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História
Por: Museu da Pessoa, 31 de outubro de 2007

Sou um resgate

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Sou um resgate

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A minha vida foi uma novela desde o começo: quando eu nasci, a minha mãe me deu pra outra pessoa me criar. Cresci sem estudar, casei antes do tempo. Nunca brincava ou ia para as festas: não tinha essa liberdade. Casei com 14 anos e com 15 eu tive meu primeiro filho.

Fui trabalhar numa boate por um engano. Eu tinha 17 anos e me falaram que iam me levar para um garimpo no Xingu. Fomos em uma turma só de mulheres. Quando chegamos, era uma boate. Chegamos já devendo, porque o dono tinha nos adiantado um dinheiro e deixamos com nossos filhos. Não tinha como sair.

Eu era escrava lá. Devendo não tinha como sair. Então metade das mulheres fugiram. Eu não saí fugida porque eu achei um homem que me tirou de lá. Ele perguntou se eu não queria morar com ele. Ele era um homem de 40 anos e eu tinha 17. Eu fui.

Ele trabalhava com poço, então fomos morar na fazenda do patrão dele. Eu só ficava na cozinha, cuidando da minha casa, cuidando do alimento dos filhos. Eram três: dois dele e um meu. Tem a fazenda, o pátio, aí tinha aquelas carreiras de casas que eram das pessoas que trabalhavam lá. Cada casa morava uma família.

O encarregado que sempre dava as ordem lá dentro da Fazenda. Quando a pessoa trabalhava normal, sem procurar problema, ele tratava bem. Agora quem não trabalhava, porque todo lugar tem gente de todo tipo, né, tem uns que é mais humilde, outros que é mais desobediente, então aqueles que era mais desobediente… Se você vacilou, ele dá um passeio com ele aí não volta mais, é assim.

Dessa vez, saí fugida. A gente também devia para o dono e não tinha como pagar. Fugimos à noite, a partir de meia-noite, a hora certa de fugir.Tinha a saída e a entrada pro lado de Xinguara e tinha saída que vinha pro lado de Araguaína. Passamos pelo rio Araguaia no Porto da Balsa, a gente já pegou o barco e atravessou pro outro lado, foi assim que a gente fez. Porque lá não tinha como a gente pagar a conta, porque não tinha saldo...

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Dados de acervo

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P/1 – Oi Elenilde.

R – Oi.

P/1 – Pra começar eu queria que você me falasse seu nome completo, a cidade e o ano que você nasceu.

R – Meu nome é Elenilde Dias Fernandes, sou da cidade Araguatins, Goiás, e eu nasci em 1960, 14 de julho.

P/1 – E os seus pais, o nome de seus pais.

R – Meus pais, meu pai é Boaventura Dias Fernandes, minha mãe é Ermiza Dias Fernandes.

P/1 – E você cresceu com eles?

R – Não, a minha mãe me deu pra outra pessoa, uma madrinha minha, e aí eu fui criada por ela, sabe. Com idade de um ano ela me entregou pra ela, então, eu fui criada no interior, não fui criada na cidade, eu fui criada sem estudar, aí já o meu dilema já começou daí. A minha história já começou praticamente acho que do nascer, então por aí eu vim, eu com uma pessoa que eu casei antes do tempo, eu não tive uma juventude de estudo, de brincar. Eu não fui uma pessoa que ia pras brincadeiras, pra festa eu nunca fui, eu não tinha essa liberdade. Aí eu casei com idade de 14 anos eu já casei, com 15 eu tive meu primeiro filho, e aí foi assim, quando eu tinha 17 anos me separei do marido, fiquei com dois filhos, aí foi o tempo que eu fui pro Pará, de lá foi quando eu fui pra essa fazenda. Lá nessa fazenda eu trabalhei de cozinheira lá, eu fui morar com outro homem, um senhor baiano chamado Antônio, mas o pessoal só conhecia ele por Baiano, então ele era cavador de poço, ele cavava poço nessa época. Lá as pessoas trabalhava assim, por exemplo, quando formava uma fila de casa, era uma sede que abria e lá ele ia cavar poço e eu ia pra cozinhar, sempre eu vivi assim era de fazenda em fazenda, trabalhava lá nessa fazenda em Rio Vermelho, trabalhava na fazenda Pau Preto, nessa Pau Preto a gente trabalhava de lá, pras pessoas que tavam devendo só saía fugido porque se tivesse devendo não saía de lá. As pessoas que trabalhava lá trabalhava como escravo porque não tinha lucro de nada, não tinha saldo pras pessoas, pra...

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Título: Sou um resgate

Data: 31 de outubro de 2007

Local de produção: Açailândia

Autor: Museu da Pessoa

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