IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Alfredo Vieira Alves Filho, nasci em Campinas, em 2 de fevereiro de 1946. FAMÍLIA Sou filho de Alfredo Vieira Alves e Ana Fernandes Alves. São campineiros. O papai era filho de portugueses e a mamãe era filha de uma italiana casada com um espanhol. Eu tive pouco tempo de convivência com meus avós, que faleceram quando eu era menino. O meu pai sempre foi voltado ao ramo de transportes e ajudava muito o meu avô, Manuel Vieira Alves, que possuía, na época, um tipo de transportadora. Era transporte de móveis em carroções especiais, com dimensões especiais pelo tamanho dos móveis da época: madeiras maciças, buffets grandes, cristaleiras grandes. Então eram usados carroções especiais movimentados por tropas de burros, na época de 28, 29, e, depois, no início dos veículos de tração motorizada. O papai ajudava, ficava com meu avô e depois convidou meu tio para o negócio. Os dois iniciaram uma empresa de transportes, podemos assim chamá-la, porque eram dois caminhões, um para cada um, em 1932. O vovô já fazia isso com um tio-avô meu. Porque o vovô era ilhéu, era da Ilha da Madeira, de Portugal. Ele veio para o Brasil e começou nessa atividade. Esses carroções serviam praticamente para tudo, não só para mudança, poderiam ser usados para qualquer outro tipo de carga. Depois desses carroções e tropas de burros veio a época da motorização e meu pai e meu tio iniciaram a transportadora. Eu tenho irmãos que trabalharam na empresa junto conosco logo no início, mas não por muito tempo. Tenho um irmão e uma irmã e sou o caçula da família. Coube a mim a continuação do negócio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Aos 16 anos eu comecei a freqüentar a empresa tentando ajudar em alguma coisa, tentando aprender porque era um mundo desconhecido para mim. Participando desse mundo, você vai adquirindo a experiência e o saber. Eu, muito curioso, sabia o...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Alfredo Vieira Alves Filho, nasci em Campinas, em 2 de fevereiro de 1946. FAMÍLIA Sou filho de Alfredo Vieira Alves e Ana Fernandes Alves. São campineiros. O papai era filho de portugueses e a mamãe era filha de uma italiana casada com um espanhol. Eu tive pouco tempo de convivência com meus avós, que faleceram quando eu era menino. O meu pai sempre foi voltado ao ramo de transportes e ajudava muito o meu avô, Manuel Vieira Alves, que possuía, na época, um tipo de transportadora. Era transporte de móveis em carroções especiais, com dimensões especiais pelo tamanho dos móveis da época: madeiras maciças, buffets grandes, cristaleiras grandes. Então eram usados carroções especiais movimentados por tropas de burros, na época de 28, 29, e, depois, no início dos veículos de tração motorizada. O papai ajudava, ficava com meu avô e depois convidou meu tio para o negócio. Os dois iniciaram uma empresa de transportes, podemos assim chamá-la, porque eram dois caminhões, um para cada um, em 1932. O vovô já fazia isso com um tio-avô meu. Porque o vovô era ilhéu, era da Ilha da Madeira, de Portugal. Ele veio para o Brasil e começou nessa atividade. Esses carroções serviam praticamente para tudo, não só para mudança, poderiam ser usados para qualquer outro tipo de carga. Depois desses carroções e tropas de burros veio a época da motorização e meu pai e meu tio iniciaram a transportadora. Eu tenho irmãos que trabalharam na empresa junto conosco logo no início, mas não por muito tempo. Tenho um irmão e uma irmã e sou o caçula da família. Coube a mim a continuação do negócio. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Aos 16 anos eu comecei a freqüentar a empresa tentando ajudar em alguma coisa, tentando aprender porque era um mundo desconhecido para mim. Participando desse mundo, você vai adquirindo a experiência e o saber. Eu, muito curioso, sabia o que era uma borracha cardan de um caminhão, ficava atrás dos mecânicos que mexiam nos caminhões com aquela curiosidade da juventude. Depois me formei em Direito, trabalhei um pouco na Justiça do Trabalho, onde cheguei a exercer a função de Juiz do Trabalho Classista, representante dos empregadores. Aí houve a extinção do cargo e me veio a idéia da continuação da empresa. Fundei a Vieira Filho nos mesmos moldes da empresa do meu pai, tentando modernizar a atividade. Escolhi o setor de mudanças, que já era coisa que vinha de antigamente. Eu acredito que meu pai esperava por isso, porque o meu irmão ficava com a parte financeira da empresa, o papai era o comercial, e eu ia com ele em todas as visitas de clientes. Eu participava desse tratamento e aproximação com os clientes. O papai sentia que eu tinha aquela curiosidade anterior de conhecer um caminhão por dentro, como era o motor, coisa que o meu irmão não se preocupava. Eu tinha esse dom de curiosidade e participava com o papai que via em mim um continuador do nome. Hoje, eu sou a terceira geração daquilo que foi fundado. INFÂNCIA Eu tive a grata satisfação de morar defronte ao Bosque dos Jequitibás. A minha infância foi praticamente dentro desse bosque; eu vivia lá o dia todo. Esse bosque tem diversos planos de terreno. Eu tinha carrinho de rolimã, que era a minha preferência de brincadeira com os amigos. Pela facilidade também, porque a minha empresa se localizava em frente à minha casa e, às vezes, os amigos não tinham condições de manter os carrinhos de rolimã e, daí, eram feitos na minha empresa, os mecânicos tinham essa facilidade. E nós participávamos de corridas e competições dentro do bosque, em níveis de terrenos com descidas. Aliás, meio perigoso até. Se bem que na época não existiam tantos automóveis, mas eu digo perigoso no sentido de cair, levar um tombo, porque era completamente sem proteção. Mas foi uma coisa muito marcante na minha infância. Como eu nasci em Campinas, vão se criando aqueles laços de amizade entre as pessoas da mesma idade. Antigamente, era uma coisa muito enraizada, uma coisa muito concreta, você tinha amigos, amigos de verdade. Eu, por exemplo, fiquei muito conhecido, porque era um ramo de atividade sui generis do qual eu participava. E daí o apelido Vieirinha. Era um reconhecimento afetivo com os meus amigos não só da escola como dos bairros que cercavam a nossa empresa e casa. A minha casa era em um quarteirão e a empresa era em outro. E sempre ao lado do bosque, que foi o início do ramo de atividade do papai. Eu conhecia todos os trabalhadores do bosque, o zelador e outros. Lá dentro existiam inúmeras frutas e eu as conhecia todas: uvaia, abil, que são frutas que hoje em dia não se ouve mais falar, fora as amoras. O bosque chama-se Bosque dos Jequitibás e tinha também carambola, jatobá, pitanga. , Eu, menino, sabia onde se localizavam todas essas frutas. Nós nos divertíamos muito, praticávamos esporte, corrida; era uma infância muito saudável. FORMAÇÃO Eu estudei dois anos no Grupo Escolar Francisco Glicério e dois anos no Instituto de Educação Carlos Gomes. Eu me formei no quarto ano primário no Carlos Gomes. Orgulhosamente, prestei o exame de admissão e ingressei também no Colégio Estadual Culto à Ciência, muito famoso até hoje em Campinas, de muitas histórias e de muitos amigos. Fiz minha graduação em Campinas, na PUC [Pontifícia Universidade Católica]. Se bem que antes, eu fui da primeira turma da Faculdade de Pinhal; fiz o primeiro e o segundo ano de Direito lá e depois eu pedi transferência para PUC, onde fiz segundo, terceiro, quarto e quinto. Eu fiz o segundo novamente, porque existiam matérias na PUC que não havia em Pinhal. Eu fiz o segundo, só com as matérias que faltavam, mas não cheguei a exercer a advocacia porque já comecei efetivamente na empresa da qual o papai era sócio com meu tio. IRMÃOS VIEIRA O nome era Empresa de Transporte dos Irmãos Vieira. Chamava-se assim desde que eles a fundaram em Campinas. Era um nome conhecidíssimo. Por exemplo, a dona de casa falava: “Não gosto desse móvel aí.” “Segunda-feira, você chama os Irmãos Vieira e eles mudam os móveis.” Mudava dentro da própria casa. Era um sinônimo de transporte porque nós fomos os pioneiros em Campinas. Tanto é que o Terminal Intermodal de Cargas, que hoje em dia abriga 80 a 100 empresas de transportes, é um local destinado só para as empresas de transportes, orgulhosamente, tem o nome do papai, Alfredo Vieira Alves. Mamãe foi lá descerrar a placa. Esse Terminal Intermodal de Cargas é o TIC aqui de Campinas e é um condomínio feito propriamente para as empresas de transportes; tem o nome do papai porque ele foi pioneiro dos transportes em Campinas. COMÉRCIO DE CAMPINAS Nós éramos muito unidos na família. Eu ia muito com a mamãe na feira-livre; gostava muito e conhecia o pessoal de quem ela comprava. Lembro que eu ajudava nas atividades domésticas e também que a gente sempre comprava na Loja Ezequiel, marcante na época. Mamãe também ia à Casa Campos. São lojas campineiras cujos nomes me vêm atualmente. Existia o armazém do Sebastião Maria, que o papai era cliente. Era um desses armazéns que vendiam desde sapato até arroz, feijão, ervilha; toda mercadoria que uma casa necessitasse. A Leonor, que era neta do Sebastião Maria, tomava o mesmo bonde que eu porque nós morávamos no mesmo bairro. Como a cidade não era tão grande havia um conhecimento mais íntimo: eu pegava o mesmo bonde da Leonor, que era a neta do Sebastião Maria em cujo estabelecimento o papai e a mamãe compravam gêneros alimentícios. Existia também o Pires e Companhia, que era na Rua Costa Aguiar, de quem éramos muito amigos. E assim as coisas iam. O Ezequiel era amigo do papai. O Pires era amigo do papai. E os filhos se relacionavam, em clube, no Tênis Clube, na Hípica, esses clubes antigos de Campinas, o Regatas, os que freqüentávamos, não só como atividade esportiva, mas também como de lazer. JUVENTUDE Quando criança, nós não íamos muito a São Paulo porque o comércio daqui supria a nossa necessidade. Na juventude, no entanto, na época da Jovem Guarda, já queria sapatos italianos da La Pisanina, mocassins, camisas na Rua Augusta e assim por diante. Eu fazia o seguinte: como eu era muito pechinchador, eu ganhava o dinheiro do papai e colocava no bolso direito; tudo que eu conseguia de desconto, eu colocava no esquerdo (risos). No final de um dia desses de compra, sempre sobrava um bom dinheiro no bolso esquerdo que era dos choramingos e dos descontos que eu conseguia nas compras. Às vezes, esse dinheiro dava pra comprar mais um sapato ou mais uma camisa da moda, que nessa época, nós nos preocupávamos muito com isso. Minha juventude foi ótima. Eu posso dizer que aproveitei bastante. Sou da época do início dos Beatles, aquela revolução musical e mundial. Eu participei disso. Isso fez com que nós começássemos a ver coisas mais atuais; foi, acredito, o início de uma revolução em tudo, em roupas, em estilo de vida, em maneiras de comportamento, em modismos, o cabelo comprido, a calça mais justa. Participei intensamente convivendo com a juventude campineira. Foi nessa época que eu ia a São Paulo para fazer compras e manter o meu guarda-roupa atualizado; isso fez parte dessa revolução. Havia os clubes e as festinhas promovidas pelas meninas para que os rapazes se aproximassem e assim por diante. Como Campinas era um número muito menor de habitantes, os conhecimentos, os convites eram constantes, e eu era um dos convidados (risos). Raramente eu ia ao cinema, mas assisti a filmes marcantes na minha época: Um homem, Uma mulher, Juventude Transviada - com James Dean -, A primeira noite de um homem. Só ia a clássicos. Quando o pessoal dizia: “Você não pode perder esse filme que é ótimo” Então eu ia assistir. TRANSPORTE / CARROS Andava de carro porque sempre algum amigo já tinha carta de motorista. Depois eu tirei carta e quando fiz 18 anos já tinha meu carro. Na época foram lançados dois tipos de veículos que eram financiados pela Caixa Econômica Federal. Um era uma perua Vemaguet e o outro era um Renault Gordini; era todo sem acessórios. E eu, teimoso que era, peguei um funcionário da minha empresa e pus para ficar na fila com a minha documentação, para que eu conseguisse comprar e financiar esse tipo de veículo. Aos 18 anos eu já tinha esse carrinho que depois levei para um conceituado funileiro aqui e fiz diversas modificações: mandei alisar o capô, fiz um vidro de limusine, capota de napa, por dentro os bancos modificados, coisas que na época eram vistosas. O carro passava: “Lá vai o Alfredinho com seu Renault, com seu Gordini.” E na época o Gordini andava mais que o Volkswagen, tinha uma velocidade maior. Quem tinha Volkswagen era motivo de chacota: “Seu carro é fraco.” E assim por diante. Pra São Paulo, aos 18, eu já tinha o meu carro e ia assim. Quando não, eu ia com outros amigos que já tinham habilitação e que já tinham carro ou que emprestavam o carro do pai. Eu, antes de ter habilitação, o papai tirava uma soneca depois do almoço, eu ia lá, com muito jeitinho, tirava a chave do bolsinho dele e dava minhas voltas. Andava no bairro ali perto, eu já sabia dirigir, já mexia com tudo, já tinha consciência, já tinha responsabilidade, nunca me aconteceu nenhum tipo de problema nessas ocasiões. Por quê? Porque eu sabia que eu estava completamente fora da lei, mas eu andava devagar, eu passeava, eu passava na porta da casa da namorada atual, para uma demonstração de juventude, de arrojo, enfim. O papai inclusive me incentivava muito. Nós íamos à praia, em Santos, e ia à Praia Grande. Desde menino, o papai já me colocava no colo e eu já ia dirigindo, engatava a marcha. Ele tinha aqueles automóveis americanos com marcha na direção. Eu já sabia, já tinha uma noção de direção, de como era. E por estar ligado a esse ramo de atividade, da empresa. Mas, aos 18 anos, já tinha carro e eu fui trocando de veículo com facilidade, conforme foi aparecendo. A estrada para São Paulo era a Anhangüera. A Anhangüera, desde a minha época, era fabulosa, com curvas deliciosas. Não que abusasse da velocidade, obviamente, que em alguns trechos você ultrapassava a velocidade permitida, mas como eu tinha um tanto de noção de direção, sabia dirigir desde a minha infância, praticamente, início de juventude, eu tinha mais facilidade em dirigir. Cheguei a comprar um carro de competição da antiga Vemag, que fechou o departamento de competição, e eu tive a oportunidade de comprar o carro número 10, que quem pilotava era o Mário César de Camargo Filho, um dos ícones da época da Vemag no Brasil, da DKV. E esse carro foi adquirido pelo Max Waiser, de Piracicaba, que tinha uma revenda de automóveis. Eu fui lá e comprei o carro dele, com dois motores, para que eu tentasse me aventurar no mundo automobilístico de competição. Mas, como eu sempre digo, a coisa tem que ser feita como deve ser, e acho que Deus não quis que eu participasse disso, tanto é que andando pelas ruas, um certo dia, veio uma Kombi, eu parado no sinal, e o rapaz meio distraído bateu na roda dianteira dessa Vemag, dessa DKV. E eu vi a roda, o eixo, praticamente quebrado, ou a roda torta, e me veio a imaginação de pegar o retão de Interlagos e estar naquela época e 160 por hora, que hoje em dia é praticamente uma velocidade normal de qualquer veículo, mas na época era uma velocidade e tanto, e eu imaginava aquela roda, que já tinha sido atingida, ela não suportar esse tipo de velocidade, coisas assim que me tiraram o entusiasmo dessa pretensão. Sempre fui, desde menino, a corridas em Interlagos: 24 Horas de Interlagos, Mil Milhas, todas essas. Eu e meus amigos participávamos. Naquela época, Interlagos você entrava... Praticamente, parava a minha Kombi - nós íamos de Kombi -, tirávamos o banco da Kombi, colocávamos no gramado e sentávamos a dois metros da curva onde passavam aquelas carreteiras. Era um perigo total, mas na época nós achávamos um desafio. Curva do pinheirinho, curva do sargento, conhecíamos Interlagos de cabo a rabo, da largada a chegada. Acampávamos nessas corridas maiores, de longa duração, Mil Milhas, 24 Horas, eram as mais entusiasmantes. TRANSPORTE / TREM Andei muito de trem no meu período ginasial, quando eu estava no Culto à Ciência. O primeiro ano foi ótimo. O segundo ano, eu comecei a não estudar muito, a namorar muito, a chegar tarde em casa, e o que provocou uma certa imposição dos meus pais: “Olha, se você não passar de ano, você vai para o colégio interno.” Que era o castigo da época. E foi o que aconteceu. Eu repeti o segundo ano no Culto à Ciência e o papai e a mamãe: “Você vai ficar interno; vai lá para o Colégio Diocesano La Salle, em São Carlos.” E eu fui para lá. Eles disseram: “Você estando interno tem tempo de estudar, tem horário de estudos e pra você vai ser ótimo. Você passa esse ano lá e depois você volta para o Culto à Ciência, sem problema algum. Você pede transferência e volta.” Fui o primeiro ano e, nessa época de colégio interno, eu pegava o trem. Pegava o trem aqui, um grande entroncamento ferroviário que era Itirapina e de Itirapina, São Carlos. Muitas vezes viajei de trem, no vagão restaurante, coisa marcante na minha juventude. FORMAÇÃO No primeiro ano do colégio interno, eu vinha nos fins de semana, duas vezes por mês, pra Campinas. Mas já tinha arranjado uma namorada em São Carlos, já estava montando a minha estadia lá. O papai e a mamãe falaram: “Não, agora você já passou de ano, muito bem, pode voltar para casa. Nós vamos te matricular no Culto à Ciência.” Eu falei: “Não, agora não. Agora eu vou ficar mais um ano em São Carlos.” E fiquei o segundo e o terceiro ano ginasial em São Carlos; o segundo que eu repeti e o terceiro que eu quis ficar. E há fatos pitorescos, interessantes no colégio interno. O campo de futebol era num plano, num nível mais alto do muro; tinha uma decaída do campo, aonde subia o muro, tipo um barranco; e alguém fez um buraco lá nesse muro do colégio e nós ampliamos o buraco. Quando era convocado para um jogo-treino - porque todo dia tinha esporte no colégio interno - nós já combinávamos com outro colega: “Eu saio, caio no barranco e você entra.” Para eles não verem que houve uma troca de jogador. E desse buraco era possível sair e se encontrar com as namoradas durante a semana. (risos) Era um fato entre alguns amigos dentro do colégio interno; essas traquinagens de poder ter esse encontro com as meninas durante a semana, porque as saídas do colégio interno - quando você não viajava - eram só aos domingos e por pouco tempo. Não era um período inteiro. Eram, por exemplo, ou de manhã ou, às vezes, eles deixavam que você ficasse na cidade de São Carlos à tarde. Você passeava, fazia suas atividades lá. FAMÍLIA Eu namorei várias moças da sociedade e, algumas, por vários anos. Mas fui encontrar a minha mulher – sou casado desde 1975 – na antiga Caderneta de Poupança Continental, porque ela trabalhava lá. Um dia fui fazer um depósito e a vi. Encantei-me. Já perguntei: “Que horas você sai, queria conversar com você.” E assim foi. Nos casamos. Foi um amor à primeira vista, podemos dizer. A família dela era de Valinhos, localidade aqui perto, próxima de Campinas. Somos casados e felizes até hoje. Tenho duas filhas, formadas, Manuela, a mais velha, Mariana, a mais nova. Manuela é nutricionista. Mariana é publicitária. E, no ramo do transporte, eu ainda tenho que batalhar. Ou talvez surja um genro bom no qual eu possa colocá-lo na minha atividade atual. TRANSPORTADORA VIEIRA FILHO O meu tio Luís Vieira Alves tinha cinco filhos homens. E o papai, Alfredo Vieira Alves, tinha o meu irmão e eu de homens, que seriam os futuros continuadores da empresa. Os cinco filhos do meu tio, obviamente, trabalharam lá na empresa, e sempre havia uma divergência de princípios, de pensamentos, uns com horizontes mais amplos, outros mais assentados: “Não, assim está bom, vamos deixar assim.” E outros já com outras perspectivas, com olhares mais no futuro. E eu não sei se por ser aquariano, eu sempre fui mais além. Conclusão: a empresa em si não tinha como se desfazer dessa junção. Porque o papai foi ficando mais idoso, o meu tio mais idoso e eram os filhos que praticamente continuaram o negócio. Do nosso lado, o meu irmão mais velho e eu. Eu tinha outros pensamentos já diferentes do meu irmão e imagine dos meus primos. Eu já via a coisa num outro aspecto. Por exemplo, nós fomos os primeiros transportadores da IBM quando a empresa se firmou aqui em Sumaré. A IBM nos chamou e, na época, nós tínhamos vários caminhões atendendo o nosso público fiel, que era de mudança, que eram os nossos clientes de transportes de pequenos volumes. Veio a IBM e nos deu um xeque-mate; nos chamaram para uma reunião e falaram: “Olha, de agora em diante eu vou precisar aqui dentro de 20 caminhões, porque 3 vão fazer tal coisa, 5 vão fazer tal coisa e os outros 12 vão fazer transporte regular São Paulo-Rio, de maquinagem, de equipamentos.” Os meus primos eram sócios ainda e fizemos uma reunião interna. Eu falei: “Pessoal, aí está nosso pulo do gato. Vamos comprar os caminhões. Com o que ganharmos, pagamos os caminhões e daí a pouco tempo esses caminhões são nossos e nós podemos usá-los de uma outra maneira, pegar uma outra empresa e assim por diante.” Veja que eu, saindo da juventude, tomar uma posição comercial dessas Foi quando o pessoal começou: “Não, porque essas firmas americanas te trocam por qualquer tostão a menos.” E eu batalhava: “Não, mas isso vai ser feito com contrato, nós faremos um contrato, chamaremos um advogado, tanto da nossa parte como da deles, nós vamos ficar com a fidelidade pelo menos um ano ou dois anos; sei lá quantos anos, quantos eles precisarem.” Já começou esse tipo de divergência. Já não tinha mais clima societário entre nós: eu, meu irmão e meus primos. O que nós fizemos? Nós compramos os caminhões deles, pagamos tudo direitinho e a empresa continuou nessa época como Vieira só; nós tiramos a expressão irmãos, porque já não era mais assim. Continuou como Vieira e depois de um tempo o meu irmão começou a não sentir gosto pela coisa, ou pela atividade que ele começou a exercer, que ele também foi Juiz Classista. E a coisa foi ficando praticamente deteriorada. A empresa com um nome, com uma antiguidade tamanha dessa, foi ficando esquecida porque não renovava frota, o material empregado não era de primeiro mundo. O móvel, hoje em dia, nenhuma mudança eu faço com móvel... Por exemplo, uma poltrona dessa, eu uso plástico polibolha e papelão ondulado; ela fica totalmente coberta, mesmo que a transporte daqui para duas quadras de lá. A composição de materiais, empregados hoje na minha empresa... Antigamente, eram cobertores, cobertores velhos, que não se podia continuar a usar. Chegou em 98, eu ouvi do meu irmão: “É, isso aqui já deu o que tinha que dar.” Isso me atacou profundamente o sentimento, de ver que meu pai, um grande batalhador, um bandeirante rodoviário... Quando ele saía, na época de estradas de terra, saía com cantil, com peça de presunto, peça para sobrevivência; uma espingardinha flobé, estilingue. Por quê? Porque se quebrasse o caminhão, se atolasse, ele ficava a semana em um trecho Campinas-Rio ou Campinas-São Paulo, que eram 100 quilômetros, mas sem qualquer ajuda externa. O movimento de gente que viajava na estrada era tão pouco... Ou mesmo de gente que não podia dar atenção ou mesmo assistência para quem estava ali parado. Era um tal de pegar carona e ir comprar peça, trazer o mecânico e consertar o veículo, levar a mercadoria, ou voltar para o nosso armazém... Isso que eu chamo de um bandeirante rodoviário, porque não é como hoje, que é tudo asfalto, posto de combustível, telefone celular. Antigamente, era coisa incrível, a falta de assistência para quem se aventurasse a sair pelo Brasil. Então, nessa época, quando meu irmão disse isso, eu falei: “Opa, então nós vamos fazer o seguinte, se você não tem vontade, ou você compra a minha parte, porque eu não vou continuar como seu sócio, ou eu compro a sua.” Sabe como são as empresas familiares. Depois de muita discussão, muita colocação indevida de coisas do passado e que refletiriam no futuro, pensamentos divergentes, eu consegui comprar a empresa. E ela passou a se chamar “Vieira Filho”, que é até hoje. Agora em 2008 ela irá completar 10 anos sob minha responsabilidade e sob meu comando individual. Quem me ajuda e me dá grande força é minha mulher, que cuida do financeiro, e eu sou o comercial. COTIDIANO Como eu me voltei só para parte de mudanças residenciais, comerciais, industriais, há várias coisas que estão interligadas a esse tipo de atividade. Por exemplo, separação de casais: você vai na residência e eles estão dividindo as coisas: “Essa televisão é minha, esse sofá é meu, esse aparelho de som vai me interessar.” E assim por diante. “A geladeira é sua, a máquina de lavar é minha.” E, coisas assim pitorescas que, dentro dessa atividade acontecem. No caso de mudanças industriais, por exemplo, eu não tenho um determinado equipamento e presto serviço a uma empresa, tipo uma máquina enorme que eu vou precisar de um guincho para que seja colocado no meu caminhão, eu contrato de terceiros esse guincho e coloco a peça, a máquina, no meu caminhão. Levo, transporto, chega lá, esse mesmo guincho vai, tira. Esse é um serviço contratado por mim e que é de um terceiro no qual eu me comprometo a pagá-lo. E daí a receber do cliente que tinha feito a mudança, nem isso ele me pagava Eu virava um, um... Quantas vezes cheguei em escritórios, com o presidente da empresa, expondo tudo o que eu tinha passado para fazer um trabalho perfeito a ele não havia cumprido com as obrigações de pelo menos me adiantar o que eu já paguei; e o meu serviço poderia ser dividido em cheques. Já fiquei muito bravo em situações dessas. São características interessantes num meio empresarial do qual eu participo. Antigamente, nós trabalhávamos com - fora a mudança - carga fracionada, que eram pequenos pacotes e que foi se tornando inviável nos dias atuais. Porque você enche um caminhão de pacotes aqui em Campinas para ser entregue em São Paulo; um é na Vila Mariana, outro é na Mooca, outro é no Tatuapé, e o próprio caminhão ia entregando os pacotinhos. Coisa inviável porque o caminhão, além de demorar um tempo enorme, teria que se locomover entre os carros, no trânsito normal da cidade de São Paulo, e isso se tornou inviável. Então, para que tivesse esse tipo de atividade vinculada a sua empresa, ele teria que montar um armazém, ter uma rede distribuidora com pequenos veículos e isso já acarretava um capital bem maior; era uma atividade que podia até ser de terceiros, porém numa responsabilidade maior, na qual você estaria colocando o seu nome em jogo. E transporte pesado, que nós tínhamos carretas e carretas baixas para que fossem colocados, equipamentos de terraplanagem, retroescavadeiras, maquinários de grande porte para indústrias. Nós participávamos desse tipo de atividade também. Eu me voltei só à mudança, que é um segmento que, além de ter vindo do meu avô, com aqueles carroções especiais, era coisa que eu achei que para nós iria dar mais certo. E hoje tenho caminhões modernos, caminhões Volkswagen com baús de 9 metros, 9 metros e meio, todos com rampas hidráulicas, para que os móveis sejam movimentados, móveis pesados, geladeiras e freezer, sejam colocado nessa rampa hidráulica e colocado dentro do caminhão, mas tudo embalado, tudo previamente preparado. Nunca uma mudança é feita assim: “Ah, eu quero mudar amanhã.” Eu digo: “Não é bem amanhã. Nós vamos embalar num dia, no outro dia nós vamos carregar, e nesse dia que nós carregamos, à tarde, nós lhe entregamos a mudança.” Por quê? Porque requer esse tipo de manuseio que são as embalagens. Também sofro muito com horários de prédios que não deixam fazer mudanças após as 17 horas; condomínios a mesma coisa. Devido a esse tipo de coisa, nós temos que fazer um planejamento que não é assim “pega a sua cadeira, põe dentro do caminhão e leva.” A sua cadeira vai ser previamente embalada, o seu aparelho eletrônico vai ser previamente embalado e assim vai. FUNCIONAMENTO A transportadora exercia uma atividade bem irregular na questão de horário, porque antigamente não havia essas regras e normas que hoje existem. Era tudo mais aberto, essa atividade era mais alongada. Ao invés de serem oito horas diárias, eram 12 ou 16 horas diárias. Hoje em dia, nós sofremos muito com esse tipo de coisa. Não se pode estacionar em locais de grande fluxo de movimento. Como transportador, sofro muito com esse tipo de regras. Regras alheias à minha vontade, e à vontade do próprio cliente. FUNCIONÁRIOS Na época do papai e do meu tio, nós já chegamos a atuar, com 35 caminhões. Na época era uma empresa grande. Hoje em dia, a falta de incentivo, a falta de tempo para esse ramo de atividades, você tem que ter uma empresa enxuta, que você possa dominá-la, e, se você participa em uma só cidade - embora eu faça transporte para o Brasil inteiro - eu não tenho filiais em nenhum lugar, por quê? Porque seria outra participação minha, única, exclusiva, de montar uma filial, arranjar um gerente, colocar caminhões lá. Isso para mim seria muita coisa. Eu prefiro ter uma empresa enxuta, com poucos veículos e com um pessoal habilitado, treinado pelos mais antigos, que hoje se utilizam de materiais de primeira linha para o que nos propormos. Fica mais fácil o controle do proprietário, no caso, eu. Hoje eu tenho 16 funcionários, uma base de quatro para cada caminhão, e mais oito motoristas. COMÉRCIO DE CAMPINAS Hoje Campinas tem um milhão e duzentos mil habitantes. Grandes indústrias se transferiram para cá, Campinas é o maior pólo eletrônico, hoje em dia, de materiais de primeiro mundo, indústrias enormes como Motorola, Samsung, se voltaram a Campinas e fundaram sua sede aqui. Houve uma revolução tecnológica de partida para esse ramo. E isto fez com que viessem muitas pessoas de diversas localidades e onde eu tenho atuado, no meu segmento, no caso mudanças, tenho trabalhado ativamente, com a ajuda de Deus. Tanto é que Campinas, eu acredito ser hoje a principal cidade do interior, no tocante a comércio, a indústrias. Esse desenvolvimento foi nos últimos cinco anos, podemos dizer, cinco, dez anos. Campinas hoje é uma metrópole. SUCESSO O sucesso do comércio está na idoneidade, honestidade e presteza. Principalmente nesse ramo que eu atuo. Por quê? Porque eu vou dentro da sua casa, vou mexer com os seus pertences. O meu pessoal é realmente qualificado, um pessoal que tem um treinamento, um pessoal que é muito bem selecionado antes da contratação. Assim eu procuro manter o nome tão antigo, de 70 anos, e do qual eu sou o responsável atual. Sendo uma pessoa extrovertida e com uma certa facilidade de amizade, do círculo em que eu vivo, na sociedade campineira, eu sou visto como uma das pessoas que participa de um ramo de atividade e que são natas aqui. Eu posso citar algumas que ainda existem como o Chapéu Cury, que ainda existe. Eu sou lembrado dentre os mais antigos e entre diversas empresas que nasceram aqui e continuam no seu ramo de atividade. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS O projeto é brilhante E digo mais, sinto-me orgulhoso de participar desse movimento do qual vocês são pioneiros e que criaram uma inovação, um incentivo para essas pessoas que ainda batalham. Como eu te disse, do meu tempo, hoje a Casa Ezequiel é lembrada, os Chapéus Cury, e várias outras firmas e isso é um grande incentivo para que futuras gerações vejam que houve história, no crescimento e na continuidade de uma vida empresarial. Eu gostaria de agradecer de ter sido lembrado, não só eu como todos os meus antepassados e estar aqui relatando isso para vocês, um pouco da história da minha empresa. E espero continuar por muitos anos tentando manter esse nível do qual eu me encontro atualmente.
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