Então ia começar por pedir que se apresentasse… a dizer o seu nome, local e data de nascimento, por favor.
Então o meu nome é Susana Marisa Carvalho Silva Madeira, Madeira já do marido, tenho 46 anos e sou de Vila Flor.
É natural daqui… como é que se chamam os seus pais?
O meu pai chama-se Abílio Augusto da Silva e a minha mãe Ernestina de Jesus Carvalho.
E também são de cá?
São de Vila Flor, já faleceram.
Os dois?
Os dois… faleceram.
O que é que eles faziam?
O meu pai trabalhava na Casa Escalhão, uma casa de… de venda de materiais de construção civil, ele ajudava a… o motorista a entregar material nos diferentes pontos do país.
A minha mãe… a minha mãe sempre foi doméstica, mas… sempre foram os dois ligados à agricultura.
A minha mãe fazia descontos, embora estivesse em casa com os filhos, fazia descontos já para mais tarde ter a sua reforma ahm… através da agricultura.
Muito bem.
E tem irmãos?
Eu sou a mais nova de nove irmãos.
Nove… [risos] tem uma família muito grande.
Portanto… o mais velho é um… rapaz e eu sou a mais nova de… de oito raparigas [risos].
Então oito raparigas e um rapaz [risos].
Como é que eram estas vivências em família com tanta gente e com tantas mulheres?
É muito bom.
É… é… são as memórias que nós temos mais presentes em termos de… de reuniões de família de Natal… de reuniões de família na Páscoa… na festa de Vila Flor, de São… de São… ahm… ai agora esqueci-me do nome do Santo…
Bártolo.
Bartolomeu!
Bartolomeu, isso!
Isso corta, não é? [risos]
Sim [risos].
Pronto e são essas memórias.
Memórias dos casamentos que depois que foram… que os mais velhos foram casando… porque eu levo uma diferença mais ou menos de… de perto de 18 anos do mais velho e… somos depois… vai ali de 3 em 3 ou de 2 em 2 anos até… este decréscimo, não é? Ahm… e são memórias muito boas! Lembro-me de… de no Natal o meu pai ter sempre pronto, mais a minha mãe, depois de irmos para a cama… isto no dia 24 à noite, porque só abríamos os presentes no dia 25 e… de todos colocarmos as botinhas junto da… da lareira para… para estarmos à espera que deixa-se lá alguma coisa.
Somos uma família humilde, mas nunca nos faltou nada.
Graças a Deus nunca nos faltou nada.
E tínhamos sempre… alguma boneca… ou um conjunto de pratinhos ou de panelinhas ou de fogão, aquelas coisas… e as bombocas que eram deliciosas… e o cheiro que nós sentíamos à noite para termos no dia… no dia seguinte de dia 25.
E… e são aquelas que mais memória… memória tenho.
Esses Natais eram muito vividos com o meu pai num jogo que ele fazia com rebuçados e… e então colocava os rebuçados… eu pequena, os meus irmãos e já aqueles que estavam casadas e que já tinha sobrinhos, porque a minha primeira sobrinha leva-me três anos de diferença apenas… e… e brincávamos todos nessa… nessa harmonia e era delicioso.
Claro.
Com uma reunião familiar tão… tão grande… são muito ricas essas partilhas, claro.
Tinha outros costumes que tinha com a sua família de estarem todos juntos… em momentos de reunião…?
Sim.
Tínhamos o costume de… a minha mãe cantava fado quando era mais nova, quando era solteira, mais nova cantava fado… no café do Dr.
Pimentel, que é hoje o café Lis.
E então estávamos muitas vezes à noite a… na lareira a… escutar a minha mãe cantar, o meu pai, o meu irmão mais velho, que também se dedica ao fado ahm… e cantarmos! E prepararmos, por exemplo, os Reis para cantarmos… era uma tradição que nós fazíamos era… era preparar os Reis para depois irmos cantar às portas das pessoas.
Fazíamos assim um grupinho e… e íamos cantar à… por Vila Flor, pelas portas de Vila Flor, pelas casas.
E… e a minha… e quem nos preparava era o meu pai, o meu pai e a minha mãe.
A minha mãe tinha um… uma grande capacidade para fazer quadras e… e o meu pai também, e o meu pai também.
Eram assim muito dedicados à parte da…
Da música.
… da música, sim.
E gostava de ouvir histórias? Alguém lhe contava histórias quando era…?
Sim, sim, sim, sim.
Os meus pais sempre nos contaram histórias.
Sempre nos contaram histórias da vida deles, como foi a vida deles… nunca nos esconderam nada em termos do que passaram, das necessidades que tiveram ahm….
Há uma história engraçada que é, que é uma história deles… que é a história deles em termos de paixão… que a minha mãe estava numa família mais abastada e o meu pai era de umas famílias mais… mais humildes, mais… com mais necessidade… e a minha avó não queria que a minha mãe casasse com o meu pai.
Eu lembro-me deles… na altura já… já se quererem juntar mesmo sem casamento e… e eles contavam-nos essas histórias sim, claro.
E isso marcou-a também.
Ah sim, sim, sim.
Essas histórias são sempre muito… muito enriquecedoras e… e hoje em dia conto à minha filha essas mesmas… as minhas histórias de infância e mesmo histórias da família e é uma coisa que ela adora.
Ela adora ouvir este… este, este… no fundo é o culminar, é, é… da sucessão dos membros da família, não é? E ela gosta muito, muito de ouvir.
Lembra-se da casa onde passou a sua infância?
Ai sim, sim, claro.
Como é que era?
A minha casa fica… a casa dos meus pais está situada na Rua do Rossio e é uma casa grande.
Ahm… uma casa… ahm… dos finais do século XIX ahm… uma casa que tinha todas as condições para nós vivermos, embora não tivéssemos esquentador e então não tínhamos… tínhamos a casa de banho, tudo muito… muito bem preparado com banheira e isso tudo… não tínhamos esquentador e… e tomávamos banho com… uns… uns… uns baldes em metal que eram colocados na lareira… então com água muito limpinha, que levava depois um… uma tampa e… e era delicioso, porque… cobríamos metade da banheira com a água e depois tínhamos mais outra para depois nos ensaboarmos e para tirar depois o sabão e… e… pronto essa é uma lembrança que tenho.
E também das… dos dias em que tomava banho ao domingo à noite para depois ir para a escola no outro dia numa bacia no lar… ao pé da lareira, mesmo no lar, e isso também era… era interessante.
Era muito interessante.
Sim, mas era uma casa que… tem muito espaço, onde… onde vivemos… onde… a casa, esta, já foi a casa onde eu vivi.
A dos meus irmãos… eles nasceram… foi desde… últimas duas, duas filhas que já fomos para essa casa, porque antes eles viviam numa outra, que era alugada, e esta é própria, que era própria dos meus pais, sim.
Mas já fui eu que propriamente estreei a casa [risos].
Claro.
E lembra-se da Vila nessa altura?
Ah sim, sim! Podíamos andar por todo o lado… andar por todo o lado… brincávamos com todos… juntava-se o grupo de… de amigos… eu sou do Largo do Rossio, a casa fica no Largo do Rossio, o emblemático Largo do Rossio… e ahm… então havia muitas pessoas que viviam na Rua do Saco, também uma grande… um… uma grande… rua com muitas crianças e… então fazíamos assim… íamos de vez em quando para a Rua do Saco, outras vezes para… para o Rossio, outras vezes íamos passear para a Avenida ou à Portela também.
Então fazíamos ali todo um… e brincávamos à macaca e brincávamos ao… às escondidas e… e… muita coisa, muita coisa.
Brincávamos muito, eu brinquei muito.
Muito na rua com muitos amigos…?
Muito, muito na rua, sim.
O que é que gostava mais de fazer quando era criança?
Ahm… o que eu gostava mais de fazer… eu gostava muito de… de brincar, gostava muito de brincar.
Gostava muito de jogar à macaca eu… eu… destruía sapatos a jogar à macaca.
Era uma coisa… mas adorava, adorava.
Jogar à macaca era uma coisa que gostava muito.
Ahm… e gostava de estar com… com os meus amigos ahm… e gostava também muito de estar em casa com os meus pais.
A minha mãe… lembro-me das noites que… nós tínhamos um escano, um escano em madeira na… na cozinha e eu dormia imensos sonos… lá no escano.
Primeiro queria o colo da minha mãe e depois, coitada, ela depois já cansada punha-me lá no escano… e lembro-me de me deliciar a dormir o primeiro… os primeiros… horas de… o meu sono, o meu primeiro sono ali na lareira.
Era muito bom, adorava, adorava.
E o que é que queria ser quando crescesse?
Houve uma altura em que eu queria ser professora.
Isso quando era mais pequena, pequenininha.
Depois mais tarde já… já… já na parte do secundário eu gostava de ser veterinária, mas… mas não consegui… média para entrar em veterinária, os meus pais também não me podiam colocar numa particular e… e acabei por ser… por ser outra coisa [risos].
E estudou sempre então em Vila Flor?
Estudei sempre em Vila Flor, até ao meu 12º.
Que mudanças é que se verifica assim na Vila ao longo destes anos?
Em termos de infraestruturas há algumas mudanças claro.
Ahm… e depois as mudanças que há é a nível de… por exemplo, as brincadeiras que nós tínhamos na altura que, que… podíamos estar até à meia noite ou até à uma da manhã… onde os pais estavam seguros e… e tinham… tinham essa confiança de… hoje nós não, não, não voltamos a ver… porque… há sempre o receio de que, pronto, as notícias… ouvimos as notícias e que possa… possa haver… pronto raptos… ou as crianças se magoarem… eu acho que não tem tanta… não há essa… essa ligação tão forte entre rua e casa, rua vizinhos ahm… acho que hoje entrasse nas nossas casas e já não… já não nos batem à porta, que é a Maria de não sei de quantas, que chegou e que vem dar esta novidade… não, isso mudou muito.
Em termos de… de Vila Flor, algumas infraestruturas claro que mudaram, os tempos foram… foram mudando ahm… outras que… que não deveriam ser feitas e que também vieram também estragar… isto é do meu ponto de vista, mas… mas tem evoluído, sim, sim.
Muito bem.
Então depois andou na escola em Vila Flor… como é que ia para a escola?
Eu… a minha escola na primária era logo ali perto de casa que é a… a escola que fica logo ali perto do Rossio.
Eu ia a pé… ia a pé… nos primeiros anos não, a minha mãe ia-me levar ou então uma irmã ahm… e… era logo ali pertinho.
E depois para… para o ciclo, que é hoje… que é hoje… o ciclo é o… a escola Dr.
Artur Pimentel, que agora é a escola número… escola básica, não é, ahm… também ia a pé, porque ficava logo ali ao pé… era só subir aquela ruazinha e já estávamos ali também na escola.
E depois era o liceu.
No fundo, eu estava num ponto estratégico, estou ali no Rossio, tenho… andava pá sei lá… 300 metros ou 100 metros para ir… entre 100, 200 a 300 metros depois no… no liceu.
Sempre a pé…
Sempre a pé, sempre a pé.
Com os amigos ou sozinha…?
Sim, com amigos.
Eu… eu… fazíamos da seguinte forma quando era para ir para o liceu… vinha o amigo da rua… daqui da parte de cima da Vila, depois ia parar à porta do que estivesse um bocadinho mais abaixo, depois passavam na Rua X apanhavam mais os outros, depois íamos para a Rua do Rossio apanhavam-me mais a mim, depois ainda chegávamos mais ao fundo perto da… da fonte, apanhávamos ainda esses e lá ia tudo…
Tudo no comboio [risos].
… no comboio para a escola, é verdade [risos].
Que bonito.
E lembra-se dessa primeira vez que foi para a escola? Tem alguma lembrança?
Ai lembro-me… eu lembro-me da primeira vez que fui à escola, porque eu detestei ir à escola.
Ahm… eu andei na pré… a pré era uma escola pré-fabricada que estava situada onde é hoje o… centro cultural… prontos que depois foi demolida para a construção do… iam-se fazendo aí também ainda feiras, aí à volta… e eu, habituada que estava a estar em casa, que quando abriu essa pré eu já tinha penso que 5 anos… eu acho que só fiquei lá 2 anos.
E… e o facto de ter ido para ali deixei de ter, de estar em casa e de ter ali o miminho todo e ter ali todo o aconchego e… e aquela mudança fez-me assim um bocadinho… ai mãe, mas eu vou para ali e não vou gostar.
É diferente de hoje os miúdos começarem a ir para… para o infantário muito cedo, não é? Vão-se habituando, vai sendo habitual… nós… nós não, ficávamos em casa… não íamos para o pré-escolar.
Eu, eu… calhei de entrar nesse ano que abriu e… e eu não gostava, não gostava nada, chorava imenso, imenso, imenso.
Aí era a minha mãe que me levava, porque já ficava afastada de… do Rossio, que depois fica ali ao pé dos Bombeiros, não é, o Centro Cultural… e aí era a minha mãe que me levava.
E lembro-me… lembro-me dos primeiros dias que foram difíceis, mas depois habituei-me, sim.
Como eram os professores? Lembra-se de algum professor que a tivesse marcado?
Olhe… a professora que me marcou foi a minha professora primária… a… a do primeiro ano, a da primeira classe, que era a professora… deixe-me lembrar… [silêncio] pode ser que depois me lembre… que foi… que era de cá de Vila Flor.
Era… extremamente meiga, era extremamente bondosa.
Ahm… ensinava muito bem… ahm… e… e eu chumbei no 1º ano.
Eu fiquei doente, tive vários… vários meses com complicações disto ou daquilo e não tinha conhecimentos suficientes para transitar.
E eu lembro-me de… de… – é professora Natália, Natália! – e lembro-me de… de chorar muito porque eu via os outros ir para a 2ª classe e eu pensava que perdia esses amigos, não é? Porque depois já estavam com… e não tinha a mesma professora, porque ela ia continuar com eles até… até ao 4º ano.
E eu… tinha de ficar com os do 1º ano.
Foi o ano que eu reprovei e foi… pronto fiquei muito triste, porque ia perder a professora e ia perder os… os colegas… mas ela era maravilhosa! Os outros professores que eu tive ahm… gostei de uma professora que era de Carrazeda, que era a professora São, no 2º ano que era… também um… uma professora muito… muito querida, muito amiga, muito carinhosa.
Ahm… também me marcou imenso e… houve… há uns tempos que eu a vi e… que ela se lembrava, eu fui ter com ela e disse: olhe eu sou a Susana.
E ela: ahh sim, a menina que nunca tirava erros a português, nunca dava erros nos ditados.
Às vezes chegava a ir… a ir sozinha ao intervalo, que não era nada bom, eu é que ficava de castigo, porque… não tinha, não tinha nenhum erro a português… nos ditados.
E eu é que ia sozinha e não brincava com ninguém, não é? Um castigo era para mim [risos].
Claro, claro.
Então era muito boa aluna… nesta altura?
Era média, mas a português sempre fui boa aluna, sempre fui… a matemática é que a coisa não corria tão bem, mas… às outras disciplinas sim.
E depois continuou para o ensino…?
E depois fui para o ciclo e depois fui para o secundário, sim.
Eu sou a… a única filha… que seguiu o secundário e o ensino superior.
Muito bem.
Então depois foi estudar para a faculdade, não é?
Fui.
Foi estudar para onde?
Eu fui estudar para… para… o Instituto Politécnico de Tomar.
Porque era o único na altura… era o único… lugar, universidade ou politécnico, que tinha conservação e restauro, que foi a área que eu tirei e… e… pronto.
Ficava muito longe… mas foi o lugar que eu escolhi.
Porque é que escolheu essa área de… estudo?
Olha na altura foi assim um bocadinho, porque… eu acho que concorri assim um bocadinho à toa ahm… porque tive, fiquei um ano à espera, porque não entrei, concorri muito mal… e para o que eu tinha concorrido não entrei em nenhuma das opções, os cursos estavam demasiado altos.
E nós nessa altura não tínhamos a perceção de… nós não sabíamos com que média concorríamos… nessa altura.
Fazíamos os exames, sabíamos a média que nós tínhamos de secundário, mas não sabíamos qual é que era o resultado dos exames de… das… das frequências.
Da admissão das faculdades?
Não… chama-se hoje… para ingresso, não é? Nós não sabíamos, não é? E… então prontos fui… eu pensava assim: olha sei lá, se calhar consigo um 15 ou sei lá se consigo um… não tínhamos bem a noção! E… e eu escolhi cursos altos e fiquei em casa.
E depois esse ano trabalhei, fui trabalhar.
E entrei no ano seguinte.
O que é que fez esse ano a trabalhar?
Olhe tive a trabalhar no Município.
Tive a trabalhar na Biblioteca Municipal e estive a trabalhar também no Município, onde… ajudava a organizar as… as… feiras de… artesanato, estava às vezes no telefone, estava na Biblioteca também a ajudar naquilo que era… que era preciso e prontos… e fui ganhando algum dinheiro nesse ano para poder também ter para o ano seguinte.
Juntou então para depois ir para a faculdade?
Sim, sim.
Juntei algum… sim, sim.
E como é que foi sair daqui e ir para Tomar? O que é que mudou na sua vida no momento em que vai para a faculdade… longe… da família…?
É… é difícil, porque na altura, isto já há 25 anos, não é, era muito longe.
Os quilómetros são os mesmos, mas era muito longe em termos de transportes.
Estávamos muito… muito limitada, portanto, estava muito limitada aos transportes, porque o que é que nós tínhamos para vir para Vila Flor? Tínhamos Porto, Coimbra, Lisboa, não é? Então eu, eu, eu… aquilo… ir para Tomar, eu pensei bem, eu calhei em Tomar, isto fica… – eu fui ver – isto fica, sei lá, perto de Lisboa… e pensei isto… quase não vou vir cá, não é? Porque… primeiro porque tinha que poupar e tinha que estar… prontos tinha que organizar e tinha que gerir o dinheiro que me era… que me era dado.
E depois as viagens, além de… já ser algum dinheiro que gastava, eu demorava praticamente um dia inteiro a chegar a Vila Flor.
E tinha que fazer muitas paragens, parava em Coimbra para apanhar autocarros, depois voltava a ter que parar no Porto para depois apanhar o comboio… era assim… então vinha poucas vezes, vinha mais ou menos de 2 em 2 meses… prontos era… era assim.
Esse percurso marcou-a nesse sentido…?
Marcou de vir menos cá.
E também na… naquela questão de os meus pais não poderem ir tanto ter comigo, ou os meus pais ou os meus irmãos mais velhos, não é? Porque… porque era longe! Era longe.
Enquanto hoje nós… nós temos os pais que vão visitar os filhos ao Porto é num instante ou ali a Vila Real, não é, é num instantinho.
E eu não tinha… se me acontecesse alguma coisa eu tinha que contar com… com… com os amigos, não é? Porque naquele momento… demorava um dia para lá chegar, não é? Mas prontos, isso foi os primeiros tempos, foram difíceis… porque eu fiquei, não consegui ter quarto logo perto da cidade, já estava tudo… quando eu fui fazer a matrícula, já estava tudo ocupado, e fiquei numa… muito… um bocadinho afastada.
E à noite ia a pé ahm… ia a pé, era escuro, ia com as outras colegas, claro, mas… mas sempre com muito medo, porque sai daqui, embora Tomar seja uma… uma cidade não muito populosa, mas… mas nós saímos da nossa terra, Vila Flor, uma coisa pequenina.
E… claro que depois com o tempo aquilo parece-nos muito pequeno, mas no início não… parece-nos assim, tinha medo de sair à rua, de ser assaltada, essas coisas que…
Essas primeiras impressões ficaram…
É sim, sim, ficaram… sim, sim, sim, sim, sim…
E… e esse curso que fez influenciou-a profissionalmente para o que faz hoje?
Sim, claro, para o que faço hoje, sim.
Embora eu esteja neste… neste lugar que estou agora já na minha área profissional… há pouquíssimo tempo… à cerca de… desde setembro.
Porque até aqui eu terminei o meu curso, fiz um estágio profissional ahm… no Museu de Vila Flor, isto em… em 2001, e depois acabou o estágio profissional, não houve possibilidade de ficar e… eu dediquei-me à formação.
Tirei o curso de formadora e então durante… mais ou menos 9 anos eu dei formação em vários locais aqui da zona do nordeste e mesmo depois… no concelho, no distrito de Bragança, de Vila Real… ahm… fui dando sempre formação.
Portanto, a… a… a cursos profissionais dos… dos EFAs, dos do 9º ano, como a cursos profissionais depois com a equivalência ao 12º ano.
Isto de dia e à noite dava formação para… pós-laboral… para pessoas com… adultas, não é…
Mas sempre na área do restauro?
Sempre na área da história, da história da arte… porque é assim, o curso… abrange um leque alargado de… de diferentes áreas.
É história, é história da arte, é arqueologia, é a conservação e restauro… e isso também me ajudou um bocadinho a ter… a termos um bocadinho de noção de várias… várias áreas do conhecimento.
E… e possibilitou-me não dar só conservação e restauro, mas possibilitou-me dar história, dar história da arte, dar o mundo atual, dar cidadania ahm… possibilitou-me, deu-me essa… essa… abrangeu essa… esse leque.
Agora vou voltar um bocadinho para trás para a sua juventude, tanto no período em que estava na faculdade como quando vinha cá… como é que… quando é que começou a sair sozinha ou com amigos à noite…? O que é que faziam?
Sair… era difícil, sair era difícil, porque o meu pai… o meu pai era uma pessoa muito… muito rígida em termos de… de educação e em termos também de… de saídas, isso.
Eu compreendo, porque éramos 8 raparigas, não é? Não era fácil para um homem 8 raparigas, as saídas… e essas coisas todas….
Embora eu, eu… tive um privilégio de ser a mais nova e de já… ser um bocadinho mais… mais… essa situação ser um bocadinho mais leve, não é, e já ser encarada de outra maneira pelo meu pai, depois também tinha a ajuda da minha mãe, a minha mãe estava sempre: ah não, deixa ir então vai com os amigos ou vai ali… mas sempre muito… muito observada por… por o meu pai, claro.
E o que é que faziam com esse grupo de amigos? Onde é que iam? A bailes, festas…?
Olhe… íamos, íamos a bailes… o São João, que era sempre muito… que… que na altura era feito, era feito no parque que eu… lá está, foi uma infraestrutura que eu, que eu… desaprovo, que foi a construção de… dali da… do… da praça que foi desfeita, que hoje é o… onde tem a zona de comércio, ali perto da… dos bombeiros, à frente do outro lado dos bombeiros, onde é hoje – não sei como é que se chama aquilo – opa… que era fabuloso, que era onde é que eu… eu… onde é que estavam os balouços e a onde é que eu ia aos balouços e… onde é que era o São João, onde é que nós dançávamos, onde é que nós estávamos, onde é que eram as festas… e foi destruído e foi lá colocado aquele masmarro, mas pronto isso são… são outras contas.
E… e mais… e ia à discoteca e… e ia aos bailes e ia… e saía com esses primos para o café… sim, era, era… dentro da possibilidade que eu tinha [risos] era essas coisas que fazia.
Não muitas vezes, mas sempre que o meu pai permitia sim.
Como é que era o grupo de amigos?
Era bom, era muito bom, era muito bom… que se mantém, claro.
Ainda se mantém?
Mantém, claro.
É um grupo grande…?
Não era muito grande.
Havia um grupo grande que nós saíamos muitas vezes, mas… depois era subdividido em… em outros grupos.
Havia alguém que estava… tinha mais ahm… sei lá, mais afinidade com A ou com B ahm… mas era, mas era, era muito bom.
Nós saíamos ahm… lembro-me que os rapazes nos protegiam imenso, era muito bom, porque eles qualquer coisa, por exemplo, nas discotecas, qualquer coisa… ou alguém que se vinha meter connosco, que nós não conhecíamos, como o que é óbvio, não é… e eles defendiam-nos sempre, estavam sempre de olho e… e guardavam-nos e… e era muito divertido, era muito divertido.
Então agora, já finalmente, trabalha mesmo na sua área num… algo que gosta, não é? Está a trabalhar aqui num museu em Vila Flor… quais é que são as condições de trabalho que tem atualmente…? Como é que são as relações de sociabilidade com os seus colegas no trabalho…?
É assim… eu estou lá desde setembro.
Eu trabalhava ahm… eu tive 12 anos na escola secundária, no agrupamento de escolas como assistente técnica, porque depois deixei a parte da formação, porque queria muito ser mãe e… e… era muito duro, porque eu chegava a sair às 8 da manhã e entrava às 2h da manhã em casa e… e não tinha hipótese de… de poder ter filhos.
Então tive 9 anos, 10 anos praticamente sem ter filhos e resolvi candidatar-me a um concurso de assistente técnica lá no… na escola, no agrupamento onde fiquei 12 anos.
E, entretanto, depois… o meu lugar, este lugar onde estou hoje, estava aberto num mapa de pessoal, estava criado num mapa de pessoal do Município ahm… que eu pedi mobilidade.
Fiz o pedido de mobilidade e… e foi-me concebida pelo atual Presidente da Câmara em setembro.
Embora eu só regressasse ao museu em… em novembro, porque estive a dar formação à pessoa que ficou no meu… que ficou no lugar na escola, claro, não ia sair sem… sem pôr ocorrente e ajudar os colegas nesse sentido, claro, porque é mais uma tarefa que eles tinham que fazer.
E então… estou lá desde novembro ahm… e a relação… tenho, tenho a… comigo a Dona Paula e tenho comigo a Lília, que… que é uma relação muito boa, é… é uma relação fantástica.
Gosto muito de trabalhar com elas e… e depois aqui é um bocadinho… aprender com elas, porque já estão lá há mais tempo, embora estejam precárias, a Dona Paula está numa situação precária, a Lília não, neste momento já… também já é assistente técnica ahm… é licenciada em história ahm… e no fundo acabamos por nos complementar ali… no sentido de… de procurar… conhecimentos… e eu também descobrir… e com elas também, porque é assim nós temos 3 mil peças e não sabemos tudo sobre as peças, não é? E vamos… vamos aprendendo no dia a dia e vamos descobrindo novas coisas e… e a relação que temos é muito boa, é muito boa com as colegas de trabalho, sim.
E com o executivo também, não… ahm… a relação que temos, que tenho com o executivo é… é boa, tudo aquilo que… que neste momento eu acho que seja pertinente, que seja… uma mais-valia ou que nós precisemos para… para trabalhar, eles estão com abertura e com… e penso e espero, sim, que acha essa abertura para que o Museu de Vila Flor possa… agora que já estamos pessoas técnicas especializadas na área que possamos ahm… ahm… começar a… a ver o Museu numa outra perspetiva e esse é o… é o… acho que é o meu maior desafio.
Ótimo.
E sente que isso é uma mudança que pode acontecer no seu trabalho atual e que… também é uma mudança do seu paradigma de trabalho em relação ao museu ou… à história?
É, é, é.
É uma mudança… tanto para mim como para o próprio museu, claro, porque aquilo que… que eu quero fazer… eu digo que é o meu maior desafio porque… há tudo para fazer lá dentro, há tudo para fazer há… é assim quando foi concebido o museu e a forma como foi… como foram criadas as salas e o espólio é… é de grande valor para… para o Senhor Raul Sá Correia, o mentor do museu, mas que nos dias de hoje… isto em 1957… nos dias de hoje a conceção que nós temos de museu tem que ser outra, não é? Não pode ser o local onde temos… peças expostas apenas para serem observadas… deve ser um espaço dinâmico… dinâmico, onde haja… onde haja abertura para… para questões de… tanto de salas permanentes como de salas temporárias, como um espaço de… de cultura no sentido de haverem… ahm… o espaço educativo, onde haja esta relação entre a escola museu… idosos museu… isto é tudo… o conceito de museu está um bocadinho ampliado e… e mais… modificado, alterado, não é? E esse conceito tem que ser colocado em prática consoante a… o tempo também vai evoluindo.
E eu penso que neste momento… o executivo estará, estará com essa… espero e… e… sinto que sim, que está com, com essa perspetiva de… de não resistência à mudança e que sim… que iremos conseguir.
Fazer uma mudança no seu próprio…?
Eu penso que sim, penso que sim.
Ainda bem.
Então mencionou que foi para Tomar estudar… além dessa mudança, houve outra mudança? Alguma migração… dentro ou fora do país…?
Ahm… não.
A única coisa que eu, que eu fiz foi… fui na altura, eu dava formação, e… e as alturas de julho… porque a formação funciona da seguinte forma: temos muita formação durante o tempo e depois temos formação… há momentos em que não temos nenhuma, não é? Então… surgiu a oportunidade de ir… apanhar maçã para França… naquelas… chamavam-se as… contratos… as contratas.
Então era um primo meu que fazia essa… essa… essa ligação com as pessoas onde… onde formava o grupo de pessoas que… para depois irem para a mação.
Então eu fui num… num mês penso que de julho ou agosto… que ainda não… que ainda tava na formação, ainda não tinha a Margarida, e fui mais o meu marido durante 20 dias para França… apanhar maçã.
E… foi duro, foi duro, foi duro, foi… duro… tempos de chuva… era duro, porque… era subir aos escadotes, não é… embora eu ajudasse muito os meus pais na agricultura e também trabalhei muito ahm… tinha… ali era duro, porque tinha que subir com… com um balde no… muito grande.
E lembro-me que os primeiros eu… eu tinha as pernas todas negras, porque batia… aquilo era metal… o balde e batia nas pernas e… e… prontos e foi duro, mas foi, foi muito bom, foi uma boa experiência, conheci lá pessoas fantásticas, que ainda hoje mantemos ligação e que não são de Vila Flor… algumas delas… e… e foi… e foi outra… outra… outra forma de eu também encarar e ver também como é que eram esses trabalhos por lá.
E chegou a conhecer mais… o resto do país… em França… ou ficou apenas no local de trabalho?
Não.
Fomos ver algumas coisas, mas ficava muito longe de Paris, era ali numa zona… era numa zona mais agrícola de… de… França.
Não dava muito para… para passear.
Só tínhamos o domingo para descansar e… prontos.
Como é que foram para lá? Foram de camioneta?
Fomos de camioneta, sim.
E como é que foi chegar? A primeira impressão de chegar assim… a um país…
A chegar foi um bocadinho… porque eu não… claro que era um local que seria de agricultura, mas não estava à espera que fosse tão, tão agricultura, ou seja, havia poucas casas… ficava muito distante de… eu sei que nós demorávamos uns… algum tempo a ir à cidade para… ir buscar os alimentos, não é? Porque depois cozinhávamos todos juntos… e íamos às compras.
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e demorávamos algum tempo e… e não íamos muitas vezes, porque… tínhamos que pedir a carrinha às pessoas dali, não é, aos… neste caso, aos patrões e nem sempre era… era possível, não é? Mas eu, eu… eu nessa altura… eu, eu… mentalizei-me que ia para trabalhar, não ia para passear.
Ia trabalhar e ia ganhar bem, durante esses 20 dias eu ia trazer algum dinheiro que eu não ganharia aqui, por exemplo, em meio ano, não é? E… eu mais o meu marido… e então esse… isso foi… eu fui para trabalhar, não fui para passear.
Claro.
E era só portugueses que foram nessa…
Eram só portugueses, sim.
E era uma prática recorrente…?
Era, era.
Todos os anos… o meu primo durante muitos anos fazia… ahm… constituía esse grupo e iam sempre para o mesmo local, porque depois ele… acabavam por gostar as pessoas… houve pessoas que foram anos e anos seguidos, não é? Eu, por acaso, só fui esse ano….
E gostavam do grupo que ele arranjava, não é, porque eram pessoas de trabalho, eram pessoas que não baixavam os braços, não é, eram pessoas que… que… que trabalhavam e que… que sabiam que tinham que o fazer bem, não é? Porque aquilo acontece… quando nós tiramos uma maçã, nós temos que a tirar de uma forma em que os nossos dedos não toquem… terá que ser sempre pelo… pela parte de…
Aquele pauzinho [risos].
… o pauzinho… que é para nós não tocarmos na… porque depois vai para as arcas frigoríficas e depois quando saem de lá… nós mesmo no supermercado, aquelas maçaduras na fruta? Então tínhamos que tirar com imenso… com imenso cuidado.
E sabiam que eram pessoas… com responsabilidade para isso, sim.
Mas muito duro, não é?
Mas duro… foi duro, posso dizer que foi duro, acho que posso dizer que foi o trabalho mais duro que eu tive… mas que foi, foi… mas que depois se tornou… depois com o tempo e com a convivência não se tornou tão pesado, mas foi duro, foi duro, porque… era algo que eu nunca tinha feito e que era pesado, era pesado… era pesado.
Mencionou que foi com o seu marido…
Sim, fui.
…portanto, é casada.
Sou casada, há 25 anos.
Como é que foi o seu casamento? Como é que conheceu o seu marido?
Eu conheci o meu marido em Tomar.
Ele não estudava, ele era militar não… não estava no ensino superior, era militar.
Conheci-o através de umas amigas… e pronto, depois acabamos por… por namorar.
Namoramos 6 anos e depois decidimos… casar.
O meu curso era de 5 anos, ainda são de 5, ainda era de 5 ahm… depois decidimos casar depois dos… 6 anos.
Ele ainda… eu vim estagiar para o museu de Vila Flor e ele veio para cá.
E nessa altura o meu pai ahm… uma pessoa que era… deixou o meu marido vir para Vila Flor e viver na minha casa.
Não junto comigo, como é óbvio, mas… viver no quarto e partilhar a mesa e partilhar… tudo.
E o meu marido ajudava muitos os meus pais, muito, muito… muito na agricultura… ajudava-o imenso a levá-los ao médico… a levá-los para aqui, para além… acho que foi… foi um genro muito presente.
E como é que foi o seu… o dia do seu casamento?
Olhe, o meu casamento foi só pelo civil.
Decidimos não casar ahm… pela Igreja, foi só civilmente e… e eu não fui vestida de noiva, não fui, por opção, fui vestida com… com um fato normal.
Foi só com a família e com um ou outro amigo mais… mais chegado… mas só foi mesmo os meus irmãos, aqueles que estavam cá, porque eu tenho irmãos emigrados ahm… e então foi uma festa só de família a… num dos baixos, que nas garagens do… da minha irmã mais velha.
E… e foi muito bom, foi muito giro, foi muito divertido.
Como é que foi visto esse casamento pela família… e…?
É assim, foi diferente, porque é assim todos os meus irmãos casaram pela Igreja e eu fui a única que casei pelo civil [risos].
Para o meu pai na altura… [risos] para a minha mãe não, a minha mãe era muito contemporânea, a minha mãe era uma pessoa muito… muito… tinha, tinha uma forma de estar na vida e uma… uma… uma capacidade de interiorizar e de ver as coisas no presente, desligando-se um bocado do passado e… mas para o meu pai não.
O meu pai era, era mais… era… era Irmão da Santa Casa da Misericórdia… era muito dedicado à Igreja, à missa e… prontos, não foi fácil, mas aquilo que eu lhes disse foi: porque é que eu hei de gastar dinheiro numa festa… muito… muito pomposa e muito linda e para… para… se eu posso guardar esse dinheiro para mim, para os meus começos de vida e ter uma festa só para a família, que poderia ser na mesma na Igreja, igual, mas que ia ser sempre mais dispendiosa, porque é sempre mais dispendiosa.
E… e eu decidi que… ia casar e decidi dizer-lhes: olhe pai, eu não vou casar pela Igreja, pode ser que um dia o faça, mas neste momento, e visto o Marco já estar cá há 1 ano e também… o meu pai não queria muito que as pessoas falassem, que a minha mãe isso ela não se importava nada, não queria saber… mas… era mais nesse sentido: nós vamos casar, vamos casar pelo civil ahm… pela Igreja olhe… um dia talvez possa acontecer.
E ele interiorizou isso com muita… com, com… uma forma muito calma, muito tranquila e… e estava muito feliz, estava muito feliz.
Mencionou também que tem uma filha.
É a única filha?
Sim.
Que idade é que tem e como é que se chama?
A Margarida tem 11 anos.
É a Margarida, tem 11 anos, anda no 6º ano e… e… é a luz dos meus olhos, claro.
É… é o meu amor maior [risos].
Como é que foi esse processo da maternidade?
Não foi muito bom, não… não foi nada bom, porque eu tive… eu tive sempre de cama, tive um descolamento da placenta todo… toda a gravidez e… e então tive que ficar ahm… tive que ficar de cama, só ia às consultas… prontos.
Não, não podia fazer muito, era o meu marido que praticamente que fazia tudo… o almoço, o jantar, cuidar da casa… porque eu tinha que estar praticamente sempre deitada.
Tive… tive uma gravidez… pá muito chata, muito… eu no último mês… a Margarida nasceu com 36 semanas, eu no último mês de gravidez fiquei com… com problema de sono, deixei de dormir, estive praticamente durante 1 mês sem dormir ahm… e… recusei tomar medicação porque tinha algum receio… talvez por má informação ou por… não tomei medicação e não me precavi nesse sentido ahm… e depois de ter a Margarida tive uma depressão pós-parto, que foi… que foi dolorosa.
Foi muito duro.
[silêncio].
Mas foi… foi muito duro, mas… neste momento já… já passou, mas foi duro.
Duro porque as pessoas não sabem o que é passar por isso ahm… e infelizmente ainda não têm ahm… não sei se conhecimento ou não querem procurar esse conhecimento para perceber que… a gravidez é… é… vem uma criança, não é? A alegria é porque vem mais um ser, porque vem mais um membro da família, é o nosso… o nosso… o nosso e o do resto da família… que vem… é mais alguém que entra para a família, não é? Mas… ainda nos esquecemos muito do papel… da mãe, da grávida, da progenitora enquanto… que também tem todas as alterações quer… quer orgânicas, quer ahm… sensoriais, quer… quer a própria… o próprio… a própria criança que está e o novo, o novo… e o novo mundo que vai… que vai ter a partir dali… do nascimento… esquecem-se um bocadinho da… da mulher.
E… neste caso, esqueceu-se um bocadinho, esqueceu-se um bocadinho de mim e… e esqueceram-se que… que… que passamos essas situações e que… não é por nossa culpa, mas por culpa do próprio organismo, as alterações hormonais e tudo aquilo que… que implica ser mãe.
Infelizmente eu tive um mês sem dormir, o que depois veio-se… veio, veio piorar depois ter a Margarida.
Durante os três dias que eu tive… que eu estive na maternidade em Vila Real, eu… eu posso dizer que não sei como é que eu estive de pé.
Eu tive que dar banho à Margarida, porque… por mais que eu dissesse que eu não conseguia, elas obrigam… pá não… porque tem que ir, porque… prontos.
Pedi ajuda, mas… muito sinceramente ainda fui… fui quase como… quase encarada como… “oh mais uma que agora não quer ter esta responsabilidade”.
E depois foi a parte de vir de lá… que foi a questão da família ahm… que… que foi duro, foi duro, porque elas não compreenderam, no início não compreenderam que eu não tinha forças, eu tinha tomar que tomar medicação, eu tinha que ter um… tinha que pôr o sono em dia e aquilo que eu mais pensava… e o meu dia a dia era… era pensar como é que eu vou recuperar para eu ter saúde para criar a minha filha.
Então o que é que eu pedia: ajudem-me, por favor, porque se não… a Margarida vai ficar sem mim, não é? E foi encarado como… opa não quer a filha, ela não quer a filha, ela está a abandonar a filha.
Graças a Deus tive… tive essas… essas minhas irmás ajudaram-me, embora… tivessem esse tipo de reação e esse tipo de pensamento, mas tive o meu grande pilar que é o meu marido, que sempre… que compreendeu desde logo e que… e que… eu dormia, porque eu depois tive que ir para psiquiatria, tive que tomar medicação e… e o tempo que eu fazia para recuperar, pelo menos para recuperar o sono, tomava a medicação, tive que tirar a mama, claro, a partir do momento em que tomei medicação… tinha imenso leite… foi um… também um momento muito crítico, porque… por mais que nós saibamos que existem suplementos, quando temos muito leite pensamos: porra, mas eu tenho tanto leite e o que é que eu fiz para não poder… não é, dar de mamar à minha filha e depois… porque é que isto me acontece a mim? Porque é que me está a acontecer a mim? Pronto, eu tive que largar, mas… o meu marido sempre firme e sempre a dizer: não, tu não podes dar, ela vai ser criada igual com leite….
O meu marido trabalhava e… no primeiro mês da Margarida ainda tive a minha sogra que me veio ajudar e também tive as minhas irmãs, claro, e então eu pus o sono em dia, a medicação começou a fazer efeito, não é? E o Marco dava a mamada à noite à Margarida enquanto eu descansava, depois durante o dia eu já estava com ela… prontos, depois de… de… colocar o sono normalizado, depois o resto também já começou a normalizar, mas foi… foi duro, porque… porque vivemos numa vila muito pequena e… e esta história estava em todo o lado, em Vila Flor, não é? E eu tinha… cheguei a ter vergonha de sair à rua, porque… era apontada como: olha, ela rejeitou a filha, olha ela não quis a filha.
Isto, isto… o que é muito duro, porque nós só pedimos ajuda, não é? E neste… e quem estava a precisar… a minha filha precisava, claro, é um ser que não tem… não tem como cuidar-se sozinha, mas precisamos ambas e esquecem-se sempre desta… desta questão da mulher, não é? Que é… sim, a criança é importante, é o ser que está a chegar, mas ela tem montes de pessoas para a poderem cuidar, não é? E depois temos de ver outra expectativa… e eu espero que… que… eu estou a abordar esta… esta minha passagem, isto aquilo que aconteceu, numa perspetiva também de… futuramente e quem… quem possa depois escutar ou ler esta… esta entrevista possa perceber que não é nenhum bicho de sete cabeças e que as mulheres têm o direito de… de serem cuidadas e não serem julgadas, porque no fundo é… é um bocadinho o julgar e não ajudar.
O primeiro, tem que ser primeiro ajudar.
O julgar não deve ser… não deve ser sequer tido, tido… tido em pensamento, porque se a pessoa está assim e se está a pedir ajuda é porque está mal, não é? Se eu digo: olha eu vou… meu deus, eu vou perder as minhas capacidades, eu vou enlouquecer e eu não vou ter… saúde para cuidar da minha filha, não é? É para eu… agir, é para a outra pessoa agir, não… não pode ser, ela está a pedir ajuda, ela não está bem… isto não é uma questão de não querer tratar da filha, ela não está bem, temos mesmo que… e prontos.
E isto é no fundo, e para quem me for ouvir, me for escutar… lembrem-se sempre que… a mulher precisa sempre de ajuda.
Não é manha, não é… abandono, não é… situações que possam pensar em mil cabeças, é mesmo uma questão de saúde, de saúde mental e que deve ser encarada como outro qualquer problema.
Sem dúvida.
Mas conseguiu vencer a doença!
Ah consegui! Consegui, graças a Deus, com muita psicoterapia… com muita ajuda… do meu marido e com muita ajuda da minha filha, porque a minha filha a partir do segundo mês deixou de mamar à noite.
Era super sossegadinha, era uma miúda… era uma bebé que… até parece que há aquela… até parece que há aquela… aquele conhecimento, como é que hei de dizer? Aquela sensação de que: oh mãe, tu precisas de descansar e eu preciso de te ajudar.
E… no fundo foi, a partir daquela altura, passado um mês, a minha filha já não… já não comia à noite.
A mim preocupava-me, porque aí eu já acordava para lhe dar de mamar, porque depois eu passei a tomar comprimidos também para a depressão de dia… e depois foi me ajudando, também para depois à noite eu já estar… à noite e de dia.
E depois já era… depois já se tornava aquilo cíclico, porque depois já escutávamos o choro, já isto… pronto, e depois já está em nós, já não há forma de… de darmos volta, não é? E… e nesse aspeto ela foi uma… uma, uma… uma bebé muito sossegada, o que ajudou imenso, eu acho que.
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eu acho que o universo consegue colocar as coisas assim no, no… no lugar.
Como se ela soubesse, não é?
Como se ela soubesse, é verdade.
Que precisava também de ajudar a mãe nesse momento…
Exato, exato, exato.
E agora ela já tem… 11 anos.
Tem 11 anos! Tem 11 anos e… e é uma criança ahm… muito responsável… muito amiga… é uma criança que… que adora a família, que compreende os amigos, que… gosta de estar do lado da verdade, é uma criança que… gosta de estar do lado do bem, gosta de estar do lado… em que possa ajudar o próximo sem ter nada em troca, é uma criança que… que… eu acho que ela é quase uma… a mediadora dos conflitos que… entre… entre colegas, ou seja, aqueles conflitos que nós dizemos… conflitos de nada, não é, aquelas zanguinhas e… ma ela é, é muito assim… é aquela que avisa e diz: não podes ir para aí, porque vais te magoar aí ou… não faças aquilo.
É… é… é uma criança que nunca me deu problemas, nunca… acho que ela nunca me partiu nada em casa [risos].
Há aquelas crianças que vão buscar este bibelô, vão buscar o outro… não, ela sempre brincou com as coisinhas dela, com as bonecas dela.
Ela brincava muito connosco, nós brincávamos muito com ela, muito.
Eu… eu mais o pai estivemos muitas vezes… brincávamos muitas vezes… que éramos os filhos dela, não é? E que… e que… nos deitávamos na sala com o cobertor e ficávamos lá deitados, porque depois ela fazia todo o dia a dia que vivia no infantário, não é? Eu sou a… a professora, a educadora e vocês são os meninos e… e… tivemos sempre essa… essa… com ela também trabalhamos muito essa parte emotiva e essa… e o ser criança.
E trabalhamos com ela esta questão da sensibilidade e, e, e… do respeito, não é e… e… da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, que isso é o mais importante, porque não… eu costumo dizer ela é boa aluna… mas um bom aluno deve ter todos estes… todos estes componentes, porque não é só tirar 5 a tudo, quando depois é um aluno que… que… olha para o outro e é desdém, não é… e… e ela, eu acho que ela reúne assim uma… um conjunto, também… fruto da educação que nós damos, como é óbvio.
E perante este contexto do seu percurso de vida, tenho que lhe perguntar, que significado tem para si ser mulher?
Ai ser mulher é… para mim ser mulher… é ser livre.
Para mim ser mulher é… igualdade.
É… é poder… chegar onde… neste caso, o homem chega.
Não… para mim ser mulher é conseguir as mesmas oportunidades que o homem tem.
Ser mulher é… é progredir, é abraçar tudo aquilo a que nós temos direito.
Os direitos que nos são dados… ahm… que nos são dados pela nossa Constituição, que nos são dados… com as mesmas liberdades e… e eu… e eu sou uma feminista.
E… lutarei sempre, e sempre lutei e… e vou lutar sempre, porque já a minha mãe era… era uma humanista, era uma pessoa que… pá uma mulher de garra, uma mulher de… de valores, de… uma mulher que lutava, que lutava muito, muito, que se afirmava, que dizia o que pensava, a minha mãe era assim uma pessoa que dizia o que era pensava, não importa se era o Papa, não importa se era o 1º Ministro ahm… mas que fazia valer as suas razões, os seus direitos, as suas causas… e eu acho que… eu sou um bocadinho fruto disso ahm… defender um bocadinho… a minha mãe era muito política, era muito, muito política… adorava política, prontos, era… e, e… então pelos direitos era… opa ela… se dissessem que aquilo era preto, mas era mesmo branco, nem que fosse o 1º Ministro a dizer que tinha que ser preto, a minha mãe dizia sempre que era branco ahm… ahm… não querendo saber quais eram as consequências que podia ter disso.
E eu acho que é isso que é ser mulher, é lutar, é viver num… num lugar onde possamos ser aquilo que queremos, sem imposições e com as mesmas liberdades e com os mesmos direitos que o homem tem e… e nesse aspeto… eu serei sempre aquela que… estará no meio e face a que o nosso lugar seja visto e seja conseguido e que possamos ter os mesmos cargos e que possamos ter… porque nós não somos menos, nós temos as mesmas capacidades e temos que… que… que fazer valer os nosso ideias e a nossa força, porque,.
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temos que acabar com os lugares de chefia de homens, temos que acabar com os lugares que são… vistos como lugares de homem, não há lugares de homem nem lugares de mulher, são lugares de… de pessoas.
E nesse aspeto eu afirmo-me como… como essa pessoa.
Sim.
Então agora já para terminarmos algumas perguntas mais conclusivas… o que é que faz hoje? O que é que são as coisas mais importantes para si no dia a dia?
Olhe… é importante, é importante… ahm… termos uma família sólida, uma família estruturada, uma família feliz, porque há famílias… ahm… uma família não de aparência, aparência… felizes! E… e… vivermos num lugar onde.
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também possamos fazer felizes os outros, porque é, é… o mais importante, porque nós não podemos só ser felizes sozinhos.
Então eu dedico-me a várias coisas… ahm… prontos já estive na política, já estive… estou no teatro, estou… na música ahm… estou na associação de pais, sou presidente da associação de pais… estou… estou… em todas as valências em que eu possa ser útil, não é? E… e é isso que me faz bem e que me faz sentir uma pessoa… uma pessoa… pronta para tudo o que puder vir, não é? Então o mais importante eu acho que é… estarmos bem connosco, estarmos bem com a família para depois conseguirmos estar bem com toda… o resto da comunidade… e… aquilo que eu, que eu mais anseio é que efetivamente esta comunidade seja uma, uma… comunidade… ahm… inovadora, uma comunidade… que se respeite e que… que consiga… que o mundo… que haja mudanças no, no próprio… no próprio mundo e que… os nossos filhos sejam as crianças que possam vir a fazer essa mudança daqui a algum tempo, esse é o nosso desejo.
Se tivesse assim que descrever as suas tarefas no dia a dia desde que se levanta até que se vai deitar… o que é que faz no seu dia a dia?
Para além destas, de todas estas valências que eu já, já tenho, portanto, já tenho um monte de coisas… às vezes costumo dizer que qualquer dia tenho as malas à porta [risos], mas não é o caso, graças a Deus, tenho… tenho um marido… tenho um marido fabuloso, um pai dedicado, um marido dedicado… onde não há tarefas distintas, são todas nossas, não há tarefas de homem nem tarefas de mulher… o primeiro que chega a casa começa o jantar… ajuda a limpar… tem o trabalho dele e… e….
Então o meu dia a dia é levantar-me, preparar o pequeno-almoço para a Margarida, ir para o trabalho, depois ter estas minhas valências, estas minhas outras valências que… que… que faço e… estar com a minha filha, conversar sempre com ela, uma coisa que nós temos sempre é sempre que chega da escola eu pergunto sempre como correu o dia, é um… é um.
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momento do dia é procurar o que toda a gente fez.
Olha, correu bem o dia para ti, Marco? Como é que foi o trabalho? Como é que correu o dia, Margarida? Como é que foi? O que é que aconteceu? Tens alguma coisa para dizer? E eu também conto como é que foi o meu e… e, no fundo, é assim o dia a dia é… um bocadinho, um bocadinho este, estou com os meus irmãos quando… quando posso também e é… assim o dia a dia da minha vida.
De que forma é que nascer em Trás-os-Montes influenciou a sua trajetória de vida e as suas experiências? Acha que… influenciou alguma coisa?
É assim nascer em Trás-os-Montes… ahm… não é menos nem mais do que nascer num outro lugar qualquer ahm… estamos um pouco afastados dos grandes centros em termos de… o que é que eu acho que é… que é o mais desfavorável é a questão da saúde… estamos um pouco afastados e… e estamos um pouco esquecidos nesse aspeto; mas nascer em Trás-os-Montes é… eu penso que é nascer num outro lado qualquer, acho que tudo o que o outro… acho que até tive mais, porque… brinquei na rua ahm… sei lá comi terra, como se costuma dizer ahm… trabalhei na agricultura, sei… sei como com o esforço que as famílias têm para conseguir ter algum… pôr o pão na mesa que é mesmo assim ahm… e eu penso que… que tenho um bocadinho enraizado aqui a nossa… o viver diário da… da.
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de uma pessoa transmontana e acho que somos muito pessoas muito… muito afáveis e muito… muito… sei lá, muito… sabemos receber, somos pessoas que temos a capacidade de… de lutar, não é, temos essa… acho que temos no adn esta resistência a lutar e… talvez o facto de… às vezes eu querer ter outras… outras áreas, imaginamos, outras áreas para a Margarida e não, não ter tão… tão perto, mas tirando isso eu acho que não falta nada para, para a minha filha crescer com… com a educação acho que… depois com uma pública… está bem preparada para… para a Margarida, é como estar noutro lugar qualquer.
Quais são os seus sonhos… agora num futuro próximo ou distante?
Olhe… um, um dos meus sonhos era chegar ao lugar que estou hoje… que foi uma luta de 20 anos, uma luta de 20 anos que eu nunca consegui, embora… fizesse muito por isso… fui a muitos concursos no país inteiro, mas como nós sabemos as questões… [risos] laborais e… e as questões de concursos nem sempre é aquilo que nós… nem sempre é a nitidez que nós queremos… mas realizei, eu, eu, eu digo que… este… este 2022 foi um ano… um ano de… de perda e de um.
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de um ganho.
Perdi a minha mãe em fevereiro, mas depois eu acredito que onde quer que ela esteja… que mexeu as suas… os seus papelinhos… a sua… e, e que não me largou e que… acabou por… por… ajudar a realizar o facto de eu estar, de eu conseguir estar onde estou hoje, que estou na minha área… sou técnica superior… tenho a possibilidade de já ganhar um bocadinho mais, porque daqui a 6 anos a Margarida vai para a faculdade, se assim o desejar, também é algo que ela vai decidir, não vamos impor… mas… um desses sonhos eu já realizei que era estar no lugar onde estou hoje… na minha terra! Porque eu nunca… nunca fui daqui para fora, porque… não, porque não tivesse oportunidade, mas também porque…os meus pais eram… pá eram a minha vida e… e eu estive sempre com eles até… até partirem, eu estive sempre ali para eles até partirem e… e realizei esse sonho que neste momento estou e eu acho que é o maior desafio, porque vou… aquilo vai ser… vai ser algo que eu vou… que vai ser de raiz, que vai ser meu, que vai ser um.
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um plano meu, meu e do resto da equipa, mas que eu vou estar a preparar cada coisa, não é, ajudar a preparar e… e espero fazer um bom trabalho, é isso que eu mais anseio… um bom trabalho ahm… estou, estou… a estudar já a área de museologia também para poder integrar mais e para poder dar mais de mim e também para quem espere de mim… estar… estar tranquilo, não é? E… e ter… e… e ter a minha filha sempre com saúde, ter a minha filha sempre… que seja sempre aquela… aquela pessoa que… não pisa a liberdade dos outros, que consiga aquilo que… pretende com o seu próprio esforço, sem derrubar ninguém, porque sempre foi assim que eu cresci e fui ensinada… e é isso que eu passo para ela… e esse é um dos meus sonhos… que ela seja… uma pessoa, não é que seja alguém na vida, porque nós somos sempre alguém na vida, isto o alguém na vida que muitas vezes se fala… “ah eu quero que a minha filha seja alguém na vida”… ela já é alguém na vida, ela é ela, não é? Eu quero é que ela seja alguém que fique com uma marca… no sentido da responsabilidade ou no sentido da proximidade que ela vai ter perante a sociedade, perante a… perante as pessoas com quem vai conviver.
Como é que foi contar a sua história?
Foi fantástico! [risos] Foi muito bom, foi… estou aqui muito tranquila, gostei imenso… é… no fundo vai-nos, faz-nos ir lá ao baú das recordações e… e é sempre bom, porque a nossa história pode ser sempre… vista por outros como, nem que seja como… uma… uma ajuda para ultrapassar ou para colmatar alguma dificuldade que possa estar… que possa estar a passar.
Eu, pelo menos, quando… quando ouço ou quando leio alguma… alguma história sobre… sobre… determinada pessoa eu aprendo sempre alguma coisa! E eu acho que é nesse sentido que… também este testemunho é pertinente e… e não tenho uma grande história de… de vida, mas tenho aquela que me proporcionaram e que eu achei que devia ser a minha e que… que possa ajudar… algumas pessoas a… a… em qualquer situação, que se possam identificar.
Não sei se quer acrescentar mais alguma coisa…?
Não, quero só agradecer.
Foi, foi… foi muito bom e conhecê-las também e espero que façam um… um bom trabalho em Vila Flor e aqui no nosso, no nosso concelho e… e dizer-vos também que é muito bom poder contar com uma associação que… que promove e que está… a caminhar e que pretende que a mulher possa ter o seu lugar, porque é isso que nós… devemos ter, é o nosso lugar.
Nós nascemos tal e qual igual quanto o homem e… e… que pense na mulher aqui na nossa zona, que ainda temos alguma… a questão de… de ainda haver aquela imposição do homem, não é, o homem, o que manda… e também nos grandes centros também acontece, mas temos ainda aquela questão de o homem é que manda, a mulher é que faz a comida, a mulher é que arruma a casa, não é? E que haja uma abertura para essas pessoas e… e espero que esse papel seja… seja conseguido por vocês e… e que… em todas as oportunidades que tiverem… ou algo que vocês promovam estarei sempre… de coração para o que for necessário e… e é isto, muito obrigada.
Obrigada, nós.
Muito obrigada.
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