Projeto Memória dos Brasileiros/ Módulo Maués / Saberes e Fazeres
Depoimento de Homero Martins Ribeiro
Entrevistado por Thiago Majolo
Maués, 24/01/2007
Realização: Museu da Pessoa
MBMaués_HV010
Transcrito por Ana Lúcia Queiroz
Revisado por Thiago Majolo
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Eu queria que você começasse falando o seu nome completo, para a gente, a data e o local onde o senhor nasceu.
R – Eu nasci em Vera Cruz, no mês de setembro.
P/1 – Que dia?
R – Dia 15 de setembro.
P/1 – De que ano?
R - De setembro
P/1 – Mas que ano?
R – De 43.
P/1 – E o seu nome completo?
R – Homero Martins Ribeiro.
P/1 – Homero, seus pais vieram da onde? Qual a origem deles? O nome deles.
R – Meu pai eu não sei nem onde ele foi nascido, mas ele trabalhava aqui no Paroari, depois ele nos puxou daqui da Vera Cruz para lá. Nós fomos também, trabalhamos com ele pra lá, em Pau Rosa e nós voltamos, depois eu saí dele. Foi o tempo que eu arrumei mulher, casei, parei por aqui mesmo, pela Vera Cruz; fui nascido aqui na Vera Cruz e estou aqui. Eu nasci em 43, estou com 59 anos e estou trabalhando. Meu trabalho também aqui é guaranazal, eu e o filho, guaranazal, roça, essas coisas aí, até que eu planto melancia. É isso aí.
P/1 – Homero, mas voltando um pouquinho: o que seu pai fazia, e o que sua mãe fazia?
R – Meu pai por um tempo trabalhava em Pau Rosa, depois voltou para a lavoura, plantar na roça e era só. E plantar só roça. Plantou guaraná também, mas naquela época que, em Paroari, onde trabalhava, não deu bem, nem guaraná, ele só ficou com a roça ali. Foi o tempo em que eu saí dele, ele ficou velho, se aposentou, a mamãe também se aposentou, eles ficaram velhos e eles ficaram corrente por aqui, até que morreram, eu fiquei, eu e outro irmão que mora nessa casa aí. Mas só que não está agora. Tenho outros irmãos em Manaus, tem outros para cá, por Paroari.
P/1 – Quantos são?
R – Nós somos, deixa eu ver: dois, três, nós somos cinco ainda, três homens e duas mulheres.
P/1 – E qual a profissão deles?
R – A profissão deles também é guaraná, roça, como esse aqui é guaraná e roça também. Outro lá em cima também é guaraná e roça, outro também, é só roça o outro, só trabalha com roça. E estão aí, estão batalhando aí.
P/1 – Homero, queria que o senhor descrevesse para mim como que era a cidade, como era aqui quando o senhor nasceu. Conta um pouco qual a diferença de hoje em dia.
R – Olha, quando eu nasci, eu nasci ali perto da casa de um tio meu, lá era nosso terreno. A comunidade aqui era muito feia, no meu tempo, que era jovem, era um matagal medonho, aquelas ruas, capoeira assim, mato grande. Hoje em dia não, hoje está bem bonita, que dá para a gente acreditar que o governo está trabalhando. Então, é assim: a Vera Cruz também cresceu, cresceu pouco, mais moradores, tem muitos moradores, a parte melhor que a gente tinha aqui na Vera Cruz era a do Roberto Sarkis para cá. É a parte mais bonita, lá pra banda de baixo também, mas já ficam os moradores mais longe um do outro. Não é como é aqui, que é encostadinho um do outro.
P/1 – Então, Homero, conta um pouco para quem não sabe, o que é a comunidade Vera Cruz?
R – Comunidade Vera Cruz é bom pra gente, porque a Vera Cruz produz muita farinha bonita. A comunidade cresceu um pouco com isso, que o produto mais valorizado é a farinha daqui. A farinha da Vera Cruz é especial, o pessoal sempre trabalha bem aqui a farinha. O guaraná também, então o guaraná da Vera Cruz é assim, torrado nesses fornos aí, esse daqui, de barro. E por aí, que eu já vi, eles torram mais nesses fornos de ferro. Então dizem que o guaraná mais bem torrado é nesse de barro. E nós começamos a trabalhar assim.
P/1 – Mas a comunidade Vera Cruz faz parte da cidade de Maués?
R – Faz, faz parte. O prefeito mesmo fala que a Vera Cruz é um bairro de Maués.
P/1 – Voltando um pouquinho para sua infância: como era a casa onde o senhor morava?
R – A casa era de palha, como essa, cercada de palha mesmo, tudo cercadinho de palha. Era pobrezinha. Depois que eu saí do meu pai, é que eu trabalhei um bocado, consegui fazer uma casa, criei um filho, e esse filho que me ajuda.
P/1 – Homero, quais as brincadeiras que o senhor brincava quando era criança?
R – Eu gostava muito de forja lagarta.
P/1 – Como que é isso? Conta.
R – A gente faz o arcozinho, o bicho vai passando e a gente “flecha ele”, bala passarinho, jogar pião, gostava de jogar pião, bolinha, gostava de jogar bolinha. Hoje que já estou velho mesmo.
P/1 – E o senhor pôde estudar? Teve oportunidade?
R – Eu não tive muita oportunidade para estudar, porque meu pai só trabalhava em mato. Naquela época a gente trabalhava aí, então era difícil professor pra ensinar a gente. E meu pai nos puxava pro mato pra trabalhar com ele. A gente não podia estudar quase porque era difícil naquele tempo aula pra lá, tinha mais pra cá mesmo. Mas pra lá não tinha, e eu trabalhava com eles pra lá. Eles todos trabalhando no Pau Rosa, então era difícil. E pra ficar por aqui ele não podiam deixar, ficava longe da família e nos puxava pra lá.
P/1 – Mas não tinha escola por aqui, é isso?
R – Por aqui tinha, mas pra lá não tinha. É difícil uma comunidade assim como essa, para ter assim um professor pra ensinar a gente. Então, a gente não aprendeu.
P/1 – Mas até que ano o senhor estudou?
R – Até o segundo, eu estudei bem pouquinho mesmo, porque eu não tinha, eu estudava em pedaços. Devia de botar um mês, dois, três meses, o dia que não está dando certo ele já tirava a gente e já levava pra o trabalho. Então, não aprendi, fiquei assim, bem pouco eu sei, pouquinho mesmo.
P/1 – Mas como era a escola? O senhor lembra?
R – Eu não estou bem lembrado. Era assim, naquela época, eu dei uma estudada na Vila de Mucajá, agora a comunidade lá está grande. A comunidade de Mucajá era muito atrasada, era difícil até professor mesmo, era difícil. Era difícil e para a gente aprender já se tornava mais difícil, já que não tinha professor. Estudava com um, com outro, assim, uma noite, um dia, saía, parava com o estudo.
P/1 – E na sua juventude 12, 13 anos, o que o senhor fazia? Trabalhava já?
R – Eu trabalhava já, eu comecei a trabalhar desde 12 anos. Com 12 anos meu pai já me levava, desde pequeno eu já andava com ele mas pra trabalhar mesmo de 12 anos pra lá. Sempre me levava no trabalho e eu trabalhava, andava com ele pelo mato. Eu fui, eu aprendi mais é trabalhar mesmo, trabalhar eu sei muito, de mato eu conheço muito. Agora, meu filho não, meu filho estudou. Eu já botei ele pra estudar um pouco, aprender um pouco. E depois o estudo já fica meio difícil pra gente porque nós éramos muito – naquele tempo eu estava mais novo, agora o trabalho é difícil eu ganhar dinheiro assim. Depois que eu consegui guaraná, roça, muita roça, muito guaraná, melhorou para a gente.
P/1 – Homero, ao contrário de muitos dos guaranazeiros que moram hoje no centro urbano, o senhor continua no interior. Sempre morou aqui na comunidade ou o senhor saiu já daqui?
R – Não, eu não saí. Eu saí um tempo aí, foi o tempo em que o guaraná perdeu até o valor. Quando o guaraná perdeu o valor, eu saí, e eu não tinha mais terra para eu trabalhar aqui. Eu saí pra lá pra Paroari.
P/1 – Mas quando foi isso?
R – Isso foi em 64, por aí. Eu saí, não estou bem lembrado ainda. Eu fui com meu pai trabalhar lá, num terreno lá, voltei pra lá, mas só que não deu bem, eu acho que a sorte minha era aqui na Vera Cruz. Voltei de novo pra cá, quando eu quis limpar meu guaranazal não pude mais limpar tudo, não. Fica no mato, foi o tempo que o guaraná de novo foi aparecendo, deu um precinho, a gente se animou. Foi o tempo que o filho cresceu rapaz. Encaminhei ele, eu disse: “Olha, vamos plantar mais guaraná de novo, que esse que eu tinha, esse já está perdido, a gente pode conseguir limpar mas está difícil, a gente vai gastar muito nisso. Vamos fazer outros”. Foi então que eu comecei, eu comprei terreno atrás, e eu comecei a plantar guaraná, plantar roça, foi de novo, foi, foi, foi, até que melhorou um pouco, e assim nós temos. E, graças a Deus, hoje em dia já temos mais ou menos essa casa. Tenho um barquinho, e tanto com isso já é ele, eu já entreguei tudo pra ele. Eu estou do lado dele, só mesmo ajudando, devagar. Eu já estou com 50 e poucos anos, então eu já me sinto meio quebrado.
P/1 – Homero, pra gente chegar aqui, a gente demorou dez minutos de barco. É rápido. Sempre foi assim, como que era antes?
R – Não, sempre foi assim, antes a gente não tinha embarcação pra estar andando, não tinha esse rabeta que tem agora. Com esse rabeta já adiantou muito pra gente, já quebrou um galho grande, então o pessoal não quer mais ir no remo, como a gente ia de primeiro no remo. A gente levava quase uma hora daqui pra atravessar, já no remo agora de rabeta, não, leva dez a 15 minutos. Está chegando lá.
P/1 – O senhor já fez muito de remo?
R – Muito, muito de remo. Às vezes eu tinha até preguiça de fazer as compras porque era no remo. Agora não, já tem rabeta, eu tenho um barquinho. Meu filho tem a rabeta, está tudo vivendo mais ou menos.
P/1 – E como é morar aqui hoje, na comunidade?
R – É bom, é muito bom. Os vizinhos são bons. Nós estamos bem, graças a Deus.
P/1 – Mas o senhor se sente um pouco isolado das coisas ou não?
R – Não, a gente sente sim um pouco, porque a gente não tem a condição pra se comprar alguma coisa de valor, o nosso ganho é pouco com o guaraná. Ele está dando pouco. Esse guaraná que a gente plantou agora ainda está em crescimento, está dando pouco, está começando. Que esse velho que eu tinha já não dá mesmo, já está muito velho o guaranazal, então eu estou esperando esse novo. Este novo dando, então, como eu sempre converso com ele, disse: “Olha, nós vamos plantar mais guaraná porque, quando der guaraná, a gente pode comprar alguma coisa mais de valor”. Tem só isso.
P/1 – Hoje a comunidade tem luz, água encanada. Conta um pouco como chegaram essas facilidades aqui?
R – A luz, quando chegou, foi por intermédio do Luiz Canindé, que foi prefeito um tempo e ele até que melhorou pra gente aqui, botou luz, botou água. Isso já foi ele que botou pra gente. Nós demos graças a Deus de ter hoje a água, e está valendo isso, pra gente.
P/1 – Em que época foi isso?
R – 62 parece, não estou bem lembrado. Mas foi nessa época, acho que foi em 62.
P/1 – Conta aqui pra gente entender, pra quem não conhece, que vai ouvir a entrevista: como que funciona? Quantas comunidades são? É um polo ou como é que funciona essa divisão?
R – Isso aí, os moradores que tem aqui, eu não estou lembrado quanto tem, mas acho que são 40 e poucos moradores, ou mais, uma coisa assim. Diz que só do Roberto Sarkis pra cá dão 23 moradores. Agora eu não estou bem sabendo quantos moradores tem mesmo, mas é uma boa quantidade que tem.
P/1 – Então, Homero, são várias comunidades ou uma só? Tem várias comunidades e um polo? Como é que funciona?
R – A Vera Cruz aqui é só uma. Tem a comunidade do Palhol ali, tem outra ali do laguinho, que chamam Costa da, como é? Esqueci. É o laguinho que tem aí, essa outra vila logo aí. Aqui o polo é, polo um, parece, parece que é polo um, polo dois? Uma coisa assim, o filho lá é que sabe mesmo. Estou esquecido, mas é por aí.
P/1 – E para cada polo tem alguém da prefeitura que vem que fiscaliza a produção, como é que funciona?
R – Para cada polo tem um que, diz que olha pelas comunidades comunicando as pessoas como é para a gente trabalhar. Então ele anda, vamos dizer, aqui nessa imediação vem um, lá pra ali já pro outro polo vai outro e assim vai até lá para cima mesmo, Paroari.
P/1 – O senhor produz guaraná, por que o senhor escolheu o guaraná e não outra atividade?
R – Porque na época que comecei o guaraná era muito falado. Eu era muito animado para fazer o plantio do guaraná. Eu plantei guaraná, eu plantei dois mil pés de guaraná, cultivei, eu estava trabalhando bem, depois como eu falei que o guaraná teve uma base e depois ele perdeu até o preço, não tinha mais valor e com o tempo eu deixei. Fui plantar outras coisas, a roça mesmo, outro tempo que eu estava pra cima, com todo mundo, mas não deu. Eu tive que voltar de novo pra cá, voltei e estou aí.
P/1 – E quando foi que o senhor começou a plantar guaraná?
R – Eu comecei a plantar guaraná em, não estou bem lembrado. Não estou lembrado, não.
P/1 – E como foi? Como senhor pegou as primeiras sementes, as primeiras mudas? Conta um pouquinho.
R – As mudas a gente pegava no mato, nesse capoeirão, dos antigos. Não sei dava muito filho de guaraná, a gente ia lá pegar o guaraná, trazia e plantava. Enterrava lá no lugar dele pra de lá seguir o rumo deles pra cima, crescer. E a gente foi levando isso aí.
P/1 – Como que o senhor aprendeu as técnicas de cultivo e de beneficiamento do guaraná?
R – Isso eu trabalhei só com o meu suor mesmo. Eu fui levando a vida e o guaraná foi crescendo, e eu fui colhendo. Depois eu saí do dinheiro do guaraná, já tirava o dinheiro pra limpar ele, pra plantar mais fazia outro roçado pra plantar mais guaraná.
P/1 – Contaram pra gente que alguns moradores da comunidade aqui estão tentando formar uma organização para comprar uma máquina para moer o guaraná e para vender em pó. O conhece esse objetivo, essa organização?
R – Não, eu não conheço, eu não tenho conhecimento porque eu não me interessei. Mas acho que o filho, ele sabe muito bem como é isso. Eu não, eu já vi como é que a gente mói, mas eu não conheço a máquina. Meu filho acho que conhece muito bem.
P/1 – O senhor acha que seria importante isso, ter uma máquina dessas?
R – É muito importante pra gente aqui porque daqui ia sair ela direto moída. Que não é só eu que tenho o guaraná. Todos esses daqui têm, o rapaz que chegou, ele tem um guaranazal ali, ele colheu um bocado esse ano. E assim outros, muito guaraná.
P/1 – E isso ajudaria o quê? No preço? pra vender?
R – É, o preço até o ano passado, quando começou, estava sete reais, parece que terminou em oito, nove. E a gente colhe pouco aqui agora, outros por já colhem mais. Vamos dizer, ele colhe cem, nós colhemos 50, outro ali colhe 80, é assim. Agora nós temos trabalhado para adquirir mais pra ganhar mais guaraná, mais produto. Tem muita gente que colhe muito: 200, 400 quilos. Nós porque ainda temos guaranazal ainda em crescimento. Tem um rapaz que chegou também assim. Ele pode até confirmar essas coisas que a gente trabalha só em guaraná e roça aqui, todo o pessoal aqui, só nisso mesmo. Não tem outro plantio, não.
P/1 – Homero, conta pra mim, em detalhes, desde a plantação até a finalização. O que se faz pra ter um guaraná de boa qualidade?
R – Na técnica dos homens de Maués, tem que botar adubo mas eu na minha ideia, como eu estava dizendo: “Rapaz, eu acho que não, porque, olha, veio o prefeito e mandou trator virar a terra pra gente fazer plantio, guaraná em roça. A gente plantou o guaraná, mas só que não prestou, morre muito; e o guaraná que é plantado no roçado novo, que a gente faz roça na mata, e planta, esse guaraná de lá, que a gente planta lá no roçado, ele vinga que é uma beleza e não morre. E aqui que foi aplainado, que foi virada a terra, ele morre”. Então, isso não sei como, porque ensinaram que a gente podia botar adubo. Eles deram muito adubo, botaram adubo ao redor do guaraná pra ver se ficava bonito, mas não, morre do mesmo jeito. É, não sei se é porque a gente não acerta botar o adubo. Não sei porque é. Então por aí vai. Esse meu irmão que mora aí, como eu estava dizendo, ele tem hectares de guaranazal aqui perto, e não está valendo nada.
P/1 – E quanto tempo dura um guaraná sem adubo?
R – É, sem adubo acho que vai até pra 80 anos.
P/1 – Produzindo?
R – É, ele só não pega muito, mas dá sempre. Porque esse meu guaranazal, que eu tenho ali, está com uns 30 e poucos anos, 40 anos por aí e dá fruto; só não dá mais fruto porque está no mato.
P/1 – Fala uma coisa então: o senhor escolhe um terreno para plantar, que terreno que é esse? Como é que ele é?
R – Ele é barrento assim, a terra tem que ser barrenta pro guaraná, porque senão ele não demora; porque a terra esquenta muito, quando é tempo de verão a terra esquenta muito, aquela areia esquenta e mata o guaranazeiro. E numa terra dessa aqui, não, porque é barrenta, custa ela a secar.
P/1 – Em que época é bom plantar guaraná?
R – O guaraná aqui, a época boa de se plantar é janeiro, fevereiro, até março a gente planta. Antes de começar o verão, porque no verão não presta mais.
P/1 – E com semente ou muda?
R – A gente planta em semente, muda mesmo.
P/1 – E tem diferença pra muda e pra semente?
R – Se a gente traz do mato, ele só dá com três, quatro, cinco anos; e essas mudas que a gente traz dali, não. Com um ano elas já estão dando.
P/1 – A semente demora mais e é mais forte?
R – Demora mais.
P/1 – Fala uma coisa: tem que deixar espaço entre um guaraná e outro?
R – É, é cinco por cinco: cinco metros de um pé para o outro. Cinco, seis metros.
P/1 – O senhor não usa nenhum adubo? Nem orgânico?
R – Não, não, não. Nada. É na marra mesmo!
P/1 – E depois pra colheita: conta um pouco como é a colheita e em que época que é.
R – A colheita começa mês de novembro, vai terminar pra dezembro. A gente apanha ele lá. Quando chega em casa, coloca no chão, o tempo que ele preteja lá gente fica meio ruim, a semente agora a gente vai torrar e ele já fica vermelho. E quando é pouco, a gente traz, apanha hoje, amanhã descasca, torra logo, sai uma beleza o guaraná. Branquinho, olha. É esse guaraná que eu estou torrando agora. E assim, foi apanhado agora, anteontem, e eu estou torrando.
P/1 – Como é que você sabe que o guaraná está no ponto para ser colhido?
R – Porque a casquinha já está bem sequinha. A gente quebra com o dedo faz trec.
P/1 – Mas conta um pouco como é essa colheita. Conta em detalhes, pega, tira, põe onde. Fala um pouquinho pra gente.
R – Colheita a gente vai pra colher eles. A gente só pode apanhar aqueles que estão abertos, aqueles que estão fechados a gente não apanha, não. Se já tiver uma penca desse tamanho, se já tiver dois, três abertos, pode apanhar com toda a penca. Coloca no palheiro e traz para casa.
P/1 – Você usa um mutirão, como que é?
R – Quando dá muito, a gente convida uns dois, três pra ajudar a gente. Quando é pouco, a gente mesmo dá conta. Olha, o filho vem chegando aí.
P/1 – Mas quantos pés o senhor tem?
R – Olha, quando eu comecei, eu tinha dois mil pés.
P/1 – Então, Homero, conta como é que faz pra pilar?
R – Pra pilar a gente tira um pouco assim, bota num pano, bate ele pra descascar, vai batendo devagar, até que ele descasca um pouco, espalha em cima do pano. A gente vai escolher aqueles que já estão sem casca, escolhe tudinho, bota na vasilha, e que vai pro pilão.
P/1 – Quanto tempo demora pra pilar?
R – Uma meia hora assim, já está apurando o bastão. Dois, três, bastões custa um pouco.
P/1 – Depois de pilar que faz pra transformar?
R – Faz o bastão.
P/1 – Como é que faz isso?
R – A gente amassa ele, retira aquela bolinha já do tamanho do bastão que vai ser, então a gente amassa ele assim, põe na mesa ele, arrodiça ele, vai até que ele fica um bastão bonito. Amacia bem ele, bota no fumeiro, ele vai secar. Depois de estar corado, a gente tira, guarda ele, e pronto.
P/1 – Para transformar ele em pó, como é que faz?
R – A gente descasca assim, como eu estou dizendo, bate ele no pano, num saco, bota dentro de um saco, a gente bate, pou pou pou pou, até que sai a casquinha e a gente vai escolher.
P/1 – Mas para transformar do bastão em pó?
R – Em pó? A gente vai na máquina, bota lá, funciona a máquina, a máquina vai comer aquilo, trurururu, até que ficar um pozinho. Passa duas, três vezes também. Pra moer agora pra gente tomar aqui, a gente rala na liga de peixe. Tem umas pedrinhas, que a gente rala naquelas pedras, então engrossa bem o guaraná na água e toma.
P/1 – Me fala uma coisa, seu Homero, a planta que vem de Maués produz um bastão diferente da planta que fica aqui no interior?
R – É a mesma. Mesmo gosto.
P/1 – Não diferencia em nada?
R – Nada, nada.
P/1 – Eu queria que o senhor contasse rapidamente assim, um dia na sua vida. Que horas você acorda, vai comer de manhã, depois vai pra roça. Conta um pouco.
R – Quando eu trabalhava mesmo, acordava era cedo. Eu pegava a enxada e ia embora para o trabalhão. A mulher ficava em casa fazendo café e de manhã levava pra mim lá. Eu já amanhecia no trabalho. Hoje, não, hoje não trabalho, porque tenho filho. Ele que vai pro trabalho e eu fico em casa só fazendo esses trabalhinhos, negócio de mexer o guaraná, descascar, até apanhar mesmo ainda vou. Mas plantar, até posso plantar, mas ele já pula na frente, não vou mais. Eu me acordo cedo ainda, me acordo muito cedo, três horas da madrugada estou aqui, quatro horas estou aqui fora. Já ralei guaraná, já tomei.
P/1 – Na época da colheita, muda um pouco a sua vida, fica mais agitada?
R – É, muda um pouco, porque a gente está com aquele produto ali. A gente vende, a gente colhe o guaraná. Vamos dizer, se der dois, três sacos, você vende. Se der dois sacos de guaraná, a gente já vai pegar aquele dinheiro, depois vamos comprar uma máquina. Você vai vender aqueles dois sacos e, se o dinheiro deu pra comprar a máquina, você já compra aquela máquina, mais alegre você fica! E você vai trabalhar pra plantar ou então limpar o guaranazal. Porque você já comprou essa máquina, você ficou alegre já. Trabalhar mais pra produzir mais. Então é assim.
P/1 – Fala uma coisa, Homero, tem alguma coisa que o senhor faz de diferente, ou já fez de diferente do que os outros fazem? Alguma crença, alguma reza, pra dar mais, alguma coisa assim diferente?
R – Isso nunca eu...
P/1 – Não acredita?
R – Não.
P/1 – Mas tem gente que acredita nisso?
R – É, tem gente que acredita nisso, sim.
P/1 – O senhor me falou que prefere plantar da maneira tradicional, diferente da maneira que faz a EMBRAPA, ou então a AmBev (Companhia Brasileira de Bebidas). Queria que você contasse um pouco qual a diferença que é essa, e qualidade melhor, a sua. O que o senhor acha?
R – Porque a diferença é que os homens de Maués, que plantam o guaraná, eles vão lá na técnica, vão com muito adubo; e nós aqui, não. A gente não tem as condições de estar comprando. Então a gente já planta no avançado, que a gente faz o avançado na mata. Aquela terra ali está mais que adubada. Você faz o buraco, bota aquela terra pra cá, então quando você vai plantar guaraná no buraco, você não vai botar a terra que você tirou lá do fundo do buraco, você bota outra terra ali do lado pra poder a planta vir bonita. Isso mesmo. Estava até falando com um irmão aí, disse: “Rapaz, quando planta guaraná você não vai botar essa terra que tirou lá do fundo, não. Bota essa terra aqui do lado, que foi queimado uma terra que está adubada. Está adubada essa terra, você vai ver que dá guaraná que é uma beleza.” “É isso que eu vou fazer”, ele disse.
P/1 – É melhor que a da Santa Helena?
R – É, eu acho que fica. Eu fui lá, já olhei por lá, um dia desses eu fui lá, segunda-feira andei por aí. Está bonita.
P/1 – Mas o gosto?
R – O gosto é o mesmo. Acho que ele não muda nada, não. Não muda gosto, nada. O tamanho do guaraná de lá é do mesmo desses daqui, guaraná do mato, mas é a mesma coisa.
P/1 – Mas tem alguma vantagem? Então só a produção que é maior?
R – Só a produção lá que é maior porque é na técnica mesmo. É muito guaranazal. Nós não, aqui é pouco. É um, dois hectares. Lá eles, não, é cinco, é dez hectares, então eles colhem muito. É 40, 80 hectares lá. Eles colhem pra tonelada, nós não. A gente não tem a condição. A gente faz um hectare, dois hectares num ano, faz um hectare, outro ano faz outro. Vai plantando pouco assim, um hectare é como nós estamos fazendo aí. Todo o pessoal aqui trabalha assim.
P/1 – Eu vou fazer uma pergunta para o senhor que eu vou fazer igualzinha para o seu filho. Teu filho trabalha com técnicas da EMBRAPA. Ele utiliza essas técnicas, conhece essas técnicas. O senhor e seu filho conversam muito sobre como fazer, como adaptar, o senhor faz dessa maneira, eu faço daquela, conversam muito sobre isso?
R – É, a gente conversa. Eu puxo um assunto do meu tempo que eu trabalhava, comecei a trabalhar, nasci no guaraná. Pra mim, quando eu comecei a trabalhar, fui de um jeito, agora já está de outro. Eu digo: “Não, Augusto, não é assim, é melhor trabalhar assim, como eu comecei”. Ele diz: “Não, papai, mas a gente tem que trabalhar como alguns homens trabalham, que fica melhor. Então vai lá, tu trabalha que eu vou atrás de ti, só vendo como é vai ser o negócio”. É assim que a gente trabalha, a gente conversa com ele, de trabalho, a gente conversa de trabalho, qualquer coisa assim. Fazer um negócio quando eu quero fazer um negócio assim, pra por ___, um negócio meio grande, eu comunico ele, converso com ele. pra ele dar uma ideia também. Ele dá uma ideia, eu fico pensando no que ele me diz, quando eu vejo que não dá, eu paro mesmo e, assim também, eu digo pra ele, eu dou uma ideia pra ele, ele me dá a dele, e eu dou a minha pra ele. Então nós estamos assim, trabalhando todos unidos, mesmo.
P/1 – O senhor conhece a história do guaraná em Maués? A família Negreiros?
R – Não, isso não conheço não.
P/1 – Quando o senhor chegou, já tinha? Já lembra do guaraná desde que era pequeno?
R – Dos Negreiros só esse cunhado que sabe.
P/1 – Na década de 80, houve uma alta do preço, o guaraná subiu muito. Conta como que foi. Por que subiu, como que foi?
R – Naquele tempo eu não sei nem porque subiu. Uma época boa, mas a gente colheu pouco guaraná aquela época. Aquela época nós tínhamos 40 quilos de guaraná. Foi o tempo que eu estava de novo renovando meus guaranazal, porque estava no mato, estava renovando e deu pouco. Eu fui tirar do mato, estranharam, então já não estava mais dando quase fruto, porque estava no mato. Eu fui tirar do mato, ele ficou meio “batido”, deu pouca fruta. E agora, não, agora já está dando mais, estamos colhendo mais.
P/1 – E a quanto chegou o preço naquela época?
R – Naquela época chegou 42, 43 reais o quilo do guaraná. É, semente, bastão, deu muito dinheiro, bastão em pó.
P/1 – Depois teve uma praga, parece, teve uma praga que afetou bastante os guaranazais. O senhor se lembra dessa praga?
R – É, eu me lembro, a praga que deu muito, deu uma queima nos guaranazais e secou muito, e muitos já não dão mais fruta. Já começam a enrolar todas as folhas naquela flor, já enrola um pouco a flor, e seca, não dá mais fruto.
P/1 – O senhor já ouviu falar? Dizem que teve alguns japoneses que vieram pra cá, tentaram plantar na década de 20, 30. O senhor sabe essa história?
R – Não, essa eu não sei, não. Do tempo do japonês, não.
P/1 – Senhor Homero, os indígenas, os Saterés Mawé, foram os primeiros a começar a plantar. Como que é o guaraná deles? É diferente, é igual?
R – O guaraná deles é igual mesmo esse, só que o trabalho deles eu não sei como é, porque lá o preço é maior e pra nós aqui já é pouco. E lá é o máximo.
P/1 – Quanto que é?
R – Lá chega até 20 o quilo. Mas aqui tem, não sei todos, mas tem uns que tratam bem do guaraná. Uns moradores eles tratam bem do guaraná, torram bem torradinho. É um guaraná que vem do campo, vem pra casa, já descasca hoje, amanhã ele está torrando, assim. Igualmente lá, eu digo, porque lá é assim, acho que eles fazem assim. Não vi, mas é bem tratado, dizem. Mas a gente faz também bem tratado aqui. Uns moradores, agora os outros eu não sei, o que eu conheço trabalham bem.
P/1 – Como é que é a relação desses indígenas com a população, com vocês aqui da comunidade?
R – A gente não se comunica, eles trabalham lá, a gente trabalha aqui. A gente não está se comunicando lá. A não ser de Maués. O pessoal de Maués vai lá. Eles conversam lá. Sabe como é, tem o trabalho deles lá. Agora nós é aqui é difícil. O filho deve saber, ele conversa com os homens lá, já está mais adiantado nas coisas.
P/1 – Aqui na comunidade tem algum costume que é indígena que vocês até hoje fazem?
R – Não.
P/1 – Nem comida, nada?
R – É, só tomar guaraná, mesmo.
P/1 – O senhor conhece a festa do guaraná?
R – Conheço um pouco.
P/1 – Já foi lá?
R – É, fui lá, assisti como é. É bonito. Você nunca veio?
P/1 – Não.
R – Venha um tempo pra você ver como é bonito. É beleza, esse tempo todo.
P/1 – Conta um pouco dela.
R – Na festa do guaraná, a gente vai lá, tem aqueles barracos, você vai lá naqueles barracos. Tem gente pilando guaraná lá, tem gente torrando, tem gente fazendo bastão, tem gente moendo. De todo jeito tem. Tem gente que só está ralando pra você beber. Na língua de peixe. Tudo é assim por lá. É bonito. Tem outras vendas também, também comida, bebida.
P/1 – Melhora na época da festa pra vender guaraná?
R – Não, não melhora, não. É melhor porque a gente quer ir na festa, daí o pessoal está liso mesmo, tem que vender cinco, dez quilos. Eu vou vender cinco quilos, dez quilos, pra eu ir na festa. Mas o preço é o mesmo.
P/1 – Na festa eles fazem a lenda do guaraná, eles encenam. Pode contar essa lenda pra gente?
R – Fazem tudo aí. Eles fazem até aquelas figuras, tudo quanto é bicho eles fazem do guaraná. Eles amassam aquela massa, vão fazer aquele bichinho, um lagarto. Eles fazem da massa do guaraná. Tudo isso eles fazem. Qualquer bicho eles fazem. Se quiser fazer um desenho de um gato eles fazem, de um cachorro, tudo isso eles fazem. Fazem um tracajá, qualquer coisa eles fazem
P/1 – O senhor toma guaraná?
R – Tomo guaraná.
P/1 – Todo dia?
R – Todo dia.
P/1 – Quantas vezes por dia?
R – Quando eu acordo cedo, três horas da madrugada, até três vezes eu tomo. Eu ralo na pedra. quando a mulher sai de dentro, já está esperando o copo em cima da mesa, ela já sai, escova os dentes e vai tomar também. Mas ela é doente, ela só toma uma vez, eu não, eu tomo duas, três vezes. Eu ralo guaraná, e tomo.
P/1 – Quanto guaraná você coloca? Quanto de água? Conta um pouco.
R – Em copo assim a gente bota duas copadas de água rala o guaraná quando está meio grossinho, a gente já bota no copo, adoça com açúcar e toma. É assim que a gente faz.
P/1 – O senhor sabe quanto vai de guaraná e quanto vai de água?
R – Não, porque é pedaço, uso bastão quando o guaraná está mole ainda. A gente tem umas pedrinhas de ralar guaraná. Quando o guaraná está mole, a gente corta o guaraná e vai ralar naquela pedra, quando está bem grossinho na água, a gente bota no copo, tempera com açúcar e bebe.
P/1 – E o que o senhor sente ao tomar o guaraná?
R – Tem muitos que dizem que tomando guaraná a gente treme, mas só se for muito a gente treme. Eu acho que o guaraná sustenta muito mais do que o café. O café, eu tomo, ele dá uma fraqueza, eu começo ziziz, meu corpo ziiziz. E o guaraná, não, eu tomo umas três vezes, eu vou até onze horas, meio dia, tem às vezes que até passa pra tarde sem comer outra coisa, mesmo uma fruta. Já tem acontecido isso comigo. Eu acho que o guaraná sustenta um bocado. Sustenta, porque se fosse com café não ia aguentar.
P/1 – Além disso, tem gente que fala que melhora a saúde também. O senhor acha que melhora mesmo?
R – Eu não sei, não. Mas eu acho que é muito bom o guaraná. O guaraná é muito bom pra saúde mesmo, tem gente que faz com miratã. Você já viu falar? Tem gente que faz com mirantã, já pila o bastão, eles ralam aquele pedaço de mirantã, e mistura com guaraná. Coloca pra secar o guaraná, o guaraná seca, que ele vai ralar, daí o mirantã já está lá no bastão do guaraná, rala e já vai com tudo. Quando é em pó, é o mesmo jeito, a gente mistura tudo com guaraná, o pessoal vai botar no copo pra temperar, já toma com tudo o guaraná e o mirantã. Então eles se dão muito bem com isso.
P/1 – Pra que serve esse guaraná com mirantã?
R – Uns dizem que é pra nervoso, como é que é? Pra reumatismo e mesmo outros tipos de doença o mirantã serve.
P/1 – E o guaraná sozinho serve pra que doença?
R – O guaraná sozinho acho que ele fortifica o corpo, porque eu não sinto fraqueza. Eu tomo ele, até agora estou só com o guaraná, não comi nem que fosse uma manga hoje! Nada ainda, estou só com o guaraná, desde manhã e não estou com fraqueza ainda.
P/1 – Há quanto tempo o senhor toma guaraná? Desde que nasceu?
R – Não, eu tomei o guaraná já depois dos meus 15 anos pra lá. Trabalhei muito com meu pai, como eu já falei, pelo mato. Trabalhei muito, graças a Deus. Eu digo pra esse meu filho que eu sou um homem que eu não sou assim cheio de dor no corpo, reumatismo, uma rasgadura, não. Eu não tenho isso, não. Eu tenho só uma doença aqui na coluna que me ataca, que eu não posso carregar muito peso, trabalhar abaixado, é só isso. É só o que eu sinto.
P/1 – Pode fazer mal tomar guaraná?
R – Não, não pode. Não, acho que não. Guaraná não faz mal, não. Acho que deve dar saúde pra gente.
P/1 – Nem se tomar muito de uma vez só. Pode causar algum efeito?
R – Não pode, quer dizer, o guaraná se a gente for tomar novo, no forno por exemplo, se for ralar ele meio grossinho, mesmo, ele faz a gente tremer. Faz.
P/1 – O senhor já viu isso?
R – Já, porque ele é muito forte. Tem que demorar um pouco.
P/1 – Homero, você conhece alguma história de alguém ou de alguma coisa a ver com o guaraná, que seja interessante pra contar, ou uma coisa que aconteceu aqui na cidade, com você, com um amigo seu?
R – Eu quase não sei disso, não. Mas no tempo que eu comecei a colher guaraná, a gente levava daqui – eu e esse meu cunhado pra lá –, os compradores vinham no largo encontrar a gente pra comprar o guaraná. A gente ia levar daqui o guaraná já medido a litro e medido a litro o peso dá certo, mas tem vezes que passa. Quando a gente enche muito o litro passa de um quilo, então a gente encheu o litro, botava de bem a boca dele acertava bem, levava. Chegava lá, o comprador vinha e às vezes a gente lograva ele, às vezes ele lograva a gente. Ele perguntava: “Quantos quilos tem nesse saquinho?” Quando tinha três, a gente já dizia que tinha cinco; ele pegava, ele não ia mais pesar mesmo, que já estava medido. Então a gente já tinha falado que era cinco mesmo, ia levando, ele botava dentro do saco dele, e pronto, e por isso ficava. Era assim, quando nós lográvamos, a gente, como aliás esse cunhado aqui logrou um lá: “Eles estão animados com o guaraná, que ele chegou lá com ele e eles perguntaram quantos quilos que tinha, e ele já disse que tinha 15”. O cara pegou todos os 15 pra ele, botou o guaraná no saco dele e ficou com o dinheiro. É assim que era. Mas compravam muito naquele tempo, quem compra por aqui no largo, assim que era.
P/1 – Para acabar agora, o que o senhor achou de participar dessa entrevista, dessa conversa, e contar a sua história?
R – Ah, mas eu achei muito bonito vocês chegarem. Quando o senhor avisou pra cá, ontem eu fiquei assim, disse: “Poxa”. Eu logo que eu me lembrei dele, disse: “Poxa, mas eu não tenho com que agradar ele assim”. Um bastão de guaraná, poxa, eu não me aprontei pra vocês que vinham chegar como chegaram. Eu não aprontei pra você um bastão de guaraná, outra coisa, eu não me aprontei, não. Eu fiquei preocupado com isso, mas eu achei que vocês chegaram numa época boa pra gente conversar, se entender.
P/1 – Obrigado pela entrevista. Obrigado, seu Homero.
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