Entrevista de Wagner Rolins da Silva Alves
Entrevistado por Lucas Torigoe
Barcarena, 25 de setembro de 2020
Projeto Memória de Barcarena
Entrevista número HYD_HV013
Transcrita por Selma Paiva
P1: Wagner, qual que é o seu nome completo, onde o senhor nasceu, que dia que foi?
R1: Eu me chamo Wagner Rolins da Silva Alves.
Eu nasci na cidade de Caxias, estado do Maranhão, no dia 22 de fevereiro de 1970.
P1: Legal.
E qual que é o nome da tua mãe?
R1: Maria do Socorro da Silva Alves.
P1: Ela nasceu onde?
R1: Também na cidade de Caxias, estado do Maranhão.
P1: E os seus avós de parte de mãe? Qual que é o nome deles?
R1: O meu avô por parte de mãe chama-se Daniel Alves de Lima e Maria Raimunda Alves de Lima.
P1: O Daniel e a Maria Raimunda, seus avós, o senhor os conheceu?
R1: Conheci, ambos.
P1: Eles fazem o quê? O que eles faziam, na época?
R2: Agricultores, né? Em Caxias, estado do Maranhão.
Meu avô já é falecido há mais de trinta anos, mas a minha avó ainda é viva, hoje reside em Teresina, capital do Piauí.
P1: Eles plantavam o quê? Como é que era?
R1: Agricultores lá na região.
Plantavam abóbora, arroz, mandioca.
Era esse o tipo de cultivo lá, que eles plantavam.
P1: E eles, como é que eram? A sua vó, como é que o jeito deles?
R1: Você fala o tipo? O biotipo?
P1: É, não, o humor mesmo, assim.
Como é que eles eram pra você?
R1: Ah, ok.
Sempre foram pessoas bastante alegres.
Ah, o povo nordestino, de um modo geral, é um povo muito alegre e acolhedor, né? Então, eu.
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apesar de ter convivido muito pouco tempo com eles, eu ainda era criança, mas eu me lembro de algumas passagens, principalmente do meu avô.
Muito brincalhão, sempre sorridente.
Dificilmente você o observava de cara feia.
Já a vó, não.
Ela.
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((risos)) de vez em quando, ela era mais turrona do que ele.
Mas, enfim, os dois se completavam, né? E, enquanto conviveram juntos, serviram de exemplo pra família.
P1: Ela brigava mais com você?
R1: Não, comigo, não.
Como eu disse, a minha convivência com eles foi até os meus oito anos de idade, aproximadamente.
A partir daí, foi muito esporádico, levava bastante tempo pra gente se reencontrar.
Então, quando a gente se reencontrava, era só festa, não tinha briga.
((Riso))
P1: E o teu pai, qual que é o nome dele, mesmo?
R1: Meu pai, Urbano Rolins Alves.
P1: Ele é de onde?
R1: Meu pai maranhense também, da cidade de Santa Luzia.
P1: E os pais dele, qual que é o nome deles?
R1: Os pais deles também.
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na realidade, ele foi criado por um casal, né? Os pais mesmo, dele, eu não cheguei a conhecer.
Ele foi, tipo assim, a mãe faleceu e, antes de falecer, o passou pra um casal criar, né? Mas a mãe dele mesmo chamava-se dona Leonesa e o nome do pai, ‘seu’ Antônio.
P1: Você os conheceu?
R1: Não cheguei a conhecer.
Eu estou falando dos pais legítimos dele, né?
P1: E os pais adotivos?
R1: Os pais adotivos, era seu Raimundo, mas eu não cheguei a conhecer.
P1: O seu pai e a sua mãe, você sabe como é que eles se conheceram?
R1: Então, eu nunca entrei muito nesse detalhe com eles.
Né? Mas, naquela época, como era uma cidade de interior, muito pouco desenvolvida, a maioria das pessoas trabalhavam no cultivo lá, na plantação, né? Então, provavelmente, como meu pai trabalhava na região lá, devia trabalhar na época pra aqueles fazendeiros, né? E deve ter se conhecido nesse meio aí, da roça, da agricultura.
E, a partir daí, que eles passaram a conviver.
P1: E o senhor nasceu em Caxias?
R1: Eu nasci em Caxias, Maranhão.
P1: Ficou até quantos anos lá?
R1: Em Caxias, eu fiquei até com cinco anos de idade.
Depois, os meus avós resolveram se mudar de lá, dessa cidade e foram pra cidade de Barra do Corda, Maranhão, mais precisamente no interior, chamado Dois Irmãos.
E aí nós fomos juntos também, né? A minha mãe, o meu pai.
E continuaram a trabalhar lá no mesmo ramo, na época.
P1: As primeiras memórias que você tem na sua vida é em Caxias, é isso?
R1: Não.
Já é basicamente no Dois Irmãos, em Barra do Corda.
Porque em Caxias, eu ainda era muito pequeno.
Apesar de que eu, às vezes, conversando com a minha mãe, eu me lembro de coisas que ela até duvida.
Fala: “Não, meu filho”.
Eu falo: “Mas eu era assim, assim”.
Né? Como assim? Por exemplo, uma particularidade quando a gente morava em Caxias: a casa da minha vó era uma casa grande, de barro, onde morava toda a família, a minha avó, o meu avô, os meus tios, as minhas tias.
Porque, naquela época, eles se juntavam família e moravam na mesma casa.
Até porque, era difícil construir, né? Então, eu me lembro que em horário de almoço, minha vó fazia o almoço e servia pra todo mundo numa sala grande, colocava em cima de uma esteira.
Lá, eles chamam de esteira, que é feita de palha.
Então, ali, ela servia o alimento de todos.
Eu era criança e eu me lembro com detalhes isso aí.
E isso aí, provavelmente, eu tinha cinco anos.
Então, é quando começa a aparecer algumas lembranças desse período.
P1: Você lembra de você comendo?
R1: Sim, sim.
Dela servindo o almoço pra todo mundo.
Geralmente era peixe.
Porque, na época, era próximo de um rio, onde eles pescavam muito.
Então, grande parte da alimentação era peixe.
Então, a vó fazia aquele pirãozão, naquela panelona de barro e servia pra todo mundo.
Ali era uma festa.
P1: E aí vocês se mudaram.
Você se lembra da mudança, como é que foi?
R1: Não, com relação à questão da mudança, eu não me lembro.
Eu já.
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como eu te falei: tem alguns períodos que eu lembro, até mais antigos e períodos mais atuais eu não me lembro.
Por exemplo, essa época da questão da mudança, eu não lembro.
O que motivou essa mudança, eu não lembro.
Mas já lembro da gente morando lá em Barra do Corda, lá nessa localidade lá por nome Dois Irmãos, aonde meu avô comprou uma casa grande.
E meu pai, com o tempo, passou a trabalhar numa empresa que estava fazendo uma ferrovia.
Né? E aí ele montou um pequeno comércio, a minha mãe tomava de conta desse pequeno comércio e a gente era criança.
Aí foi quando a gente começou a ir pra escola.
Então, esses detalhes aí, eu consigo lembrar.
P1: Legal.
Então, vocês foram pra Dois Irmãos.
Como é que era a localidade lá?
R1: A localidade era um vilarejo da cidade de Barra do Corda.
Aproximadamente com umas dez, quinze residências, mas era cortado ao meio por uma rodovia estadual, onde tinha um grande fluxo de carro, de transporte de cargas.
E aí foi lá que nós vivemos até o ano de.
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final de 1977.
Até o final do ano de 1977.
A partir daí o meu pai, acredito eu que tinha até um pouco de espírito de cigano.
((Risos)) Inclusive, foi herdado pela minha irmã isso.
Falo sempre pra ela.
Ele se aventurou em ir embora de lá.
Deixou a minha mãe lá, com a minha irmã e me trouxe.
Nessa época, a gente veio parar na Rodovia Belém-Brasília, me lembro muito bem, no quilômetro quatorze, próximo de Aurora do Pará.
Já era município de Irituia.
Então, ali, ele conseguiu emprego numa fazenda.
Né? Arrumou local de morada e tudo.
Foi quando ele resolveu trazer a minha mãe e a minha irmã.
Isso no ano de 1978.
Início de 1978.
P1: Então, você ficou poucos anos lá na.
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R1: Na região, sim.
P1: Em Dois Irmãos, né?
R1: Muito pouco.
Acredito que um ano, basicamente.
P1: Em que ferrovia que ele arranjou emprego lá?
R1: Eu não lembro precisamente.
P1: Não tem problema.
R1: Não consigo lembrar.
P1: E ali você começou a ir na escola, em Dois Irmãos?
R1: Sim, sim.
Comecei a estudar lá.
Na época, chamava-se primeira série iniciada.
Na qual eu ainda tenho até o meu boletim, até hoje.
1977.
Foi lá que a gente começou a (risos) aprender alguma coisa.
P1: Você tem irmãos?
R1: Só uma irmã.
Só uma.
P1: Qual que é o nome dela?
R1: Arandilene.
P1: Então, é uma família pequena?
R1: Família pequena.
Na realidade, é meu pai e a minha mãe, eu e a minha irmã.
Apesar de que, quando meu pai conheceu a minha mãe, ela já tinha uma filha, né? De um primeiro relacionamento que teve e aí o esposo morreu.
Então, ela já tinha essa filha por nome Francisca, que hoje também é falecida.
Mas a nossa família em si, mesmo, de pai e mãe, filhos legítimos, eu e a minha irmã.
P1: Mas cresceu cinco pessoas juntas, então?
R1: Quatro pessoas.
P1: Quatro pessoas.
R1: Até porque, quando a gente veio embora do Maranhão pro Pará, essa filha da minha mãe ficou com a minha vó.
Então, foi a minha vó que a criou.
P1: Entendi.
E, lá em Dois Irmãos, então, como é que era o dia a dia? O seu pai ia trabalhar, você ficava sozinho?
R1: Como eu te falo: na época, eu tinha de seis pra sete anos, né? Então, o meu pai ia trabalhar, a minha mãe ficava, na época, tomando conta desse pequeno comércio.
E o nosso dia a dia era ir pra escola no horário da manhã, que eu me lembro muito bem.
A gente percorria mais ou menos um quilômetro naquela estrada de chão, de pé, até chegar à escola.
Depois retornava, sempre aquela quantidade de alunos, três ou quatro juntos.
E esse era o nosso dia a dia.
Depois, à tarde, era fazer o dever da escola, brincar.
Fazer atividade de criança.
Tomar banho no igarapé, que era bem próximo.
Esse era o nosso dia a dia lá.
P1: E o comércio era do que, da sua mãe?
R1: De gênero alimentício.
Era uma pequena.
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na época, chamava-se mercearia.
Vendia arroz.
Naquela época era tudo pesado, né? Arroz, açúcar, sabão.
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leite.
Mais ou menos assim.
P1: Entendi.
E aí chegou esse dia, então, um ano depois, seu pai falou que ia mudar.
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R1: Sim, sim.
Resolveu sair de lá, né? Em busca de novas aventuras.
Foi na época que ele veio pro Pará.
Assim, saiu de lá sem destino.
“Ah, eu vou pro Pará.
Segundo o que dizem, o Pará é um estado melhor de se viver e tal”.
E aí ele veio.
Já início de 1978.
P1: E por que ele levou só você e deixou a sua mãe e a sua irmã? Separou, assim.
R1: Não, não.
Na realidade, não foi uma separação.
Eles conciliaram.
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P1: Temporário, né?
R1: É.
Eles falaram assim: “Ó, eu vou.
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não vou te deixar com as duas crianças.
O Wagner já está um pouco maior, eu levo.
E depois que a gente estiver lá tudo estabilizado, com local, a gente vem buscar vocês”.
Então, foi isso.
Acredito até que esse período aí, entre ele vir e buscá-la, não demorou um mês, um mês e pouco.
P1: E aí ele arranjou trabalho numa fazenda?
R1: Sim, sim.
Na época, ele passou a ser empreiteiro.
Qual era a função de empreiteiro? Era aquela pessoa que era o responsável por fazer o desmatamento daquelas áreas.
Então, ele contratava mão de obra: os operadores de motosserra, os ajudantes e ele era o responsável por aquela obra, por aquele serviço.
Na época, eu me lembro muito bem, que era fazenda do Grupo Bradesco, às margens da Belém-Brasília.
Então, ele exercia essa função, essa atividade.
P1: Aí vocês, então, se uniram de novo, né?
R1: Sim, Sim.
Sim.
P1: Vocês ficaram morando onde, ali?
R1: Na época, nós.
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como eu disse a você: quando a gente veio do Maranhão pro Pará, nós fomos residir no quilômetro quatorze da Belém-Brasília, que ficava próximo da cidade Aurora do Pará, conhecida como Mãe do Rio.
Né? Mas o quilômetro quatorze pertencia ao município de Irituia.
Então, nós passamos lá um período de seis meses, mais ou menos.
Foi na época que surgiu a cidade de Tailândia, estado do Pará.
E aí migrou muita gente dessa região, lá, Irituia, Aurora do Pará, pra Tailândia.
E foi quando ele resolveu ir pra Tailândia.
Portanto, nós chegamos em Tailândia, eu me lembro, foi no mês de outubro de 1978.
A cidade tinha quatro, cinco casas, no máximo.
Era um pequeno vilarejo, né, que estava surgindo ali às margens da PA-150 e ele resolveu ir pra lá.
E, a partir daí, nós fomos morar em Tailândia.
E chegamos também sem ter onde ficar, mas como estava crescendo, foi doado pra gente através do (Iterra? 13:48), né, um lote, pra que a gente pudesse construir a nossa residência.
Isso já depois de alguns meses a gente lá.
Meu pai chegou e foi morar lá, alugado, até ele poder conseguir o lote e construir a casa.
A partir daí nós passamos a morar na nossa própria casa, em Tailândia.
Na Travessa Bragança.
Eu me lembro muito bem o nome da rua lá.
E.
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P1: Enquanto isso, ele trabalhando na.
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R1: Sim, sim.
Ele continuou trabalhando no mesmo ramo de atividade.
Até porque, o grande motivo de ter surgido a Vila de Tailândia - que, na época, ainda não era município - era exatamente a questão madeireira.
Naquela época, na cidade de Paragominas, a extração de madeira já estava quase que no fim.
Então, muita gente daquela região -Paragominas, Mãe do Rio, Irituia - migravam pra Tailândia, em busca de exploração de madeira.
Grandes fazendeiros, grandes latifundiários que compraram área lá.
Então, o serviço lá era grande, na questão de extração de madeira.
E foi aí que o meu pai continuou o trabalho dele dentro dessa função que ele exercia, por exemplo, lá no quilômetro quatorze, que era empreiteiro.
Aí naquela época chamava-se “empreiteiro de fazenda”.
Aqueles latifundiários grandes, donos de grandes áreas de terra, contratavam aquelas pessoas, pagavam aquelas pessoas, pra eles desmatarem determinada quantidade de terra.
E aí meu pai era um desses, exercia esse tipo de função, lá.
P1: E aí vocês se fixaram por mais tempo em Tailândia?
R: Sim.
Em Tailândia, como eu te falei: nós já chegamos em outubro de 1978 e permanecemos até o final do ano de 1982.
Né? E aí meu pai novamente, naquele espírito dele de aventureiro, começou a migrar pra questão de garimpo.
Então, na época, existia a Serra Pelada, que era dentro do município de Curionópolis.
Ele falou: “Nós vamos embora pra Curionópolis”.
Aí vendemos tudo que tinha em Tailândia e partimos pra Curionópolis, no início de 1983.
Portanto, lá em Curionópolis, nós moramos dois anos, 1983 e 1984 e o meu pai passou a trabalhar na área de garimpo.
Né? Extração de minério.
Que era justamente o polo.
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o fator principal das pessoas trabalharem na região lá.
Região de mineração.
Portanto, lá, nós passamos dois anos, em Curionópolis.
E depois ele falou: “Não, vamos sair de Curionópolis e vamos pra Parauapebas”.
Aí, em 1985, nós mudamos pra Parauapebas.
Apesar de serem cidades bem próximas, trinta e poucos quilômetros de distância, uma da outra.
Moramos em Parauapebas e ele continuou trabalhando no mesmo ramo, de garimpo.
Né? Passava três, quatro meses longe de casa.
Retornava, passava quinze, vinte dias em casa.
Depois voltava pra região de garimpo por mais esse período.
E aí nós permanecemos em Parauapebas até o início do ano de 1986.
Aonde, novamente, ele colocou na cabeça dele, falou: “Não, vamos voltar pra Tailândia”.
((Risos)) Como é que vai entender uma pessoa assim, né? E aí retornamos pra Tailândia.
No início de fevereiro de 1986.
Nessa época, eu havia terminado de concluir o meu curso de formação em torneiro mecânico no Senai, em Parauapebas.
Eu já tinha um estágio garantido na Cemig, que era uma empresa que prestava serviço pra Vale do Rio Doce em Parauapebas, mas eu tinha que permanecer lá dois anos, porque eu ainda era menor de idade, né? Aí ele falou assim: “Não, não.
Você não vai ficar dois anos aqui.
Nós vamos voltar pra Tailândia”.
E ele simplesmente, em um dia, chegou numa manhã em casa e falou: “Arruma as coisas, que nós estamos indo embora pra Tailândia.
O caminhão está na porta, pra levar”.
E aí minha mãe tinha que acompanhá-lo, de qualquer forma.
E nós arrumamos as coisas, colocamos no caminhão e nos mandamos, retornamos pra Tailândia.
Né? Chegamos em Tailândia no início de 1986, acredito fevereiro mais ou menos e ele, novamente, voltou a trabalhar na mesma atividade madeireira, onde ele pegou.
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como ele era muito conhecido, uma pessoa honesta, geralmente trabalhava, né, um cara muito honesto, tinha muito conhecimento, ele pegou um serviço numa fazenda lá pra fazer o desmatamento de uma área muito grande lá.
E ele começou a fazer esse serviço.
Esse serviço tinha uma durabilidade de praticamente um ano.
Era uma área muito grande.
Mas, infelizmente, no mês de agosto do ano de 1986, no início do mês de agosto, ele sofreu um acidente lá, no local onde ele trabalhava na época, né? Ele foi picado por uma cobra.
Então, o local onde ele estava trabalhando, era quatro quilômetros de distância pra pista, onde passavam os carros.
E ele simplesmente amarrou a perna e falou: “Estou indo pra cidade”.
E ele percorreu esses quatro quilômetros a pé, até chegar às margens da PA-150, pra pegar um veículo, pra vir pra Vila de Tailândia, né? Que ainda não era cidade.
Né? Ainda era vila.
E o veneno, né, do animal, passou pro sangue dele.
E a cidade com muito pouco recurso.
E aí, naquela época, levava pra benzer e fazia aquele negócio, né? E ele começou assim, tipo, melhorar.
Perna inchou muito.
E ele ficou em casa, fazendo remédio caseiro e tudo mais.
Acho que nem aquele soro, né, pra combater o veneno, ele chegou a tomar, na época.
E aí foi pra casa.
E me lembro muito bem que foi numa manhã, onde ele falou pra mim assim: “Wagner, vamos no seu Antônio Chicó”, que era um grande comerciante lá, onde ele fazia as compras pra levar lá pra fazenda.
“A gente precisa fazer uma compras pra levar pro pessoal lá”.
Ele já estava se sentindo bem.
E nós levantamos e fomos andando.
Mais ou menos na metade desse trajeto, já dentro, né, da Vila de Tailândia, ele começou a passar mal, sentir falta de ar.
Eu cheguei a segurá-lo, tudo.
Aí: “O que foi? O teu pai está passando mal?”.
E tudo.
“Foi”.
Ele querendo desfalecer.
Foi aí que nós o levamos pro hospital.
E, de lá, disseram: “Ó, a gente vai ter que transferi-lo daqui”.
Aí o transferiram pro Hospital Regional de Abaetetuba, aqui na cidade de Abaetetuba.
E seis dias depois, ele veio a óbito.
É.
Então, ele faleceu no dia nove de agosto de 1986.
Na época, eu fiquei com dezesseis anos, a minha irmã mais nova com quatorze.
Nós éramos totalmente dependentes dele, em tudo.
Financeiramente.
A minha mãe, infelizmente, não tinha nenhuma escolaridade, nós menores de idade, não tinha emprego.
E aí foi quando a gente passou muita necessidade, nesse período, né? Convivemos lá mais por ajuda das pessoas, porque, ele, como eu te falei: era daquele tipo de cara que ele estava hoje em um lugar, amanhã já não queria estar mais.
Tinha época que ele tinha tudo e tinha época que não tinha nada.
Aquela pessoa que tinha vício.
Né? Qual que era o vício do meu pai? Jogo e mulher.
Então, sempre ele manteve a minha mãe, né, como esposa, mas sempre tinha ali algumas amantes por fora, ((riso)) que contribuíam pra ele gastar o que ele arrumava.
Então, tinha época que a gente tinha casa, tinha carro e tinha época que ele acabava com tudo.
Coincidentemente, quando ele resolveu acabar com tudo, foi o período que ele perdeu a vida.
E, a partir daí, nós passamos a viver de ajuda de amigos.
Não ficamos sequer tendo onde morar.
Foi quando o meu pai faleceu.
Aí, a partir daí, eu já estava completando praticamente dezessete anos de idade, foi quando eu consegui um trabalho, em um supermercado por nome “Supermercado Baratão”, que também era um dos comércios onde ele fazia as compras.
Né? E a senhora, dona do supermercado, por conhecer a nossa história, chamou a minha mãe e perguntou por mim.
Ela disse: “Olha, o Wagner está lá no sítio lá do seu Valter Palhares”.
Foi onde a gente ficou morando, no sítio.
“Tá.
Então, a senhora permite ele vir aqui comigo, pra ele trabalhar?” “Não, sem problema.
Se a senhora puder ajudar alguma coisa aí, em alguma coisa aí”.
Aí foi quando ela me chamou e falou: “Ó, eu tenho um serviço aqui pra você fazer, que é justamente embalar açúcar, pesar açúcar, pesar feijão, pesar arroz”.
Porque, nessa época, não vinha nada empacotado.
Né? Nos anos 1980.
Início dos anos 1980.
Aí nós estamos falando de 1986 pra 1987.
Então, esse passou a ser o meu trabalho lá.
Quando eu não tinha nada pra empacotar, eu fazia entrega das compras.
Né? Os clientes vinham até o supermercado, compravam, faziam as suas compras, eu colocava numa cargueira e ia entregar.
Então, eu passei a trabalhar com eles lá, mais ou menos início de 1987 e permaneci trabalhando com eles até o início de 1989.
P1: Em Tailândia?
R1: Tailândia.
Foi quando, na época, eu resolvi vir embora de Tailândia.
Algumas pessoas diziam assim: “Pô, Wagner, você tem um porte, você tem uma altura.
Você não tem vontade de ser militar? E tal”.
Falei: “Ah, vamos ver”.
E aí foi a época que eu vim pra Belém, me alistei na Força Aérea Brasileira, o Primeiro Comando Aéreo Regional e fiz todos os testes de seleção e fui, né, habilitado a servir.
Então, eu deixei a família em Tailândia, a minha mãe e a minha irmã e vim embora pra Belém, no início de 1989.
P1: Agora, antes de você entrar nessa parte, queria só voltar um pouquinho.
Então, o que eu ia perguntar, Wagner, nesse período todo, como é que foi.
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você olha, assim, hoje você.
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como é que foi crescer nessa vida meio cigana, quando criança, sabe? Brincar ou não.
Como é que era?
R1: Eu vou te responder, um minuto.
Pode perguntar.
P1: Eu queria te perguntar mais isso, assim, né? Você contando, você lembrando, como é que era isso, assim, na perspectiva de criança, crescer, como é que foi?
R1: Então, a vida sempre foi de muita dificuldade, né? Até porque, os meus pais não podiam oferecer pra gente muita coisa.
Sempre moramos em cidade muito pouco desenvolvidas.
Coincidentemente, todas essas cidades que eu acabei de citar, eram cidades que estavam no seu início.
Né? Então, saindo do Maranhão, vindo pro quilômetro quatorze, partindo pra Tailândia, depois Curionópolis, Parauapebas e retornando pra Tailândia.
Nesse período aí, ainda encontramos cidades em início.
Algumas nem eram cidades ainda.
Como, por exemplo, Tailândia não era cidade, era apenas uma vila.
E a nossa infância, era uma infância muito difícil.
Por quê? Você só tinha que estudar e vir pra casa.
A nossa casa não tinha esse conforto todo.
Então, o nosso passatempo, o que que era? Estudar e, à tarde, como não tinha um serviço pra fazer, eu era homem, eu gostava de brincar bola.
Na época, gostava de passarinhar no mato, pescar, tomar banho de rio, principalmente em Tailândia, né? Rio Tailândia.
Então, isso aí eu tenho muito gravado na minha memória.
Então, a minha infância foi, basicamente, em cima disso aí.
A gente não tinha muitas coisas a fazer.
Coincidentemente, quando a gente retornou de Parauapebas pra Tailândia, na época, em Parauapebas, eu estava fazendo o primeiro ano do segundo grau.
Quando nós retornamos pra Tailândia, a cidade só oferecia até a oitava série pros alunos.
Então, eu passei 1987, 1988 e 1989, três anos da minha vida, sem fazer nada, sem ao menos poder estudar.
Porque a cidade, como eu te falei, não tinha uma escola a nível de segundo grau.
Só tinha até oitava série.
Colégio Professor Gabriel Lage da Silva.
Lá, só ministrava até a oitava série.
Então, eu passei 1987, 1988, 1989, só trabalhando.
E quando, daí, eu completei os meus dezenove anos de idade, foi quando eu resolvi exatamente vir pra Belém, buscar um grande centro e tentar uma oportunidade de vida melhor na vida militar.
P1: E como é que você pode dizer que era a relação sua com a sua mãe?
R1: A relação minha com a minha mãe sempre foi a melhor possível, porque, a partir do momento que o meu.
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principalmente quando o meu pai faleceu, agosto de 1986, a minha mãe passou a ser.
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a fazer o papel de pai e de mãe pra gente.
Então, como eu te falei: nós ficamos passando uma situação muito difícil quando ele morreu.
E a minha mãe, pra não deixar faltar nada pra gente, foi trabalhar de empregada doméstica na residência das pessoas.
Fazia diária.
Né? Nós passamos a morar nesse sítio lá, da família Palhares.
Depois, a gente resolveu alugar uma casinha.
Eu me lembro que era uma casinha pequena de barro e a minha mãe saía pra trabalhar na cozinha de um senhor por nome Jamil Paganini.
Um senhor que mexia com a área de madeira lá.
E ela saía pela manhã.
Eu acordava muito cedo pra ir comprar o pão.
Ela fazia o nosso café, deixava pronto e saía cedo, seis da manhã, pra trabalhar.
Então, a gente fazia o nosso alimento, que era o café da manhã, aquele cafezinho preto, um pouquinho de leite e o pão.
E, a partir daí, nós ficávamos aguardando o retorno dela do trabalho.
Né? Eu me lembro muito bem que era uma casinha de barro pequena, tinha uma porta e tinha uma janela e, de vez em quando, a minha irmã dizia: “Wagner, vai ver se a mamãe já está vindo”.
((Risos)) E eu metia a cara pela janela e olhava.
E ainda não via.
E aquele sol de meio-dia, uma hora e a gente já naquele momento.
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fome, né? Mas tinha que aguardar ela vir do trabalho.
Então, quando ela vinha do trabalho, depois que ela servia o almoço, onde ela trabalhava pra todo mundo, depois que ela lavava a louça, deixava tudo organizado, é que ela era liberada pra vir embora.
E era nesse momento que ela retornava pra casa, uma e meia pra duas horas, onde ela trazia - me lembro como se fosse hoje - naquelas marmitex, o nosso alimento.
Que ali servia de almoço e de jantar.
Então, quer dizer, a gente tinha que dar valor a uma mulher dessa, né? Em nenhum momento ela quis, por um direito dela mesmo, ter um outro relacionamento, nunca teve.
Foi só o meu pai mesmo.
E ela sempre diz que homem, pra ela, era aquele que Deus deu e Deus tirou e ela permanece até hoje.
Hoje, a minha mãe mora comigo.
Né? Hoje, eu estou podendo, assim, retribuir um pouquinho daquilo que ela fez por a gente, naquele período.
Mas foi uma vida difícil, uma infância dolorida.
Entendeu? Distante da família, porque a família ficou toda pro Maranhão.
Naquela época, tínhamos uma dificuldade muito grande de ter contatos.
Até por telefone, por carta, era difícil, né? Mas a gente foi vencendo as dificuldades.
Algumas portas foram se abrindo.
A minha infância se resume a isso aí.
P1: E com a tua irmã, como é que era, então?
R1: Eu posso dizer a você o seguinte: o meu relacionamento com a minha irmã sempre foi o do melhor possível enquanto nós convivemos juntos.
Depois que eu resolvi sair de casa, pra tentar a vida na capital, que a minha irmã ficou com a minha mãe, ela já começou também a ficar mocinha, começou a ter alguns relacionamentos e aí foi mudando um pouquinho.
Porque, coincidentemente, a minha irmã puxou, o gênero dela, tudo, para o meu pai.
Tanto que hoje, se eu fosse aqui contar quantas mudanças a minha irmã já fez, ela teria o dobro da do meu pai.
Parece que tudo aquilo que o meu pai tinha dentro dele, aquela pessoa que não procurava se fixar num lugar e dizer: “Olha, eu vou aguardar as coisas melhorarem aqui”.
Não.
Ele pulava de uma cidade pra outra.
A minha irmã herdou tudo isso dele.
E aí foi tendo alguns relacionamentos também.
Hoje, ela tem três filhos.
Cada um desses filhos de uma pessoa diferente.
E passou a ser uma pessoa um pouco mais difícil de conviver.
Talvez porque também criou os filhos sozinha, com muita dificuldade.
Ficou viúva cedo e ela sempre fez o papel de mãe e de pai pros filhos.
É aquela pessoa que pouco quer ouvir.
Né? E aí a gente passou a ter um contato diminuto.
Muito esporádico.
Até porque, eu passei a morar distante e ela continuou morando com a minha mãe, né? Permaneceram em Tailândia até o ano de 1994.
Foi na época, em 1994, quando ela.
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infelizmente, tiraram a vida do esposo dela lá, em Tailândia mesmo.
E foi aí que ela resolveu mudar pra Barcarena.
Pra morar especificadamente na Vila do Conde.
E aí ela veio pra Barcarena - agora estou falando da minha irmã, não de mim - em 1994.
Passou um período em Barcarena.
Depois, mudou-se pra Vitória do Jari.
Passou um período em Vitória do Jari.
Veio pra Belém, morou um ano e meio, dois anos em Belém.
Depois retornou pra Vitória do Jari novamente.
Passou mais um bom período lá.
Depois veio pra Barcarena novamente, morar no mesmo lugar, no mesmo bairro, Vila do Conde.
Foi quando, coincidentemente, no ano 2008, eu resolvi, como a minha mãe já morava aqui, eu trabalhava numa empresa em Belém e todos nós temos aquele sonho, né? Fala: “Poxa, eu quero ter o meu negócio.
Quero tentar montar.
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tentar ganhar a vida por conta própria”.
E foi na época que eu saí da empresa que eu trabalhava já há cinco anos.
Eu falei: “Eu vou tentar ir pra Barcarena”.
Bem próximo de Belém.
Eu vinha aqui mais só pra visitar a minha mãe e voltava.
Foi justamente nesse período que nós passamos a morar novamente na mesma cidade e ficamos mais próximos.
Né? Mas nós passamos de 1994 até 2008, cada um em cantos diferentes.
Então, os nossos contatos, mesmo sendo irmãos, eram muito poucos.
Que algumas coisas que ela procurava fazer, ela não queria que eu soubesse, justamente pra que eu não pudesse intervir.
E aí houve esse distanciamento.
E aí, em 2018, a gente se reencontrou, morando na mesma cidade e eu fiz questão que a gente passasse a morar próximos.
Aí foi quando nós passamos a morar no Novo Horizonte.
P1: 2018?
R1: Perdão.
2008.
P1: 2008 pra cá.
R1: 2008.
P1: Tá.
E com o teu pai também, como é que era a relação?
R1: Olha, com o meu pai, a nossa relação sempre foi a melhor possível.
Apesar de que, na época, existia muito respeito da nossa parte pra com o nosso pai, mas era um respeito assim, meio imposto por ele.
Sabe? Aquele cidadão que.
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pelos exemplos que ele dava, não merecia a gente ter respeito por ele.
Quando eu falo de exemplo, não é que ele fosse um bandido.
Nada disso.
Sempre foi muito trabalhador.
Mas quando eu digo exemplo de pai, dentro de casa, de marido.
Como eu citei anteriormente, sempre tinha algumas coisas por fora.
Então, esse tipo de coisa causa, né, danos no relacionamento.
Então, assim, aquela figura de pai, de exemplo, de trabalhador, era o melhor possível.
Mas aquele.
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não era aquele pai carinhoso, não era aquele pai que dava bons exemplos, tanto pra minha irmã, quanto pra mim.
Nisso aí, ele pecava muito.
E nós não tínhamos, assim, um diálogo muito aberto.
Porque, pra ele era aquilo e não se questionava mais.
Acho que até eu herdei um pouquinho disso dele, ((risos)) desse erro dele, que eu tento de vez em quando me corrigir, mas eu sinto que, aqui e acolá, eu também sou meio.
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algumas pessoas que me conhecem mais, dizem que eu sou radical.
P1: Por que você acha que ele tinha essa coisa de ir pro garimpo e não sei o quê.
O que explica isso, você acha?
R1: Veja bem, eu acho que isso aí, talvez, o sentido, uma explicação pra esse tipo de atitude dele, é.
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o que se explica, talvez, tenha sido a criação.
Como eu coloquei: ele perdeu a mãe muito novo.
Foi criado por uma família que não eram os pais biológicos, né? Eu não acompanhei, eu não sei que tipo de tratamento essa família dispensava pra ele.
Porque essa família também tinha outros filhos.
Ele passou a ser mais um.
E aí eu acho que ele resolveu, falou: “Não, eu vou sair.
Vou procurar o mundo.
Vou tentar minha vida”.
E ele, por pouco conhecimento, a nível de escolaridade, tentou buscar, dentro dessas duas atividades, aquela que pudesse melhor ajudá-lo.
Mas como foi um cara criado, no meu entendimento, sem muitos bons exemplos, sem base familiar, quando ele conquistava alguma coisa, ia embora pelo ralo.
Então, a explicação que eu acho, que não houve, por parte dos familiares dele, aquele apoio.
Sempre foi um cara no mundo, sem contato com a família.
A gente não via o meu pai falar no pai dele, na mãe dele, no irmão.
Tipo, ele procurou se isolar.
No meu entendimento, o que o levou a fazer isso, foi justamente por se sentir, de repente: “De repente, eu não sou o filho legítimo, eu me sinto um pouco discriminado por isso.
Então, eu vou abandonar esse povo aqui e vou tentar a minha vida em outro lugar.
Não vou dar satisfações pra ele, não vou dar.
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não vou dizer onde eu estou”.
Então, acho que isso aí o levou a não ter um destino fixo daquilo que ele queria pra vida dele, né? Mais ou menos isso.
P1: Mas você falou que você fez técnico de torneiro? Foi isso?
R1: É.
Eu sou torneiro mecânico, formado pelo Senai.
Né? E agora falando da minha vida: eu concluí com dezesseis anos de idade, lá em Parauapebas.
Início de 1986, eu terminei o curso.
Quase.
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janeiro, mais ou menos, de 1986.
Foi na época que a gente veio pra Tailândia e aí passamos esses três anos lá, o meu pai faleceu e tudo.
Não tinha como estudar em Tailândia.
E aí foi quando surgiu essa oportunidade de vir pra Belém.
Tá, mas eles exigiam uma escolaridade mínima, que era o primeiro grau.
Na época, eu tinha esse primeiro grau, né? E aí eu fiz todos os testes de seleção.
Eram muitas pessoas pra ingressar na época, mas mesmo assim, eu consegui.
E aí eu entrei na Força Aérea, no ano de 1989.
P1: E você sempre quis isso?
R1: Não.
P1: O que você queria ser?
R1: Na realidade, pra te falar a verdade, eu não tinha muito sentido do que eu queria ser.
Talvez até por falta de incentivo do meu pai.
Tipo assim: “Meu filho, eu quero que você cresça e que você seja isso, aquilo”.
Eu não ouvia isso por parte do meu pai.
Né? Então, eu também cresci meio sem.
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((risos)) igual ele: sem rumo na vida.
A vida que foi me colocando em algumas posições e eu fui.
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então, foi quando eu vim.
Tive a oportunidade, através de alguns familiares lá de Tailândia, amigo do meu pai.
Falava: “Pô, o teu filho tem estatura, teu filho é um cara grande.
Teu filho tem que ser militar.
Ele tem todo um jeitão”.
E aí foi quando eu me encaixei.
A partir daí eu mudei um pouquinho.
Né? A vida militar me ensinou muito, mas muito mesmo.
Então, eu coloco muito em prática que eu faço hoje, eu agradeço ao período que eu passei lá.
Né? Porque, pra quem já serviu, você sabe que lá você é muito exigido, você tem que ter responsabilidade, pontualidade, seriedade.
Horário é horário, não tem um minuto a mais e nem um minuto a menos.
Horário é aquele, você tem que cumprir metas, cumprir horários, tem que ter disciplina, tem que ter respeito.
Existe a questão da hierarquia, aonde, quer queira, quer não, por mais que aquela pessoa seja até mais jovem que você, você tem que prestar continência, tem que ter respeito por ele, porque ele é seu superior hierárquico.
Então, a vida militar te molda na vida civil.
Então, lá eu aprendi, por um período que eu fiquei lá, de quatro anos, muitas coisas que hoje eu consigo colocar em prática na minha vida.
P1: Como é que foi? Você nunca tinha vindo pra Belém?
R1: Nunca.
P1: E como que foi a viagem? Como é que foi.
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R1: Foi a melhor possível.
Essa minha viagem pra Belém, eu vou te contar aqui.
Coincidentemente, é uma coisa que até hoje me prende, né? Me lembro que, na época, a Rodovia PA-150 tinha sido construída pra.
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o Exército construiu essa rodovia pra ter o acesso a Tucuruí, na época que estava fazendo a barragem em Tucuruí.
Então, era uma estrada que não tinha asfalto.
Era tudo de barro.
Nós saímos de Tailândia onze horas da noite, pra chegar em Belém seis da manhã.
Então, era uma grande aventura.
Né? E me lembro que, no dia que eu arrumei as coisas, que eu tinha que me apresentar no outro dia lá no quartel, minha mãe produziu tudo, botou as minhas coisas na mochila, pediu proteção a Deus e falou: “Vai, filho”.
E eu saí, né? Eu peguei o ônibus da empresa Rodomar.
Comprei a passagem, onze horas, entrei.
Me lembro que o ônibus estava lotado, né? E eu olhei lá no final, tinha uma cadeira vazia e eu fui me deslocando lá, pro final do ônibus.
Quando eu cheguei, tinha uma moça sentada nessa cadeira, na janela.
Eu falei: “Tem alguém?”.
Ela disse: “Não, não”.
Porque eu comprei a passagem pra vir em pé.
Pra você ver, né, que vinha desde Tucuruí o ônibus.
Tucuruí, Goianésia, Breu Branco e vinha trazendo gente.
Aí sentei do lado dela e passamos a ir.
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a viagem era muito longa, a vir conversando, né, na viagem.
E me lembro que, quando a gente estava próximo da cidade de Moju, porque lá tinha uma balsa, o ônibus parava, tinha que aguardar a balsa vir do lado de lá, trazer os carros, pra retornar.
E a gente começou a falar de família, dessas coisas.
Foi quando ela me disse que ela morava em Parauapebas e que ela estava indo pra Belém pra estudar.
Foi quando eu falei pra ela: “Ó, eu também já morei em Parauapebas”.
Aí fomos conversando e cheguei à conclusão de que o irmão dela era meu professor.
Né? Lá em Parauapebas.
E, em resumo: esse contato resultou em um relacionamento.
Eu tive um relacionamento com ela.
Durou aí uns oito meses.
E, segundo informes, ela não.
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eu não ouvi isso da boca dela, mas ela retornou pra Parauapebas, porque ela engravidou.
Então, eu tenho um amigo, por nome Ronald, que também ingressou comigo na Aeronáutica na época, e ele estudava na mesma escola que ela e ela chegou a falar pra ele, que ela ia retornar, porque ela foi pra morar com um irmão em Belém, porque ela estava grávida, eu era o pai e o irmão dela descobriu e o irmão dela exigiu que ela voltasse pra Parauapebas e não queria que ela continuasse morando em Belém.
E aí foi a última notícia que eu tenho dessa moça.
Eu até tenho uma boa memória, como eu te falei, mas se alguém me perguntar assim: “E o nome dela? Você lembra?”.
Não.
Deu um apagão geral.
Eu já busquei na internet, com pessoas lá de Parauapebas, eu já coloquei num portal de Parauapebas, eu querendo buscar uma informação, pra que eu possa chegar até ela através do irmão que, como ele era professor na época, né, no Colégio General Euclydes Figueiredo, ele era muito conhecido na cidade.
Agora, eu não sei se ela foi pra Parauapebas, se chegou e a família resolveu ir embora de Parauapebas.
Enfim, não tenho nenhum contato.
Mas essa viagem, entre Tailândia e Belém, acabou gerando essa história.
Se ela é verídica ou não, só o tempo é que vai dizer.
Mas isso também, de vez em quando, o meu subconsciente me cobra isso aí.
Vai que é verdade, né? Então, eu teria uma filha aí com.
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1990 pra 2020, trinta anos de idade, né? Mas eu não conheço.
P1: Você fica se perguntando.
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R1: Sim, sim.
As minhas filhas perguntam: “Pai, e aí?”.
Eu falo: “Ah, filha, eu já tentei de todas as formas, mas.
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”.
Meu nome não é tão difícil, então, talvez até por curiosidade, ela queira saber quem é o pai.
Se é que existe, realmente.
E aí nunca me procuraram.
Hoje tem rede social, tem tudo.
É mais fácil.
Então, eu vou deixar pra o momento que Deus queira permitir o esclarecimento dessa história.
Então, essa minha viagem de Tailândia pra Belém, gerou esse – entre aspas – ‘fruto’.
Entendeu?
P1: E você foi pra Belém.
Como é que foi quando você chegou lá? Você se lembra como era a cidade? Como é que foi pra você?
R1: Não, me lembro.
Me lembro.
Até porque, eu já tinha vindo e voltado algumas vezes, porque você faz várias etapas.
Você tem a etapa de teste de aptidão física, teste.
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exame médico.
Aí tudo, você faz por etapa.
Então, você cumpre uma etapa antes de ingressar.
Então, eu já tinha vindo em Belém outras vezes.
Eu já sabia basicamente o meu trajeto e, quando eu vim pra Belém, eu já sabia onde eu ia ficar.
Como eu morava em Tailândia, assim como os outros que vieram de outras cidades, todos passaram a residir no próprio quartel.
Então, quando eu passei a servir, eu já tinha a minha cama, o meu armário, o meu espaço próprio, meu.
Então, quando eu cheguei em Belém pra fixar residência, pra morar, eu já tinha onde ficar, que era justamente lá no quartel, no I Comar, ali na Almirante Barroso, com a Júlio Cezar.
P1: E me conta um pouquinho mais como é que foi esse processo.
Você achou que tinha chance, você chegou lá, como é que foi?
R1: Então, como eu te falei: nunca passou pela minha cabeça em querer ser militar.
Né? A gente, na época, tinha medo.
Quando passava um carro da polícia, todo mundo tinha medo.
Naquela época, as pessoas temiam um policial.
Tinha.
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eu acho que não por medo, até por respeito.
A gente era criança, via uma viatura da polícia, já ficava.
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então, aquilo ali, pra mim, era uma novidade.
Quando alguém veio com aquela ideia: “Pô, por que tu não vai servir? E tal”.
Aí foram colocando aquilo na minha cabeça e eu falei: “Eu vou”.
E aí, a partir do momento que eu realmente coloquei que eu queria, que talvez ali era uma porta que poderia se abrir pra mim que, se eu continuasse em Tailândia, talvez não tivesse oportunidades assim, aí eu comecei realmente a.
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primeiro, brigar pra permanecer, porque era apenas um ano obrigatório, depois tinha que sair.
Né? Então, baseado na tua vida ali dentro, naquilo que você fazia, você ia sendo.
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como é que se diz? Monitorado.
Você tinha uma ficha.
Aquela tua ficha era diária, né? E aí você passava a ser avaliado periodicamente.
Então, passou um ano obrigatório? “Vamos avaliar quais desses aqui merecem continuar”.
Agora vai continuar por um período de dois anos.
Se quiser sair, tem que cumprir metade desse período.
E aí eu fui avaliado.
Passei, dois anos.
Depois fui reavaliado e passei mais um ano.
E aí foi a época exatamente que a gente teve que dar baixa, em 1993.
1989, 1990, 1991, 1992.
Final de 1992 pra início de 1993 foi a época que eu saí do quartel.
Né?
P1: E você chegou lá, escolheu a Aeronáutica ou escolheram pra.
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você foi realocado pra Aeronáutica?
R1: Não, não, não.
Você tem opção.
Quando você vai servir, se você vai servir às Forças Armadas, você escolhe Exército, Marinha ou Aeronáutica.
Então, no meu caso, eu já escolhi.
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fazia a minha inscrição pra servir na Aeronáutica.
Eles não pré-selecionam as pessoas pra depois dizer: “Olha, X quantidade vai pro Exército, X vai pra Marinha”.
Não.
Se você tem intenção em servir à Marinha, você busca o quartel da Marinha.
Se você tem intenção de servir o Exército, você faz a mesma coisa.
Se você quer servir a Aeronáutica, você busca, pega aquele formulário, você pega o período de inscrição e ali você vai cumprindo aquelas etapas, até eles te chamarem.
P1: E por que a Aeronáutica?
R1: Bom, aí, eu não tenho nem explicação pra isso.
Alguém disse: “Dá pra você servir.
Por que que tu não vai servir a Aeronáutica?”.
E aí eu falei: “É”.
Eu não tinha muita noção de qual que era a diferença entre Exército, Marinha e Aeronáutica.
Então, pra mim, eu acho que, se alguém me direcionasse pro Exército, eu teria ido da mesma forma.
Alguém vislumbrou aquela possibilidade: “Vai pra Aeronáutica”.
E eu fui.
Não foi uma questão de escolha minha.
Né? Eu não tinha alternativas.
Foi o que colocaram na minha frente, eu falei: “Tá bom.
Vamos lá”.
P1: E o primeiro ano, como é que foi o primeiro ano lá?
R1: Bom, o primeiro ano, na realidade, foi um ano de aprendizado.
Porque, pra quem não conhece, mas quando você ingressa nas Forças Armadas, você tem um período de formação, né? Chama-se curso de formação de soldado.
CFS – Curso de Formação de Soldado.
Então, ali, você vai aprender as disciplinas.
Existem matérias lá dentro.
Ali, você tem aulas.
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você ministra aula de armamento, você ministra aula de Rdaer - Regulamento Disciplinar da Aeronáutica.
E aí, você tem N matérias.
Então, você passa um período estudando aquelas matérias e fazendo provas em cima daquilo.
No final daquele período, que você conclui o curso de formação, você é avaliado e você tem uma média das provas que você fez.
Essa média é que vai dizer se você vai sair de um simples recruta e vai passar pra ser um soldado de primeira categoria.
Então, a média mínima, por exemplo, exigida, era sete.
Nossa turma, nós éramos trinta e seis.
Eu me lembro que, quando a gente concluiu o curso, eu fui o terceiro colocado da minha turma, oito vírgula noventa e quatro a minha média final.
E aí sim, eu passei a ser um soldado de primeira categoria.
Período de formação, você ainda é um recruta, você ainda está se formando, ainda está tendo conhecimentos da vida militar.
Né? Naquelas disciplinas que eles vão exigir de você, durante aquele período que você vai estar ali no quartel.
P1: E conta pra mim como é que era um dia inteiro no quartel.
R1: Pra mim, era.
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((Riso)) eu digo assim, que foi um dos melhores períodos da minha vida.
Porque aí, eu comecei a conviver.
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como eu te disse: lá eu mudei totalmente.
Porque nós passamos a conviver dentro de um alojamento, com cento e cinquenta, duzentas pessoas, diariamente.
Então, ali, quer queira, quer não, ali se forma uma família.
Principalmente com aqueles que ingressam junto com você porque, quando você entra, já existem aqueles militares das turmas anteriores.
Por exemplo: a minha turma foi a primeira de 1989.
Mas nós passamos a conviver com pessoas da segunda de 1988, da primeira de 1988, da segunda de 1987, da primeira de 1987.
De turmas antigas.
E ali, você também observa que, aquelas pessoas que estão ali, que chegaram antes de você, você tem que passar a respeitá-los como mais antigos que você.
E aí a coisa foi mudando.
Como eu te disse: aquele período ali, eu aproveitei pra.
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eu fui me moldando.
Então, vamos imaginar que eu olhasse pra uma pessoa, ele um pouquinho mais velho que eu, se ele não fosse militar, eu não teria aquele respeito por ele.
Como ele era militar, eu tinha, obrigatoriamente, que respeitar, né? Ao passar por mim, eu tinha que prestar uma continência.
Existia alguns tipos de brincadeira que não se podia tirar.
Então, ali, a gente foi aprendendo.
E justamente com a turma que entrou junto comigo, da qual até hoje eu tenho contato com esse pessoal, domingo próximo agora, dia vinte e sete, nós vamos fazer um encontro de amigos.
Infelizmente, quatro não vão poder estar, porque já faleceram.
Então, a gente mantém esse contato até hoje, com essas pessoas.
Ou seja, eu acabei adquirindo pessoas que hoje eu diria, assim, que são quase que irmãos meus.
Porque nós somos considerados irmãos de farda, porque servimos juntos, passamos aquele período juntos, trabalhamos juntos.
Porque a vida militar se resume em expediente.
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vamos supor: o expediente era de oito a uma da tarde.
Quando se conclui o expediente, a equipe que não está de serviço é dispensada pra ir pra sua residência.
Mas nós, como morávamos no quartel, permanecíamos no quartel.
Quando chegava em um final de semana, às vezes quando tinha um feriado mais prolongado, é que nós poderíamos sair, desde que nós não estivéssemos na escala de serviço.
Então, exemplo: sexta-feira, terminou o expediente, não tem sábado, não tem domingo.
Pra aqueles que moravam em cidades mais próxima de Belém, como Santa Isabel, Castanhal, era muito fácil pegar um ônibus que, em uma hora de tempo, estava em casa.
Pra mim, que morava em Tailândia, que era seis, sete horas de viagem, às vezes se tornava inviável, até pelo custo do deslocamento de passagem.
Então, eu passei, realmente, esses quatro anos, convivendo ali dentro, no dia a dia, vivendo o dia a dia de todo mundo.
Então, obrigatoriamente, aquilo me fez fazer amizade com mais pessoas.
Né? Pessoas que até hoje eu mantenho contato.
Então, o nosso dia a dia lá era: quando se cumpria o expediente, as pessoas iam pra casa e quando tinha uma escala de serviço.
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lembro que a nossa escala, eu trabalhava.
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eu estava de plantão um dia, vinte e quatro por quarenta e oito.
Eu trabalhava um dia, folgava dois.
Mas esse um dia, era vinte e quatro horas.
Nós entrávamos de serviço pela manhã e saíamos de serviço no outro dia de manhã.
Então, aí nós tínhamos dois dias de folga.
Aqueles que moravam em Belém.
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P1: Dois dias de folga.
R1: Então, lá, nós trabalhávamos em uma escala de vinte e quatro por quarenta e oito.
Então, trabalhava um dia, folgava dois.
Aqueles que moravam em Belém, ou em cidade próxima, nesses dois dias de folga, iam pra suas residências.
Mas aqueles que moravam no quartel e que as suas cidades eram distantes, que era o meu caso, eu tinha que permanecer.
Mesmo no meu dia de folga, eu permanecia no quartel.
P1: Você não queria nem passear em Belém?
R1: Não, não, aí eu aproveitava pra ir pro cinema, ir pra praça, namorar.
(risos) Porque, né, o pessoal comenta que o militar atrai muito, não sei o que, tal.
Então, isso aí eu fiz de tudo.
Praia, outeiro, mosqueiro.
Essas coisas aí eu.
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tudo eu fazia.
Não era obrigado eu ficar ali, porque eu estava de folga ali.
Às vezes eu evitava ir pra minha cidade, porque era distante.
Mas eu ficava lá.
E passei quatro anos da minha vida lá, da qual eu tenho boas lembranças.
Muito boas, mesmo.
Eu acho que ali me tornou um homem de verdade, no sentido de respeitar os símbolos nacionais, de respeitar um prédio público, de dar valor àquilo que as pessoas aqui fora, muitas das vezes, não dão valor.
Né? De preservar amizade, de ser um cara leal.
Né?
P1: O que aconteceu, que te marcou nesse período? Você teria algum causo, alguma história?
R1: Tenho.
Tenho.
Da qual eu nem gosto muito de falar, mas eu vou falar.
É.
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eu me lembro que, depois do meu.
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praticamente do meu terceiro ano de vida militar, nós fomos.
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assim, como eu te falei: a gente era avaliado.
Avaliado mesmo, uma ficha.
E aqueles melhores, sempre procuravam se encaixar em melhores escalas de serviço.
Na época, eu fui colocado numa escala pra trabalhar na casa do major-brigadeiro, que era comandante da Aeronáutica, que ficava ali em Belém na Generalíssimo com a Brás de Aguiar, a residência.
E nós tínhamos uma equipe de doze pessoas.
Lá, a folga já era maior: trabalhava vinte e quatro, folgava três dias.
Né? “Então coloca o Rolins pra lá”.
Que o nome de guerra era Rolins.
E lá, eu me lembro que, em um dos nossos plantões, era o meu horário, porque lá a gente revezava, de três em três horas.
Um cumpria de seis às nove, outro de nove à meia noite, outro de meia noite às três e aquele que pegou de seis às nove voltava de três da manhã às seis da manhã.
Então, cumpria-se aquelas doze horas de trabalho.
E eu me lembro que, lá na residência desse Brigadeiro, ele tinha alguns funcionários do quartel que prestavam serviço pra ele, que era na época que se chamava taifeiro.
Taifeiro nada mais é do que cozinheiro, as pessoas que fazem o alimento.
E eles saíam seis e meia, no máximo e iam embora.
E eu estava no meu serviço e, de repente, do nada, como a gente tinha que ficar mais de olho na rua e não pra trás, eu vi tipo um movimento estranho lá pra trás.
Eu falei: “Vou lá”.
E eu larguei o meu posto de serviço e fui até lá.
Que era uma área cumprida, que tinha um alojamento lá no final.
Aí, quando eu cheguei no alojamento, a porta meio entreaberta.
E eu empurrei a porta.
Aí entrei, olhei.
Não vi ninguém dentro do alojamento.
Deixei a porta encostada e voltei.
Pra minha surpresa, uns vinte minutos depois, sai o cidadão de lá de dentro, todo banhado.
Ou seja, ele deixou pra sair depois dos outros, um dos taifeiros.
E ele foi embora pra casa.
Nós tiramos serviço.
Quando foi no outro dia, era a nossa folga.
E aí foi quando o comandante mandou colocar a tropa em forma e perguntou: “Quais eram os militares que estavam de serviço ontem lá na casa do Brigadeiro?”.
Pegaram a escala e disseram: “Olha, o Rolins, o Olavo e tal fulano”.
Tá.
“Quem que era que estava no horário de seis às nove da noite?” “Sou eu” “Entra na minha sala”.
Era eu.
E eu entrei na sala do nosso comandante.
Ele falou: “Olha só, nós temos aqui uma denúncia grave de um fato ocorrido ontem, lá”.
Eu falei: “Qual que é a denúncia?” “É.
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você chegou a entrar no alojamento lá dos taifeiros?”.
Eu falei: “Entrei” “Mas o que levou você ir até lá?” “O que levou eu ir até lá, porque eles tinham um horário a cumprir, no máximo seis e meia, eles saíam, iam embora.
E aí já era muito fora desse horário, eu escutei algo lá pra trás.
Tinha algo estranho.
Então, como a gente tinha que, não só fiscalizar a rua, mas como dentro da casa, eu resolvi ir até lá, pra verificar o que estava ocorrendo lá.
Quando eu cheguei, eu encontrei a porta entreaberta” - que, na realidade, ela tinha que se manter fechada, que era um espaço restrito deles, alojamento deles - “eu empurrei a porta, entrei, visualizei o ambiente e puxei a porta, deixei como estava.
Pra minha surpresa, uma meia hora depois, o cidadão saiu de lá com a mochila nas costas e foi embora.
Que era um dos que prestavam serviço lá”.
Ele disse: “Então, esse cidadão está simplesmente alegando que a carteira porta-cédula dele, foi subtraída o valor que tinha dentro”.
Ou seja, quem era a suspeita? Era eu.
O que acontece? Eu falei: “Não fui eu.
Não cheguei a fazer isso.
Pra minha surpresa, quando eu vi o cidadão, ele já estava saindo” “Tá, mas aí eu não posso cobrar de um cara que estava no horário de nove à meia noite, o fato aconteceu no seu horário”.
Eu falei: “Comandante, o senhor tem que procurar chamar esse cidadão, vamos fazer uma acareação”.
Mas, em resumo: como na época, ele era ainda primeiro-tenente sobrinho de infantaria, obviamente, buscando lá na frente uma promoção e essa reclamação foi feita por uma das pessoas de confiança do comandante da Aeronáutica, ele exigiu uma punição pra mim, pra que aquilo não passasse em branco.
Então, eu fui punido na minha ficha e acabei ficando sete dias detidos no quartel.
Me lembro que, pra eu ir almoçar, as pessoas.
.
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ia ter que ir alguém me acompanhando.
Pra eu voltar, alguém me acompanhava.
Pra eu ir jantar, alguém me acompanhava.
Eu passei esse período, tipo, escoltado.
Então, aquilo, pra mim, marcou muito, primeiro psicologicamente.
Segundo, moralmente.
Porque as pessoas.
.
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até esse próprio comandante, uma vez, chegou a dizer pra mim: “Quando eu der uma ordem, vocês têm que cumprir, mas não tanto”.
Porque eu era assim: se eu recebia uma ordem, eu a cumpria ao pé da letra.
Né? E um dos fatos que talvez tenha até.
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ele aproveitou essa oportunidade pra me sacanear, um fato anterior a esse, quando nós estávamos de serviço em uma vila, que fica na Avenida Júlio César, conhecido como Vila Maracangalha.
Fica nos fundos do colégio Tenente Rêgo Barros.
Lá é uma vila só de militar, mas porém, só de oficiais da Aeronáutica: tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel etc, residem nessa vila.
E o portão principal da vila é justamente um dos pontos de trabalho dos militares.
E ele disse pra mim: “Pra todos nós informa, a partir de hoje, quem estiver de plantão na entrada da Vila Maracangalha no posto 1” - que era conhecida como Posto 1 - “vocês vão manter aquela corrente esticada.
Se aparecer alguém de veículo, vocês vão ter que ir lá, identificar a pessoa.
Só após isso, você vai abaixar a corrente”.
Apesar que, na vila, todos os miliares que moravam tinham uma identificação no carro, uma plaquinha.
Mas, mesmo assim, ele exigiu que nós cumpríssemos essa determinação.
Porque houve um roubo lá na casa de um oficial, alguém entrou, assaltou, ninguém sabe por onde entrou e, a partir daí, ele foi cobrado e ele passou a exigir da gente isso.
E, coincidentemente, caiu em cima de mim.
Um coronel da base aérea, chegou e ele achou que eu ia baixar a corrente pra ele, pra ele passar.
Eu não baixei a corrente, ele levou a corrente, no carro.
Freou o carro, deu uma ré: “Está doido, soldado?”.
Me deu um esporro, né, que é como na vida militar se chama.
Quando se chama atenção de alguém diz: “Ó, você tomou um esporro”.
“Você não viu eu entrando? Você não viu a identificação do meu carro?”.
Eu falei: “Ô, comandante, nós temos uma ordem do nosso comandante pra, primeiro, identificar” “Quem é o seu comandante?”.
Eu falei: “Tenente Sobrinho” “Me dê o nome dele e o seu nome.
Vou mandar um à parte amanhã pro seu comandante”.
Então, nós fomos colocados em forma, no outro dia e ele perguntou: “Qual era o soldado que estava de serviço no posto 1 da Vila Maracangalha, horário tal, tal?” “Pois não” “Você está louco, rapaz?” “Como assim?” “Como é que você vai.
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coronel chegou lá, morador da vila, você não baixou a corrente pra ele entrar, ele teve que levar.
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”.
Eu falei: “Tenente, era ordem sua.
Todos que estão aqui são sabedores que foi ordem sua, pra que a gente só baixasse a corrente após identificar o condutor do veículo” “Mas vocês não podem levar as coisas ao pé da letra e tudo e tal”.
Ou seja, nesse momento ele, pra escapar de uma chamada de atenção, que provavelmente poderia ir pra ficha dele e, posteriormente, prejudicá-lo lá fora, resolveu transferir aquela carga de responsabilidade pra mim.
Mas, até aí, não me gerou nenhuma punição.
Ele segurou.
Mas acredito que esse fato marcou pra ele.
Então, quando teve esse segundo episódio, que eu coloquei, agora em primeira mão, depois esse, ele falou: “Não, então agora é a hora de eu dar uma punição pra ele”.
Então, esse tipo de coisa me marcou muito, no sentido que me deixou muito revoltado.
Até os outros, sargentos, cabos, falavam: “Pô, Rolins, você é um cara tão engrenado” - porque, na vida militar, se chama de engrenado pro cara que é padrão, pro cara que anda todo alinhado, todo certinho - “acontecer isso contigo?”.
Eu falei: “Eu não posso fazer nada”.
Então, isso me desabonou muito, a minha conduta moral.
Porque, pra todos os efeitos, ficou subentendido que eu subtraí aquele valor.
A minha chateação não foi pela punição.
Eu poderia ter passado até um mês lá dentro, mas por algo de concreto.
E ficou entrelinhas, né? Então, como eu me cobro muito, eu sou muito.
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eu gosto de fazer as coisas certas, de vez em quando eu me pego sonhando lá, mexendo no meu armário.
Eu acho que isso aí mexeu com o meu psicológico.
Porque não era pra ter acontecido isso comigo.
Entendeu? Quer dizer, ele me pegou como bode expiatório, pra dar um respaldo ao comandante.
Falar: “Não, o meu soldado, eu puni.
Tá bom? O senhor me exigiu, eu puni”.
Que, automaticamente, se ele não vai me punir, quem que será punido? Ele.
Então, foi um dos episódios que aconteceu, assim, que me frustrou nesse período, mas foi o único.
Né? Claro que a gente sempre.
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se tiver um muro branco e uma mancha preta, você vai ver primeiro a mancha, né? ((Risos)) Mas, enfim, eu consegui permanecer lá os quatro anos.
Saí como todos os outros saíram e de boa até hoje.
P1: É o tempo máximo que você pode ficar?
R1: Na época.
Porque a gente estava saindo de José Sarney para Fernando Collor.
Quando o Collor assumiu, em 1990, se não me falha a memória, né, a presidência da República, ele cortou todos os concursos internos das Forças Armadas.
Marinha, Exército e Aeronáutica, quem estava, naquele período não poderia fazer concurso.
Então, ali eu não pude fazer um curso de formação de cabo, um curso de formação de sargento.
Não havia concurso.
Então, nós passamos aquele período de quatro anos, simplesmente quem entrou como soldado, saiu como soldado.
P1: Você tinha intenção se tivesse.
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R1: Obviamente, se eu estava lá, já passei a gostar, né, daquele estilo de vida.
Se eu tivesse uma oportunidade de fazer uma prova, algo, pra quem sabe até permanecer lá até hoje, eu teria continuado, sim.
Porque foi a primeira oportunidade que eu tive na vida.
Foi ser militar.
Tanto que, quando eu saí de lá, eu falei: “Então, é o seguinte: já que eu estou dando baixa, não é pra mim a vida militar”.
Muitos dos meus amigos, hoje, são militares da polícia, da PM local.
Porque, simplesmente, você pegava a tua ficha, bem avaliada, você passava três meses na Polícia Militar fazendo uma reciclagem e você já ingressava direto, sem nenhum tipo de concurso.
Bastava, pra isso, você ter passado os quatro anos, já ter toda uma base de como funciona a vida militar e fazer um período de adaptação e ingressar direto na Polícia Militar.
Então, eu tenho vários amigos meus que, inclusive, hoje estão aposentados pela Polícia Militar, porque se identificaram tanto com a vida militar, que saíram pra lá.
Eu falei: “Pô, já que eu não estou, não posso continuar aqui na Força Aérea, eu também não quer ser PM”.
Sem discriminar, mas não quis.
Até na época, também, porque já era bem perigoso a função de policial, nos anos 1990.
Eu percebia aqui, acolá, uma chacina, morria alguém, matavam alguém.
Eu falava: “Não, não quero essa vida pra mim”.
Porque a gente tem que definir o que é um policial das Forças Armadas, qual é a função, guardar o patrimônio público, é a única função de um militar das Forças Armadas, diferente da função de um policial militar, que é um policial de combate de rua.
Então, eram funções distintas.
E eu passei a não querer mais.
A partir daí, eu comecei a entrar no ramo de vendas.
P1: Você tinha vinte e três?
R1: Vinte e três anos.
P1: Agora, na Aeronáutica, teve algum professor ali, que te marcou?
R1: Especificadamente, não.
Pra alguns, sim.
Tipo: “Pô, o fulano de tal foi um cara muito legal comigo.
Foi um cara bacana”.
Mas eu não consigo encontrar alguém que tenha feito esse diferencial pra comigo.
Principalmente no período que eu precisei.
Como, por exemplo, a época dessa punição, não apareceu ninguém, né, mesmo sabendo todo o meu passado, que pudesse dizer assim: “Não, eu vou comprar a briga dele”.
Não.
Então, ali, pra mim, aquelas pessoas, que eram meus superiores na época, eu não posso tê-los como um exemplo.
Não.
Respeito.
De vez em quando encontro um ou outro, falo, respeito, mas não tenho, assim, como exemplos de vida pra mim, um exemplo a seguir.
Não tenho.
P1: E antes da vida militar, você estudou.
Você pode dizer que você teve algum professor que te marcou?
R1: Sim, sim.
É, bom, o que me marcou mais, no meu período que eu estudei, foi exatamente o período que eu morei em Tailândia.
Né? Na época do início, primeira série, segunda série.
Porque aquelas professoras ali, eram mais que professoras.
Elas faziam o papel, também, de mãe.
Né? Coisa que hoje é muito difícil, hoje.
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o papel de um professor hoje, é muito diferente do que era o papel de um professor antes.
Pesava muito quando o professor pegava o teu livro e escrevia alguma coisa pro teu pai.
Era como se ele tivesse chamando a tua atenção, como se ele fosse alguém da tua família.
Teu pai, quando lia ali um comunicado vindo de um professor teu, naquela época, ele te cobrava realmente, porque ele sabia que aquilo ali era uma verdade.
Né? Na escola, até as matérias que eram ministradas, eram matérias que hoje não existe mais.
Né? OSPB, Moral e Cívica, né? Organização Política e Social.
E aquilo ali, eu acho que talvez o cara que preparava essas matérias, até porque, a gente vivia quase que num período militar, né? Aquele período a coisa era mais rígida.
Então, tinha essas cobranças da gente, do professor.
As matérias que eram ministradas, nos levavam a ser um cara mais ágil, um cara.
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a gente não podia chegar na escola e pichar o muro.
Uma vez por semana nós éramos convocados pra ir fazer a limpeza da escola, pra capinar.
Então, a gente tinha aquilo ali como a nossa segunda casa.
Então, aquelas professoras, no nosso início, eu tenho lembrança até hoje e tenho o contato com algumas até hoje.
Coincidentemente, hoje, eu ‘sou’, entre aspas, ((risos)) administrador de um grupo de pessoas lá da cidade de Tailândia, que são pessoas que se conhecem há mais de quarenta anos.
Não tem ninguém lá que não se conheça, no mínimo, quarenta anos.
E eu administro esse grupo de amigos lá, junto com mais uns outros.
Então, a gente faz, anualmente, uma festa no mês de dezembro, onde a gente reúne somente os pioneiros da cidade e os filhos dos pioneiros da cidade.
Entendeu? Onde eu encontro os antigos professores, aqueles que ainda estão vivos, os filhos daqueles professores.
Então, essas pessoas, pra mim, marcaram.
Mas os meus professores já, aí, a partir da quinta, sexta série, não.
Até porque também, eu passei dois anos em um lugar, dois anos em outro, não tem nem como criar aquela identificação.
O período maior mesmo de escola, meu, foi de 1979.
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de 1978 a 1982, em Tailândia.
Então, foram aquelas primeiras professoras que a gente tinha como uma tia, como uma mãe.
Então, esses que ainda estão vivos até hoje, eu mantenho contato, eu tenho todo um respeito.
Embora eu tenha respeito pelos outros, mas não tinha da mesma forma como eu tenho por eles.
P1: Verdade, você fundou basicamente a vila lá, né?
R1: Não, nem tanto.
Quando nós chegamos lá, já tinha pessoas que moravam lá.
Mas nós fomos um dos primeiros, né? Então, aí a cidade lá, a partir do ano de 1988, foi emancipada porque, na época, ela pertencia ao município de Moju.
Tailândia pertencia a Moju.
Em 1988, ela foi emancipada e onde foi onde teve a primeira eleição.
Passou a ter o primeiro prefeito.
Foi quando começou a se desenvolver a cidade.
Mas foi justamente quando ela começou a se desenvolver, foi o período que eu saí.
1989, né? Belém, 1989, o primeiro gestor.
P1: E você gostava de fazer o que, em Belém, lá na época do quartel?
R1: Ah, então.
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aí, o que que acontece? Eu aproveitei a época do quartel, como eu já tinha praticamente só o meu primeiro grau, eu falei: “Eu vou tentar pelo menos estudar”.
Foi na época que eu me matriculei no Colégio Rutherford, lá na Arcipreste Manoel Teodoro, Belém.
E lá, eu concluí o meu segundo grau.
Três anos, né? Aí, justamente quando eu concluí o segundo grau, foi a época que já foi aparecendo família e foi tirando um pouco o meu foco na questão de estudo.
Eu passei a ter que me dedicar mais ao trabalho do que, basicamente, ao meu estudo.
Eu não pude.
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era possível, mas eu acho que até por falta de incentivo, porque como eu te expliquei, a minha família, a minha mãe, a minha irmã, não moravam comigo, moravam em outra cidade.
Eu passei a eu ser o dono da minha vida, a eu dizer o que eu podia fazer.
Então, aí eu me dediquei mais a.
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aí já veio filho, já veio família.
E fui me dedicando mais ao trabalho, depois que eu constituí família.
Mas antes de constituir família, a minha vida era o quê? Trabalhar, receber aquele salário, passear, viajar, ir pra praia, namorar e tal.
Quer dizer, foi um período muito.
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quatro anos é longo, mas de coisas muito pouca.
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eu diria muito pouco concreta, pra mim.
Eu até penso assim que, em alguns momentos, eu acho que eu joguei até fora muitas coisas que eu poderia ter feito nesse período.
Quem sabe, por exemplo, me dedicar mais aos meus estudos, onde eu tinha tempo pra isso.
Tentar uma faculdade.
Não quis.
Naquela época, a gente concluía o segundo grau, fazia um cursinho, fazia o vestibular.
Então aí, quando eu concluí o segundo grau, eu achei que aquilo ali já era o suficiente pra mim e parei por aí.
P1: Você fez o ensino médio durante o quartel.
É isso?
R1: Sim.
P1: E aí você saiu de lá, você falou que você foi começar a trabalhar com venda, né?
R1: Sim.
Quando eu saí do quartel, eu já tinha família.
Né? Eu já tinha conhecido a moça, ela já tinha uma filha.
Aliás, eu já tinha um filho antes, de um relacionamento no período que eu estava no quartel.
Depois eu conheci uma outra moça e aí a gente passou a conviver juntos, aí ela teve uma filha.
Então, quando eu saí do quartel, a gente já tinha casa, morar.
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pra morar em Belém, lá no bairro do Marco.
E aí eu falei: “Vou pra vida militar? Não.
Vou trabalhar na área de segurança? Também não”.
Falei: “Então, eu vou ingressar em vendas”.
Né? Algumas pessoas até acham que eu me identifico mais com isso, pelo fato de me expressar bem, tal, essas coisas.
Falei: “Então, vou entrar na área de vendas”.
E permaneço até hoje trabalhando com vendas.
P1: Qual que é o nome das suas filhas?
R1: Eu tenho, na realidade, quatro filhos: Demison Rolins, tem vinte e seis anos, é formado, mora em Belém com a mãe.
Tenho duas filhas: Juliana Rolins, que tem vinte e quatro anos; Juliane Rolins, que tem vinte e três anos e Janaína Rolins, que tem dezoito anos.
P1: Como é que foi esse período aí de adaptação? Digamos assim, de mudança de emprego, cuidar de família?
R1: Bom, como eu te falei, a vida militar me deu, me ensinou muita coisa e eu passei a ter mais responsabilidade.
Coisa que eu não tinha antes, tão logo eu cheguei lá.
Então, eu fui procurando mais me dedicar, deixando aquela vida pregressa de liberdade, pra poder, aos poucos, ir conciliando a questão de cuidar da família, de ter uma própria casa.
Né? Então, quando eu saí da vida militar, que eu passei a ser civil, né, porque antes eu era militar, aí eu comecei a ingressar na área de comércio em Belém, trabalhar.
E aí a minha vida passou a trabalho, casa.
Trabalho, casa.
E se resume nisso aí.
Com alguns finais de semana, uma folga, leva as crianças pra passear, vai na praia, alguma coisa nesse sentido, mas basicamente foi isso aí.
A partir de 1993.
P1: 1993?
R1: 1993.
P1: E você é casado com a mesma esposa?
R1: Não, não, não.
O meu filho é fruto de um relacionamento, as minhas duas filhas, Juliana e Juliane, é fruto desse relacionamento, na época que eu estava no quartel.
Nós convivemos aí por sete anos, eu e a mãe.
É.
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não.
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infelizmente, não foi possível manter a relação.
De comum acordo, nós resolvemos nos separar, tanto que até hoje nós somos amigos.
E nos separamos e depois de dois anos, eu conheci a minha atual esposa, da qual eu tenho vinte e dois anos com ela.
P1: E uma filha?
R1: E uma filha de dezoito.
P1: E nesse período todo, então, você foi morando em Belém?
R1: Belém, todo tempo em Belém, com exceção de um ano e meio, que eu morei na cidade de São Miguel do Guamá.
Foi na época que nós montamos o negócio lá, na cidade de São Miguel.
Porque a família da minha atual esposa é da região lá de Irituia, São Miguel e resolvemos montar em São Miguel.
Mas a coisa não estava muito bacana e resolvemos voltar pra Belém.
Foi nesse período todo, de 1989 até 2008, eu passei um ano e meio fora de Belém, em São Miguel do Guamá.
P1: E trabalhando em empresa.
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R1: Trabalhando em vendas.
P1: Em vendas.
R1: Porque em São Miguel, nós fomos montar o nosso próprio negócio.
Só que lá, infelizmente, a coisa não foi adiante.
((Risos))
P1: Ah, é?
R1: Talvez, naquela história de: “Ah não, vamos trabalhar na clandestinidade.
Não adianta abrir empresa, pagar imposto pro governo e tudo”.
Ou seja, acabou que passamos ali um ano e meio patinando, não progrediu.
Falei: “Vamos acabar com isso aqui”.
Aí apareceu uma oportunidade, passamos à frente e retornamos pra Belém, onde eu fui novamente voltar a trabalhar na área do comércio.
Área de venda, interna, externa.
P1: Mas você trabalhava, então.
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nesse período, você trabalhou em empresas.
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R1: Em.
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nesse período que eu morei em Belém, eu trabalhei em três empresas.
Trabalhei no Grupo ______ (01:21:43) Amazon S.
A.
, né, depois que eu dei baixa.
Era um grupo da Kaiser, que era representante da Kaiser no estado do Pará, onde eu entrei lá como vendedor.
Passei basicamente um ano na empresa.
Saí.
Depois, ingressei pra trabalhar no Grupo (AQ) Discos, que era um grupo de Recife, que tinha na época doze lojas em Belém e aí eu passei a trabalhar nesse grupo.
Entrei na função de vendedor, seis meses depois eu passei a ser gerente de loja, e trabalhei lá cinco anos e meio, nesse grupo, _____ (01:22:05) Discos.
Foi o período que eu saí e resolvi ir pra São Miguel do Guamá, passar esse um ano e meio e tentar montar algo, trabalhar por conta própria.
Não deu certo.
Retornamos pra Belém.
E depois eu ingressei na empresa Dom Bosco, Comércio e Serviços, fica na Cidade Velha, na Praça do Carmo, também na função de vendedor.
Depois de um ano, eu passei ao cargo de gerente da empresa e trabalhei lá quatro anos e nove meses.
Foi quando houve um pequeno desentendimento pessoal mesmo, meu com o proprietário, resolvemos em comum acordo que não dava mais e eu coloquei na minha cabeça, falei: “Não, agora eu vou tentar novamente trabalhar por conta própria”.
Justamente nessa época, né, 2008, foi quando eu falei: “Barcarena”.
Já que a minha mãe estava aqui.
A cidade, na época, estava em período de expansão aqui da fábrica, muitos empregos sendo gerados, movimento era grande.
Eu falei: “Então vai ser a oportunidade de Barcarena”.
E aí eu estou até hoje em Barcarena.
P1: Você veio pra cá, você sabia que a sua irmã estava aqui também?
R1: Sim, sim.
A minha irmã e a minha mãe, já moravam aqui.
Apesar de idas e vindas, depois que já tornaram do Jari, voltaram novamente pra Barcarena.
P1: E aí sua irmã estava na Vila do Conde?
R1: Vila do Conde.
P1: E a sua mãe?
R1: Vila do Conde também, moravam juntas.
P1: E você veio para.
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R1: Eu vim para o bairro Novo Horizonte, onde eu moro até hoje.
Foi lá que.
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na realidade, eu vim passear na cidade, buscando um local pra tentar montar um negócio e encontrei no Novo Horizonte o local onde eu falei: “Não, vai ser aqui”.
E aí eu aluguei o espaço, obviamente e passei a trabalhar no Novo Horizonte e me mantenho lá até hoje.
Não saí do Novo Horizonte.
E a minha mãe e a minha irmã vieram do Conde, morar exatamente no mesmo bairro.
Os ajudei lá um certo tempo, pra comprar uma casa e vieram morar próximo da gente.
Hoje, coincidentemente, a minha irmã está morando em Curitiba, só pra não perder o.
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((Risos))
P1: O costume, né?
R1: Foi embora.
P1: Eu ia perguntar pra você, pra quem não conhece, então, pra deixar registrado aqui, onde que fica Nova Horizonte, em Barcarena?
R1: Em Barcarena? O bairro Novo Horizonte fica próximo ao hospital municipal, aqui na.
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próximo à entrada da Vila dos Cabanos.
Daí, quem vem sentido fábrica, você tem uma rotatória, você tem pra esquerda da rotatória, Vila dos Cabanos; na sua direita, você tem o hospital municipal, você entra na rotatória e segue reto e aí, do lado direito, já tem o início do bairro Novo Horizonte, onde tem a empresa do nosso ex-prefeito, Antônio Carlos Vilaça.
P1: E você chegou aqui, já existia Novo Horizonte?
R1: Obviamente.
P1: É?
R1: Quando eu cheguei em 2008, o bairro já existia.
P1: E como é que era quando você chegou, em 2008? As casas, rua.
R1: Ok.
Parece até mentira isso aí, mas de 2008 pra 2020, mudou muito pouca coisa.
Muito pouca coisa.
Acredito que não mudou 10%.
Infelizmente, agora a gente está falando do bairro em específico, não tem uma infraestrutura.
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até que, pelo tempo de existência do bairro, já era pra ter.
Né? Nós temos à frente do bairro, uma área muito bonita, mas o órgão público não cuida.
Infelizmente, tem um linhão, que passa na frente.
Então, a questão do bairro lá, em termos de infraestrutura, do período em que eu cheguei, pra data de hoje, não mudou quase em nada.
P1: E esse bairro foi formado como?
R1: Ok.
O bairro Novo Horizonte, apesar de que quando eu vim morar no bairro, ele já existia e eu nunca me envolvi com questões de bairro, portanto, não me atentei muito pra essas questões de saber como surgiu, quando surgiu e tal.
Né? Depois de um certo tempo, já, que me envolveram nessas questões de moradores, que eu fui procurar me aprofundar um pouquinho mais, pra saber como surgiu.
Então, o que que acontece? Existe um colégio aqui, que se chama Eduardo Angelim.
Por isso que eu trouxe a cola, vou olhar pra cola.
É uma longa história.
Então, existe o colégio Eduardo Angelim, onde, na época, por trás, tinha uma área que foi invadida.
Uma equipe de mais ou menos duzentas famílias se reuniram e invadiram essa área, atrás do colégio Eduardo Angelim.
Tá? Que hoje, é dentro do bairro Pioneiro.
E, como era uma área que a Albras, Alunorte tinha interesse, porque lá tinha alguns galpões, algumas.
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que serviam de residência dos funcionários, então eles tinham interesse naquela área, eles resolveram retirar essas famílias de lá.
Houve uma desapropriação.
Provavelmente, através de forças, foram lá, a polícia e entraram naquela área e retiraram as famílias.
Essas famílias saíram da área e vieram se realocar ao lado do terminal rodoviário.
Bem em frente, praticamente.
A partir daí, como chamou muita atenção essa desapropriação de lá, surgiu o interesse de algumas pessoas, de alguns políticos, em tentar ajudar aquelas famílias.
Se sensibilizaram com a causa.
Né? Então, nós temos um senador hoje, por nome Paulo Rocha, que, na época, era deputado, como ele era muito envolvido nessas causas sociais, ele era do Partido dos Trabalhadores, ele se reuniu com algumas lideranças e procurou buscar algumas alternativas de tentar solucionar o problema daquelas famílias ali.
Foi quando convocaram o pessoal da Hydro Alunorte, né? Convocaram.
A empresa que cuidava dessas áreas aqui, que era a Codebar, pra reunião.
Pra verificar o que eles poderiam fazer, pra solucionar o problema daquelas famílias que estavam ali, desabrigadas.
Ou seja, sem ter onde morar.
E aí, depois de várias reuniões, chegou-se à conclusão de que existia essa área, tá, onde hoje é o bairro Novo Horizonte e que eles poderiam realocar essas pessoas pra essa área.
Né? Que, inclusive, essa área lá era denominada - está aqui na minha.
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na minha pescada aqui, como que era o nome da área antes.
A Codebar reservou essa área lá.
Era denominada “Área do Atacadista”.
O Bairro Novo Horizonte surgiu dessa área, que a Codebar havia reservado pra ser uma área de comércio.
Portanto, ali, ficou denominado ‘área de atacadista’.
Então, eles chegaram a um acordo, por intermédio desse político, levaram essa comissão pra Belém, conversaram com o presidente da Codebar na época, na qual eu vou citar o nome dele aqui, quem era o cidadão - tenho aqui o nome de todos - Senhor Nelson Maues.
Então o senhor Nelson Maues convocou algumas lideranças, né, que ficavam à frente dessas famílias, em Belém, por intermédio do Paulo Rocha e falou: "Ó, nós temos uma área lá que a gente pode assentar vocês lá.
Vocês aceitam?".
Obviamente, pra quem já estava despejado, aceitaram a área.
Só que fizeram uma exigência: "A gente aceita a área, mas desde que o senhor passe o documento da área, porque existem muitas áreas ao redor".
E aí ele repassou esse documento para aquelas lideranças da época, que estavam responsáveis por aquela área, mas exigiu que ele, em noventa dias, desmatasse toda a área, pra que ele pudesse mandar, posteriormente, entrar uma equipe lá pra abrir ruas, fazer as quadras.
E aquelas lideranças se comprometeram em fazer isso.
E, em noventa dias, eles fizeram a limpeza do espaço, desmataram, fizeram tudo.
Daí veio uma equipe de topógrafo, de engenheiros, que foram fazer o levantamento da área, reabrir as ruas, né? Então, a princípio, passou-se a se chamar Assentamento Novo Horizonte, depois ficou denominado Bairro Novo Horizonte.
Então, assim é a história do surgimento do bairro onde eu moro, Novo Horizonte.
É, agora vamos falar em período.
Bom, alguns documentos da prefeitura de Barcarena, da qual eu procurei ler, registram isso a partir de 2006, mas eu, conversando com pessoas que, inclusive, participaram dessa entrada lá nesse período, eles me mostraram alguns documentos do ano 2001, 2002, nesse período de negociação, quando eles foram desalojados, até eles serem realocados nessa área.
Então, provavelmente, o Novo Horizonte não surgiu em 2006, como consta em alguns documentos da prefeitura, mas sim a partir de 2002, meados de 2001, 2002.
Ou seja, é um bairro que tem aí os seus 18 anos, aproximadamente.
P1: E essas famílias foram pra lá, enfim, foram assentadas e explica isso no ano 2000 estar chegando mais gente ali ou.
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R1: Então, aí a gente tem que buscar um pouquinho mais da história, né? Eu procurei buscar algumas informações sobre o município de Barcarena.
Então, existe o antes do período de implantação do polo industrial e o posterior.
Então, eu observei que até os anos 1980, até o início dos anos 1980 Barcarena tinha em torno de vinte mil habitantes; dos anos 1980 ao ano 2000, ela passou a ter quarenta e nove mil habitantes.
O que isso significa? Que a implantação do polo industrial aqui de Barcarena atraiu pessoas pra cá, de outros estados, de outros municípios e isso gerou, né, essa procura de áreas pra morar, dessas famílias, que não tinham, eram poucos bairros.
Então você, na época, procurava uma casa pra alugar, você não tinha, né? Tanto que era cultural as pessoas construírem vilas de casas, pra alugar.
Era um meio de ganhar dinheiro nessa época.
Então, em decorrência desse aumento, né, da população, em virtude de buscar trabalho, oportunidade de emprego, os períodos de expansão aqui da fábrica, né, veio gente de várias cidades, de vários estados e Barcarena começou a duplicar e triplicar a sua população a partir dos anos 80 e, em decorrência disso, começaram a surgir, né, algumas invasões, as pessoas buscando um local pra morar, tentando sair de um aluguel.
Basicamente isso que ocasionou essas invasões de áreas de terra aqui, em áreas urbanas da cidade.
P1: Até hoje, né?
R1: Até hoje continua assim.
Vez ou outra surge, principalmente em períodos de eleição, não sei porque, talvez, não posso afirmar, mas possa ter alguém que influencia, né? “Vai lá, invade aquela área”.
Aquelas famílias vão pra lá, invadem a área, destroem tudo o que tem, começam a construir aquelas barraquinhas de tábua, sem nada mesmo, sem água, sem luz, mas depois, automaticamente, quem tem o documento da área, seja a Hydro ou seja o próprio, um proprietário, vai lá e recorre à Justiça e vem, posteriormente, uma reintegração de posse e aí, nesse período de reintegração, as casas já estão construídas e eles são obrigados a retirar tudo.
Eles dão um período lá: "Ó, vocês têm aí um prazo de 48 horas pra retirar porque, a partir desse horário, a partir desse prazo, nós vamos entrar com as máquinas e vamos tirar tudo".
E é corriqueiro isso aqui no nosso município.
Por quê? Infelizmente a Codebar, que foi a empresa criada pra tentar fazer o desenvolvimento das áreas, né, não cumpriu o seu papel devidamente.
Por isso, infelizmente, nós temos aqui bairros muito distantes um dos outros, né? Não tem como você chegar com uma infraestrutura, porque está muito distante de um outro bairro.
Os bairros não cresceram interligados, né? Tem alguns casos que é bem distante, né? Tem bairros aqui que a rua vai, lá não tem fim.
Então, a maioria dos bairros de hoje, eu diria, de dez.
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de doze anos pra cá, que surgiram, foi através de invasões.
Teve muito mais invasões que isso, do que essa quantidade de bairros, mas alguns, os proprietários tinham documento, quando não era uma área da fábrica da Hydro, da Alunorte e eles conseguiam, através da Justiça, a reintegração de posse.
Mas a maioria dos bairros novos, que surgiram de doze anos pra cá, tipo 2008 pra cá, surgiram através de invasões.
P1: Tipo quais?
R1: Bom, sabia que tu ia me perguntar isso.
Por exemplo, eu enumerei alguns aqui.
Claro que eu posso até.
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porque eu não busquei a história de cada um, né? Muitos dizem que o Novo Horizonte surgiu de uma invasão e agora a gente comprova que não foi, mas esses aqui, a maioria eu vi ser dado o início.
Por exemplo, o Bairro Murucupi, né? Invadiram essa área, mas ela pertencia à uma família tradicional e eles.
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a família chegou e fez um acordo, falou: "Ó, até aqui vocês permanecem, daqui pra cá vocês não entram.
Beleza.
Então, vocês vão continuar aí".
Então o Bairro Murucupi, se deu início através de uma invasão de área, né? Nós temos aí o bairro Foguetão, né, denominado Foguetão, nós temos aqui São José, nós temos Bairro de Fátima.
Inclusive esse aqui é um dos mais recentes.
Nós temos o Burajuba, nós temos o Jardim das Palmeiras, que também surgiu através de uma invasão.
Nós temos o Renascer com Cristo, nós temos o Jardim Cabano e temos Luz Divina.
Eu não cheguei a enumerar todos, são apenas alguns, que surgiram dentro do município, através de invasões, porque as famílias não tinham onde morar e tinha essas áreas de terra e eles entravam, formavam algumas lideranças e diziam: "Ó, vamos entrar na área?" "Vamos".
Agora, se você me perguntar: "Mas todas essas pessoas não tinham onde morar?".
Não.
Aí veio aquele ciclo de: "Eu quero ter mais.
Eu que tenho um lote, eu posso ter dois, eu posso ter três".
Então, quem morava, vamos supor, em um bairro e já tinha residência, quando surgia uma invasão, ia lá e pegava um ou dois lotes.
Porque sempre tinha aqueles líderes responsáveis por aquelas invasões e aqueles líderes negociavam a distribuição daqueles lotes lá, às vezes cobrando uma simples taxa do morador, só pra ele poder correr atrás de alguma papelada, pagar algum advogado etc, mas aquele morador que ia lá pra aquela invasão, já tinha aonde morar.
Já não era mais necessário, né, ele ter que fazer aquilo, mas ele entrava, naquela ganância de dizer: "Eu vou pegar e vou vender depois".
Então, a cidade cresceu nesse sentido.
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temos outro.
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hoje, só na Bacia do Murucupi, se eu não me engano, são vinte e quatro ou vinte e cinco bairros, Bacia do Rio Murucupi.
Então, grande parte desses bairros aí surgiram de invasões.
P1: Podia se organizar isso com a prefeitura, com a Codebar, mas não era feito, né?
R1: Então, como eu te falei, a Codebar acabou não fazendo um papel que, na minha concepção, ela foi criada pra designar esse papel.
Qual que era? "Bom, o índice populacional de Barcarena está aumentando, nas estatísticas que nós temos.
O que nós temos que fazer? Nós temos áreas.
Vamos lotear, vamos criar uns conjuntos" - como existe em outros municípios - "pra evitar exatamente essa questão das invasões".
Então, esse era o papel da Codebar, mas ela não executou esse papel.
A partir daí, como existiam grandes áreas que pertenciam à União, né, as pessoas começaram a invadir, por quê? Porque a Codebar não cumpriu com o seu papel, né? Cuidar do zoneamento urbano, verificar: Barcarena, como eu falei, em 1980 tinha vinte mil habitantes, em 2000 tem quarenta e nove.
Então, cresceu o índice populacional em quase 150%, em 20 anos.
Então, a gente precisa de mais espaços de moradia.
Onde que nós temos essas áreas disponíveis? Vamos lotear? Vamos criar um conjunto habitacional? Vamos vender esses lotes pras pessoas construírem? E aí, sim, se forma um bairro com infraestrutura, né, saneamento básico e etc.
Mas ela não procurou fazer isso.
Eu diria que ela, hoje, foi a grande culpada de tudo isso.
Existe essas invasões, em que as pessoas querem buscar onde morar, na sua grande maioria não tinham onde morar e, se tinha uma área lá, jogada, que é do governo, que o governo não cuidava, falava: "Vamos entrar lá".
E várias dessas áreas foram, ficaram e se perpetuaram.
Depois que entra a energia, um posto médico e tudo, é difícil de tirar.
Então, aí você tem alguns bairros que cresceram desordenados.
Infelizmente, não é o caso do Novo Horizonte, né, ele não surgiu de uma invasão, ele foi uma doação, né, que a Codebar doou.
Existe um documento.
Quem tem esse documento não quis me mostrar o documento, mas garantiu pra mim que existe esse documento de posse, registrado em cartório, porque eles exigiram do presidente da Codebar: "Nós vamos ser realocados pra essa área, mas nós precisamos do documento da área".
E ele, esse documento, foi repassado pra aquelas pessoas ou pra aquela pessoa, que era o principal líder naquele período, entendeu? Então, o Novo Horizonte não é uma invasão.
Ele foi uma ocupação ordenada.
P1: E quantas pessoas tem no bairro, que você imagina?
R1: É, acredito eu, hoje, que o Novo Horizonte tenha em torno de seis mil pessoas.
No mínimo, seis mil.
P1: Quantas ruas são lá? Quais são as mais famosas?
R1: Não existe nenhuma rua famosa no nosso bairro.
Eu diria que a rua mais famosa do bairro é a rua da frente, a Rua Principal.
Eles chamam de Rua Principal.
Mas é a mais feia de todas, porque fica exatamente às margens da Rodovia PA-481 e é onde passa exatamente o linhão da Eletronorte.
Então, a Eletronorte, por direito, tem cinquenta metros pra um lado e cinquenta metros pro outro.
O linhão é dela.
E o bairro surgiu ao lado.
Então, aonde tinha que ser a rua principal do bairro, seria exatamente a rua da frente, que hoje, se você passar, você vê que é uma das mais feias: buraco, capim.
Chega no período de verão, muita poeira; período de inverno, muita lama.
As ruas de dentro do bairro, a prefeitura ainda buscou, fez a compactação, jogou ali uma selagem, que não é asfalto, né? Então, eu diria que as ruas de dentro ainda são melhores que a rua da frente.
Nós não temos lá uma rua principal.
A rua principal é a rua da frente, onde exatamente tem os comércios do bairro.
A maioria dos ramos de atividade do bairro ficam na frente: materiais de construção, gênero alimentício, açougue, móveis, eletrodomésticos, todos os ramos de atividade geralmente se concentram na Rua Principal, que é a rua da frente do bairro, mas como eu te falei, sem infraestrutura.
P1: E você, quando chegou, em 2008, foi abrir que tipo de loja, que tipo de comércio?
R1: Quando eu cheguei, em 2008, até porque eu já trabalhava com esse ramo de atividade, eu procurei trabalhar exatamente naquilo que eu já tinha um conhecimento, né? Então, eu montei um pequeno comércio, pra trabalhar com a área de hidráulica, né, área de poço artesiano, de tubos, de materiais elétricos, de equipamentos de hidráulica, como bombas, caixas d'água, uma coisa nesse sentido.
E eu, até hoje, continuo com o mesmo ramo de atividade.
P1: Deu certo, então?
R1: Bom, deu certo, por quê? O que eu observei, em específico no Novo Horizonte? Existe água, né, que a prefeitura colocou, não pra abastecer todo o bairro, mas 70% do bairro tem água encanada, mas essa água faltava demais, quando chegava, não tinha pressão pra chegar na caixa d'água e a demanda, a procura pelo serviço de perfuração de poço, de compra de bombas d'água, eram grandes.
Já existia na cidade sim empresas que trabalhavam com isso, empresas de grande porte, inclusive.
Mas eu falei: "Como eu conheço esse segmento, eu vou trabalhar dentro desse segmento".
E esse aí é o diferencial.
Porque, quando o cliente chega, que a gente vai atender o cliente, ele percebe uma margem de segurança naquilo que você passa pra ele, então ele fala: "Então, é aqui que eu vou comprar".
Por mais que ele tenha procurado antes uma loja maior, de maior porte, mas ele não se sentiu seguro no atendimento que ele teve, porque as pessoas lá não têm aquele conhecimento daquilo que está trabalhando, e aí, geralmente, é em cima desses erros que a gente procura trabalhar.
E até hoje eu procuro trabalhar nesse ramo aí.
Hoje eu já não mexo mais com a parte de perfuração de poço.
Antes eu executava a mão de obra.
Mas eu vendo, continuo vendendo o material, menos a mão de obra.
A mão de obra, hoje, quem executa.
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ela é, tipo, terceirizada: chega um cliente, eu faço um orçamento pra ele de todo o material que ele precisa e, se ele precisar de alguém pra indicar pra fazer a mão de obra, eu indico a pessoa.
Então, eu fico responsável pela venda do meu material e quem executa o serviço pra ele, torna-se responsável pela mão de obra.
E antes eu assumia todos esses dois papéis: eu ficava responsável tanto pela mão de obra, quanto pela venda do material.
Mas começaram a surgir alguns problemas, que foram fazendo com que eu pudesse abrir os olhos e eu falei: "Não, eu vou passar a deixar a mão de obra com quem executa e vou trabalhar só com a venda do meu material".
Com isso, eu passei a ter menos dor de cabeça.
((risos))
P1: Mas aí você foi, eu imagino, vendo os problemas do bairro.
É isso?
R1: Sim, sim.
P1: E começou a se engajar, né?
R1: Em cima dos problemas do bairro, sim.
Aí, basicamente, em cima disso, como eu passei a morar dentro do bairro, as pessoas passaram a me conhecer melhor e observavam aquele abandono, aí vieram com a minha pessoa: "Wagner, não tem interesse em representar a comunidade?".
Eu falei: "Não, não tenho, porque o meu trabalho me prende muito aqui" "Não, cara, mas a gente te ajuda".
Aí acabaram me convencendo.
E a gente, num período lá aonde foi convocado uma eleição dentro do bairro, resolvemos montar uma chapa, pra compor lá as eleições, né e aí ficaram só duas chapas: a do atual presidente e a nossa e aí a gente foi.
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a primeira vez que os moradores do bairro realmente foram votar.
Porque antes eles se reuniam e passavam: "Olha, agora vai ser você o responsável".
Entre eles.
A comunidade não participava das eleições, ela não votava, mas também porque não existia um documento da associação.
A associação existia de boca: "Olha, hoje eu sou o representante.
Amanhã é ele".
Aí, foi quando a gente.
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entramos na eleição de 2014, aí quando eu olhei todo o processo, eu falei: "Não, vamos montar uma chapa".
Eu paguei.
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eu passei a escolher algumas pessoas, assim, da minha confiança, né, pessoas sérias e aí montamos a chapa, houve uma eleição, nós tivemos trezentos e noventa e dois votos, eles tiveram noventa e seis, aí eu assumi a comunidade.
Então, quando me passaram os documentos, eu imaginei: "Agora eu vou pegar a papelada, tudo muito prontinho".
Pra minha surpresa, quando me entregaram o livro de ata e tudo, eram coisas que não tinham validade.
Que eu levei a algumas pessoas que tinham mais conhecimento com relação à regularização e à associação, ele me disse: "Eu tenho duas alternativas aqui pra resolver essa situação pra você" "Qual que é as duas?" "Eu posso rasgar e tocar fogo ou então você leva e joga fora" "Por quê?" "Porque tudo o que você está me apresentando aqui não tem a mínima validade.
Se você pensa em formar uma associação de morador, você vai começar do zero" "Como começar do zero?" "Você vai reunir as pessoas, você vai coletar determinada quantidade de assinatura, você vai fazer um cabeçalho aqui, tudo bonitinho, você vai trazer aqui.
A partir daí eu vou montar o estatuto, vou fazer tudo pra você.
E tudo isso tem custos".
Falei: "É, tem custos e não tem quem ajude".
Mas como eu havia assumido essa responsabilidade, eu banquei tudo do meu próprio bolso.
Então, a gente conseguiu legalizar a associação, todos os custos, né, de advogado.
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porque eu não sabia como é que funcionava aquilo.
Primeiro eu fui pra pessoa que fez, né, o estatuto da associação, tudo bonitinho, ele me cobrou um valor, na época, de oitocentos reais, eu paguei, exigi dele um recibo e ele foi me dando o passo a passo: "Agora você procura um advogado, o advogado vai ler o estatuto, vai ver se está tudo de acordo com a lei e vai assinar esse estatuto".
Aí eu procurei, posteriormente, um advogado, pra minha surpresa ele falou: "Ó, isso aqui é mil reais, pra que eu possa assinar todos esses papeis pra você".
Eu falei: "Nós não temos condições.
O que você pode fazer?".
Com muito diálogo, ele falou: "Eu posso fazer pela metade".
Falei: "Então, pode fazer".
Paguei, ele me deu um recibo e aí eu recorri ao cartório, né, já tudo assinado, tudo certinho, cheguei no cartório, falei: "Eu preciso registrar esse documento no cartório".
A moça conferiu as páginas, falou: "Dá oitocentos e quarenta reais".
Falei: "Como?" "Oitocentos e quarenta reais, porque aqui nós cobramos por folha.
A primeira folha é X, a segunda é X".
Falei: "Minha amiga".
Eu já estava mesmo metade do caminho andado, falei: "Agora não posso mais voltar atrás".
Em resumo: "O que a gente pode fazer aqui é 800".
Falei: "Faça”.
Me deu um recibo, que eu estou pagando o valor.
E aí fui somando esses custos.
Peguei essa papelada de lá e entreguei na mão da contadora, pra ela poder dar entrada na Receita, pro CNPJ da associação.
No final, essa associação saiu por dois mil e trezentos.
A partir daí começou a ter uma Associação de Moradores do Novo Horizonte, que nunca existiu.
Existiu os responsáveis, desde a época, inclusive, da apropriação lá da área lá, que eles foram pra lá.
Sempre a coisa ficou muito de boca: um passava pra um, outro passava pra outro.
Existe o documento da área lá? Existe.
Mas essa pessoa ficou com o documento pra ele, ele não quis entregar pra ninguém, mas documento a nível de Associação de Moradores, fui eu que fiz, em outubro de 2014.
P1: Há seis anos, né?
R1: É.
Aí tá, quatro anos de.
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P1: De mandato?
R1: .
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de período.
Encerrou-se os quatro anos, muito pouca coisa foi feita pelo bairro, realmente.
Talvez aí eu tenho que ser crítico: da minha parte faltou essa flexibilização.
P1: Eu tinha perguntado por seis anos, né?
R1: Seis anos, isso.
Eu estou há seis anos, mas quando foi criado o documento da associação, o mandato eram quatro anos.
Ok? Então, cumpriu-se esse período de quatro anos, 2014 a 2018 e, automaticamente, já tinha que se renovar isso aí, né, se convocar uma próxima eleição dentro do bairro.
Muito pouca coisa foi feito dentro do bairro? Sim.
Mas, como eu te disse, o meu papel, a minha função hoje me prende muito, eu não tenho muito tempo pra estar me deslocando pra sair.
Porque quem trabalha por conta própria, é escravo do seu próprio trabalho.
Tá, mas isso também não é justificativa, né? Eu sempre fui uma pessoa um pouco fechada, no sentido de não querer.
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na concepção da palavra, ser um puxa-saco, ser aquele cara ligado ao vereador, ao secretário, ficar bajulando.
Eu não me sirvo pra esse papel.
Então, eu observo que, em outras áreas, aonde tem uma evolução melhor, existe alguém lá com essas "qualidades", das quais eu não quero ter.
Porque a partir do momento que você dá a mão, ele segura na tua mão e você não pode sair mais.
O cara te coloca embaixo do braço e passa você ser apenas um representante dele: "Eu estou fazendo lá pelo teu bairro, isso e aquilo, você é meu.
Quando eu precisar de você, num período X, você vai estar lá, carregando a minha bandeira".
Dizem, eu não posso provar, que alguns até têm um nome na folha de pagamento.
Não é o meu caso.
(risos) Eu nunca recebi um centavo e nem quero.
E cumpriu-se esses quatro anos, fizemos uma recapagem das ruas e tudo, legalizei a associação e houve um período em que a Secretaria de Patrimônio da União, quando a antiga Codebar foi extinta, passou a assumir todas as áreas aqui.
E aí veio um período em que foi criado uma secretaria, uma parceria da Secretaria de Patrimônio da União, a SPU, com a prefeitura municipal de Barcarena, tá? Qual que era essa finalidade? Legalizar as áreas de terra para os moradores.
Então, nós participamos de várias reuniões, tanto na prefeitura de Barcarena, quanto no São Francisco, lá na subprefeitura.
E, como o bairro Novo Horizonte era um dos bairros mais antigos, o Exército, inclusive, já havia feito medição de área, já tinha tramitação de documentos da União para a prefeitura, daquelas áreas, então: "No Novo Horizonte nós vamos dar início".
A prefeitura nos apresentou, em reunião, uma empresa, por nome Topotech Serviços Geoespaciais e essa empresa iria fazer todo o georreferenciamento das áreas e, com um prazo de 90 dias, cada morador iria ter o seu documento definitivo do seu lote de terra.
Bom, como eu sempre fui um cara de me engajar nas coisas sérias, eu falei: "Agora é o momento de eu entrar de cabeça nessa situação".
E entrei.
Contribuí com o que eu pude para a execução desse serviço e a empresa exigiu o pagamento de uma taxa.
Um exemplo: cada um lote dez por trinta, pagava-se, na época, cento e setenta reais, cento e sessenta, em um boleto, mas se o morador não quisesse pagar em apenas uma vez, ela poderia executar o parcelamento dessa taxa em duas parcelas de oitenta e cinco.
Em resumo: uma média de uns duzentos e cinquenta, trezentos moradores resolveram pagar essas taxas, dentre eles eu: paguei a taxa do terreno da associação, paguei a taxa do meu terreno e entrei também na jogada, sendo que era uma coisa séria, que as pessoas realmente iriam receber aqueles documentos.
E aí engajei naquele serviço.
A empresa mandou algumas pessoas pra lá, pra dentro do bairro: "Wagner, você é o representante dos moradores, você vai dar um apoio pra esse pessoal aí" "Sem problema".
Então, quando era preciso, eu pegava os caras, eu levava pro almoço, eu ia buscar, eu trazia.
Eu fazia de tudo.
Falei: "Eu quero o serviço pronto.
As pessoas vão receber os seus documentos.
Isso é superimportante, né, você ter um título de posse do teu terreno".
Tá.
Pra minha surpresa, um belo dia, veio um amigo meu, com o nome Franklin, que é presidente de uma Associação de Moradores aqui da Vila dos Cabanos.
Ele falou: "Wagner, você conhece a SPU, em Belém?".
Eu falei: "Não" "Rapaz, eu tenho uma boa entrada lá com as pessoas, um bom conhecimento e eu queria te levar lá pra te apresentar pra umas pessoas lá, porque é uma porta que se abre pra você.
É bom, que você já leva os documentos da associação, que você registrou.
Já fica lá o negócio".
Eu falei: "Legal" "Quando é que tu tem uma viagem pra Belém?".
Ele me perguntou.
Eu falei: "Quase que toda semana eu vou à Belém.
Quando aparece uma oportunidade de buscar alguma coisa, eu estou indo" "Então, quando você tiver uma viagem, me avisa".
Na minha próxima viagem eu avisei e a gente, Belém.
Levei a pasta com todos os documentos, entramos na Secretaria de Patrimônio da União.
Chegamos lá e fomos de sala em sala.
Ele me apresentou uma senhora por nome Nete.
Abaixo do superintendente, ela era a pessoa que respondia por tudo.
Bateu na porta, entrou, falou: "Oi, tudo bom? Ó, eu trouxe o nosso amigo aqui pra lhe conhecer.
Esse é o Wagner, lá do Novo Horizonte" "Pois não, pode entrar".
Ele falou: "Fique aí um instante, que eu vou resolver outras coisas".
E eu fiquei só eu e essa senhora na sala, na Secretaria de Patrimônio da União.
Ela falou: "Tudo bem?".
Começou a conversar comigo, foi legal.
"O senhor, agora, é o representante lá do Bairro Novo Horizonte?".
Falei: "Sim" "É, o Novo Horizonte tem uma Associação de Moradores registrada?".
Eu falei: "Tem" "Você tem a cópia desses documentos?".
Eu falei: "Tenho".
Eu mostrei pra ela: "Poxa, legal.
Eu gostaria que o senhor deixasse comigo uma cópia desse documento, pra gente poder saber, quando a gente quiser se dirigir à liderança da comunidade, a gente já sabe o seu contato, quem é você e tal".
Eu: "Tá bom" "Mas enfim, senhor Wagner, o motivo de eu ter solicitado a sua vinda aqui, nada tem a ver com estes documentos que o senhor está trazendo.
Eu gostaria de.
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que você me desse algum depoimento, pra gente esclarecer algumas coisas que vêm ocorrendo lá dentro do seu bairro".
Falei: "Quais são essas coisas?".
Ela vira o computador, a tela do computador pra mim e me apresenta uma foto minha na frente da igreja, junto com alguns moradores.
"O que essa foto aqui representa pro senhor?".
Eu olhei a foto, falei: "Essa foto, inclusive, é recente" "Olha, o que estava acontecendo nesse momento aqui?".
Aí eu contei a história da parceria que foi feita entre a SPU e prefeitura e tal, que a empresa estava lá, cadastrando os moradores, pra poder eles receberem uma.
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pagar uma taxa, que seria emitido um documento, a empresa ia fazer o serviço de medição, de georreferenciamento, de memorial descritivo dos lotes, pra que, a partir daí, com 90 dias, a prefeitura ia dar o título de posse da área.
Ela disse: "Isso não existe" "Não existe?" "Isso não existe.
Esse acordo nunca foi cumprido por parte da prefeitura.
Ele até foi vislumbrado pela prefeitura, mas a prefeitura não cumpriu com aquilo que foi acordado com a nossa equipe e nós só temos dezesseis técnicos pra trabalhar no estado inteiro.
Nós não temos empresas aqui que executam esse tipo de serviço e que cobram taxas de moradores, até porque esse serviço é gratuito".
Eu falei: "Mas essa empresa foi apresentada, na nossa comunidade, pela prefeitura de Barcarena" "Tá, mas essa empresa não pode estar lá dentro, porque ela não tem cadastro aqui conosco".
E ela começou a colocar: "E o que nós temos aqui, do senhor, são denúncias de que você está fazendo parte deste contexto, cobrando taxa dos moradores".
Aí foi quando eu fui cair na real.
Falei: "Não, isso não procede.
As pessoas que fizeram esse tipo de denúncia.
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essa denúncia é infundada".
Por sorte eu havia levado alguns comprovantes de pagamento que eu havia pago, que era dentro de uma pasta.
Eu falei: "Inclusive, eu fui um dos que paguei por esses serviços" "O senhor tem esses comprovantes?" "Tenho".
Aí eu mostrei.
Ela disse: "O senhor conseguiria transcrever isso tudo pra um documento, num papel timbrado da sua associação, desde as reuniões, como foi feito, bá, bá, bá?".
Aí eu fiz, levei numa outra oportunidade.
Ela disse: "Olha, porque foi aberto um inquérito aqui, a qualquer momento o senhor poderia estar na sua residência e ser recebido lá por uma equipe da Polícia Federal e simplesmente prender o senhor, porque as denúncias que chegaram aqui são essas: de que você estava lá cobrando taxa dos moradores.
Inclusive através das fotos, que comprovam que o senhor estava lá".
Eu digo: "Ué, eu fui exigido pra fazer esse papel, porque eu sou a liderança da comunidade.
Então, a própria prefeitura exigiu que eu desse esse apoio, né?" "Não, então é diferente do que chegou aqui".
Aí eu fiz um documento, tudo explicativo, anexei cópias.
Porque aí eu paguei por serviços que a empresa tinha que ter feito e não fez, como, por exemplo, a localização de lotes.
Como o bairro cresceu e você não tem a casa cinco do lado da casa quatro, você tem a casa cinco, na frente tem a duzentos.
Como é que você ia encontrar esses endereços? Então, eu tive que pegar pessoas de dentro do bairro pra trabalhar, eu pagando, porque eu já tinha entrado, eu falei: "Não, não vai deixar de acontecer o serviço por causa disso".
Chamei as pessoas, paguei, exigi que eles assinassem um recibo e tudo isso eu mostrei, eu falei: "Ó, esse aqui eu tirei do meu bolso, esse aqui, as taxas que eu paguei do lote da associação, do meu terreno".
Foi aí que eu comprovei que eu nada tinha a ver com essa jogada, entendeu? E esse tipo de situação tirou muito aquela minha vontade que eu tinha de fazer algo diferente pela comunidade.
Falei: "Poxa, eu estou com toda a boa vontade e as pessoas usando de má fé, querendo denegrir a minha imagem".
E eu fiquei meio ressabiado, né, em ser aquele cara ativo, aquele cara.
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enfim.
Nós concluímos esses quatro primeiros anos, foi quando surgiu ali, por parte de algumas pessoas: "Olha, é só quatro anos, hein, que ele vai permanecer.
É o momento da gente cobrar que vai ter que ter eleição.
Vamos ter que escolher outro representante".
E aí começaram a fazer reuniões dentro do bairro e chegou ao meu conhecimento que essas reuniões vinham ocorrendo e que, inclusive, lá nessas reuniões eu era muito criticado, porque eu era um cara ignorante, eu não tratava as pessoas bem etc.
Falou: "Ó, Wagner, vai ter uma próxima reunião agora na próxima quarta-feira.
Você quer estar lá?".
Eu falei: "Sim".
E aí, quando eu fui, tinham algumas lideranças lá, que estavam coordenando as reuniões, tinha um representante do município, da prefeitura, né, que era um vereador local e eu.
Mais ou menos umas 60 pessoas.
Dei um boa noite, eu levei alguns documentos.
E aí, quando eu cheguei lá, que cada um começou a falar, aí chegou a minha vez.
Aí eu fui colocando pras pessoas como é que surgiu a associação; como foi que eu peguei, né, que ela tinha um custo mensal; que, infelizmente, nenhum morador era cadastrado na associação, portanto, não pagava nenhuma taxa; que o estatuto regia a maneira de se fazer uma eleição dentro do bairro; que, pra participar de futuras eleições, tinha que ser um associado ativo, com as mensalidades em dia.
Portanto, quem não era associado não podia nem votar e muito menos ser votado.
Aí foi quando caiu.
Falou: "Ah, então, agora como é que a gente pode fazer?".
Eu falei: "Não, eu não tenho mais interesse em permanecer.
Eu não tenho".
Mas depois de tudo muito esclarecido vieram comigo: "Não, não faz isso.
Não abandona, não.
Permanece".
E aí houve aquela situação.
A gente fez uma outra reunião de aclamação e falou: "Ó, vai ficar mais quatro anos".
Foi aí que eu (risos) continuei à frente da comunidade, entendeu? Mas, assim, com muitas dificuldades.
Talvez, até pela minha maneira de ser no meu dia a dia, algumas portas possam se fechar pra mim, porque eu não sou aquele tipo de pessoa de ir lá e estar bajulando, estar pedindo, estar implorando.
Quando eu quero alguma coisa, eu preparo um ofício, levo e entrego.
Claro que eu fico cobrando, mas quando também não faz, eu também não.
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então, a nossa comunidade, hoje, se resume a isso.
Era pra ser um bairro muito mais bem estruturado, né, até por ser um bairro que a empresa do atual prefeito está lá dentro.
O nosso ex-gestor que, infelizmente, faleceu, a empresa dele é dentro do Novo Horizonte.
Então, quando surgiu o Novo Horizonte, a empresa dele já era lá do lado.
Tanto que ele morou à frente, com medo das pessoas invadirem a frente da empresa dele, né? Tem a área da empresa dele e ele morou à frente.
Com que finalidade ele fez aquele muro? "Não, as pessoas que estão aqui do lado podem muito bem querer migrar pra cá, pra frente da minha empresa, portanto, eu vou murar".
Então, uma empresa aonde o gestor, né, onde o atual prefeito.
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o ex-prefeito de Barcarena, seu Antônio Carlos Vilaça, morava, dentro do Bairro Novo Horizonte, no meu entendimento, era pra ser a galinha de ouro dele.
Aquelas pessoas: "Poxa, não, lá é onde tem a minha empresa.
Eu vou cuidar.
Vou cuidar da frente, eu vou tentar fazer algo de diferente".
Mas, infelizmente, no Novo horizonte, nós não fomos, até o momento, agraciado com essas questões de infraestrutura, tá? Não temos saneamento básico, assim como não tem na grande maioria dos bairros, talvez aí uns três bairros tenham saneamento básico: Vila dos Cabanos, Pioneiro e, talvez, uma parte do Laranjal.
Os demais bairros não possuem saneamento básico, não possuem sistema de água, não possuem sistema de esgoto.
Água nós até temos, mas é como eu coloquei pra você: não contempla todo o bairro, daí o porquê da demanda do serviço de busca por perfuração de poço semi artesiano.
Eu diria que, dentro do bairro, de cada dez residências, você tem cinco poços artesianos, pra cada dez casas.
A proporção é essa: 50%.
Porque alguns têm o tubo de água da rua, mas aquele tubo não alimenta aquela casa.
Falta demais.
E aí, em 2014, a prefeitura resolveu terceirizar esse serviço, né, de sistema de abastecimento de água, né? Foi quando foi feito um acordo aí, a Câmara aprovou e a empresa Águas de São Francisco passou a ter o monopólio, dessa questão de água e esgoto do município, por 30 anos.
Claro, a partir daí a empresa começou a trabalhar mais, a implementar mais o sistema e passou a faltar menos água.
Mas ampliação dos ramais, nada foi feito.
P1: E isso é uma coisa que você vê acontecendo também com relação aos bairros que foram criados por empresas ou não, que recebiam os projetos?
R1: Na realidade, o único bairro em específico que foi projetado para atender as empresas, foi a Vila dos Cabanos.
Aqui foi um bairro projetado pra receber os funcionários que vinham, na época, trabalhar aqui na fábrica.
Portanto, aqui você tem critério: você tem área verde, você tem as quadras muito bem distribuídas, você tem aqui esgoto, sistema de tratamento de esgoto, você tem água.
Então, aqui eu diria que é o centro.
Os demais bairros não.
Existe um dos bairros mais antigos aqui também, que é o Pioneiro, parte do Pioneiro tem sistema de esgoto, parte, mas o sistema de água também é precário.
Bairro Laranjal também, que é um dos antigos, tem algum sistema de esgoto, mas o sistema de abastecimento de água precário.
Então, a única exceção de todos esses, exatamente a Vila dos Cabanos.
Porque aqui foi criado pra receber os funcionários da fábrica, na época da implantação aqui, né? Então, é uma coisa muito bem projetada.
Então, você tem uma grande diferença: Vila dos Cabanos é um nível, os demais bairros é outro nível e muito pior.
P1: Até Barcarena Sede?
R1: Barcarena Sede, assim, deixa eu tentar te explicar como que surgiu Barcarena Sede.
Barcarena, na realidade, surgiu no Bairro São Francisco, onde hoje tem a subprefeitura, né? Com o período, com o passar do tempo, começaram a ocupar a área onde hoje é Barcarena Sede.
Como é uma área maior, de melhor localização, passava os barcos, atracava as pessoas, levava pra Belém, voltar, começou a crescer lá, começou a desenvolver o comércio e aí, com o tempo, passou a ser a sede do município lá, em Barcarena.
Portanto, Barcarena Sede já tem uma boa infraestrutura, né? Mas olha a distância que é daqui pra lá: dez quilômetros.
Como eu te falei, pra que toda essa distância? Né? Você tem um polo central do município a dez quilômetros de distância da Vila dos Cabanos.
Mas lá se desenvolveu melhor, né? Até porque os grandes comerciantes começaram a migrar pra lá.
Por isso lá se desenvolveu mais e pra cá ficou apenas.
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né, eu estou falando o início da cidade, né? Aí depois, quando surgiu o polo industrial aqui, foi que criaram essa área aqui da Vila dos Cabanos, pra atender os funcionários da fábrica.
Então, aqui já foi uma coisa projetada, onde você tem uma área de residência, uma área de mata verde.
Foi pensado em tudo isso.
Barcarena Sede, por exemplo, não tem isso, mas cresceu ordenadamente, você observa que um bairro se interliga ao outro.
Como eu disse logo no início: o grande problema nosso aqui é que você tem bairro.
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por exemplo, você tem Vila do Conde.
Olha a distância daqui pra Vila do Conde? Né?
P1: Tipo Barcarena, né?
R1: Barcarena.
Onde funciona, por exemplo, hoje, o polo industrial, né, onde está, hoje, a Hydro, onde está a Alunorte, o polo industrial, pertenceu àquelas famílias tradicionais daqui da cidade.
Eles detinham o direito de posse daquelas áreas.
Como o governo achou que precisava usar essa área pra implantar todo esse polo industrial, essas famílias foram realocadas, né? "A gente vai colocar vocês em uma outra área".
Né? Aqueles órgãos que estavam à frente, pra cuidar disso, fizeram acordo com essas famílias e elas foram.
Vamos supor: duzentas famílias, trinta foi pra um local, vinte pro outro, algumas pra Belém.
As pessoas, eu diria que foram até que indenizadas, né, mas a grande maioria migrou pra bairros próximos.
Muitas dessas famílias, que moravam aonde é o polo industrial, aonde é a fábrica hoje, estão em Itupanema, estão na Vila do Conde, estão no Pioneiro e em outros bairros assim também, porque era de interesse da União aquelas áreas, pra montar indústria lá e eles foram deslocados de lá.
P1: Então, você vai ficar até 2022 à frente da associação, é isso?
R1: Sinceramente falando, se for da vontade de Deus, sim, mas já passou pela minha cabeça sair desse barco antes, tá?
P1: Por quê?
R1: Justamente porque, quando me convenceram a permanecer, as pessoas falaram: "Não, a gente vai te dar um apoio".
Mas aquilo ali foi um ato pra me encorajar a permanecer.
Depois eu percebi que aquele apoio não foi concretizado.
Mas a cobrança continua da mesma forma.
Então, como eu te falei: eu, aqui dentro do município, já passei por alguns momentos bons, na minha vida pessoal e profissional e alguns momentos ruins.
Então, às vezes, tem coisas que podem te atrapalhar, ou até mesmo atrapalhar a minha função de líder comunitário.
Então, tem momentos que eu vou ter que.
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eu já cheguei ao ponto de pensar: "Eu tenho que escolher: ou uma coisa, ou outra".
Porque o meu ramo de atividade, como eu te falei, exige muito de mim, as coisas são muito centralizadas em mim, quem resolve sou eu e tem momentos que eu não posso me ausentar de lá, entendeu? Então, eu fiquei pensando, eu falei: "De repente ocupar essas duas funções?".
Acaba que a gente não tem tempo, às vezes.
Porque quem está à frente desse tipo de trabalho precisa, no meu entendimento, dispor de tempo, dispor de uma aproximação maior com algumas pessoas, voltada para o órgão público municipal.
E eu, me olhando, assim, na frente do espelho, ainda não consegui encarnar esse tipo de espírito, sabe? Parece assim que algo dentro de mim diz: "Wagner, tu não serve pra ir lá estar pedindo uma coisa, uma, duas vezes".
Porque às vezes você tem que ser insistente demais.
Porque, como eu sou aquela pessoa que, quando alguém chega comigo e pede alguma coisa que está dentro do meu alcance, eu faço é logo, é de imediato, eu não gosto de estar: "Tem como fazer?" "Tá.
Tal dia nós vamos fazer".
Não cumpre.
Eu volto lá: "Poxa, tal" "Não, mas nós vamos marcar uma outra data".
Não cumpre.
A partir daí essa pessoa, pra mim, já não tem palavra e isso mexe muito com o meu sistema de agir, do meu dia a dia, porque eu não me encaixo dentro disso aí.
Né? O político é mais mentira do que verdade.
Então, as pessoas que estão à frente das comunidades hoje, têm que ser muito flexíveis, têm que.
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eu diria que têm que ter aquela ocupação como o seu principal objetivo.
Existe alguns que vivem disso, se dedicam exclusivamente a isso.
Eu não tenho como fazer isso, porque o meu trabalho me impede e a minha forma de ser e de agir também vai de encontro a esse tipo de barreira que se quebra.
"Ah Wagner, mas será que na tua comunidade não aconteceu algo de melhor, porque tu é um cara fechado pra situação municipal, tu é um cara contra?".
Não.
Eu sou um cara neutro.
Até pelo meu ramo de atividade, ele não me permite colocar bandeira de A ou de B.
Eu sou neutro.
Aquele que chegar comigo e fizer algo pra comunidade, é o cara que eu vou colar nele.
E o que não fizer, eu também não vou fazer nada por ele.
Então, eu não empunho bandeira de ninguém, ao mesmo tempo eu não vou criticar ninguém publicamente e eu também não vou querer nada pessoal pra mim.
A minha briga sempre foi por melhoria da comunidade.
Claro que, se melhorar a comunidade, melhora pra mim? Sim, eu moro lá.
Eu nunca busquei algo pessoal, eu nunca usei a associação e jamais irei usar, pra fins pessoais.
Isso não é o meu papel.
Como eu te disse, o que eu posso fazer, dentro das minhas poucas possibilidades, eu faço.
É pra ajudar alguém? É pra fazer tal coisa? Vamos lá.
Só que tem coisas que são muito maiores que, às vezes, não vêm pra comunidade e as pessoas te criticam: "Ah, porque ele está só ganhando dinheiro.
Ele recebe pra isso".
O que é isso? Nunca, na minha vida, eu recebi um real do órgão municipal, seja da prefeitura, seja de nada.
Não tem ninguém.
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eu digo pras pessoas, de peito aberto, eu não tenho.
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a expressão nossa é ‘rabo preso’.
Não sei se essa palavra pode ser colocada.
Eu não tenho.
Então, eu ando de cabeça erguida.
Ninguém vai chegar na minha porta dizendo o que eu tenho que fazer.
Eu digo o que eu tenho que fazer, porque eu não devo favores a ninguém.
Então, às vezes, pra você desenvolver um papel dentro de uma comunidade, requer que você mude a tua personalidade.
Eu não tenho como mudar, eu não tenho.
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eu não posso ser dois.
Eu tenho que ser só um.
De uma hora pra outra eu vou colocar um político embaixo do meu braço, trazer esse cara pra dentro da minha casa, tomar café comigo, bater papo? Ele vai fazer parte da minha família sem.
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sem.
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sem.
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só por aquele único objetivo dele trazer algo pra comunidade? Depois ele desaparece.
Ou, então, eu vou ali pedir um voto pra ele, depois ele ganha, desaparece, a comunidade vem e cobra de mim.
Então, a pessoa, pra executar esse papel, tem que dispor de tempo, ela tem que ter jeito.
E eu não acredito que alguém faça isso de graça, por amor, porque se ela não tem uma outra função, ela vai precisar receber pra fazer isso.
Não é verdade? Porque ela tem uma família, ela tem que se sustentar.
Vai sustentar de quê? Se aquela pessoa não trabalha, ela não tem nenhum ramo de atividade, a única função dela é ser representante daquela comunidade, presidente, ou sei lá, como é que ela vai sobreviver? Então ela, automaticamente, no meu entendimento, recebe alguma ajuda pra estar ali naquela função.
Agora é aquela história, é mão dupla: "Eu te dou e te cobro.
Você vai estar ali, você vai estar exercendo aquele papel de líder comunitário, de repente, né, você pode receber por isso, eu posso colocar o teu nome na folha, você recebe por isso, mas você vai estar ali comprometido com a gente, com a nossa causa".
E esse tipo de compromisso, eu não vou ter.
Não adianta me propor, que eu não vou ter.
Eu não vou me corromper.
Então, se for pra algo de melhor vir pra dentro da comunidade, em troca ser exigido isso, estou fora.
Então, talvez, dentro desse tipo de perfil, eu não me encaixo, né? Mas também não uso a comunidade em benefício próprio, jamais, nunca usei, jamais irei usar, né? Eu acho que isso aí já é uma grande vantagem.
Porque, infelizmente, tiveram alguns que passaram antes de mim - não vou citar nomes, até por questão de ética - que não fizeram nada, mas, no meu entendimento, sobreviviam daquilo ali.
De que maneira, se nós não temos uma Associação de Morador? Quando eu digo "não temos associação de morador" são pessoas cadastradas da associação pra pagar uma taxa mensal, pra que aquela associação sobreviva daquilo, porque existe um custo mensal com contador, com papel, com isso, com aquilo, com algum documento que a gente possa emitir.
"Wagner, mas a tua associação não recebe nada?".
Eu estaria mentindo.
O que a associação recebe hoje? Quando algum morador procura a associação pra pegar algum documento, por exemplo: uma declaração de residência, pra abrir uma conta no Banco, pra levar pra um órgão público e etc, eu emito aquela declaração com papel timbrado, num computador, carimbado e assinado e eu cobro, por essa declaração, cinco reais, que todos os que fazem cobram.
Mas isso não é o suficiente pra arcar com as despesas que ela tem.
Se faz dez, doze declarações em um mês.
Se a gente foi multiplicar, dez por cinco dá cinquenta, doze por cinco dá sessenta.
Não paga a tinta da impressora.
Não estou nem falando do teu tempo.
Entendeu? Questão de despesas de contador, porque uma associação é uma empresa.
Quer dizer: eu venho arcando com tudo isso aí há muitos anos, por quê? É como a minha mulher fala: "Wagner, de qualquer maneira, quando a gente faz isso, a gente está ajudando alguém".
Eu falei: "É verdade".
Que você também tem que pensar, né, naqueles mais necessitados.
Que às vezes a pessoa não tem os cinco reais.
Não tem mesmo.
"Senhor Wagner, eu estou precisando disso aqui, porque eu preciso lá um emprego, eles me exigiram isso aqui, ó.
Sem esse documento eu não tenho como arrumar um emprego".
Eu vou negar isso pra alguém? "Não, eu vou fazer pra você.
Pode levar".
Porque sei que ali eu estou prestando um serviço público, pra aquela comunidade.
Mas por mais que você faça tudo isso, são poucos aqueles que reconhecem.
A grande maioria te critica, porque quando vê você ter alguma coisa, diz: "Olha, ele está conseguindo aquilo ali através de quê? Através da associação, né? Ele está se dando bem, né?".
Ele se esquece que você trabalha de domingo a domingo, que é o meu caso.
Eu trabalho.
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eu tenho um domingo de folga por mês.
Isso quando eu resolvo ter; quando não, levo direto, dependendo dos meus compromissos.
Eu não sei qual dia que o cliente vai me comprar, então eu abro.
Então, quando você adquire alguma coisa, as pessoas ligam logo aquilo que você comprou àquele órgão que você está responsável, sem saber.
E isso machuca a gente.
Imagina você, eu ouvir da boca de um morador, alguém dizer assim: "Wagner, teve uma reunião ali no Novo Horizonte, onde o cara falou que tu é um bandido" "Quê?" "Alguém abriu a boca lá, de alto e bom tom e disse que você era um bandido, que você ficou com o dinheiro da comunidade".
Aquelas questões das legalizações de terra.
Quando, quem cobrava as taxas era a Topotech.
Os boletos, emitido pela Topotech.
Topotech é uma empresa que tem CNPJ desde o ano 2006, tem lá os seus sócios.
Eu nunca fiz parte daquilo.
Me apresentaram aquilo em 2014.
Como é que alguém pode dizer que eu sou sócio daquela empresa, que, portanto, eu usufruí daquele dinheiro que os moradores pagaram aquelas taxas, assim como eu também paguei? Né? A pessoa fala assim: "Pô, o Wagner é um bandido, que ele pegou dinheiro do povo aqui".
Mal ele sabe o quanto que eu tirei do meu bolso, pra que a empresa pudesse executar o serviço.
Porque uma das coisas exigidas pela Topotech era que a comunidade desse doação voluntária: "Senhor Wagner, a gente precisa de voluntários, pra gente poder executar o nosso trabalho" "Qual o papel dos voluntários?" "Identificar as residências, ajudar a gente medir os lotes".
Aí eu coloquei lá o nome de muita gente, que se predispôs a ser voluntário.
Quando a empresa veio executar o serviço, cadê os voluntários? Ninguém.
Falei: "E agora?".
O cara falou: "E agora? Nós não podemos deixar de fazer o serviço, porque os voluntários não apareceram".
Eu falei: "Sem problema, eu pago.
Eu tenho que dar a minha palavra.
Eu vou chamar as pessoas aqui, eu pago, mas vocês vão executar o serviço dentro do bairro".
Foi aí que eu te falei, chamei: "Quero que você trabalhe, faça o serviço.
Quanto é que você faz pra mim?" "X" "Beleza.
Eu vou te pagar e você me assina um recibo".
E eu paguei pras pessoas executarem o serviço, ajudar a Topotech, que era uma coisa que tinha que ser voluntária, mas não apareceu voluntário e eu paguei, justamente pra não ver aquela maioria das pessoas serem penalizadas, pra depois dizer: "Nós não fizemos o trabalho, porque o responsável pela associação não cumpriu com o acordo".
Falei: "Não, isso não vai ocorrer".
Então, eu tirei dinheiro do meu próprio bolso, eu banquei isso aí, eu tenho documentos guardados que comprovam isso, já mostrei pra inúmeras pessoas, mas ainda tem aqueles que abrem a boca, num momento, talvez, até impensado, fala: "Pô, aquele cara é um bandido.
Olha, ele comprou um carro, com certeza foi usando aquele dinheiro".
E esquece que tu tem anos de trabalho pela frente, esquece da tua dedicação ao teu trabalho, trinta dias por mês, que você tem um direito a ter as tuas economias, né? A aumentar o teu patrimônio, a comprar uma bicicleta, um carro, uma moto.
É um direito nosso.
Não é luxo, é necessidade, pra quem tem família, pra quem tem comércio.
E as pessoas acharem que você adquiriu aquilo porque tu tirou de lá da associação, sem que ninguém pague um centavo? Como que eu vou tirar? ((risos)) Então, ser líder comunitário é um papel complicadíssimo, pra aqueles que olham as coisas da minha forma.
De repente, pra outros, tem mais facilidade.
Não é bem o meu caso.
Eu tenho muitas dificuldades nesse sentido.
Mas nem por isso, como eu sempre falo pras pessoas: “Enquanto eu estiver à frente da comunidade, eu vou permanecer sendo o mesmo.
Eu não vou mudar no meio do caminho, pra agradar A ou B”.
Né? E aí, até 2022, se eu ainda tiver à frente da comunidade, vamos passar pra alguém.
Se não, eu simplesmente pego os documentos e mando dar baixa no cartório.
Está no meu nome.
Eu sou o responsável.
Da mesma forma com que eu paguei pra registrar, eu pago pra dar baixa.
“Está aqui, escolham quem vocês quiserem”.
Porque, simplesmente, é assim que tem que ser feito.
Eu sei que eu posso penalizar a comunidade agindo dessa maneira, mas é uma forma que eu tenho.
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.
eu não vou deixar um documento no meu nome, nas mãos de outras pessoas.
Não é justo.
Né? Então, 2020 vai vir de novo, eleição.
“Quem que pode ser votado, quem pode votar, está aqui o documento que rege.
Vocês não são associados, vocês não pagam taxas.
Como é que vocês querem votar? Como é que vocês querem ser votados? Nós vamos cair na mesma situação de 2018, não é mesmo?”.
Então, é muito complicado.
Existe a grande maioria dos representantes de comunidade, nem documento da associação tem.
“Ah, eu sou o líder da comunidade”.
Porque sabe que tem custos.
Alguns que são mais sérios, como tem pessoas sérias.
Eu não estou aqui aproveitando o momento pra denegrir a imagem de nenhum líder de comunidade.
Jamais.
Não posso apontar o dedo nem pra A, nem pra B.
mas eu sei que nem tudo está 100% no papel, né?
P1: __ (02:32:11)
R1: Sim, sim.
P1: __ (02:32:13).
R1: Sim.
Nós temos grupos de WhatsApp só de lideranças de comunidade.
P1: __ (02:32:21) também?
R1: É.
Agora, por exemplo, nós estamos fazendo um curso, né, até em parceria com a Hydro, onde, na conclusão desse curso, a gente vai ficar mais habilitado a lidar à frente das comunidades.
Então, ali a gente tem um grupo de pessoas que participam, né, mesmo on-line, mas a gente vai lá e participa.
Tem uma etapa, concluímos essa etapa, agora vamos pra uma segunda etapa.
Vai ter um momento que vai ser presencial.
Né? Então, vai ter aquela coisa que um vai aprender com o outro.
Então, a gente se comunica.
Entendeu? Mas a política nos separa.
Por que quando eu falo que a política nos separa? Porque, enquanto você tem vinte e quatro ou vinte e cinco lideranças comunitárias, você tem ali oito, dez pessoas que só têm intenções de ou trabalhar pra alguém ou querer ser um político.
Então, algumas que estão à frente das suas comunidades, hoje, por exemplo, são candidatos a uma vaga na Câmara Municipal.
Né? Então, você observa que alguém que está ali, está com segundas intenções.
Tu é líder comunitário ou tu quer ser candidato a vereador? “Ah, porque eu acho que o trabalho que eu executei dentro da minha comunidade, me leva a galgar esse posto” “Qual o trabalho que você fez?”.
Aí você tem que mostrar.
Eu jamais.
Já me proporam? Já.
“Não quer te candidatar? Não quer assinar uma ficha de filiação?”.
Não me vejo como político.
Eu não me vejo como político, eu não me vejo trabalhando como um político, ou pra político.
Entendeu? Pode até ser que amanhã ou depois isso venha a ocorrer, mas em momento, não.
Mas pra uns, não.
É a tal da causa social: “Vivo em torno das causas sociais”.
Ele quer abraçar aquela comunidade, ele quer ser o herói.
Mas, no fundo, ele quer usufruir daquela comunidade, em benefício dele mesmo.
Entendeu? Ele coloca a comunidade como algo prioritário dele, de cuidar, mas no fundo, ele quer ser cuidado por ela.
Ele quer se beneficiar de algo que ele possa extrair dali.
Então, é muito complicado.
Sabe? E aí se divide.
Igual eu te falei: nós temos o grupo? Temos.
As pessoas são partidárias.
Política, ela está em todos os ambientes.
Entendeu? Principalmente nas questões de comunidade.
Ó, imagina, por exemplo, agora a gente está numa época de.
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próximo das eleições, né? Então, eu não me envolvo.
Eu não chego com alguém e falo: “Ah, vamos votar no fulano”.
Não.
“Escolha em quem você quer votar.
Você escolhe.
Eu não vou induzir você.
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”.
Tem alguns dizem: “Wagner, poxa, e aí, em quem nós vamos votar?”.
Eu falei: “Eu ainda não tenho em quem votar.
Eu vou escolher” “Pô, mas me fala, cara.
Quem tu vai votar?” “Tudo bem, se tu quiser, eu posso te falar, se quiser dar o voto pra pessoa”.
Tudo bem.
Mas eu colocar a bandeira do cara e falar: “Ó, vamos trabalhar pra esse candidato aqui, porque esse cara vai trazer isso e isso pra dentro do bairro”.
É conversa.
O cara quer usufruir daquele momento, se elege e sai fora.
É de quatro em quatro anos.
Entendeu? Agora, aquele representante de comunidade que está ali vinte e quatro horas, dentro da Secretaria, dentro da Câmara, no gabinete do vereador e isso e aquilo, ele consegue alguns benefícios pra sua comunidade.
Mas isso tem um custo.
Tá? “Eu vou te ajudar.
Eu vou mandar as máquinas lá limpar a tua rua, eu vou mandar meter uma camada de piche lá e tal, fazer.
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mas olha, nas eleições, tu está comigo, hein? Eu preciso de ti”.
Então, eu estou me vendendo.
Eu não faço isso.
Em hipótese alguma.
Vou exercer o meu papel, vou votar, se tiver alguns amigos: “Wagner.
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” “Olha, eu vou votar pra fulano, se você quiser.
É o cara que eu acho que merece”.
Mas eu não vou influenciar as pessoas e nem tão pouco quero que as pessoas venham votar em mim, porque eu sou um preten.
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não, não.
Eu não sou candidato.
Mas tem, dentro das lideranças de comunidade, pessoas com os seus mais distintos papeis.
“Eu vou ser um líder, mas daqui a quatro anos, eu venho a candidato a vereador.
E eu já venho várias vezes e não consigo o meu êxito”.
Se você mora dentro de uma comunidade, você se candidata pra vereador, você tem cem votos, quando você precisa do mínimo de mil, está na cara que você não consegue.
Na próxima eleição você vem de novo pra ter os oitenta, noventa votos de novo? Porque eu acho que tem algumas pessoas que ficam satisfeitas em olhar pra história e dizer: “Olha, eu fui candidato a vereador, hein? Eu fui candidato a prefeito, hein?”.
Satisfaz o ego deles isso aí.
Não é o meu caso.
Tem pessoas assim.
Entendeu? Então.
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P1: Como é que você vê assim, o futuro da cidade e o futuro do bairro também?
R1: Veja bem, é uma incógnita hoje.
Falando a verdade, apesar de que o nosso bairro muito pouco foi beneficiado pela gestão pública.
Como eu disse a você: de 2008 a 2020, muita pouca coisa mudou.
Mas eu não posso olhar somente para o meu bairro.
Eu tenho que olhar no contexto geral do município, não é isso? Pra, a partir daí, traçar um parâmetro e falar sobre aquilo.
Então, se você mudasse a pergunta pra mim, falasse assim: “Wagner, o que você vê, de Barcarena de 2008, pra Barcarena de 2020?”.
Você só perguntou pro meu bairro, não foi isso? Eu ia dizer a você: “Eu observei grandes mudanças”.
P1: Em Barcarena?
R1: Sim.
Dentro do município.
Principalmente na questão de saúde, da educação.
Tá? Melhorou demais.
A questão de infraestrutura é mais demorada por quê? Como eu te falei: são bairros distintos.
Então, se faz uma coisa por vez.
Vai chegar o momento do Novo Horizonte? Vai.
Talvez não seja no momento que eu esteja à frente da comunidade, vou ficar feliz por isso.
Vai ser mérito de quem estiver lá na frente.
Se for no período que eu estou, não é mérito meu.
Não quero isso pra mim.
Entendeu? Então, a cidade, em si, melhorou bastante, porque a gente tinha um gestor que tinha compromisso com a melhoria do município.
Então, o cara passou seis anos à frente do município e ele fez coisas que há trinta anos não se fazia.
Bom, então você cria um ciclo: eu vou dar início.
.
.
ele tinha um projeto pra cidade, começo, meio e fim.
Projeto pra cidade, não era pra bairro A, bairro B.
Então, iria chegar o momento que ia chegar a vez do Novo Horizonte.
Como chegou de outros bairros anteriores.
Talvez, tudo é uma etapa e aqueles que estão por último, têm que esperar.
Então, em cima dessa situação, eu acreditava em coisas boas pra dentro do nosso bairro.
Né? Foi inaugurada uma Unidade Básica de Saúde dentro do bairro, está propenso a ser inaugurado uma creche dentro do bairro.
Mas essa creche, foi prometida a ser inaugurada sessenta dias depois da inauguração da UBS.
Nós temos um ano.
“Nós vamos inaugurar em agosto a Unidade Básica de Saúde e em outubro será a inauguração da creche”, palavras e compromisso dele.
Coincidentemente o cara faleceu, tudo mudou e até hoje não se inaugurou a creche.
Tudo bem, veio a pandemia e tal, beleza, mas já era pra ter sido inaugurada no ano passado, né? Então, a gente observa que nem todo mundo tem um compromisso em fazer algo de concreto pra dentro do município.
Então, agora a gente tem aí um campo meio minado, aonde, no meu entendimento, a eleição municipal aqui, a nível de prefeito, está definida, não há como.
Né? O futuro gestor de Barcarena.
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P1: Pode continuar, então.
Você estava falando __ (02:41:23).
R1: Então, no meu entendimento, o âmbito político do município, a questão das próximas eleições municipais, a nível de prefeito, já está definida, porque a gente observa que nós temos lado A e lado B: lado A é a atual situação, aonde o atual prefeito está apoiando um deputado daqui da cidade, chama-se Renato Ogawa.
E o Renato sempre foi parceiro do ex-gestor, sempre estiveram muito juntos, então isso aí não tem como mudar.
Existe um outro candidato, né, mas, no meu entendimento, aí a proporção é setenta pra trinta, então está definida a questão, só se acontecer algo de imprevisto da vontade de Deus, né? Mas dificilmente vai haver uma mudança no quadro político da questão de prefeito de Barcarena.
Renato Ogawa, provavelmente, vai vencer as eleições com muita facilidade e uma margem muito grande de votos, talvez a maior diferença de todos os tempos, né? Ele fazia parte da gestão anterior, do ex-prefeito que veio a falecer, então acredito que ele deva.
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a ideia é dar continuidade aos projetos que existiam, mas que ficaram parados.
Aquele que assumiu o papel do gestor que faleceu, trocou muito as prioridades.
Porque, como eu coloquei, se eu tenho uma obra pra inaugurar com sessenta dias, por que ela não foi inaugurada? Então mudou-se um cronograma: tirou-se o foco de um lugar e colocou pra outro.
Muitas coisas foram mudando.
Então, no meu entendimento, eu acho que Barcarena tem muito a ganhar, né, com esse atual gestor, apesar de que, pra algumas pessoas, por ele já ter exercido o papel de vice-prefeito e não foi um bom vice-prefeito, não foi um bom secretário, mas isso é coisa do passado, o cara também estava aprendendo na vida pública e eu acho que, como ele viu o município se desenvolver nos últimos seis anos, a ideia dele é dar continuidade.
Então, Barcarena tem tudo pra ser um município melhor, mais acolhedor.
Eu, por morar há doze anos aqui, considero uma cidade muito boa de se viver, apesar de todos os problemas existentes, mas não é uma cidade violenta, é uma cidade pacata, onde a gente não observa.
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eu diria assim, se a gente for comparar Barcarena com o sul do Pará, é muito diferente, são áreas violentas.
Aqui não tem isso.
Na própria política aqui não há esse acirramento todo, como existe em outros municípios, entendeu? Então, Barcarena, no meu entendimento, tem tudo a continuar progredindo, tá? Mas tudo também.
.
.
Barcarena, tudo gira entorno do polo industrial aqui.
É ele que dita as coisas aqui, porque é aquele que paga mais imposto, né? Portanto, a prefeitura tem que usufruir disso aí.
A cidade, era pra ser totalmente diferente.
Hoje a gente era pra ter mais infraestrutura, se os gestores anteriores, né, a partir aí dos anos 1980, tivessem tido mais uma visão mais empreendedora, uma visão de futuro.
Barcarena não era pra ter esse monte de invasão que tem, né, esses bairros com as ruas todas esburacadas.
Era pra gente ter bairros planejados, né? Uma cidade melhor de se viver, mais bem elaborada.
Mas, infelizmente, isso não ocorreu.
Então, eu espero que o próximo gesto consiga também fazer diferente, como havia sendo feito.
Como eu disse, houve muita melhoria na questão de saúde? Sem dúvida.
Na questão da educação? Sem dúvida.
Quem sabe agora não é a hora da infraestrutura do município? Né? De se melhorar a questão de atendimento à população, de melhorar as vias, de melhorar o sistema de abastecimento de água e esgoto, né, de se melhorar a qualidade do transporte do município, vários outros fatores.
Então, eu não pretendo ir embora de Barcarena, pretendo continuar muito mais anos aqui e quero ainda ver o município crescer, né, não desordenadamente, como cresceu das vezes anteriores.
Porque agora a gente observa que essas questões de invasão estagnaram, né? Elas estagnaram.
Cresceram, veio muita gente pra cidade, forçadamente tiveram que entrar nessas áreas e agora eu não vejo essa necessidade.
Você anda em alguns bairros, você observa "vende-se", "aluga-se", por quê? Porque está desocupado, né? Então, isso não é mais motivo pra se entrar em áreas, pra se invadir, né? Eu acredito que Barcarena, pro futuro, deve melhorar e a questão da gestão municipal, ela é diretamente, né, responsável por tudo isso.
E eu vejo boas intenções.
Eu espero que realmente isso venha a ocorrer.
P1: E Wagner, como é que foi, pra você, contar um pouco da tua história hoje?
R1: Bom, quando a Naiara me contactou, que eu vim aqui dar essa entrevista pra vocês, a princípio eu fiquei meio: "O que eu vou dizer?".
Né? "Chegar lá e tal".
Mas, aos pouquinhos, eu fui.
.
.
falei: "Não.
.
.
".
Ela me disse: "Ó, você vai falar sobre isso e isso".
E aí eu procurei me informar um pouquinho daquilo que eu tinha que falar aqui e a coisa aconteceu naturalmente.
Pra mim a gente poderia continuar conversando aí mais uma hora, sem problema algum, entendeu? Não vi nenhuma dificuldade, não.
Acho que algumas coisas têm que ser editadas, obviamente, né? Mas tudo o que eu falei aqui foi a mais verdadeira possível, né? Jamais eu fui criar alguma coisa pra falar aqui.
O que eu estou falando aqui pode ser novidade pra vocês, pra outras pessoas não é, então eu espero que vocês possam tirar proveito desse momento, dessa nossa conversa aqui e que eu possa ter contribuído com o projeto da Hydro, que é da responsabilidade de vocês.
P1: Ok.
E qual que é o seu sonho hoje? Você tem algum projeto?
R1: Bom, como eu trabalho na área do comércio, o meu sonho sempre é, a nível pessoal, né, estou falando agora a questão.
.
.
meu sonho é sempre continuar com o meu trabalho, prestando um atendimento fidedigno pros meus clientes, sendo um cara.
.
.
eu não quero mudar pra agradar as pessoas, eu quero ser eu mesmo.
Porque acho que 100% eu não consigo agradar, mas pelo menos 90% já é o suficiente.
Então, eu já tenho uma boa margem de aceitação, as pessoas já me conhecem, eu já estou há doze anos aqui, em julho agora vai fazer treze, o ano que vem.
Então, a gente já tem um nome que a gente construiu, que eu não quero, em hipótese alguma, jogar esse nome na lama.
Eu quero continuar trabalhando, atendendo as pessoas, dentro de uma honestidade, procurando sobreviver do meu negócio, mas de uma forma honesta e quero continuar vendo a cidade crescer.
Os meus projetos de família são esses: quero procurar dar uma estrutura pra minha família, ajudar na educação das minhas filhas, tentar dar uma vida melhor pra ela, aquilo que eu não tive, né, na minha infância e, com isso, quero ver a cidade crescer, a cidade se desenvolver, pra que as pessoas daqui possam ter oportunidades aqui, sem precisar ter que sair daqui em busca de trabalho em outra cidade, em outro estado.
Então, o que eu desejo pra mim, a nível pessoal, é isso e a nível coletivo é que a cidade possa se desenvolver melhor, né, que tudo possa melhorar.
É difícil? É, mas se tiver pessoas com boa vontade e com condições pra fazer, que façam, porque eles estão deixando um legado, não pra eles, mas quem sabe pros nossos filhos, pros nossos netos.
E o que eu desejo é isso, tanto a nível pessoal quanto a nível geral, para o município de Barcarena.
P1: Está certo, Wagner.
Obrigado, viu, pela presença.
Foi ótimo!
R1: Obrigado.
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