Depoente: Carlos Ferraz
Entrevistado por: Paula Ribeiro e José dos Santos
São Paulo, 17 de março de 1994
Entrevista nº 037
P- Bom, senhor Carlos eu gostaria de começar a entrevista pedindo ao senhor que nos dê o seu nome, local e data de nascimento, por favor.
R- Meu nome é Carlos Ferraz, eu nasci em Catanduva, uma cidade do estado de São Paulo da região da Araraquarense e no dia dez de julho de 1923.
P- E o seu pai, qual era o nome dele e a atividade...
R- Meu pai chamava-se Joaquim da Silva Ferraz, faleceu quando eu ainda era bem pequeno e minha mãe Maria Elisa Serpa Ferraz.
P- Eles eram brasileiros?
R- Meu pai era português e minha mãe brasileira.
P- O senhor sabe de que cidade?
R- A minha mãe era de Dobrada. Dobrada é uma cidade pequena hoje, muito pequena, diante de Araraquara e pouco antes de Catanduva. Aí onde ela nasceu.
P- E o seu pai, o senhor sabe a cidade de origem?
R- Não, meu pai veio de Portugal muito pequeno e quando ele faleceu eu também era muito pequeno. E realmente eu nunca soube. Dizia, dizia ele que era de Trás-os-Montes, mas Trás-os-Montes é uma região muito grande de Portugal.
P- O senhor sabe o motivo da imigração da família de seu pai pro Brasil? Qual foi a época?
R- Não, o meu pai veio só, não veio com a família. Ele deve ter vindo para o Brasil por volta de 1910, não deve ter sido muito distante disso não. Ele faleceu com quarenta e dois anos, no ano de 1930, então nós podemos imaginar que ele não estava tão criança quando ele chegou, deve ter sido por aí. Nessa época.
P- O senhor lembra... Tem alguma memória de conversar com seu pai sobre a cidade dele, sobre os pais dele, seus avós?
R- Não, não, eu era muito pequeno nessa altura eu devia ter algo como seis ou sete anos e meu pai tinha muita atividade na cidade de Catanduva. Era muito pequena, a cidade. Hoje é uma cidad...Continuar leitura
Projeto: História em Multimídia do São Paulo Futebol Clube
Depoente: Carlos Ferraz
Entrevistado por: Paula Ribeiro e José dos Santos
São Paulo, 17 de março de 1994
Entrevista nº 037
P- Bom, senhor Carlos eu gostaria de começar a entrevista pedindo ao senhor que nos dê o seu nome, local e data de nascimento, por favor.
R- Meu nome é Carlos Ferraz, eu nasci em Catanduva, uma cidade do estado de São Paulo da região da Araraquarense e no dia dez de julho de 1923.
P- E o seu pai, qual era o nome dele e a atividade.
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R- Meu pai chamava-se Joaquim da Silva Ferraz, faleceu quando eu ainda era bem pequeno e minha mãe Maria Elisa Serpa Ferraz.
P- Eles eram brasileiros?
R- Meu pai era português e minha mãe brasileira.
P- O senhor sabe de que cidade?
R- A minha mãe era de Dobrada.
Dobrada é uma cidade pequena hoje, muito pequena, diante de Araraquara e pouco antes de Catanduva.
Aí onde ela nasceu.
P- E o seu pai, o senhor sabe a cidade de origem?
R- Não, meu pai veio de Portugal muito pequeno e quando ele faleceu eu também era muito pequeno.
E realmente eu nunca soube.
Dizia, dizia ele que era de Trás-os-Montes, mas Trás-os-Montes é uma região muito grande de Portugal.
P- O senhor sabe o motivo da imigração da família de seu pai pro Brasil? Qual foi a época?
R- Não, o meu pai veio só, não veio com a família.
Ele deve ter vindo para o Brasil por volta de 1910, não deve ter sido muito distante disso não.
Ele faleceu com quarenta e dois anos, no ano de 1930, então nós podemos imaginar que ele não estava tão criança quando ele chegou, deve ter sido por aí.
Nessa época.
P- O senhor lembra.
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Tem alguma memória de conversar com seu pai sobre a cidade dele, sobre os pais dele, seus avós?
R- Não, não, eu era muito pequeno nessa altura eu devia ter algo como seis ou sete anos e meu pai tinha muita atividade na cidade de Catanduva.
Era muito pequena, a cidade.
Hoje é uma cidade importante da região, mas meu pai tinha como uma.
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Um fato para nós extraordinário: ele era português, mas era vereador na cidade.
Naquela ocasião os portugueses podiam ser vereadores e ele era um dos vereadores da cidade.
Lembro-me desses fatos e tinha.
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Catanduva tinha dois curtumes e um deles foi do meu pai durante algum tempo.
Passado também algum tempo, ele passou a ser dono de uma loja, uma das grandes lojas de Catanduva.
Naquela ocasião se media o tamanho da loja pelo número de portas no interior, e a loja do meu pai era grande porque tinha nove portas (riso).
P- E ele vendia o quê lá?
R- Na loja.
Era secos.
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Chama-se secos e molhados.
Então vendia alimentos de toda natureza, vendia todo tipo de apetrecho, para a caça, para a pesca e até para.
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Arreios de animais naquela ocasião se vendiam porque quando se usava muito como meio de locomoção era a montaria.
Ele também vendia arreios, isso eu me lembro!
P- Agora, o senhor disse que o seu pai era português e vereador e ele nunca se naturalizou brasileiro?
R- Não.
Não, não se naturalizou.
P- O senhor sabe o porquê o disso?
R- Creio que naquela ocasião isso não era.
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Não era imperativo, importante.
E os portugueses em todas as cidades tinham sempre uma colônia muito grande, eles tinham muita importância, muita participação na vida da cidade.
Creio que isso não levava.
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Não levava a.
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Hoje, e não também tinha nem fato legal, nenhum benefício, talvez seja por isso.
P- O senhor pode me descrever um pouco como é que era a sua cidade de origem.
Quais são as suas memórias sobre a sua cidade, da sua infância?
R- Quando nós morávamos em Catanduva, ela era uma cidade provinciana, uma cidade pequena.
As ruas naquela ocasião, como nessa época, por volta de mil novecentos e.
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Seja 1923, quando que nasci, até quando eu saí de lá, 1933, 32, é uma cidade pequena, provinciana.
Muito bonita, muito pacata em que predominavam muitas atividades religiosas.
O padre da cidade era uma das figuras importantes.
Por sinal, um padre da cidade, Padre Albino naquela ocasião, era muito famoso na região, emérito e fez muitas obras.
Era um padre português, era o meu padrinho de crisma.
Essas são as coisas.
E hoje a cidade.
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Catanduva é uma cidade maravilhosa, uma cidade moderna, uma cidade com quase todas as.
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Com todas as ruas asfaltadas, umas casas muito bonitas, uma população muito ativa, um time de futebol Catanduvense também importante como agremiação futebolística.
E Catanduva teve muitos homens importantes, digamos, o senador Orlando Zancaner, que era da cidade de Catanduva citando um deles, né? E Catanduva era uma cidade agradável, como as cidades do interior de São Paulo deste tipo, mas Catanduva é uma cidade.
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Talvez por ser catanduvense sempre se diz um pouquinho mais, né?
P- E havia uma colônia portuguesa muito grande na cidade?
R- Havia colônia portuguesa, colônia espanhola e italiana.
Muitos dos descendentes, muitos dos nativos da cidade são descendentes de uma dessas três, dessas três colônias.
P- O senhor tem irmãos?
R- Tenho.
Tinha três irmãs, hoje tenho duas.
Todas, todas elas nascidas também, senão em Catanduva, em cidades próximas, bem próximas de Catanduva.
P- Mas o senhor foi criado em Catanduva.
R- Na realidade fui criado em São Paulo porque eu.
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A minha família na ocasião, a minha mãe porque meu pai tinha falecido, nós morávamos em Catanduva quando ele faleceu, então nós viemos pra São Paulo.
Eu tinha menos de dez anos, de maneira que toda a minha vida foi desenvolvida aqui em São Paulo, é a cidade que eu adoro.
P- Mas os primeiros contatos com o futebol foram em Catanduva?
R- Não, eu em Catanduva não cheguei a assistir nem jogo de futebol.
Mas a bola sempre.
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Toda criança sempre corre atrás de uma bola.
Mas eu vim a conhecer o futebol, vi o primeiro jogo aqui, aqui em São Paulo.
P- Mas quando o senhor era menino em Catanduva, o senhor torcia por algum time de futebol?
R- Não, não tinha.
A minha paixão primeira futebolística foi pelo São Paulo e foi em decorrência de uma circunstância.
Trinta e dois, o ano de 1932 nós tivemos uma Revolução Constitucionalista, vocês devem conhecer.
Então se falava muito em São Paulo, na palavra São Paulo, como era importante, a bandeira paulista era muito importante.
E no interior teve.
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Houve muito entusiasmo pela Revolução Constitucionalista e São Paulo que tinha.
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Estava lutando para as modificações que pretendia que ocorresse.
Então talvez por isso, São Paulo de 32, o São Paulo Futebol Clube deve ter muita ligação na minha vida.
P- E quais eram então as brincadeiras do senhor na sua infância?
R- Em Catanduva, cidade muito, muito.
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Era pequena naquela ocasião, aquelas brincadeiras de rua, de quintal, nós morávamos numa casa com um quintal muito grande.
E passávamos brincando o dia todo, fazendo algumas travessuras no quintal ou participando da vida religiosa porque naquela época era quase uma obrigação, um ritual.
Ir à missa de manhã, ir à reza de noite.
De maneira que nós naquela ocasião passávamos um bom tempo na igreja, logicamente com os nossos.
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Com a minha mãe, com as minhas irmãs.
P- Mas o senhor fez o grupo colegial, começou a escola em Catanduva.
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R- Comecei em Catanduva e depois vim terminá-lo aqui.
P- Em que ano o senhor veio pra cá?
R- No ano, creio que.
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No início do ano de 1933, ou no final do ano de 1932, não tenho muita certeza.
P- O senhor lembra um pouco das suas primeiras impressões ao chegar a São Paulo? Tem alguma memória dessa época?
R- Tenho.
A diferença entre Catanduva e São Paulo era enorme.
O que fascinava as crianças que chegavam a São Paulo naquela ocasião era o bonde, né? Nunca se tinha visto um bonde até então, um ônibus.
Para qualquer local que você se locomovesse tinha que tomar um ônibus.
E numa cidade como Catanduva não havia absolutamente necessidade de tomar uma condução, todas as coisas estavam a uma distância em que caminhando se chegava.
Foi.
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Realmente foram o ônibus, o bonde, e o número de pessoas nas ruas é que realmente despertava a atenção.
As lojas também, diferentes de Catanduva, as praças, enfim uma diferença muito grande de cidade para cidade.
Isso foi o que chamou a atenção e fez com que São Paulo pra mim fosse uma cidade inesquecível e atraente onde eu gosto realmente de viver.
P- Qual foi o primeiro bairro em que o senhor morou?
R- Ah, quando eu cheguei a São Paulo, quando nós chegamos a São Paulo, eu viajei com a minha mãe e uma das minhas irmãs, porque uma delas já estava morando aqui em São Paulo, veio pra cá antes da Revolução de 32.
Nós fomos morar no bairro Santa Cecília, na Rua Martim Francisco.
E lá eu morei uma boa parte da minha infância, desse período de garoto.
P- Conta um pouquinho, por favor, como era este bairro nessa época, a vizinhança.
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R- Era.
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Era um bairro de casas, não tinha apartamento, a vizinhança era extraordinária.
E eu tive ali como amigo, como companheiro, um elemento que nunca mais esqueci, ainda está aí: Paulinho Machado de Carvalho.
Ele é da Record.
Nós morávamos muito perto um do outro e ele era nosso companheiro também.
Paulinho era.
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Nós jogávamos algumas vezes futebol juntos.
E o bairro era também muito agradável, muito tranquilo.
P- Como é que eram então essas brincadeiras de rua nessa época?
R- Nessa ocasião a gente podia jogar futebol, jogar bola como se chamava, né? A gente jogava bola na rua mesmo.
E outra distração muito grande era na época junina de “baloismo”, correr atrás de balão, pegar balão, isso era uma distração muito grande também nessa época.
E já nessa ocasião nós íamos assistir aos jogos do São Paulo no Pacaembu, a Rua Martim Francisco não é muito distante do Pacaembu e nós íamos a pé assistir os jogos do São Paulo, eu, Paulinho e outros companheiros.
P- O senhor chegou a estar presente na inauguração do Pacaembu?
R- Sim, estive.
Eu já era são-paulino nessa época.
P- Porque sempre contam que quando o São Paulo entrou no estádio que ele foi ovacionado por todas as torcidas, o senhor recorda desse episódio?
R- Não, não me recordo muito porque naquela época eu não prestava tanta atenção aos fatos.
Mas me lembro de que estava na tribuna o então presidente Getúlio Vargas com nosso interventor Adhemar de Barros e os clubes desfilando.
E num dado momento ingressou na pista a comitiva do São Paulo, a delegação do São Paulo que eram só jogadores, deviam ser onze, um número pequeno com alguns diretores, e o público rompeu num aplauso enorme.
Lembro-me que naquela ocasião, ou logo depois, se dizia que o presidente Getúlio Vargas ficou admirado dos aplausos para um clube tão pequeno que disse "esse clube é o mais querido".
Aí ficou São Paulo, passou a se conhecer o São Paulo como o clube mais querido da cidade.
Uma das coisas que se diz, né?
P- Quer dizer, houve uma mobilização do seu grupo, dos garotos do seu grupo para irem à inauguração do Pacaembu?
R- Não, não, não.
Nós fomos porque era um acontecimento e nós íamos sempre.
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Mas não houve não, fomos alguns, não houve nenhum agrupamento.
Acabamos nos encontrando com alguns conhecidos, uns conhecidos lá e assistindo aquela inauguração maravilhosa e aquele fato do São Paulo que realmente ficou muito marcante, muito marcado na nossa vida, e também na vida do São Paulo.
P- Então como é que foi realmente este primeiro contato com o São Paulo Futebol Clube?
R- Isso foi também.
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Foi muito antes, foi muito antes.
Eu tinha chegado.
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Eu tinha chegado de Catanduva e a minha irmã que já morava aqui, namorava um primo, um dos nossos primos que eu não conhecia antes de vir pra São Paulo.
E ele era adepto do São Paulo.
Então num domingo que nós tínhamos, eu tinha ido a casa dele na Mooca.
Ele morava na Mooca, onde nós fomos morar mais tarde, ele resolveu ir assistir este jogo São Paulo e Vasco da Gama, Vasco da Gama do Rio de Janeiro e que tinha uma equipe sensacional, de jogadores famosíssimos.
Então nós saímos da Rua da Mooca e fomos ao Campo da Floresta, onde hoje é o Clube de Regatas Tietê, mais ou menos onde é o Clube de Regatas Tietê.
E eu assisti o primeiro jogo de futebol da minha vida e aí fiquei um torcedor ferrenho do São Paulo.
P- O senhor lembra o placar?
R- Lembro.
São Paulo ganhou de cinco a um.
Waldemar de Brito fez quase todos os gols ou todos.
Naquela ocasião São Paulo tinha Friedenreich, tinha alguns jogadores.
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P- E o Friedenreich, o senhor recorda alguma coisa dele?
R- Ah, eu vi jogar muitas vezes.
Eu vi o Friedenreich jogar muitas vezes, muitos jogos.
Daí.
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Porque daí pra frente, a partir desse dia, eu passei a ser um companheiro do meu cunhado.
Os jogos que ele ia, ele me levava.
Aí eu passei a acompanhar o São Paulo, inclusive íamos ao Rio de Janeiro, íamos assistir o São Paulo em outros locais também.
E daí pra frente eu assisti muitos jogos, e muitos jogos do São Paulo.
P- Qual o lugar mais longe que o senhor já foi vendo o São Paulo jogar?
R- Tóquio (risos).
P- Tóquio.
R- Tivemos em Tóquio no ano, em dezembro de 92 e em dezembro de 93.
Nós fomos assistir o bicampeonato.
P- Nessa época o senhor estudava em São Paulo, o senhor trabalhava nessa época?
R- Não, ainda não.
Eu estava terminando o grupo escolar, mas comecei a trabalhar já nessa, nessa.
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Logo após.
Logo após comecei a trabalhar.
P- E o senhor costumava ir assistir os treinos? Era durante a semana, era nos finais de semana?
R- Costumava.
Sim.
Eu sempre que tinha oportunidade, sempre que tinha tempo eu estava onde o São Paulo estivesse.
E mais tarde ainda nessa mesma época, aí eu já morava na Mooca, o São Paulo jogava no campo do Antarctica Paulista na Rua da Mooca.
Então estava muito, muito próximo da minha casa, de onde eu morava.
Aí então eu ia assistir aos jogos, assistia também os treinos.
P- O senhor poderia descrever pra gente como era este campo lá do Antarctica.
R- O Antarctica era um campo acanhado, com uma arquibancada pequena de um dos lados e seria assim.
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Hoje, hoje seria assim, um campo de um clube varzeano, provavelmente.
Seria assim, pouco recuado da rua, com a arquibancada.
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Com a parte de trás com as costas para a rua e um campo muito simpático, pequeno, mas muito bem tratado.
Onde jogou.
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Onde jogou antes o Clube Antarctica Paulista, porque daí a razão do nome, onde jogou o Estudantes Paulista e depois o São Paulo passou a jogar.
P- Qual foi o jogo mais bonito que o senhor viu nesse campo? O senhor lembra?
R- Nesse campo? O jogo que deixou.
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Mais realce nos deu foi o jogo São Paulo e Palestra.
Porque o Palestra era o grande, um dos grandes times da ocasião e o São Paulo era uma equipe poderosa.
Com a fusão do Estudantes o time ficou mais forte, e o São Paulo ganhou nesse dia de seis a zero.
Isso foi uma contagem, realmente pouco comum e acredito que o Palestra não deve ter perdido muitas vezes, talvez nenhuma de seis a zero.
E perdeu de um time que naquela época era pequeno, o São Paulo era um time pequeno, um clube pequeno, um time pequeno.
Esse jogo nos realmente.
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Até hoje ele destaca-se dentre os jogos que o São Paulo fez.
P- Nessa época já havia um grupo de torcida organizada? O senhor costumava ir aos jogos em grupo?
R- Não, nessa época não.
Não, a torcida, havia muita torcida, os torcedores costumavam assistir os jogos juntos, agrupados, dos mesmos.
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Dos mesmos clubes procuravam sempre se agrupar num determinado lugar.
Mas de torcida uniformizada, a primeira que surgiu no Brasil foi o Grêmio São-Paulino, Grêmio São-Paulino que foi organizado pelo Manoel Raymundo Paes de Almeida, são-paulino extraordinário.
Ainda hoje extraordinário.
Esse.
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Essa primeira torcida uniformizada, eu fazia parte dela com o Manoel Raymundo e outros companheiros.
Outros companheiros, que naquela ocasião eu era talvez um dos mais jovens componentes dessa torcida.
P- O Grêmio São-Paulino e a TUSP são a mesma coisa?
R- Não, não.
O Grêmio São-Paulino era uma torcida que tinha outra forma de
torcer, né? Não era uma torcida assim tão violenta, ou tão empenhada como hoje.
Era uma torcida que gritava muito, naquela ocasião se usava megafones pra falar, pra dizer alguma coisa.
E tinha um dos nossos companheiros da torcida uniformizada, o João Inhaia que.
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Isso foi uma tradição: ele com o megafone fazia a chamada dos jogadores, desde o goleiro até o ponta-esquerda.
E a cada nome que ele proferia todos nós gritávamos, como eles fazem hoje, mas ele criou o estilo, né?
P- Gritavam o quê?
R- É, ele gritava, ele citava o nome dos jogadores, por exemplo: “King”, nós de lá: “Há!”.
Depois “Agostinho”, “Há!”.
Assim, até os onze jogadores.
Era uma saudação que se fazia aos jogadores naquela ocasião.
P- Vocês levavam bandeiras, levavam algum tipo.
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R- Não, nessa época nós só tínhamos a camisa do Grêmio, né? Era uma camisa branca com a inscrição "Grêmio São-Paulino" e o distintivo do São Paulo.
Mais tarde, quando nós já não fazíamos parte da torcida, continuou a Torcida Uniformizada do São Paulo, já com outras características.
Sim, essa torcida fazia alegorias, fazia desenhos muito bonitos, como nós vimos não faz muito tempo nas Olimpíadas de Moscou, já naquela época a torcida fazia.
Hoje não.
Mas naquela ocasião fazia, fazia bandeira do São Paulo, bandeira brasileira, algumas figuras.
P- Então, quer dizer que o Grêmio é anterior à TUSP, e ele é a primeira torcida uniformizada.
R- É com bastante anterioridade.
P- Qual é a data?
R- Em 1939 já tinha o Grêmio São-Paulino.
P- E quem era o responsável, por exemplo, pelas camisas, quem guardava, quem fazia, quem mandava fazer? Tinha alguém.
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Uma pessoa só centralizava?
R- Olha, tudo.
O Manoel Raymundo extraordinariamente que, ele cuidava de tudo ou mandava alguém cuidar, mas toda a responsabilidade era dele.
Quando nós chegávamos.
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Nós não levávamos a camisa para casa.
Nós quando chegávamos, vestíamos a camisa na arquibancada.
P- Naquela época vocês eram quantos? O senhor tem como avaliar isso?
R- Devia ser uns quarenta.
Era uma grande torcida uniformizada porque não tinha outra.
P- E, quer dizer, o senhor começou a frequentar o campo então muito cedo.
Mas qual foi o primeiro título que o senhor assistiu que o São Paulo conquistou?
R- Eu não assisti o primeiro título que o São Paulo conquistou, o São Paulo anterior a este, o São Paulo da Floresta, que foi campeão em 1931.
O primeiro título que este São Paulo, atual São Paulo, que é o mesmo, é uma continuação do anterior, foi em 1943 no Pacaembu num jogo aí já com o Palmeiras, que já tinha alterado a denominação e que terminou zero a zero.
Essa.
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Esse foi o primeiro título que o São Paulo ganhou e eu estava lá.
P- O São Paulo só precisava do empate?
R- Nessa ocasião só precisava do empate.
P- E já tinha Leônidas.
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R- O São Paulo já tinha Leônidas.
Leônidas veio para o São Paulo creio que, se não estou mal lembrado, creio que em 1942.
O São Paulo tinha um grande time nessa ocasião, tanto que ganhou o campeonato em 43 quando se denominou que a "moeda caiu de pé".
Vocês devem conhecer essa história, né? “A moeda caiu de pé".
Nós recentemente tivemos no São Paulo a comemoração dos cinquenta anos deste título e o símbolo da festa foi a "moeda que caiu de pé".
Mas aí depois São Paulo conquistou títulos em 45, 46, 48 e daí pra frente São Paulo foi armazenando conquistas.
Foi bicampeão.
Olha, nesse mesmo ano na década de 40 o São Paulo, além de 43, foi bicampeão duas vezes.
P- Quer dizer, foram em dez anos que o São Paulo ganhou cinco títulos.
R- Ganhou cinco títulos.
P- Como foi essa coisa? O São Paulo realmente dominava o futebol paulista na década de 40?
R- Os times eram muito fortes naquela ocasião.
Não havia assim uma predominância de uma equipe, a disputa era muito forte.
E veja que daí pra frente os campeonatos passaram a ser mais ou menos bem divididos.
Ganhava um clube um ano, outro o outro, o bicampeonato, iam se revezando, se intercalando.
O futebol era muito bonito.
Os jogadores eram.
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Eram como hoje, eram também muito habilidosos, e a torcida naquela ocasião era muito fanática, muito empenhada, era muito dividida, cada clube tinha, tinha como hoje seus torcedores bem, bem definidos.
E o São Paulo ganhou esses campeonatos e até quando começou a construção do Morumbi, aí ele se dedicou a construir o cenário para os espetáculos que vieram depois.
Terminado o Morumbi, o São Paulo retomou novamente a conquista de campeonatos e realmente não parou, continua sempre ganhando.
P- Em relação à torcida na década de 40, o senhor pode me traçar um perfil dos torcedores são-paulinos? Haviam mulheres na torcida?
R- Sim.
P- Jovens?
R- Não, na torcida não.
Na torcida não tinha mulheres, mas se virem alguma fotografia da época vai verificar que em volta da torcida, não dentro da torcida, mas nos lugares próximos a presença de muitas mulheres.
E era comum, não era muito difícil que um componente da torcida tivesse a namorada esperando ali, assistindo o jogo muito próximo.
P- Fora da torcida, né?
R- Fora da torcida.
P- Como é que era o perfil dos torcedores? Eles eram jovens, eram trabalhadores, eram estudantes?
R- Não, nessa época, nessa época a torcida era composta de mais estudantes.
Mais estudantes e evidentemente trabalhadores, mas é evidente que todos trabalham né? Mas tinha muitos estudantes na torcida, na torcida uniformizada.
P- Quer dizer, nos anos 50 o São Paulo ganhou dois títulos importantes também: 53 e 57.
R- Cinquenta e sete.
P- O senhor estava lá também?
R- Também estava.
P- Como é que foi isso? O senhor se recorda alguma coisa de 53?
R- É difícil recordar alguma coisa específica, dada a quantidade de títulos, de jogos que nós acompanhamos.
Se lembra.
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Alguma coisa se destaca, alguma lembrança, mas a rigor não se lembra exatamente, salvo quando o jogo termina e é aquela alegria infinda de ter sido campeão.
P- Mas a comemoração.
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Por exemplo, atualmente o são-paulino comemora muito na Paulista, ficou uma coisa muito tradicional, né? Todo ano o são-paulino está na Paulista comemorando título.
Quer dizer, na década de 40, 50 pra onde se ia depois da vitória.
R- Na.
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No ano de 43, os torcedores, como eu disse agora há pouco, se agrupavam, se ajuntavam mesmo não conhecendo.
A torcida tinha o hábito de ir se formando um grupo compacto.
Quando ganhamos o campeonato em 1943, que foi importantíssimo para o torcedor, para nós torcedores, porque nós tínhamos visto outro, né, e a rivalidade era muito grande.
Terminado o jogo depois das festividades, da alegria dentro do campo, nós saímos pela Avenida Pacaembu em direção à General Olímpio da Silveira, Praça Marechal Deodoro, Avenida São João e nos concentrávamos no Largo do Paissandu.
Tinha um bar chamado Juca Pato, e outro evidentemente, o Ponto Chic.
Então ali fazíamos as grandes comemorações da nossa alegria pelo campeonato, pelas vitórias, ou senão íamos chorar as derrotas.
P- E por acaso os jogadores iam às vezes nessas comemorações?
R- Não, não iam não.
Era comemoração de torcedor mesmo.
Torcedor, diretores do São Paulo, mas os jogadores não, não iam.
P- A gente poderia dar uma parada só um segundinho pra ajeitar aqui.
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P- Nessa época o senhor jogava futebol?
R- Ah, sim.
Jogava na várzea, jogava.
E teve uma época que eu também jogava nos times inferiores do São Paulo, mas futebol eu joguei muitos dos anos seguintes.
Desde, desde então.
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Desde 1935, 36 até onde pude.
E foram muitos anos, foram muitos anos.
Eu joguei futebol em muitos clubes varzeanos em quase toda a cidade de São Paulo e joguei creio que até 1950, até o final da década de 50 constantemente e daí pra frente já não com muita regularidade.
P- Mas era um "hobby", era por prazer ou o senhor depois entrou no futebol no time juvenil?
R- Era um prazer, e naquela época era a grande diversão da juventude de São Paulo.
Então nós jogávamos sábado de tarde, domingo de manhã, domingo de tarde em clubes diferentes, né? Em um sábado num clube, domingo de manhã em outro, domingo à tarde em outro.
A bola era a grande atração, não só minha, mas como de muitos companheiros.
P- O senhor tinha uma posição mais fixa que o senhor jogava?
R- Eu era ponta-direita.
P- Ponta-direita?
R- É.
Ponta-direita.
Joguei, joguei muitos anos na ponta-direita.
Na várzea joguei em alguns times muito importantes, famosos na ponta-direita.
P- E os pontas agora estão sumindo.
R- É porque eles têm.
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O jogo é diferente, a tática é diferente.
E o ponta, ou os pontas, ou um ou outro, ou às vezes os dois, são quase mais médios marcadores do que o ponta daquela época.
A obrigação do ponta daquela época era levar a bola até a linha de fundo e fazer a jogada pro seu companheiro.
Os grandes artilheiros eram os centroavantes, e os grandes preparadores de jogadas eram os pontas, ou ponta-direita, ou ponta-esquerda, principalmente.
Era essa a característica.
P- Quem eram os jogadores do São Paulo, pontas, que o senhor mais admirou?
R- Ah, muitos, muitos, quantos jogadores! Um deles que eu vi jogar ainda menino foi Luizinho.
Luizinho Mesquita de Oliveira, infelizmente o perdemos há pouco tempo, mas o Luizinho foi um ponta-direita no São Paulo extraordinário! E ponta-esquerda entre outros, nem famoso, um artista: o Canhoteiro.
O Canhoteiro foi um mágico da bola, um jogador que realmente encantava vê-lo jogar.
O São Paulo realmente teve muitos pontas, extraordinários pontas.
P- Mas como era o grupo que o senhor jogava? Com quem o senhor jogava?
R- O grupo era muito diferente porque jogávamos no sábado num bairro com um time.
No domingo de manhã noutro bairro com outro time, outros companheiros e no domingo à tarde noutro bairro com outra turma.
Eu, eu me dedicava, me dedicava.
Eu tinha clubes, eu jogava aqui no bairro de Santa Cecília, eu jogava na Lapa e jogava na Casa Verde, mas o que eu tinha era um grupo ou alguns companheiros desses bairros, destes times, né? Ou formava às vezes equipes pra vê-los jogar, daqueles jogadores que eram mais habilidosos para jogar no interior.
Fazer jogos, jogos contra equipes do interior.
Mas essa era a.
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Não tinha uma característica importante.
Naquela ocasião nós tínhamos alguns companheiros, alguns jogadores, agora me lembro do SPR, que era um clube, hoje Nacional.
E eu joguei algum tempo no Nacional, SPR.
Então tinha o grupo do SPR, não tinha um lugar.
É como alguém que frequenta um bairro, frequenta o Bixiga, frequenta a Lapa e frequenta Santana.
É mais ou menos essa a característica.
P- Mas nem todos eram torcedores do São Paulo?
R- Não, nem todos eram torcedores.
Naquela época o São Paulo ainda era.
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Estava iniciando, evidentemente que as torcidas maiores pendiam para o Palestra, antes de mudar de nome, hoje Palmeiras e Corinthians, né? Eram, eram as duas grandes torcidas.
P- Mas quer dizer, eles implicavam com o pessoal do São Paulo, faziam alguma brincadeira.
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R- Como hoje não, como hoje não.
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Lógico que as torcidas sempre, sempre se digladiaram, mas naquele calor da torcida no campo de futebol havia algumas rusgas sim, mas não eram tão violentas como hoje.
P- Mas o quê que se falava, por exemplo, do são-paulino? A outra torcida, como é que.
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R- O São Paulo sempre foi conhecido como um clube, assim, de elite, né? Era o pó de arroz, né? Era isso, nós éramos o pó de arroz.
P- No estádio, por exemplo, era comum o grito de guerra, mas no passado também se cantava o hino do clube? Trechos do hino do clube durante os jogos?
R- Não, não tinha ainda.
A torcida não tinha o hábito, nós não tínhamos gritos de guerra característicos.
O São Paulo tem famosos gritos de guerra, que por sinal não se usa hoje mais.
O “Arakan Balan Bacan”, que era.
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Que foi famoso, o “Uáique Páique-Cháique Uáique”.
Esses gritos de guerra.
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A torcida então ficava todo o tempo torcendo, gritando.
Não, não tinha ainda o costume de cantar.
Ainda não existia o hino realmente.
P- E o senhor se lembra da época que o hino surgiu?
R- O hino do São Paulo surgiu há muitos anos.
Ele é de autoria do General Porfírio da Paz, então na época pra nós ele era tenente, depois foi, depois ele foi subindo.
Então já existia o hino sim, o que não se tinha era o hábito então, o costume de cantá-lo.
Mas depois se foi adotando nas festas, nas comemorações fora dos jogos de futebol até que acabou o hino sendo uma das partes da atividade da torcida.
P- E senhor Carlos, como é que o senhor entrou assim na vida do clube São Paulo?
R- É uma naturalidade.
Se.
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Se começa participando dos acontecimentos, conhecendo pessoas, acaba por.
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Assumindo alguma obrigação, fazendo.
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Enfim, algo para o clube.
E se.
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Junta os amigos, acabam.
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Os companheiros acabam formando.
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Aglutinando.
Eu não me lembro exatamente de quando ingressei no São Paulo porque nunca estive fora dele, de maneira que sempre, sempre ou.
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Ou popularmente, ou acintosamente, ou anonimamente sempre estivemos.
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Como os outros também, quantos, quantos torcedores do São Paulo, adeptos do São Paulo fizeram alguma coisa, ajudaram muito sem terem deixado o seu nome assim resplandecendo.
Mas desde que.
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Desde que em 1937, quando o São Paulo ia entrar no campo da Antarctica que nós íamos correndo pra ajudar a carregar o saco de camisas com o Serroni, entende? Quer dizer, são essas coisas.
Não se consegue mais separar as coisas.
Normalmente no São Paulo, porque o São Paulo é.
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É evidente que torcedores de outros clubes.
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Mas pra nós o São Paulo é uma paixão então seguimos, né? Eu tive, eu tive outra.
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Uma outra peculiaridade porque eu tive alguns amigos, alguns amigos.
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Passei a ser amigo de alguns dirigentes do São Paulo de então.
Eu era garoto e os acompanhava, talvez por eu ir acompanhando eu acabei me introduzindo, me entrosando, e estava sempre perto e como eu disse nunca mais saí de perto.
P- E o senhor teve cargos eletivos no São Paulo, alguma função.
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R- Eu fui.
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Eu fui Diretor do São Paulo no ano de 1964 quando Laudo Natel era presidente, Manoel Raymundo era vice-presidente, Doutor Piragibe o outro vice-presidente.
Estava o Henri Aidar que mais tarde veio a ser presidente do São Paulo.
O Jaime Macedo Soares, Diretor de Futebol, o Arnaldo Ruic, o Homero Bellintani, que foi o são-paulino que deixou uma trajetória brilhante, saudosa trajetória, Marcel Klaczko.
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Eram os diretores desta época.
Então eu fui diretor nessa.
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Nesse período, mas já era membro do Conselho Deliberativo e.
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P- O senhor era de algum departamento?
R- Eu era diretor-secretário, era diretor segundo secretário, o primeiro secretário era o Almir Rafael Pierolique.
E já membro do Conselho Deliberativo e participando das reuniões, todas as reuniões, mais tarde membro vitalício do Conselho Deliberativo.
Mais tarde membro do Conselho Consultivo, depois presidente do Conselho Consultivo.
E esta é a trajetória no São Paulo somando, somando todo o tempo.
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P- E a vida particular.
O senhor estudou, fez universidade?
R- Sim, eu fiz.
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Sou administrador de empresas, né? Começando os estudos nos bancos escolares de Catanduva até terminar aqui.
Mas o trabalho foi realmente, foi realmente o que me absorveu mais tempo porque comecei a trabalhar muito, muito, muito jovem.
Eu devo ter começado no meu primeiro emprego por volta de.
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Eu devia ter doze ou treze anos.
P- Qual foi o seu primeiro emprego?
R- O primeiro emprego office-boy.
Office-boy até ser.
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Antes da empresa Viana, que eu já mencionei, depois entrei.
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Entrei também na, na.
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Numa empresa como office-boy e depois fui galgando as posições e vinha.
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Quando eu me aposentei era um dos diretores da empresa.
P- E o senhor é casado?
R- Casado.
Sou casado sim.
P- O senhor casou em que ano?
R- 1946.
P- Como é que é o nome da sua esposa?
R- Alda, Alda.
P- Ela torce pro São Paulo também?
R- Torce, torce.
Creio que se não mais, tanto.
P- É coincidência ou influência?
R- Deve ter havido influência sim, né? Sempre há influência.
P- Mas ela acompanhava o senhor aos jogos?
R- Sim, acompanha.
Ainda acompanha.
Quando o São Paulo joga no Morumbi ela vai.
Quando eu não quero ir, ela quer ir, então nós vamos.
P- O senhor até hoje vai aos jogos?
R- Vou.
P- Sempre?
R- Sempre.
Não, não deixei de ir assistir os jogos do São Paulo.
Em nenhuma época mesmo quando eu já não participava da equipe de dirigentes do São Paulo.
Eu sempre assisti aos jogos.
Eu vi o São Paulo jogar em muitos lugares do Brasil, mesmo fora do Brasil.
Mas eu gosto de ver o São Paulo jogar.
Hoje já.
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Antigamente não admitia com muita clareza as derrotas, hoje até que eu aceito, depois de tantas vitórias também eu tinha que fazer alguma compensação.
P- E esse período das derrotas, os treze anos sem títulos como é que era ir ao campo?
R- Íamos ao campo, íamos torcer, a nossa equipe era uma equipe fraca porque realmente não tinha condições de montar uma grande equipe.
Porque não se podiam fazer duas coisas ao mesmo tempo: ganhar campeonatos e construir o Morumbi.
Construir essa maravilha para nós que aí está.
E o nosso presidente de então, o Laudo Natel, ele estabeleceu uma política de que o objetivo era construir o Morumbi.
Então, depois do Morumbi construído, então nós iríamos passar ganhar os campeonatos como ele dizia.
Ou seja, vamos construir o cenário, e depois os artistas se desempenham.
E realmente foi como ele preconizou.
E a torcida suportou bem, a torcida realmente aceitou porque era uma torcida nossa.
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É muito importante levar isso em conta porque nós éramos uma torcida antiga, né? Nós já tínhamos ganhado muitos campeonatos, nos anos de 43, depois 45,46, depois 48, 49, 53, 57, então nós.
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Se nós estivéssemos na expectativa, ou de muitos anos sem ganhar campeonatos talvez houvesse alguma tristeza da torcida.
Mas não houve não.
Nós, nós não conseguimos vencer os campeonatos, não tínhamos times que jogavam bem, mas tínhamos também o panorama de ver o Morumbi ir crescendo.
A cada dia, a cada mês ele ia aumentando.
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P- O senhor participou da comissão pró-estádio?
R- Eu participei de uma das comissões de obras do São Paulo quando era diretor, quando era membro da diretoria do São Paulo.
E realmente foi uma, uma época.
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Aqueles homens que se dedicaram à construção do Morumbi, um trabalho muito importante, eles realmente trabalharam muito.
Foi uma equipe maravilhosa.
P- O senhor tinha algum jogador que o senhor considerava seu ídolo? O senhor teve isso ou quando menino ainda.
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R- Não, não um jogador.
Eu gostava de ver jogadores, ver jogadores, bons jogadores e lógico a atração era aquele jogador que mais, mais você tinha contato.
Que a gente conversava mais.
Então esse jogador era o que atraía a atenção.
Mas de preferir este ou aquele, não, eu preferia o jogador que era o melhor.
O que eu entendia que era bom.
P- Mas o senhor tinha.
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Tinha uma relação assim com os jogadores de conversar, depois dos jogos nos campos?
R- Ah, isso sim.
Isso era, era uma coisa muito importante pra mim naquela ocasião como é para um garoto hoje, para um torcedor de hoje.
O torcedor, os meninos, e nós vimos lá no Morumbi, eles ficam até perplexos quando veem um jogador.
Eles ficam felizes, é o suprassumo, quando veem um jogador.
E pra.
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Conosco era a mesma coisa não era diferente.
P- Tem algum jogador que tenha lhe marcado? De o senhor lembrar assim de.
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R- Olha, naquela época o São Paulo, vamos dizer, no ano.
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Depois de 1943 que nós temos uma linha, uma linha atacante: Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal.
O jogador que se destacava pra mim naquela ocasião era o Sastre.
Um jogador argentino já naquela época com alguma idade, e era um jogador extraordinário.
Então o Sastre realmente.
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Eu gostava de ver o Sastre jogar.
Como eu gostava de ver o Leônidas, gostava de ver.
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Mas era pela habilidade dele, era um jogador muito, muito eficiente.
Eu me lembro num jogo São Paulo e Portuguesa Santista no campo do Juventus na Rua Javari, o São Paulo tinha aquilo que nós chamamos uma máquina de jogar futebol: o esquadrão de aço.
O Sastre fez seis gols num jogo só.
Isso marca, entende? Eu me lembro disso, mas me lembro de também que o São Paulo teve muitos jogadores que eu apreciei muito, pela eficiência, pelo cavalheirismo, pela maneira, seu desempenho em campo.
Mas o Sastre então me despertou a atenção assim.
P- Senhor Carlos, o São Paulo foi um time que, dentre os times brasileiros, que mais se deu bem com jogadores estrangeiros.
Por várias décadas aí a gente vê: Darío Pereyra, Forlán, Pedro Rocha, Poy.
Tem alguma.
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Algum porquê ou isso é mera coincidência?
R- Não, talvez seja pela habilidade dos diretores de então de escolher um jogador certo pra posição certa.
Isto é muito importante, não é o bom jogador, às vezes ele não se adapta bem no time que ele vai jogar.
Mas o São Paulo sempre teve, realmente você disse bem, alguns jogadores estrangeiros que se destacaram muito.
Fizeram muito pelo São Paulo e curiosamente quase todos eles tornaram-se são-paulinos, resolveram ser são-paulinos.
P- O Poy é um exemplo claríssimo.
R- O Poy é um exemplo.
O Poy é sem dúvida.
Eu me lembro bem, agora você destacou, quando o Poy.
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O Poy treinou no São Paulo pela primeira vez eu estava assistindo o treino.
Eu praticava um pouco de atletismo lá no Canindé junto com os atletas de então: Ruth Alves de Abreu, Ette Alves de Abreu, Edmundo, e nós estávamos correndo pela pista ou jogando futebol.
Porque nós jogávamos futebol, os associados, jogávamos futebol no próprio campo onde se treinava os jogadores e o Poy foi treinar.
E no primeiro treino dele eu estava lá assistindo.
É muito meu amigo, o Poy.
P- E quais eram os comentários na ocasião da chegada do Poy?
R- O São Paulo tinha naquela ocasião um goleiro, o Mário e quando vem um outro jogador dá impressão que este vai deslocar, né? Aqueles que tinham sua preferência e até os companheiros de time sempre fazem um pouco de reserva.
Mas o Poy com a habilidade dele, porque ele era extremamente simpático, muito afável, ele acabou conquistando todos.
P- O senhor falou em ser associado do São Paulo.
Lembra a época que se associou?
R- Eu? Exatamente não, deve ter sido no ano de 1936, 37.
Houve um recadastramento no São Paulo de sócios porque houve uma época em que se perderam os registros, até um determinado número todos os sócios hoje têm como data de ingresso no São Paulo, agosto de 39.
Eu sou um deles, mas mesmo aqueles que entraram em 38, 37 ou 36, todos eles têm a mesma data: oito de agosto de 1939.
Foi a data padrão, o parâmetro para todos os sócios.
Então o sócio número dois ou três, ou Geraldo de Almeida que é o sócio dois, número dois, ele também é de agosto de 39 para efeito de cadastramento.
Mas nós somos mais ou menos da época, quase da mesma época.
Eu me lembro de ter ingressado no São Paulo por volta, por volta dessa.
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Era garoto ainda, menino.
P- Mas vocês tinham carteirinha desse outro São Paulo?
R- Tinha sim, tínhamos.
Uma carteirinha de capa marrom.
Hoje quem tem essa carteirinha, tem uma relíquia, mostra com muita.
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Muito orgulho de ter uma carteirinha daquela época, né?
P- O senhor tem algum documento, algum distintivo, alguma flâmula dessa época?
R- Não, eu não tenho.
P- Do começo de torcedor?
R- Não.
O que eu tenho do São Paulo é uma fotografia da torcida uniformizada, do Grêmio São-Paulino, primeira torcida organizada.
E acredito que seja a única fotografia que existe daquela época.
P- Qual é a história.
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Qual é o jogo?
R- Ah, essa fotografia foi tirada no jogo São Paulo e Corinthians, que o São Paulo ganhou de quatro a dois, deve ter sido.
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Não me lembro exatamente, mas deve ter sido por volta do ano de 1940.
Deve ter sido por volta do ano de 40, 39.
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Quarenta.
A fotografia deve.
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Deve ser uma das, das poucas fotografias que existam da torcida uniformizada dessa época.
P- E o senhor estava nesse jogo?
R- Estava nesse jogo.
Estou, estou.
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P- Ah, estava na fotografia?
R- Estou na fotografia.
Eu me lembro, eu estava na fotografia ao lado do Paulinho Machado de Carvalho e o Manoel Raymundo também aparece na fotografia.
P- Quem foi que fez o registro fotográfico? O senhor sabe quem foi?
R- Deve ter sido algum fotógrafo de jornal, não me lembro exatamente.
Naquela ocasião não tinha como hoje os fotógrafos que vão ao campo para determinadas missões.
Naquela ocasião ele deve ter tirado a fotografia da torcida uniformizada acidentalmente, não porque viu uma.
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Um “V da Vitória” com as cores da bandeira brasileira.
Ele deve ter chamado a atenção e registrou o fato e por sorte nossa, porque senão não teríamos também esse registro.
P- O senhor tem então uma relíquia, né?
R- Tenho.
P- O senhor citou o Paulo Machado de Carvalho.
Em 58 quando ele coordenou junto com outros são-paulinos aí a comissão técnica da seleção brasileira que jogou na Suécia.
O senhor chegou a ver a Copa do Mundo?
R- Cheguei, cheguei.
P- Na Suécia?
R- Mas esse Paulo Machado de Carvalho que você citou é o pai do Paulinho Machado de Carvalho Filho.
Porque o membro da torcida uniformizada era o Paulo Machado de Carvalho Filho.
P- Bem, vamos à Suécia.
R- Eu assisti sim.
Eu assisti, assisti o.
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Quer dizer eu ouvi os jogos todos porque ainda não eram transmitidos ainda, não existia televisão.
Acompanhamos com fervor, nós somos também torcedores da seleção brasileira, acompanhamos realmente.
Foi uma glória, foi uma glória!
R- Como é que vocês assistiam a esses jogos? O senhor se lembra?
R- Olha, no ano de 1958 aconteceu uma coisa curiosa.
O desejo de vitória dominava o Brasil inteiro, até as pessoas que nunca tinham ouvido falar, ou raramente ouviam futebol se deixaram dominar.
Então era comum que as empresas daquela época dispensassem os empregados para irem ouvir os jogos.
E eu estava nesse caso.
Então eu ia correndo pra casa ou em algum local onde pudesse ouvir a transmissão.
P- Se não fosse em casa, era aonde que as pessoas se reuniam para ouvir os jogos?
R- Na rua, né? Em algum lugar que tivesse um alto-falante, um rádio.
Então formava um grupo ouvindo.
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Eu me lembro que na Praça do Patriarca tinha, na Xavier de Toledo também tinha, na Praça do Correio.
Então nós.
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Mas como os meios de locomoção naquela ocasião, a distância entre os pontos eram bem menores dava tempo de sair.
Eu morava no Largo do Arouche de maneira que eu saía de onde eu trabalhava na Rua Florêncio de Abreu e ia correndo ainda assistir, ouvir o jogo.
P- Mas o senhor já assistiu ao vivo alguma Copa do Mundo?
R- Não, não assisti.
P- Nem a de 50?
R- Nem a de 50.
Não foi.
Assisti jogos, sim.
Eu assisti, por exemplo, o jogo Brasil e Suíça no Pacaembu.
Nesse campeonato, né? No campeonato de 54, aquele que nós.
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Cinquenta, né? Não ganhamos.
Eu assisti 50, assisti jogos sim.
Agora ter saído do Brasil para assistir uma Copa não.
Assisti jogos do campeonato do mundo no Brasil sim, alguns eu assisti sim.
P- Mas o São Paulo o senhor já viu jogando fora do Brasil?
R- Ah, sim.
Já vi São Paulo jogar na Argentina, no Chile, no Japão.
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P- Eu queria que o senhor contasse um pouquinho pra gente sobre o primeiro mundial.
Como é que foi essa experiência? A viagem, o jogo.
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R- Em Tóquio?
P- É.
R- Bem foi uma, foi uma epopeia pra nós.
Uma viagem, uma expectativa muito grande, uma ansiedade muito grande, uma viagem muito demorada.
Nós gastávamos de Cumbica até, até o aeroporto de Narita em Tóquio, vinte e sete horas.
Só com escala em Los Angeles.
P- Nós quem?
R- Eu fui com a delegação do São Paulo.
E assistimos.
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Acompanhamos lá os treinamentos.
O São Paulo treinava no campo do.
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De uma empresa Tóquio Gás, nós todos os dias de manhã íamos aos treinamentos, passávamos o dia todo lá, assistindo o treinamento.
Os jogadores faziam dois períodos de treinamento, depois voltávamos no ônibus com os jogadores para o hotel.
E no dia seguinte mesmo ritual.
Participávamos de algumas solenidades, algumas cerimônias, e alguns jantares, alguns encontros sociais e esportivos, que convidados.
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A delegação do São Paulo era convidada por dirigentes, por diretoria de outros grupos japoneses.
E afinal no dia do jogo fomos todos cedo para o estádio.
O jogo era meio-dia e fomos todos aflitos, esperançosos e quando terminou o jogo foi uma.
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No primeiro campeonato foi uma loucura para nós.
E a noite nesse dia tivemos.
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O embaixador do Brasil ofereceu uma recepção.
Já tinha convidado a delegação do São Paulo, e torcedores e jogadores pra uma feijoada na embaixada.
Chama-se feijoada.
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Domingo às onze horas da noite, né? Não é bem.
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P- Mesmo que o São Paulo não ganhasse?
R- Mesmo que o São Paulo não ganhasse o convite estava feito.
Mas a esperança é tão grande que já tinha sido feito.
E ficamos comemorando na embaixada até.
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Até não, quase de madrugada, mas até quase madrugada.
Foi extraordinário.
Foi uma das coisas mais, mais gostosas, alegres que eu participei como são-paulino, os companheiros também, todos.
Todos nós estávamos realmente, extremamente felizes.
P- Quando o Raí foi bater a falta que resultou no gol, o senhor já intuía que ia sair um gol dali?
R- Não.
Não, nós tínhamos tomado o primeiro gol, depois o Raí empatou.
Mas quando tomamos o primeiro gol realmente a preocupação, a tensão era grande.
Mas quando o Raí ia bater a falta realmente não.
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Realmente era uma jogada que a gente não podia, não podia ter prevista a habilidade que ele teve, da forma como ele fez aquela falta, né? Quando marcou o gol foi.
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Realmente foi a torcida do São Paulo, e tinham muitos no primeiro jogo em Tóquio, nós devíamos ter mais de mil torcedores que foram daqui.
E a torcida japonesa, os japoneses que são tranquilos para assistir jogos de futebol, não são tão alvoroçados como nós somos, eles ficaram primeiro admirados da forma como a torcida do São Paulo se desempenhava.
Os gritos, os cantos, eles estavam olhando admirados pela forma.
E depois do jogo quando o São Paulo ganhou, ocorreu uma coisa no Japão deve ter sido inédita.
Porque no campo de futebol, no gramado propriamente dito não entra ninguém, nem jornalistas, todos ficam numa linha demarcada e porque tem uma pista, a distância entre a arquibancada e o gramado é bastante grande.
Mas que tem espaço muito grande para que todos se, se acomodem.
E nesse dia depois do jogo a torcida do São Paulo invadiu o campo.
Isto foi inusitado, né? Evidentemente que se pudesse ter impedido teria, mas era tanta gente que não, não foi possível.
E foi o segundo espetáculo, o primeiro foi o jogo, o segundo foi a alegria da torcida.
Foi extraordinário! A torcida extravasou de uma maneira bastante correta, não houve nenhum excesso, mas fizeram no campo do Estádio Nacional de Tóquio um espetáculo para a torcida japonesa.
P- E os dirigentes também?
R- Não, não porque o.
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Nós estávamos assistindo o jogo nesse dia, como também no dia seguinte no box real, ou seja, na cabine real, né? E nessa cabine, na cabine que estava o São Paulo, não é propriamente uma cabine é um lugar demarcado já, estavam duas princesas do Japão, uma delas com o seu marido.
Então nós tínhamos que ter um comportamento (risos) digno de uma princesa.
P- Hoje em dia qual o seu elo com o São Paulo? O senhor continua assistindo jogos? É ainda membro do Conselho do São Paulo Futebol Clube?
R- Eu sou membro, eu sou membro, eu sou conselheiro vitalício e sou membro nato do Conselho Consultivo pelo fato de ter desempenhado o mandato de presidente durante cinco anos.
E vou estar ligado ao Conselho Deliberativo e ao Conselho Consultivo.
Vou participar de todas as reuniões como faço religiosamente, rigorosamente, todas elas, em todas elas estarei presente.
P- Como o senhor avalia o que a gente chama hoje de "Era Telê"?
R- É uma.
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É um marco na história do São Paulo.
Nós tivemos alguns treinadores extraordinários que fizeram.
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Que se destacaram bastante.
Freitas Roliche foi um deles que trouxe uma disciplina, trouxe uma forma diferente, mas o Telê foi extraordinário.
O Telê.
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O Telê está fazendo no São Paulo o que realmente ele.
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O que nós todos gostaríamos que ele fizesse.
E com toda, com todo apoio da direção, da Diretoria de Futebol, e o que ele está fazendo está dando certo.
E o que dá certo não se pode modificar.
E ele tem conquistado títulos, tem feitos jogadores, tem promovido jovens.
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Eu creio que o Telê encontrou no São Paulo também um campo para que ele pudesse aplicar as coisas que ele gostaria de fazer.
Ele, realmente, tem no São Paulo uma estrutura que permitiu que ele viesse a ser.
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Foi um jogador consagrado, foi um treinador consagrado, mas no São Paulo ele atingiu o ápice da glória.
Glória para ele e glória para nós.
P- A gente encerrando, eu gostaria de fazer uma pergunta que a gente faz para todo dirigente.
Como é que o senhor hoje escalaria um time do São Paulo de todos os tempos? De todos os jogadores que o senhor já viu, ou viu.
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R- Olha, eu, eu.
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O São Paulo teve jogadores extraordinários, goleiros extraordinários, zagueiros extraordinários, médios extraordinários, atacantes extraordinários.
Seria difícil.
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Se nós fôssemos, se nós fôssemos escolher o melhor time do São Paulo de todos os tempos não seria o melhor time, mas os melhores times.
Quem assistiu o Leônidas jogar não vai esquecer, jamais.
E nós que acompanhamos o futebol muito tempo, e eu já tenho no São Paulo mais de cinquenta anos, chega a ser mais de meio século.
Então vi.
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Vi jogadores que realmente foram brilhantes, Luizinho como ponta-direita, mas como time de futebol, como conjunto, e isto é muito importante.
A equipe que o São Paulo tinha quando conquistou o primeiro Campeonato Mundial Interclubes era uma equipe extraordinária.
Embora nem todos os jogadores não fossem o melhor de cada posição.
Mas eu escolheria como o melhor time do São Paulo, esse que conquistou que conquistou o primeiro campeonato, como escolheria também o time que ganhou o primeiro campeonato paulista, aquele de 43 que era uma máquina de jogar futebol.
P- O senhor viu o Leônidas fazendo bicicleta?
R- Vi.
Vi o Leônidas num jogo no Pacaembu que o São Paulo perdeu pro Palmeiras por dois a um, o Leônidas marcou o gol do São Paulo de bicicleta.
P- Como é que era?
R- Ah, é uma jogada, é uma jogada que a gente.
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Não dá pra descrever.
Porque muitos jogadores dão bicicleta.
Ainda domingo no jogo do Santos houve uma jogada de bicicleta.
Só que as do Leônidas eram mortíferas, ele dava a bicicleta e marcava o gol.
Era um jogador saltar mais de um metro, ficar numa posição horizontal e conseguir pegar a bola no instante que ela está passando, porque esse é o ponto.
Ele não prepara a bola, ele tem que estar milimetricamente de acordo com a velocidade da bola e fazer a bicicleta.
O Leônidas foi extraordinário.
Essa jogada dele era realmente um encanto.
Valia a pena ir ao jogo e ver o Leônidas fazer uma jogada de bicicleta.
P- O senhor gostaria de deixar algum recado especial pros torcedores do São Paulo?
R- Não.
O torcedor do São Paulo hoje é um torcedor digamos feliz.
Nós torcedores do São Paulo somos felizes.
Nós passamos agora esses últimos dois anos, ou três com conquistas que realmente engrandeceram ao São Paulo e fizeram com que os seus torcedores ficassem muito felizes.
Torcedor do São Paulo, fazer o que nós fizemos: ame o São Paulo! Adore o São Paulo! Que o São Paulo seja a paixão da vida de cada um, como é a minha, como é a de muitos companheiros meus.
É um estado de espírito.
Torcer, ser torcedor é um estado de espírito.
E ser torcedor do São Paulo é uma glória.
P- Tá bom.
O senhor gostaria de colocar mais alguma coisa?
R- Não.
Muito obrigado me senti muito contente de poder falar com vocês.
P- Obrigado.