Projeto Memórias do Comércio 2020-2021
Entrevista de Cilso José de Moraes
Entrevistado por Luís Paulo Domingues e William Carneiro
Bauru, 29 de janeiro de 2021
MCHV_012
Transcrito por Selma Paiva
P1 – Bom, pra começar, eu gostaria que o senhor dissesse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que o senhor nasceu.
R1 – Sim. Meu nome: Cilso José de Moraes. Nasci em 1956. Nasci em Garça, estado de São Paulo.
P1 – Ah, legal. E qual o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – O nome do meu pai: Sebastião Cuba de Moraes e o nome da minha mãe: Anésia Lopes de Moraes.
P1 – Legal. E os seus avós? O senhor teve contato e lembra do nome deles, lembra deles?
R1 – Lembro, tanto da parte da minha mãe, como da parte do meu pai. Da parte do meu pai era José Cuba de Moraes e Maria Madalena de Moraes. E da parte da minha mãe era Hilário Lopes Coelho, eles eram da Bahia e a minha vó, Josefa da Cruz Coelho, também da Bahia.
P1 – Ah, interessante. E o senhor sabe a origem, né? O senhor acabou de falar que eles eram da Bahia, né? Da outra parte vem de onde, pra chegar em Garça?
R1 – Olha, assim, deixa eu só falar para você a parte da minha mãe: os meus bisavôs eram tudo da França. E eles vieram para Bahia, para daí tirar pedra preciosa, para fazer anéis e daí estourou, escuta, uma guerra e eles não, daí, puderam voltar mais, né? E onde houve o início, que o meu bisavô ficou pra… ele acabou casando com uma baiana e daí vem a nossa origem. Agora, a parte da minha mãe, o meu vô que eu tinha te mencionado, José Cuba, ele, daí, veio de Cuba. Vieram de navio. Como lá era uma outra língua e eles foram cadastrá-lo e daí colocaram José Cuba de Moraes. E essa é história que me passaram, sabe?
P1 – Ah, que legal.
R1 – E a da minha avó, que é a vó Maria, ela daí veio de Portugal, também, de navio. E eles se conheceram e daí veio essa nossa geração.
P1 – Ah, interessante. E como que eles chegaram a ir para Garça?
R1 – Então, o meu avô era lá da Bahia e ele, daí, queria colocar uma dentadura, né? E eles, daí, vieram para São Paulo, que era aquela época dos anos, eu não me lembro, pra eu te passar a data de anos. E ele foi roubado dentro de São Paulo, lá na estação da Luz. E pra ele poder ganhar dinheiro para voltar lá para Bahia, daí veio para o interior, para poder trabalhar em uma fazenda. Então, foi daí que a minha mãe conheceu o meu pai. E, da parte do meu pai, sempre eles estiveram no estado de São Paulo. Antes eles vieram pelo Rio, vieram de navio e o meu avô, José Cuba, veio direto pra Garça. E é onde tem uma família minha muito grande, dentro de Garça, né? Que é tio, avô, avó, tudo que vem lá da época deles. Então, esta é a minha origem, certo?
P1 – Sim, a gente sempre pergunta a origem das pessoas, porque isso é muito importante pra definir, né, a identidade da pessoa. E o senhor conviveu, assim, com algum, ainda, traço cultural de Cuba, da França, de Portugal? Tinha alguma comida especial que eles faziam? Alguma festa, alguma…
R1 – Olha, a minha avó Maria - assim como eu às vezes até brinco com a minha esposa hoje - sempre fez, assim, para nós, bacalhau. Que eu nunca consegui comer um outro bacalhau como o que a minha vó Maria fazia, certo? E ela falava bastante português, assim, a língua portuguesa. Agora, nós, não. Nós, assim, fomos já sendo purificado em uma outra língua normal, nossa. Agora, da parte da minha mãe era tudo da Bahia, né, que hoje ainda nós temos até terras lá. Mas, assim, terras lá dentro da Bahia, hoje, não tem valor nenhum. É em Livramento de Brumado. Tem Brumado e Livramento do Brumado, ali, fica perto de Vitória da Conquista. Lá era assim: eu sou descendente de negros, porque esse meu avô, Hilário, era... como eu até brinco com os outros, hoje, que todo o mundo, assim, fala assim: pretos, pretos, né, mas que preto era o meu avô, que era preto azul, certo?
P1 – (risos) Sim, sim.
R1 – Porque hoje muitos dizem que são negros, pretos, vamos falar assim, mas eles são pardos, eles não são pretos. Assim, no meu ponto de vista. Mas só que é uma coisa muito linda, que nem, eles são muito assim… eu, assim, cheguei a conhecer o meu avô. Era assim: o povo lá da Bahia, que nem eles são diferentes de nós aqui, do paulista. E todos os baianos, para eu falar pra você, depois descem para o Rio. Hoje eu tenho tio no Rio de Janeiro, Niterói, né? Eu tenho uma irmã minha que ela mora lá. E essa é a minha mistura, entre baiano… é isso tudo que eu te passei.
P1 – Sim, até francês tem.
R1 – Justamente, juntos, juntos, juntos.
P1 – Legal. E o senhor nasceu em… Garça, né? O que o senhor lembra da sua infância? O senhor nasceu onde? Na fazenda, na cidade…
R1 – Eram oito alqueires de terra. Foi uma infância muito linda, certo? Assim, hoje eu vejo meus netos, os filhos… que nem, meu, eu, assim, tive uma infância muito linda, mas eu não gosto de mato, hoje. Hoje eu, assim, tenho muita dó dessa moçadinha. Mas assim, do que eu vejo hoje. Mas na época minha era uma época muito gostosa, muito linda e assim, tive uma infância muito linda, viu, Luís?
P1 – Era assim que o…
R1 – Agradeço muito isso pra Deus, certo?
P1 – É. Era muito mais livre, né?
R1 – Claro, claro.
P1 – Ia pra rua, não tinha problema de sair, sair de casa, porque não tinha violência. Mas era sítio de plantação de café? Era café?
R1 – Era. Olha, eram oito alqueires que eu ainda até lembro, até sonho hoje. Era… um alqueire era só de pé de café. Tinha quase três mil pés de café. Um alqueire era só de plantação de mangas. Nós, assim, mandávamos mangas pra Bauru, pra Marília, que é onde eu iniciei a minha parte dentro do comércio, mandando mangas, pra… né? E, assim, tinha um alqueire que era só pra você… assim, ter um animal, um gado. Pouco, né? E muito gostoso. Era muito dividido, esses oito alqueires nossos. Mas muito gostoso, né?
P1 – Legal. E o seu pai e a sua mãe, então, trabalhavam no sítio, com esse sítio?
R1 – Olha, o meu pai, depois, foi ser militar, sabe? Ele foi ser militar, que antes era força pública”. Hoje é polícia militar, né, mas antigamente era força pública. E ele foi ser militar, certo? E deixou lá para mim e uma irmã. E ele deixou pra mim e pra minha irmã com a minha mãe, lá. E ele seguiu a vida militar. Mas sempre ali, junto, ali, conosco, né?
P1 – Certo. Ele foi morar longe?
R1 – Não, não. Tem Garça e Marília, né? Fica ali pertinho, Garça e Marília. E ele pegou, tirou escola dentro de Bauru, que é onde tinha a escola lá na época e ele... depois o mandaram lá para Marília. E ele, daí, ficava em Marília e em Garça. Que hoje eu nem sei te dizer se Marília ainda comanda Garça, né? Mas na época nossa era.
P1 – E o que o senhor lembra da sua infância, das brincadeiras? O que o senhor fazia no sítio? O senhor morava no sítio, devia fazer um monte de coisa, né?
R1 – Nossa, era uma coisa linda! Assim, deixa eu te explicar uma das coisas que fica gravado, assim, na memória da gente. Era diferente do que é hoje, né? Você tem mais contato com a natureza, você tem mais contato com a vida animal, praticamente. Hoje mesmo, que nem, eu… assim, quem mora, quem for assistir essa entrevista que nós estamos aqui falando, vai ver que é verdade isso. Quem mora em sítio, na época de fim de ano não é bom, porque você cria animal, mas chega fim de ano, vem aquelas pessoas para comprar e daí você morre de dó, porque os caras compram pra matar, né? Então, a única tristeza minha que eu lembro, era essa. Que no fim de ano, eu assim com meus bichos, era porco, carneiro, então isso te marca. Mas as outras partes eram só alegria. Só alegria, certo?
P1 – Sim.
R1 – Assim, não era que nem hoje, nessa época que nós vivemos hoje, como eu tinha até te dito, dos meus netos, dos meus amigos, que eu vejo. Você vivia a vida ali. Hoje, eles, é só outro mundo, é só internet, só é telefone… não, nós lá na época era outro _____ (13:07). Internet nossa era carpir café, era abanar café, era ajudar. Era outro tipo de vida.
P1 – Era só o senhor e a sua irmã? Ou tinha mais irmãos?
R1 – Não, olha, tinha mais primos, né, porque era uma família, como eu assim te disse, grande. E os primos tudo se reuniam, era outra união, certo? Era muito unido. Que hoje você só se encontra, hoje, quando morre um, certo? Quando é um aniversário, quando você pode ir, certo? Família hoje, que eu não acho que é…. eu acho que as outras famílias também devem ser a mesma coisa, certo?
P1 – Sim. Verdade. E o senhor...
R1 – Mas era…
P1 – Pode falar, pode falar.
R1 – Era época, Luís, que nós éramos felizes e não sabíamos, sabe? Hoje eu: “Puta, mas como eu era feliz.” E você não dava valor, né?
P1 – Não dava valor. E o senhor brincava do quê? Quais eram as brincadeiras?
R1 – Olha, de tudo. Tinha estilingue, burca, peão, certo? Olha, nós brincávamos de pique, de esconde-esconde, de tudo. Hoje isso não existe mais, Luís. Você lembra de um que chamava bilboquê?
R1 – Não.
P1 – Era um que você colocava… então, hoje você nem acha pra comprar isso, certo? (risos). Hoje é outro mundo. Hoje é uma nova geração. Que eu não sei se eles são felizes ou não, certo?
R1 – Sim. E o senhor andava a cavalo, ia no rio, né?
P1 – De tudo, de tudo, de tudo, Luís, de tudo. Olha, oito alqueires, que eu acho que você sabe que um alqueire tem vinte e quatro mil metros e duzentos. E oito alqueires, antigamente, isso era uma escritura pública, mas sempre tinha a mais, aquela sobra de terra, sabe? Então, era muito grande oito alqueires. Então, você tinha cavalo, gado, como eu tinha te dito. Não cem, duzentas cabeças. Mas você tinha dez vacas leiteiras, certo? Assim, porque eles também consomem muito. Mas era muito alegre. Era uma vida muito gostosa. Que é diferente de hoje. Hoje você só entra dentro do carro e vai daqui… não, antigamente não: você andava. Antigamente, Luís, era muito difícil você ver, escutar uma pessoa, sabe, que morreu assim: “Olha, infartou”. Poderia até ter isso quando tinha oitenta, noventa anos. Hoje não, hoje você vê gente nova, por quê? Porque não anda. Eles não se exercitam. Olha, de uma das coisas que eu vou te dizer que eu fiz muito, era você carpir. Quando você fazia aquilo, você melava todo o corpo, você ficava, você transpirava. Hoje é só se você fizer caminhada, que é o que todo mundo faz hoje, né? Então, era uma vida diferente do que a gente leva hoje.
P1 – É verdade. E o senhor... como é que fazia para ir para escola? Era longe, né, do sítio?
R1 – Olha, esse sítio nosso não era tão longe. Porque Garça, quem fundou Garça foi o Labieno da Costa Machado, um argentino, certo? E ele lá, foi lá, fez uma serraria muito grande. Nessa época minha tinha só casa de madeira, praticamente. E esse sítio nosso não era tão longe da cidade. Dava até pra você ir a pé. Não era como o outro sítio, que você tinha que ir de carroça, não, esse dava pra ir a pé, Luís.
P1 – Aí o senhor acordava cedinho e ia pra escola? Como que era?
R1 – Cedinho. Olha, dentro de Garça tinha grupinho e grupão, certo? O grupinho era o primário. O grupão já era ginásio. Que tinha, antigamente tinha até quinta, que chamava quinta A - admissão. E depois você ia pro ginásio. E lá tinha tanto o grupinho quanto o grupão. Não tinha faculdade. Hoje tem, mas na época minha não tinha.
P1 – Sim.
R1 – Então, eu estudei lá, tanto no grupinho como no grupão. E depois vim pra Bauru.
P1 – Certo. E era escola pública, né, o grupo escolar era público?
R1 – Pública, pública. E muito boa, viu, Luís? Muito boa, sabe? Muito boa. Olha, quem estudou na época minha, os meus amigos… olha, foi uma escola que te ensinava, certo? Agora hoje você vê que, assim, o meu entender mesmo, certo, que na época nossa, quando você saía do primário, você já sabia escrever, ler e você já entendia. Hoje não, Luís. Hoje eu vejo os netos meu e eu, sempre que pergunto, tem os ‘da particular’, que é escola particular e outros das escolas públicas. E eu daí pergunto para os dois e eles não tiveram aquilo que nós tivemos, lá atrás.
P1 – Sim. E o senhor gostava de qual matéria, assim? O senhor lembra de algum professor que te inspirou? O senhor ia bem no que, na escola, assim?
R1 – Olha, a única matéria que eu sempre gostei foi de Matemática, sabe? Eu, assim, sempre gostei de Matemática, eu sempre curti. Também sempre gostei de Português, pra gente aprender. Eu via muito a minha avó Maria, que me ensinava muitas coisas. E a minha mãe, também, foi professora e ela me ensinava muito, daí ela me tirava muitas dúvidas, sabe? Mas ó: a matéria mais assim ficou entre Português e Matemática.
P1 – Certo. E o senhor começou a trabalhar nesse meio tempo aí? Quando o senhor ia pra escola, voltava e trabalhava? Quando começou o seu trabalho?
R1 – Então, como eu tinha te dito: o meu pai, daí colocou nós pra trabalhar, eu, principalmente, cedo. Que eu, daí, tinha que mandar manga pra Marília e manga pra Bauru. Ia perua nessa época, buscar. Caminhões, né? E como nós tínhamos lá, era um alqueire só de pé de manga, tinha todos tipos de manga e era aquelas caixas de madeira, então você tinha que enchê-las e as perua vinha ali buscar. Eu comecei a trabalhar entre dez, doze anos, certo? Tinha que encher, tinha que acordar de manhã, que ele já vinha bem de manhã para buscar. E daí, sabe que levava, para Marília, para Bauru, né?
P1 – Aí o senhor já tinha que fazer até a contabilidade, de quanto recebia…
R1 – Tudo. Tudo. Tinha, olha, funcionários que nos ajudava, que eram os empregados na época lá, mas a parte de contabilidade era eu. Que eu tinha que prestar conta para o meu pai, depois. E tinha que estar ali direitinho, porque senão o couro comia, certo? Era diferente de hoje, certo? (risos)
P1 – É. E depois, na mocidade? O senhor ficou em Garça até quantos anos de idade?
R1 – Então, que nem eu fiquei em Garça, como o meu pai era militar, Luís, o maior sonho dele era eu ser militar. Mas eu nunca quis. E ele, depois ele era sargento, né? E ele me mandou ter… eu tinha uma tia, também, que era da polícia feminina dentro de Bauru. E ele daí, mandou, porque tinha uma escola dentro de Bauru, como ainda tem lá até hoje, certo? E ele me mandou eu vir fazer uma provinha, que era aquela provinha de “dois mais dois”, como era já com militar, que não era que nem hoje. E eu era, nessa, cabeludo, tinha dezesseis pra dezessete anos, né, tinha dezessete anos praticamente, né? E fiz aquela provinha, mas com a intenção de não passar. E na época tinha trem, então você tomava trem e você voltava de trem. Né? Que era Garça-Bauru. Vim, fiz a provinha, ele sabe, que ligava já pros outros amigos dele aqui. E daí, quando eu voltei pra Garça, a minha mãe já tinha dito: “Ó, sabe que ligaram pro teu pai aí, que você foi aprovado”. E daí, mãe é mãe. Eu falei: “Mãe, mas eu não quero ser militar.” Ela daí falou: “Então, você vai conversar junto com teu pai”. Certo? Vixe! Daí eu falei pra ele e o pau comeu, certo? “Então você não vai ser militar, você vai embora daqui. Você vai pra Bauru. Você vai lá morar com a tua tia.” E foi onde eu vim pra Bauru. Naquele mesmo dia, Luís. Eu cheguei de trem e voltei de trem, à noite. Minha tia me esperando lá dentro de Bauru. Porque pai, antigamente, não era que nem hoje, que você passa a mão ali na cabeça. Não, não. Era olho no olho, dente por dente, certo? E onde eu vim pra Bauru, assim, foi uma outra vida. Uma outra vivência, porque Garça era tudo pra mim, era minha vida. Lá, eu andava dentro de Garça, até onde eu ia, os cachorros me conheciam. Dentro de Bauru eu não conhecia nada.
P1 – O senhor queria ficar em Garça?
R1 – Claro! Mas hoje é assim: eu até digo pros meus amigos antigos. Porque hoje você tem o Facebook, então você encontra todos os seus amigos. Garça, eu amo Garça, mas eu… Bauru, pra mim foi uma mãe… madrasta. Ela me acolheu e me ensinou muito, né? E que daí eu vim pra Bauru, eu vim pra morar com a minha tia, certo? E daí foi onde eu fiz colégio, eu fiz uma faculdade dentro de Bauru, né? E amo Bauru hoje, certo?
P1 – E como foi esse choque? O senhor mudou de Garça, que era uma cidade pequena… Bauru era muito diferente de hoje, né, mas era uma cidade grande.
R1 – Totalmente.
P1 – Como era?
R1 – Assim: deixa eu te passar números. Quando eu saí de Garça, acho que Garça devia ter acho que uns trinta pra quarenta mil habitantes. Hoje acho que deve ter cinquenta, sessenta mil. Acho, né? E Bauru, quando eu vim pra Bauru em 1973, ela tinha cem, cento e dez mil habitantes. Hoje Bauru está com quase quatrocentos mil habitantes. Então, assim, a minha vivência dentro de Bauru foi depois que eu comecei estudar, que eu, daí, comecei a ter novos amigos, fazer novos amigos, novas amizades, nova vida. Comecei a conhecer Bauru, né? E então, até nisso, mas foi muito doloroso isso, porque quando você sai de um lugar onde você nasceu, onde você teve, para você ir para lugar que você não conhece…
P1 – Desculpa, eu fui abrir a porta, senão cai aqui.
R1 – Sim. Mas foi assim: você vai se adaptando com a vida, né? Assim, foi uma experiência que, se eu te contar “foi bom”... hoje, como eu te disse, hoje eu amo Bauru. Mas isso aí sabe que demora tempo, certo? Demora muito tempo.
P1 – Wiliam…
R1 – Hoje eu adoro Bauru. Amo. Nossa, Bauru hoje pra mim é a minha vida.
P2 – É…
P1 – É um choque, né, quando é cidade grande assim. Fala, Wiliam.
P2 – Bom dia, tudo bem?
R1 – Bom dia.
P2 – Gostaria de perguntar, assim, para quem não conhece, né, Garça, se o senhor poderia descrever Garça na época, a cidade e hoje em dia. As diferenças, os lugares de turismo, as coisas lá, o Centro, praças.
R1 – Sim. Olha, Garça era uma cidade, na época minha, era do café, certo? Que eu nasci em 1956, como eu disse na entrevista. E era uma cidade assim: tinha pobres e ricos. Não existia classe média, na época minha. Ou você era pobre, ou você era rico, certo? Ou era que nem nós lá no sítio, ganhava sua vida lá. Na época minha, o que predominava lá era o café. Que nós tínhamos, nesses oito alqueires nosso, tinha um alqueire, como eu até tinha… tinha três mil pés de café, certo? E depois montaram uma cooperativa que era para toda a região. Que só tinha fazendas grandes de café, que eles mandavam pra essa cooperativa e eles daí mandavam pro Brasil e pro mundo, certo? E era, assim, uma cidade, nessa época minha, o anel de Garça era, assim, de só pessoas trabalhadoras. E aquele povo que era da época minha era, assim: você, Wiliam, não tinha o que acontece hoje. Eu, agora faz pouco tempo que eu fui pra Garça e eu encontrei com uns amigos antigos, porque muitos já estão junto com Deus. E outros ainda estão lá, como nós conversamos, via Facebook. Hoje Garça está muito mudado. Não é como era na época minha. Na época minha, você deixava as portas abertas, não existia droga. Você deixava... olha. Olha, na época minha tinha só um ladrão lá, que todo mundo o conhecia. Hoje você nem sabe falar, certo? Não existia, Wiliam, o que existe hoje: droga. A única droga que existia na época, que nós sempre, lá, conversávamos, era aquele cigarro de fumo de corda. Que aquilo cheirava longe, quem estava fumando. Mas não era uma droga, era que tem aquelas pessoas que gostavam. Agora, Garça, como as imediações lá, foi muito linda. Era uma cidade muito produtiva de café. Agora, Bauru não. Bauru já é a parte de comércio. Eu nem sei se eu te respondi o que você queria, William.
P2 – Não, sim, sim. Então, aqui em Bauru, desde a metade do século XX, né, já tinha essa abertura do comércio em si…
R1 – Sempre. Assim, sempre, eu assim, perguntava pros mais antigos. Bauru, assim, teve aquele entroncamento de ferrovias, sabe? Que ela tinha Boa Vista, Sorocabana. E isso fez Bauru progredir muito. Enquanto que Garça, não. Garça não… hoje, Marília… como eu também, sabe, que vivi um pouco dentro de Marília. Assim, eu não morei dentro de Marília. Meu pai tinha uma casa lá, mas ia em fim de semana, ficava um pouco. Mas eu convivi, também. Marília também se destacou muito. Porque é que nem, lá foram muitas indústrias de alimentos, como é hoje. E que Bauru hoje, assim, olha, tem muitas vezes que eu me pergunto. Bauru hoje está com quase quatrocentos mil habitantes. Marília, eu acho que deve ter quase duzentos. E Garça, Wiliam, parou naquele número que eu te falei, entre quarenta pra cinquenta mil habitantes. Isso é uma dúvida que eu, assim, sempre pergunto para os meus amigos: “Mas será? Por quê?” Uns me falam assim: “Ó, foi força política.” Outros te dizem assim: “Não, porque aqui não teve o que Bauru teve”. Que ela tinha aquele entroncamento ferroviário. Isso eu sempre tive dúvida, junto comigo.
P1 – Talvez um pouco a dependência do café, né? Muitas cidades, quando o café…
R1 – Também tem isso. Também, também, também. Agora, era pra Garça, assim, no meu ponto de vista, como que existia, Luís, aquelas…. café, como você mencionou, uma grande cooperativa, era pra Garça ter expandido mais. Mas Luís, não sei. Olha, eu, assim, são essas explicações que eu pergunto para os meus amigos aqui, eles me falam: “Olha, nós achamos que foi força política”. Porque você queira ou não, como hoje, força política ainda domina.
P1 – Legal. E depois, ‘seu’ Cilso, quando o senhor chegou em Bauru, o senhor foi fazer o quê? Foi morar na casa da sua tia e foi estudar e trabalhar?
R1 – Isso. Olha, tinha um… aqui dentro de Bauru, eu hoje, Bauru é a minha vida, hoje, certo? Aqui, o anel de Bauru, como eu já tinha dito pra vocês do anel de Garça e aqui é o anel de Bauru. Bauru, ela se expandiu por ela mesma, certo? E aqui, assim, hoje no meu ponto de vista, quando eu vim tinha só uma faculdade, que era a ITE. Que tinha vários cursos, de Administração, Direito. Hoje tem umas dez faculdades, hoje, se não tiver mais, certo? Antigamente, para você prestar vestibular dentro de Bauru, lá na ITE, pelo amor de Deus! Aquilo era… olha, você tinha que estudar e muito, certo? E eu vim, eu acabei o colegial e eu, daí, prestei vestibular na ITE. Os meus primeiros vestibulares foram, assim, para mim… eu não entendia se eu queria fazer Direito ou Administração, que eu acabei fazendo depois Administração, certo? E também, depois, eu daí fiz um pouco de curso de Direito. Mas já bem depois da minha vida, certo? E Bauru, hoje e desde essa época que eu vim, tinha mais emprego, era diferente de Garça. Garça não tinha emprego. Tanto é que os meus amigos, da época minha, tudo mudaram, praticamente, de Garça. Hoje eles voltaram, porque se aposentaram. Mesmo os que tinham mais condição de vida. Mas Bauru foi assim, a minha vida dentro de Bauru: eu estudei, constituí a minha família, casei dentro de Bauru, fiz a minha vida dentro de Bauru. E isso que eu dou muito o valor hoje, certo? Que eu, assim, digo pros meus filhos, digo pros meus amigos, digo até para os meus netos: “Você tem que ter uma direção de vida”.
P1 – Tá certo.
R1 – Você sempre tem que fazer aquilo você gosta, né?
P1 – Mas como foi o início? O senhor chegou, foi morar na casa da sua tia.
R1 – Da minha tia, é. Chamava Jandira. Ela era polícia feminina na época. E ela era irmã do meu pai, certo? E eu acho que ela, como meu pai - que era aqueles telefones de manivela - sempre estavam conversando. E ela sempre com aquele interesse que eu me ingressasse na polícia. Mas eu deixei claro que eu não queria mesmo, né, porque, assim, agradeço muito todos os militares, fui educado, praticamente, por militar. São muito, é uma educação muito que você tem que dar até bom dia para poste, certo, de tanto que eles te educam, certo? Mas eu nunca tive. E eu daí comecei a estudar. E eu lá tinha essa avó minha, lá da Bahia. Que ela, na época, tinha até feito uma poupança lá para mim, né? E era na época que você mandava carta. Não era que nem hoje. Ou você mandava carta, ou você mandava telefone. E eu, daí, recebi uma carta da minha vó, certo? Ela daí mandou escrever uma carta para mim. A minha vó lá da Bahia, mãe da minha mãe. Como é que estava a minha vida, que tinha uma poupança assim, assim, se eu, daí, precisasse de dinheiro... e eu também, assim, da parte do meu pai, nunca tinha pensado nisso. E daí, como ela tinha... eu acabei comprando uma casa dentro de Bauru, para mim. E daí eu fui morar sozinho nesta casa que eu comprei, certo? E, assim, a minha tia me tratava muito bem. E eu assumi a minha vida desde os dezoito para dezenove anos.
P1 – O senhor terminou o colegial aqui? A escola, colegial? Qual colégio?
R1 – Terminei aqui. No Preve Objetivo. No Preve Objetivo. E daí, Luís, comecei a fazer a minha vida. Daí eu peguei e comecei a estudar na ITE, peguei e conheci a minha esposa, que também fazia Serviço Social lá na ITE. E daí foi muito bem. Daí teve meu primeiro emprego, foi um estágio na Tilibra, certo? Um estágio remunerado. Que era uma, né... que eles, lá na época, eram uma empresa muito grande, muito boa, certo? E daí conheci um amigo meu que, lá, trabalhava com o Wallace Sampaio. Que ele tinha uma loja de… tinha supermercado. E daí ele me convidou, certo? O Wallace me convidou, se eu não queria ir trabalhar lá, junto com ele. Que hoje nós estamos até… hoje, eu sou o presidente do sindicato dos empregados e o Wallace é presidente do sindicato da parte patronal. E nós, nessa época, nós dois começamos a trabalhar junto e eu fui ser gerente do Wallace. Vinte e oito anos dentro…
P1 – O senhor foi trabalhar no Supermercado Sampaio, ali? Na estação...
R1 – Isso, isso. Foi o meu segundo emprego.
P1 – Certo. E como que…
R1 – Acabei aposentando lá.
P1 – Certo. Como que era trabalhar na Tilibra e no Sampaio, ali? Era muito diferente de hoje, né? Não tinha calçadão. O senhor lembra?
R1 – Lembro, claro. Na Tilibra é uma indústria. E eu fui lá fazer um estágio, né? Porque eu era de mecânica, que eram os cursos que eu tinha feito. Mas eu sempre gostei - como eu tinha te dito lá pra vocês no início - do comércio, que é aonde eu vendia manga, mandava manga. E a minha tendência, mesmo, sempre foi a parte de comércio. E o Wallace, quando eu fui lá… assim, que eu acho que o Wallace deve ser mais velho do que eu, acho que uns seis anos… é assim, mais ou menos isso. E era ele e uns irmãos que tinha. Na Tilibra, pra você entender, lá, eu, assim, fiz um estágio. Que lá, daí, fazia caderno… e no Sampaio, que era no supermercado, era vender tudo. Era um supermercado como hoje. E tinha a parte de gêneros alimentícios, ferramentas, ferragens, né? E eu fui para lá ser o gerente do Wallace. E daí entrei, é uma experiência muito boa, mas muito difícil. O comércio hoje, viu, Luís, sempre eu digo, tanto é que hoje eu defendo os empregados do comércio: o comerciário hoje é muito sofrimento, Luís, é assim: eles não têm fim de ano, eles não têm Natal… é que nem, você vê, com essa pandemia mesmo, desde lá de trás teve… tinha tuberculose, meningite… e olha, o comerciário fica exposto. Porque você vai atender uma pessoa, você não sabe se ela está doente. Que, hoje, uma das lutas minhas... ontem eu ainda até tive uma reunião e eu expliquei para onde eu tive lá, que uma das coisas que nós temos que ir atrás para os comerciários chama “vacina”. Proteger quem está dentro do comércio, quem está dentro de supermercado. Eles lá falam assim: “Mas só para a Saúde, para os velhos…” Não, não. Eles têm que pensar nos que estão combatendo essa pandemia, que está de frente. E esta classe é o que está, como eu te disse: eu iniciei dentro de mercado, dentro do comércio.
P1 – Certo. E o senhor conheceu sua esposa nesse período que o senhor foi pro Sampaio? Antes?
R1– Não, na faculdade.
P1 – Na faculdade.
R1 – Quando eu comecei a estudar lá na ITE, certo?
P1 – Na ITE.
R1 – Porque era faculdade particular, certo?
P1 – Sim.
R1 – E ela, só tinha ela, dentro de Bauru, nessa época. Hoje tem um monte. Mas nessa época minha, 1973, era só a ITE. Que, pra você prestar o vestibular lá, Luís, era assim: tinha duzentas vagas. Tinha dez mil candidatos pra entrar nessas duzentas vaga. Então, você tinha que ser bom pra você entrar, ou estudar muito, certo? E era, que nem, eu sou da época que você prestava vestibular quatro dias. Quatro dias, Luís. Não é que nem hoje, não, que você vai, você já presta vestibular, ou você entra ou você não entra. Mas hoje entra. Se é para você pagar, você entra. Na época, não. Na época você tinha que ter conhecimento, pra você entrar. E eu a conheci lá, nessa época. Ela é uma assistente social, depois ela prestou concurso federal, ela foi ser uma assistente social federal. E que nem, nós estudávamos, nós dois, muito, junto. Isso é muito importante.
P1 – Mas vocês foram morar juntos, já, ou namoraram bastante tempo, casaram?
R1 – Não... não, escuta, que nem, nós namoramos um ano. Essa época, se você fosse morar junto, o pai te matava. Não era… escuta, não era que nem hoje. Hoje eu tenho filhos que já moram junto sem casar, nada. Na época minha, não. Na época minha era diferente, Luís, então você tinha que casar bonitinho, fazer tudo bonitinho, certo? Que é onde tem essa diferença hoje, como eu te digo: que mudou tudo, né? Eu não sei se na época minha estava certo, ou se hoje que está certo. (risos) Isso é você.
P2 – Ô, ‘seu’ Cilso…
R1 – (risos) Oi, Wiliam, pode perguntar.
P1 – Não, o senhor tem razão. Todo mundo fala sobre isso, né, que o passado era mais acertado. Mas viu, ‘seu’ Cilso, pra deixar registrado, qual que é o nome da sua esposa e dos seus filhos? Pra gente deixar registrado.
R1 – Olha, a minha esposa chama Ana Maria Silva de Moraes, né? Eu tenho três filhos. Tem um que já está junto com Deus, que faleceu de acidente de moto, que é o _________ (43:56) Tiago, certo? Esse que já está junto com Deus. E a filha chama Janaína Aparecida de Moraes. E o outro chama Solano José Silva Vítor Moraes. Então, eu, assim, a minha esposa e esses três filhos.
P1 – Tá legal. E vamos voltar pro Sampaio, lá. O senhor… fala, Wiliam.
P2 – Onde o senhor morou aqui com a sua tia? Que bairro que era e depois quando o senhor comprou a casa…
P1 – Acho que cortou.
P2 – Cortou?
R1 – Olha, que nem, eu tive sorte, viu, Wiliam? Quando eu vim pra Bauru, eu... essa tia minha morava lá na Rua Virgílio Malta, esquina com uma igreja, que chama Igreja Santa Terezinha, certo? Que hoje, onde nós moramos, depois virou bar, virou camarim e hoje é o instituto, lá, de polícia, certo? Eu não sei te dizer se essa minha tia - que era dela essa propriedade lá - vendeu pra polícia, se ela doou lá pra polícia, certo? Mas eu morei lá, Luís, na Rua Virgílio Malta. Onde é essa rua, Vírgilio Malta? Ela é Centro de Bauru, hoje. Eu, assim, tive esse privilégio, desde que eu vim pra Bauru, sempre eu morei no Centro. Hoje eu já moro no alto da cidade. Mas sempre, ali, eu convivi nesse meio comercial.
P1 – Certo. E a casa que o senhor comprou, com o dinheiro da poupança, onde é?
R1 – Então, foi lá na Rua Quintino Bocaiúva, na quadra oito. E hoje eu moro na quadra nove, certo? Eu, assim, tenho essa casa e uma outra, né, mas eu morei na quadra oito, que era uma casa menor, certo? Agora, onde eu moro hoje, que é uma quadra mais para frente, é uma quadra maior, é uma casa maior, certo? E eu acabei comprando também lá.
P1 – Sim. E voltando pro Sampaio, o senhor entrou lá direto como gerente? Deve ter sido difícil, né, gerenciar tudo aquilo.
R1 – Não. Não, não, não, não. Eu entrei, assim, porque eu tinha os cursos, como eu tinha te dito, de mecânica, que eu fiz esse estágio, lá na Tilibra, na parte de oficina mecânica. E eu tinha muito conhecimento sobre ferramentas. Então, quando eu entrei, eu fui ser chefe de seção de ferramentas. Mas como o Wallace viu que eu, assim, tinha aquele conhecimento grande, bom, ele mesmo pediu, que ele ia ser gerente geral. E eu, ser gerente. Porque tinha três supermercado. Tinha esse, era da Rua Batista, tinha outro na rua onde nós estamos aqui conversando, quase de frente, na Rua Azarias Leite e outro em Lins. Eram três supermercado que eles tinham. E ele, como ele viu que eu era de ficar ali mexendo, ele me chamou e me explicou assim: “Agora você vai me ajudar.” Mas só que era… isso daí, só… você ser gerente... hoje, eu, assim, defendo todos os gerentes. Ele já nesse... ele já me passou metas que eu tinha que cumprir, eu não tinha horário para eu entrar, mas também não tinha horário para sair. Então, quando ele me disse assim: “Olha, você não vai ter horário para entrar”, pensei comigo: “Mas que maravilha!”. Depois eu vi que era um puta compromisso muito difícil, porque eu não tinha horário para sair, certo?
P1 – Tem que cumprir.
R1 – Tinha que cumprir e rigorosamente. Que hoje eu até digo assim para todos: “Olha, você ser gerente, você ter que cumprir meta e aguentar…”, olha, porque não é fácil, Luís. Que nem, eu… nós, assim, na época nossa lá, com todos os funcionários, você tem que ter um equilíbrio muito bom, um grande conhecimento. E isso você vai adquirindo naquele dia a dia. Mas sempre gostei, viu, Luís? Eu não posso… eu sempre gostei do comércio.
P2 – O senhor lembra quais eram as metas?
R1 – Eu não entendi, Wiliam.
P2 – O senhor lembra quais eram essas metas lá na gerência?
R1 – Lembro, lembro, lembro! E eu ainda, até tenho uma coisa para lhe falar pra vocês, que vocês vão… olha, eu e o Wallace, nós combinamos assim, ó: a meta, que era vender toda a loja, era 0,1% que eu ia ganhar, certo? Eu, assim, fiquei assim, pensando. Falei: “Mas 0,1%, eu não vou ganhar nada!” Mas olha, Wiliam, me enganei. Eu ganhei um caminhão de dinheiro. No outro mês o Wallace já mudou: “Não, é 0,01, viu, Cilso?” (risos) Vocês me entenderam? Assim, porque era da loja, eu no início, porque você guarda isso, né? “Eu não vou ganhar nada”, certo? “Eu não vou ganhar nada”. (risos) Então, vamos só ver, uai. Só fazer… mas daí ganhei. Puta, ele falou: “Não, então vamos mudar. É 0,001”. Que já, daí, caiu um monte, viu? Ainda mais… mas ainda era bom ordenado, na época, sabe? Mas muita responsabilidade, deixa eu falar para vocês. Hoje eu, que tenho muitos amigos gerentes, escuto até hoje, com essa idade... há um ano, aqui dentro de Bauru, eu fui convidado para ser gerente de uma loja, aqui, que tem um... aqui tem vários supermercados. E um que montou, mandou uma carta para mim: “Olha, você quer trabalhar?” Eu falei: “Não, não! Eu não vou querer, não”. Olha, eu agradeci, com muita honra. Assim, porque essa época que eu tive dentro da Sampaio, muitos que trabalharam junto comigo lá, hoje estão aí sendo gerente, certo? Hoje, assim, todos os que trabalharam junto comigo lá, que eram garotos, Wiliam, que nem você é, novo, certo? E eles aprenderam muito ali, junto ali comigo. E hoje eles são gerentes de grandes supermercados dentro de Bauru. E isso, assim, que eles, aprenderam, lá atrás. Porque gerente de mercado, você, olha, tem que estar todo dia se especializando. Olha, porque você tem que estar por dentro de câmara frigorífica, de você ter uma boa padaria com bons confeiteiros, você tem que ter um hortifruti bem ali preparado, com fruta fresca. Olha, até, é um assim… você tem que estar inteirado e com bastante cursos, com bastante conhecimento para você pôr, porque... e outra coisa, William: o mercado hoje, supermercado hoje, é uma faca de dois gumes, que poucas pessoas sabem. Se você compra carne de frango e você não estiver naquela data dela que você tem que vender, fazer promoção, você perde toda aquela carne. Na época minha tinha assim, William: você implantava. Eu, sabe, que iniciei isso. Muitos, hoje, sabe, que me ligam: “Cilso, você me ensinou muitas coisas lá atrás”. Tem, assim, aquelas mercadorias prejudiciais, certo? E tem aquelas mercadorias que são normais. E outra coisa para eu dizer para você, Wiliam: na época minha, não era... quem implantou isso foi o Collor, a validade da mercadoria. Você pensa que antigamente tinha o que você vê hoje? Validade para… não tinha, William! Antigamente era…
P2 – Não tinha validade?
R1 – Não, não tinha! Que nem, se eu falar para você assim: “Ai, é…”. Mentiu, Cilso? Não, não. Eu sou... quantas vezes… mas era, principalmente, aquela latinha de massa de tomate, a pessoa comprava, que já fazia dois anos que estava lá, quando chegava a ver, estava podre. Voltava lá: “Cilso, ó, e agora?” “Não, vamos te dar outra”. Mas a outra estava podre lá, também. Então, você tinha que devolver aquele dinheiro. Quem implantou isso tudo foi o seu Fernando Collor. Eu acho que de tanto os negos baterem lá: “Ó, multa isso daí, certo?” E outra coisa: frango. Quantas toneladas que eu não... escuta, que nós tínhamos que jogar. Porque quando estava na câmera, lá... poucas pessoas sabem disso, Wiliam, que eu tô falando para vocês. Eles congelam, mas ela tem, escuta, um limite de dias. Quando você descongela aquilo, se ela ficar uma hora, ela já ficou podre. Então hoje, você tem, escuta, um supermercado hoje, você tem que ter pessoas capacitadas, pra quem compra, pra quem administra, certo? Que é onde eles não acham. Eles formam padaria, confeiteiro. Você tem que ter um bom confeiteiro, que te faça novidade. Que ponha coisa, porque você olha aquilo ali, você não sabe quantos dias que está aquele produto ali. Então, tem assim: pra você ser um gerente bom de supermercado, você tem que ter conhecimento.
P1 – Legal. Ô, ‘seu’ Cilso, e o senhor ficou quanto tempo no Sampaio? Se aposentou lá?
R1 – Me aposentei lá, certo? Ele... eu, assim, pedi, viu, Luís, umas duas, três vezes para eu ir embora. Mas ele, sempre quando eu pedia para eu ir, é o que eles fazem hoje com os outros gerentes. Gerente que entende. Quando você vai pedir: “Não, não, não, Cilso, ó: vamos te dar um aumento.” Então, você se empolgava com aquele aumento e você continuava. Eu, hoje, encontrei com um amigo meu, viu, Luís, que ele até disse que foi até cria minha, certo? O Tião. Eu nem vou mencionar nome que ______(56:16). Eu encontrei com o Tião, que ele aprendeu comigo. Escuta, ele anda com quatro celulares, você não consegue conversar com o Tião. E tem uma... ele é gerente de uma rede grande de supermercados, dentro de Bauru. Ele está te conversando aqui, ele já está com outro aparelho aqui. Quando ele acaba aquele, ele pega o outro. Eu falei: “Tião, larga isso!” “Não, Cilso, eu já…” Eu falei: “Então, você vai ficar louco”. Então, essa é a vida dos gerentes de mercado. E essa época minha, como você me fez essa pergunta, umas quatro, cinco vezes, eu fui pedir a conta: “Ó, eu não aguento mais, eu não suporto” “Não, não, calma, olha…”. Tanto é que na época… porque hoje existe ainda, Sampaio. Mas caiu muito, eles lutam muito.
P1 – Sim. E como que o senhor resolveu participar do Sindicato dos Comerciários? Foi porque já conhecia tanto assim, né, o…
R1 – Não, não.
P1 – Como que o senhor chegou?
R1 – Olha, a minha primeira participação em sindicato foi assim: tinha um amigo meu que era do supermercado, lá. O Salvador. E ele me convidou, que ele era diretor do Sindicato dos Comerciários, dessa época. Isso acho que em 1975, assim. Ele me disse: “Escuta, você não quer participar junto com nós, lá?” E o Wallace era já da parte patronal. Chama Wallace Garroux Sampaio. E ele também era diretor do outro sindicato dele. E eu daí, pensei comigo… e eu, daí, fui lá conversar com o Wallace: “Ó, Wallace, eles me convidaram”. Ele disse assim: “Eu já tô, vai. Vai, porque nós vamos trocando figurinha.” E hoje, nós hoje, só debatemos. (risos). E nós desde lá de trás. E eu fui, eu fui ficando, fui assim, conhecendo. E eu já fui diretor, já fui suplente, né? E depois cheguei, hoje, que sou até presidente, né?
P1 – Sim. E o que, assim... essa entrevista vai para o Brasil inteiro, até para o mundo inteiro, né?
R1 – Claro, claro.
P1 – Que vai ficar no portal do Museu da Pessoa. Mas a maioria das pessoas não entende pra que que serve um sindicato.
R1 – Ah, eu te explico, viu. Olha, eu te explico.
P1 – O que vocês fazem, como que vocês atuam para melhorar a vida dos comerciários?
R1 – Olha, hoje, como eu, assim, tenho... vou pras empresas, escuta, vamos fazer assembleia, pra nós explicarmos. Principalmente nessa pandemia… olha, o sindicato, desde o início… agora mudou muito, viu, Luís? Agora é uma nova era sindical. Não é como eu que tive lá atrás, que era outro tipo de sindicato, que era obrigatória a contribuição. Hoje, não. Hoje você tem que ir atrás e você tem que levar benefício para os comerciários. Mas desde a época lá atrás, eu vou elogiar muito o Sindicato dos Comerciários do meu estado de São Paulo, certo? Como você disse que vai para o Brasil inteiro, eu vou elogiar muito o do estado de São Paulo. O nosso sindicato, principalmente, sempre levou benefício para o comerciário e para seus familiares. Quais são esses benefícios, que eles me perguntam. Um dos benefícios, muito importante: é o dentista. O outro: o jurídico. E o outro benefício muito importante é você poder levar sua família numa praia, você ter uma colônia, aquilo te ajuda e muito. Você leva seus familiares, você curte as férias ali. Então, o sindicato é muito importante para o comerciário. E uma das coisas muito importantes, Luís, que hoje eu vivo falando para todos, são as homologações, que eu acho que as homologações têm que voltar de novo para o sindicato. Por quê?
P1 – O que são...
R1 – Numa homologação, Luís, eu que já homologuei muito, assim, tive esse conhecimento… escuta, todos os seus acertos trabalhistas, todas as suas contas ali… porque tem comerciário que ele não sabe que que é dois avos de umas férias, o que é dois avos de… então, isso é tudo feito na homologação. O sindicato está ali, presente. Hoje, eles acabaram, com essa reforma trabalhista, com as homologações. E eu, em todas conversas que eu vou, eu falo: “Tem que voltar.” Hoje, tem um documento, ô Luís, que chama analítico, dentro do seu acerto trabalhista. O que é esse analítico? Quando a pessoa entra numa empresa, todo mês é depositado aquele fundo de garantia. Quando ela vai embora da empresa, o sindicato, o escritório, pede aquele documento. Ele analisa se a empresa depositou para você, todo mês, aquilo que é de direito dele. Luís e Wiliam, desde que acabou as homologações… nós ainda continuamos fazendo homologações. Mas eu tenho empresas que amigos meus, quando vão, falam: “Olha, Cilso, eu fui ver lá e eles não me depositaram, como que eu faço?” Então, você tem que indicar para o jurídico. Porque faz quatro anos, mais ou menos, que nós já estamos com esta reforma trabalhista. E eu espero que o novo presidente… que eles mudem esse cenário. E outra coisa para eu te falar, viu, Luís e William: a homologação é até muito boa para empresário, porque ele vai ficar tranquilo. Para os empresários bons, sabe? Eles vão se sentir amparados também. E onde que entra esse que você disse que… o sindicato. O sindicato só traz benefícios para os comerciários. Porque hoje, olha, que nem, existe aqueles sindicatos ruins. Esses que tem que acabar. Os bons, não! Eles, lá, deveriam, daí, fazer, escuta: “Ó, esse sindicato vai permanecer, esse não vai permanecer, esse tem mais gente….” Que nem hoje, mesmo. Eu te digo, nós dentro de Bauru, aqui, hoje temos - dados do Caged - trinta e oito mil comerciários, de toda a base. Dentro do estado de São Paulo, pelo que o presidente Motta, da Confederação diz, dois milhões e duzentos comerciários. Como que vai ficar isso tudo desamparado?
P1 – É verdade.
R1 – E uma das coisas muito importantes, Luís, o sindicato te ampara. Ele te… agora, se ele não trouxer benefícios, o comerciário tem aquele acordo dele, ir lá fazer aquela cartinha dele: “O sindicato não traz benefício e eu não vou querer”. Mas só um dentista, de uma extração de dente… escuta, hoje nós estamos, assim, pensando até colocar médico, para uma consulta. Escuta, só isso paga tudo aquilo que ele contribuiu.
P1 – Sim. E os advogados?
R1 – O jurídico, muito importante. O comerciário está com uma dúvida, vai lá, tira uma dúvida. Isso é muito importante. Então, o sindicato é muito importante, sim. Em todos os aspectos. Agora, um dos aspectos mais importantes, Luís e Wiliam, que eu te digo pra vocês e confirmo e afirmo, é na homologação. Homologação são os direitos deles que ele está acertando. Hoje tem, assim, o Dia dos Comerciários, que o sindicato batalhou. E outra coisa: ele vai ficar tranquilo, porque a gente que estiver homologando, se não tiver de acordo, ele vai falar: “Ó, eu não homologo”, que é o que fazia antigamente. Agora, hoje, passou pros escritórios. Os escritórios estão cobrando das empresas cada homologação. E se o patrão dele é o que está pagando-o, olha, eu não posso afirmar isso, como você vai até passar pro Brasil inteiro, mas eu sou a favor da homologação ser feita no sindicato. Não abro mão disso.
P1 – Então, o senhor diria que a reforma trabalhista - foi na época do Temer, né? - tirou alguns direitos, né, do trabalhador?
R1 – Olha, eu vou ser sincero pra você, Luís: tanto foi prejudicial para o trabalhador, como também foi prejudicial até pro governo. Porque, se um outro governo entrar agora e ele fizer uma análise do quanto vai ser bom para o trabalhador, isso é uma garantia e o seu Michel Temer… eles olharam, assim: eles deveriam ter que ter chamado, no meu ponto de vista, as pessoas dos sindicatos, as centrais de sindicato. E eles vissem quem eles achavam que era bom: “Olha, eu vou confiar nesse”. É que nem quando você vai levar, escuta, o carro no mecânico. Você tem que levar… ou quando você vai num médico: o da sua confiança. “Olha, antes de eu tomar qualquer decisão, vamos chamar uma pessoa?” E eles não fizeram isso. Escuta, porque tem, mesmo, sindicato... eu não vou citar nome, que eu não gosto disso, mas que não merecem. Mas tem aquele sindicato sério, que está trabalhando, que está levando… hoje é a coisa mais comum, qualquer pessoa hoje tem um conhecimento daquele sindicato que é bom e do sindicato que não é bom. Então, essa reforma trabalhista, no meu ponto de vista, tem que ser vista de novo. Eu até digo... eles foram lá assim: “Vamos acabar com o sindicato. Ninguém é obrigado mais a contribuir”. Mas eles esqueceram dos benefícios que o que está contribuindo teve e ainda continua tendo. E eles tiraram um monte de direitos.
P1 – Sim. Tá certo. E o sindicato também briga por salário? Assim…
R1 – Sim. Olha, o maior… o que é hoje, eu, como o Wallace, que eu vou te dizer pra você, é o presidente da parte patronal. Olha, hoje, existe hoje, certo, as convenções coletivas e os acordos coletivos. A convenção coletiva é o que todo comerciário - eu sempre digo que eu passei por isso - espera o seu aumento. Você conta com aquele seu aumento. E hoje nós estamos, assim, passando, por hoje, como eu digo assim pra todos: “Tem que ter convenção, sim, sentar como nós fazíamos”. Mas é muito difícil. E hoje tá cada vez mais difícil, por quê? Os empresários, hoje, nós temos o conhecimento, com essa pandemia, quanto que se tornou difícil. Hoje mesmo, que nem eu tenho, aqui, participado de várias reuniões. Nós passamos por uma pandemia, no passado aí, que houve o maior desemprego e a maior quebra de empresas. Que nem, tem um que fala: “Cilso, mas você não pode falar isso”. Falo porque eu assisti, eu vi o desemprego. E, se a pessoa está desempregada, é porque o patrão dela fechou a empresa dela. E hoje tem uns que me questionam: “Cilso, você quer que abre?” Não. Eu quero que o comércio seja aberto, mas com as determinações. “Olha: Aqui não entra mais do que nove. Aqui tem…”, porque, se fechar, para tudo. Eu, como eu tinha dito pra vocês isso, numa das entrevistas que eu dei esses dias, eu até mencionei: eu já peguei três pandemias. Peguei uma de meningite, dentro do supermercado, que até perdi um amigo meu de meningite, aquela brava. Certo? Peguei uma que todo o mundo já esqueceu, a da Aids. Que teve uma pandemia, mas eles esqueceram disso. E uma outra de tuberculose. Eles não falam isso. Agora, esta que aí está, nós temos que pedir pra Deus em primeiro lugar, que todos nós sejamos vacinados. Eu digo, tomara, assim, que seja todos. Agora entrou política misturado com saúde. Vira, assim, uma situação, Luís, que você não sabe. Nós precisamos… eles, daí, necessitam esquecer isso e cuidar da vacinação, todo o mundo ser vacinado. Ontem, ainda, até participei, estava lá, conversando com meus amigos… eu estou até vendo, se nós, daí, fazemos um ofício, pra que todos os comerciários, os que trabalham em supermercado, os que trabalham… sejam vacinados também, como os da saúde, médico. Agora, eu te digo para vocês: hoje se tornou muito difícil, hoje, você fechar uma convenção. Por que, Luís? Escuta, porque os empresários, hoje, estão numa situação e os empregados merecem aquele aumento. Então, você tem que você sentar e negociar. E está difícil, cada vez está mais difícil você acertar uma convenção.
P1 – Tá certo. ‘Seu’ Cilso, como é que foi o impacto pros comerciários, da pandemia?
R1 – Olha, eu tenho sentido isso na pele, certo? Porque hoje, tem assim, olha, é muito difícil, hoje, você ter uma empresa que não tem ou que não teve o covid. É muito difícil. Principalmente supermercados, certo? Nós - eu te digo isso por uma experiência da pandemia passada - assim, ficou todo o mundo com a mão atada e você não sabia o que você fazia. Por quê? Porque tinha os comerciários que pegaram pandemia. Foi fechado. Você… eles te procuravam. Não tinha medicamento. Hoje, Luís, que tem. Graças a Deus, os médicos descobriram algum tipo de medicamento que te ajuda. Mas lá atrás não tinha. Lá atrás era aquela briga, com aqueles medicamentos que eles achavam que não dava certo, outros achavam que não… mas hoje você já tem, escuta, uma noção: “Olha, você não está bem, então nós já vamos entrar com essa medicação”. Lá atrás não tinha isso. E pra os comerciários, eles pegavam ali e levavam para casa dele! E ele tinha esposa, mãe, pai. Então, hoje nós estamos - no meu ponto de vista, que eu tenho os ouvido - aprendendo com esse tipo de pandemia. Mas eu digo: “Nós temos que pedir para Deus quanto mais vir antes essa vacina”. No meu ponto de vista, meu. Mas essa vacina tem que vir, Luís, pra ontem. Não como eles estão aí. E outra coisa que eu vou ser sincero para vocês, como eu tenho… eles têm que vacinar até de madrugada! Se você já tiver vacina, escuta, começa às quatro horas da tarde, porque isso daí se chama vidas. É a única coisa que eu acho, Luís.
P1 – Sim, está certo. Ô, Wiliam, você tem mais alguma pergunta?
P2 – É, eu ia perguntar, ‘seu’ Cilso, na sua visão, né, já passou por outras pandemias, epidemias, qual é a dificuldade, assim, a maior diferença delas para a atual, agora, pro comércio?
R1 – Olha, William, você me desculpa, eu te explicar isso pra você. Olha, nós passamos por uma pandemia, vou te falar pra você da Aids. Eu, que tive em supermercado, quando começou aquela pandemia da Aids, olha, Wiliam, foi complicado. Aquilo te deixou… porque não tinha, também, uma medicação, mais ou menos como hoje. Então, se você soubesse que tinha uma pessoa que era aidética, eu só vou te falar pra você e você vai falar: “Cilso, mas é verdade?” É. Eles até diziam que, se aquele vento que batia no aidético, batia no aidético e batia em você, você já tinha a Aids. Olha que absurdo, Wiliam, que eu tô te falando. Mas era o que eu escutava na época. Hoje não é diferente. Porque hoje, nós não usamos a máscara. Hoje eu tô conversando com você aqui sem a máscara. Que a minha máscara está aqui. Porque nós estamos aqui conversando, então não vai ter problema. Então, a pandemia desde lá de trás. E naquela época, você não tinha... você tinha roupa, você não usava máscara. Então, a pandemia, eu que já passei por essas que eu tô dizendo para você, você tem que ter prevenção. E a única prevenção hoje que eu vejo sobre essa que nós estamos aqui passando… a Aids hoje não é doença. A Aids, hoje, o elemento toma um coquetel e se previne e acabou. É. Que nem, Wiliam, que eu vou te falar para você, da hanseníase. A hanseníase, antigamente, que era tratado como lepra, nossa Senhora! Eu não cheguei, mas eu ouço as histórias. Quando daí passava uma pessoa que era leprosa lá na outra esquina, os negos da outra esquina diz que corria. Hoje tornou esse nome bonito, hanseníase, que não é a doença mais, ô Wiliam. Uma pessoa que tem hanseníase hoje não é… eu, no meu ponto de vista, ela toma uma medicação lá, em seis meses ela já volta tudo ao normal. Mesma coisa da Aids. Mesma coisa uma que é perigosa, Wiliam, que eu passei por isso, chama meningite meningocócica. Essa é perigosa. Eu, sabe, que perdi um amigo. Teve essa pandemia, que eles não falam, mas teve. Aqui, principalmente, dentro de Bauru. Que era mais ou menos que nem essa. Você pegava, era contagiosa, te dava uma dor de cabeça, febre e você não aturava uma semana. Agora, hoje, no meu ponto de vista, é uma pandemia que eles falam, falam, falam, falam, falam, agora vamos ver, Wiliam, a hora que acabar tudo isso, achar o autor. Porque essas todas que eu te mencionei, não tiveram autor. Agora, essa pandemia que nós temos agora, tem um autor. Então, tem que descobrir quem que foi o autor dessa pandemia. Esse é o meu ponto de vista.
P1 – Tudo bom. Ô, ‘seu’ Cilso, tem alguma coisa que a gente não perguntou, que o senhor gostaria de falar? Sobre o sindicato, sobre a vida do senhor, porque foi uma entrevista de história de vida, né? Se o senhor quiser falar mais…
R1 – Olha, eu acho que nós conversamos tudo, viu, Luís. Eu achei vocês dois muito profissionais. Já, assim, dei outras entrevistas, vocês dois foram muito profissionais. Parabéns! É muito importante isso que vocês dois perguntaram. Isso é muito importante para os que forem assistir. Parabéns pra vocês dois, viu, pela entrevista que vocês conduziram. Eu acho que não faltou nada. Foi muito completo.
P1 – Muito obrigado. Eu gostaria, então, em nome do Museu da Pessoa e do Sesc de São Paulo e do Sesc de Bauru, também, que está participando, agradecer ao senhor por ter participado. Porque a gente está tentando fazer um trabalho bem legal, que conte mesmo a história de Bauru desde que começou, lá atrás, até hoje. Tá bom?
R1 – Então, muito bom. E, escuta, sabe um bom para vocês entrevistar, que vai fazer… é o Wallace Sampaio. Porque ele, olha… que nem, ele tem a outra história, de outro lado. Isso é muito importante…
P1 – Semana que vem nós vamos entrevistá-lo.
R1 – Então, vocês podem até mencionar para ele que vocês me entrevistaram, tudo. Porque nós, assim, brigamos muito, mas somos muito amigos também, certo? Porque nós vivemos vinte e oito anos os dois juntos. Isso é muito importante, ainda mais com dois profissionais como vocês dois, que vocês sabem fazer entrevista. Isso é muito importante. Porque tem uns que não sabem, viu, Luís, vocês me perdoem eu estar falando isso. Mas eu dou nota mil para vocês dois. Vocês dois sabem conduzir uma entrevista, tá bom?
P1 – Eu agradeço muito o senhor. E logo mais o senhor vai receber um telefonema do nosso fotógrafo, que é o Fabrício, para marcar um dia que o senhor puder, para fazer uma sessão de fotos com o senhor, pra aparecer quando a gente conseguir lançar o livro desse trabalho.
R1 – Vamos sim. Perfeito.
P1 – E também a nossa produtora vai entrar em contato com o senhor, para o caso do senhor ter algumas fotos antigas da sua vida, ou do comércio aí de Bauru, pra gente só copiar e já deixar com o senhor, tá legal?
R1 – Ótimo, então. Ótimo, ótimo, Luís. Pode contar junto comigo.
P1 – Então tá bom, tá legal. Eu agradeço muito o senhor, viu?
R1 – Obrigado, Luís. Muito, muito obrigado, Luís. Muito, muito obrigado, viu, Wiliam?
P2 – Muito obrigado, agradeço também ao senhor.
P1 – Até logo, então!
R1 – Obrigado, viu? Tchau, tchau.
P2 – Tchau, tchau!
P1 – Tiago, acabou, então. Muito obrigado!
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