IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Terezinha Stabile, nascida em Paraibuna no dia 3 de junho de 47. Nasci e cresci em Paraibuna. FAMÍLIA Meu pai era Manoel Stabile e minha mãe, Maria das Dores Stabile. Meus avós eram Nicolau Stabile e Maria Francisca Maia de Jesus. Eles trabalhavam com quitanda. Minha avó fazia sequilhos, fazia bolo de penca, na época. São esses bolinhos comuns de padaria, de polvilho. E também eles começaram a trabalhar com pastel. Só meu avô era italiano. Mas, eles trabalhavam já com o comércio, lá em Paraibuna mesmo. Faziam essas coisinhas pra fora: cocada, sequilinho, tudo isso eles faziam. Isso os avós, os pais do meu pai. E os pais da minha mãe eram lavradores lá de Paraibuna. Tenho mais seis irmãos: quatro mulheres e três homens; agora são dois, pois um faleceu. Tenho um irmão que é formado advogado. Os demais só fizeram até a quarta série. Tem também uma irmã, a Bernadete, que é formada professora. Agora ela trabalha lá em Campos do Jordão. Eu tenho uma menina chamada Ana Ligia. Tem seis anos, é minha afilhada. A mãe faleceu e o pai foi pedir se eu poderia ficar com a menina. Ela está comigo há três anos. Por enquanto, ela não mexe com o pastel. Às vezes, ela quer reinar lá e eu não deixo. Quando ela crescer, se Deus quiser, que a gente tenha saúde e continue no ramo, pretendo que ela aprenda, sim, porque eu me sinto muito feliz no que eu faço. CIDADES Paraibuna A cidade não mudou muito não. Sempre foi uma cidadezinha pacata, teve um povo muito simples, humilde, como é até agora. Era uma cidade assim, não muito movimentada, e tinha mais pessoas do que agora. A população era maior. Depois, quando foi fundada a represa, o povo começou a sair da cidade. Porque a represa pegou muitas terras, e eles começaram a ir embora pra fora. Paraibuna não tem fábrica, não tem onde trabalhar, o povo saiu muito de lá e veio pra São José, Jacareí... Minha irmã mesmo, veio pra...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Terezinha Stabile, nascida em Paraibuna no dia 3 de junho de 47. Nasci e cresci em Paraibuna. FAMÍLIA Meu pai era Manoel Stabile e minha mãe, Maria das Dores Stabile. Meus avós eram Nicolau Stabile e Maria Francisca Maia de Jesus. Eles trabalhavam com quitanda. Minha avó fazia sequilhos, fazia bolo de penca, na época. São esses bolinhos comuns de padaria, de polvilho. E também eles começaram a trabalhar com pastel. Só meu avô era italiano. Mas, eles trabalhavam já com o comércio, lá em Paraibuna mesmo. Faziam essas coisinhas pra fora: cocada, sequilinho, tudo isso eles faziam. Isso os avós, os pais do meu pai. E os pais da minha mãe eram lavradores lá de Paraibuna. Tenho mais seis irmãos: quatro mulheres e três homens; agora são dois, pois um faleceu. Tenho um irmão que é formado advogado. Os demais só fizeram até a quarta série. Tem também uma irmã, a Bernadete, que é formada professora. Agora ela trabalha lá em Campos do Jordão. Eu tenho uma menina chamada Ana Ligia. Tem seis anos, é minha afilhada. A mãe faleceu e o pai foi pedir se eu poderia ficar com a menina. Ela está comigo há três anos. Por enquanto, ela não mexe com o pastel. Às vezes, ela quer reinar lá e eu não deixo. Quando ela crescer, se Deus quiser, que a gente tenha saúde e continue no ramo, pretendo que ela aprenda, sim, porque eu me sinto muito feliz no que eu faço. CIDADES Paraibuna A cidade não mudou muito não. Sempre foi uma cidadezinha pacata, teve um povo muito simples, humilde, como é até agora. Era uma cidade assim, não muito movimentada, e tinha mais pessoas do que agora. A população era maior. Depois, quando foi fundada a represa, o povo começou a sair da cidade. Porque a represa pegou muitas terras, e eles começaram a ir embora pra fora. Paraibuna não tem fábrica, não tem onde trabalhar, o povo saiu muito de lá e veio pra São José, Jacareí... Minha irmã mesmo, veio pra Jacareí, agora ela voltou novamente pra Paraibuna. Então, o pessoal saiu muito de lá. Quem ficou foi só o de manutenção da represa. O povo mesmo de lá, quase a maior parte, foi embora. O povo de Paraibuna, como foi embora por causa da represa, por causa da falta de emprego. Quando chega uma festa junina, chega uma festa de santo Antônio, um feriado, eles vão pra Paraibuna porque a família deles está lá ainda. Os avós, os pais. Muitos têm casa lá, também, então eles voltam para Paraibuna. E chegando em Paraibuna, o povo que já era freguês da gente, vai lá no Pastel do Manezinho. E não e só freguês já conhecido, porque um encontra com uma amiga, vem aqui pra São José, outro encontra com outra pessoa, então, a gente tem freguês em tudo quanto é lugar. Os filhos de Paraibuna levam pra fora a fama do pastel do Manezinho. Então nossa freguesia, graças a Deus, é grande. Quando eu era criança, a gente fazia muita compra também em São José. O comércio de Paraibuna era pequeno. Mas, minha mãe comprava lá algumas coisas... farinha, por exemplo. Fabricavam na própria roça. Papai comprava farinha do sítio. Hoje, eu tenho que comprar na fábrica porque eles não fazem mais farinha. O comércio lá, eu acho, era melhor. Tinha mais coisas, mais novidade. Tinha lojas. A do seu José, já falecido, que tem até hoje, por sinal, na frente da minha casa: continua com o filho dele. Vende tecidos, armarinhos em geral, sapato. Ele comprava do viajante que passava em Paraibuna. Tinha muito viajante. Tinha bastante viajante que vendia lá. Sapato, acho que o viajante passava vendendo, porque eu não me lembro que ele fosse em São Paulo... Nem o filho dele não vai: compra do viajante. Ele tinha móveis, também. Era loja de móveis, grande. Hoje, com o filho dele, não tem móveis pra vender. Abriram mais lojas de móveis, e como ele era pouco, comércio pequeno, ele fechou. Mas continua com os tecidos, com os sapatos, essas coisas, armarinho, tudo ele tem pra vender lá. No mercado, antigamente, era mais açougue e armazém. Frango, essas coisas que vêm da roça, vendia lá no pátio, em frente ao mercado. Agora tem uma praça. Modernizou. O pessoal trazia frango, trazia essas coisas e vendia tudo ali. O mercado era mais pra vender carne de porco, de vaca. O comércio tinha bastante fartura na época da minha mãe, minha mãe contava. Agora tem mais coisas, mais e mais de novidade, mais atual mais moderno. A feira do domingo é uma feirinha rural. São produtos da roça, verdura, só de Paraibuna, cultivado lá. Não tem agrotóxico, não tem nada. E vem pessoal de São Paulo, Taubaté, São José; tem os produtores de fruta; vendedor de roupa - a maior parte é roupa, que vende. Tem de tudo nessa feira. É bem freqüentada, bem movimentada. É bem em frente à minha casa, quase, na rua do mercado. As outras lojas devem vir buscar os produtos em São José, São Paulo. Ali, em Paraibuna, passava uma estrada para o litoral. Passava no centro da cidade, no centro mesmo. Depois fechou, e agora passa bem em cima. A vista de Paraibuna mudou. Isso foi muito ruim porque o pessoal que passava no centro parava ali pra gastar. Dizem que era a rua mais movimentada da cidade. Agora não vão atravessar a pista pra ir à cidade: eles já vão direto pra Caraguá. Quando voltam, já vão direto embora, não param. Essa estrada deixou de passar na cidade quando eu era pequena ainda. Eu tinha uns quinze anos mais ou menos quando deixou de passar lá. Lembro que o pessoal reclamou, na época. Reclamavam que o comércio tinha ficado bem fraco. INFÂNCIA Na minha infância, na minha casa, de manhã meus irmãos trabalhavam fora. Pelo menos os moços, eu me lembro, trabalhavam fora. As meninas, já desde pequena, trabalhavam com a mamãe ajudando a fazer os pasteizinhos. Desde pequeno, porque meu pai herdou do meu avô a receita do pastel, então nós fomos todos criados ali no pastelzinho. Ninguém trabalhou fora. Só os meninos e eu, que me formei e fui trabalhar, mas, no final de semana, eu trabalhava no comércio. Todos estudavam. Não tinha tempo pra brincar. Era só no pastelzinho. A minha irmã conta que quando faltavam quinze dias pra Semana Santa a minha mãe fazia ela faltar à aula. Porque não era só pastel que ela fazia: fazia bolacha, sequilho, rosquinha, bolo, pudim e um tradicional “afogado“, que agora em Paraibuna muita gente faz o “afogado”, mas o “afogado” era do meu pai mesmo. Meu pai fazia e vendia também no comércio. COMÉRCIO O “afogado” é um cozido de carne, uma carne de segunda com osso, cozido devagarzinho, no fogão a lenha. Isso é como meu pai fazia, naquela época. Ele não usava o fogão a gás, tinha muita paciência. Então, era cozido de véspera e no dia seguinte era temperado com cheirinho verde e colorau. Fazia um caldo suculento pra gente comer com farinha, arroz branco e tomate. Só isso que acompanhava. E vendia - nossa, vendia - até hoje eles procuram. Agora minha irmã anda fazendo também. O pastel Manezinho era vendido no mercado. Era vendido primeiro só no mercado. Depois nós abrimos o comércio e o barzinho, começou a vender no comércio e em casa. Daí o mercado foi fechado pra reforma e meu pai teve que ficar vendendo só em casa. A freguesia que ia no mercado passou a ir em casa. Quando eles reinauguraram o mercado, meu pai já estava bem cansado, doente, e não quis voltar mais pra lá. Nós tentamos voltar, meu cunhado abriu um barzinho, tentamos voltar, mas não vencia, tinha que ficar levando pastel pra lá e trabalhar em casa. Resolvemos ficar só em casa mesmo. No mercado tinha um boxe: vendia só café e pastel. Hoje, na minha casa, a gente vende suco, refrigerante. Mas todo mundo fala que o jeito tradicional tem que ser com café. A nossa casa foi aberta ao povo, pros nossos fregueses. É um rancho muito bom. O pessoal vai chegando e vai entrando. Quando a pessoa vem de fora, pela primeira vez, e vai acompanhando um amigo ou parente e vai entrando, diz: “Nossa, como você vai entrando assim, na casa dos outros?”; “Olha, eu tô entrando porque fulano me trouxe”. “Pode entrar... É assim mesmo.” Eles se assustam porque hoje em dia, ir entrando assim, na casa dos outros... Enche a minha casa. Fica a sala, fica o rancho, cozinha... Vai entrando, vão se acomodando por lá. Às vezes, ficam em pé. Uns pedem pros outros sair e a gente arruma uma mesinha na sala também. É gostoso o lugar. Nossos clientes são todo tipo de gente - homem, mulher, criança - é cliente do Pastel do Manezinho. Lá, nossa, tem até da quarta geração porque os pais vão e levam os filhos; os filhos vão crescendo, casam e levam os outros filhos; e assim vai indo, passando de geração em geração. Não sendo festa, gente faz de setecentos a oitocentos pastéis. A gente faz de véspera porque ele é gostoso descansado. Quando chega domingo, depois da missa é que tem o movimento. Quando é mais ou menos dez horas, que termina a missa, a gente está acabando e começa a fritar. A gente vai fazendo, fritando, então a gente perde a conta. Agora, quando é festa, a gente já deixa quase mil pastéis prontos. Hoje tem muita gente de fora, porque passa muita gente fazendo reportagem lá. Já passou na televisão, tem em revistas. Então vem pessoal de fora, todo domingo. No domingo, tem a feira livre e a gente acompanha o movimento. Até uma hora, mais ou menos, a gente fica vendendo. Está tendo muito pessoal de fora, pra procura, muita gente de fora, por causa dessa divulgação do pastel. Se a pessoa quer comprar o pastel para levar, a gente põe numa caixinha de doce. Quando vai pra longe tem aquelas embalagens igualzinho marmitex. A gente arruma, embala direitinho. Os pastéis já foram tão longe... Já foi pra Curitiba, Ribeirão Preto. Não vai frito. Vai cru, porque o gostoso é ser frito na hora. Vai cru, a pessoa frita, a gente explica. Tem gente que diz: “Ah, mas eu fritei e parece que não ficou igual daqui...”. Não sei por quê, não tem segredo. Antes, quando meu pai fazia, fritava no fogão a lenha. Hoje, a gente já modernizou e usa o fogão a gás. A gente mantém ainda o fogão a lenha, mas só por curiosidade. Nossa freguesia sempre foi a dinheiro. Às vezes, quando a pessoa era muito conhecida, o meu pai fazia fiado. Quando era muito conhecida. O pessoal lá, graças a Deus, não tem esse problema. Eles compram muito no dinheiro. O pastelzinho custa um real. Ele é pequeno. Não é muito grande, não. Do tamanho dos risólis. Vem recheio de carne e de queijo. Meu pai, na época, fazia até de bacalhau, mas o bacalhau agora está muito caro e não compensa. Tem que vender a pelo menos um e cinqüenta, no caso. Então, de bacalhau a gente não faz. Meu pai também sempre fez de carne e queijo, sendo que o de queijo ele fazia só na época da Semana Santa porque o pessoal não comia carne. Agora, como tá havendo bastante procura e o pessoal de fora gosta do de queijo, a gente tá fazendo de carne e de queijo. Agora, o tradicional, o que o povo de Paraibuna gosta, é só de carne. Eles acham que casa mais com a massa. O pastel é feito com farinha de milho. A gente tem uma farinha especial - que é uma farinha crua - que mistura com a farinha de milho. Vai trigo, vai um pouco de banha e vai uns outros preparos. Faz a massa, deixa descansando, descansa um pouco, e depois é sovada. Depois de feitos, os pastéis têm que descansar, ser feitos de véspera. Frita direto, ele é muito prático. É rapidinho para fritar. A gente já deixa a gordura ali no fogo baixo. A pessoa chegou, a gente só suspende, e sai na hora, é rápido. Ele cresce, cresce sim cresce e tem alguns que viram sozinhos. Esse é o charme do pastel. O pessoal que vem de fora gosta de ver isso. Na cozinha onde eu frito tem um vitrô grande; eles chegam no vitrô e querem ver o pastel que vira sozinho. Ele vira Frita dum lado e quando está quase frito, ele vira sozinho assim na gordura. Isso que eu tô falando, não são todos. Porque são quatro irmãs que ajudam a fazer e tem também a minha cunhada. Se a massa está bem fininha - porque é tudo feito a mão, esticado no rolo, tudo manual, e às vezes a massa está mais grossa, outra faz a massa mais fina - mas se a massa está bem fininha, ele vira sozinho; se está mais pesado, ele já não vira e tem que ser com o auxílio da escumadeira. Nunca pensamos em fazer o pastel em escala industrial, vender a receita pra alguma empresa. Nunca ninguém ofereceu. Não sei se a gente vai ter coragem de fazer o pastel em escala industrial ou vai querer. Esse sobrinho que eu falei, a gente pretende, mais pra frente, conversar com ele pra ver se ele quer abrir uma sociedade. Porque a gente, também, não é tão criança assim. De repente, a gente quer descansar e quem sabe se ele continua... EDUCAÇÃO Era uma escola boa. Eu fiz o primário em Paraibuna; depois o magistério em Jacareí; e a faculdade, eu fiz aqui em São José. Em Paraibuna não tinha magistério, na minha época. Eu estudei depois de grande porque, na época, a gente trabalhava e não ia muito... faltava muito à aula. Na Semana Santa tinha que ficar em casa ajudando. Então eu fiz até a quarta série e parei. Eu não fiz a quinta. Daí teve um exame de admissão - porque naquela época era exame de admissão - e eu resolvi prestar o exame. Passei e entrei no ginásio, e depois continuei. O magistério fiz em Jacareí e pedagogia em São José. TRANSPORTE Vinha de ônibus para estudar em São José. O magistério, quando eu fiz em Jacareí, eu ficava na casa da minha irmã durante a semana, e no final de semana ia pra Paraibuna pra fazer os pastéis. Na faculdade, eu viajava todo dia. Era ônibus de linha normal. Na questão do transporte - pra fazer compras ou pra estudar - nunca teve dificuldade de transporte aqui na região do Vale, entre cidades. Por exemplo: você em Paraibuna, pra sair de Paraibuna, não tinha dificuldade. Tinha bastante ônibus. Às vezes, a gente vinha de carro. JUVENTUDE Na juventude, tinha baile em Paraibuna, mas a minha mãe era muito severa e não deixava a gente ir de jeito nenhum. Ela, coitada, não gostava de sair. Trabalhava o dia inteiro. Era muito cansada. Fui conhecer baile depois de casada; criança, eu não ia. No cinema a gente não podia ir à segunda sessão porque era tarde, porque lá o pessoal antigo tinha horário pra entrar, horário pra sair. A gente foi criada naquele regime muito autoritário. Não tinha muita liberdade, não. NAMORO Eu conheci meu marido lá em Paraibuna. Fui num restaurante almoçar..., não, jantar. Daí, ele era garçom lá. Ele não era de Paraibuna, ele era de Taubaté. Então nós conversamos e depois ele marcou um encontro e iniciou o namoro. Meu pai era vivo ainda. No começo, eles não queriam deixar eu namorar porque o rapaz não era de lá; não conheciam direito, mas depois consentiram. Eu casei depois que minha mãe faleceu. Enquanto ela não faleceu, não casei. Ficava junto, trabalhava. Daí, depois, eu fiquei sozinha com a minha irmã, e resolvi casar. CASAMENTO O casamento foi lá em Paraibuna. Foi muito bom, foram muitos colegas. É que eu sou muito conhecida lá. Não servimos pastelzinho. O pessoal reclamou. Fizemos tudo quanto é salgado, mas pastelzinho nós não fizemos: “Mas o melhor da festa vocês não fizeram, que era o pastelzinho”. Eu fiz o bolo. O pastel é gostoso pra fritar na hora, quentinho; aí, não tinha jeito. O pessoal todo de casa ocupado, não tinha como ficar fritando pastel. TRABALHO Eu dei aula. Eu me aposentei como professora do primário. Dei aula no primário, lá em Paraibuna. Durante a semana eu lecionava e nos finais de semana trabalhava com meu pai no mercado. Eu dei aula no Cerqueira César, uma escola muito boa. Uma criançada muito boa, uma escola moderna. Dizem que é uma das melhores escolas da região. Depois eu fui pra roça. Não cheguei a ficar nem um mês na roça. Passei no concurso e voltei pra minha sala mesmo. Na escola na roça, eu tinha mais ou menos uma média de trinta alunos. Era separado por série. Tinha primeira, segunda e terceira séries. Era mais difícil de trabalhar. Eu não estava acostumando muito lá, não. No primário, na cidade, eu só tinha uma sala. Mas na roça tinha criança muito boa: aprendiam, faziam a lição e respeitavam mais a professora na roça do que na cidade. Tinham mais respeito pela professora, não faziam muita bagunça. E os pais faziam questão que as crianças fossem estudar. Eles vinham de longe; tinha criança que vinha até a cavalo pra estudar. Outros vinham de charrete. Os pais traziam na escola que ficava longe da casa deles. É a região indo para o litoral. Fica quase um quarto da estrada, acho, indo pro litoral, numa daquelas pontes lá. Ponte dois, se não me engano. Lá era a escola rural. Porque Paraibuna parece que tem mais gente na área rural do que na área urbana. Acredito que agora não, por causa da represa que fechou e o pessoal veio embora. Eu acredito que agora tem mais pessoas na zona urbana. Hoje tem duas escolas, só, porque uma fechou. Já teve o curso de magistério. Já teve também contabilidade. Nessa escola onde lecionei, agora tem o ginásio. Na época, não tinha. Era só primário; agora abriu o ginásio. As duas escolas são da rede pública municipal. VALE DO PARAÍBA Hoje, venho muito a São José fazer as compras. É porque lá em Paraibuna, além de tudo, as coisas são mais caras. Em São José, você encontra o produto bem mais barato, desde o supermercado. O material que eu uso, compro em São José porque lá não tem condição, é caro. Jacareí era mais ou menos como é agora; não mudou muito não. Tinha bastante indústria, um comércio muito bom. Tinha essa escola do magistério que era muito boa. Era uma cidade muito boa, como é até agora. E tinha muita gente de fora que ia estudar lá. Tinha de Santa Branca - a gente conhecia bastante gente de Santa Branca - ; de São José; da minha cidade mesmo, tinha uma turminha boa; de Guararema... Todos estudavam lá em Jacareí. São José sempre teve um comércio muito bom. Tem de tudo, tudo o que a gente procura. Às vezes, eu ia também em São Paulo, com a minha irmã. Comprava as coisas lá e quando eu ia para São José, via a mesma coisa com o mesmo preço. Eu acho que é muito bom o comércio de São José. A gente passou a comprar muito depois que nós fizemos sociedade com minha irmã, depois que meu pai faleceu. Eles, meus pais, não saíam, não gostavam muito de sair de casa e a gente comprava as coisas lá em Paraibuna. Carne, mesmo: comprava lá. Daí a gente começou a ver que surgiram muitos supermercados bons em São José e achamos que era mais fácil vir comprar aqui. RELAÇÃO COM O COMÉRCIO Quando eu vi o shopping pela primeira vez, eu gostei, achei bonito porque era uma novidade pra gente. Compro no shopping, mas não tenho preferência. Eu compro nos dois: na rua e no shopping. Quando eu não encontro o que eu gosto, o que eu quero na rua, vou pro shopping. Vou primeiro na rua e no shopping depois. O shopping é mais pra passear, porque as coisas lá não são muito baratas. Aqui na rua a gente encontra coisas mais facilitadas. Eu compro muito ali no calçadão de São José. Faço compras na loja Riachuelo - gosto muito da Riachuelo - ; na Pernambucana. Na Casa Confiança eu cheguei a comprar tecido. Nossa, era uma loja muito boa. Tinha muita variedade de tecidos. Eu gostava muito de comprar. Será que tem ainda? Nossa, não voltei mais lá. É que eu, pra falar a verdade, eu não gosto muito de comprar tecido. Eu gosto mais de comprar roupa pronta. Então, eu não vou muito nessas lojas. Antigamente, se comprava muito tecido. Tecido, agora, hoje em dia, é muito difícil, costureira, essas coisas. Prefiro comprar mais roupa pronta. Eu gosto de fazer compras. Gosto de comprar roupa, comprar sapato, gosto de fazer compra de supermercado. Fazer compra é comigo mesmo... Venho fazer compras aqui em São José. É muito difícil a semana que eu não venho. Ás vezes, eu venho duas vezes por semana. Compro por causa do meu comércio. Tem que ser tudo fresquinho, então eu venho sempre comprar. Às vezes, eu compro um vestido, um sapato. Dá, eu compro. AVALIAÇÃO Comércio Gosto do que eu faço e me sinto muito feliz. Me dou muito bem. Tudo que eu tenho eu devo a isso. Apesar de eu ser professora, tinha minha renda também, separada. Meu pai, por exemplo, criou nós todos nesse ramo. Ele deixou três casas em Paraibuna, deixou uma casa muito boa, deixou mais casas pros filhos. Então, eu acho que é uma coisa boa. A gente não tem do que reclamar. Isso meu pai construiu só com o comércio. Comércio do pastel. Ele vendia também o “afogado”, mas depois que ele faleceu nós paramos com o “afogado” porque não queríamos misturar as duas coisas. Eu pretendo ensinar o pastel para a minha filha. E tem os sobrinhos. Olha, eles se formaram. Já tem muito sobrinho advogado; outra é dentista; tem uma que tem escritório de contabilidade; tem um outro que trabalha em Campos do Jordão, na área de turismo. Então, eu não sei como vai ser... O pessoal fala: “Vocês não podem deixar terminar o pastel”. Porque nenhum deles seguiu. Esse meu sobrinho que trabalha no turismo, ele tem um quê. O pai dele também é chefe de cozinha em Campos do Jordão, no Grande Hotel, e ele aprendeu com o pai muita coisa. Ele mexe com cozinha. Pode ser até que tenha um jeito, quem sabe ele... se futuramente, na hora que o pai dele aposentar... Ele pretende voltar para Paraibuna porque ele gosta muito da cidade. Ele mora em Campos do Jordão. Esse aí é o único que eu acho que pode ser que tenha uma queda pelo comércio do pastel. Agora, os outros... Eu comecei menininha. Eu tinha, mais ou menos, uns dez anos e já ajudava a arrumar, porque a gente faz e arruma os tabuleiros pra ficar tudo certinho e no outro dia só ir fritando. Eu me lembro, minha mãe já me ensinou a arrumar, então eu arrumava. “Arruma que você vai ganhar dinheiro”, ela dizia. E ganhava mesmo. Ganhava, nossa, ganhava. Logo no começo, ela abriu uma caderneta de poupança. A gente era muito econômico; já começou a fazer economia pequenininha. O meu irmão, como era o filho mais velho e minha mãe não tinha empregada - porque naquela época, não se tinha condições de pagar empregada - então ele subia no caixote e ajudava minha mãe a lavar louça. Nossos irmãos foram criados todos no trabalho. Então, já estava na hora de ter alguém mais. Tem um sobrinho que ajuda lá, também, mas ele trabalha no escritório com a irmã dele, escritório de contabilidade. Ele ajuda a gente no final de semana mas, não sei, vai ser difícil achar alguém que queira continuar lá. As lições do comércio meu. Por exemplo: eu acho que eu sou muito feliz no comércio, pelo menos no nosso comércio de Paraibuna. Foi bem aceito, o pessoal gosta muito, sempre elogiam. Então, minha vida eu fiz ali. Eu gosto muito do comércio. Lá não tem o que reclamar, não.
Recolher