IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Antonio Augusto Mendes Oliveira. Sou nascido em Campinas, no dia 18 de fevereiro de 1975. FAMÍLIA Meus pais são Antonio Augusto de Oliveira e Silvina da Conceição Mendes Oliveira. Todos portugueses. Meu pai veio para o Brasil há 49 anos e minha mãe, acredito, há uns 45 anos. Casaram no Brasil, em São Paulo. Meu pai morou em São Paulo logo que veio de Portugal; foi chamado por uns primos para vir trabalhar aqui. Lá conheceu minha mãe e se casaram. Quando ele era sócio de uma padaria em São Paulo, surgiu a oportunidade de comprar o Éden Bar, em Campinas. Foi feito o negócio e meu pai veio pra Campinas. Minha mãe ficou em São Paulo durante mais um ano e depois também veio. Meus avós por parte da minha mãe – são falecidos – eu conheci pouco, só em visitas a Portugal. Eles não chegaram a vir para o Brasil. E os avós da parte do meu pai, minha avó veio para cá em 75, faleceu há dois anos, e meu avô, faltando onze dias para completar 101 anos faleceu. Faria em julho agora 101 anos. Estava lúcido, tomava um garrafão de vinho a cada dez dias. Todos eram agricultores: meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó. Trabalhavam na roça plantando azeitona, mexendo com gado. Isso em Portugal. Meu pai, quando veio para o Brasil, trabalhou no frigorífico Armor, em São Paulo e logo depois passou para o comércio. Já minha mãe, trabalhou na Souza Cruz, em São Paulo, quando veio para cá, como costureira. Depois casou com meu pai e virou dona de casa até se tornar comerciante. Tenho uma irmã que é dez anos mais velha do que eu. Ela é fonoaudióloga. INFÂNCIA Na minha infância, tínhamos aquelas diversões sadias. Podíamos sair na rua à tarde, ir pra casa dos amigos. Na escola, às vezes, tinha gincana de arrecadar alimentos; você ia de porta em porta arrecadando alimentos para ganhar a gincana. E era uma coisa bem saudável, porque o pessoal era mais receptivo, não...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Antonio Augusto Mendes Oliveira. Sou nascido em Campinas, no dia 18 de fevereiro de 1975. FAMÍLIA Meus pais são Antonio Augusto de Oliveira e Silvina da Conceição Mendes Oliveira. Todos portugueses. Meu pai veio para o Brasil há 49 anos e minha mãe, acredito, há uns 45 anos. Casaram no Brasil, em São Paulo. Meu pai morou em São Paulo logo que veio de Portugal; foi chamado por uns primos para vir trabalhar aqui. Lá conheceu minha mãe e se casaram. Quando ele era sócio de uma padaria em São Paulo, surgiu a oportunidade de comprar o Éden Bar, em Campinas. Foi feito o negócio e meu pai veio pra Campinas. Minha mãe ficou em São Paulo durante mais um ano e depois também veio. Meus avós por parte da minha mãe – são falecidos – eu conheci pouco, só em visitas a Portugal. Eles não chegaram a vir para o Brasil. E os avós da parte do meu pai, minha avó veio para cá em 75, faleceu há dois anos, e meu avô, faltando onze dias para completar 101 anos faleceu. Faria em julho agora 101 anos. Estava lúcido, tomava um garrafão de vinho a cada dez dias. Todos eram agricultores: meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó. Trabalhavam na roça plantando azeitona, mexendo com gado. Isso em Portugal. Meu pai, quando veio para o Brasil, trabalhou no frigorífico Armor, em São Paulo e logo depois passou para o comércio. Já minha mãe, trabalhou na Souza Cruz, em São Paulo, quando veio para cá, como costureira. Depois casou com meu pai e virou dona de casa até se tornar comerciante. Tenho uma irmã que é dez anos mais velha do que eu. Ela é fonoaudióloga. INFÂNCIA Na minha infância, tínhamos aquelas diversões sadias. Podíamos sair na rua à tarde, ir pra casa dos amigos. Na escola, às vezes, tinha gincana de arrecadar alimentos; você ia de porta em porta arrecadando alimentos para ganhar a gincana. E era uma coisa bem saudável, porque o pessoal era mais receptivo, não tinha tanto medo. “A molecada está batendo na porta, o que será?” “Ah, é por causa de uma campanha.” E o pessoal atendia bem, era muito divertido, você podia andar de bicicleta. Hoje é um pouco mais complicado. Eu tenho dois filhos que não têm a mesma liberdade que eu tinha na época. Uma lembrança são os jogos do Guarani. Gosto até hoje por causa do meu pai, de me levar aos jogos. Sou torcedor do Guarani, meu pai começou a me levar em 80. Dessa época até 90 eu ia com o meu pai. Depois, de 90 até agora, acredito que eu praticamente perdi meia dúzia de jogos em Campinas. Eu vou a todos os jogos, sou sócio do clube. Tenho até hoje amigos da época da escola, amigos da faculdade. Muitos amigos vêm dos pais dos amigos dos meus filhos. “Vamos sair para jantar, vamos sair com as crianças.” Mas eu tenho até hoje amigos da época de escola, da época de colegial e da época de faculdade. COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu lembro que ia muito a Picoloto Calçados, na Modelo Calçados, que inclusive o dono é pai de um amigo meu, que estudou comigo na faculdade. Ia à Casa Ezequiel. Porque uma vez por ano eu ia comprar roupas para o ano inteiro, era assim que funcionava. Comprava três, quatro, cinco calças, dez camisas, vinte camisetas. Minha mãe comprava tudo de uma vez só. Ia minha mãe, a esposa do sócio do meu pai no restaurante, e os dois filhos dela. Comprávamos, todo mundo ia junto. Ficava lá metade de um dia comprando roupa, tudo em um lugar só. Fazia os carnezinhos - não existia cartão de crédito e cheque pré-datado não se usava - eram mais os carnês de loja. Os gêneros alimentícios eram comprados no Eldorado até ele pegar fogo em dezembro de 84, 85. Porque em 1983 houve uma explosão de gás, inclusive no Éden Bar. Eu lembro que foi um pouco depois. Eu adorava ir ao Eldorado. Tinha uma escada rolante – ainda não existia o Iguatemi – e lá no Eldorado tinha uma escada rolante que a molecada adorava. Era um supermercado muito bonito, estava no centro da cidade e eu ia quase sempre com a minha mãe fazer as compras lá. CIDADES / SÃO PAULO/ SP Meus pais sempre foram para fazer compras. Meu pai ia muito à São Paulo. Mas eram compras para o restaurante. Iam comprar na Santa Rosa, lá na Zona Cerealista, lá perto do Mercadão, porque lá tem uma grande quantidade de armazéns de secos e molhados. Comprar bacalhau, azeite, azeitona, carne seca, para o restaurante. Compras assim. As compras pessoais, da família, nós fazíamos todas em Campinas. Meu pai ia sempre de Kombi. Tinha uma Kombi do Éden Bar que nós íamos. FORMAÇÃO Eu cresci na Vila Marieta, um bairro muito bom, perto do Centro. Eu estudei no Colégio Dom Barreto, que era perto da Vila Marieta, até a oitava série. Com dez anos, eu mudei para o Parque Taquaral. De lá eu mudei quando me casei. Depois que eu me formei no Dom Barreto, na oitava série, eu fui morar fora um ano, nos Estados Unidos. Fiz o primeiro ano colegial lá. Voltei, terminei o colegial no Integral e depois fiz faculdade de administração na PUC Campinas. Sempre estudei em Campinas. Nunca saí daqui, com exceção do período que morei nos Estados Unidos. A expectativa é sempre a mesma, no caso de uma família portuguesa que trabalha no comércio: trabalhar no próprio comércio da família. Que é o que eu faço hoje: eu trabalho com meu pai. Está no sangue do meu pai, que é comerciante e eu também tenho esse sangue de comerciante. VOCAÇÃO PARA O COMÉRCIO Meu pai, quando estava no exército em Portugal, trabalhou na cantina dos oficiais. Lá ele aprendeu a cortar o presunto, a mexer com comércio, a ter gosto pelo comércio. Aprendeu as coisas de bar e, conseqüentemente, quando estava lá começou a fazer negócios. Ele, por exemplo, comprava cigarro, que no bar dos oficiais tinha cigarro estrangeiro. Ele comprava cigarro lá e depois quando voltava pra terra dele, vendia o cigarro pra ganhar um dinheirinho. Quer dizer, começou já como comerciante ali, no Exército, onde ele ficou por três anos. Depois ele veio para o Brasil, trabalhou pouco tempo no frigorífico e foi para o comércio. Fiz administração pensando na área que eu ia atuar. Hoje eu optaria, por exemplo, por hotelaria, que mexe também com restaurantes. E nós também atuamos na área de hotel aqui em Campinas. Hoje eu faria o curso de hotelaria, mas na época era uma coisa pouco divulgada. Eu parti para administração. JUVENTUDE Na minha juventude, no tempo de faculdade, nós íamos muito aos bares do Cambuí: ao Cleso, Maria Bonjour. Na época do colegial, eu ia muito ao Bar do Meio, que era na Rua Benjamim Constant. Tinha cinco bares na quadra: o Caicó num canto, o Scooby no outro, tinha mais dois, e tinha o Bar do Meio, que era um bar no meio da quadra. Já com a minha esposa, na época namorada, freqüentei muito o Café Cancun, as festas que eram organizadas pelos meus amigos em chácaras, em fazendas, a Fazenda Santa Margarida. Eram festas que todo mundo ia. Todos os meus amigos iam. Cinema, na época que eu era pequeno, tinha só no Centro. Eu lembro das filas enormes pra assistir filmes no Cine Jequitibá, no Cine Regente, no Cine Bristol, no Windsor. Depois com a implantação desses complexos de cinema nos shoppings, ficou mais fácil, mas aquela época eu lembro de ir muito ao Cine Bristol para assistir filmes do Jean-Claude Van Damme. Eu lembro de assistir Super Homem no Cine Ouro Verde onde hoje é o shopping Ouro Verde. VIAGENS Meu pai nos levava, de vez em quando, à Campos de Jordão. E devido aos amigos que nós temos, nós íamos também muito para o Mato Grosso do Sul, na cidade de Bataguassu. E, como portugueses, de dois em dois anos, íamos a Portugal visitar os pais da minha mãe, visitar parentes, rever as raízes. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Informalmente, eu comecei com doze anos. Nas minhas férias eu ficava no Éden Bar; ao invés de ficar em casa, eu ia para o restaurante com meu pai. Quando eu voltei dos Estados Unidos, em 91, eu já comecei a ficar mais freqüentemente. E depois quando eu terminei o colegial, eu realmente já fiquei fazendo faculdade e trabalhando no restaurante. Eu comecei trabalhando no balcão. Trabalhei como empilhador de caixas, guardava os vasilhames vazios nas caixas; trabalhei de ajudante de cozinha descascando batata, limpando legumes; trabalhei como ajudante de garçom, trabalhei no caixa, trabalhei também no escritório. Trabalhei em todas as áreas ali. Já cheguei a fazer faxina, também, quando foi preciso. Hoje eu trabalho mais no balcão. É a área que eu fico mais hoje, de atendimento ao cliente. TRANSPORTE Nunca andei de trem no Brasil. Já andei de trem em Portugal e nos Estados Unidos, mas aqui nunca andei de trem. Para o trabalho, no começo, eu ia de ônibus. Normalmente, até os 18 anos de idade, eu sempre usei ônibus para ir para o Éden Bar ou para a escola. Eu ia para o Dom Barreto de ônibus e quando eu estudava no Integral, que era no Centro, eu ia a pé para o trabalho e ia de ônibus para casa. Depois, eu fiz 18 anos e ganhei o carro que era da minha irmã. Comecei a ir ao trabalho de carro. Depois eu morei perto, quando eu casei, eu morei perto do restaurante, aí eu já ia a pé para o trabalho. ÉDEN BAR Em fevereiro de 1968, meu pai comprou o restaurante junto com mais quatro sócios. No fim de 1968, dezembro, eles alugaram a parte ao lado, o salão ao lado, e abriram o restaurante, que era só um bar. O restaurante já foi fundado pelo meu pai. O Éden Bar, em si, já existia. Meu pai ampliou junto com os sócios e construiu, abriu um restaurante, e ali virou, Éden Bar e restaurante; restaurante à la carte, cozinha internacional, pratos do dia brasileiros como a feijoada, a rabada, o virado a paulista. Ele é localizado no Centro, no coração da cidade, em frente ao Largo do Rosário. O que temos de informações, que eu fui atrás e de que amigos meus me arrumaram, é que o Éden Bar existe como firma desde 1946. Mas existem fotos de 1930 que você vê Éden Bar em placas. E existe uma publicidade de 1922, que foi publicada na revista Campinas Muito Mais, se eu não me engano... Foi uma revista no estilo da revista Metrópole, do Correio Popular, com um reclame do Éden Bar. Pra minha sorte, um amigo meu - muito amigo meu, de faculdade - colecionador de tudo sobre futebol do Guarani, chegou às mãos dele um livrinho pequeno, que se chama Nossos Heróis, Nossos campeões. Narrava a trajetória de alguns jogadores. E o número sete, desses livrinhos, de 1931, feito na Rua Líbero Badaró, em São Paulo, narra a história do avançado do Guarani, o Nenê. Existem duas publicidades nessa revista: uma do Café Santa Terezinha e outra do Éden Bar e restaurante. Diz lá assim: “Viúva do Éden bar e filhos. Restaurante de primeira ordem. Rua Barão de Jaguará, telefone 2519” - quatro números – “fundada em 1889”. É o registro mais antigo que nós temos. Existem fotos do fotógrafo V8, na qual você vê placas do Éden Bar, fotos do prédio do Éden Bar. Mas registros são desses de publicidade e de fotos. Eu sei que ele mudou de lugar, ele era do outro lado da Rua Barão de Jaguará, por umas fotos que nós vimos. Outra numeração, mais para cima, na rua. E hoje, pelo menos há uns 60, 70 anos, acredito que esteja mais ou menos no mesmo endereço. Teve um, inclusive um dos donos anteriores ao meu pai, a empresa se chamava, antes de virar Éden Bar Ltda, chamava Geraldo Vituli Companhia. O seu Geraldo, Antonio Geraldo, é avô de uma amiga minha que é cliente do Éden Bar. Ele já não vendeu para o meu pai, já tinha vendido para outras pessoas, das quais meu pai comprou. Meu pai comprou de um espanhol e de um português. Aconteceu de a neta ser cliente hoje do Éden Bar, e é amiga nossa inclusive. Dois sócios saíram logo depois, compraram o Palácio do Chopp, que era na saída para São Paulo, perto do jardim do trevo; um dos sócios saiu em 1994, aposentou; e hoje são os dois sócios que ainda fazem parte desde aquela época. Eles já completaram mais de 40 anos de sociedade; eles foram sócios na padaria em São Paulo antes de vir para Campinas. Eles vão completar 40 anos de sociedade de Éden Bar, em 14 de fevereiro [de 2008]. E o Éden Bar, em 2009, completa 120 anos. CLIENTES Meus clientes são advogados, funcionários de banco, donos de estabelecimentos de comércio em geral. O próprio pessoal da Modelo Calçados, da Picoloto Calçados, que eu freqüentava. São juízes porque antes o Fórum era em frente; agora é só o criminal, e pessoas em trânsito pela cidade. FUNCIONAMENTO O Éden Bar, conforme meu pai conta, sempre funcionou até duas horas da manhã, duas e meia da manhã. Hoje é uma coisa que você não se vê no centro; o centro fecha cedo. Hoje fechamos às onze horas da noite. E de terça-feira era fechado. Tinha um dia da semana que era fechado o dia inteiro, era folga dos funcionários. Não existiam muitos restaurantes na cidade: era o Rosário, o Éden Bar, o Bar Ideal, o Armoreal, o Faca e outros restaurantes pequenos. O pessoal descia da rodoviária: “Onde vai comer?” “No Éden Bar, no Rosário”, indicavam sempre lá. E funcionava até duas horas da manhã com movimento. Meu pai conta que numa sexta-feira santa, certa vez, venderam 300 pizzas numa noite só. Por quê? Porque não existiam pizzarias. As pizzarias eram os próprios restaurantes. COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu acredito que a partir de 1980 já começou a existir pizzarias; que eu me lembre. Nessa época já começou a existir pizzarias, alguns restaurantes saindo do centro da cidade. Já começou a ter bastante coisa nas outras regiões de Campinas, as pizzarias no Cambuí como a Retorno, Monte Bello. Começou ali a distanciar um pouco do centro e começou a abrir mais restaurantes. E restaurantes mais específicos, pizzarias, cantinas, que não existiam. O restaurante, quando você abria, vendia pizza, lanche, massa, peixes, carne, churrasco. Existia uma churrascaria ou outra, que era a Churrascaria Gaúcha, na Campos Salles, que o ex-dono de lá é amigo nosso, e almoça todo dia no Éden Bar, que é o José Antônio Marchilli. Fazemos pizza também, todas as noites. Temos pizzas, lanches e o nosso forte hoje é o self-service. E à noite temos um buffet, mas o forte ainda é o à la carte. O comércio era todo no centro da cidade. Você precisava comprar roupas, na Treze de Maio tinha de tudo. Tinha a Sears, onde hoje é a Renner, que depois virou Mappin. Sears é uma loja internacional, americana, e tinha uma Sears em Campinas. Tinha tudo lá, você precisava comprar uma coisa diferente, uma televisão, uma geladeira, tinha a Sears. As Lojas Americanas chegaram a ser do lado do Éden Bar, mas já não é do meu tempo, eu sei por fotos, de 60 anos atrás, que você vê do lado, onde hoje são as Casas Bahia, eram as Lojas Americanas. Tudo era no centro até o advento dos shoppings. O Shopping Iguatemi começou devagar, até pegar. O pessoal não estava acostumado, era longe. Quando meu pai se mudou pra Vila Marieta, em 1969, 70, 71, perguntaram pro meu pai porque ele foi morar longe de Campinas. A Vila Marieta hoje, do centro da cidade, é cinco minutos de carro. Para você ter uma idéia, o Iguatemi era muito longe. No centro ficavam a Picoloto, a Modelo, a Ezequiel, de roupas finas. Hoje você andando pelo Bosque, inclusive, você vê aqueles bancos antigos... Tem um do Éden Bar com o telefone 2513 E hoje o nosso telefone é 3231 2513, o mesmo número. O banco, acredito que tenha uns 50 anos. Eu estou até fazendo uma petição junto ao Departamento de Urbanismo da Prefeitura, pra eu poder reformar esse banco, que ele está bem pichado, está desgastado, dar uma limpeza. E quem sabe anima o pessoal. Que existem ainda bancos lá de casas que estão em atividade. A própria Ezequiel tem muitos bancos lá: “Roupas para meninos, rapazes e homens”. Era muito engraçado. Bosque dos Jequitibás. Ele tem esses bancos todos em volta e é muito engraçado você ver a publicidade daquela época, os dizeres. Por exemplo, tem um banco lá – eu estive passeando no Bosque há pouco tempo – e está lá: “Adubos e esterco.” Quem vai fazer uma publicidade dessas hoje? Mas naquela época era o que tinha, era importante aquilo. Lembro de um estabelecimento que não existe mais, a Nossa Casa, que era uma papelaria na esquina da General Osório com Lusitana. Todos compravam material escolar lá, tinha de tudo. Eu vivi sempre no centro. O centro pra mim sempre foi tudo. Até hoje eu amo o centro da cidade. Acho que tem que ser revitalizado, têm muita história lá, praças, monumentos. O comércio mudou muito. Hoje muitas lojas estão fechando, baixando as portas porque a concorrência dos shoppings acaba sendo um pouco desleal pra eles. Porque o produto que eles vendem acaba sendo um pouco caro. Eles tem outra linha, o pessoal não vem para o centro pra comprar, vai pro shopping comprar. No centro, eu lembro do comércio do meu setor, que era o restaurante Barão, que o meu pai chegou a ser dono, os Giovanettis, a padaria Orly, o Pólo Norte. Eram casas onde todos eram amigos. Eram donos, concorrentes, mas eram amigos. A maioria inclusive, de portugueses. Inclusive, a padaria Orly, a própria Pólo Norte era portuguesa; o Barão era português; o Éden Bar era português; a padaria União era do meu tio. Hoje o City Bar, inclusive, é do meu padrinho; foi eleito o melhor boteco, o melhor bolinho de bacalhau do Brasil. SHOPPINGS CENTERS Os shoppings influenciaram bastante no comércio. Com o passar do tempo, foram tirando o pessoal do centro da cidade. Porque os shoppings ofereceram muito mais segurança, facilidade de estacionamento. O centro, apertado... As ruas do centro são muito estreitas, não tem estacionamento. A clientela começou a ir para o shopping e aquilo começou a afetar o centro, principalmente à noite. Porque o centro tem vida própria durante o dia. O centro não depende de o pessoal vir de fora, dos bairros, para comer no centro, porque durante o dia tem muita gente trabalhando lá. Muitos escritórios, empresas, lojas. À noite, está tudo fechado. À noite, o quê acontece? O pessoal vai para os shoppings, ou para Cambuí, ou para outros bairros. Os shoppings começaram a tirar o pessoal do centro à noite. Antes, se você queria sair, você ia para o centro; os cinemas eram no centro, você ia assistir a um filme e depois ia jantar. O Cine Windsor era na frente do restaurante Rosário. HOTELARIA Nós temos dois hotéis aqui em Campinas. São pequenos. Um é perto da rodoviária e o outro é próximo à estação de trem. São hotéis pequenos, mais para viajantes. Não é uma hotelaria grande, hotéis estrelados, mas são hotéis bons, bem freqüentados. Minha mãe inclusive trabalha em um deles. FUNCIONÁRIOS Hoje nós temos 50 funcionários. Na época do Plano Cruzado chegamos a ter 90 porque era uma época em que todo mundo ia à restaurante; os preços tabelados ficaram por baixo, todo mundo tinha dinheiro para ir à restaurante, enchia demais. Hoje nós funcionamos com 50, que é o suficiente. Eram diferentes também as formas de preparação. Hoje você compra muita coisa já pré-preparada: a batata pré-frita, você não precisa descascar a batata, cortar a batata. Quer dizer, você usava muito mais funcionários na época. Hoje você trabalha com muito menos funcionários. Mas nós temos funcionários lá que estão com a gente há... O nosso gerente, da noite, está conosco há 25 anos. Quando o meu pai começou, era um mínimo de funcionários possível, porque era um bar e tinha cinco sócios. Todo mundo trabalhava. Depois quando abriu o restaurante, eu lembro deles falarem de alguns funcionários que sempre ficaram. O próprio cozinheiro que se aposentou, começou com meu pai, o Benjamim. Ele se aposentou no Éden Bar. Meu pai comprou em 68, ele começou a trabalhar em 69. Garçons que trabalharam lá... Mas era assim, uma equipe até grande, de seus 60 funcionários porque era à la carte e à la carte tinha que ter muito garçom. Hoje eu trabalho com dez garçons. Chegou a ter 18 porque era um outro serviço. O self-service, hoje, você facilita muito; você tem o próprio cliente se servindo e o garçom acaba só levando a bebida. A quantidade de funcionários variava muito, mas acredito que sempre foi na base dos 60 funcionários, com exceção dessa época do Plano Cruzado. REFEIÇÕES Os pratos tradicionais até hoje seguem: o virado à paulista, segunda; de terça-feira a dobradinha; de quarta e sábado, a feijoada; de quinta-feira, a rabada. E mais os filés à Vilalva, o camarão à San Jacques, o famosíssimo Filé a Parmegiana do Éden Bar. Só que hoje o quê mudou foi a introdução do self-service. Há 15 anos, mais ou menos, nos temos o self-service no Éden, que mudou o cardápio, criando pratos novos e diferenciando a forma de servir, a forma de criar pratos para mesa de self-service. Houve essa guinada. Nós temos 70 pratos quentes e frios na mesa do self-service. Você tem que ter um cardápio muito extenso pra você ficar sempre variando, pra você não ficar repetitivo. Os clientes falam: “Pôxa, todo dia tem a mesma coisa.” E na realidade o à la carte, você tem o cardápio que o pessoal pedia, aquele que gostava daquele prato pedia sempre aquele prato. O self-service você tem que estar sempre criando pratos novos. Coisas que nós não tínhamos, como o Camarão com Moranga, que nós temos hoje, mas é um prato específico do self-service. Se o cliente pedir no à la carte, nós fazemos, só que é um prato específico para o self-service. ABASTECIMENTO As compras mudaram muito. Até hoje nós compramos no CEASA [Centrais de Abastecimento Sociedade Anônima]. Porque queira ou não queira, o centro de abastecimento do CEASA é fenomenal, a quantidade, a qualidade das mercadorias que tem lá. Só que hoje nós temos muitas facilidades, em vários produtos da própria Sadia, Perdigão e outros fornecedores, como a Mc Cain, que fornece batata pré-frita. Eram coisas que não existiam naquela época. Naquela época, você cortava a batata... Por exemplo, a calabresa vinha inteira, hoje você tem calabresa curada fatiada. Já facilita o seu trabalho. Hoje é muito facilitado, mas naquela época você fazia tudo dentro do restaurante, não tinha nada pré-pronto. ENTREGAS Tem muita história que o meu pai conta. O Éden Bar era ponto de encontro. Não existia celular e as esposas ligavam: “O Doutor Carlos já passou aí?” Conheciam todo mundo. “Não, não passou.” “Então, na hora que ele passar, manda ele trazer um Filé a Parmegiana pra casa.” Não existia entrega, era dessa forma. Queria encontrar alguém, estava no Éden Bar, ou no Rosário, ou no Giovanetti. Depende da onde você freqüentava. O Rosário iniciou com as entregas e nós fomos no vácuo. Hoje muita gente ainda vem pegar, mas o serviço de entrega facilitou muito. EQUIPAMENTOS No caso de equipamentos do restaurante, na época nós usamos até fogão a lenha. Era uma sujeira para armazenar a lenha. Quando terminava o almoço tinha que limpar toda aquela fuligem. Hoje não. Tudo elétrico, tudo a gás. Nós temos um forno alemão, que nós compramos, alta tecnologia. Um forno de pizza também, outra tecnologia nacional, que faz uma pizza em três minutos. São equipamentos que facilitam a sua vida. Eu até fico às vezes pensando como é que ele conseguiu fazer 300 pizzas numa sexta-feira santa, sem o forno que temos hoje. Mas fazia, e o pessoal não esperava muito. Tinha uma tolerância, a vida não era tão corrida. O pessoal podia esperar meia hora para sair uma pizza. Hoje, se você demorar meia hora para sair uma pizza o cara vai lá e fala: “O quê acontece? Eu pego a pizza naquele lugar e demora cinco minutos para sair, e aqui demora meia hora?” Naquela época era tolerável, porque o pessoal não tinha toda essa pressa, essa urgência que tem hoje. MOBILIÁRIO A última reforma que nós fizemos foi em 96, se eu não me engano. Rebaixamos o teto, colocando um forro, sancas de gesso, sancas de madeira pra iluminação indireta. Foi a última reforma grande. Agora nós estamos planejando uma reforma para trocar pisos, que na época você punha granito: “Nossa, granito” Hoje é um tipo de piso interessante, mas você tem pisos muito melhores pra restaurante. Você tem que estar sempre se atualizando. Também fizemos reformas na cozinha. A nossa cozinha foi sendo ampliada. De acordo com a demanda nós fomos ampliando. Por quê? Porque com facilidades de compras, nosso espaço de estoque foi diminuindo, não havia necessidade de tanta área de estoque. Uma área de estoque que era no fundo foi transformada e ampliada a cozinha. As mesas também, na época dessa reforma, foram todas trocadas. Eram aquelas cadeiras de ferro que se usavam. Hoje, não. A cadeira é de madeira com estofamento de couro; é uma coisa mais fina, vamos dizer. Naquela época, o cliente não estava vendo isso. Hoje o cliente é muito mais exigente. Naquela época o cliente queria era comida boa, preço bom e o ambiente não precisava ser requintado. Tinha que ser bom, limpo e bonito. Você não se importava de sentar numa cadeira, vamos dizer que fosse uma cadeira escolar sem o banquinho, sem o braço escolar. Eram aquelas cadeiras que se usava. Eu lembro dessas cadeiras. E usava-se em cima dessas cadeiras, na parte de encosto, um paninho por cima. DECORAÇÃO O equipamento e mobiliário foram sempre reformados. Os balcões já são antigos, mas reformados. Agora, coisas antigas mesmo, do restaurante, quase não têm. O quê nós temos são algumas fotos que o próprio V8 vendia para o meu pai. Aristides o nome dele, se não me engano. São fotos e jornais com algumas reportagens do Éden Bar, mas a decoração em si do Éden, são quadros de flores e outros quadros que a pessoa que pintou, já inclusive várias pessoas quiseram comprar, são quadros bem grandes mesmo, no estilo do Portinari. Umas pinturas de família e com os traços do Portinari. FIDELIDADE Tenho clientes que almoçam de segunda a sexta porque estão a trabalho, e no fim de semana vem com a família. Tenho clientes há 40 anos. Eram clientes de antes de meu pai comprar o restaurante. Até hoje são clientes. Existe uma fidelidade, sim. Muita gente gira: come aqui um pouco, vai a outro restaurante. Mas a clientela fiel existe ainda. Meu pai estava comentando outro dia sobre um cliente que veio e falou assim: “Olha só, quando eu o trazia aqui eu o trazia pela mão; agora eu estou trazendo a neta pela mão.” Mais de 40 anos que a pessoa freqüenta, ele levou o filho, o filho casou e teve filhos; e ele está vindo com a neta. E continua vindo no Éden Bar. FORMAS DE PAGAMENTO Meu pai sempre falou, na época que ele começou, que era assim: um cheque por dia, quando vinha, era muito. Era só dinheiro. Não existiam cartões. Começou aos poucos assim como os tíquetes. Hoje, o forte são os cartões de crédito. Os cartões de crédito dominam o mercado, cartões de crédito e débito. Os tíquetes também e pouca gente usa dinheiro. O cheque é muito pouco usado. Houve uma época em que o cheque era bastante usado, mas no começo era só dinheiro. Quem ia dar um cheque pra pagar um filé? Ninguém fazia isso. Todo mundo tinha dinheiro no bolso, pagava. Era aquele negócio, quando entrava um cheque achava até estranho. De quem que é? Tinha que ver bem de quem era, pra não ter problema, porque era só cheque de conhecido, mesmo. Hoje já não, hoje com o advento de todas essas tecnologias, os cartões ficaram muito fortes, os tíquetes. Metade são cartões e tíquetes. Os tíquetes são entregues, você recebe, semanalmente, recebe dali a 14 dias; os cartões fecham todo dia e recebe dali a 31; paga-se uma comissão pra eles pelo serviço prestado. Eu tenho uma pilha de cheques devolvidos lá no Éden Bar, mas coisa quase tudo perdida. Nós temos aquele serviço de consulta do Serasa, sempre volta algum cheque, porque a pessoa não tem restritivo nenhum, mas depois volta. Mas hoje é bem menor em quantidade de cheques, porque pouca gente usa cheques. E como são valores pequenos, as pessoas acabam não dando cheque. A inadimplência não é muito grande, no setor de restaurante. Meu pai sempre diz que fiado nós só fazemos pra amigo, e amigo que é amigo, não pede fiado. Na realidade, existe hoje o fiado no Éden Bar, mas o que é fiado? Na verdade, são convênios com empresas; escritórios que os funcionários almoçam lá e pagam mensalmente. Como meu pai diz: “A última você sempre perde.” Nós tínhamos um cliente que faleceu, a última nós perdemos. Pode acontecer. Fiado pra uma empresa é diferente, mas no caso de pessoa, normalmente, a última você sempre acaba perdendo. PROPAGANDA Eu tenho várias publicidades guardadas. Meu pai sempre fez muita publicidade em jornal, no Correio Popular e no Diário do Povo. E publicidades no jornal do Sindicato dos Policiais, jornal da CPFL, aquelas publicidades dirigidas. Naquelas épocas antigas eram publicidades mesmo de jornal. Hoje nosso mais forte em área de publicidade – tivemos na televisão também – o nosso mais forte hoje é na rádio FM e AM. Na parte de esportes, centrado na área de esportes. Nós temos uma publicidade na Rádio Central e uma publicidade na Rádio CBN, ambas na área de esportes. Temos de segunda feira à noite, transmissão de um programa de rádio direto do Éden Bar, que o Roberto César apresenta, que é o chefe de esportes da Rádio Central. Transmite de lá das oito às dez horas da noite de toda segunda-feira. PROMOÇÕES Nós quase não trabalhamos com promoções. Podemos até fazer no caso de algum convênio. Quando uma grande quantidade de pessoas fala: “Olha, nós vamos com 15 pessoas, você pode fazer um desconto?” Aí sim. Agora promoção, nunca tivemos esse costume. Meu pai nunca foi de fazer promoção porque ele trabalha com a seguinte idéia: o preço justo com mercadoria de qualidade. Isso é o que mais importa para o cliente. Você fazer promoção, às vezes, não é o que o cliente está querendo. Ele quer qualidade boa com preço justo. Nós trabalhamos com preço razoável e com qualidade excepcional. O cardápio segue sempre o mesmo preço. Quando tem aumento, eles aumentam por igual. Não trabalhamos com diferenciação. Temos aqueles pratos com variações dentro dos pratos normais. Um camarão é mais caro, um bacalhau é mais caro, um filé de frango é mais barato. Mas sempre segue aqueles preços. Meu pai fala que é uma publicidade interna. O cliente vai lá, “vamos lá, experimenta esse vinho”, dá um bolinho de bacalhau pra pessoa que está se servindo. Essa, pra ele, é uma promoção. Pra ele, na verdade, é cativar o cliente dentro do restaurante. Não, “se você for lá, você ganha.” A única promoção que nós temos, na realidade, é um convenio com o Campinas Convention & Visitors Bureau, no qual o turista que vem a Campinas, se hospeda nos hotéis, ganha a segunda bebida, apresenta no cartão do Convention. É fornecido um “Bem vindo a Campinas”. É uma promoção para os turistas. Você ganha o segundo suco, ou segundo refrigerante, ou o segundo chopp. DESAFIOS Antigamente era treinamento de funcionários. Você não tinha muito acesso a treinamento de funcionários, não tinha muita gente qualificada trabalhando no seu setor. Hoje você tem vários cursos, os funcionários são muito bem preparados, você tem uma qualidade de atendimento melhor. A dificuldade do centro é a noite. É uma dificuldade que nós vamos enfrentar por muito tempo, até o governo municipal realmente reativar a vida no centro. Porque no centro, à noite, duas quadras pra cima do Éden Bar tem prostituição, problemas de droga. Na frente do Éden Bar, não. Porque ali está o Éden Bar, ali está o Giovanetti, então o pessoal vai, ainda tem gente. É um desafio. Porque, o centro, à noite é de fácil acesso, tem estacionamento, mas não tem muita gente que vem. Precisava ser um trabalho mais bem elaborado pela prefeitura. SUCESSO Bom atendimento é essencial. Qualidade excelente. Trabalhar só com mercadoria de primeira, porque o cliente merece; paga pra receber coisas de primeira. Nosso preço não é barato nem caro. Se você for comparar com alguns restaurantes do centro, nós somos os mais caros em termos de self-service. Só que todos os dias temos bacalhau, temos camarão. O cliente gosta disso, o cliente quer qualidade, bom atendimento, limpeza. O cliente exige todos esses fatores. Isso é muito importante. Quer qualidade, inovação, pratos novos. Nossa cozinheira chefe está lá há 14 anos. É o padrão, você não pode chegar lá num dia e comer uma coisa, e noutro dia ela vai estar diferente. Você tem que ir lá, comer um Parmegiana num dia, e no outro dia saber que você vai comer o mesmo Parmegiana. A mesma qualidade, o mesmo tempero. Eu vejo, pela própria macarronada, muitos amigos nossos mantêm a sete chaves o segredo do molho deles. Por quê? Porque o molho deles é excepcional, é padrão. Todo mundo sabe que vai comer aquele molho daquela qualidade. Todo mundo sabe que vai comer o Filé a Parmegiana do Éden Bar, que é aquela qualidade. Todo mundo sabe que vai ao self-service do Éden bar e que vai ter bacalhau aquele dia. Porque todo dia tem. Todo mundo sabe que vai ao City Bar e vai ter o bolinho de bacalhau que é o melhor de Campinas, o melhor do Brasil. Eu sei reconhecer quem é bom em cada setor. É do meu padrinho, é da família. Ele compra uma tonelada de bacalhau por mês. Num bar. Então ele vende. E vende por quê? Porque a qualidade dele é excepcional. Ele se especializou nessa área. Não adianta ninguém aqui em Campinas querer vender bolinho de bacalhau como ele vende, porque não vai vender. Porque ninguém tem coragem de comprar bacalhau a 45 reais o quilo para fazer bolinho. Vai comprar bacalhau de 15 reais. É pra fazer bolinho, é só desfiar. Ele não, ele compra bacalhau de primeira. Isso é que faz o cliente ficar com você. E se você fizer isso, você vai ter clientela para 100, 200 anos. FAMÍLIA Minha esposa é psicóloga formada e atua na área de motel junto com meu pai. Nós também temos um motel aqui em Valinhos. No começo, pra ela, foi um pouco difícil, porque o pai dela trabalhava na CETESB [Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental], era pessoa que no final de semana estava em casa. Eu, feriado e final de semana, estou no trabalho porque o restaurante não fecha. Nós trabalhamos os 365 dias do ano; e se for bissexto, 366. Os meus filhos também sentem isso. Eles sabem que todo dia eu vou trabalhar. Não tem aquele dia, “ah, o papai fica em casa.” Não fico. Eu não fico em casa um dia por semana. Eu vou todos os dias. Saio às vezes mais cedo, vou para casa, mas eles já sabem como é. Eu fui criado assim, meu pai sempre trabalhou todo dia. E o comercio exige isso. O restaurante exige isso. Você precisa estar lá todos os dias. É um ramo que demanda muito do dono. O dono tem que estar lá o dia inteiro e direto. COMÉRCIO DE CAMPINAS O comércio de campinas é muito pujante. Nós temos coisas que não imaginávamos que íriamos ter. A quantidade de shoppings que nós temos, a quantidade de lojas espalhadas por toda Campinas. Porque às vezes nós falamos assim: “É no centro, Cambuí.” Não, há lojas de sapatos no Parque Taquaral, que é uma das lojas que todas as mulheres vão. É uma loucura E com isso, perto da casa do meu pai, inclusive, uma pessoa abriu uma loja. Por quê? É uma área que não é de comércio. Mas ela vende tanto sapato nessa casa. É uma casa, uma residência. Que a concorrência falou: “vou abrir uma loja lá perto.” Abriram uma loja lá perto. O comércio está se expandindo muito. Hoje as pessoas não precisam mais sair do bairro para vir no centro fazer compras. Tem tudo. Todos os tipos de comércio têm nos bairros; bancos têm nos bairros. O comércio todo está se expandindo pela cidade inteira. Você precisa ter um diferencial para trazer eles para você; que é o que eu falei: o atendimento, a qualidade. O comércio de Campinas cada vez está mais concorrido. Restaurante, bares estão sempre abrindo, mas estão sempre fechando. Porque não é fácil. É o que eu falo, as pessoas pensam que é fácil, porque a pessoa vai num bar e toma uma dose de whisky e paga 15 reais. E uma garrafa de whisky tem 20 doses, e a garrafa custou 80. “Pôxa São 300 reais. Nossa Vou ganhar muito dinheiro”. Só que não é assim que funciona. Tem toda uma estrutura por trás, você não vai vender whisky, você tem comida, desperdício, tem funcionários, tem aluguel, água, luz, impostos. E a pessoa às vezes não se planeja muito bem. Muitos estabelecimentos da área nossa fecham em um ano. Eu cheguei até atrasado para essa entrevista porque eu estava em uma negociação no sindicato, porque uns grupos que está por trás de mim, de hotéis, estão querendo assumir o sindicato patronal de Campinas dos restaurantes e hotéis. Porque nós estamos visualizando que nós temos que trabalhar diferente, no sindicato. Trabalhar mais para os restaurantes. Campinas precisa de um sindicato forte, atuante. E nosso sindicato está meio devagar. O pessoal todo. Inclusive pediram para eu ser presidente. Eu falei: “Tudo bem, eu sou novo, mas sou do setor. Mas se for preciso nós assumiríamos.” Eu estava lá com o Saulo, da Macarronada. Lá em uma reunião, por isso esse atraso. Nós estamos querendo assumir porque o próprio presidente da ACIC [Associação Comercial e Industrial de Campinas], o Guilherme Campos, a ACIC é muito atuante em Campinas, muito atuante. E nós queremos que o nosso sindicato também seja. LIÇÕES DO COMÉRCIO Trabalho, dedicação, perseverança. Não se abater com os momentos difíceis, quando acontecem problemas que, coisas de governo mesmo, problemas até trabalhistas; que você na hora fala, “paguei direitinho o rapaz e o rapaz entra na justiça.” Na primeira vez que eu fui numa audiência trabalhista eu queria matar o funcionário de tanta raiva. Paguei certo e o cara entra na justiça Você tem que aprender a ter paciência, entender. A pessoa às vezes é mal instruída, ela acha que uma pessoa fala para ela: “Olha, vai lá que você vai ganhar dinheiro.” As pessoas querendo tirar vantagem de você por você ter um comércio. Você tem que saber lidar com tudo isso. Uma coisa, não é que eu aprendi com o comércio, mas aprendi com o comércio no centro. Foi amar o centro da cidade. O centro da cidade é maravilhoso, tem tudo, você não precisa sair dali. Eu só saio dali para ir para casa. Porque se eu preciso fazer alguma coisa. Eu vou até no shopping. Por causa do cinema. Só. Porque se houvesse cinema no Centro eu ia ao centro. É maravilhoso assistir o cinema em uma tela gigantesca, 900 lugares. Nossa Eu amava aquilo. Hoje você tem que ir ao shopping, paga estacionamento. Não é a mesma coisa, eu amo o centro, eu acho o centro maravilhoso. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu achei essa iniciativa excepcional. Eu acho que Campinas precisa disso. Campinas precisa resgatar a sua história. Porque quando nós falamos da história do comércio em Campinas nós estamos falando do centro da cidade. Basicamente é o centro da cidade. É o coração de Campinas, foi de onde tudo partiu. Quem sabe abra uma porta para o pessoal ver o centro com outros olhos. Que o centro não é só um local que de manhã durante no dia tem aquele montão de gente trabalhando e à noite não tem nada. Quem sabe o pessoal resolva conhecer o centro melhor. Ver o que o centro pode demonstrar. Que o pessoal invista no centro mais. Eu achei excepcional porque Campinas precisa disso. Campinas, você não vê – inclusive eu estive lendo na revista Veja dessa semana o seguinte: um fotógrafo de São Paulo lançou um livro de 256 páginas com fotos antigas de São Paulo. Da Avenida Rebouças, que não tinha nada, que era um lugar que ninguém queria ir. Quer dizer, Campinas precisava disso. Campinas precisa resgatar a história, mostrar como Campinas era. Meu pai, quando veio para cá, ele praticamente, um pouquinho antes o bonde tinha sido desativado. Acho que ele pegou um mês de bonde ali. Tem tantas coisas, tantas histórias. O próprio prédio do Solar do Visconde, de Indaiatuba, onde é o Bingo do Visconde, que pegou fogo no dia 18 de fevereiro de 1994. Você vai falar como é que eu sei o dia? É porque é o meu aniversário. Eu estava em casa e, não existia celular na época, e meu pai não chegava para jantar em casa no dia do meu aniversário. Eu tinha feito dezenove anos, e não chegava. A televisão ligada na Globo: tan tan tan tan tan tan tan: continua pegando fogo no restaurante da Barão de Jaguará. Ligo no Éden Bar, ninguém atende ao telefone. Falei: “Pronto, está pegando fogo no Éden Bar.” Peguei o carro e vim correndo para o centro da cidade. Quando eu estava chegando perto, na rádio AM: “Continua pegando fogo no restaurante Senatti, na Rua Barão de Jaguará.” Eu falei, “nossa, graças a Deus” Depois eu lembrei: “pô, o pessoal da Mazza tecidos, são meus amigos, ficam embaixo, vai pegar tudo fogo também.” Ardeu tudo aquilo ali. Eu lembro que eu cheguei, tinha um cordão de isolamento, e dentro do cordão de isolamento estava o Grama [José Roberto Magalhães Teixeira] e meu pai. Os dois dentro do cordão de isolamento conversando. E o cara não queria me deixar passar; eu falei: “Quem está com o prefeito é meu pai, eu sou do Éden Bar.” Ele me deixou passar; eu cheguei e o Magalhães estava falando: “Ah, Oliveira – ele almoçava sempre no Éden Bar – isso vai me dar uma dor de cabeça, que é tombado, vai ser um problema Vai ser um problema pra recuperar isso.” E o Magalhães era engraçado, o Magalhães todo dia quando ele ia almoçar no Éden Bar, ele não cumprimentava – a primeira pessoa a cumprimentar não era nem o meu pai, nem o sócio do meu pai. Ele ia no balcão cumprimentar minha funcionária que se chama Albertina. Chamava Betinha, ou baixinha. Porque ela não é anã; ela teve um problema de crescimento, ela tem um metro e 30. Mas ela não é anã. Ela tem um metro e 30, ela é baixinha. A primeira pessoa que ele ia cumprimentar era ela: “Baixinha, como é que você está? Vou passar para tomar um café na sua casa.” E ia à casa dela tomar café. E depois ele cumprimentava meu pai e o sócio do meu pai. A primeira pessoa que ele cumprimentava era ela. Ele a adorava. E ela era assim: podiam apresentar um vídeo do Magalhães fazendo qualquer coisa errada, ela nunca ia acreditar. Porque ela conhecia ele, adorava ele. Até hoje, se ele estivesse vivo. Vai ser candidato a sindico do prédio? Eu vou lá e voto nele. Era um voto ganho fácil. O voto era dele. E outros prefeitos tantos que passaram por lá O próprio Toninho [Antonio da Costa Santos], falecido prefeito, lançou a candidatura dele no Éden Bar, em uma festa da pizza. Com o Partido do PT [Partido dos Trabalhadores], numa noite no Éden Bar. Era freqüentador nosso, cliente nosso, muito amigo também. Filho de portugueses, o qual eram donos da Campineira. E tantos outros prefeitos, vereadores, jogadores de futebol. O próprio Ziraldo ganhou um bolão da copa do mundo dentro do meu restaurante. Ele veio almoçar no Éden Bar, final da copa do mundo: Brasil x Alemanha, ele pôs 2 x 0 no bolão, ele ganhou sozinho. Eu liguei para o empresário dele e falei: “Olha, o Ziraldo ganhou o bolão, sozinho” O funcionário dele, empresário dele, foi lá pegar o dinheiro do bolão. Acho que eram uns 200 reais. Falei: “Pô, o homem vem aqui, só para almoçar e ganha no bolão” Umas coisas assim. LIÇÕES DE VIDA Obrigado por ter me convidado para falar um pouco da história do Éden Bar, da história do meu pai. E, completando, lógico, que eu falei do Éden Bar, do meu pai, é que nós sempre falamos: é meu pai Eu falo do meu pai. Tem o sócio do meu pai, que está lá até hoje com ele, que é o seu José Martins Cerqueira. Sócio do meu pai há 40 anos, pessoa excepcional também. Ali, junto com meu pai há 40 anos, todos os dias também. Os filhos dele – o filho dele é sócio também, como eu. Eu também sou sócio do Éden Bar, e o filho dele também, que eu sou padrinho de crisma. Muito amigo meu, o Zezinho. Porque, por incrível que pareça: meu pai é Antonio, eu sou Antonio; o seu José é seu José, e o filho dele é José também. Só que meu pai é conhecido como senhor Oliveira, e eu virei Antonio Augusto. O senhor José é o seu José, o seu Zé; e o Zé, filho dele, Zezinho. Que é o mais alto de todos, mas é o Zezinho até hoje. Já vai ser pai, inclusive, e até hoje é o Zezinho. São pessoas excepcionais, amigos, família. São mais que família para nós, porque são 40 anos de convivência com o meu pai. O seu Zé me conhece desde que eu nasci, meu pai é padrinho do filho dele. Ele é meu padrinho de casamento, o seu Zé. É uma família, na realidade é uma família.
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