolsa como associado e etc., isso em 77, também fazendo parte integrante da Bolsa, em reuniões também, mas não muito ativamente porque se você cuida e apaixona por uma coisa, depois você vai esquecendo seus afazeres. Então naquela época existia aquela volúpia, interesse de luta pra ganhar, pra tudo, a gente se preocupava muito com o futuro, hoje não se preocupa muito, né? (risos) Então também com o escritório eu dei assessoria pro Grupo Pão de Açúcar, trabalhei pro Grupo Pão de Açúcar dando assessoria sete anos a nível de Norte, Nordeste, e eles tinham uma usina de arroz, porque lá no Maranhão, o nome é usina, no Rio Grande Sul é engenho de arroz, no Estado de São Paulo era maquinista de arroz, máquina de arroz, então, cada setor adota um nominho de guerra. E eu ia pra Bacabal, no Maranhão, já descia em São Luiz, pegava o vôo 282 às 6:30 da manhã, lá em Congonhas, chegava com três, quatro, cinco escalas às vezes, até 1:30, 2 horas da tarde, de lá pegava um automóvel, ia Bacabal, dava assessoria a essa usina de arroz, empacotava o arroz lá, tudo sob a minha tutela, esse produto era enviado pra lojas do Pão de Açúcar, a nível de Norte e Nordeste, e lá também tinham desativado um pouco o produto, o arroz, o incremento de plantio de arroz no Maranhão, tornou-se mais pecuária e outras coisas. Então, pra gente sobreviver eu levava arroz de Goiás, o arroz andava de Goiás 1.600, 1.700 quilômetros pra chegar em Bacabal. Aí eu descobri a Jari do (Ludwig?), lá no Amapá, que é aquele empresário americano que abriu aquele projeto Jari, onde tem a celulose, onde tem o (Karl Lee?) e tinha lá o núcleo de arroz, chamava Núcleo São Raimundo, e eu ia pra Jari comprava arroz lá dos americanos e levava pra Bacabal, no Maranhão. E assim a gente lutou muito, conheci através do Pão de Açúcar, que prestigiava muito o seu assessor, no caso era eu, para o produto arroz. Eu também conheci Norte, Nordeste, conheço de tudo o que se teve por lá em torno de agricultura do passado, e até do presente. Foi muito gratificante esse período, porque a gente pegou o país de Norte a Sul, Leste a Oeste, né? Mas depois eu cansei de viajar e pensei, falei: "Vou dar uma parada." Porque dava um aniversário eu tinha que estar em viagem, uma data aí mais destacável e tal e minha mulher e meu filho: "Ah, pai, também você fica dez, 15 dias por lá." Então aí eu falo: "Mas eu estou ganhando um dinheirinho pra sobrevivência de vocês aí, mas tudo bem!" (risos) Aí eu resolvi, também a idade, também veio pesando, resolvi, parei. Em 80 eu fiz um curso de classificação no Ministério da Agricultura, então, hoje eu sou classificador pra quatro tipos de grãos: arroz, feijão, soja, milho e amendoim, no Ministério da Agricultura, classificador oficial. Depois, de 81 em diante, eu fui, até 87, aí eu resolvi desativar a minha representação, eu fui tocando um pouco avulso. Mas eu me meti na política da Bolsa de Cereais de São Paulo e resolvi ser vice-presidente, o meu anseio foi conseguido e passei, a nossa chapa ganhou e, por azar, por azar o nosso presidente teve uma doença incurável, acabou dois, três meses no hospital, faleceu e eu tive que assumir a presidência da Bolsa de Cereais de São Paulo e acabei então ficando dois anos e sete meses na presidência e desenvolvi bons trabalhos na Bolsa. Eu concebo serem bons, não sei. Mas também aí então comecei fazer, aprofundar mais no arroz e em alguns grãos porque às vezes o presidente tem que falar sobre outras coisas, né?, e peguei então o arroz e passei também a ser, terminei a minha gestão, e botei um candidato dentro de uma chapa, consegui colocar o candidato e tal. Mas eu ia ficar só um mês (risos) com esse candidato, e acabei então uns três anos com ele (risos), com uma dependência lá na Bolsa, me deram uma sala, trabalhando por hoby e gratuitamente, esqueci um pouquinho os meus afazeres, mas fazia algum negócio de cúpula, até então, depois fiquei também, representando São Paulo em Bolsa, na Câmara Setorial, em Brasília, na área do arroz e fazia também a mídia, a Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, ainda faço semanalmente, a gente está aí na Gazeta, na Folha, no Estado de S. Paulo. Eu ia pro Sul às vezes, ia em algum simpósio, dá alguma palestra, alguma coisa dentro do meu metiér, mas acabei ficando três anos lá. Saindo da Bolsa, parece que foi em 91, aí eu fui pra uma outra firma no próprio prédio da Bolsa, na Avenida Senador Queiroz, 605, 5º andar, sala 513, às suas ordens, (risos) se quiser comprar arroz estamos lá ou aparecer como uma visita, também estamos lá. E ali eu estou desenvolvendo uma comercialização de arroz, mas, assim, a nível de cúpula, não fazendo, por exemplo, assim muito pulverizado, um caminhão daqui, uma carreta dali, às vezes eu pego um importador, ultimamente, eu estou trabalhando mais com arroz importado, pego um importador e a gente consegue, quando chega um navio, trabalhar um percentual do produto chegado, mas trabalho muito, gosto de trabalhar, é meu hobby trabalhar e deixei dentro do meu testamento que, quando eu morresse não pusesse flores e jogasse arroz, (risos) não seria um casamento, mas seria um féretro. (risos) Então é, mais ou menos, essa a minha vida, com 72 anos, passando para 73, ainda querendo trabalhar um pouco mais.
P - Qual é o seu projeto pro futuro?
R - Olha. Eu tive... O meu projeto no futuro é não sair do metiér. Primeiro, se eu seguisse os passos da família: "Ah, você deve... há uns três, quatro, cinco anos atrás, deve se aposentar." E eu dizia: "Mas aposentar, depois eu vou ficar subindo elevador e descendo, trazendo uma caixa de fósforo pra minha digníssima esposa e buscar lá meio quilo de carne e buscar alguma coisinha e eu ficaria inativo. Então, hoje eu estou em franca atividade dentro do metiér cerealista, eu sou um homem que, praticamente, em muitas coisas sou bastante consultado e vivo no meio de jovens, no meio de pessoas de meia idade e no meio de pessoas de idade avançada. Então eu sigo todos esses segmentos e hoje isso pra mim é uma terapia e talvez prolongue um pouquinho a minha vida, porque eu faço coisas diversificadas e a todo instante você, dentro do ramo, vai criando alguma coisa pra aperfeiçoar, pra aprimorar e etc. Então faço parte de algumas agremiações, eu sou também tesoureiro de uma associação de classificadores há dez, 12 anos e, mas não saí, estou na parada de sucesso (risos) e eu acho que só vou sair da parada de sucesso quando alguma coisa me prender em torno de saúde, fora disso, eu acho que não.
P - Obrigada seu Romeu.
R - Ô! que isso, às suas ordens.
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