Meu nome é Tarek Sarout. Eu nasci em 29 de novembro de 1949, em Beirute, no Líbano. Praticamente, só nasci lá, e depois eu vivi tudo fora. Morei uma parte na África, 12 anos, um ano na Espanha e o resto aqui. Hoje eu estou com 71 anos e formei uma família em São José do Rio Preto. Trabalho no comércio já faz um bom tempo. Quando meu pai veio pra cá, ele montou um comércio, e eu fui estudar fora. Quando voltei, peguei o lugar do meu pai e acabei vindo pra Rio Preto, já há 37 anos. Estou no Brasil há 53 anos.
Meu pai libanês chama Armand Dalfid Sarout. Minha mãe já é de pai libanês e mãe mineira, Ubaldina Faidarone Sarout. Ela foi morar uma parte da vida dela no Líbano e acabou vindo pra cá depois. Meu pai já a conhecia, e um dia eles ficaram noivos. Dez anos depois, ele veio aqui, casou e voltou pra África. Lá nós ficamos. E no Senegal, na época, Dakar era a capital da África Ocidental Francesa. Pegava o Marrocos, Tunísia, a Costa do Marfim, o Senegal, Mauritânia e Mali. As escolas, todas, eram em francês. Realmente, eu fui alfabetizado em francês. Aí meu pai achou que, pra gente ter uma educação árabe, tínhamos que ir para o Líbano, pra estudar. Não deu certo. Voltamos pro Senegal. Mudei de países e de continentes umas cinco ou seis vezes. (risos)
Meu pai era importador e exportador. Ele recebia mercadorias e mandava pro Mali, pra Mauritânia, pra Costa do Marfim. Ele só vendia no atacado. Eu herdei dele ser comerciante internacional, porque eu trabalho também no comércio exterior. Eu sou trader, negociador também. Faz uns 15 anos que eu trabalho com isso. Todos os países: Coréia do Sul, Austrália, o norte da África e o Golfo Arábico... eu fui pra todos eles, pra poder vender produto brasileiro. Se o vendedor for da língua deles, eles preferem, porque acreditam na palavra da gente. E quando tem algum problema, eles não ligam pra empresa, ligam direto pro trader. A...
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Meu nome é Tarek Sarout. Eu nasci em 29 de novembro de 1949, em Beirute, no Líbano. Praticamente, só nasci lá, e depois eu vivi tudo fora. Morei uma parte na África, 12 anos, um ano na Espanha e o resto aqui. Hoje eu estou com 71 anos e formei uma família em São José do Rio Preto. Trabalho no comércio já faz um bom tempo. Quando meu pai veio pra cá, ele montou um comércio, e eu fui estudar fora. Quando voltei, peguei o lugar do meu pai e acabei vindo pra Rio Preto, já há 37 anos. Estou no Brasil há 53 anos.
Meu pai libanês chama Armand Dalfid Sarout. Minha mãe já é de pai libanês e mãe mineira, Ubaldina Faidarone Sarout. Ela foi morar uma parte da vida dela no Líbano e acabou vindo pra cá depois. Meu pai já a conhecia, e um dia eles ficaram noivos. Dez anos depois, ele veio aqui, casou e voltou pra África. Lá nós ficamos. E no Senegal, na época, Dakar era a capital da África Ocidental Francesa. Pegava o Marrocos, Tunísia, a Costa do Marfim, o Senegal, Mauritânia e Mali. As escolas, todas, eram em francês. Realmente, eu fui alfabetizado em francês. Aí meu pai achou que, pra gente ter uma educação árabe, tínhamos que ir para o Líbano, pra estudar. Não deu certo. Voltamos pro Senegal. Mudei de países e de continentes umas cinco ou seis vezes. (risos)
Meu pai era importador e exportador. Ele recebia mercadorias e mandava pro Mali, pra Mauritânia, pra Costa do Marfim. Ele só vendia no atacado. Eu herdei dele ser comerciante internacional, porque eu trabalho também no comércio exterior. Eu sou trader, negociador também. Faz uns 15 anos que eu trabalho com isso. Todos os países: Coréia do Sul, Austrália, o norte da África e o Golfo Arábico... eu fui pra todos eles, pra poder vender produto brasileiro. Se o vendedor for da língua deles, eles preferem, porque acreditam na palavra da gente. E quando tem algum problema, eles não ligam pra empresa, ligam direto pro trader. A última viagem que eu fiz foi pro Irã
Mas quando eu cheguei ao Brasil, a palavra que eu sabia em português, quando nós saímos do Senegal, era: “Levanta do chão”. Só isso. Minha mãe falava: “Levanta do chão”. (risos) Mas aprendi todo o resto aqui e não foi muito difícil, não, por causa do francês. O francês me facilitou muito a conversa. Aqui em Rio Preto, eu estudei no Colégio São José, depois fui estudar no Colégio Andaló, no Alberto Andaló, depois eu fui pro Rio de Janeiro, pra faculdade, mas voltei porque meu pai não estava bem. Fiz aqui em Rio Preto, Administração de Empresas e Contabilidade. Mas hoje eu não gosto de sentar numa mesa pra trabalhar, gosto de vender produto no balcão.
E meu pai tinha um supermercado lá em Fronteira, onde só tem parente meu. Aí ele deixou o negócio pra mim, e eu toquei o supermercado durante muito tempo. A minha vinda aqui pra Rio Preto foi com o Salim, da Kiberama. Ele me convidou pra gente trabalhar junto, e eu vim aqui ser o sócio dele. Ficamos juntos 12 anos, trabalhamos juntos. Aí, alguma coisa não deu certo, mas na época eu já tinha comprado o café. Quando cheguei aqui em Rio Preto, em 1986, em 1987, eu comprei o Café. Quem montou o Café foi o Toninho Conte, mas não demorou muito, ele vendeu pra dois irmãos: um professor e o outro é um negociante. Aí eu comprei deles. E quando comprei, meu cunhado estava sem trabalho e veio trabalhar comigo. Então, separamos a sociedade e aí voltei pro Café.
Não é porque eu sou dono do Café Conte, mas o melhor café é o meu, mesmo. Você pode crer. Eu faço até questão, de vez em quando, quando um cliente vai tomar um café fora do meu, pra ele sentir a diferença do meu café e do café dos outros. Quando volta, ele fala: “Tarek, café mesmo é o seu”. Isso porque eu tenho um blend separado. Tem muita gente que fala que o meu café é o mais caro de Rio Preto. Ele é o mais caro de Rio Preto, porque o meu grão é diferente dos outros. E eu, como comerciante, do comércio exterior, então eu sei que o café tem um preço de commodity e um preço de gourmet. O gourmet vai de nota sete até nota dez. Esses são os cafés que não têm valor de commodity. E eu tenho o meu blend. Justamente, é por isso que eu tenho o café melhor. São mais de 40 anos. E o primeiro café do dia, quem toma sou eu, pra ver se está no paladar, na quentura, porque não é só o grão que importa, a moagem também é importante, a torra é importante, a temperatura é importante, a pressão da máquina é importante e o atendimento é o mais importante.
E não tem coisa melhor do que o grão brasileiro. Não existe grão melhor. Nós temos muita concorrência hoje. O Vietnã é concorrente nosso, o colombiano é concorrente nosso, mas o nosso é melhor. Nós temos mais qualidade de café e mais café do que todo o mundo. O vietnamita, por exemplo, tem uma escolha do grão feita tudo a mão. Nós temos o maquinário pra poder fazer isso. Mas mesmo assim, nós temos o melhor café.
Eu também busquei alternativas pra não ser igual aos outros. Coxinha e pastel, você acha em outros lugares. Eu já tenho diferente. Eu tenho aquela esfiha de zaatar. Esfiha de zaatar, de carne, de queijo. Isso tudo são coisas diferentes do que você encontra no mercado. Eu tenho aquele pão de queijo grande, tenho pequeno. De manhã, todo mundo gosta de comer bem. Então, o pão de queijo é maior. Mais tarde, o cara não quer comer, quer só degustar, então quer um pão de queijo menor.
Antes, era um tabu a mulher entrar sozinha num café. Hoje eu tenho várias coisas que pegam no paladar dela. Por exemplo: chantilly, capuccino, chocolate, chocotino, várias coisas pra chamar mais a atenção do gosto das senhoras.
Eu tenho três filhos. O mais velho, chamado Calfic, é comerciante, trabalha numa empresa de energia solar. A minha filha, a Mira, é biomédica, responsável hoje pelo Centro de Saúde de Olímpia. Ela tem dois filhos. E eu tenho o caçula, que trabalha numa empresa que faz loteamentos, é casado, só que ainda não tem filhos. E eu acho que a história tem que permanecer sempre na vida da gente, né? Eu acho que o legado também, que eu deixei junto com meus filhos e meus netos, e também essa conversa que eu tenho com vocês - se tiver a sorte de poder ouvi-la também – é muito boa pra mim, pois eu me sinto orgulhoso de saber que eles sabem alguma coisa do meu passado. Meu pai também era assim, ele sempre falava em deixar um legado pra família dele.
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