Ela é uma senhora, loira; leva óculos de lentes retangulares quando necessário; e se permite estar disposta a novas experiências a todo momento. Prefere estar sempre em família do que longe dela e recorda ter conforto com eles toda vez que esteve com problemas. Nasceu em Porto Alegre; filha de dois italianos que vieram ao Brasil em busca de uma vida nova, e é a mais velha das três filhas desse casal. Casada há 54 anos, é apaixonada pelos filhos e dona de um coração enorme. Esta é Mariza Montiel Lago, 76 anos, uma senhora que hoje cuida de sua casa e seu marido a maior parte do tempo.
Tudo começou em 1942 quando a primogênita do casal Teddy e Giacoma Montiel nasceu. Um ano após veio sua irmã mais nova Marlene, 75, que chegou para aumentar a família. Depois de 8 anos, Marly, 68, a caçula, veio para “fechar a fábrica” da família Montiel. Passou a infância e adolescência em uma casa pequena no bairro Belém Novo de Porto Alegre. Conforme Mariza, ela era a mais travessa das irmãs, e a primeira casar também. Conheceu seu marido, Jorge Lago, com 15 anos na beira do rio Guaíba, ficaram 5 anos namorando e fizeram dois anos de noivado quando enfim resolveram se casar. Em 1964 então casou-se aos 22 anos.
Um novo amor e uma dor inesperada
Um anos após o casamento chegou a primeira filha, Karine, e um ano depois Charles. Foi aí que a vida começou a surpreender Mariza. Foi num domingo, em 1968, como qualquer outro final de tarde, estava seu marido e Charles no jardim brincando enquanto Mariza arrumava o banho para ele, o filho mais novo até então. Eles moravam numa chácara e havia um açude perto dali, num período dentre 10 minutos quando Jorge saiu de perto de Charles, ele sumiu.
Primeiro procuraram, foram atrás dele dentro de casa, mas não o acharam. Resolveram então chamar a polícia e na época foi considerado como rapto. Depois de uma semana à procura dele, o corpo de Charles foi encontrado no açude que ficava há...
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Ela é uma senhora, loira; leva óculos de lentes retangulares quando necessário; e se permite estar disposta a novas experiências a todo momento. Prefere estar sempre em família do que longe dela e recorda ter conforto com eles toda vez que esteve com problemas. Nasceu em Porto Alegre; filha de dois italianos que vieram ao Brasil em busca de uma vida nova, e é a mais velha das três filhas desse casal. Casada há 54 anos, é apaixonada pelos filhos e dona de um coração enorme. Esta é Mariza Montiel Lago, 76 anos, uma senhora que hoje cuida de sua casa e seu marido a maior parte do tempo.
Tudo começou em 1942 quando a primogênita do casal Teddy e Giacoma Montiel nasceu. Um ano após veio sua irmã mais nova Marlene, 75, que chegou para aumentar a família. Depois de 8 anos, Marly, 68, a caçula, veio para “fechar a fábrica” da família Montiel. Passou a infância e adolescência em uma casa pequena no bairro Belém Novo de Porto Alegre. Conforme Mariza, ela era a mais travessa das irmãs, e a primeira casar também. Conheceu seu marido, Jorge Lago, com 15 anos na beira do rio Guaíba, ficaram 5 anos namorando e fizeram dois anos de noivado quando enfim resolveram se casar. Em 1964 então casou-se aos 22 anos.
Um novo amor e uma dor inesperada
Um anos após o casamento chegou a primeira filha, Karine, e um ano depois Charles. Foi aí que a vida começou a surpreender Mariza. Foi num domingo, em 1968, como qualquer outro final de tarde, estava seu marido e Charles no jardim brincando enquanto Mariza arrumava o banho para ele, o filho mais novo até então. Eles moravam numa chácara e havia um açude perto dali, num período dentre 10 minutos quando Jorge saiu de perto de Charles, ele sumiu.
Primeiro procuraram, foram atrás dele dentro de casa, mas não o acharam. Resolveram então chamar a polícia e na época foi considerado como rapto. Depois de uma semana à procura dele, o corpo de Charles foi encontrado no açude que ficava há mais ou menos 3 quilômetros da casa onde moravam. Ele morreu afogado e tinha somente 2 anos. “Foi mais uma passagem horrível, talvez tenha sido a pior, porque foi uma coisa inesperada” diz Mariza sobre o acidente.
A vida segue, mas a dor volta a atormentar
Depois dessa casualidade Mariza demorou a aceitar, mas uma hora a vida teve que seguir. Em um período entre 3 e 4 anos nasceram então a Patrícia, o Sandro e por último o Jeferson. Trinta e um anos depois de uma perda irreparável, aconteceu mais um episódio trágico na vida dela. Narrado por ela, era só mais um domingo de sol com um churrasco em família. Tudo começou quando Patrícia, a irmã mais velha de Sandro e Jeferson quis dar uma volta de moto. “Ela infernizou tanto o Sandro aquele dia pra dar uma volta que ele acabou indo contra a vontade”, conta Mariza. Foi então que decidiram sair. “Mãe, vou só dar uma voltinha e já volto pra tomar um chá contigo” disse pela última vez Patrícia. Não deu nem 15 minutos e tocou o telefone, “Teus filhos foram acidentados”, foi o que ela escutou de uma voz que sequer conhecia.
E assim mais um domingo que teria tudo pra ser tranquilo, ficou marcado pra sempre na vida de Mariza. “Eu peguei meu carro e fui correndo até o local, mas quando cheguei um senhor, que eu agradeço até hoje me disse que eles já não estavam mais por que a ambulância já tinha levado eles”, contou a mãe com os olhos cheios de lágrimas. Patrícia morreu no acidente e Sandro resistiu ainda algumas horas, mas acabou falecendo também. “Aí foi um caos, foi uma tragédia, foi um horror. A minha vida parece que virou de cabeça pra baixo, que eu não acreditava no que tava acontecendo. Seria a segunda tragédia na minha vida” contou Mariza.
Os anos foram passando e a dor como a outra custa até hoje. “Hoje essa dor ainda é forte, mas tenho as minhas compensações com os meus outros filhos. Lógico que o coração da gente, de mãe, jamais vai esquecer os filhos que se foram, mas a vida é assim. Se a gente não continuar tentando lutar, o que vai acontecer? Nós vamos fazer o resto dos nossos filhos sofrer, o resto da família sofrer e eu não podia fazer isso” desabafa Mariza.
Uma dor incurável trouxe uma dor malígna
“O tanto que eu me segurei, que eu guardei pra mim, eu tive um câncer” conta Mariza. Depois de tanto sofrimento, 5 anos após esse período, ela descobriu um novo obstáculo na vida dela, o câncer de mama. O câncer começou por um caroço identificado pelo médico em uma consulta qualquer, apenas de check up. Como relata Mariza, depois que ela retirou um quadrante da mama e se recuperou, os médicos descobriram que o motivo do câncer foram as células que se desnorteiam com tanto sofrimento que ela passou e guardou, ela não jogava para fora o que sentia. “Eu queria que a minha família não sofresse mais e aí fui segurando. Até hoje quando eu posso, eu não mostro pra eles que eu to triste”, confessou como alguém que só quer que essa família siga unida.
Em meio a tantas tragédias e acidentes, o filho mais novo, Jeferson, 43, queria desistir da faculdade e de tudo; e mais uma vez ela não deixou que um filho sofresse. “Toda uma vida então eu me segurei pra poder deixar os outros felizes. Não me arrependo, hoje consigo manter eles todos juntos, somos uma família ainda muito unida. Eles tão sempre perto de mim, são filhos maravilhosos e os outros eu guardo no meu coração até hoje” estima Mariza.
A capacidade de se recuperar
Anos passaram e após tantos acontecimentos, a vida sorriu para Mariza. A filha mais velha, Karine, presenteou a mãe com dois netos, a Nicole que hoje tem 21 anos e Henrique 19. “A minha maior alegria hoje são eles, eles tão sempre perto de mim” conta a avó. O filho mais novo, Jeferson, casou há pouco tempo e Mariza, uma pessoa que zela pela felicidade dos filhos, adora a nora. “Hoje eu posso dizer que tenho uma vida tranquila, meu marido sempre me apoiou, nunca saiu de perto de mim”, conta com um sorriso no rosto.
Hoje junto das irmãs cuida da mãe que tem 94 anos, ajuda os filhos com o que pode e adora mimar os netos. Quando se falou de futuro, Mariza apenas sorriu esperançosa e expressou gratidão pelos olhos por ter uma família que conseguiu seguir de pé em meio há tantas despedidas inesperadas. “Apesar de todas as coisas que me aconteceram, a minha família muito me deu apoio” diz Mariza com um sorriso no rosto.
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