Projeto Ponto de Cultura
Depoimento de Victor Paolillo Neto
Entrevistado por Cláudia Fonseca e Adilson Lima
São Paulo, 03/11/2009
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista PC_HV_199
Transcrito por Paula Leal
Revisado por Viviane Aguiar
Publicado em 29/11/2013
P1 – Victor, em primeiro lugar, muito obrigada por ter vindo, nessa tarde quente aqui em São Paulo. Queria começar a entrevista com você dizendo seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Victor Paolillo Neto, eu nasci em São Carlos, no Estado de São Paulo, no dia 24 de janeiro de 1991.
P1 – E o nome de seus pais, Victor?
R – Minha mãe chama Isabel Cristina Beraldo, e o meu pai chama Marcelo Antônio Paolillo.
P1 – E os avós, você conheceu seus avós?
R – Conheci, eu morava... Porque agora moro em São Paulo. Eu morava com minha mãe e minha avó em São Carlos, minha avó é Aparecida Beraldo, Garrido Beraldo, e meu avô falecido em 2002 é Osvaldo Beraldo. E, por parte de pai, Victor Paolillo, meu avô, e minha avó, que é Elisa.
P1 – E você sabe por que eles decidiram colocar o nome do seu avô em você?
R – Ai, desculpa. Elisa Geribello. Eu falei só um nome dela, não falei o sobrenome.
P1 – Então tá. Sua avó paterna, Elisa Geribello. Você sabe por que eles decidiram colocar o nome do seu avô em você? Você tem essa história?
R – Ah, o meu pai conversou com minha mãe, a minha mãe gosta, gostou do nome Victor. Eles conversaram e chegaram à conclusão: “Já que vai se chamar Victor, dá o nome do avô, Victor Paolillo Neto.” Acabou por decidir esse nome assim.
P1 – Você tem irmãos, Victor?
R – Tenho por parte de pai. Meus pais são separados, eu moro com minha mãe desde pequeno, com minha mãe e meus avós. E o meu pai mora no Sul do país.
P1 – Seus pais se separaram, e você tinha que idade?
R – Tinha cinco anos.
P1 – Então, você teve pelo menos um período de contatos?
R – Sim, hoje eu até tenho contato, não é tanto devido à distância, mas eu ainda tenho.
P1 – Antes de a gente falar desses seus irmãos, me conta como é que foi esse período de infância, de convivência com seus pais até seus cinco anos, se você tem alguma lembrança marcante.
R – Que eu me lembro? Minha infância foi muito boa, porque eu era filho único, neto único, sempre teve mimo, sempre tive muita atenção, muito cuidado. Eu percebi que a minha formação foi, nessa época, muito importante, ter esse apoio da família. Eu me lembro com carinho dessa época, eu gostava, e depois meus pais se separaram, foi uma época turbulenta, mas eu também acho que isso foi benéfico para o meu amadurecimento, mesmo que, muito novo, eu comecei a ver as coisas de um jeito diferente, uma realidade diferente. Foi muito difícil, muito sofrido, mas eu acho que isso contribuiu para o meu crescimento, sim. Eu acho que hoje eu sou o que sou por causa de todos esses obstáculos que eu consegui superar.
P1 – Quando seus pais se separaram, sua mãe decidiu ir morar com os pais dela?
R – Sim, com meus avós. É porque eu estava sozinho com ela, eu fiquei morando um tempo só com ela, só que a casa era como se fosse muito grande. A gente ficava muito sozinho. Então, a gente acabou indo morar com meus avós.
P1 – Qual era a atividade dos seus pais? O que seu pai fazia?
R – Meu pai é engenheiro elétrico. Na época, ele trabalhava na Electrolux. E a minha mãe é professora de português do Estado de São Paulo.
P1 – E é essa casa, que você está dizendo em que vocês moravam os três, que era grande?
R – Era dos meus avós. A gente acabou... Ela era dos meus avós, só que eles moravam em outro lugar. Eu fui morar onde eles moravam, a gente deixou aquela casa.
P1 – E como é que era a primeira casa, então? Ela era grande, como é que era? Tinha quintal?
R – Ela tinha um quintal, e eu me lembro que brincava muito. Quando ficava no meu chiqueirinho, quando eu era bebê... Não me lembro de quando eu era bebê, mas eu via as fotos, então, parece que eu lembro (risos). Eu sempre fazia muita arte naquela casa, minha mãe falava que não sabia se ela ia sobreviver até eu passar cinco anos, porque eu a deixava de cabelo em pé. Eu me lembro até que, no quintal, ela passava roupa. Eu sempre ficava prestando atenção nela passar roupa. Aí teve um dia que cheguei: “Mãe, passei a roupa para você.” (risos) Ela assim: “O que você fez?” “Eu passei a roupa, mãe, vem cá ver.” Ela chegou, e eu tinha ligado o ferro, eu tinha passado o ferro na mesa sem nada, ficou tudo queimado, mas ela ficou preocupada de eu ter me machucado. Só que, graças a Deus, não aconteceu nada, mas eu fazia muita arte.
P1 – É que você ficava só, é isso?
R – É, e eu tinha ela, tinha meus amiguinhos lá e tinha uma pracinha ali perto, chamada Praça do Bonde. Tem um bonde antigo lá. Eu brincava muito lá, eu ia muito lá. Só que a maior parte do tempo eu ficava com a minha mãe também.
P1 – Mas ela também com os afazeres?
R – É, tinha os afazeres. Quando ela ia dar aula, eu ia para a casa dos meus avós. Então, cada vez, eu ia para a casa de um.
P1 – Victor, seus pais se separaram e você foi morar na casa dos seus avós. Como é que era a casa do seus avós? Também era grande?
R – Era grande porque tem pouca gente agora. Nessa casa, moravam, quando eu cheguei com minha mãe, meu tio mais novo morava lá, o irmão dela, que ele estava. Acho que ele já tinha entrado na faculdade, então, ele vinha de finais de semana. Aí meu avô e minha avó e minha mãe. Tinha espaço para todo mundo, mas depois o meu tio casou e saiu, meu avô faleceu. Agora voltou a ficar grande, porque só tem basicamente minha mãe, minha avó e eu. E agora eu saí também, então, só tem elas duas. Eu sinto saudades de lá.
P1 – Mas é uma casa também com quintal, cozinha?
R – Tem um quintalzinho, não é enorme. É uma casa confortável.
P1 – Que bom. O seu pai, logo que eles se separaram, já mudou para o Sul?
R – Não, ele ficou um tempo lá em São Carlos, mas não foi muito tempo. Aí ele foi trabalhar em Joinville, ele teve os filhos dele lá em São Carlos, ele teve os filhos. Aí ele foi para Joinville com a moça e os meus irmãos, ficou lá quase 10 anos, quase 10 anos, bastante tempo. E agora ele tinha voltado para cá, ele foi para Rio Claro. Ficou um ano em Rio Claro, aí ele voltou lá para o Sul e agora está em Curitiba.
P1 – Então, agora me fala desses seus irmãos? Como é que eles chamam?
R – Chamam Marcelo e Amanda. No começo, quando eu era mais novo, eu não tive muito relacionamento com eles, porque eu era pequeno, não entendia algumas coisas e eu tinha alguns ressentimentos. Mas depois eu fui crescendo, eu fui vendo as coisas de uma maneira diferente, e eu me aproximei deles. Eu gosto deles, sempre quando eles vão na casa do meu avô, eu vou lá, visito. Eu já fui para a casa deles em Joinville. O meu irmão, em algumas partes, se parece comigo, porque ele gosta muito de videogame. Nessa época, eu era fissurado em videogame. E a minha irmã é muito carinhosa, ela é uma gracinha. Eles são mais novos, ele tem 11, e ela vai fazer 10. E eu gosto deles.
P1 – Que bacana. Então, vocês convivem bem na casa do seus avós paternos em São Carlos?
R – Sim, infelizmente, minha avó paterna também faleceu, ela faleceu ano passado, fez um ano faz dois dias. Ela também era muito importante para mim, ela era uma incentivadora muito importante que eu tinha. Ela sempre esteve do meu lado, sempre me deu muita força. Infelizmente, agora não tenho mais a companhia dela, mas ela ainda está no meu coração.
P1 – O que te marcou nessa relação com essa sua avó paterna?
R – Quando eu era criança, eu não tive muita relação com meus avôs paternos, porque até então eu ficava com meus avós maternos que me criaram, que fizeram tudo por mim também. Eles foram sensacionais. Mas aí, quando eu fiquei mais velho, acho que tinha 12, 13 anos, eu acabei voltando a frequentar a casa deles e reatei os laços. E foi muito bom. Aí, meu avô, meu avô ainda mora lá, sempre quando vou para São Carlos, eu o visito também.
P1 – E todo mundo convive bem? Hoje, a família da sua mãe com a família do seu pai, nenhum problema, tudo tranquilo, e um neto continua mimado ou não? Agora já nem tanto?
R – Não, eu fui mimado, mas eu não era... Eu era uma criança mimada, mas não era uma criança chata, porque, apesar de ter todos os mimos, ser o centro das atenções, a minha avó, o meu avô e a minha mãe sempre me deram uma educação muito forte. Então, eu sempre tive, sempre procurei ser educado com as pessoas. Eu fui criado, eu acho que de uma maneira diferente do que uma criança que é filho único normalmente é criado. E eu acho que isso foi muito bom, eu sempre lembro dos meus avós maternos e da minha mãe como os formadores do meu caráter, vamos dizer assim.
P1 – Dá um exemplo para mim do que você acha que foi uma educação bastante forte, o que eles falavam por exemplo?
R – Uma coisa que ficou, que tem a ver também com a minha história, que eu vou contar daqui a pouco, é o comprometimento com o estudo, e também nas minhas relações com as pessoas. Você ser sempre cordial, você sempre ser solícito, sempre poder ajudar as pessoas. Isso foi uma coisa que eles me passaram que eu valorizo bastante, também o comprometimento com o estudo, que me levou a fazer muitas coisas durante o meu ensino médio e, vamos ver agora, na minha universidade também.
P1 – É isso aí. Victor, me conta uma coisa, como é que era São Carlos em sua época de infância?
R – Na época de infância? Era uma cidade que era mais tranquila do que ela é hoje, bem mais tranquila. Ela tinha alguns pontos tradicionais que continuavam sendo pontos de encontro, como o clube da cidade, as praças. Ainda tinha os colégios que tinham maior tradição, como o colégio em que minha mãe dá aula, que, apesar de ser uma escola pública, é uma escola muito antiga, muito bonita de lá. E a escola onde ela estudou, e eu estudo, que também é uma escola antiga da cidade. Que eu estudei, desculpa – eu ainda preciso me acostumar com a ideia que eu estou em São Paulo, que já passou. Mas eu me lembro de que eu tinha, apesar de não ter irmãos, eu sempre tive muitos amigos, sempre gostava muito da escolinha que eu participava, porque eu estudava na pré-escola, eu até lembro que eu falava para minha mãe: “Não, mãe, eu quero ficar mais, deixa eu ficar mais aqui.” (risos) Porque ela vinha me buscar: “Eu não, quero ficar mais.” Eu sempre me senti bem lá, era uma cidade mais verde do que ela é hoje, tinha muitas árvores, assim pelo que me lembro, menos carros. Hoje, como as indústrias foram crescendo lá, a Volks, tem a Faber Castell, tem as universidades também, tem a USP [Universidade de São Paulo] e a Ufscar [Universidade Federal de São Carlos], veio o desenvolvimento, vieram mais pessoas de fora, mais automóveis, menos árvores, mais casas. Está crescendo muito, está crescendo rápido e mudou bastante desde a época que eu vivi lá.
P1 – E você está dizendo que tinha muitos amigos, você brincava na Praça do Bonde, e o que mais? Do que vocês brincavam, de tudo?
R – Ah, jogava bola, brincadeira de corre-corre, esconde-esconde, essas coisas tradicionais, vamos dizer. Tinha também uma quadra lá onde o pessoal andava de skate, eu nunca andei de skate, mas ficava vendo o pessoal andar. Aí andava de bicicleta também. Eu me lembro que eu ganhei do Papai Noel a bicicleta, aí eu ia andar de bicicleta.
P1 – Você acreditou em Papai Noel, Victor?
R – Até uns quatro, cinco anos, acho, eu acreditava. Minha mãe fazia de tudo para eu acreditar. Eu me lembro que teve uma vez que eu pedi, na época que tinha o Power Rangers, eu pedi para ela um bonequinho do Power Rangers. Ela vinha até aqui em São Paulo para trazer, para levar lá, e falava: “OIha, o Papai Noel que deixou aqui.” Então, minha mãe se esforçava muito para manter esse lírico da criança de acreditar em Papai Noel, em coelhinho da Páscoa, eu acho isso muito bonito. Eu acho que isso é uma fase gostosa que a gente lembra.
P1- Você lembra com carinho disso.
R – É.
P1 – Como é que era? Punha o sapatinho ou o Papai Noel ia de verdade na sua casa?
R – Não, não, punha o sapatinho. Papai Noel ia na minha escolinha (risos).
P1 – Então, antes de dormir, punha o sapatinho na árvore e na janela, como é que era?
R – Tinha uma arvorezinha, aí a gente deixava, eu deixava ali perto da árvore. Eu acordava de manhã cedo e ia correndo: “Vamos lá, vamos lá!” Eu me lembro também que tiveram Natais que eu passei em Casa Branca, que minha bisavó que faleceu esse ano, ela foi nascida lá. Então, a gente ia sempre na casa dela no Natal.
P1 – Bisavó materna?
R – Materna. Aí, o presente ficava embaixo da caminha em que eu dormia lá.
P1 – Mas também punha o sapatinho?
R – Também punha o sapatinho (risos).
P1 – Então, essa sua bisavó, como era o nome dela?
R – Ela chama Isabel, como a minha mãe.
P1 – Ah, que bonito, bacana. Victor, agora vamos falar um pouquinho da escola, dessa pré-escola que você foi. Como que chamava a escola?
R – Chamava Arte Nossa.
P1 – Pertinho?
R – É, não era longe, era perto de onde eu morava, de quando eu morava com minha mãe era perto. De onde eu morei com minha avó era mais longe.
P1 – Você ia a pé para a escola?
R – Eu ia com a minha mãe, ela me deixava de carro, porque ela me deixava e já ia dar aula. Então, às vezes eu ia a pé, às vezes meu tio ia me buscar também. Sempre teve essa facilidade de acesso. Eu falei que tem tudo a ver, porque “arte”, eu era arteiro. Então, “arte nossa”, tudo a ver.
P1 – Então, você adorava a pré-escola. O que foi bem marcante desse período?
R – Bem marcante? Deixa eu pensar.
P1 – Bem, você falou de brincadeira de roda que você gostava.
R – Eu lembro muito de quando eu aprendi a ler e a escrever, minha alfabetização, que eu aprendi com seis anos. Eu tinha a minha classe e tinha dois amigos, um menino e uma menina, que eles tinham aprendido mais rápido do que todo mundo. Não sei como, mas eles já sabiam. Alguém tinha ensinado. E o que aconteceu? Eles pegavam e ensinavam para a gente. Então, a menina pegava as meninas e ensinava para as meninas, e o menino, que é meu amigo até hoje, que chama Pedro, ele pegava e ensinava para a gente. Eu lembro bastante disso, era bastante gostoso. Tinham as tias também, que eram as professoras. Era bem gostoso.
P1 – Tem alguma que te marcou mais? Que você lembra mais?
R – Todas marcaram, eu acho. Mas eu me lembro de que, quando tinha três anos, eu gostava da Tia Zezé. Tia Zezé é a que mais lembro.
P1 – Você falou do amigo Pedro, e a menina?
R – Maria Luísa, que também é minha colega até hoje. A gente não tem muito contato muito próximo, mas sempre a gente se encontra, a gente lembra daquela época. É gostoso.
P1 – E, da pré-escola, você foi para essa escola onde sua mãe havia estudado, que chama?
R – Isso, Colégio São Carlos, que é onde minha avó por parte de pai também estudou. Então, foi, vamos dizer assim, a terceira geração a estudar lá. É um colégio de freiras, é muito ligado com... No começo, hoje não é mais assim. Quando estudei lá, no primário, tinha uma ligação mais forte com religião, mas não com intuito de ensinar religião, mas ensinar cidadania também. Tinha toda a parte da religião, mas formar cidadãos, formar uma pessoa familiar, com bons princípios. Eu acho que isso também foi muito importante na minha formação.
P1 – Colégio católico?
R – É, colégio católico. Então, todo tempo, desde a primeira série até o ensino médio, sempre teve esse clima familiar, esse clima de amizade que facilitou muito o crescimento, não só meu, mas de todas as pessoas que estudam lá. Tanto é que é engraçado. Teve uma pessoa que falou uma vez em São Carlos: “Nossa, dá para a gente perceber quem estudou no colégio.” É diferenciar, né? Pelo tratamento, a educação. Então, acho que foi muito bom para crescer.
P1 – Legal.Você acabou fazendo primeira comunhão lá?
R – Sim, fiz primeira comunhão lá, quando eu tinha dez anos. Às vezes, eu me preparava, tinha catequese, tinha a Irmã Antônia que dava aula para a gente lá, tinha a Irmã Jane, que era diretora e agora ela... Ela é ainda. O interessante desse colégio é que, além do colégio, eles têm uma sede social, vamos dizer assim, que eles fazem o mesmo com uma escola primária, colégio, com todas as coisas do colégio, em uma área de periferia de São Carlos, numa vila que chama Vila de São José. Então eles ajudam as criancinhas, dão oportunidade, e agora a Irmã Jane é diretora da escola da Vila São José.
P1 – Você sabe de que ramo católico são essas freiras?
R – É de uma congregação sacramentina, que tem muitos colégios na Bahia. Elas são da França, tem na França, na Itália, no Reino Unido, tem lá na Bahia, eu sei que tem um, que tenho certeza que tem em Vitória da Conquista. Tanto é que aqui em São Paulo eu conheci professores de lá. “Ah, sacramentinas, então.” Aí, eu acabei fazendo amizades com elas, mas tem vários colégios da mesma congregação, não é uma rede, é uma congregação de todas, tem uma parceria.
P1 – Sempre foi meio misto, Victor?
R – Ah, não, não. O colégio não. Antigamente, era só meninas, na época da minha avó era só menina. Aí, na época da minha mãe, quando ela era mais nova, eu acho que ainda era só menina, mas depois mudou, ficou misto. E o interessante é que, no ano, quando minha mãe terminou o terceiro ano, eles não tinham mais ensino médio, deixou de ter o ensino médio por vários anos. Quando eu estava chegando na sétima série, voltou a ter o ensino médio, eu pude continuar lá, tanto é que minha mãe ficou super feliz. “Nossa, que bom, vai poder continuar aqui no colégio.”
P1 – E era forte o colégio? Porque os colégios católicos entre nós são.
R – Ele é forte. Tem, na minha opinião, acho que ele me deu uma base muito boa, apesar de agora eu estar fazendo cursinho. Eu acho que o colégio foi essencial na minha formação e a base, tanto, como disse, familiar, quanto a intelectual, técnica, foi muito boa também. Todos os professores muito competentes.
P1 – Quem te marcou mais de professores?
R – Ah, tem um professor de História meu, ele chama Adilson Júnior, desde a quinta série. Ele entrou no colégio quando eu estava na quinta série, então, a primeira turma para que ele deu aula foi a minha. E ele ainda está lá, ele deu aula até o terceiro ano para essa turma. Então, eu criei um vínculo forte com ele. Os professores da minha escola normalmente têm um relacionamento com os alunos. Meu ex-professor é como se fosse um paizão para mim. Então, a gente combinava: “Vamos jogar futebol.” Ele chamava. “Ah, vamos assistir ao jogo na minha casa”, o jogo do São Paulo, que eu sou são-paulino e ele também.
P1 – Adilson também?
R – (risos) Sempre teve essa proximidade, e eu aprendi muito com ele como professor, como pessoa. Ele é uma pessoa que eu admiro muito, que eu aprendi muito com ele e eu, nossa, não tenho nem palavras. O Júnior é como se fosse um pai para mim.
P1 – Que bom. E você gostava de História, então?
R – Sim, sempre gostei muito de História, sempre gostei, principalmente, das aulas dele, que revolucionaram, porque ele tem uma didática muito diferente. Então, por exemplo, ele ia explicar sobre o começo do mundo, ele apagava as luzes. Quando teve a Pré-História, ele apagava as luzes e fazia uma encenação para dar introdução e fazia da classe totalmente diferente. Ou, quando ia falar da guerra, ele botava a mesa no chão: “Não, a guerra, não sei o quê.” Então, ele sempre teve uma abordagem muito interessante para incentivar também – são crianças, né? Eu tinha 11 anos, 12 anos nessa época – a se interessar. E também no ensino médio tem uma abordagem mais madura com relação à História, com o que a gente vive hoje, com o que está saindo nos jornais, na TV, e relacionando tudo isso. Então, acho que ele é uma pessoa fantástica.
P1 – Legal. Esse é o segredo de um novo professor de História. Em geral, o pessoal não gosta de História, então, vamos agradecer ao Júnior. Então, me fala uma coisa, no primário, eram mais freiras as professoras, só religião?
R – É. Não só religião. Sempre foram professoras que, como eu disse, eles tinham um vínculo com a religião, mas não era uma coisa mandatória, vamos dizer assim. Não é com a imagem ditatorial que as pessoas têm em um colégio de freiras. Então, sempre foram professores, antigamente, eram as freiras. Tanto é que as freiras tinham uma formação acadêmica necessária para dar aula. Só que, depois, isso começou a ser renovado, e eram professoras. O primário, todas as professoras, e, depois, o ginásio, misto, professor e professora.
P1 – E você gostava de História. Do que mais você gostava?
R – Gostei muito de História e Geografia, Biologia também, sempre gostei muito, mas Biologia só foi aparecer no final do ginásio, indo para o ensino médio. Sempre gostei da parte de línguas também. Na área de Humanas eu sempre tive maior afinidade.
P1 – Você era um bom aluno, no geral?
R – No geral, sim, sempre fui, sim, porque a minha mãe e a minha avó, elas como eu disse, elas tinham esse comprometimento com a educação. Então, elas falavam sempre para mim: “Olha, Victor, a gente não pode deixar nada para você, mas a educação...” Então, elas sempre me incentivaram muito a estudar, ser um bom aluno, ter boas notas, tanto é que sempre tive bons relacionamentos com professores porque eu me interessava, eu ia atrás, eu perguntava. Então, isso realmente acontecia.
P2 – O fato de a sua mãe ser professora, até que ponto influenciou no seu estudo, no seu aprendizado?
R – Ah, eu acho que muito, porque ela passava muito das experiências dela, da escola dela para mim, o que acontecia com os alunos lá. Ela falava: “Olha, Victor, você tem que fazer assim, ou você tem que fazer diferente.” Sempre procurando estimular. Ela sempre me levou também, tinha umas feiras de ciências na escola dela, ela sempre me levava. Eu era pequenininho, eu ia ver feira de ciências do ensino médio. Sempre trouxe isso para casa e traz até hoje, porque a gente conversa sobre educação, a situação que está, como melhorar. Eu acho que ela trouxe, sim.
P1 – E ela dá aula de quê?
R – Literatura.
P1 – De Literatura, que bacana.
R – Sempre que eu, em Literatura, eu chegava com essa prova: “Mãe, vamos conversar.” (risos) “Vamos conversar.”
P1 – Explica-me que o ______ é (risos).
P2 – Não chegou a ter aula dela lá, né?
R – Não, não cheguei a ter aula com ela.
P1 – Ela dá aula na escola da rede pública?
R – Na rede pública, ela dá aula na rede pública. Então, ela é concursada. Ela começou, ela estudou na Unesp [Universidade Estadual Paulista] em Araraquara, ali perto de São Carlos, e, depois disso, ela já começou a lecionar na escola pública.
P1 – Bacana. Foi bem lembrado mesmo. Mãe professora acho que nunca é bom, meus filhos pelo menos odeiam (risos).
R – Eu gosto.
P1 – Então, Victor, quer dizer, além do Júnior, mais algum outro professor que te marcou, professora?
R – Deixa eu pensar bem aqui. É que a gente fala dos professores, mas sempre eu acho que todos foram importantes, todos contribuem de uma maneira mais forte, ou mais indireta. Todas têm, eu acho, que uma ponta nesse trabalho.
P1 – E, me diz uma coisa, Victor, você ficou lá um tempão, nessa mesma escola. Sempre foi o mesmo grupo de amigos, vocês foram?
R – A maioria sim. Da minha classe de primeira série mudaram, não mudaram acho que nem cinco, seis pessoas, que acabaram saindo, que se mudaram. O que aconteceu foi que entraram mais classes, então, tinha uma classe A e uma classe B. Durante o primário, classe A e classe B sempre separadas, aí no ginásio eles misturaram as duas. Continuaram classe A e classe B, e no ensino médio juntou a A e a B, que tiveram alguns amigos que saíram, mas minha classe inteira, com a maioria das pessoas eu tinha um relacionamento de mais de cinco, seis anos.
P1 – Você mantém alguns amigos até hoje?
R – Mantenho contato. Até hoje, eu ligo, converso, quando volto para São Carlos, a gente sai, vai assistir um jogo, faz um churrasco. Sempre tem essas interações.
P1 – Sempre teve essa coisa bem tecnológica, videogame, MSN? Como é que é esse contato com eles?
R – Sim. Eu acho que, por ser muito sozinho em casa, eu gostava muito de ficar no videogame. Eu lembro que o videogame fez parte da minha infância, com certeza, eu acho que me ajudou na formação também. Você trabalha muito com raciocínio, você tem que pensar todos os jogos, seja um jogo de futebol, você tem que ter estratégia. Então, sempre ficava ali no videogame, sempre gostei muito. Eu acho que isso ajudou também. Eu também chamava os amigos para jogar.
P1 – Qual você tinha?
R – Eu tinha um Atari, que era do meu tio, era clássico, pouquíssimas pessoas puderam jogar aquele lá. Eu jogava River Raid, tinha um de corrida lá também, o Enduro, Pac-Man. Aí depois eu ganhei do meu padrinho um Super Nintendo. Nossa, na minha opinião, melhor de todos, é o Super Nintendo. Eu jogava Mario, futebol, Street Fighter. Eu ia na locadora com minha avó, minha avó me levava na locadora, eu alugava um jogo, levava para casa ou jogava lá mesmo. Então, o Super Nintendo marcou, e que mais? Deixa eu ver. Depois, minha mãe sempre tinha uma filosofia comigo assim: “Para você ter um jogo novo, você tem que vender esse que você tem. Se você vender esse aí, você compra outro.” Porque ela sempre, apesar de eu sempre ter tudo que eu precisei, a minha mãe cuidou muito bem desse excesso, que eu acho que o que acaba desconstruindo o filho único é isso de ter. É ter cinco videogames, cinco não sei o quê, dez celulares. Então, ela sempre tomou cuidado com isso. Eu me lembro que, depois do Super Nintendo, eu tive um Nintendo 64, que também eu sempre gostei do mesmo estilo de jogo, sempre joguei muito futebol no videogame, “top” do “top”. Aí, eu tive um PlayStation, eu dei meu PlayStation para minha prima e ganhei um PlayStation 2 da minha mãe. Aí eu fui viajar agora... Da minha mãe não, da minha madrinha, desculpa. E agora eu fui viajar e trouxe um Nintendo Wii, que é aquele do sensor do movimento, e tudo o mais.
P1 – Legal. Já comprou o Fitness?
R – Não, não (risos). Aquela balancinha lá é muito, é um absurdo aquilo lá. Porque o Wii é bom, só que ele é caro. Então, lá fora, eu comprei fora, eu comprei bem mais barato e eu não compraria o Wii se eu estivesse aqui no Brasil. E o Fitness, Nossa Senhora, é muito legal, mas eu prefiro sair na rua e correr, pular e jogar futebol, que eu acho que é mais saudável e é mais em conta também (risos).
P1 – Victor, então, quer dizer, você teve, foi super o ambiente familiar, tudo tranquilo, quer dizer, ensino médio também. Você foi um bom aluno?
R – Sim, sempre fui.
P1 – E aí como é que surge toda essa mudança, essa transformação? Conta um pouquinho para a gente como é que foi? Está chegando ao final do médio, tem que tomar as decisões da vida, como é que foi isso?
R – Bom, foi um processo longo. Acho que agora vou entrar um pouco mais a fundo no que foi o meu ensino médio. Bom, como eu disse, eu era um bom aluno, os professores gostavam de mim, e teve um projeto na sétima série que chamava Escola D’Água. Estava na sétima série. Aí, eles pegaram dois alunos de cada classe para fazer estudo sobre a água no laboratório e ter um contato com o Instituto Internacional de Ecologia, lá em São Carlos. E foi através desse contato que eu comecei a fazer iniciação científica. Eu tive esse contato na sétima série, e, na oitava série, surgiu a oportunidade de trabalhar em um projeto mais com seriedade e eu entrei em contato, minha professora entrou em contato com a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Eu fui com ela até a Embrapa e eu comecei um projeto em conjunto com a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos mesmo, e com a Universidade de São Paulo. Foi a partir daí que fiz meu primeiro projeto. Eu trabalhei, eu continuei trabalhando na parte de qualidade da água, eu trabalhei com bovinos, qualidade de água para bovinos, e a partir daí tive vários outros projetos. Tive mais três projetos.
P1 – Está ótimo. Eu queria te perguntar, quer dizer: esses estudos de água sempre ali na região de São Carlos?
R – É, nos primeiros projetos eu trabalhei com essa água na Embrapa, que é uma água de abastecimento deles mesmos, que seria como se fosse... Eu trabalhei dentro de um controle para um nível estabelecido de água de qualidade para os bovinos, porque eles consomem muita água. Então, para eles terem um bom desenvolvimento, eles precisam ter uma qualidade de água mais aprimorada, não tanto quanto a do ser humano, mas melhor do que... Não só um córrego, um riacho abandonado. Você tem que ter um, cuidar, no controle. Depois eu fui trabalhar com nascentes em Minas Gerais, numa cidadezinha chamada Bom Repouso. Aí eu já trabalhei só como orientador da USP, sem vínculo com a Embrapa, mas trabalhando com nascentes para área rural. Então, eu trabalhava com águas para humanos, para bovinos e para agricultura, e com impacto de humanos, de bovinos, de agricultura, numa relação de duas vias, vamos dizer assim.
P1 – Ainda no ensino médio?
R – Ainda no ensino médio.
P1 – Você estava falando que você fez um primeiro projeto, tinha um nome esse primeiro projeto?
R – Tinha, o nome parece um texto: Avaliação da qualidade de água de abastecimento de rebanho bovino na Embrapa Pecuária Sudeste. E eu trabalhei com uma parte mais avançada do que o ensino médio normal, porque normalmente quem faz esse tipo de projeto está no ensino técnico. Eu fiz o ensino normal, então, tive ajuda dos meus orientadores para ter essa introdução mais a fundo de Química, de Biologia, e como fazer um trabalho, métodos científicos, trabalhar com instrumental, ter acesso instrumental, vários aspectos que dependeram muito dos meus dois orientadores que eu tive durante essa trajetória.
P1 – Esses orientadores da Embrapa ou da USP?
R – Uma orientadora da Embrapa, a Doutora Silvia Brondi, e o meu orientador da USP, que é o Evaldo Espíndola, que é da Engenharia Ambiental, que trabalha com a parte de ecossistemas aquáticos.
P1 – Só você, Victor, nesse projeto? Tem mais pessoas?
R – No projeto Escola D’Água tiveram mais alunos, mas nesse individual só eu trabalhei.
P1 – E como é que era? Você era um menino, né? Que idade você tinha?
R – Eu tinha 14 para 15 anos, eu estava começando ainda, era tudo muito novo, tudo muito diferente, então, eu fui conhecendo. Eu fiz esse projeto, eu mandei para um professor aqui de São Paulo e ele me selecionou para ir para uma conferência na Alemanha. Então, eu, com 15 anos, tinha feito um projeto, eu estava indo para a Alemanha. Era uma coisa muito nova, eu acho que isso foi um incentivo muito grande, porque eu falei: “Nossa, isso vai para a frente.” Eu senti que eu tinha um potencial para continuar nessa caminhada. Em 2006, eu fui para Stuttgart com outros alunos, mais cinco alunos do Brasil, tinha um carioca, tinha carioca, pessoas do Tocantins, gente de São Carlos também. Eu voltei de lá com um reconhecimento, com prêmio, e eu fui credenciado para uma feira aqui na USP, e foi aí que começou uma corrente de feiras, de concorrências. Eu acabei viajando para muitos lugares, eu fui para a Rússia, eu fui, eu apresentei trabalho na Espanha, apresentei nos Estados Unidos em uma feira da Intel, na Ucrânia, fiz um intercâmbio escolar na Croácia, fui para a Dinamarca. Eu acabei me envolvendo mesmo com isso durante o ensino médio, e, além dos estudos, boa parte do meu tempo eu dedicava a isso.
P1 – Então, Victor, eu queria dar uma retomada. Quer dizer, você estava viajando à beça, levando seus projetos e ao mesmo tempo estudando. Até que ponto isso você conseguiu equilibrar? Você teve algum problema?
R – Eu não. Na escola, eu não tive problemas de nota. Também, sempre fui apoiado e incentivado pela minha escola, então, sempre que eu precisava viajar, eu ia ter uma prova, ou fazia a prova antes, ou remarcava para fazer depois, ou eu fazia algum trabalho para completar nota. Sempre tive essa flexibilidade na minha escola. Só que não dava mais para ter só nove, só dez. Eu era um bom aluno, mas não era só dez. Tinham matérias em que eu era melhor, que eu não precisava estudar tanto. Tinham matérias como matemática que eu perdi uma aula, eu dava aquelas escorregadinhas e depois corria. Mas no final tudo deu certo, minhas médias foram razoavelmente boas.
P1 – Foi tudo concentrado em um ano só, Victor? Foi nos três anos do médio?
R – Foi nos três anos. No primeiro colegial, eu estava começando, foi quando eu fui para a Alemanha. Aliás, fui para a Alemanha em 2006. Eu fui só para a Alemanha, aí resumiu isso: eu fiz o trabalho, fui e pronto. Só que, no começo de 2007, começou a correria, porque eu tinha sido credenciado para a feira aqui da USP, que é a Febrace [Feira Brasileira de Ciências e Engenharia], na Escola Politécnica. Depois da Febrace, eu fui para a mesma conferência da Alemanha que ia acontecer na Rússia, e foi uma atrás da outra: Febrace em março, a da Rússia em abril com outro trabalho já. Então, a partir de 2007, o ritmo foi realmente aumentando. Em 2008, foi, nossa, que nem o pessoal brincava na minha escola: eles me chamavam de “turista”, porque eu ia lá fazer turismo, porque eu ficava mais fora do que...
P1 – Deixa eu voltar uma coisa. Como é que foi chegar em casa e contar: “Mãe, avó, avô, eu vou para a Alemanha”? Como é que foi isso?
R – Nossa, eu saí pulando em casa. Eu gritei tanto, sério, eu gritei tanto, e minha mãe e minha avó todas alegres. Nossa, tanto lá em casa quanto meus avós paternos. Minha avó paterna também ficou emocionada, porque ela é descendente de alemão, então, teve todo esse espírito, toda essa energia que foi muito bom. Porque eu devo parte do meu sucesso lá realmente a esse apoio da família, que foi essencial. Ah, eu ligava todo dia: “Aí, mãe, eu estou aqui.” Foi a primeira vez que eu viajei para um país na Europa, que é uma cultura totalmente diferente, uma língua diferente, eu tinha que me virar com inglês porque alemão, né? Sem condições para mim, por enquanto. Vai saber o que eu vou fazer ainda. Mas foi uma, eu acho que foi uma prova para mim, foi um teste muito grande, porque é uma oportunidade, mas não deixa de ser um obstáculo porque eu era muito novo. Está tudo bem que não sou muito velho, mas era muito novo. Era a primeira experiência que eu estava tendo. Então, eu tive uma preparação para apresentar esse trabalho, meu inglês, eu sempre trabalhei. Fiz inglês dentro e fora da escola desde pequenininho, mas é difícil, porque é um trabalho científico, é uma outra abordagem, é uma outra linguagem. E eu conheci muitos amigos que até hoje estão presentes na minha vida. Então, foi a primeira experiência realmente, acho que foi, não digo a mais marcante, mas marcou um bom começo, vamos dizer assim.
P1 – Você disse que você ganhou um prêmio, é isso?
R – É, eu estava na categoria de Ciências Ambientais, aí eu recebi o terceiro prêmio nessa categoria, e foi totalmente inesperado porque eu cheguei lá, eu falei: “Nossa, já estou no lucro, eu estou aqui.” Estava superfeliz. E eu estava sentado ali, eu estava até conversando com o pessoal na hora da entrega, e eles estavam fazendo a chamada com slide, então, tinha a foto e o trabalho. Eu lembrei: “O que a minha foto está fazendo ali?” (risos). Eu saí correndo. Eu falei: “Nossa Senhora!” Então, eu acho que fiquei emocionado. Estava quase chorando lá, eu estava mais feliz que os caras que estavam ganhando o primeiro lugar, eu estava explodindo (risos).
P1 – E os seus orientadores possivelmente também muitos felizes?
R – O meu orientador não pôde ir, mas o moço que levou a gente, o professor que levou a gente ficou muito feliz, tanto é que foi por isso que ele me credenciou para a Febrace, porque realmente eu alcancei. Ele ia escolher um projeto para mandar para lá, eu consegui alcançar um objetivo, ele falou: “Vou mandar você.”
P1 – Legal. E como é que foi essa experiência da Febrace no ano seguinte? Foi bacana? Aí era outro projeto?
R – O da Febrace era o mesmo projeto da Alemanha, só que o que mudou na Febrace? O que eu tinha que participar da Alemanha era uma conferência, então, eu apresentava o meu trabalho para uma banca e era uma vez só. Eu apresentei, acabou. É uma chance, não tem choro nem vela, errou, errou, tropeçou no fio... Quase que eu fiz lá, quase que eu caí no chão, dei um tropeção no fio, não tem jeito. E eu acho que a Febrace traz um outro ambiente porque são mais alunos, porque é um estande, é como se fosse um lugar amplo onde você tem o seu estande e você fica expondo seu projeto. Então, você conhece alunos, orientadores de alunos, os avaliadores, os patrocinadores. Eu acho que é a oportunidade de trazer mais conhecimentos, enriquecer a sua cultura, até mesmo a parte técnica do trabalho é muito maior, e a interação com as pessoas. Então, você trabalha muito suas habilidades interpessoais. Eu gosto muito da Febrace devido a essa abordagem.
P1 – Aí você pode conhecer os outros projetos.
R – Os outros projetos. Não necessariamente na hora, quem é o projeto individual, é difícil. Não necessariamente na hora em que você está expondo, mas você pode dar uma volta, ver um banner. Achou legal? Volta lá para conversar no outro dia. Você faz amigos, eu fiz amigos que até hoje também estão presentes na minha vida, eu sempre tive bons relacionamentos dentro dessas feiras. E a Febrace também é uma grande impulsionadora, porque ela é uma feira que tem vários contatos com outras feiras. Então, a partir da Febrace, eu recebi um prêmio lá também. E eles me mandaram para a Mostratec [Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia], que é uma feira internacional no Rio Grande do Sul. E aí também tem outra história, mas, enfim, vou fazer cronologicamente.
P1 – Pois é, da Febrace você foi para a Rússia?
R – É, depois tive a Febrace, recebi o prêmio e fui para a Rússia. Aí, na Rússia, era outro projeto. Esse projeto fiz em conjunto com a filha do meu orientador, que eu a conheço desde pequenininha, ela é uma das minhas amigas mais próximas, a Isabela. E eu fiz com ela, só que ela não podia ir, não dava para ela ir. Então, só eu fui representando o trabalho.
P1 – O título desse trabalho?
R – O impacto da atrazina em solos e águas. A atrazina é um agrotóxico que já foi proibido, mas ele é largamente utilizado no Brasil. E ele é utilizado de maneira incorreta, abusiva. Então, qual que era o objetivo do trabalho? Analisar qual o impacto da atrazina. Se ela é utilizada de maneira exacerbado em um ambiente aquático e em um ambiente de solo, então, você tem a atrazina, você tem o quanto você deve usar, mas o que acontece se você usa mais do que isso, se você usa o que eles mandam ou usa mais do que o necessário? Aí, eu fui à Rússia, e a Rússia me trouxe um conhecimento de mundo muito diferente, uma cultura completamente diferente, porque a Alemanha, apesar de ser União Europeia, primeiro mundo, você consegue reconhecer algumas coisas que você tem aqui, porque tem os imigrantes e tudo o mais. Mas a Rússia é totalmente diferente. Você teve a União Soviética, são outras pessoas, é outra cabeça, é outro clima. A conferência foi em São Petersburgo, que na minha opinião é a cidade mais linda desse mundo. Eu fiquei apaixonado por lá, os russos, a cultura russa, a língua russa, tudo de lá me fascinou, e a conferência também foi muito boa porque eles levaram a gente para os lugares mais importantes. A gente participou de passear bastante, ter contato com a história de São Petersburgo e da Rússia muito, muito próximo. Então, eu participei da conferência da Rússia. Aí eu voltei e no final do ano eu fui para a feira que a Febrace mandou, a Mostratec.
P1 – Aquela do Sul?
R – A do Sul, que é internacional também. E a Mostratec também mora no meu coração porque foi dela que vários horizontes se abriram. Bom, começando: cheguei na Mostratec, a princípio não conhecia ninguém, fui com a minha mãe, a minha mãe foi comigo. Na Febrace ela veio também, mas, na Mostratec, ela ficou todo o tempo comigo também. Ela me ajudou muito a montar o estande, tive um monte de problema lá por causa de tamanho, mas deu tudo certo com a ajuda dela.
P1 – Qual é mesmo o trabalho?
R – Com o que eu fui para a Febrace. Como é credencial, eu tenho que ir com o que eles me credenciam. O da Rússia ficou por lá, eu só mandei lá e não andei para nenhum lugar com ele, ficou na Rússia (risos). Mas esse trabalho depois aprimorei, mas, enfim, vamos chegar. E, na Mostratec, eu cheguei sem conhecer ninguém, eu acabei fazendo mais orçamentos do que na Febrace, e também encontrei pessoas que eu conheci lá. Então, eu conheci duas gêmeas muito carismáticas com quem eu tenho contato até hoje, inclusive, uma delas hoje é minha namorada. Tive esse contato também, os pais dela, professores, e o que era interessante: estrangeiros que vinham para o Brasil naquela feira. Eu fiz amizade com dinamarqueses, com romenos, americanos, e tudo isso foi muito bom porque, de novo, é outra vivência, são feiras semelhantes, mas diferentes. Toda vez tem um plus, exatamente.
P1 – Foi no Sul, mas em que lugar?
R – É Novo Hamburgo. Tem uma escola lá que chama Fundação Liberato, que é uma escola técnica muito boa, famosíssima no Rio Grande do Sul, e eles organizam essa feira há mais de 20 anos. Esse ano agora, faz três dias, terminou a vigésima quarta edição já. Então, são 24 anos de trabalho. E eu conheci uma outra visão também em educação porque a Fundação Liberato é uma fundação, é uma escola pública, só que eu vi como o gaúcho vê a educação, que é muito diferente dos outros lugares do Brasil, e como isso dá certo. Então, foi inspirador participar da Mostratec, e os resultados lá também foram muito bons. Eu consegui o prêmio da minha categoria de novo, esse era totalmente inesperado também porque eu tinha acabado de chegar lá. Tudo bem, nenhum prêmio é esperado, mas o de lá foi assim: eles me chamaram para um lugar, para o prêmio de categoria, e depois eu sentei, eu estava cuidando da minha vida. E tem o prêmio mais importante de lá que é para participar da maior feira de ciências que existe no mundo, que é a Intel Isef [The Intel International Science and Engineering Fair] _______, que é nos Estados Unidos, que aquele ano ia ser, que, no ano que ia ser depois, ia ser em Atlanta. Eu falei: “Nossa, que legal, Atlanta deve ser bacana, o cara que consegue ir para essa feira...” Aí, eu estou sentado, e tinha uma oportunidade só. Eles selecionam nove projetos, só que o único que eu me encaixaria seria em projetos de outros estados do Brasil, que são dois individuais e um em grupo. Eu falei: “Ah, de jeito nenhum, eu ir neste lugar?” Eu estava tranquilo, na minha, sentado na cadeira, e eu olhando para o lado e conversando com meu amigo de novo, me chamaram. Aí, nossa, eu não acreditava. Todo aquele grupo que estava comigo, eles me levantaram e pularam juntos, ficaram muito felizes e aí eu comecei outra caminhada, porque acho que a Mostratec representou um amadurecimento maior também, que foi o momento que eu cheguei e falei: “Agora, eu tenho certeza que eu quero seguir isso durante a minha vida profissional.”
P1 – Então, isso é importante? Foi ali que você decidiu o que você ia ser quando crescesse?
R – Que eu ia trabalhar, não sei como, mas eu ia trabalhar com meio ambiente, com educação, com pesquisas científicas em si.
P1 – Tá. Vamos dar um break, me conta das gêmeas?
R – Das gêmeas?
P1 – É, lógico, da sua namorada, você sabe quem é quem?
R – (risos) Sei, claro. No começo, eu não sabia, era muito difícil.
P1 – Como é que elas chamam?
R – É Ana Cláudia e Ana Clara, elas são um ano...
P1 – Essa tem um nome bonito, Cláudia.
R – É a minha namorada (risos).
P1 – É minha xará em parte. Elas são de onde?
R – Elas são daqui de São Paulo mesmo, elas estudam no Dante. Elas começaram a trabalhar também na área, elas começaram com educação e foram para meio ambiente. Eu as conheci eu estava com 16 anos e elas estavam com 15, e a partir daí nós fomos sempre amigos, sempre tivemos contato, sempre fomos para feira juntos. Em São Paulo, quando tinha Febrace, apesar de eu não ter participado mais como aluno, eu ia lá visitar, eu encontrava com elas. E aí, esse ano foi o ano que elas foram para a feira dos Estados Unidos, que foi em Nevada, e eu fui também, só que não como aluno de novo. Eu fui como intérprete, como voluntário. E aí aconteceu, a gente começou a namorar lá, e a gente começou a sair, começou a ficar.
P1 – Como você sabia que era Ana Cláudia e não Ana Clara?
R – (risos) Porque eu as reconhecia primeiro. O tom de voz delas é diferente.
P1 – Como você sabia que era aquela garota que você queria namorar?
R – A personalidade delas é muito diferente, completamente diferente. A Ana Clara parece mais comigo, então, a gente tem opiniões fortes. Como a Cláudia fala sempre, quando a gente conversa, é faísca, sai faísca. E a Ana Cláudia é mais calma. Eu até brinco com ela, ela é mais menininha, porque ela é mais carinhosa, ela é mais meiguinha. Então, eu já sabia desde o começo que ela era, vamos dizer, minha gêmea favorita (risos).
P1 – Então está bom, legal. Vamos voltar. Quer dizer que em 2008 foi para os Estados Unidos? Foi para Atlanta?
R – Isso. Só que, outra coisa, a Mostratec, além de Atlanta, me proporcionou outro trabalho: ir para a Espanha. Porque o diretor de uma feira na Espanha veio no meu projeto e falou: “Eu quero que você vá.” Só que, como eu não tinha ajuda do governo para ir viajar, como, por exemplo, na Alemanha, na Rússia, eu sempre dependia de quem? Dos meus avós paternos, maternos, da minha madrinha, padrinho, tio, tia. Então, todo mundo fazia vaquinha, eu conseguia o suficiente para participar. E, aí, eu e mais dois colegas começamos a participar da Tribuna Livre lá na Câmara Municipal de São Carlos, a gente conseguiu uma lei para ajudar jovens que precisem de patrocínio para feiras de ciências, para esportes e competições desse gênero. Então, eu comecei a ter um aporte da minha cidade, do município de São Carlos, para participar desses eventos.
P1 – Legal, como chama o colega? É o Pedro ou não? Você falou que tinha um amigo?
R – Pedro não, não. É que ele chama Pedro também, que eu os conheci lá na minha escola. Tem um que chama Pedro e outro que chama Igor. Então, nós juntos conseguimos trazer isso para São Carlos. Acho que foi muito importante porque isso vai ficar para sempre, para todos que precisarem. Aí, eu fui para a Espanha no começo do ano, de novo. Cronologicamente, fui para Espanha em abril, participei da feira lá, que aconteceu no Museu das Ciências, que é lindo, maravilhoso. Eles têm até um bioma da Amazônia lá, é fantástico. E eu olho e eu falo: “Nossa, tinha que ter um desse no Brasil com certeza.”
P1 – Em Madri?
R – Barcelona. Todo aquele ar de Barcelona é muito gostoso também, eu acho que deu um “tchan” a mais. Eu participei dessa feira de lá, foi no começo de abril. No final de abril, a mesma conferência da Rússia e da Alemanha ia ser na Ucrânia, ia ser no final do mês, eu falei: “Bom, vou voltar para casa para quê? Estou aqui, estou na chuva, vou me molhar.” E nessa feiras eu conheci uma menina que chamava Larissa Mozzite, que ela é da Croácia, e eu estava muito próximo dela. Todo final de semana, a gente conversava por Skype, tanto é que devo muito o que aprendi de inglês a ela, porque ela sabia demais. Nossa, ela me ajudou bastante. Aí, ela falou: “Vem para cá.” Para você ver, ela estava em uma época antes de entrar na universidade, tipo um pré-vestibular, vamos dizer assim. Eu fui para a casa dela. Eu saí da Espanha e fui para a Croácia e fiz um mês de intercâmbio, um mini-intercâmbio na escola dela, conheci de novo outra cultura, também uma ex-república socialista. Foi maravilhoso. Os pais dela me trataram como se eu fosse um filho, tanto é, interessante, o pai dela, ele é muito, muito inteligente, uma das pessoas mais inteligentes que eu já conheci, e ele lê muito. Então, ele lê Jorge Amado, ele sabe muita coisa do Brasil, ele falava do _____ muito antes de sair na televisão. Em qualquer lugar, ele já falava: “Olha, Brasil, Rússia e China, escreve o que eu estou te falando.” E ele sabia muita coisa do Brasil. Eu até brincava com ele que ele sabia mais do Brasil do que eu até, e ele me chamava de “filho segundo”. Então, eu tive um relacionamento muito próximo com a família da Larissa. E, de lá, eu fiz uma aventura que até hoje eu nunca vou esquecer dessa aventura. Eu saí de trem da Croácia até a Ucrânia. Foi assim, indescritível. Eu saí de lá, fui para a Hungria, até aí tudo bem. Hungria, bastante turista, todo mundo falava inglês, legal. Depois da Hungria, eu ia até a fronteira da Ucrânia e depois eu tinha que ir para o sul da Ucrânia, em uma cidade que chama Chernihiv. Aí falei: “Tá, vamos lá.” O pai da Larissa me ensinou: “Você tem que pegar esse trem, nesse horário, nesse lugar.” Ele escreveu em cirílico para mim, que é um outro alfabeto lá. “Beleza, vamos lá.” Cheguei lá na estação de madrugada, não tinha ninguém, demora, eu demorei quase 24 horas para chegar lá, demorei muito tempo porque, até a Hungria, é relativamente rápido, mas da Hungria até lá demorou umas 12 horas, eu acho. Aliás, seis horas até a fronteira, depois mais seis horas até o sul.
P1 – Aí não tinha ninguém lá na estação?
R – Cheguei lá. Nossa Senhora! Começando que ninguém falava inglês lá. Falei: “Estou lascado.” Cheguei lá na imigração, a mulher olhou para mim, meu passaporte “Brasil”, ela falou: “Brazilian?”, aí eu falei: “É”. Ela começou com uma cara de espanto: “O que um brasileiro está cheirando na estação aqui na fronteira, né?” O cara do _______ quase tirou foto comigo lá. “Olha o Pelé!” Normalmente, pessoal de imigração não é assim, porque eu fiquei até meio assim, mas tinha uma moça que estava me ajudando a dar uma traduzida lá. Aí, eu cheguei lá no guichê, estava tudo fechado. Eu chegava para a mulher e mostrava o papel, ela falava: “No, no, no.” “Mas como assim?” “No, no, no.” “Como que eu vou fazer esse daqui?” Aí, eu cheguei a ler lá, como é que chama? O letreiro, onde tem os horários dos trens, e eu só sabia ler em cirílico “Moscou”, que não ajudava muito, “Kryvyi Rih”, que é do outro lado, e sabia ler as cidades que eu não precisava ir. Eu falei: “Como é que eu vou fazer?” Aí tinha uma senhora, que eu lembro que ela estava lá, e eu comecei a tentar conversar com ela. Ela falava ucraniano e alemão, falei para ela ______, ela ______, eu apontei para ela, e “______”. Ela: “Ok.” Aí eu comecei com ela, eu a segui. Eu dava o dinheiro para ela, ela comprava as passagens para mim, e ela me levava, porque ela ia para o mesmo lugar. Então, peguei trem noturno, peguei ônibus. Nossa, eu vi assim o interior da Ucrânia.
P1 – Mas que bom, né? Sorte que você a encontrou.
R – Foi um choque, foi muita sorte. Eu estava totalmente perdido. Eu botei a mão na cabeça. Eu precisava chegar no máximo em até dois dias, que ia começar lá.
P1 – Você chegou a tempo?
R – Cheguei a tempo, cheguei no dia que começou, certinho. Ela me levou, eu estava chegando lá perto, eu falei: “Está legal, vou chegar na cidade, mas e aí, como é que vou chegar no lugar?” Aí, tinha um cara no ônibus que falava inglês, ele me emprestou o telefone, conversei. Ela falou: “Estamos com seu brasileiro aqui.” Foram me buscar lá. “Você estava perdido? O que você estava fazendo na cidade ‘x’ lá?” Eu falei: “Sei lá, eu não sei nem onde eu estava.” (risos) Só indo atrás da senhora. Se ela quisesse me levar para a China, ela me levava, de boa.
P1 – Aí, chegou, participou da conferência?
R – Cheguei, deu tudo certo. Encontrei os brasileiros que já estavam lá, consegui trazer mais uma conquista para o nosso país. Trouxe prêmio de categoria de lá, encontrei várias pessoas que participaram outros anos, e aí eu voltei para a Croácia, passei o aniversário da minha amiga lá e voltei para casa de novo. Isso nós estamos em final de abril. Dez dias depois de eu ter voltado, era feira dos Estados Unidos. Então, mal cheguei, mal lavei a roupa, e já estava saindo de novo. Aí, eu fui para os Estados Unidos, o que foi bom ter feito isso antes, trabalhei meu inglês, eu aprimorei a minha técnica, o que me ajudou muito a ganhar confiança para apresentar lá. Chegando lá, é outro mundo, totalmente diferente. A feira é primorosa, eu acho que é uma coisa bonita de ver, porque são mais de 1500 estudantes nessa feira, é enorme, e tudo com o maior cuidado, com a maior atenção da Intel que patrocina esse evento. E foi uma experiência única, que eu acho que marcou a minha vida. E você começa a ver como a gente precisa crescer nesse lugar, porque, além dos Estados Unidos – Estados Unidos vão em massa para essa feira porque é do país deles, né? –, você vê outros países também, e você vê como nós precisamos aprimorar a educação não só científica, mas em todos os sentidos no nosso país. Porque lá, os projetos brasileiros eram muito bons, só que os americanos, eles tinham um apoio institucional muito maior. Então, além de universidades, eles tinham patrocínios, a escola já tem essa cultura de feira de ciências, que normalmente tem lá também. Então, tinham trabalhos que... Tinha um menino que curou o câncer, tinha gente, tinha um cara que fez um novo modelo matemático que nem os avaliadores conseguiram acompanhar a ideia dele. Assim, ideias geniais.
P1 – Feira o quê, tecnológica?
R – É. Ciências e Engenharia. Você tem a Ciências Humanas, tem a parte de Meio Ambiente, Engenharia, tem tudo, todas as áreas do conhecimento. É bem eclético, vamos dizer assim. E outras pessoas também apoiam e dão incentivo para os alunos, são prêmios Nobel. Então, foi a primeira vez que eu vi uma palestra de pessoas que ganharam Prêmio Nobel, Prêmio Nobel de Física, de Química, ______. Eles vão lá, dão palestras, incentivam os alunos e fomentam a ciência.
P1 – Durou quanto tempo essa feira americana?
R – Foi uma semana. Em Atlanta.
P1 – Com muita atividade?
R – Muita atividade sempre, sempre. Tiveram atividades de passeio, nos levaram na Coca-Cola, que a sede da Coca-Cola é lá, na CNN. Mas a gente passou muito tempo cuidando do projeto, porque o rigor lá é muito grande. Então, se na nossa língua já é difícil, a gente tinha que tomar cuidado com o rigor maior em inglês ainda. E o domínio da língua inglesa era importante, tudo que você mostrava para o cara, que você estava se esforçando, para o avaliador, não para o cara, para o avaliador, que você estava se esforçando para apresentar em inglês, eles valorizavam isso. Isso conta bastante, o seu esforço, porque lá o que acontece? Eles não querem ver se você tem um trabalho bom, eles querem ver quem é você, como você chegou ali. Isso é até critério de seleção lá.
P1 – Que interessante.
R – Então, eu pude conhecer professores, outros professores com uma outra abordagem também... Foi muito boa essa experiência. Eu estava feliz, de novo eu conheci muita gente, fiz muitos contatos. Fui com o pessoal do Brasil também, fiz várias amizades. E aí teve a cerimônia de premiação, o que acontece lá? Muitos americanos ganham, é muito difícil ganhar um prêmio lá, pouquíssimos brasileiros ganham. Tiveram duas cerimônias: a especial, que são instituições, sociedades que dão prêmios, e a de categoria, que chamam ______ que eles chamam. Aí é legal. Essa, de todas, é a que eu tinha mais certeza que eu ia voltar para casa só com o sorriso no rosto. Aliás, só não, com o sorriso no rosto. Eu estava lá sentado na cadeira, bonitinho, enorme, muita gente, porque juntou tanta gente, aluno, orientador, professor. Tinham umas duas mil pessoas. Aí eu estou lá, e começaram a chamar os grupos individuais ______, uma música tipo Super-Homem deixava todo mundo com a maior emoção. Eu estava lá e escutei na minha categoria: “Victor alguma coisa, São alguma coisa, Brasil.” Eu falei: “Espera aí, tem São Paulo e tem São Carlos aqui, não é São Paulo, porque sobrou São Carlos, Victor só tem eu!” Já era, saí pulando lá! Nossa Senhora!
P1 – Qual mesmo o trabalho também?
R – Para esse eu levei um trabalho mais aprimorado, eu juntei o que eu tinha feito em Minas Gerais. Eu acabei falando das conferências. Em 2008, no começo daquele ano, eu tinha ido para Minas Gerais.
P1 – Fazer aquele das nascentes?
R – Fazer aqueles das nascentes. Daí, o que eu fiz? Juntei os dois num trabalho só e intitulei. Aí, eu lendo em inglês, Avaliação dos efeitos de usos de solo na qualidade da água na Região Sudeste do Brasil.
P1 – Os dois aprendizados?
R – Os dois aprendizados. É o mesmo tema, a mesma área. Então, acabei usando os dois para construir um projeto.
P1 – Esse projeto foi o que foi para Atlanta, que foi esse primeiro projeto, na categoria também? Que legal, que ótimo.
R – Na categoria também. Aí, eu levei para lá. Nossa, eu chorei lá, eu subi no palco, porque tem um palco enorme, parece até uma tela de cinema. É um Oscar, é um Oscar, é como se fosse. E eu via aquele mundo de gente nas cadeiras e eu falava: “Gente, eu estou aqui, eu estou aqui.” Aí, eu comecei a chorar lá, e eu ganhei em quarto lugar, eu chorando, os que ganharam o prêmio maior, que são 50 mil dólares, que são os três “top” da feira inteira, nem eles estavam felizes daquele jeito (risos).
P1 – Eu ia te perguntar isso. Quer dizer, esse prêmio é em dinheiro, tem alguma coisa?
R – Tem o prêmio. Eu ganhei 500 dólares da Intel, que eles que também entregam os prêmios. E nisso, nossa, eu vibrei por muito tempo. Tanto é que, quando eu estava indo para lá, eu virei para a minha mãe, fiquei uma semana falando: “Mãe, eu estou indo para lá, bate em mim, dá um beliscão, não é possível.” E lá foi a mesma coisa.
P1 – Legal. Isso nós estávamos falando de 2008, não é?
R – Isso em maio de 2008.
P1 – Em maio de 2008. Aí, depois, teve alguma outra viagem?
R – Teve, teve. Aí, eu voltei, tive o reconhecimento da feira que me levou à Mostratec, em agradecimento também, porque eu acabei criando um vínculo com a Fundação Liberato que foi muito bom. Até porque, eu vou chegar lá ainda, que eu tenho mais histórias. Eu voltei e fiquei sabendo nessa feira que ia ter uma conferência que chama torneio, que eles chamam Torneio de Jovens Cientistas da União Europeia, que é realizado pela União Europeia há 20 anos, e que ia ser na Dinamarca. Aí, eu falei: “Que bom, que legal.” Eu conversei lá com os organizadores. Ele falou: “Manda o teu trabalho.” Porque, como vai ser aniversário, normalmente são só países da Europa em geral, Rússia, União Europeia que participam, por exemplo. Era mais fechado, mas ele falou: “Como é o vigésimo aniversário, nós vamos chamar um representante da América do Sul, dois da América do Norte, da Ásia, da África. Manda para a gente.” Eu mandei o trabalho, e você tem uma série de procedimentos para ser aceito. Como essa feira é afiliada do Rio Grande do Sul, e para você ir para ela você precisa ter ganhado um determinado prêmio lá, o meu trabalho era elegível, vamos dizer assim. Estava qualificado para participar, e o que acontece? Esse professor, que é o vice-presidente, ligou e falou: “Victor, vem, dá um jeito e vem, você precisa vir porque você vai ser o representante da América do Sul e do Brasil.” Porque ele queria que tivesse um do Brasil, da América do Sul. Mas depois eu fui descobrir que ele vem dar aula na UnB [Universidade de Brasília] de vez em quando. Então, ele falou: “Tem que ser do Brasil.” (risos)
P1 – Aí, você foi também para esse torneio? E foi onde?
R – Em Copenhagen, foi em outubro. Então, eu cheguei lá, e esse torneio é como se fosse um prêmio dado aos melhores de cada país. Você tem a competição interna, mas eles têm o cuidado de fazer aquela feira ser especial para os alunos, como se fosse realmente para dar um sentido de eles serem premiados, porque eles são alunos de destaque. Então, eles tinham banquetes, eles colocaram a gente no hotel, nos deixaram em um hotel excelente.
P1 – Então, deixa eu te perguntar uma coisa. Nesse tempo todo, você teve um acompanhamento, evidentemente de um professor?
R – Sim, o meu orientador sempre esteve do meu lado.
P1 – Sempre esteve com você, que é o primeiro, o Evaldo?
R – Evaldo, que até hoje é meu principal mentor, sempre que eu preciso recorrer a ele.
P1 – Quer dizer, nas realizações sempre você estava em contato com ele, né?
R – Sempre com ele, sempre com ele. E ele também abriu, me deu oportunidade de fazer isso. Se não fosse ele para abrir o laboratório da USP para eu fazer minha pesquisa, eu não ia ter feito nada. Ele foi o principal catalisador, vamos dizer assim, dessas ideias.
P1 – Então, de Copenhagen, você participou, como é que foi?
R – Aí, em Copenhagen, foi diferente de novo.
P1 – Ganharam lá?
R – Não, porque lá eram só... Nós éramos convidados, visitantes. Então, a gente não competia com os outros estudantes, com os da União Europeia.
P1 – A União Europeia, Rússia, né? Que você falou.
R – A União Europeia, tinha Rússia, Geórgia, todos os países que têm algum relacionamento com a Europa estavam lá, Ucrânia, por exemplo. E o que teve de diferente lá? Lá na Dinamarca de novo eu vi a educação, como forma-se a educação, por quê? Aqui no Brasil, dificilmente vem um ministro, dificilmente vem um presidente. Só agora nesse ano eles conseguiram fazer uma reunião com o Lula e com os ministros da Educação e da Comunicação. Então, sempre foi muito difícil, e lá os ministros vinham, e o príncipe da Dinamarca é o principal apoiador dos movimentos de ciências jovens. Ele visitou os trabalhos, ele é o presidente honorário da feira. No final, no encerramento, eu acabei falando: “Bom, eu estou aqui, o príncipe da Dinamarca está sentado a algumas mesas do meu lado, eu vou sair sem nada? Não dá, né?” Eu tinha um ______ Brasil-Dinamarca, eu cheguei para o príncipe e falei: “Com licença, príncipe” – tinha um monte de segurança lá –, “Com licença, eu queria dar essa lembrança para o senhor lembrar.” Só que tem um detalhe: todo mundo da Dinamarca ainda tem aquele negócio tipo príncipe Charles e princesa Elisabeth, como no Reino Unido, aquela questão da monarquia, que são pessoas importantes que têm que ter respeito, protocolo. Eles falaram: “Não, porque você tem que chamar de ______, ______ não sei o que lá.” Falaram um monte de nomes. “Ué, estou perdido, né?” Na hora que eu fui falar, falei “dear majesty”, “querida majestade” (risos). Ele olhou para mim e deu risada, teve uma simpatia, ele é supersimpático, conversou um pouco, eu até falei: “Não, não vou te atrapalhar, vou sentar ali.” E eu fiquei esperto. Quando ele fosse embora... Ele estava indo embora com a princesa, eu saí atrás dele: “Dear Majesty, tira uma foto comigo.” Ele olhou para mim: “Vai, eu tiro, só que tem que ser rápido.” Eu peguei e abracei ele e a princesa e entrei no meio. Aí, eu dei a foto para o segurança, a máquina para o segurança, ele olhou: “Eu não vou tirar essa foto, você está louco?” O príncipe falou: “Estou autorizando, pode tirar.” Eu falei: “Nossa Senhora!” Aí, eu tirei a foto. Depois, ninguém acreditava, falava: “Pô, cara, você abraçou eles.” Eu quebrei todos os protocolos que existiam. E foi muito engraçado.
P1 – Ah, mais que bom, muito bem. Então, Victor, eu queria te perguntar em que momento surge o Instituto Votorantim na sua vida, na sua vida supercorrida, atribulada, de príncipes e princesas.
R – (risos) Eu entrei em contato com o Instituto Votorantim a partir da Febrace, porque o Instituto Votorantim apoia iniciativas como a Febrace. Então, eles iam lançar um projeto piloto que chama Geração Atitude. Eles fizeram uma convocação. Então, as instituições que eles apoiam iriam escolher dois jovens e iam enviar para eles, e eles iam fazer uma seleção para participar desse programa. Eu fiz a minha inscrição para a Febrace, a Febrace me mandou para o instituto, e eu comecei. Eu fui selecionado e comecei a trabalhar com eles e com uma consultoria, que chama ______ Empresarial. Então, o Instituto e a ______ Empresarial têm um intuito nesse projeto de trabalhar com as gerações futuras, as gerações, os jovens de atitude, que eles chamam, que vão construir a sociedade brasileira a partir daqui. O Instituto Votorantim foi muito importante, esse projeto mudou a minha vida, tanto é que hoje estou aqui em São Paulo, uma das razões é devido ao suporte do Instituto.
P1 – Por que nesse tempo todo você permaneceu morando em São Carlos?
R – Sim, todo esse tempo em São Carlos.
P1 – Você só muda para São Paulo neste ano?
R – Sim, agora, no meio desse ano. Porque foram seis meses, começou em 2009. Então, esse ano, nos primeiros seis meses, nós tivemos encontros presenciais, onde eles trabalharam com a gente uma parte mais empresarial. Então, trabalho em equipe, trabalhar liderança, criatividade para estimular esses jovens para formar, o que chamavam de “______ de formação”. E foi aí que comecei a ver tudo de uma maneira diferente, porque, até então, eu não tinha nenhum contato com empresas, e, a partir desse contato com uma consultoria e com o Instituto, eu acabei descobrindo que eu queria trabalhar na área de administração de empresas, só que sem perder esse foco em educação e no meio ambiente. Então, eu passei por essas etapas, conheci pessoas maravilhosas no programa, porque cada uma tinha uma vivência totalmente diferente, pessoas que trabalharam com cinema, com arte, pessoas que trabalharam com cidadania. Isso enriqueceu muito o grupo que eu trabalhei, que nós trabalhamos, porque cada um lá...
P1 – Vocês são em quantos?
R – Somos 11. Então, é um ajudando o outro, isso foi muito interessante. Tem outro grupo também, esse é o grupo individual, tem o grupo dos empreendedores, que aí são mais pessoas, mas foi trabalhado separadamente. Então, onde eu estava mesmo?
P1 – Você estava falando que foi superlegal esse seu contato com as empresas.
R – Esse contato com as empresas e com esses jovens. Eu comecei a formar uma diferente visão de mundo e eu descobri que minhas potencialidades profissionais estavam apontando para essa carreira. Então, com todo apoio, com todo o suporte da ¬¬______, eles fizeram acompanhamento vocacional muito grande com apostilas, palestras, feedbacks pessoais, individuais. Eu acho que nunca ia poder ter isso na minha vida sem o Instituto Votorantim, foi como se fosse um guia para direcionar os jovens para as áreas para começarem a atuar.
P1 – Para se descobrir, de repente?
R – É, uma descoberta. O projeto foi uma descoberta, acho que não só para mim, mas para todos os participantes.
P1 – E como é que funciona, Victor? Vocês vêm para São Paulo direto, não? No primeiro período, só esses encontros?
R – Não, a gente vinha para São Paulo nos encontros.
P1 – E eles aconteciam de quanto em quanto tempo?
R – É mais ou menos de um mês e meio a dois. Foram quatro encontros de trabalho, aí teve um encontro de comemoração também, que foi um de comemoração (risos).
P1 – De farra e festa. Que todo mundo merece.
R – É, todo mundo ficou aliviado por ter conseguido. O que está envolvido nesse programa, qual era o nosso objetivo? As ferramentas que o Instituto utilizou foram essas que eu contei, mas qual era o objetivo? Ter um aporte financeiro para esses estudantes para eles começarem a aplicar um plano de carreira. E nós tivemos esse acompanhamento para criar um plano de carreira, criar um plano de metas de onde a gente quer estudar, como, por quê. O que a gente quer fazer? E eles entrarem com ajuda financeira e de mentoria, porque nós vamos ter um padrinho do Grupo Votorantim para assessorar, conversar, guiar e juntar isso para implementação desses planos, certo?
P1 – Isso, então, mas a partir do ano que vem, porque ainda vocês estão em uma fase.
R – A partir do meio desse ano já. Teve um encontro de comemoração que encerrou, porque nós tivemos que apresentar esse plano para a comissão do Instituto para eles aprovarem, para eles iniciarem um plano coerente para que valesse a pena um investimento e um desenvolvimento. Então, teve essa fase, e aí todos do meu grupo conseguiram passar. Isso foi maravilhoso, porque todos estavam engajados, todos tinham um grande potencial, têm um grande potencial. Isso foi muito bacana, e a história, cada um tem uma história, uma implementação, um plano de carreira. No meu caso, eu estou vindo aqui para São Paulo porque eu quero fazer Administração de Empresas. Eu me inscrevi para universidades daqui de São Paulo como a FGV [Fundação Getúlio Vargas], a ESPM [Escola Superior de Publicidade e Marketing], a PUC [Pontifícia Universidade Católica], a USP, para tentar entrar no curso dessas universidades.
P1 – E no momento você está fazendo pré-vestibular?
R – Estou fazendo pré-vestibular.
P1 – Então, como é sua vida hoje, o que você faz? O Instituto Votorantim, então, podemos dizer que ele financia sua vida em São Paulo?
R – Sim, minha vida em São Paulo, porque, se não fosse o Instituto, eu não teria condições de vir para cá.
P1 – Então, você aluga um apartamento, como é que funciona? Você está morando com outros amigos?
R – Eu moro em uma república. É uma republicazinha, não tem muita gente, são três pessoas. Somos eu e mais dois.
P1 – Todo mundo desse programa?
R – Não, eles são da FGV, só que eles fazem Economia, e um é de São Carlos e o outro é de Maceió. Como eu tive contato com o de São Carlos, ele falou: “A gente tem um lugar para você.” Aí, eu vim me mudar e morar com eles.
P1 – E você faz pré-vestibular?
R – Isso, eu faço pré-vestibular porque, como até o dia da apresentação, eu não sabia o que ia acontecer, até o dia da aprovação, eu não sabia, eu estava ainda em dúvida. Mas aí eu tomei atitude um pouquinho antes da apresentação.
P1 – Você não sabia ainda se você viria para São Paulo ou não?
R – É isso, eu não sabia se minha bolsa ia ser aprovada, mas eu sabia que eu precisaria vir para São Paulo.
P1 – Ah, você já tinha se decidido independente?
R – Eu tinha que ir, só que qual era a questão? Eu poderia vir para São Paulo, e minha mãe aguentar durante seis meses. Não teria condição de eu ficar só com a ajuda da minha mãe e do meu pai durante todo o trajeto. Então, eu tomei o partido antes de ser aprovado. Eu tive que tomar atitude, vamos dizer assim, em vir para cá sem ter certeza ainda absoluta. Graças a Deus, eu consegui ser aprovado pelo Instituto, e aí eles começaram esse apoio financeiro, que me ajuda aqui agora e que durante a faculdade vai ser essencial, porque, como as melhores faculdades de administração de São Paulo são as particulares, salvo a USP, que é pública, elas são caras. Então, o Instituto vai ajudar muito.
P1 – Como é que você mantém... Por exemplo, tem alguma verificação deles, você tem que apresentar relatórios?
R – Relatórios trimestrais. E desse trimestre não teve, porque foi agora o começo, mas aí no final do ano vou ter que apresentar o relatório: quanto que eu fiz, o que evoluí, quais foram os resultados obtidos durante esse seis meses. E aí de novo vai ter uma outra aprovação em cima disso para continuar esse aporte durante dois anos. Então, são várias etapas ainda, não acabou, não é só isso de “toma o dinheiro e se vira”. É assim, eles dão aporte financeiro, mas eles dão uma força técnica, eles dão informações muito importantes, e é um programa progressivo.
P1 – Você disse que tem um padrinho da Votorantim. Isso já é nessa fase ou ainda não?
R – Ainda não, ainda não foi nomeado, mas meu mentor antes, no projeto ele era meu orientador, porque cada um tem um mentor durante essa trajetória, nós não ficamos sozinhos em nenhum momento. Então, em nenhum momento, sozinhos no sentido de abandonados. Sempre tivemos o suporte dos professores. Lógico que nós trabalhamos sozinhos, nós trabalhamos individualmente.
P1 – Individualmente, mas com toda essa retaguarda?
R – Conselhos, retaguarda dos professores.
P1 – É o Evaldo então?
R – É, o Evaldo que é meu mentor, que eu falo para ele que ele é meu pai, nisso tudo ele é meu pai.
P1 – Legal. Evaldo?
P1 - Só para a gente, mais uma vez, o sobrenome dele completo.
R – Espíndola. Aí o que aconteceu? Onde eu estava de novo?
P1 – Aí, agora, você está no pré-vestibular?
R – Agora estou no pré-vestibular, tenho meu foco. Eu estou focando entrar na FGV, só que eu vou tentar outras universidades. Só que não é uma coisa restritiva. Tanto é que eu fiz a FGV do Rio, semana passada. Nessa semana eu fiz Direito, porque estou pensando em Direito porque tem da ______ com a da Administração, dá para eu correr nessa área. E, agora, mais do que nunca, está dependendo de mim. O que minha mãe, minha avó podem fazer, o que o Instituto pode fazer, o que o Evaldo pode fazer, eles fizeram, eles estão fazendo. Só que, agora, depende de mim entrar para depois o Instituto de novo retomar esse trabalho em uma nova era, uma nova etapa da minha vida.
P1 – Isso foi superimportante, então, para você?
R – Foi, com certeza, mudou minha vida o projeto. O programa Geração Atitude mudou minha vida, porque a princípio eu estava prestando para Engenharia Ambiental, e Engenharia Ambiental tem tudo a ver comigo, só que Engenharia, eu nunca tive uma afinidade com ela. Então, eu estava meio perdido, ainda não sabia direito, tanto é que eu tinha prestado Administração junto, ainda estava nebuloso. O Instituto Votorantim veio para clarear minha mente e dar as ferramentas necessárias para proporcionar essas ferramentas para eu evoluir, para falar: “Eu quero fazer isso, desse jeito.” E aconselhando, e encaminhando e colocando nos ______.
P1 – O fato de você ter que fazer um plano de trabalho talvez tenha ajudado, não, Victor? Porque você é obrigado a refletir, não é?
R – É. O plano de trabalho foi muito importante porque foi o momento de introspecção, porque eu tive que ver o que eu fiz na minha vida e o que eu quero e como eu vou alcançar esse sonho. Então, se o meu sonho é trabalhar com educação e meio ambiente para trazer para o Brasil, fazer o Brasil ser um país tão desenvolvido nessa área quanto a Dinamarca, por exemplo, são essas ferramentas que eu vou ter, que o Instituto me proporcionou para poder construir, começar a construir esse caminho.
P1 – Então, acho que esse momento que é o momento-chave, né?
R – É um momento-chave porque é um momento que todos ali já estão mais maduros, têm uma ideia mais bem formada, não são crianças, mas mesmo assim precisamos de orientação. Não somos crianças, mas também não somos adultos.
P1 – Mas já dá para olhar para essa trajetória de cada um de vocês e poder projetar?
R – De cada um, e poder projetar para saber qual caminho seguir para continuar esse trabalho, para ser uma coisa contínua.
P1 – Legal. Você falou que o perfil é dos mais variados, tem gente de várias áreas, meninos, meninas.
R – Meninos, meninas. É Matemática, Administração, Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental. Então, é bem eclético o grupo.
P1 – Que bacana. Então, para você que andou por aí, uma empresa que está dando esse apoio é muito importante, né?
R – Sim, com certeza. Eu já vim lendo várias coisas sobre o Grupo Votorantim em si, e o Grupo Votorantim sempre foi uma empresa que teve um comprometimento com o desenvolvimento do Brasil. Então, é uma empresa que cresce, que vai para a frente, mas com uma responsabilidade social de investimento no nosso país, e eu acho que isso é muito importante porque faltam. Há uma falta de iniciativas como as do Grupo Votorantim de investir no nosso país, porque tem falta de investimento público, e o privado é muito importante também. Então, se mais empresas tivessem visionários que o Ermírio de Moraes, os Ermírios de Moraes tiveram, isso ia ser muito benéfico para nosso país, com certeza.
P1 – Com certeza. Se tivessem os dois, o primeiro e o segundo setor, seria o ideal.
R – Os dois trabalhando em conjunto, porque ninguém trabalha sozinho. Não tem como você deixar toda a responsabilidade no governo e não tem como deixar todas as responsabilidades com o setor privado. Eu acho que os dois têm que unir forças e trabalhar em conjunto para construir um Brasil melhor.
P1 – Principalmente nessa área a que você vai se dedicar, né? Victor, tudo bem, você vai fazer 19 anos em janeiro, na véspera do aniversário de São Paulo...
R – Ah é?
P1 – É, porque 25 de janeiro é o aniversário da cidade de São Paulo.
R – Nossa, eu não sabia disso (risos).
P1 – Mesmo com 18, que lições você poderia dizer que você tirou da sua vida, dessa tua trajetória?
R – Olha, acima de tudo, se você acredita que você pode fazer a diferença e se você seguir isso com garra, você vai fazer a diferença. Se você tem um sonho, corra atrás, você consegue. Se todo mundo trabalhar em prol de todo mundo, se cada um ajudar o próximo de uma maneira efetiva, de uma maneira especial, com comprometimento, tudo fica melhor. Acho que a sociedade, a única maneira de a sociedade melhorar é através da própria sociedade. Então, eu acho que o mundo é uma corrente de pessoas, é uma corrente de acontecimentos. A gente tem que construir como aquele ensino lá, uma corrente do bem para sempre deixar a nossa vida, o meio ambiente, o planeta em que a gente vive de uma maneira, para deixá-lo melhor, de certa maneira... Tinha uma coisa que queria falar, deixa eu pensar.
P1 – Ah, daqui a pouco você lembra. Deixa eu te perguntar: você tem momentos de lazer, além de namorar?
R – Não (risos).
P1 – É só estudar?
R – O meu momento de lazer é o namoro, porque o cursinho, a carga horária é puxada. Ainda estou fazendo, estou continuando minhas aulas de inglês e junta muita coisa. Tem final de semana que eu tenho que voltar para minha cidade também, e agora vai ser a maior correria, porque eu tenho, todos os finais de semana até o dia 13 de dezembro, vestibular. Então, é bem puxado.
P1 – Mas a Ana Claudia entende isso, te apoia?
R – Entende. Eu falei para ela, se não fosse ela, eu já teria enlouquecido aqui, porque é muito diferente, São Paulo é diferente de São Carlos, as pessoas, o ambiente. É tudo muito grande, tudo muito rápido, e meio que cada um por si aqui. Não tem essa: “Ah, você é fulano, você é sicrano.” Não tem essa de quem é quem aqui. Lógico, tem em alguns setores da sociedade, mas no geral não tem. Eu cheguei aqui sozinho, e ela é minha companhia, ela é minha força, eu agradeço a ela todo dia por estar me apoiando. Ela, aqui, é uma das... Ela é com certeza a maior incentivadora do meu sucesso, assim como eu também incentivo o dela. Ela está terminando o terceiro ano, ela também vai passar por essa época de vestibulares. Sempre falo para ela que vai dar tudo certo, e a gente se levanta, incentivador um do outro.
P1 – O que ela vai fazer?
R – Ela quer fazer Ciências Biológicas.
P1 – Ah, legal. Eu nem te perguntei do impacto de mudar de São Carlos para cá. Quando você veio para cá, você já era cidadão do mundo, mas teve impacto?
R – Teve, teve sim. Quando eu ia viajar, eu ficava uma semana, um mês, mas eu sabia que eu ia voltar para minha casa. Então, eu aprendia e voltava para casa. Agora, eu sei que não tenho mais isso. Eu volto no final de semana, mas minha vida a partir de hoje é aqui. Eu tenho que estabelecer meus laços aqui também, minhas amizades, e a minha rotina. Mudou tudo, tudo, tudo. Na minha cidade não tem, transporte público é diferente, a correria. Não tem essa correria. Agora está ficando com engarrafamento também, mas não é que nem aqui, não chega nem perto (risos). É um choque grande, mas eu acho que nos primeiros meses foi bem difícil, a Cláudia foi muito importante no começo porque eu estava, nossa, a saudade de casa era muito maior do que é hoje. Mas eu vou dizer que estou me adaptando bem até.
P1 – Você fala com sua mãe todo dia?
R – Ah, quase todo dia. Se eu não falo por voz, eu mando uma mensagem de texto ou falo no computador.
P1 – E ela vem na sua casa, já veio?
R – Já veio aqui.
P1 – Já reclamou da faxineira?
R – Não, nada, ela agradece, porque, se eu não tivesse a faxineira, meu Deus do céu! A gente brinca que a moça que trabalha lá, quando ela chega: “Nossa, você é a salvadora dessa casa.” Ela chegou para tirar a gente do obscuro, porque ela vai ali, limpa tudo, arruma. Três solteiros é complicado.
P1 – Não é fácil. Conta uma coisa: quando você vem de lá no final de semana, traz um bolinho que a mãe fez, uma torta que a avó fez?
R – Nossa, sabe o que eu comecei a fazer agora? Eu peço para minha avó fazer comida de forno, pôr naquelas embalagens de alumínio, tipo uma quentinha. Eu ponho a quentinha no congelador e vou comendo aos pouquinhos, porque cozinhar não dá certo. É congelado, coloca no micro-ondas, acabou. Está pronto, ótimo.
P1 – Legal. Victor, me diga uma coisa, o que você acha dessa ideia de ter uma instituição como a nossa, o Museu, ouvindo as narrativas das pessoas, das suas memórias, de muitos anos, de poucos anos?
R – Eu fiquei feliz porque eu não conhecia o projeto do Museu da Pessoa. Eu conheci, eu achei uma coisa muito interessante porque valoriza a vida de cada um, os ______ de cada um. Isso forma um acervo de experiências muito grande. Eu acho que é um acervo que não tem valor, porque, aliás, não tem valor não, não tem preço, me desculpa, eu me expressei errado. Eu não conhecia o Museu da Pessoa, e a partir desse convite eu acabei conhecendo o projeto inovador de vocês e eu acho que o Museu da Pessoa é uma coisa fantástica porque junta varias experiências de vida, vários ______, e um grande acervo. E esse acervo não tem preço, porque são experiências de milhares de pessoas e, como sempre falo, cada um vai ter uma vida diferente e peculiaridades que constroem uma rede de conhecimentos muito grande. Então, o Museu da Pessoa é muito importante na minha opinião por causa disso, pela grande variedade de experiências que ele recebe.
P1 – Bacana. Você gostou de dar entrevista?
R – Gostei, gostei, primeira vez que dei uma entrevista tranquila assim.
P1 – Lembrou do que queria falar? Faltou eu perguntar alguma coisa?
R – Não, acho que não. Queria dar um recado para os jovens. Eu acho que tudo hoje, o futuro depende dos jovens. E, hoje, eu acho que a juventude está um pouco perdida, está um pouco sem meta, um pouco sem rumo. Eu queria dizer que o potencial dos jovens é muito grande, potencial de mudança é muito grande. Então, jovens, trabalhem, estudem, deem valor à educação, que é o vai fazer a diferença na vida de vocês. Vocês vão descobrir que vocês podem fazer tudo o que vocês conseguirem, se vocês tiverem comprometimento, criatividade, esperança e muito, muito trabalho duro e educação para construir um caminho melhor para o nosso Brasil.
P1 – Legal, muito bom. Então tá, Victor. Em nome do Museu da Pessoa, queria agradecer muito a sua presença. Eu adorei fazer a entrevista com você, gostei muito.
R – Obrigado.
P1 – Obrigada a você.
R – Obrigado pela atenção.
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