Pedia-lhe que se identificasse, por favor, pelo seu nome, local e data nascimento
Teresa Assunção Paradela, nascida em Samões a um do sete de cinquenta e seis
E como é que se chamavam os seus pais?
O meu pai era Manuel José Paradela, a minha mãe Antónia Emília
E o que eles faziam?
O meu pai guardava ovelhas, era pastor, e a minha mãe estava a tomar conta dos filhos e da casa. Oito filhos, não era fácil.
8 filhos?! Então tinha 7 irmãos, não é? Ainda estão todos vivos?
Infelizmente, não. Já morreram 3 e tenho outro até muito mal.
Mas eram muitos! Sabe a origem da sua família, de onde é que vêm? Os nomes da sua família, a história da família?
Os meus avós não os conheci. Conheci a minha avó muito mal, era criança, mas ainda me lembro muito bem dela. Lembro-me muito bem dela porque andaram à bolota, que era para os porcos antigamente iam à apanha da bolota e depois vendiam-na para os porcos, às pessoas que tinham porcos. Eu lembro muito bem da minha avó sentadinha numa saca de bolota, a descascar com uma navalhinha a bolota e comia. Tenho essa memória dela.
Lembra-se de algum costume ou ainda tem algum costume em família em que se juntem? É só nas festas ou já não se juntam?
Todos nós, já não nos juntamos tanto. Antigamente, sim.
Como é que eram essas festas?
Antigamente, quando era do Natal, eu fazia o Natal em minha casa, portanto, para mim e para as minhas cunhadas e para os meus cunhados e para as minhas sobrinhas. Dia um de janeiro fazíamos em casa dela. Portanto, era feita na minha casa o Natal, a consoada e o Natal e dia primeiro de janeiro, era na casa dela.
E gostava de ouvir histórias? Alguém lhe contava histórias?
Contavam muitas, mas a minha cabeça agora está fraca.
Eram histórias sobre o quê? Sobre a vida, sobre os seus familiares...?
Sobre a vida. A minha mãe coitadinha passou muito, o meu pai quando faleceu, ia eu fazer 3 aninhos. Foi uma vida muito difícil. Quase também dizer, quase passamos...
Continuar leituraPedia-lhe que se identificasse, por favor, pelo seu nome, local e data nascimento
Teresa Assunção Paradela, nascida em Samões a um do sete de cinquenta e seis
E como é que se chamavam os seus pais?
O meu pai era Manuel José Paradela, a minha mãe Antónia Emília
E o que eles faziam?
O meu pai guardava ovelhas, era pastor, e a minha mãe estava a tomar conta dos filhos e da casa. Oito filhos, não era fácil.
8 filhos?! Então tinha 7 irmãos, não é? Ainda estão todos vivos?
Infelizmente, não. Já morreram 3 e tenho outro até muito mal.
Mas eram muitos! Sabe a origem da sua família, de onde é que vêm? Os nomes da sua família, a história da família?
Os meus avós não os conheci. Conheci a minha avó muito mal, era criança, mas ainda me lembro muito bem dela. Lembro-me muito bem dela porque andaram à bolota, que era para os porcos antigamente iam à apanha da bolota e depois vendiam-na para os porcos, às pessoas que tinham porcos. Eu lembro muito bem da minha avó sentadinha numa saca de bolota, a descascar com uma navalhinha a bolota e comia. Tenho essa memória dela.
Lembra-se de algum costume ou ainda tem algum costume em família em que se juntem? É só nas festas ou já não se juntam?
Todos nós, já não nos juntamos tanto. Antigamente, sim.
Como é que eram essas festas?
Antigamente, quando era do Natal, eu fazia o Natal em minha casa, portanto, para mim e para as minhas cunhadas e para os meus cunhados e para as minhas sobrinhas. Dia um de janeiro fazíamos em casa dela. Portanto, era feita na minha casa o Natal, a consoada e o Natal e dia primeiro de janeiro, era na casa dela.
E gostava de ouvir histórias? Alguém lhe contava histórias?
Contavam muitas, mas a minha cabeça agora está fraca.
Eram histórias sobre o quê? Sobre a vida, sobre os seus familiares...?
Sobre a vida. A minha mãe coitadinha passou muito, o meu pai quando faleceu, ia eu fazer 3 aninhos. Foi uma vida muito difícil. Quase também dizer, quase passamos fome, não passamos muita, mas ainda passamos. Só que a minha mãe coitadinha era trabalhadeira e fazia por ele para os filhos. A mim queriam-me levar para uma casa, de um doutor que vinha a casa dos meus padrinhos e pediu-me à minha mãe e a minha mãe respondeu: não onde comem sete, comem oito. E fiquei com a minha mãe.
Lembra-se desse período da sua infância? Lembra-se como é que era a casa onde cresceu na sua infância?
Lembro-me muito bem. Eu lembro-me tal e qual como se fosse hoje, quando o meu pai morreu, eu ia a fazer os três aninhos. Eu lembro-me como estavam as camas, como estavam as colchas que tinha na cama, tudo. Porque eram duas camas, aqui uma e aqui outra, uma colcha era verde e outra colcha era uma cor de laranja. Lembro-me que tal e qual como se fosse hoje. E levava uma arca ao meio, porque antigamente não havia mesinhas de cabeceira, nem havia...
O que é que mais se recorda da sua casa?
Recordo-me de ter o lar, a donde acendíamos o lume, descia-se duas escadinhas e era assim mais para baixo. E lembro-me de estarmos lá todos, de volta do lume a comermos e a depois eu como era a mais novinha, vinha para a varanda, tipo um patiozinho, e os meus irmãos coitadinhos comiam a sopa e todos eles me deixavam o fundinho, como era a mais pequenina. Deixavam-me o fundinho da sopa. E quando a minha madrinha, que era nossa vizinha, que nós estávamos numa casa delas a viver. Eu vinha então para o patiozinho a chorar. E a minha madrinha, dizia, mas o que é que tens, Terezinha? Que é que tens? - Eu quero o badulho dos meus irmãos, aquele dia eles não me deram a mim e eu então dizia quero o badulho dos meus irmãos. Em vez de dizer +++ dizia o badulho dos meus irmãos.
E, lembra-se como é que era Samões? Como era aqui a aldeia e a Vila? Lembra-se como é que era?
Sempre foi uma aldeia muito pacata, muito. Não havia assim, grandes coisas para fazer lá, era o dia a dia da gente ir, ir aí as pessoas à jeira. A amêndoa quando era de amêndoa, quando era das vindimas, quando era das mondas, era isso praticamente.
Acha que mudou muito?
Mudou.
Em que medida é que acha que mudou?
Já não há hábito de mondar. Mondavam-se os trigos, e os centeios, retirar as ervas daninhas. Agora já não há esse hábito, porque já não se faz, já ninguém semeia, que é diferente, não é? E às vindimas também alguém que as faz é à torna jeira, à torna. Nós vamos a uns e depois aquelas pessoas vem nos ajudar. Portanto mudou, é diferente... antigamente havia mais reunião, o amigo era mesmo amigo do seu amigo, agora já nem isso, mudou muito.
O que é que gostava de fazer quando era criança?
Gostava de dançar. Eu aos domingos fugia sempre para os bailes. Queria dançar e depois, na segunda nunca tinha, estava sempre doente, nunca ia à escola, fazia-me de doente, só que a professora mandava um colega e uma colega vinham sempre, eram sempre os dois, que me vinham buscar e eu dizia que estava doente, mas elas não se acreditavam, depois já tinha que ir, chegava à escola e levava. A professora batia-me. Uma vez espetou-me um bico de uma caneta aqui na cabeça, a professora. Eu também era malandra, gostava de bailes. Eu assim que ouvisse música, eu nem que fosse lá para baixo para o fundo, parece que até me atraíam os bailes
Mas aí já era mais crescidinha...
Alguns 8 anitos...
Então era muito jovenzinha. Ia sozinha?
Eu ia, adonde houvesse bailes, eu lá estava.
E como é que a família reagia a isso?
De que remédio tinha, tinha que reagir bem...
E mais novinha um bocadinho, tinha muitos amigos aqui com que brincava? O que é que faziam?
Tinha...tinha... jogávamos à macaca, ao esconde esconde, jogávamos à pedrinha - púnhamos 5 Pedrinhas na mão e depois virava, tinham de nos ficar aqui em cima das costas da mão. Tínhamos assim brincadeiras diferentes das de hoje.
Muito na rua?
Muito na rua. À noite então, juntávamo-nos muitos. Muitos. E fazíamos esconde-esconde e escondíamos por aqui fora, porque eu morava ali naquela casinha. Numa casinha que está ali logo em frente.
Então estava aqui mesmo no largo, no centro
Era nossa a casinha, agora é de uma sobrinha nossa, nós demos a parte toda a um irmão mão, que já faleceu.
O que queria ser quando crescesse? Lembra-se?
Eu queria ser médica. Eu quis ser sempre médica, só que não tive... se a minha mãe me tinha dado para o tal médico, era capaz.
Porque é que queria ser médica?
Não sei... porque via minha mãe, o meu pai era doente, a minha mãe também. Eu queria, queria ser médica que era para os curar. Mas o dinheiro nunca chegou para isso, para todos.
Depois, então na escola, estava a dizer que depois vinham cá buscá-la e tudo? Até que ano é que fez a escola?
Fiz até ao quinto ano.
E foi aqui?
Foi...
Como é que ia para a escola?
Íamos a pé. Juntávamo-nos aqui os vizinhos que tínhamos e íamos. Éramos muitos da minha idade. Os de lá de baixo paravam aqui e chamavam, lá íamos todos.
Lembra-se da escola? Como é que era? Os professores? Lembra-se das reguadas que já nos contou, mas alguma outra …?
E varadas, com uma varinha, na cabeça e nas orelhas.
Era malandra já nos contou, mas tinha boas notas? Era boa aluna?
Era... O que era ruim era um bocadinho no português. Isso é que... a ler, mandavam-me estudar a lição e eu também não a estudava. E fiquei um ano em casa, porque a professora queria que a minha mãe me deixasse ir para casa dela, para trabalhar e eu disse-lhe que não queria ir, pois eu já sabia o que tinha passado lá, não queria ir. Que a irmã da tal professora é a minha madrinha e queria que eu fosse e depois então deixou-me na quarta classe, porque ainda era muito nova para correr o cão. Para andar na rua. Mas ela disse que era muito nova para ir correr o cão, foi tal e qual. E então deixou-me mais um ano, fiz então a quinta classe. Depois à sexta já não fui. Porque fazia-se a quinta e a sexta classe na minha altura, agora o quinto ano e eu não quis ir, depois deixou-me tive que ir outro ano para a escola.
Era sempre a mesma professora durante esses 5 anos?
Era...
O que é que se lembra mais dela?
Não podemos falar na escola, senão levamos logo com a vara nas orelhas, se nos ríssemos chamávamos logo ao quadro para nos dar reguadas, a brincar na rua tinha que ser meninas com meninas, os meninos com os meninos, porque não nos podíamos juntar. E era assim.
E depois, então começou a trabalhar?
Aos 14 anos fui trabalhar.
O que é que é que fazia nessa altura?
Fui trabalhar para uma fábrica de conservas, de azeitona
Aqui perto?
No Cachão, comecei a trabalhar com 14 anos. Aos 15 alombava sacas de 30 kg de grão de amêndoa. Por umas escadas assim a pique, as escadas eram mesmo assim ao pique, eram prai umas 15 ou 20 escadas. Até que me arrampanaram, estou lixada das costas à conta disso, dos carregos de pequena, mas antes disso, ainda fui para uma casa de uma senhora que me foi pedido, foi pedir a minha mãe para que eu ficasse lá na casa com a filha dela. Também pôs-me ali a levar baldes de comida para os porcos, baldes de cântaro, de 12 ou 15 litros. Também dei cabo das costas, teve que ir a Frechas, ao pé de Mirandela, antes de Mirandela tive que ir aí. Fomos a pé a compor as costas. Fomos a pé e viemos. Nessa altura eu era criança. Pôs-me a carregar os baldes, eu era pequenita. Dei cabo das costas. Depois havia uma Senhora que compunha muito bem em Frechas e nós então, o meu irmão levou-me lá. Fui e eu meu irmão a pé.... Era assim a vida de antigamente.
Ainda demoraram muito, chegar lá?
O dia todo para ir e vir, foi o dia todo.
O que é que lhe fizeram quando chegou lá?
Com as mãos com azeite, fez meter adonde tinha o mal ao sítio e a partir daí fiquei bem.
E nessa altura ainda continuava a ir aos bailes e às festas?
Ia sempre ainda, sempre. Ainda hoje, ainda hoje se sentir música, ponho-me logo a bater o pé, eu na televisão, se ouvir cantar eu tenho que estar sempre a dar ao pé
E dança sozinha ou em grupo?
Íamos muitos. Eu uma vez fui para Vilas Boas, ao pé do santuário de nossa Senhora da Assunção. Fui com chinelas de dedo. Não havia na naquela altura, não havia calçado. Eu os primeiros sapatos que tive déramos, para dançar! Essa Senhora até já faleceu e fomos então um grupo, íamos aos domingos, quase sempre, íamos lá para esse sítio para Vilas Boas porque havia sempre, havia lá uns moços que tocavam acordeão. É nós íamos para lá, irmos a passear, e íamos dançar também para Vilas Boas. Por azar pisaram-me a chinela, arrebentaram-me a chinela. Tive que vir descalça, para casa, não havia dinheiro para comprar calçado, vim descalça. Até dava cada pulo quando me picava, mas lá vim. Eram tempos, eram tempos muito maus, muito maus.
Mas tinha esses momentos depois de libertação, não é?
A passar o que passei, não me importava de voltar a este tempo.
Foi feliz nessas festas
Fui feliz, graças a Deus.
E então estava a trabalhar nessa altura nessa fábrica e o que é que fazia com o dinheiro que ganhava?
Dava-o à minha mãe, para a ajuda da casa. Era a minha mãe que o governava, começou primeiro a minha irmã e trabalhava lá eu, uma irmã minha e a minha mãe no Cachão. Depois a minha mãe teve um acidente muito grande, partiu as 2 pernas e não pode trabalhar mais, coitadinha, até que morreu. E é só.
E que mais trabalhos é que teve depois?
Depois não tive mais nada, ia de vez quando com as ovelhas, que o meu marido ia para as feiras e eu ficava com o rebanho das ovelhas. Ainda tive outro, andava grávida da minha filha, da minha mais velha, o meu marido deixou-me com 150 ovelhas e foi-se embora para Espanha sem me dizer nada. Naquela altura, não me disse nada, foi embora não me disse nada, ou com a coisa que eu não o deixaste ir ou não sei, sei que foi-se embora e deixou-me sozinha. E passado... eu tinha a miúda, eu andava grávida já no fim, com 8 meses, tinha para aí 3 ou 4 mesinhos, quando ele vem, vinha para me buscar a mim e à filha para irmos para a Espanha, porque ele fugiu à tropa. Ele estava para ir à tropa, ele não queria ir e acabou depois por ir...
Com que idade é conheceu o seu marido?
Conheci-o com 15 anos, comecei a namorar com ele com 15 anos
E depois casaram-se com que idade?
Eu casei-me com 16 e ele com 19.
Já são muitos anos de casamento!
50 anos vai fazer em abril. 50 anos de casados.
E tem mais filhos? Falou então da sua filha...
Tenho uma filha e mais 2 filhos.
Como é que eles se chamam?
Ela chama-se Cristina, o do meio Carlos e o mais novo Humberto.
E já tem netos?
Já! E bisneta!
Então também já tem uma família muito grande desse lado já!
Já, já tenho uma bisnetinha vai fazer dois aninhos.
Tem outras memórias desse processo da maternidade e de ter os seus filhos?
Ai maternidade tenho muitas.
Como é que foi ter os filhos?
Os primeiros 2 filhos nunca quis ir para o hospital. Mas da primeira estive quase à morte. Estava a ver, era a minha tia, uma tia que eu tinha, que era e foi a parteira. A minha filha vinha atravessada, em vez de deitar a cabecinha, como todos os bebés fazem, ela deitou o cuzinho, de rabinho para fora. E estava a ver que morria eu e morria a bebé, mas depois a minha tia era muito hábil e lá me tirou, mas também foi complicado. Andei 2 dias, 2 dias e 3 noites com dores. Dizia a minha comadre, madrinha da minha filha dizia-me eu levo-te ao hospital; não quero, não vou, não vou; mas podes morrer, a minha tia era assim, ó filha vai olha que eu já não posso, eu já não posso fazer nada; Não vou, olha, que podes morrer... Se morrer, morri
Porque é que não queria ir?
Não sei... talvez vergonha ou não sei naquela altura não sei porque é que não quis ir. O segundo tive aqui numa casinha que está aqui logo a seguir, uma casinha velhinha que ela está, eu morava aí e veio o meu filho, também foi a parteira, e uma vizinha que já morreu também. Mas este já não custa tanto. E do terceiro fui tê-lo ao hospital, porque foi a minha sogra que me fez ir, porque senão eu também não queria ir: vais, vais para o hospital porque aqui não o tens, se o tens aqui eu não te lavo nada, hás de por tua a pé a lavares as coisas... E eu então lá fui.
Então quando o marido foi para Espanha, também foi ter com ele ou ficou cá em Samões?
Fiquei cá, com 150 ovelhas
150 ovelhas e 3 filhos
Não, ainda só tinha só tinha a primeira.
E nunca chegou a ir viver para outro sítio, ficam sempre aqui?
Não, vivi sempre aqui, sempre, nunca sai daqui de Samões.
E depois, o marido regressou de Espanha...
Depois o marido regressou que vinha para me buscar, às escondidas para me vir buscar e a minha sogra não o deixou ir. Fê-lo ir à tropa e cumpriu... cumpriu não que só lá andou 3 meses, como era casado e tinha filha, mandaram-no para casa.
Então o que é que fazia com as ovelhas que tinha que tomar conta?
Tinha de andar pelos campos, para os montes e para onde calhava com eles, não tinha outra alternativa.
Lembra-se de alguma história que lhe tivesse acontecido nesse período?
Uma vez andava com elas, como quem vai para a barragem. Andava com elas e apareceram 3 lobos. Só que andava para lá um irmão meu, que já faleceu. E ele coitadinho com os cães, já soltou os cães e eu fiquei com os dois rebanhos enquanto ele fez desaparecer os lobos dali com os cães. E depois então as ovelhas não eram minhas, eram de um senhor, depois esse senhor lá as vendeu e eu já não fui com elas, mas ainda levei muitas vezes porrada, pelo campo sozinho com ele, quantas vezes...
E como é que era?
Cheia de frio muitas das vezes. Às vezes levava só um bocadinho de pão. Nos princípios de casada também não foi fácil. Levava um bocadinho de pão, ordenhava uma ovelha para o pão e comia. Era assim a vida. Hoje não dão valor a isso, mas a gente antigamente era como era, muitas vezes fiz isso, ordenhava uma ovelha, ordenhava para o pão, bebia o leite e comia o pão molhado.
E depois, como é que era depois dessa fase de tratado das ovelhas e dos filhos?
Deixaram de ter ou ainda tem?
Ainda tenho, mas hoje já tenho menos, hoje tenho à volta de 50.
E é a D. Teresa que toma conta delas?
Não, é o meu marido... anda ele com elas, ele também tem falta de vista, de uma vista só vê 10%, e a outra 30%. Antigamente era ele e os filhos, quando os filhos começaram a ser maiorzinhos andava eu e ele. Uma vez veio uma trovoada tão grande, tão grande, quando eles eram pequeninos, que tapei-os com umas sacas, antigamente havia umas sacas para a gente meter o cereal e as batatas, de lona. Lá os tapei e trouxe os 2 ao colo para casa. O meu marido foi me bater e eu depois tinha lá os dois garotos comigo, dois filhos e então para os tirar da chuva, enfiei-lhe uma saca dessas pelas costas fora e lá os trouxe ao colo, que remédio. Tempos difíceis....
E os filhos ficaram cá ou ...?
Tenho dois, na Suíça. A minha filha e o meu primeiro mais novo...
Mas estudaram todos aqui e depois é que foram?
Estudaram, olha o que está cá nunca quis ir para Vila Flor, foi um ano e não quis ir mais. Antes quis as ovelhas que ainda hoje as tem, os outros foram para o estrangeiro
E a D. Teresa já lá os foi visitar?
Já... Já lá fui.
E como é que foi chegar à Suíça?
Ai, aquilo é muito lindo, foi uma alegria grande ver os meus filhos. Já há 2/3 anos, que cá não vinham, foi no tempo da pandemia e não vieram. Eu fui lá o ano passado, em junho. Fui conhecer a netinha e fui ver os filhos.
Então agora que já não trata das ovelhas, ainda faz outras as atividades...
Faço o queijo
E como é que é fazer o queijo?
É fazê-lo, com as mãos!
Faz sozinha?
Faço tudo sozinha.
E depois vende para fora ou é só para...?
Não se pode dizer, mas é só aqui para a zona, para os amigos.
Vou voltar um bocadinho para trás.... Lembra-se como foi o dia do seu casamento? Lembra-se como foi o seu casamento?
Lembro-me muito bem.... não levei muita gente, eu levei os meus padrinhos de batismo, que foram os meus padrinhos de casamento e levei a família mais chegada. Foi a minha sogra que me fez a boda. Portanto, tive boda, não fui branco, mas foi com um vestido begezinho muito lindo, que ainda hoje o lá tenho, guardadinho.
No seu percurso de vida, que significado tem para si ser mulher?
Nem sei como é que lhe hei de explicar. Eu gosto de ser mulher, adoro. Então, quando era nova, ainda mais...
Por causa das festas, era por que razão...?
Era as festas que eu ia todas. Eu, quando era solteira ia com a minha mãe, casada ia eu e o meu marido. Não faltava por aqui perto, não faltava a uma festa. Eu ia porque gostávamos de dançar então lá íamos...
E ter nascido em Trás-os-Montes, acha que isso influenciou a sua trajetória de vida e as suas experiências?
Eu acho que sim.
Em que medida?
Sei lá... nas cidades não me dou. Eu quando vou ao Porto estou morta por me vir embora, para vir para casa, portanto.... e o meu marido é igual. Parece que não me dava assim numa cidade. Aqui em Samões é muito melhor, é mais sossegadinho, mais pacata.
É pelas pessoas, pelo ambiente...?
Pelas pessoas.
Tem sonhos agora que queira concretizar?
Ai tenho tantos, só que já lá não chego.
Então, o que é que gostaria de fazer agora num futuro próximo ou distante?
Para já, gostava de seguir o teatro que fazemos, que adoro. Eu adoro aquilo que faço. Quando vamos cantar os reis, eu fico feliz da vida. Eu gosto, eu gosto muito de convívio, eu adoro.
Porque é que acha que esse sonho não se vai concretizar de continuar?
Sei lá porque já vou para velha.
Não...
Eu acho que sim. Eu adorava continuar com eles ....
Continuar nesta vida das festas, não é? De cantar, representar...
Sim, sim, adoro!
Então, para além dos queijos que faz hoje, do teatro que tem como atividade, que atividades tem mais no seu dia a dia? O que costuma fazer no seu dia a dia? Diz-nos antes de ir para entrevista que se levantava todos os dias às 6 da manhã...
O meu dia a dia é por me a pé às seis da manhã, coalhar o leite, fazer o queijo e o requeijão às vezes. Depois, assento-me quando não tenho o que fazer estou sentadinha ao lume, agora no inverno. E depois... se às vezes calha sair, hoje de manhã fui a Vila Flor, por exemplo.... saio ou estou em casa, vejo o telemóvel ou ponho-me a rezar, olhe faço muita coisa durante o dia.
Quais são as atividades que têm mais importância para si hoje em dia?
Cozinhar. Adoro. O meu sonho era ter um restaurante e cozinhar. Eu adoro cozinhar. Eu tenho um prazer de ... eu também tenho o prazer de comer, como se vê..., mas também tenho o prazer de o fazer. Eu gosto mesmo daquilo que faço.
Cozinha normalmente só para si e para o seu marido?
Cozinho para mim e para o meu marido e para o meu filho, que o meu filho desde que se casou, conta-se pelos dedos as vezes que foi comer a casa com a mulher e com os filhos, para fazer companhia ao pai... cozinho todos os dias para eles.
E eles vão todos os dias de manhã cedinho, de madrugada ainda...
Agora já nem tanto, mas no verão, 4h30/5h estão no campo, com as ovelhas. De inverno saem um bocadinho mais tarde.
Ia só perguntar como é que foi contar a sua história? Gostou?
Gostei, gostei
Tem assim mais alguma história que nos queira contar... Alguma coisa que ficou fora?
De momento, não me lembro.
Muito obrigada, D. Teresa. Foi um gosto falar consigo.
Igualmente
Obrigada.
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