Tenho quase tudo!

P /- Gostaríamos que você começasse a entrevista dizendo seu nome completo local e data de nascimento.

R-Meu nome é Jose Benedito da Silva, apelido de Zé(de ano?)nascido em Taubaté aos 28/5/1927

P – E os seus pais?

R – Meu pai é falecido, minha mãe também faleceu

P – Mas eles são aqui de Taubaté também?

R – O meu padrasto era (do interior?) de São Paulo a minha mãe é de São Luiz

P – E os seus avós?

R – Meus avós, acredito que eram lá de São Luiz

P – E São Luiz é aonde?

R – São Luiz do Paraitinga

P – E o senhor nasceu aqui em Taubaté?

R – Aqui em Taubaté no hospital

P – Qual hospital?

R – Santa Isabel, no capim.

P – E o seu padras...

R – Nasci no capim.

P – Como assim no capim?

R – Naquele tempo colchão era só de capim

P – O seu padrasto fazia o que?

R – O meu padrasto fazia figuinha, figa

P – Como assim?

R – É um troço assim feito de madeira, de osso, de chifre e vendia na feira em São Paulo, que morava lá na quarta parada , quando eu era criança .

P – Você morou em São Paulo?

R – Morei em São Paulo ,fui daqui criança e fui morar em são Paulo , vim pra cá com aproximadamente 15 anos, pra conhecer a minha terra.

P – Por que vieram pra cá?

R – Viemos pra ca porque tava ate, aliais, São Paulo tava meio, vamos dizer assim, não tava dando muito lucro, o padrasto, a minha mãe brigou com ele ,então como ela era de São Luiz, ela veio embora pra cá e trouxe eu , lá ela separou do meu padrasto.

P – E o senhor lembra da sua infância em São Paulo?

R – Eu lembro mais ou menos, não posso lhe dizer que eu tenha convicção de alguma coisa, eu lembro alguma coisa , a sova que eu tomei, essas coisas eu lembro, isso a gente não esquece , mas no mais eu não lembro muitas coisas de São Paulo não, eu lembro que eu assim, eu carreguei cesta na feira também , com 9,10 anos eu carregava cesta na feira, nós morava na Quarta Parada, nos foi morar na Penha,então minha mãe era meio andarilha também, ela separava e ia pros canto que ela cismava então ela veio aqui pra Taubaté.

P – e ela veio pra cá quando o senhor tinha 15 anos?

R – É , mais ou menos, 10 pra 15 anos, era mais ou menos isso ,15 anos vamos dizer

P – Como era Taubaté?

R – Taubaté naquele tempo, nossa! Era uma coisa muito diferente,muito muito diferente, porque mesmo lá no mercado , que hoje eu vendo no mercado, vendo na feira da barganha a 52, 53, 54 anos mais ou menos,então eu comecei a vender lá com 20, 22 anos, que era conhecida, aquela parte dali, pra cá do mercado era tudo mato, tinha um rio aberto, (montava cerco?) tinha um joguinho de dado lá no mercado,e a coisa era muito diferente, lá naquele pátio que tem hoje a barganha tinha um pouco uma(cacimba?) alta co (paredes?) pra fora da terra assim, e tudo isso ai eu lembro de Taubaté, e aonde eu moro hoje, eu não morava lá, eu morava num outro canto, aonde eu moro hoje por exemplo era um barrão, em todos os lugares era um barreiro.

P – E o senhor morava aonde?

R – Eu morava nessa primeira vez, eu morei numa vila na rua Maitá.

P – E como era sua casa?

R – Minha casa era um (pardieiro?) era um cômodo, morava eu e a minha mãe, ela trabalhava de domestica e eu ia pro mercado, ajudar aquelas pessoas, aquelas senhoras, a carregar a cesta, pra ganhar um trocadinho pra ajudar a minha mãe.

P/2 – E quanto tempo o senhor ficou no mercado como carregador de cesta?

R – Foi muito tempo, depois eu fui trabalhar de servente de pedreiro,ai eu comecei a trabalhar de servente de pedreiro,mas antes de trabalhar de servente de pedreiro, eu tava jogando bolinha na rua, então passou uma pessoa que trabalhava na juta, um moço chamado Coelho, então ele convidou eu se queria trabalhar na juta, porque tinha muito serviço, e tinha um escasso de pessoas que trabalhassem, ai eu fui trabalhar na juta, trabalhei na juta um punha Dinho de tempo, depois na juta eu casei,arrumei uma mulher lá com 18 anos mais ou menos eu casei, resumo, depois disso tudo, eu fui trabalhar na Predial de servente de pedreiro,

P/2 – Isso era com carteira assinada?

R – Não , era osso , naquele tempo não tinha esse negocio de carteira assinada, naquele tempo trabalhava no deus dará, se caísse azar seu, não tinha nada disso não,então a gente trabalhava com as pessoas, de servente de pedreiro, era um servente pra3, 4 pedreiros, hoje é 3,4 serventes pra um pedreiro, naquele tempo trabalhava mesmo, não era brincadeira não, e eu era meio fortinho, eu trabalhava, depois fui trabalhar de ajudante de caminhão, aprendi a dirigir, se eu for contar a mina vida toda eu acho que...(risos)

P – Vamos voltar um pouquinho, fala dobre a fabrica de juta, como era?

R – A fabrica de juta era naquele local mesmo que esta, e a gente trabalhava lá de, eu por exemplo trabalhava , entrava as 5 da manha, as vezes fazia serão, trabalhava até as 10, porque a gente ganhava por produção, então as vez não dava a produção , tinha que ir ate as 10, tinha que fazer umas peças de pano, pra receber mais, ai eu já era casado , eu casei na juta

P – E antes de casar como era sua vida de jovem?

R – Antes de casar era aquela coisa, andava, perambulando porque só tinha mãe, não tinha pai, o padrasto ficou em São Paulo, então perambulava, as vezes trabalhava, as vezes não trabalhava, as vezes ia roubar fruta na chácara, era a realidade, então a gente, naquele tampo a vida era muito gostosa, porque tudo que a gente fazia não tinha censura, hoje que é essa censura, então a gente ia tomar banho nos rios, a gente juntava uma porção de gente e ia tomar banho nos rios, e fazia vamos dizer assim, a gente ia passando:”Ô você não recolhe essa areia pra mim?” a gente ia lá e recolhia a areia , as vezes comia a troco da areia, era assim, era fantástica a vida hoje que é essa ( periguesa?)

P – Nessa sua época de juventude, o senhor sempre trabalhou?

R – Infelizmente sempre trabalhei, porque eu não tinha vicio, quer dizer eu não tinha vicio de , porque não tinha negocio de drogas, ladrão também era fruta, roubava fruta as vezes na chácara, não era roubado, era que tava sobrando e a gente subia no pé e pegava.

P E a sua mãe trabalhava na casa de uma família?

R – A mãe, a minha mãe trabalhava em casa de família ela era domestica, então ela pagava o quartinho que nós morava, depois ela começou, virou de cabeça também, começou a arrumar homem, daí eu fiquei macho com aquilo, sai da minha casa

P – É mesmo, com quantos anos?

R – Acho que sai da minha casa com uns 18 pra 19 anos, e foi morar com a minha mãe, foi quando eu morava com a minha mãe, então eu sai da minha casa por causa da minha mãe ser desse jeito, mas antes disso tudo, tinha uns problemas naquele tempo, porque as mães as vezes não respeitavam muito os filhos.

P – Como assim?

R – Não respeitavam, porque o filho, hoje as mães tem medo que cria caso com elas porque tem homem dentro de casa, naquele tempo a gente não encarava muito isso, então eu comecei a ver homem entrar na minha casa, sai da minha casa.Foi na época que eu fui trabalhar na juta.

P – E ai o senhor foi morar aonde?

R – Ai eu fui morar sozinho, eu e mais um rapaz chamado Ney, nós alugamos um quarto e nós fazia a comida, na época cozinhava feijão hoje, e ficava três dias já cozido nos pegava um quadrado de carne seca e punha lá dentro, pegava macarrão e punha lá dentro, era aquilo que nós comia.

P/2- E só o senhor de irmãos?

R – Que eu conheça só eu.

P – E depois deu Dito...

R – Dito?

P- Seu Benedito, como chama o senhor?

R – Meu nome?

P – É.

R – José Benedito da Silva , vulgo Zé (Biano?)

P – Zé?

R – Benedito da Silva vulgo Zé Biano

P – Ta.

R – Se você tiver dinheiro, sou o seu criado.

P – Então o senhor já circulava pelo mercado desde muito pequeno...

R – Desde essa época, ai após essa época eu voltei pra casa da minha mãe, porque eu fale pra ela:”esse negocio ta errado, então você tem que trabalhar, ficar num serviço definitivo” ai eu fui trabalhar de carroceiro, pegando lenha,ai passei a vender na (Breganha?) ai já tinha uns vinte anos mais ou menos, ela tinha umas panela de ferro, uns ferrinho de passar roupa, e umas maquina, umas botina daquela que amarra, tem um coisinha assim e amarra, e era do meu padrasto que ela guardou, então comecei na Breganha

P – E como era a Breganha nessa época?

R – A Breganha era raro de mais, só tinha cinco seis pessoas, e era tudo antigo, _____então naquele tempo...Hoje você vai na Breganha, nossa senhora!

P – Mas como é que era naquele tempo?

R – Naquele tempo era 5, 6pessoas, e as pessoas que pegavam as coisas da casa deles, antigas, trazia pra vender, eu fui fazendo isso, e fui acostumando com isso.

P – A Breganha já existia desde quando?

R – Já existia, agora eu não sei a época que existia, eu sei que começou na porta da igreja, mas eu não sei explicar pra você como era a Breganha, sei que lá trocava relógio, depois passou lá pra baixo, de lá o prefeito tirou nós, passou pra outro lugar, então nós mudamos um monte de vez, depois dessas panelas que eu vendi eu comecei a vender gibi.

P – Gibi?

R – É, passei a vender gibi, porque não tinha mais panela, não tinha mais o que vender, comecei logo a comprar gibi, vender gibi, aqueles nudismo que existia antigamente, gibi...

P – Como é que é isso de nudismo?

R – Nudismo era uma revista de mulher pelada, mas não é igual a esse Playboy não, era, existe ainda, umas revista de nudismo, ué, você não sabia?

P – Não, eu queria saber como era...

R – Era nudismo...(risos)mulher pelada, e homem pelado, mulher pelada, mas era é, aqui em São Jose tem um campo de nudismo, então eu comprava essas revista, _____________

(quebra de fita)

P –Eu queria voltar um pouquinho, o senhor falou que morava com a sua mãe,e depôs saiu, e a Breganha entra quando?

R – Entra depois que eu voltei na casa da minha mãe.

P – Mas o senhor já tina visitado, já conhecia a Breganha?

R – Já conhecia mais ou menos na porta da igreja, lá embaixo não

P – Como era a Breganha na porta da igreja?

R – Na porta da igreja trocavam relógio, discreta, não era como é lá, lá é no chão, agora ta deturpada, cheia de coisas novas...

P – Vamos falar dessa na porta da igreja, quem eram as pessoas...

R – Ah, isso eu não lembro.

P – Como funcionava?

R – Isso eu não lembro, que eu lembro lá funcionava na mão, um trocava o relógio com o outro, ( discreto?) mas era na mão.

P – E era no domingo?

R – Parece que era a semana inteira, eu não tenho bem convicção, mas parece que era a semana inteira, porque era fora da igreja, então vinha as pessoas com relógio de bolso, trocava por um de pulso, pegava bota, sei lá porque lá eu não estou bem a par, isso que eu sei.

P – Mas qual que era a regra?

R – A regra era a base de troca, com volta, toda a vida foi assim, nunca há Breganha com Breganha com Breganha, só se a peça que a pessoa der, for mais cara que a da gente, que a gente quer levar vantagem, é claro todos querem levar vantagem, então a Breganha é assim: eu lhe dou esse papel, você me dá dois, ai ta feita a Breganha,, agora se eu trocasse papel com outro papel coce tem que me voltar.

P – Entendi, e o senhora acha que...

R – Você que é a interessada, eu já estou com o papel, você que interessa o papel, você da o outro papel e me volta alguma coisa.

P – Essa fase da Breganha na igreja eram pessoas comuns que iam lá quando queriam trocar alguma coisa?

R – Perfeitamente, eram pessoas comuns, trabalhadores, sei lá se tinha alguém que não trabalhava, eu sei que a Breganha era isso ai, era na porta da igreja, não sei também se era a semana inteira ou se era só domingo.Agora lá embaixo tem, na Breganha de baixo, que existe agora, antigamente não tinha ao sábado,e agora tem ao sábado.

P – Tem sábado?

R – Tem sábado.

P – O senhor vai no sábado também?

R – Não, só vou aos domingos.

P – E depois da igreja foi pra onde?

R – Foi lá pra baixo, porque daí as pessoas foram descendo, e fazendo negocio naquele pátio que tem ali em baixo, ao lado do mercado, então ali tinha uma banca de dado, tinha joguinho de dado com o seu Augusto, e muitas vezes eu ia fazer farol pra ele eu saia da minha banca, que não vendia quase nada também, que eram muito poucas pessoas que freqüentavam, então eu ia ser farol dele, você sabe o que é farol?Não sabe?É o seguinte, ele montava a banca dele lá, e o dado é 1,2,3,4,5,6 e ele tinha um dado no bolso, cada dado é uma parcela, um dado de 1 a 3 outro dado de 4 a 6, outro dado só um numero, e existia o pisca que trabalhava de (cpi?)que ele ia e começava a seguir um numero só, ele punha vamos dizer, dinheiro de agora, 1 real, 2 real, 3 real, só em um numero, daí o Augusto mudava o dado, pegava no bolso, parceladamente, punha na canequinha, e lançava outro dado, então eu era o farol, eu que jogava pra chamar freguês, então eu sabia o numero que ia dar, ele era meio carpirão ele falava, baixeiro, então era 1,2,ou 3, alteiro, já era 4,5,6

P – E como é que o dado vai lá no numero que a gente quer?

R – É numa caneca, então ele balança o dado dentro da caneca, e poe, ai da 6, da 4, da 1 é isso.

P – Mas como sabe o numero que vai dar?

R – Saber, ele sabe porque o dado tem um chumbo dentro, tem um chumbo, todos os dados que ele tinha tem um chumbo de um lado, então é prevenindo que ele vai dar ao contrario do chumbo,então ele tinha o dado que dava 1,2,3, o outro que dava 4,5,6,então quando o cidadão chegava lá e carregava um numero, não dava, ele ficava com raiva pegava o dado e jogava lá em cima do mercado, o pisca, ele trabalhava lá no cpi.

P – Isso foi quando o senhor...

R – Quando eu comecei a freqüentar a Breganha lá embaixo, tinha uma privada lá que a gente escrevia:”merda não é tinta, dedo não é pincel.”tava sempre escrito lá na parede lá, (?)pra andar lá tinha que arregaçar a calça.

P –E como é que o senhor começou, que levou o senhor pra lá?

R – Não, foi da minha cabeça mesmo, eu fui lá, vi aquele troço lá, e pensei:”eu tenho umas panelas lá, eu vou trazer as panelas, a mãe tem umas panelas lá.” Quando voltei pra casa, falei:”Dá as panelas pra mim mãe, num ta usando mais, tem alguma enferrujada”eu levava lá e vendia, naquele tempo vendia a 2 mi réis, 1 mil reis, era muito difícil o dinheiro, e era difícil vender também, mas eu comecei, levei essa rotina ai incentivou, ai eu comecei a comprar gibi, eu vou comprar gibi, comecei a comprar gibi, então quando havia troca a pessoa me dava dois gibi eu dava um, e foi indo começou a aparecer, como se diz...os cara começaram a vender gibi também, concorrência, já começou a aparecer uma porção de gente vendendo gibi, ai eu pensei comigo, eu morei em São Paulo, trabalhei em parquinho, então eu tinha mais profissão, vou parar com o gibi, tem muita concorrência, ai parei, parei de vender essas revistas de nudismo, parei de vender gibi, ai comecei a vender disco, eu ia lá na Bento Freitas em São Paulo, de manha cedo no sábado, andava o dia inteiro lá achando promoção de disco, custava 50 centavos, 1 real, uma vez eu comprei o Pé da fogueira, comprei 10 discos, cheguei ai vendi a 3 mil réis cada um, vendi tudo, ai eu fiquei incentivado, comecei a vender disco, daqui a pouco começou a concorrência, ai seu Zé do ferro velho pos disco, um outro cara arrumou um carrinho pôs disco, ai eu falei, “já tem concorrência”, ai fui parando com os disco, ai fui começando a ir nuns ferro velho comprar panela, moinho, castiçais, coisa velha, de limpar e levar na Breganha pra vender, e disso eu venho vindo, então isso não tem concorrência, porque quando eu tenho um castiçal, você não tem um igual ao meu, as panelas pode se conseguir, mas eu posso vender mais barato

P – O senhor fala vender

R – Vender.

P – Não é trocar?

R – Hoje é difícil trocar, a venda lá é Breganha, mas é difícil haver troca, porque não tem condição de ser trocado, se você me der uma peça, eu não posso dar a minha em base de troca, eu tenho que pegar volta, então a Breganha em si como era antigamente, caiu.

P – Mas quando o senhor começou era troca?

R – Não, era muito difícil também, todo mundo fala:troca,troca,troca, mas a troca é o sinônimo de me dá cá , e toma lá, e toma(tanto?) de volta, e lógico, e todo mundo querendo levar uma vantaginha, então, eu já cheguei a pegar um relógio lá, que fica encostado num palito, um relógio de bolso trocado por um de pulso, ele tava encostado num palito, depois que eu troquei com o homem, eu voltei parece que foi 1 e 50, quando fui abrir o relógio, tinha um palito enroscado, puxei o palito o relógio parou, então coisas da Breganha, então ali tem muitas pessoas que fazem trapaça, e tem outras que fazem Breganha vendendo, bregaia, pode ate bregaia, mas depende da peça que você vai me dar, e o que é a peça que eu vou te dar.

P – O senhor lembra dos seu companheiros de Breganha lá dos primeiros tempo?

R –Ah, lá linha o Boquijones, tinha o Arlindo, tinha o Abrão, tinha o Augusto, tinha o Gaúcho, que foi fazer uma entrevista comigo em São Paulo, tinha o Nelson,quem mais...Tonico, uma serie de pessoas.

P – Cada um tinha uma especialidade, um tipo de produto especifico?

R – Não, era misturado, todas as coisas que vinham a gente ia vender, se tinha sapato a gente vendia sapato, se tinha roupa a gente vendia roupa , se tinha panela a gente vendia panela,não era propriamente aquilo, hoje eu lido só com antiguidade, naquele tempo não, eu lidava com aquilo que me aparecia, por exemplo, se um passasse numa casa e encontrasse um sapato lá no lixo, eu achava que o sapato era bom, eu levava lá e vendia.

P – Como o senhor montava a sua barraca?

R – Minha barraca era no chão, punha um papel, punha as coisas, não pagava nada, era livre isento de imposto, então ai começou a aparecer televisão, fazer entrevista, eu fiz entrevista pra o canal 2, fui em São Paulo fazer uma entrevista no canal 7, no tempo do (guia do miné?) que eu fui convidado pra ir lá, fui, ta lá no livro lá, fiz entrevista pro 5, uma vez eu fiz uma entrevista pro 5 e eu tinha comprado um oratório na roça, e o oratório era pintado a (anil?) vocês não sabem o que é isso né? Um troço pintado a anil,anil que põe na roupa, então pintava, desmanchava e pintava, e eu pedi pra um rapaz buscar na roça, e ele foi de roupa , sujou toda roupa dele, e sujou a minha porque o anil saia, ai eu falei: que brutalidade do cara pintar isso com isso ai, e nessa semana veio o 5 fazer a entrevista, e apareceu o oratório, ai quando foi na outra semana, chegou um cidadão de Ouro Preto, e eu tinha nessa semana tirado todo anil, lavei, e pintei, passei tinta preta, passei tinta branca e( psicoteco?) eu mesmo bolei e fiz ,quando foi na outra semana ou 15 dias após, apareceu uma pessoa lá, um cidadão alto, bem arrumado e falou assim pra mim: “Quem é o Zé Biano aqui?é esse” ai, euia de bicicleta,daí ele olhou pra mim: “O senhor que é o Zé Biano, é, eu vim aqui ver o oratório” eu falei, o oratório ta ai, ele falou: “Não , esse oratório, o senhor devia ser preso” falei: “por que ser preso?” “por que o senhor ta...” como se diz? Antiguidade, aquele oratório era antiguidade e eu destruí o patrimônio antigo, eu falei: “O oratório é meu , eu faço o que quiser, eu pinto, quebro, faço o que quiser.-Mas o senhor devia ser preso, o senhor esta destruindo o patrimônio da antiguidade,” eu disse, ó cidadão, eu sinto imensamente, então o senhor não leva o oratório,ele disse “não vou levar mesmo, se tivesse pintado de anil eu levava”, tudo bem, coisa da Breganha, Outra vez eu achei (?) achei uma moeda desse tamanho assim, escrito Dom Pedro, ela tinha um bagulinho assim de pendurar no pescoço, eu fui trabalhar, ai eu já trabalhava de pedreiro, eu fui trabalhar numa obra ai, dentro da taipa tava aquela medalha(?) ai eu tirei, cortei aquele ( cabecinho?) rimei assim com a serrinha, e tinha o Dom Pedro com o peito pra fora assim na medalha, ai chegou um homem do Rio e falou:”Quanto é essa moeda?”, eu fale 2 mi reis, ele meteu a mão no bolso e me deu 2 mil réis, naquele tampo era um dinheirão, ele levou, falou assim:”essa moeda aqui tem tantos séculos”, não era nada, era uma medalha que eu tinha achado, e limei, outra vez que eu peguei daquele botão que as mulheres usavam,era um botão escrito dólares, então eu peguei um botão daquele era vinte dólares, e levei lá na Breganha, chegou um cidadão lá e comprou os 20 dólares mesmo, naquele tempo valia parece que 2 mil réis, não era menos, muito menos, comprou muito abaixo do preço que era o dólar e pagou, mas eu sabia que era botão, porque ele tinha um coisa atrás eu tirei, ai quando foi um mês ele veio xingar eu, “eu enganei você não, você que comprou dólar muito mais barato do que é, você que queria tapear eu”, “Mas aquilo lá é botão”eu sei lá se era botão, são coisas da Breganha, porque a Breganha tem disso mesmo, é a mesma coisa que uma panela, a senhora compra uma panela furada, você não escuta o que eu to falando, você compra uma panela furada?Todos compram uma panela furada, porque a panela, todas as panela tem um buraco, ou não?Ou não tem?Tem? Porque? Porque como é que você vai fazer comida dentro dela, ela tem que ter u buraco pra entrar a comida e sair a comida, então eu vendo panela com buraco e ai esse buraco foi a comida, é a mesma coisa que tomar café, você toma café com língua?Todo mundo toma café com língua, não tira a língua pra tomar café, vamos pra frente então.

P – Dava muita briga seu Zé?

R – Nossa senhora, briga lá, eu briguei 12 vezes.

P/2- Como é que...

R – Por causa de lugar, porque você chega cedo, marcas o lugar, a pessoa chega, tira o pano que você põs e põe as coisas dele, as vezes saia ate facada, tiro, por causa de lugar, ali é terrível, aquele lugar é terrível, domingo passado eu socorri uma madame lá, chorando, domingo passado não, faz um mês, chorando porque o marido dela ia brigar la em cima porque o cara tomou o lugar dele, e era três, e ele ia buscar o revolver pra dar tiro nos outros, Falei:”Não senhor, vem vender aqui perto de mim.” Porque ali naquele pedacinho que eu vendo, ali eu idealizo, eu ponho, tem todos que são os amigos meus, mulheres que vendem perto de mim, na minha banca fica eu cunhado e mulher, tomando cerveja, conversando, eu conto muita piada, sou gozado.

P – Como é ali em volta da Breganha, lá nos anos 60 que tinha em volta da Breganha?

R – Em volta da Breganha tinha, um homem que vendia raiz, remédio, tinha bar, tinha carroceiro, que paravam em volta da Breganha, (?) porque a Breganha era naquela roda só, tinha arvore.Quando se foi o Miltom, parece que entrou arrancaram as arvore tudo pra por cano, acabou com as arvores tudo, então tinha uma tabuleta lá escrita “parque da barganha’’e aqui em cima na praça tinha também, “parque da barganha aos domingos” sumiu essa placa, sumiu a placa lá de baixo, sumiu tudo depois que foi o encanamento

P – Vinha muita gente de fora de Taubaté?

R – Vinha gente de fora, vinha estrangeiro, gente que vinha ver as coisas, depôs de uma certa época, a gente vendia as coisas pra estrangeiro, então vinha um cara junto, pra falar pra gente o que ele tava falando.Eu vendi muitos castiçais pra inglês, santo de madeira, santo de barro, vendi pra inglês, pra alemão, então vinha o interprete lá que falava”cothalalala”eu sei lá o que tava falando, o outro falava isso ,isso quanto que é, ele quer tanto...e levava as peças, faz uns seis meses, cinco meses, veio um cara do Japão, fazer uma entrevista na Breganha, e apareceu no Japão, eu não vi, mas o pessoal que trabalha lá telefonou pra dona Lilia, que vende lá em cima, que viu no Japão, a entrevista minha ate minha esposa tava junto, o japonês veio fazer entrevista na Breganha de Taubaté.

P – Vamos voltar pra Taubaté, o senhor viveu sua vida inteira aqui?

R – Não, a vida inteira não, fui criado em São Paulo, depois que eu vim pra cá.

P – Depois que o senhor entrou na Breganha, não trabalhou mais em outro lugar, dava pra viver da Breganha...

R – Não, eu trabalhava de pedreiro, vinha só no domingo, hoje que eu não trabalho mais porque estou aposentado, eu tocava serviço, eu pegava serviço e tocava serviço, até sábado, ai domingo eu ia no Breganha.Tinha vez que eu faltava no sábado pra ir nos ferro velho procurar peças, ia pra roça procurar peças, hoje eu já não trabalho mais porque estou aposentado.

P – Mas como o senhor procurava, onde você ia?

R – Nos ferro velhos, e nas roça, você vai na roça, leva uma varinha de pescar, eu ia de bicicleta, bate nas casas:”a senhora não tem panela ai de ferro, moinho essas coisas”a tem ta pinchado, quanto a senhora quer?500, ai comprava, limpava e trazia na Breganha, santo de madeira, santo de barro as vezes, achava na Santa Cruz, hoje não acha mais, então eu pesquisava a Santa Cruz, muito santo eu achei na Santa Cruz, se eu tenho minha casa hoje, graças a Santo que eu achei na Santa Cruz.

P –Que é a Santa Cruz?

R – Santa Cruz é aquelas coisinhas que tem na beira da estrada, quando morre uma pessoa eles faz uma cruz, ou faz uma capelinha, então os crente vem e coloca o santo bom lá, porque o crente quando fica crente não quer mais santo,daí ele coloca lá, ai passa uma cara que nem eu ,acha o santo e leva,porque se aparecer um garoto por lá ele quebra, dá estilingada no santo e quebra o santo, eu já vendi muito santo assim, e temo santo na minha casa, de madeira, de barro, paulistinha, tem o paulistinha, tem o barroco, tem muita coisa graças a deus.

P – E o senhor andava pela roça de bicicleta?

R – De bicicleta, mas eu era mais novo, agora não dá mais.

P – Mas o senhor ia longe?

R – Ia, eu ia até Caçapava, Tiriri, Tremembé, esse pedaço ai, de bicicleta, eu ia cedo, levava um sanduíche dentro da bolsa, e uma garrafa de café , e ia procurando, e as vezes achava, dava lucro, hoje não tem mais, pode andar por ai que é difícil, não tem mais.

P – E as pessoas não achavam estranho, o senhor querendo comprar coisa velha?

R – Acha, eu tenho uma vez que eu cheguei lá numa casa pra comprar um santo, vi o santo bom lá, e falei pra dona:”a senhora não vende essa santa?””eu quero a santa, eu quero a santa,”, ai eu sai e fui embora,porque as pessoas achavam que santo não deveria ser vendido,hoje não, hoje na cabeça do povo já ta mais preparada, então ate pra embrulhar a gente que um dia desses eu comprei um santo como pé de madeira, era um pé de madeira, pra ser de madeira, e vendi pra o doutor Sergio Badarossi, que é o promotor publico de Taubaté, era professor, e eu me dou muito com ele, então eu vendi pra ele, passou um mês ele trouxe de volta e disse:”Zé, esse santo aqui é de gesso” eu falei:”por que doutor?É madeira” ele falou:”Não, lá na roça, puseram um pau embaixo do santo, e era de gesso em cima, e eu comprei”e vendi pra ele, ai ele devolveu o santo e eu devolvi o dinheiro

P – E o senhor quando estava lá já começou a conhecer o que cada cliente quer, esse é o cliente que gosta de santo?

R – Isso ai não tem como, hoje tem, hoje eu sei, eu vendia antiguidade pra um senhor que era gerente de ajuda, então eu sabia, as vezes eu pegava peças dos outros em consiguinação e levava lá pra ele,então chegava lá e eu punha as peças em cima da mesa do escritório dele, eu sabia ate as peça que ele ia comprar, porque as peça que ele ia comprar ele punha na frente dele, as peça que ele ia regatear, pra oferecer menos ele punha do lado esquerdo, e as peças que ele não queria ele punha do lado direito, eu fui umas 15 vezes e comecei a aprender, agora eu sei como é que é, e eu vendi muito santo pra ele, vendi coisas antigas, vendi uma porção de coisas pra ele, ai ele foi embora, acabou o freguês.

P – E quando o senhor começou a aprender, isso vale tanto, essa é uma peça que vale mais?

R – Isso você aprende convivendo, convivendo, porque ninguém, eu quero crer, hoje tem antiquário, eles sabem, porque isso, porque aquilo, mas eles seguem a norma do livro, não é como eu por exemplo, que luto com aquilo, ele tem a teoria, mas ele não tem a pratica, e eu tenho a pratica, porque eu sei o que é melhor, quando não é, mas os antiquários costuma dizer que eles sabem tudo, agora eu aprendi assim, fui aprendendo, santo antão por exemplo, um santo muito difícil, então eu vendi, o homem que fez o livro, que é o doutor Edson,começou a brigar comigo por causa do são antão, por causa de 10 mil réis, ele brigou ,porque um monte de tempo pra comprar esse são antão, ele não queria dar mais de 50 e eu queria 50, ele queria dar 40, e ele vinha pra São Paulo, ia de carro e ia lá lutar comigo lá, eu morava lá no (parque aeroporto?) e ele ia lá:”Zé, que é isso rapaz...”,”Não tem nada, eu quero 50”3 meses ele fez isso, ai acabou dando 50,ele fez o livro de santo que eu tenho em casa,dois livro de santo, ou então vinha um outro senhor que era professor de piano, era Edson também, me deu o sabia, deu roupa pras minhas crianças,pra mim facilitar o santo, pra eu guardar o santo pra ele,hoje eu tenho uma pessoa que mora em São Jose dos Campos, parece que mora em Jacareí e trabalha em São Jose dos Campos, que vai na minha casa e deixa lá um punhado de dinheiro,cheque,pra receber 3 vezes, 4 vezes,eu levava santo em São Paulo, na rua (Vaiandava?), pro Matias, eu chegava lá entregava o santo pra ele, ele me dava cheque,uma vez ele me deu um cheque sem fundo,eu voltei lá buscar o santo,então, santo é muito procurado,mas definição de quem compra tal coisa, quem compra tal coisa não tem,tem uma mulher em São Luiz que compra muito panela, porque ela revende em São Luiz,domingo passado mesmo,vendi 3 panelas pra ela,mas ela compra muito barato, porque ela vai revender.

P – Que mais?santo ,panela, onde se encontra santo?Onde se encontra panela?

R – Agora eu não posso dizer...

P – Conta só um pouquinho...

R – As vezes encontra ai na Breganha mesmo, compra na Breganha, e as vezes encontra no ferro velho, mas hoje esta muito difícil porque todo mundo sabe,ninguém vende mais panela de ferro velho.

P – Mas o senhor não vai mais a casa das pessoas?

R – Não, hoje eu não vou mais, porque não tem mais como negociar com ninguém.

P – Nesse tempo que você ia a casa das pessoas, qual foram as coisas mais estranhas que o senhor chegou a comprar?

R – Que eu cheguei a comprar? Ah eu não vou falar não...

P – Fala,pode falar!

R – Uma vez eu comprei um negocio ai...que não convém, vamos pra frente.

P – Não! Fala!

R – (risos)

P – Pode falar não tem problema.

R – Eu comprei um santo com cara de (?) eu falei: um santo desse jeito?E a mulher falou:”Esse santo foi da minha bisavó”, e trouxe o santo pra casa, admirado que eu nunca vi um santo daquele jeito, uma cabeça puxada, uns olhos só no meio, ué que diabo de santo é esse?Ai eu fui ver lá em São Paulo e falei:”Que santo que é esse ai?”isso não é Santo, isso é, vou falar em? Isso é um caralho! Eu disse:”Ué,(risos)você quis que eu falasse eu disse...que com vergonha eu não ganho muito...

P – Ai o senhor comprou o santo?

R – Ele comprou o santo, falou:”eu vou levar esse santo,quanto você quer?” “20 mil réiz”, ele deu vinte mil réis,pra mim, eu nunca vi um santo daquele.

P – E onde você arrumou isso?

R – Lá na roça, comprei de uma mulher lá, a mulher disse que era santo, tava dentro do oratório,eu comprei, porque eu comprava tudo que aparecia,santo, panela, moinho, comprava o que aparecia,então eu comprei, disco eu comprava, tem mais uma coisa que aconteceu na Breganha. Eu fui entrevistado, pelo canal 7, pela Derci,então foi o Gaúcho e eu lá em São Paulo, o cara veio buscar eu, e ai levou, pagou a passagem,ta lá o cartãozinho dele lá, e levou pra São Paulo, então chegou lá eu não tinha camisa boa,eu tinha uma camisa no peito assim só que não tinha as costas,e eu meti um palito em cima da camisa e fui no domingo com o cara pra São Paulo,e foi um calorão que nem esse que ta aqui,e la no estúdio começou a esquentar, esquentar, esquentar, e eu:”Como é que eu vou tirar esse palito, eu não posso tirar esse palito.”E a Derci fazendo perguntas pra mim,como é que você faz pra trocar?Troca com dois velho e ai ela falou assim porque o gaúcho levou um chifre,ela falou:”Esse chifre do que é?”ai eu falei pra ela: “O que que(berna?) o nome depois que morre?” e ela falou:”não sei”é o boi,então pode ser um chifre de vaca porque a vaca e o boi troca o nome, no fim, na saída do auditório dela lá,eu fui sair, errei, era pra sair pra lá ,eu sai pra cá,passei uma vergonha(risos),então são casos da Breganha, outra vez eu comprei , eu trabalhar em um protético, e ele acho que ainda existe esse protético, não sei,lê era, par com ele era o rapaz da Caçula ali, o Rafael,então tava cheio de dentadura no meio da terra seca,ai eu peguei umas 4 dentaduras daquela e lavei bem lavadinho,e levei lá na Breganha, nesse tempo eu vendia lá em cima.

P –Faz muito tempo?

R – Muitos anos,levei lá em cima e pus lá na banca,chegou um cidadão, pegou abriu o trator, olhou, olhou.olhou,falou:”quanto é que é esse aqui?”, Falei:é quinhentos, réis”, ai, ele pegou e pôs na boca, deu certo e ele levou,eu admirei:”mas o homem é louco?”.

P – Mas por que o senhor pôs pra vender a dentadura?

R – Porque ia dar dinheiro, e tudo que dá dinheiro agente põe pra vender minha filha.

P – Qualquer coisa?

R – Qualquer coisa,hoje não vende esterco?Hoje não vende planta?Hoje não vende bosta de cavalo?Vende tudo hoje,até, não vê que a turma sai na rua pega o carrinho e põe um monte de lixo, depois é que na casa deles vai ver o que é bom, o que não é, então tudo que se vende se faz, se (felá?), eu vi lá a dentadura:”Eu vou levar lá na Breganha.” Mas quando eu ia saber que o cara ia por na boca e levar? Eu não sabia, coisa da Breganha , foi trocado lá um chinelo, com uma outra dentadura, tudo isso.

P – Fala um pouco dessas trocas esquisitas, tem outras?

R – As trocas esquisitas, é isso ai mesmo, as vezes a pessoa quer trocar, não quer voltar, as vezes volta, outra vez eu tava vendendo um castiçal, eu falei pro rapaz assim?”É cinco mil réis.”ai ele pegou a carteirinha, abriu a carteirinha que sai moeda assim, e eu embrulhei o castiçal, ele pegou fez assim, ai ele tirou 500 réis assim pra me dar:”Não é isso não, é 5 mil réis”ele não tava entendendo a quantidade, outro caso da Breganha, você quer saber as coisas da Breganha assim,então na Breganha acontece que uma vez chegou um cara pra mim:”você sabe porque sumiu o leite?” Falei: “Não”, tão pondo farinha no de, e mandioca no c, ai olhei falEI:”Esse cara ta com sacanagem...”daí eu falei assim:”Tudo bem.” Ai chegou uma mocinha comprando castiçal meu, ele voltou, eu falei:”Você cada coisa que você fala é bobeira não devia falar isso”, “Então faz tempo que tão pondo mandioca em você Zé?”porque meu nome é Zé, fatores da Breganha, outra vez eu comprei um santo dentro de um oratório, e o rapaz vendeu pra mim o santo dentro do oratório, ai a dona veio atrás, arrancar o oratório pro santo e tudo, na Breganha acontece isso, porque tem pessoas que vai lá, a titulo de fazer trapaça, venderam pra um homem um gravador, um toca fitas, venderam pro homem um toca fita, mostraram pro homem um toca fita, e colocaram 2 tijolo, ai na Breganha aconteceu isso, outra vez eu tava assim na pindura, não tinha dinheiro, daí eu falei com um rapaz assim, falei:”Olha, to uma merda que da gosto, pega o seu relógio com um cara ai depois nos toma dele”que jeito que faz?”Você paga o relógio, faz um xizinho nele, nós vende, mas vende pra um cara conhecido ai, ele vendeu, eu fui lá e falei que o relógio era meu, cara falou: como é que você sabe, o relógio tem um x.

P –O senhor falou de dinheiro, falou que sempre trabalhou de pedreiro e na Breganha. Não dava pra viver só da breganha?

R – Não.

P – Mas onde ganhava mais dinheiro?

R – No meu serviço, ate hoje não da pra viver só da Breganha, as vezes você vende bem, e as vezes não vende nada.

P – Nunca ninguém viveu da Breganha?

R – Eu acredito que pode ser que tenha gente que viva vendendo coisa na Breganha, mas eu não sei se tem, eu não posso dizer pra você que eu conheço quem viva da Breganha, porque todos tem, ou uma lojinha de roupa, ou tem um comercinho qualquer, vai vender lá, eu não ,eu sou aposentado, vendo na minha casa, e vendo na Breganha, porque hoje eu sou aposentado, agora eu tenho um carrinho velho, meu carrinho é velho, uma variante 70 e, mas dizer que tem gente que possa viver da Breganha, é muito difícil, é muito difícil porque a Breganha agora, ultimamente, não ta dando nada, a gente não vende quase nada, a gente vende muito pouco, então viver de lá é difícil, e eu trabalhava de pedreiro, pra fazer a manutenção da minha casa, e aquilo que eu ganhava lá era pra mistura.

P – O senhor deve ter construído muita coisa aqui em Taubaté.

R – Casas?Construí, casa eu construí, construí umas oito ou dez casas, construí uma igreja em Cunha, o parreral, e ajudei a fazer outra, não eu construí a do Jerico, igreja de crente,fui eu que construí, e fui encarregado do parreral que é uma igreja que tem 18 metros de torre, fui encarregado de lá, trabalhei lá muito tempo, la é gostoso de trabalhar fazia leilão pra turma lá.

P –Como assim?

R – Fazia leilão, vai a turma arruma as prenda, e a gente faz o leilão, quanto me dão por essa peça, quanto me dão?então eu fiz um abacaxi lá, sai por 6 mil réis, coisa difícil, porque um abacaxi lá custa um tostão, mas eu olhava pra área e falava:”fulano da 10, então você não chupa o abacaxi”ai o cara ficava enfezado: “eu dou 2 mil reis pra chupar o abacaxi, pra fulano então...”era aquele negocio, uma mulher e um homem, então eu suspendia o abacaxi, lá mesmo na área não tinha ninguém oferecendo nada , eu suspendia por minha conta, e o cara de (reba? ) aqui fora , foi aumentando, aumentando, chegou até o 100 mil reis no abacaxi.É porque tem esse negocio no leilão, (?)

P – Então o senhor ia pra Breganha, não pra aumentar a renda?

R – Não, eu ia pra Breganha pra, é um robie, nunca fui lá pensando : eu vou ganhar dinheiro pra viver, não tem como, porque é suspeito pensar isso, porque você não sabe se vai vender, porque tem muitas pessoas, hoje por exemplo tem muitas pessoas, tem roupa de 50 centavos a peça, então vem o pessoal, lá de Suzano, vem com o ônibus de Taubaté, e pede roupa, usada, mantimento, roupa usada, talvez, não sei se você já chegou a ver isso, ai eles chegam na casa, bate palma e pede roupa usada, ai eles pegam levam lá lavam, e levam na Breganha pra vender a 50 centavos a peça, então não sei, uma pessoa viver da Breganha, eu acho que é meio difícil.

P – Entendi, pra mim não tava claro isso, agora eu entendi.Agora me conta uma coisa, o senhor que viveu por aqui deve ter namorado muito por Taubaté...

R – Eu tive , aqui em Taubaté eu tive 12 mulher essa aqui que eu tenho é a décima terceira.

P –Pode falar de cada uma.

R – Não, de todas eu não teria o que falar, porque nem eu lembro mais, tem alguma que eu ficava 6 meses, 1 mês 2 mês, é mulher que passava, vem aqui, fica no quartinho, foi no quartinho, ali transava e tal, olhava se tava bonita e tal, você cai do cavalo, vai embora, então eu tive 13, a minha legitima eu vivi 14 anos.

P – E onde o senhor conheceu ela?

R – Conheci aqui no alto, aqui no cemitério, perto do cemitério, na rua Maitá, ai casei com a nova que trabalhava na juta, ai eu vivi 14 anos, eu tenho filho com 50 e poucos anos, eu tenho 76, depois essa ai é a décima terceira, que vive comigo a 53 anos, é uma mãe pra mim, é Jodicéia (?)

P – E onde o senhor conheceu ela?

R – Eu conheci ela quando ela era do outro marido, ela morava em são Paulo no largou do marido, do Carlos, o Carlos era acho que técnico da Portuguesa esportes, sei lá, então, ela veio embora pra cá, por causa da mãe, e eu fazia bailinho, ia nos bailinhos, eu tomava conta dos bailinhos, eu tinha escola de samba, então tocava surdao, daí cantava samba, e todo mundo cantava, escolinha de samba e tal, conheci ela, e ela foi com a cara do macacão porque o macacão era magrinho, não tinha barriga, agora que ta com barriga porque, eu era peitudo, então fiquei velho a barriga desceu, por isso que eu sou barrigudo, então(riso) resumo, conheci ela num baile, e peguei ela saiu a morar comigo, ia se separar do marido:”Não vou não.”ela tinha um cabelao comprido, eu falei:”Vai morar sim.”já pensando no cabelo dela pra vender lá na rua do gasômetro lê em São Paulo, que dava dinheiro (risos)ai começamos a morar junto, daqui a pouco ela não quis mais, eu era muito bravo, mais meloso, bebia umas pingas, apanhava, de olho preto:”Não quero mais!”Ai um dia ela largou de mim, eu subi no ônibus, com uma faca, (risos):”Você vai morar comigo!” e ela:”Não vou ,não vou!” eu disse ; “Vai!”e (panquei?) a faca(?) pra ver, já brigamos muito,mas agora estamos a 53 anos vivendo uma vida de, vou dizer pra você, nem tem comparação, de amor grande,.

P – E conta pra mim esse negocio de escola de samba, como era isso?

R – Isso, eu tinha uma escola de samba, então tina5, 6 pessoas que saiam comigo,u tocava pandeiro, o outro tocava surdo, o surdo era eu que tocava, o outro tocava cavaquinho, o outro tocava banjo, tamborim, então nos ia fazer baile nas casa, a pessoa queria fazer um baile lá:”Fala co o Zé Biano”, que meu apelido é Zé Biano, Zé (?) é muito difícil:”Zé vai lá”, daí nas roça a gente foi tocar lá na pedra Branca, pra adiante de Quiriri, Nós num temo igreja, fomo tocar lá, marco quadrilha, fazer quadrilha, fazer uma quadrilha lá vamos chamar o Zé Biano, que eu marco uma daquelas que vai 2 horas pra terminar, eles gostavam,então eu tinha muita cotação com o pessoal.

P – Como é que começou isso?

R – O que ?

P – Tocar?

R – Tocar, é fácil você chega num bailinho, começa a cantar, o outro vem começa a cantar: “Vamos fazer um bloquinho ai?”.

P – Quantos anos o senhor tinha?

R – Eu era novo, tinha ai 19, 20, 25 eu não posso falar pra você diretamente quantos anos eu tinha, isso é muito difícil.

P – E o que o senhor tocava?

R – Eu tocava surdo, surdo é um negociao grande assim.

P – E cantava também?

R –Cantava.

P – Canta ai um pouquinho.

R – Não, eu cantava bem, mas agora eu to rouco, não canto mais nada, canto a mulher em casa, quando chego lá dou uma cantada:”Minha linda como é que ta?”( risos)

P – E o senhor circulava pelo vale fazendo esses...

R – (risos) circulava o que?

P – Circulava por varias cidades do vale , como era?

R – Não, nós ia nesse pedaço ai, por exemplo lá. Ah sim! Fui tocar em São Paulo também, fui tocar na Vila (Masei?) jardim (Mais?), Vila (Masei?), fui fazer um carnaval lá, eu com a minha turminha, lá eles deram comida pra nós, ficamos lá uns 5 dias lá, com nossos instrumentos, fomos fazer um carnaval mesmo, lá pra turma da sede que tinha lá.

P – Como era Taubaté nesse período que o senhor era jovem? Onde o senhor morava?

R – Taubaté, a maioria dos tempo eu morei em cortiço, vila, a maioria dos tempo u morei em vila, não tinha casa.

P –Onde era?

R – Eu morei lá na Vila Nogueira, morei lá na rua Maita, numa vila, Morei na Via Nogueira numa vila, num quartinho,2 cômodos, 3 cômodos, morei na casa do Russo, que foi a primeira casa que eu morei alugada, depois não agüentei pagar o aluguel, tive que sair pagar o aluguel outra vez .

P – Como funcionava o cortiço?Eram varias famílias?

R - Cortiço é uma vila que, pra falar a verdade é uma merda(risos), porque você sai da porta, da trombada com a pessoa, é o pinico na porta, criança cagando na porta, é assim, é um cortiço, então tem 10 quartos numa carreira de casa, 10 quartos, mora 10 famílias, ou mora um homem sozinho, ou que mora sozinho e quer engavetar todo mundo,é assim.

P – E eram essas casas antigas de Taubaté? Onde era?

R – Antigas, casas antigas, lá na Vila Nogueira tinha, foi derrubado, lá na rua Maitá tinha, que tinha esse punhado de quartinho, hoje ainda tem alguns, mas já não é do jeito que era, é uma vila de casas, cheia de casinhas, as vezes tem uma que tem 3 cômodos, a outra tem 2 cômodos.

P – Como o sr fazia pra...O senhor tinha pouco dinheiro, onde o senhor comprava sua comida, a sua roupa?

R – Comprava minha roupa as vezes, na Breganha, e as vezes comprava as comida no mercado, ou nos armazém que era mais barato, porque a gente tinha que procurar o mais barato, isso era assim também, hoje o dinheiro ta fácil de ganhar, naquele tempo não era não, naquele tempo era muito difícil, mas apesar de tudo, o dinheiro valia muito, e hoje vale pouco,mas a gente procurava onde era mais barato, onde tinha promoção, como hoje faz assim também, aonde tem promoção de açúcar, a gente vai lá buscar o açúcar, promoção de carne a gente vai lá buscar a carne.

P/2- O senhor lembra o nome de algum armazém que o senhor comprava alimentos?

R – Eu lembro, o armazém lá da Vila Nogueira, era do seu Luiz, mas não lembro o nome, porque naquele tempo armazém era difícil ter nome, era(?), me lembro do seu Gabriel aqui na rua Maitá tinha também um armazém, chamava armazém Quitanda, a gente comprava lá, e mercadinho assim, como tem agora, quase não tinha, era tudo armazém mesmo, as vezes chegava no armazém o gato tava dormindo em cima do saco de feijão, saco de arroz, as vezes tinha carne, essa carne de porco, ai punha carne lá e você via o gato deitado perto da carne, era assim.

P – E no mercado, o senhor comprava?

R – No mercado era muito difícil, só carne, carne, peixe.

P – Por que?

R – Porque a gente la pra baixo aonde a gente morava, não vinha até o mercado, longe, então era mais fácil comprar por perto de casa.

P – Mas tinha no seu bairro?

R – Tinha, o armazém tinha as coisas que a gente queria, como hoje não precisa mais vir no mercado, os caminhões passam oferecendo, manga, não sei o que, então a gente compra na rua, vem no mercado pra comprar peixe, carne.

P – O que mudou na Breganha desde que o senhor entrou?

R – A Breganha mudou, deturparam a Breganha, hoje é barraca de antiguidade, de coisa novo, antigamente não, antigamente era tudo velho, agora a maioria é só peças novas, apesar que todo mundo tem que viver, mas deveria ser, as pessoas, que a gente tem uma carteirinha, as pessoas que vender antiguidade, deveria vender em um lugar, e as pessoas que vendem coisas novas deveriam vender em outro lugar.

P – Antes ninguém vendia coisa nova?

R – Não.

P – Quando começou a mudar isso?

R – Eu não posso precisar o tempo que começou, não tem condição, só os cara de lá mesmo, que vende no coisa novo que pode dizer,eu não imagino nem quando começou as coisa nova.

P – Mas, o que acontecia?Ninguém trazia coisa nova.

R – Não, ninguém vendia coisa nova naqueles tempo, ai começou a haver esse negocio de Paraguai, e isso que alastrou tudo, Paraguai, sei lá eu, essas coisa que alastrou as barraquinhas, porque aqui tem o camelodromo,mas a maioria vai lá vender na Breganha, eles sai do camelodromo e vai vender la na Breganha.

P – Nunca teve algum tipo de documento escrito, explicando as regras da Breganha?

R – Tem, (?) ta ai dentro do livro.

P –e o que tem?

R – (?), não pode vender motor, não pode vender coisa nova, mas vende do mesmo jeito, o fiscal vai lá olha, da uma olhada, passa batido.

P – Mas essas regras são antigas?

R – Não, depende dos prefeito que entram, os prefeito entram e diz que não vai poder vender mais nada na Breganha, a fiscalização vai lá no começo:”Não vai vender!”daqui a pouco, não sei o que acontece, começa a vender tudo de novo.

P – Antes não tinha nada?

R – Antes ninguém vendia nada novo, e ninguém comprava nada novo, pessoal não ia lá na Breganha pra comprar coisa novo, porque não tinha mesmo, tinha coisa velha, martelo velho, marreta velha, chinelo velho, sapato velho, panela velha, isso que tinha, não tinha coisa nova, hoje tem coisas novas.

P –As pessoas que iam na Breganha no começo, iam procurar coisas mais baratas é isso?

R – É lógico, todos que vão na Breganha vão procurar coisas mais em conta, tem pessoas que não pensam em conta também, domingo eu vendi dois castiçais, um pé de mármore(?) pra um cidadão de Cunha, foi na ultima hora, ate essa hora eu tinha feito 5 reais, e a minha banca é grande, quando você for lá você vai conhecer, minha banca vai daqui na porta, só castiçais, tacho, panela de ferro, bacia de cobre, castiçais bonitos, tem um moinho que tem uma gavetinha embaixo, tem outro moinho, tem um sinaleiro de trem desse tamanho, então eu tenho muita coisa, graças a deus, e domingo eu tava indo embora, guardando as coisas dentro da caixa, ai chegou um cidadão coma senhora dele, e ficou com a peça de mármore e dois castiçais, foi ai que quebrou o meu galho porque eu não tinha feito nada, tinha feito 5 mil réis, 5 mil réis não, 5reais.

P – Fala um pouco como você transportava as coisas.

R – De bicicleta, punha uma caixinha na bicicleta, e transportava, mas a gente não ia essa hora que vai agora, a gente ia a tarde, porque tinha muito lugar, não tinha briga, chegava lá e punha lá, não tem problema, como em Tremembé, como em Pinda é assim, tem lugar toda hora, depois começou a encher de gente,gente, gente, ai foi acontecendo isso, você chega mais tarde, você briga, a pessoa briga com a gente, toma lugar, mulher quase não tinha na Breganha, hoje tem, bastante mulher.

P – Por que não tinha mulher?

R – Não sei, não sei também explicar.

P – Você lembra qual foi a primeira mulher que tinha lá?

R – Não sei não, acho que era dona Lilá, aquela que sobe o morro lá, eu acho que é ela, não sei também, não posso dizer pra você que é ela, porque ela tem muito tempo de Breganha, ela tem quase a mesma idade minha, e tem muito tempo de Breganha, mas eu não sei se é ela a primeira mulher,porque agora as mulheres vão lá e vendem, vão de madrugada e vendem, brincam dão risada lá e tudo mais, vendem roupa, outras vende outra coisa, a maioria vende roupa, a maioria das mulheres vende roupa, naquele tempo não tinha mulher lá era muito difícil.

P – E a sua freguesia é mais homem ou mulher?

R – A minha freguesia é mulher e homem, graças a deus, não é freguesia, eu não tenho freguesia, são as pessoas que passam lá e compram, quem me dera se eu tivesse um freguês, que nem esse do santo que tem lá em Jacareí, quem me dera se eu tivesse um freguês que viesse todo domingo comprar meu.

P – O senhor olha pra pessoa e já sabe mais ou menos o que ela vai querer?

R – Não, não sei, sei essa mulher da panela, e algumas pessoas eu sei, mas não são todas, e na Breganha tem muita, muita, como diz? Oferta, por exemplo se eu tenho ume panela, eu quero vinte a pessoa quer 10, vende não, passa batido, eu tenho uma peça lá, 350 mil réis, eu tenho a peça lá:” Quer 100?”, então não dá pra vender,então tem isso, ai as vezes você fala pra ele, leva por10, fala que vou ali e já venho buscar, não volta mais, tem outros que manda guardar e não volta também, porque ele vai em outro lugar e compra mais barato.

P – Como o senhor calcula o preço de uma peça?

R –Isso é de acordo com a minha pessoa, porque se eu compro por cinco, eu preciso ganhar uns15, porque eu vou limpar, dar jato de areia na panela que nem falam, então eu vendo, se a panela é grande eu vendo por mais, porque as panelas que existem pra comprar, novas, mas não são iguais as velhas, que as velhas não tem aquela crosta dentro, as velhas é limpa, por causa da colher que passa lá dentro, e as novas tem uma crosta, então eu pego uma panela por 10, eu tenho que vender por 20, 25, porque não vende na primeira vez que leva, então fica, põe no carro leva, põe no carro leva, depois chega em casa descarrega.

P – E ai dá pra calcular?

R – É , as peças, não tem como, “isso aqui vale tanto!”Não tem, acho que ninguém pode dizer, que preço que você comprou?Você deve vender naquele preço, se não achar aquele preço, então não vou vender, eu guardo, e fica esperando, um dia acha.

P/2 – O senhor falou que ficava na rua brincando, o senhor estudava, ia a escola?

R – Eu estudei até o 4º ano.

P/2- Qual escola?

R – Foi na quarta parada, quando eu tinha uns 8 anos mais ou menos, estudei um pouco lá, depois vim pra cá, a minha mãe que acabou de ensinar eu, eu não fiquei muito tempo porque eu brigava muito na escola.

P –Você não gostava da escola?

R – Nunca gostei de escola.

P –Por que?

R – Porque, sei lá, eu não gostava, chegava na escola a professora, uma vez a professora fez eu ajoelhar em cima de 3 graos de milho, outra vez ela pos eu pra olhar na cadeira lá, e eu com a boca assim olhando a cadeira, ai eu sai da escola peguei a chave da escola tranquei a professora lá dentro e sai, ai ela mandou chamar minha mãe, e me expulsou da escola, são coisas que aconteceram, mas nunca gostei de escola não, a minha mãe que ensinou eu, hoje eu sei, aprendi, foi a minha mãe ensinou, eu sozinho.

P – E o serviço de pedreiro o senhor aprendeu com quem?

R – Aprendi trabalhando de servente, chifrando lata é que se chama, chifrar lata é o cara que carrega a lata, ele faz a massa, pega a lata põe nas costas e leva lá para o pedreiro, e joga tijolo, poe tijolo, então quando o pedreiro saia, eu pegava a colher dele, ia lá e começava a assentar tijolinho na parede, pegava o prumo prumava, foi indo, foi indo, um dia o pedreiro falou pra mim, o Clemente:”Por que você não trabalha de pedreiro?”, eu disse:”Ué, porque eu não sei.” Mas você ta assentando tijolo, fica no meio da parede o pedreiro lá faz o canto, e o outro o outro canto, daí você estica a linha lá de fiada em fiada e vem assentando tijolo,.”Então eu batia a colher, o cabo da colher assim,:”Não bata mais assim rapaz, vai sujar o que ta bom de massa, tem que bater aqui de lado a colher.” Ai eu fui indo, fui indo, fui aprendendo, depois eu mesmo me profissionalizei, e aprendi e comecei a fazer casa, ai eu já marcava casa, foi indo, graças a deus, teve uns tempo bom que eu peguei ate empregado, pra trabalhar comigo, foi uns tempo bom , agora já não tem isso, agora tem a concorrência, depois de um certo tempo também, teve a concorrência, você chegava a dar um orçamento, e vinha outro e fazia por menos.

P –E o bairro que o senhor morou aqui em Taubaté?

R- Eu morei na rua Maitá, morei na vila Nogueira, morei na Água Quente, morei no Parque Aeroporto.

P – E como era pra chegar desses bairros ate o centro de Taubaté?

R – Bicicleta, a pé, um bondão velho que tinha.

P –Fala do bonde.

R – Eu não posso falar porque eu quase não andava nele, não andava, andava de bicicleta, andava a pé.

P – Não gostava do bonde?

R – Não, um bondão, pererecão daquele, chacoalhando,(?)

P – Você não gostava?

R – Não, em São Paulo, quando eu morei em São Paulo, eu andava, eu morei em São Paulo também.

P – E de trem o senhor chegou a andar?

R – Andei bastante, subúrbio.

P O senhor fazia Taubaté – São Paulo?

R – Não, subúrbio,de Mogi a São Paulo.

P – E esses bairros possuíam comercio próprio?Não precisava vir pra cidade pra fazer compras?

R – Todos os bairros que eu morei, tinha os comércios, tinha os bares, os bares quando era bar tinha os alimentos de primeira necessidade, feijão, arroz, e é o que a gente comprava, feijão, arroz fubá, carne era mais difícil esmo, então, em todos os bairros tinha, quando tinha u bar o cara tinha um saco de feijão lá, um saco de arroz, um saco de fubá, um saco de açúcar, que era mais difícil saco de açúcar que nem tem agora, comprava um saco pesava...

P – E móvel?onde o senhor comprava?

R – Moveis?Ate hoje eu tenho um sofá que eu fiz de tijolo, porque os moveis eu comprei, a maioria dos meus moveis foi comprado em pechincha, nessas casas que vendem moveis usados, tem um guarda roupa lá que tem, ele divide em 6 ou 8 partes, um oratório, um tremendo de um guarda roupa assim, comprei numa pechincha, nas casas que vendem moveis usados, as primeiras vezes que eu tinha móvel, fazia de caixote de querosene, pregava duas perninhas no caixote de querosene, fazia mesa, era duro viu, roupa a gente punha dentro de um caixão, o rato ia lá, cagava na roupa, hoje diz que mata a gente a bosta do rato, naquele tempo não matava nada.

P – E o senhor teve um carro quando?

R – Isso foi um cidadão que ajudou eu, seu Nelson, deus que o ponha em bom lugar, já morreu,então eu queria ter um carro:”Porque você não compra?Não tenho dinheiro. – Eu vou ajudar você,” daí ele deu, comprou uma Variante pra mim, e eu ia pagando ele aos poucos, e fui pagando ele, e paguei e paguei até o final e graças a deus que eu tenho essa Variante.

P –Que ano que é?

R – 71

P –Que cor?

R – Branca, depois disso eu tive um fordão, depois disso eu comecei a estender mais, comprei um fordão 47 vendi, comprei um (Taurus?) vendi, e fui indo, só carro velho, 200 mil réis, 300 mil reis, sem licença, andava por ai sem carta, sem nada depois tirei carta.

P – Onde o senhor comprava esses carros?

R – Por ai, nos cantão ai, (risos)(?), ele deve ter um opala pra vender por 300 mil reis, e tem carro, em Quiriri, tem um Fiat, eu comprei um Fiat um dia desses, porque agora eu tenho a variante, graças a deus, faz um mês eu comprei um Fiat por 800 mil réis, Fiat 147, não é o Fiat Uno, então aqui em Quiriri, la naquele mocosão lá de baixo tem um Fiat por 100 mil réis, mas não tem licença não tem nada ,então tem, hoje tem, você vai no desmanche você compra carro a 300 mil reis, 200 mil reis.

P – Que mais o senhor quer falar da Breganha, tem mais alguma coisa que o senhor quer contar?Eu queria que o senhor falasse um pouco da Taubaté de hoje, o senhor falou que a Breganha mudou, Taubaté também deve...

R – A Taubaté de hoje, ta linda demais, esse prefeito que nos temos ai é batalhador, faz mesmo,então o que eu posso dizer da Taubaté de hoje é que ela é uma maravilha, a Taubaté de antigamente é muito diferente, a Taubaté de hoje tem recurso, muitos recursos, inclusive aonde eu moro, eu moro na Miguel Vieira Ferreira, lá era um barrão, um barrão, a primeira vez que o Ortiz entrou, ele prometeu pra mim que ele ia asfaltar lá, tem mais um negocio que eu tenho que falar, aquela avenida que nós vende, não sei se você sabe qual é a avenida, aquela avenida foi eu que pedi para o Ortiz na primeira gestão dele, e eu tenho testemunha, ele foi na minha casa pedir voto e eu disse pra ele:”Seu Ortiz, eu tenho tudo que eu quero, só que nós estamos brigando na Breganha, perdendo lugar, lá em cima um rapaz já deu tiro no outro, nós precisava de um espaço maior.” – “O que o senhor quer?” e eu falei:”Queria a avenida”, na primeira gestão dele, ele falou:”Vou dar a avenida pra você, dentro de 3 meses”, e eu falei: “Então o senhor vai lá Breganha pra o senhor confirmar se vai dar mesmo, porque político é mentiroso,:”Eu vou”, ai foi com o filho dele lá na Breganha, eu provo isso pra senhora, tem lá o, pra vocês, eu sou o velho, tem o Edinho, que vende perto de mim, é testemunha, tem um rapaz que naquele livro ele é...artista plástico, (?)esse rapaz é testemunha, ai o Ortiz falou perto do Edinho e perto desse rapaz que ia dar a avenida pra nós, passou 3 meses ele deu a avenida pra nos, na primeira eleição, aquela avenida que tem lá, ai nos passamos pro lado de cá, ai passou uns tempos, cismaram de canalizar aquilo, mandaram pro lado de lá, e encheram aquilo de pedra, então ficava vindo por cima das pedras, caia em cima das pedras, sofremos pra chuchu ali, mas como o Ortiz tinha dado a avenida pra nós, saímos lá de cima e viemos vender aqui na ponta, todo mundo falava:”Mas por que você vai sair de lá?”, “Eu pedi pro Ortiz a avenida, ele deu , eu tenho que vir aqui.” Acertamos lá, estava do lado de cá, agora estamos do lado de lá,mas já ouve briga lá que o pessoal da bomba não quer que venda na frente, tem sempre aqueles problemas,agora a prefeitura leva a tabuleta pra cercar, antigamente não levava, mas foi o Ortiz que deu a avenida pra nós lá, graças a deus que nós estamos lá na avenida.

P – Hoje a Breganha funciona em qual horário, qual dia?

R –A hora que você chegar.

P – Não é verdade.

R – Não vai funcionar a hora que você chegar, você chega, coloca o seu carro lá, que tem os pedacinhos que você pode colocar, a gente guarda lugar ali dos carros, e s amigos vai chegando e vai pondo, então a gente poe um baralho, e vai jogar(campre?)

P – O que?

R – Campre, é um jogo de 9 cartas.

P – Como é?

R – Você bate com a carta, ou mais, campre, ou como é que chamava?parece que tem outro nome, mas é campre mesmo, então você joga 50 centavos, 10 fichas 50 centavos, nós começa isso ali pra uma hora, vamos até 5 horas, 6 horas da manha, quando nós pode nós joga na bomba quando não pode joga em cima das minhas casas, ai você da 50 centavos pega 10 fichas, se você for na parada te dá 9 cartas, se você vê que as cartas ta boa você vai na parada, se você perder, perde 2 fichas, se você não quiser ir você perde uma ficha, é assim.

P – E fica jogando?

R – Nós fica jogando ate 5horas, 5 e meia, 6horas.

P –E não dorme?

R – Não, eu durmo lá em casa quando os vizinho não fazem barulho, ai durmo, agora quando o vizinho faz barulho fico acordado.

P – E ai de manha?

R – Meia noite,15 pra meia noite eu to saindo de casa.

P – Não, mas ai fica lá jogando...

R – Fico jogando, daí de manha cedo arregala ao olho assim lava os olhos, abre a banca lá e vai vende.Ai fica até uma hora, meio dia e meio, duas hora depende, antigamente ficava ate mais tarde pra tomar cerveja, ficava lá tomando cerveja ate 3 horas, fazia churrasco lá na Breganha, a gente fazia churrasco, comprava carne e fazia churrasco, uma festa, hoje a gente não ta mais fazendo isso,

P – E qual a lição de vida que o senhor tirou dos 50 anos que o senhor trabalhou na Breganha, que o senhor aprendeu?

R –Aprendi tudo, fazer amizade, laser,viver bem com a vida, porque a Breganha é o seguinte, você sempre conhece mais pessoas, por muito pouco que você conhece, você conhece 10 pessoas, todo domingo diferente, eu me dou com o delegado, me dou com prefeito, me dou com deputado, me dou com, enfim, me dou com doutor, passa lá :”Como é que ta?” Porque eu sou chato mesmo “você passou sábado com aloura ai, e hoje você ta com a morena”a mulher dele”aquela loura é empregada minha”,tudo bem, passa batido, um dia desses eu falei isso pro rapaz lá , a mulher deu nele e ele veio me falar:”Puta que o pariu, olha o que você arrumou pra mim, vou passar com o carro em cima de você,.”pode passar eu disse, você que vai ser burro, porque ele passou lá, passou com a morena e eu falei:”e aquela loira que tava com você, que que ela é sua?” A mulher dele raspou ele lá, mas era brincadeira, agora eu to parando um pouco com isso porque eu acho que ta afligindo (?), mas da Breganha,eu tenho tudo que eu acho que eu deveria ter, amizade, eu vou lá eu dou risada, desde a hora que eu chego eu dou risada, falo piada, conta besteira, nós fala bobagem,perto de mulher, perto de homem, nos não ta nem ai,o que eu tenho,a lição da Breganha é esse , eu aprendi a viver mais, por isso que eu tenho 76 anos, então cada vez eu estou vivendo mais, vivendo da Breganha, porque á uma satisfação pra mim ir na Breganha, mesmo que seja sacrifício, sair 15 pra meia noite de casa, minha mulher faz um café, um bolinho, um bolinho de chuva, qualquer coisa, e levo, daí chega cedo, toma aquele cafezinho, e to jogando, e passo o dia lá, chego em casa 2 horas, 3 horas, daí almoça deita na cama e tchau, é isso.

P –Tem mais alguma coisa que o senhor queria falar?

R – Não, a única coisa que eu queria falar, é que foi um prazer imenso conhecer as duas, o cidadão lá também, e estou imensamente satisfeito de ter vindo aqui, se vocês precisarem de mim eu estou as ordens.

P – Que o senhor achou de ter contado a sua vida aqui pra nós?

R – Eu não contei bem a minha vida né minha filha, eu contei uma parte só, porque se eu for contar minha vida vai demorar muito, nossa senhora não tem, eu tenho muitas brigas na minha vida, muitas coisas que eu fiz na minha vida, mas se eu for falar também é ruim , isso é que nem o confessionário do padre, você não pode falar tudo, pode contar uma historia pra você? O gato ensinou a onça a da pulo pra cima, de lado, ai a onça falou:”Eu vou dar um tapa nesse gato e vou matar ele.” Ai o gato pulou pra trás, ela falou:” Você não me ensinou esse!” ele falou:” Ai que ta!”Ta entendendo,então a gente não pode contar toda vida da gente porque daí é ruim , eu contei umas parte da minha vida que deu pra eu me lembrar e que deu pra mim contar, agora, tem muitas coisas também, que eu não lembro, eu tenho diversos processos também, que eu briguei muito, então tem processo por violência, eu fui preso 12 vezes.

P – Mas isso você tem que contar!

R – Mas ai é o tal negocio, eu freqüentava festa brigava, eu tinha que ir preso mesmo, mas aquele tempo, você ia preso hoje, amanha soltava, não tinha processo, não tinha negocio de escrever nada, hoje não, você vai ver lá 10 fichas, hoje agora não to indo não porque, mas essa mulher que vive comigo vivia andando atrás de advogado pra me socorrer, que eu aprontava, eu ia nos bailes aprontava, batia nos outros, eu era meio perverso, por isso que eu não ia na escola, (risos)que mais eu posso dizer, é isso mesmo, que mais , que eu tenho 76 anos, eu tenho 76 anos,(risos).

P – Eu acho que já ta jóia.

R – Eu tenho 11 filhos...

P – 11 filhos? O senhor não falou dos filhos!

R – É tenho 11 filhos tenho 2, 1 mecânico eletricista, Germano, tem o Oswaldo, que é mecânico também, tem o outro que é o Mario que é professor de Caratê e faz funilaria, e tem um que chama Asa Negra, José Henrique, magrinho da de certo correr, que eu expulsei ele da minha casa, e tenho um filho preso que é o Guigão, (?) foi vender droga, ficar rico, da primeira vez eu tirei, doutor Zelio tirou, da segunda vez ele foi outra vez então eu pedi lá , tem um homem perto de mim, que é o Carlos se você for lá você vai conhecer, que dava força pra mim, o meu filho tava lá em São Jose, tava ruim lá no(putinho?) falei pra ele , ele falou:” Me dá a identidade dele.” Ai eu dei e ele trouxe ele pra cá, e ele ta no p1, é um bruta dum negrão grande , mas é burro vai vender droga, e tem o outro que vende lá que é o Jose Henrique, magrinho, vende lá em cima, aquele é o asa negra, um bocudo que chama.

P –E não tem mulher?

R – Ele?

P – Não, não tem filha mulher?

R –Tem, tem uma moça, tem um punhado de filho mulher mas os outros que eu separei, eu não sei como é que ta, tem no São Paulo, agora tem uma aqui, que mora na Água Quente, é a Rosangela, Aparecida Rosangela, então eu creio que eu tenho filhos que considera eu, é o Oswaldo, e o Paulo que ta em são Paulo que é advogado, tenho um filho em são Paulo que é oculista e ele é advogado,tem umas filhas que ta em São Paulo,minha mulher primeira que eu sou separado mora no Parque do Aeroporto, e moro com essa a 50 e poços anos, e vivo bem, graças a deus,

P – E netos, o senhor tem?

R – Netos, que eu conheço tem 1,2, filho do Germano, filho do Mario, o Mario já tem filho também, então eu tenho bisneto, eu tenho bisneto, mas eu não conheço porque eu não vou la(?) eu não vou procurar meus filhos, meus filhos que me procurem, porque eu graças a deus to vivendo, porque que eu vou atras dos meus filhos, meus filhos que devem vir atras de mim, então é assim, é muito difícil, eu fui agora num churrasco na casa de um neto meu,porque ele insistiu, se não eu não ia então é assim, miha vida é essa, um livro aberto,

P – Maravilha, brigada seu Zé.

R – De nada.