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História
Por: Museu da Pessoa,

Um filósofo do Sertão

Esta história contém:

Um filósofo do Sertão

Vídeo

"Coloca o nome de Inácio para ver se escapa", porque a mortalidade infantil era muito grande no Nordeste quando eu nasci. Por muito tempo perdurou essa mortalidade infantil. Morria a maioria das crianças antes de completar um ano de idade. Eu era o quarto filho, porque os três morreram antes. A minha mãe colocou o nome de Inácio para ver se eu escapava da mortalidade, então ela colocou pedindo pro santo Inácio.

Eu lembro que meu pai me levava a partir dos cinco anos… Desde criança pelo menos a minha mãe já levava minha rede com a rede dos meus irmãos e irmãs, amarrava debaixo das árvores onde estava trabalhando. Nós já estávamos assistindo ali, então, nosso aprendizado e familiaridade com o trabalho com a terra, traz uma memória muito antiga, bem de início, de origem de vida, de origem de você estar começando a ver as primeiras coisas. Era sua mãe e seu pai se movimentando pela sua sobrevivência, em nome da sua sobrevivência. Pra vê-los chorar, era quando um de nós pedia comida e eles tentavam esconder a situação. Nunca eles diziam que não tinham. Eles podiam até não comer, mas passavam diretamente para gente tudo que eles conseguia, mas chegou o momento que não tinha mesmo. Chegou o momento que minha mãe fazia chá de feijão. Áss vezes alguém dava, o vizinho, a vizinha… Ela pegava folha de quiabo, pedia alguém que tivesse algumas folhas… Semente de jerimum, pisava e fazia leite para gente. A gente comia aquilo achando que sentir fome era a coisa mais normal do mundo. Às vezes apertava um pouco mais e chorava com fome, mas não tinha mais o que dar.

Eu trabalhava de segunda a sábado, só tinha domingo para descanso que não era descanso, naquele domingo, nós tínhamos que buscar lenha. Fui crescendo e foi vindo a responsabilidade. A partir de cinco, seis, sete anos, você não sabe mais o que é ser criança. Não sabia mais, você já tinha responsabilidade. Eu ia trabalhar, limpar mato ou...

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Depoimento de Manoel Inácio

Entrevistado por Jonas Samaúma

São Paulo,

Realização Museu da Pessoa

Transcrito por Ana Beatriz Cunha

Revisado e Editado por Jonas Samaúma

R – "Eu venho da terra chamada Sertão/ eu venho tratar de assuntos afim/ Eu sou do Nordeste do rei Lampião"/ Das terras que eu venho se conta a história/ que as naus da colonização/ por engano invadem com deuses/ ávidos e famintos de guerra e de paus e de Pau-Brasil/ ouro e mel se fartaram à vontade/ Mas, as dívidas de guerra alçaram os degraus que obscurecem o futuro da humanidade/ Futuro sem rumo/ à beira do caos/ Reverter tal futuro, é por ironia hoje, uma necessidade/ "Eu venho da terra do início do fim/ Eu venho da terra chamada Sertão/ Eu venho tratar de assuntos afim/ Eu sou do Nordeste do rei Lampião"/ Eu venho das serras de Manduladino/ das terras de "Retama". Uruburetama, Jaguaretama,Baretama, Pindoretama dos Tarariú/ Despido de flora, cultura e destino/ E vestido de morte nas guerras do Açu/ E dos fenômenos em choque, São José, Equinócio, Euquínio da indústria da seca, do maracatu e do reino indomável, o povo nordestino coroado com o estigma do mandacaru/ "Eu venho da terra do início do fim/ Eu venho da terra chamada Sertão/ Eu venho tratar de assuntos afim/ Eu sou do Nordeste do rei Lampião"/ Eu venho da terra que o sonho brotou do remanescente das guerras cruéis/ onde o chicote antes dominou as costas dos negros e dos índios fiéis/ que ainda pagaram promessas que o padre mandou andando de pés/ esperando o maná que ainda não chegou na terra dos santos e dos coronéis/ "Eu venho da terra do início do fim/ Eu venho da terra chamada Sertão/ Eu venho tratar de assuntos afim/ Eu sou do Nordeste do rei Lampião"/ Eu venho nas trilhas do sonho do novo. Do novo e dos velhos conselhos de Antônio/ De António dos sonhos sonhados com o povo/ Do povo e de Antônio/ Dos sonhos que livram a gente do estorno/ Estorno escravista, sistema medonho/ Medonho...

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Título: Um filósofo do Sertão

Local de produção: Brasil / São Paulo

Autor: Museu da Pessoa

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