Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
27/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 - Boa tarde Rosilene! Eu queria que você começasse, por favor, dizendo o seu nome completo o local e a data do seu nascimento?
R – Eu ...Continuar leitura
Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
27/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 - Boa tarde Rosilene! Eu queria que você começasse, por favor, dizendo o seu nome completo o local e a data do seu nascimento?
R – Eu sou Rosilene Corrêa Lima, nasci em 25 de fevereiro de 1964, o ano emblemático. E onde eu nasci, é isso? Petrolina – Goiás. É uma cidade bem pequena, a época menor ainda, fica a uns 50 km de Goiânia. Entre Goiânia e Anápolis, que é a segunda cidade do estado de Goiás. Em Petrolina, mas no estado de Goiás.
0:44
P/1 – Qual sua atividade atual?
R - Eu já sou professora aposentada, professora da rede publica do Distrito Federal, mas comecei a minha trajetória como professora foi em Goiás, estava com 11 anos de carreira quando vim para o Distrito Federal. E hoje sou aposentada e faço parte da diretoria do SINPRO, e também da Diretoria da CNTE.
1:08
P/1 - Qual foi à última entidade que você se referiu?
R - A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE. E faço parte também da Diretoria ampliada da CUT Nacional.
1:22
P/1 – O nome dos seus pais Rosilene, por favor?
R – Meu pai era Eugenio Corrêa Lima, mas ninguém conhecia como Eugenio, era Genico, seu Genico e Maria, Maria Veloso Lima.
1:35
P/1 – E qual era a atividade do seu pai e da sua mãe?
R – Meu pai era inicialmente lavrador, depois adquiriu propriedade e se tornou um fazendeiro de médio porte em Petrolina. Minha mãe sempre do lar, cuidando dos filhos e do marido, ela se casou com 16 anos, meu pai um pouquinho mais velho. E aí então ele se tronou isso, como é que eu diria. Não se pode intitular como um fazendeiro, mas era assim que ele era visto lá em Petrolina. Não com um patrimônio tão grande, mas era a profissão. Era proprietário, né.
2:13
P/1 - Você conheceu os seus avós?
R – Só as avós, tanto a minha avó materna, quando a paterna, mas avô nenhum deles. Quando eu nasci eles já não existiam, nenhum dos dois. Minha avó paterna chegou a morar comigo, na minha casa, no mesmo quarto, dividimos quarto. Inclusive os últimos anos de vida dela foram morando conosco, a vó Fica.
2:44
P/1 – Você poderia repetir o nome dela, por favor?
R – A gente era vó Fica, mas era Maria, só que a gente chamava de Fica. E minha vó Mariana, que era a mãe da minha mãe, que parecia muito uma índia, muito baixinha do cabelo bem pretinho e bem liso. A vó Mariana morava numa fazendinha, lá também, no interior de Petrolina, e era uma delicia passar finais de semana na casa dela.
3:11
P/1 – E como era essa cidade de Petrolina onde você passou parte da sua infância?
R – Então, Petrolina uma cidade muito pequena, eu imagino que quando eu nasci ali não deveria ter 3.000 habitantes, algo assim, muito pequena mesmo. Daquela cidade onde todo mundo se conhece. Então era só um grupo escolar, só uma igreja. Depois veio ter um hospital, bem pequeno, bem simples, é claro que hoje é uma outra cidade, que também se modernizou e também cresceu. Mas ainda assim é uma cidade pequena. Onde as pessoas se conhecem, se esbarram todo mundo sabe o nome de todo mundo, praticamente, bem interior, apesar de ser próxima da capital.
4:00
P/1 - E a sua casa, como é que era a sua casa?
R – Olha, minha casa, era uma casa que a época, era uma das boas casas da cidade. Como eu te disse, meu pai adquiriu um certo patrimônio. A minha casa se posicionava bem de frente para a rua principal da cidade, só que era a ultima rua, ou a primeira, dependendo do ponto de referência. Mas era numa esquina onde tinha uma saída da cidade. Quando passava pela minha casa, a gente chamava de beco, que era onde, inclusive a enxurrada descia, porque tinha um corregozinho, sei lá, a quase 500m da minha casa. Mas era de frente para igreja, a Matriz da cidade, a igreja católica. A época ainda não tinha a praça, era o largo, um quarteirão todo da igreja, mas era só com grama ou terra, e uma igreja bem simples, que depois foi construída. E hoje nós temos lá uma outra igreja, com uma praça bem bonitinha.
5:14
P/1 - Você tem irmãos Rosilene?
R - Nós éramos seis, eu sendo caçula e única mulher. Então tinha cinco irmãos, mas meus dois irmãos mais velhos já faleceram.
5:29
P/1 - E a sua primeira escola, qual foi?
R - A minha primeira escola foi uma sala na igreja, no salão paroquial, foi transformada em sala de aula, foi uma turma de jardim de infância. Que a filha do nosso vizinho organizou, para os filhos dos amigos. Então ela montou uma escolinha, e lá que foi o meu primeiro contato com o mundo escolar. Aí depois eu fui para o grupo escolar, que era onde a gente fazia as series iniciais em Petrolina. Mas eu me mudei de lá quando terminei a terceira série. Fiz a quarta série já em Anápolis, que é uma cidade maior, que a segunda cidade do estado de Goiás.
6:12
P/1 - O que motivou essa mudança para Anápolis?
R – Como eu te falei Petrolina é uma cidade muito pequena, sem nenhuma perspectiva de mercado de trabalho. Eram 5 homens em casa, além do meu pai, 5 homens, que foram crescendo, ficando adultos, e sem espaço para trabalho. A princípio meu pai não se preocupava muito, porque como tinha fazenda e todos eles gostavam, com exceção de um, que não gostava muito de fazenda, não gostava de fazenda para trabalhar. Os outros todos já tinham uma afinidade, gostavam muito de ir, ainda que fosse para brincar com os bezerros e os cavalos. Então eles adoravam fazer isso. Mas meu pai começou a ter problemas financeiros e se preocupou em não continuar podendo sustentar todo mundo, e com poucas oportunidades em Petrolina. Então ele resolveu que deveríamos mudar para Anápolis, para que os meus irmãos pudessem continuar estudando, mas também trabalhar. Só que não deu muito certo, porque eles não se adaptaram a cidade maior. E continuaram insistindo muito em querer ir embora para a roça, entendeu. E ninguém quis da verdade trabalhar, só um deles, que foi para o trabalho, depois o outro que não gostava muito da ideia de voltar para o interior, ele acabou arrumando lá um emprego, para poder ficar, inclusive por Anápolis mesmo.
7:46
P/1 - E você, como é que foi a sua adaptação a essa nova cidade, essa nova realidade?
R – Olha, não foi muito simples, porque, primeiro que em Petrolina a gente tinha uma estrutura, melhor, uma casa muito maior, melhor, tinha ajudante para minha mãe. Em Petrolina como eu disse, nós, todo mundo se conhecia. Eu tinha uma condição assim, todos os casamentos da cidade eu era dama de honra. A principal representação do Sete de Setembro eu fazia, fui Branca de Neve, fui Princesa Isabel, fui Dona Leopoldina, enfim, sabe, uma série de coisas nesse sentido, nem lembro mais. E aí eu cheguei em Anápolis, uma cidade maior, onde era apenas mais uma garota. Na minha escola também, que eu cheguei, eu era apenas mais uma garota, claro que isso para uma criança, faz diferença. Sem contar os laços de amizade, porque lá era tudo muito solto, a gente andava pela rua o dia inteiro, todo mundo se conhecia. E Anápolis era uma outra realidade, e ainda mais na condição de mais nova, com cinco irmãos, mais o meu pai, mais a minha mãe, mais a minha avó. Então era um cuidado excessivo, porque não podia andar pela rua sozinha. Para ir para a escola tinha que obrigatoriamente um dos irmãos me acompanhar. Então teve uma certa mudança, nesse aspecto ai, com certeza.
9:26
P/1 – E o que a menina Rosilene queria ser quando crescesse?
R - Pois é! Eu em Petrolina ainda, teve uma obra e que fazia muito movimento na cidade, muitos carros e também pequenos aviões, naquela época era muito mais novidades. E aquilo me despertou muito para engenharia civil, eu falava que queria ser engenheira. Mas porque achei que aquilo era assim... Que foi o meu primeiro contato com algo diferente, com profissionais diferentes. Mas depois as coisas foram acontecendo e mudando de rumo. Hoje eu tenho em casa um engenheiro civil, meu filho, por acaso é engenheiro civil. Mas eu não deu para ser, pelas circunstâncias, acabou não sendo.
10:18
P/1 – Como é que se desenvolveu sua trajetória educacional? Como é que você prosseguiu os seus estudos?
R – Então, esse período em que eu fiquei em Anápolis, eu fiz a quarta série e comecei a quinta série, aos 10 anos. E meu pai, como eu falei... Nós nos mudamos para Anápolis, numa tentativa de busca de outras alternativas. E nesse período ele já não tinha mais a propriedade lá em Petrolina, ele já passou alugar uma fazenda e depois ele acabou alugando em Niquelândia, que é Norte Goiás. E tentou manter isso lá, mantendo a família em Anápolis e ele ficando muito lá nessa fazendinha que ele alugou. Mas tornou-se insustentável, manter duas estruturas, até pela distância. Porque a época não tinha asfalto, 350 km de muita poeira ou muita lama. E os meus irmãos não se encaixaram no ambiente de Anápolis, não começaram a trabalhar para ajudar. Então meu pai decidiu que nós todos deveríamos ir embora para Niquelândia. Aí sim, foi uma mudança radical na minha vida. Aí nós saímos da vida urbana e fomos para roça. E aí quando eu digo roça, é roça! Não era uma fazenda, era uma casa muito simples, de pau-a-pique, as paredes eram madeira roliça, o chão era chão batido, não tinha piso na casa, só a cozinha era de pedra Pirenópolis e tinha telha, essa casa tinha telha, me lembro bem que tinha telha. Então quando eu cheguei, foi um choque aquilo. Mas ainda, consegui ir me adaptando, porque o meu pai tinha um carro e de manhã ele levava o meu irmão e eu. Íamos nós dois para escola de manhã, era um dos menores, que é o meu primeiro irmão acima de mim, o quinto. E os outros mais velhos ficavam trabalhando de dia. E aí passaram... Como não quiseram trabalhar na cidade, foram trabalhar na roça, literalmente, viraram lavradores, e a noite meus irmãos iam para escola. Mas no ano seguinte, para reduzir despesas, o meu pai já decidiu que todo mundo deveria estudar à noite. Não é que decidiu, foi a necessidade. Então eu, aos 12 anos, já tive que frequentar a escola noturna. Então meu pai teve que ir até escola, explicar para a diretora da escola a necessidade, porque pela minha idade nem era permitido estudar a noite. E aí então eu passei a frequentar um mundo, absolutamente diferente. Sair da escola de garotos e garotas, para uma escola de adultos, porque ai era realmente uma escola de adultos. Eram trabalhadores de uma companhia que tem lá, ainda tem a Niquel Tocantins, uma multinacional. Então foi isso aos 12 anos... Isso é claro, naturalmente acabou me amadurecendo mais cedo. Porque você tem que assumir responsabilidades e conviver com pessoas que tem um outro tipo de vida, diferente, imagina você dentro de uma sala de aula com a garota de 11 anos, qual é o ambiente que você tem? Você imagina a noite, só com adultos e pessoas que trabalharam o dia todo, ou donas de casa que estava ali à noite tentando seguir os estudos. Então foi uma mudança radical na minha vida e para não dizer que não poderia ficar mais grave, no ano seguinte aí já o meu pai realmente não conseguiu manter os filhos na escola. Vendeu o carro, porque começou a dar problema, e tinha oficina toda hora. E nós ficamos então sem estudar! Então em 97, imagina, 77, eu não pude estudar, nem eu e nenhum dos dois irmãos. Um deles tinha ficado em Anápolis, esse ficou para estudar e estava trabalhando. E aí eu fiquei um ano sem estudar, então assim, foi uma tragédia na minha vida, esse um ano fora da escola. Porque aí Luiz, foi isso assim, o ano anterior eu estava morando nessa roça. Mas eu tinha uma vida na cidade, porque eu tinha o vínculo com a cidade, as minhas amizades, enfim. Porque é diferente, não adianta querer dizer que é a mesma coisa, alguém que nasce morando na fazenda, na zona rural e de quem nasce na cidade, são coisas diferentes. Mundo diferente, o jeito de falar, de se vestir, eu me vestia diferente das meninas lá. Eu tive até uma certa resistência, porque parecia que tudo que eu fazia era provocação, algo assim. Então foi um período para eu conquistar as amizades lá nessa fazenda, para frequentar as festinhas. Então foi um período de adaptação, e de conquista. Porque era isso assim, nós todos éramos vistos como diferentes, os hábitos diferentes, o jeito de vestir, de falar, a casa organizada de uma forma diferente. E aí quando eu fiquei sem estudar, eu perdi o vinculo com a cidade. Aí isso foi muito duro para mim, então eu sofri muito, chorava muito, passei o ano inteiro chorando, rezando e alugando a minha mãe, para ela alugar o meu pai, para deixar que eu pudesse morar com alguém, para voltar a estudar. Porque na verdade a escola era o meu... A minha porta de voltar para aquela vida que eu tinha perdido. Então eu insisti muito nisso e a minha mãe foi minha aliada, eu demorei até para compreender o papel que a minha mãe cumpriu naquele momento, de abrir mão da filha, da ajudante, porque era a única filha, para ajudá-la nos trabalhos domésticos. Imagina interior, esse monte de homens, não tinha o hábito, a cultura de ajudar, de lavar louça, lavar roupa. Então era tudo a gente que fazia e era cozinhar em fogão a lenha, buscar carvão. Eu tive que aprender a lavar e ajudar minha mãe em tudo, passar roupa, eu me lembro que eu aprendi a passar roupa muito cedo, por isso que eu não gosto muito de passar roupa, muito cedo e roupa dessa montanha de gente. Eu passava a tarde toda, com rádio ligado, ouvindo música e passando roupa, e passando roupa com ferro a brasa, não sei se você já viu. Um ferro de passar roupa que é de ferro, que você enche de brasas, e aí a coisa começava a acabar, e você tem que abanar para poder as brasas perderem... Igual uma churrasqueira. Então era assim que a gente passava as roupas de tantos homens e de nós duas e da casa. Mas enfim, por fim eu consegui convencer o meu pai, e fui morar na casa de uma tia dele, já uma senhorinha em Anápolis, para poder continuar estudando. Aí é claro que era naquela lógica, de você ajudar em casa, para poder estudar. Então eu voltei a estudar em 78, fui fazer a sétima série, mas também no noturno. Então desde os 12 anos, que eu fui para vida noturna escolar e nunca mais teve volta. Porque eu tinha que trabalhar, para poder estudar, então foi sétima série à noite, oitava série a noite e assim por diante, até a faculdade.
18:27
P/1 – Como é que você escolheu o seu curso superior?
R – Então, acho que as coisas não acontecem por acaso, porque hoje eu fico olhando, pensando se eu tivesse... Porque teve um período que eu tive vontade de fazer assistência social. Então acaba que tem muito a ver, sempre essa coisa assim de uma relação muito humanizada na profissão. Eu quando fui fazer ensino médio, eu ainda tentei perseguir aquela minha coisa lá de infância. E eu tentei fazer construção civil, era o nome do curso no Colégio Polivalente. Anápolis inaugurou o Colégio Polivalente, e eu queria fazer construção civil. Mas assim, com muitas limitações, porque a acaba que o meu período de estudo foi muito comprometido, em Niquelândia aquela época, era uma dificuldade enorme para ter professores. Professores qualificados, tinham boa vontade, mas muitos nem tinham curso superior, não tinha nem ensino médio completo e estava dando aula para gente, entendeu. Então assim, era muito limitado, então eu acabei tendo muito prejuízo na minha formação. E aí que era área de exatas, era um negócio que iria exigir muito. E coincidiu que no período de matrícula, eu teria que estar em Anápolis. Mas eu queria muito estar em Niquelândia, para aproveitar as minhas férias, que era o momento que eu tinha, tanto com a família e com os amigos de Niquelândia, num período de namoro. Então assim, aí eu teria que sacrificar minhas férias para ficar, para disputar uma vaga. Aí eu fui e falei para a minha tia: a senhora faz a minha matrícula e tal. Aí quando ela foi fazer, não deu certo lá na construção civil, ela foi: olha, então eu não vou fazer na escola normal. Aí tudo bem, então vamos para escola normal. E aí foi isso, quando eu comecei a fazer eu já não tive vontade de mudar, porque eu poderia ter mudado de curso, depois no decorrer do ano e tal. Mas aí não, eu já comecei a viver aquele mundo ali. Aí na época era uma escola normal só para meninas, não tinha meninos na nossa escola. E aí eu não quis voltar atrás, e antes de terminar o curso eu já estava ingressando no mercado de trabalho e já com professora. Tive mil outros empregos antes. Mas era muito aquela coisa assim, sabe Luiz, quando estava perto de um feriadão. Aí eu queria roupa nova para viajar para minha casa, para Niquelândia. Claro que antes de chegar lá na roça eu passava pela cidade né. Então tinha os namoricos, etc e tal, as festas para ir. Aí eu dava um jeito de arrumar um emprego. Então eu trabalhava assim, um mês na padaria, ganhava um dinheiro, fazia roupa, aí eu tinha que sair porque eu tinha que viajar. Então eu trabalhei em loja de roupas, trabalhei em padaria, em sorveteria, um monte de “ia” que você imaginar eu fiz para poder ir vivendo, tendo as minhas coisas na minha adolescência. Que é isso, da vaidade, dá vontade de ter roupa nova, um sapato novo, enfim. E ai então, eu terminei... Aí quando eu fui para um emprego mesmo, foi já como professora, esperei 18 dias com minha documentação parada para completar 18 anos, para poder ser contratada. A época em Goiás, nós não tínhamos concurso, na verdade foi antes da constituição, então foi com processo seletivo de professoras e professores de nível médio. Eu fui e ingressei na Secretária de Educação do estado de Goiás. Depois de lá... Bom, aí depois de muito tempo ai que eu acabei chegando em Brasília.
22:24
P/1 – Qual foi a primeira escola que você assumiu?
R - Eu comecei em Anápolis na verdade, foi no que a gente chama, aqui em Brasília de Regional de Ensino, lá a gente chama de Delegacia de Ensino, então eu comecei com esse trabalho que era administrativo. Só que lá eles contratavam como professor e você poderia atuar, também nessa área. Então eu fui trabalhar, comecei como secretária do Delegado de Ensino, entende. Esse nome não combina muito com educação, essa coisa de delegacia, mas lá, pelo menos a época era assim. Então foi lá que eu comecei, depois eu fui para a escola. Primeiro eu fiquei lá um bom tempo, depois eu fui para escola Trinta e um de Março, em Alexânia. Eu não fiquei muito tempo em Anápolis já depois que comecei a trabalhar. Acabei me mudando para Alexânia, ainda fazendo faculdade. E em Alexânia eu trabalhei na escola Trinta e um de Março, a minha experiência de escola mesmo assim, foi em Alexânia.
23:39
P/1 – E a sua transferência para Brasília se deu motivada por quê?
R – Então, em Alexânia eu acabei conhecendo o meu ex-marido, pai dos meus filhos. E ele tinha uma vivência de Brasília, ele morou aqui antes de ir para Alexânia. Aliás, quando a gente se conheceu, ele ainda morava em Brasília e ia finais de semana para lá. Depois é que ele acabou, terminou o ensino médio, não quis faculdade e foi de vez para Alexânia, foi quando nós nos casamos. Mas sempre com vínculo aqui, e Alexânia é uma cidade muito pequena, também sem perspectivas. Então nós resolvemos que era melhor vir para cá, para ele trabalhar, eu já trabalhava, mas ele não tinha nada definido. Aí viemos para cá, eu continuei trabalhando em Goiás, porque tem cidade bem próxima aqui, eu fiquei em Santo Antônio do Descoberto. Então nem pensei em fazer concurso, naquele momento não fiz concurso, nem sei se teve nesse período. E aí quando eu engravidei em 89, a gente volta a morar em Goiás, só que aí fomos para a cidade de Goiás Velho, primeira capital de Goiás, e a cidade de Goiás, a gente chama de Goiás Velho. Passamos uma temporada lá e depois voltamos Alexânia, aí eu engravidei do Leonardo e quando o Léo estava com 4 meses, voltamos para Brasília. E eu continuando a trabalhar em Goiás. Aí voltei para Santo Antônio do Descoberto. Foi aí que veio o concurso e eu falei: olha, eu acho que agora a gente vai ficar por aqui, então eu vou fazer o concurso. Aí fiz o concurso, a primeira vez que eu fiz concurso, passei com uma boa classificação, acho que fiquei no decimo primeiro lugar, então fui logo chamada, na primeira chamada eu já fui chamada, em 93 eu tomei posse aqui. Então eu trouxe 11 anos de trabalho já [na Secretaria de Educação de Goiás]. Então por isso eu não tenho tantos anos aqui e não acompanhei há muito tempo assim, muito de perto a história do SINPRO. Então eu já cheguei com o SINPRO já essa fortaleza toda que ele é.
25:53
P/1 - Mas de todo modo, quando você assume a sua primeira escola em Brasília, depois de aprovada no concurso, qual foi a sua primeira visão do SINPRO? Quando que você ouviu falar do SINPRO?
R – Na verdade antes, mesmo quando eu ainda atuava em Goiás, mesmo antes de morar aqui, a gente já sabia quem era o SINPRO. E quando eu morava aqui, até porque eu tinha pessoas próximas a mim, primas do meu marido e tal, que eram professoras. E eu sempre acompanhava, até porque eu sempre tive essa coisa da militância. Então eu prestava atenção, muito por isso, admirava muito a forma, a condução, a política do SINPRO, a luta da categoria aqui. Quando eu estava em Alexânia, eu tinha uma colega de trabalho lá, que era daqui, ela era servidora da Fundação na época aqui e também do estado de Goiás. Então a gente tinha muita troca de informações, do que estava acontecendo aqui, das greves, então de certa forma eu sempre acompanhei muito a trajetória do SINPRO. E sempre com esse olhar assim. Agora eu nunca olhava me vendo dentro, tão dentro quanto eu acabei chegando. Mas tinha essa coisa, de certamente um dia estaria mais perto. Porque assim, só uma curiosidade, em Anápolis, não só lá, mas lá onde eu fiz magistério, o que você conversava com as meninas terminando magistério, o que queria fazer na vida, era fazer o concurso em Brasília, ser professora de Brasília. Até porque a época o salário era muito bom, então o desejo de quem fazia magistérios em Goiás, não era ser professor em Goiás, era ser professor em Brasília. Era um atrativo aqui, a Fundação em Brasília.
27:57
P/1 - Nesses seus conhecimentos preliminares do SINPRO, o que mais te chamava atenção no modo do SINPRO atuar?
R –O SINPRO mantém isso. Mas o envolvimento do SINPRO com pautas além da categoria, sempre foi uma marca. Eu me lembro das diretas já, que eu não estava mesmo aqui, estava ainda em Anápolis, a gente acompanhava, como eu te falei, as noticias que tinha, ou às vezes. Tenho uma tia que mora em Planaltina, então tinha passagem por aqui. E isso assim, acho que uma coisa marcante é isso, é a atuação do SINPRO, claro, além do envolvimento da categoria, das grandes mobilizações, mas essa característica, que é das pautas que vão além da categoria, da educação propriamente dita, pauta educacional.
29:04
P/1 - E você quando está em Brasília concursada, assumindo uma escola. Alias, que escola era? Eu queria que você dissesse que escola era? Sindicalizou-se logo, como é que foi esse processo de vinculação orgânica com o sindicato?
R – Eu tenho até que puxar pela minha ficha, para saber exatamente o dia, mas se não foi no dia da posse, foi muito logo em seguida, entendeu, não me lembro do momento, já tentei buscar isso, de como é que isso aconteceu, onde foi, acho que é uma coisa tão natural pra mim que, enfim. Mas a minha primeira escola foi a Escola Classe 111 de Samambaia, e o Centro de Ensino Fundamental 312. Porque a época eu tive que ficar em duas escolas, porque não tinha a carência para carga completa na mesma escola. Mas logo em seguida eu deixei o 111 e fiquei definitivamente na 312. Era uma escola recém-inaugurada, bem grande, tinha mais de 150 servidores. Porque isso, tão grande. Porque era uma cidade jovem, Samambaia, de muita gente, uma cidade jovem, mas de população já bem, de muita gente. Porque foi uma cidade, na época o governador Roriz, foi aquela coisa, de lotear sem nenhum planejamento, sem nenhuma estrutura. Então você tinha gente morando assim, mas muita gente, e a escola tinha que reduzir o turno, para ter vários turnos, para poder acomodar as crianças. Então essa escola trabalhava com 5 turnos, é o que chamava de turno da fome, que tinha um turno que era no horário do almoço, e aí ia até noturno. Então tinha desde os pequenos, até o noturno com os adultos, então era uma escola bem grande, bem agitada. Mas foi uma escola que nós inauguramos, eu cheguei à escola estava recém-inaugurada. E foi onde eu praticamente fiquei, tempos de escola fiquei foi lá. Mas eu sempre trabalhei em Samambaia, não trabalhei em outra cidade, sempre fiquei lá. Dessa escola eu fui para a Regional de Ensino, que foi quando me convidaram para ficar na Regional de Ensino em 95. E foi quando nós iniciamos, a primeira vez que o Partido dos Trabalhadores governou aqui em Brasília. Que era o professor Cristovam Buarque que foi governador. E aí eu fiquei na Regional de Ensino, para contribuir lá, não fiquei na escola. Mas foi uma coincidência, eu fui para regional para ser encaminhada para uma outra escola, porque eu gostaria de mudar de escola, e acabei sendo convidada e fiquei. E conheci lá uma das pessoas mais fantásticas que eu tive oportunidade, que eu tenho paixão, que é a Dorcas [de Castro]. É uma pequenininha, orientadora educacional, que era nossa coordenadora da Regional, e foi lá que eu tive oportunidade de conviver, trabalhar e aprender com uma equipe fantástica de professores, professoras e auxiliares de ensino que compunham toda aquela equipe. Como eu te falei, Samambaia era uma cidade ainda nova, e era muito desafiador, porque era uma cidade muito, muito, muito, Rorizista. Então tinha uma resistência muito grande a tudo que era novo, tudo que era proposta, por causa da questão partidária. Então a população olhava para gente de uma forma meio que dura com isso, porque eles idolatravam o Roriz. E aí vem o governo do PT, então nós éramos o governo, então a gente teve uma certa dificuldade com isso. Mas a Dorca soube conduzir esse trabalho, e a regional de Samambaia fez um trabalho brilhante, deixou sua marca lembrada até hoje. E foi uma baita da escola para mim.
33:16
P/1 – Rosilene, que reflexão você faz hoje na distância do tempo da contradição entre a luta sindical, vis a vi um governo democrático popular, em princípio aliado. A um conflito aí também que precisa ser mediado. Como é que você avalia isso?
R – Eu diria que ainda nos dias de hoje, a gente vive um pouco disso, e avalio, inclusive como sendo algo relativamente natural, esse conflito de interesse de papéis. Só que aquela época, era algo muito novo. Então como eu te falei o sindicato muito combativo, com uma direção que sabia o seu lugar, que inclusive assim, é natural que os sindicalistas, é o que se espera, que os sindicalistas tenham uma opção política, ideológica de esquerda, porque é quem defende a classe trabalhadora. Então é claro, que quem dirigia o nosso sindicato, eram pessoas ligadas aos partidos de esquerda, não digo ao PT, mas aos partidos de esquerda. E com a sua autonomia política e que fazia muitos enfrentamentos. Como eu falei tinha um governo rorizista bem coronel, bem conservador e muito duro. E aí quando o PT ganha as eleições, é claro que para montar o governo, preencher os cargos, os partidos tiveram, que era uma frente, tiveram que buscar quadros onde tinha, e é claro que nós tínhamos muitos bons quadros em sindicatos. Não só no Sindicato dos Professores, mas em outros sindicatos também, que onde a gente estava atuando, e era onde, portanto tinha os melhores quadros, naturalmente, é claro que em outros lugares, em bancos etc e tal. Mas assim, o movimento sindical, você tinha ali um batalhão, então muita gente que estavam nos sindicatos, às pessoas saíram, os companheiros e companheiras e foram compor o governo. E aí começam os conflitos, porque infelizmente é isso, assim, às vezes quem está no governo, acha que quem está no sindicato, tem que comungar, porque é o seu partido, são os seus projetos. E aí você não pode cobrar, você não pode confrontar, você não pode discordar. E por sua vez também, quem está no sindicato muitas vezes acha que, porque elegemos um governo, esse governo tem que governar para nós em primeiro lugar, depois os outros. Mas nós precisamos fazer de acordo com que a gente sempre fez. Aí você imagina você ter gente que era do sindicato, dirigentes de história do sindicato, de linha de frente, grandes lideranças. Assumindo cargos dentro da Secretária de Educação, pra lidar diretamente com o sindicato. E aí nós tínhamos, que tinha sido presidenta do nosso sindicato, eleita deputada, a Lúcia Carvalho, de uma história super reconhecida, tanto é que foi eleita pela categoria, para deputada. E aí vem um governo. E aí nós entramos assim, numa situação de conflitos, isso infelizmente resultou em um episódio, que deixou uma marca muito cruel na nossa história. Que foi uma Assembleia que resultou na expulsão de nove dirigentes do SINPRO. E isso trouxe assim, causou um mal enorme a categoria, a entidade, portanto a categoria. Esse período ficou muito marcado e o prejuízo. Porque ele distanciou a nossa entidade da nossa base, da nossa militância mesmo. Porque é claro, imagina, isso dividiu. Por mais que uma assembleia tenha aprovado isso, mas as condições, como isso foi conduzido, enfim. Foi um resultado muito cruel, cruel com essas pessoas, e que certamente isso é uma marca na vida delas. Embora a categoria reconheça quem... O papel que eles desempenharam, e todos eles de alguma forma continuaram, alguns mais, outros menos na militância, ocupando outros espaços em seguida, alguns até voltaram ao SINPRO, enfim. Mas isso deixou uma marca, que depois quando. Em 2001, foi que o nosso grupo, digamos assim, que hoje está a frente do SINPRO. Que nós ganhamos as eleições, porque então houve uma mudança na condução política, dentro do SINPRO. E quando assumimos, eu não era da chapa, digo nós, porque eu faço parte desse grupo político, dessas pessoas que se organizaram para montar uma chapa, que eu era apoiadora. A realidade assim que foi encontrada, era isso, de um distanciamento. Porque nós vivenciamos um período de muita disputa. Que você ia para a assembleia e a diretoria claramente estava dividida em posições, faziam disputas entre a própria diretoria. E aí teve que passar por um processo de reconquista, sabe, assim, de reconstrução, de trazer de volta a categoria, para ela querer ir de novo para uma assembleia, de participar. Esse grupo que assumiu em 2001, se empenhou muito nisso, investiu muito em formação, em uma reaproximação da categoria, entre categoria e a entidade. E aí deu certo, categoria respondeu. Depois eu falo isso, é claro que ninguém está aqui julgando, quem é que estava certo, quem é que estava errado. Eu particularmente tenho uma posição, acho que foi um desastre, foi um prejuízo imenso para categoria, essa condução dessa assembleia. Especialmente porque são pessoas sem exceção, que todas merecem, e tem o respeito, reconhecimento da categoria, como pessoas de muita responsabilidade e que nada justifica ter passado por isso. Essa é a verdade, então é um marco que nós temos na trajetória da nossa entidade, que eu tenho certeza que todos lamentam bastante, hoje, pelo que aconteceu. Por essa disputa que houve, ou conflito, não digo disputa, mas essa situação conflituosa das relações, o conflito nas relações, que acabou resultando nisso. E que foi um mal, além do mal individual a cada um desses nove, um mal a categoria, foi um prejuízo tremendo.
40:47
P/1 - De todo modo Rosilene, essa recomposição da confiança, esse lamber as feridas, se dá numa entidade cuja à grande características é exatamente o trabalho de base, o trabalho lá no chão da escola, digamos assim. Como é que isso foi articulado para quê esse episódio, enfim, foi superado?
R – Então, é claro que por um período, isso... Porque ficam sequelas, inevitavelmente. Então, criou-se uma situação de disputas, de outras chapas, no próximo processo. Mas isso foi se desconstruindo, e é isso! O que possibilitou uma volta, o termo não seria tranquilidade, mas uma harmonia nas ações, o sindicato e categoria. É isso, é essa proximidade que tem que é uma característica também do SINPRO, da atuação do SINPRO, que é está sempre muito perto da categoria, de frequentar diariamente as escolas, de muito diálogo, que foi o que permitiu essa retomada. Então isso com o tempo foi superado e hoje as coisas estão. É claro que alguns têm mais tranquilidade em superar, outros não, e é preciso compreender isso. Fico imaginando para quem viveu uma situação assim, na própria pele, certamente não é tão simples assim. Um ato de injustiça mesmo.
42:35
P/1 - Você disse que em 2001 participa do grupo de apoio da chapa, que afinal ganhou as eleições. E quando se dá efetivamente a sua vinculação com a direção do SINPRO?
R – Nas eleições de 2004. 2004 eu participei da chapa já, mas como suplente, isto julho de 2004, foi à posse. Aí 2006, março 2006, eu tomei posse, que nós éramos. O SINPRO era quem representava rede pública e também escolas privadas, professores de escolas privadas. E em 2006, houve um entendimento de que fazia se necessário, até pelo aumento de escolas. Brasília foi crescendo, aumentando muito escolas, tanto públicas, quanto particulares. Então houve um entendimento de que era necessário, seria uma prestação de serviço melhor, se a gente se desmembrasse. Então se criou o SINPROEP, que é o sindicato dos professores de escolas particulares. Então com isso, alguns que eram do SINPRO, foram para o SINPROEP.
E aí eu, que estava na posição de suplente, assumi. E assumi, a época estava longe ainda de me aposentar, mas assumi uma vaga na Secretaria de Aposentado. Então eu comecei a minha trajetória no SINPRO, pela secretaria de aposentados em 2006. Visitando as escolas da Regional do Plano Piloto, que foi onde também eu praticamente tenho atuado. Depois mais algumas outras, mas Plano Piloto, foi onde eu fiquei maior parte do tempo em visitas, foi lá.
44:25
P/1 - Você começou então como liderança, sobre as asas da Isabel Português?
R – Exatamente, então quando eu citei a Docas, que foi com quem eu aprendi muito, na política e na vida. A Isabel [Portuguez] foi outra mãe, inicialmente na política, e depois se tornou mãe afetiva mesmo, uma relação assim. E a Isabel foi também uma outra conquista, eu cheguei fui trabalhar diretamente com ela, na secretária. E a gente foi rapidamente, a gente já se conhecia logico, mas nunca tínhamos trabalhado juntas. E foi uma parceria muito legal, muito forte. E ela era uma baita protetora, pra você ter ideia, a Isabel, ela cismava com alguma coisa, e daí ela falava: já estou fazendo a novena para você, estou indo a missa todos os dias, por 9 dias e essas missas são dedicadas a você, para te proteger, não sei o que e tal. Eu sempre fui descuidada com horário para comer. A Isabel chegava com uma marmitinha de almoço para ela e a marmitinha para mim. Então assim, esses cuidados, ela tinha isso, ela observava e não era só comigo, era com todo mundo, ela era muito cuidadosa, isso falando da Isabel mãe, amiga, parceira. Mas a Isabel lutadora era aquela incansável também, que não deixava, e detalhe, que cobrava de todo mundo, ela policiava. Ela tinha um caderninho, a gente ri muito disso, que ela tinha um caderninho que ela ficava anotando as falhas de cada um, e depois ela ia atrás, para conferir aquilo e te cobrar, de verdade, ela tinha um controle, só que era um controle de mãe, que ninguém se ofendia. Era uma coisa assim, muito engraçada, muito explosiva da Isabel, isso. E sem contar do que era mediação dela, e a garra dela para a defesa de todos, mas claro que dos aposentados, aposentadas, ela fazia isso de uma forma que eu acho que ainda deve nascer alguém para chegar perto do que foi a Isabel nisso. Por mais que a Silvia tenha todo empenho, que é quem está hoje na coordenação e tem outras na secretaria. Por mais que a gente se esforce, porque nós todos temos as mesmas responsabilidades, mas acho que vai demorar muito ainda para a gente ter uma Isabel 2 entre nós, do jeito dela, não é que seja melhor ou não, mas é o jeito da Isabel.
47:10
P/1 – Rosilene, durante esse seu período na direção, você poderia citar algumas das grandes mobilizações que você julga importantes, foram emblemáticas, tiveram uma incidência grande na vida do SINPRO.
R – Nossa, são tantas! Nós tivemos boas conquistas em 2007, nós tivemos a negociação no governo Arruda e também governo Lula, claro. No momento em que a economia do Brasil estava em uma projeção bem razoável. Então nós tivemos uma boa negociação, resultado de uma grande mobilização, não de greve, mas de muito movimento da categoria. E aí que temos a reestruturação do nosso plano de carreira, que foi um grande salto, entendeu. Passamos a ter aí o melhor plano de carreira do Magistério Público no Brasil, era o nosso plano de carreira. E a época quem estava muito à frente dos trabalhos, era o [Antonio] Lisboa, mas tinha uma diretoria inteira, lógico, ninguém conquista nada sozinho. Mas era um período em que ele ficava muito em evidencia. Inclusive sofrendo muitos ataques, apesar das conquistas, mas muitos ataques. Por que disputa sempre existe, no meio politico você vai estar sempre lhe dando com disputas, e adversários, portanto. Então foi um período assim, de conquistas, mas também de alguns desafios e algumas decepções, nessa condução. Mas eu diria Luiz, falando um pouco do que eu experimentei. Experimento que foi marcante. Nós tivemos uma greve, ai já um pouco mais adiante, em 2012. Aí de novo o PT governando, e a gente no SINPRO. Então de novo, aquela situação, e a gente já com um cuidado enorme, para que as coisas acontecessem de forma diferente. Mas de qualquer maneira, você não pode nunca, deixar, abrir mão da autonomia sindical. A entidade sindical ela tem um papel e você não pode abrir mão disso. Independentemente de quem esteja governando, nós temos a nossa responsabilidade. E o processo de negociação acabou que não foi suficiente e nós tivemos, portanto que deflagramos uma greve. E essa greve durou 52 dias, então foi uma greve muito dura. E por que foi muito marcante. Porque de novo, quando o PT e eleito aqui, o Governador Agnelo, quando foi eleito, também nós tivemos alguns movimentos de e ex-dirigentes, compondo o governo, inclusive chegamos a ter um ex-dirigente do SINPRO que foi Secretário de Educação, por um período. E tinha essa coisa assim, como é que vão lhe dar. E também, porque coincidiu com uma renovação de quadros, digamos que, de pessoas com maior experiência na condução, que naquele momento saíram, e outras vieram compor. E tem uma greve e nós que ficamos no sindicato, estávamos muito assim... Nós fomos postos a prova. A sensação era essa, a impressão que a gente sentia era assim, “vamos ver o que esse povo aí agora dá conta de fazer”. Porque os experientes haviam saído e os que ficaram, assim como eu, não tinha tanta experiência. Então era uma primeira greve que estaríamos na condução dessa greve. Então isso foi um grande desafio. O Washington fazia parte, o Washington Dourado fazia parte nessa época, a Bernadete. Eu não quero aqui citar nomes, porque você acaba... A Berenice, que ainda estamos juntas hoje também, o Kleber, Fernando, enfim. Muitos que estão, estiveram nesse período, estavam também nesse período. Então foi um desafio enorme, o Cláudio, enfim. Mas nós conseguimos conduzir esse movimento 52 dias, fechamos a greve, suspendemos a greve, sem concluir negociação. Porque naquele momento, foi em maio, o governo apresentou que não tinha condições de fechar nenhum acordo financeiro e postergou isso para setembro. E nós suspendemos a greve de 52 dias, sem fechar reajuste, sem fechar nada. Só o processo de negociação, de pontos do plano de carreira, importantes, que nós daríamos continuidade até chegar setembro, para poder tratar na tabela salarial. E foi uma coisa, tão louca, que imagina você assim, um cenário desse, você imagina que a diretoria vai apanhar para encerrar uma greve, para suspender o movimento desses 52 dias, de bolso vazio. Aí nós conquistamos nesse momento, o auxílio saúde, que são R$ 200,00 para cada um, independente da condição, R$ 200,00 no contracheque. Fomos muito criticados, alguns chamaram de auxílio Cibalena, que não sei o quê, sabe tipo, “isso não dá para pagar plano de saúde nenhum”, e tal. Mas foram R$ 200,00, que nós conquistamos aquele momento. E fizemos a defesa da suspensão da greve. Eu chegando na praça do Buriti para essa assembleia, virei o pé, fraturei o tornozelo. Aí o brigadista me socorreu ali, não teve jeito, me levaram para o hospital, para poder engessar esse tornozelo. Eu passei por três hospitais, até conseguir ser atendida. Isso a Assembleia começou, a Assembleia acontecendo. E era Assembleia de suspender a greve, portanto não era uma assembleia qualquer. E eu na maior agonia, até que um funcionário do SINPRO, no terceiro hospital, falou para atendente: você tem filho na escola pública? Ela falou: tenho, mas está em greve. “Pois é, mas aquela moça ali vai ajudar hoje a suspender essa greve, mas ela precisa ser atendida, porque ela tem que ir para Assembleia”.
Aí a moça deu um jeito, que eu sei que eu fui atendida. E cheguei nessa Assembleia, meus colegas me tiraram carregada do carro, não podia por o pé no chão naquele momento, e me botaram lá em cima no caminhão. E aí eu acabei fazendo a última intervenção da Assembleia, que nós conseguimos aprovar suspensão da greve, e pasme você, que fomos aplaudidos, carregados pelos colegas lá embaixo, quando descemos do caminhão. E o receio era que a gente fosse apanhar, porque imagina você, suspender depois 52 dias. E assim, sem nada garantido. E conseguimos isso! Então foi uma relação muito boa, de muita confiança da categoria com o sindicato. E claro, que ai gente tinha que dar conta de dar o resultado depois, na hora certa, e conseguimos fazer isso! Aí o processo de negociação aconteceu, e em setembro fechamos, portanto a tabela salarial, também os reajustes. Que foram seis parcelas, foi uma excelente negociação. Principalmente porque nós incorporamos uma gratificação, que era de um valor alto, a TIDEM. Isso teve um efeito muito bom para todo mundo, no seu contracheque. E que infelizmente nós estamos aí com a pendência da sexta parcela, que o governo anterior, que foi o próximo logico, depois do governo Agnelo. Não pagou e o atual também não pagou ainda. Nós ganhamos inclusive na justiça, mas isso ainda não foi pago. Então tem aí o resultado desses 52 dias, que ainda tem uma pendência. Mas eu diria assim, que o marco foram esses 52 dias de greve. Greve é sempre uma coisa muito marcante, seja ela de que tamanho for, que tempo ela dure. É sempre muito marcante. Você imagina 52 dias. Então, foi muita história, 52 dias, foi muita coisa que aconteceu, teve ocupação, teve tudo que imaginar, entende. Ocuparmos o sexto andar do anexo do Buriti, e que por fim eles impediam a entrada de comida. Nós colocávamos comida num Balde e subia na corda para quem estava lá em cima. Foi assim... Tem momentos que só vivendo mesmo. Então é isso, queria dizer que o momento marcante, muito, esse desafio. Fomos colocados à prova, e a categoria respondeu, confiou e deu certo! Agora é claro que tem grandes momentos, e depois disso, e antes disso. Eu falo sempre assim, viver no SINPRO, viver com o SINPRO, é viver emoção. Quando você acha que tem uma coisa, que você está conseguindo solucionar, acha que vai respirar um pouquinho. Que nada! Antes de você concluir a frase, já tem outra coisa ali que tá te demandando e você precisa correr atrás. Então são muitos episódios.
57:15
P/1 – Rosilene, como é que é o SINPRO, sobretudo os seus dirigentes, como é que eles lidam com a seguinte situação. Boa parte do professorado, sobretudo o mais jovem, olha para o contracheque, aquilo, todos os adendos, as gratificações, elas são como datas, no fundo elas foram conquistadas. Como é que se esclarece isso? Como é que se forma uma nova consciência sobre esse tipo de coisa?
R - É um grande, eu diria assim, é um nó que nós temos, é um grande desafio. Porque é isso que você fala, cada item do nosso contracheque ou do nosso plano de carreira, é como se tivesse ali o DNA de várias pessoas, de milhares de pessoas. Como se fosse ali um carimbinho de cada um que fez isso. Então é isso o tempo todo, não é de agora, de quando eu estou e tal. Quando eu entrei, já tinham itens ali que são resultados de luta, da minha trajetória também, de outros também que saíram, e de outros que estão chegando, certamente continuaremos assim. Agora, quem chega, e que pega isso pronto, principalmente, porque você imagina você hoje sendo nomeado professor aqui, e vai se sindicalizar ao SINPRO. Só que o momento hoje, ele é de ataques, de retirada. E que nós estamos caminhando para 7 anos sem reajuste, então o nosso salário já foi o melhor do país, hoje não mais. Então quem pega, vê que nós estamos numa condição, numa situação, que nós estamos em defasagem. Aí ele não consegue valorizar aquilo que tem, porque aquilo que tem para ele é insuficiente. Então perde o efeito, você entende. Então isso é muito difícil, e quando você vai contar essa história, e valorizando cada item daquele, para essa pessoa que tá chegando, parece que não tem sentido. Existe um vazio, porque isso não é o bastante para ela. Porque esse salario de hoje, não é suficiente para eu comprar o carro que eu gostaria, para fazer a viagem que eu gostaria, para comprar o meu apartamento. Então tudo se torna de menor valor. Mas a gente insiste muito em contar a nossa história, exatamente por isso. Porque cada item desses é resultado de muita luta, de muito sacrifício, de greve de fome, de deixar filhos pequenos em casa para ir para as assembleias, para ir para as marchas, para as ocupações, para apanhar de polícia. Então é isso, a gente precisa olhar para o nosso contracheque e tentar enxergar um pouco de tudo isso ali dentro. E aí não tem outro caminho, senão continuar fazendo para que esses que estão chegando, venham viver isso, para poder entender um pouco isso. É só vivendo, para entender também a história passada. Acho que é isso, não tenho outro caminho. Por mais que a gente, fale, fale, fale a pessoa só sabe o que é viver uma greve, quando ela vem para dentro dela. E a gente ouve muito isso, sabe Luiz, de pessoas que... Às vezes assim, uma coisa porque você tem vários níveis de participação, você tem aquele que é sindicalizado, contribui mensalmente e vai a tudo, absolutamente tudo, ele vai assembleia, ele faz greve, ele vai ao seminário, ele vai a chácara, ele vai, ele vai, ele vai a festa, ela vai a tudo, ele vive a vida do SINPRO. Tem aquele que vai a assembleia. E tem aquele que só contribui financeiramente. Aí você fala: esse cara não tem noção. Olha, a contribuição dele é importante. Então você tem vários níveis de participação na vida sindical, na nossa militância. Então de vez em quando você se depara com pessoas, que apesar de não serem novas na categoria. Mas resolvem vim viver a greve, por dentro. Então vem participar de um comando de greve, vai a tudo, participa de tudo. E aí fala: gente eu não imaginava, hoje eu sei o que é uma greve, porque eu vivi essa greve por dentro. Quando você vai para a direção do SINPRO, que você assume a responsabilidade por um movimento, também é uma outra experiência. Que é muito diferente. É você saber, que você vai pegar o microfone, e vai dizer para categoria o que você acha que é melhor para ela. Porque é isso que é dirigir. Mas é claro que isso não é da minha cabeça, não é da cabeça de qualquer um que dirige o sindicato, é uma construção. Mas é mais ou menos isso. Quem está ali te ouvindo, tá esperando que você de uma luz, que você oriente, diga para onde é melhor caminhar. Então é de uma responsabilidade gigante. Então é um peso! Eu falo sempre assim, que o dia que algum dirigente, deixar de sentiu um frio no estômago quando pega o microfone para falar em uma assembleia decisiva, já não deveria mais estar ali. Porque você precisa, seu corpo precisa dar sinais de que você ainda se incomoda com o resultado daquilo. Então eu não consigo pegar o microfone, com segurança de que assim, que eu não vou me preocupar com que eu estou lhe fazendo e tal. Porque é muita gente que está ali confiando em você, esperando, que possa confiar em você naquilo que você vai falar. Então para quem está na condição de dirigente, o peso é muito grande, é muito grande, e é claro que inevitavelmente a gente erra. Então tem isso também.
1:03:20
P/1 – Rosilene, nesse contexto de trabalho de base, trabalho de formiguinha, como é que você avalia o capítulo formação na atuação do SINPRO atualmente?
R – Quando assumimos em 2001, como eu te falei, as pessoas estavam distantes, categoria distante. O caminho mais acertado que foi tomado, foi exatamente investir na formação. Nós retomamos com projeto de formação. Inclusive eu fiz parte da primeira turma lá de 2004. Foi em 2001 aí 2, 3, no iniciozinho de 2004, já estávamos com a política de formação. Não que não tenha acontecido antes, mas de forma mais elaborada e com parceria com a escola ECOCUT, que é a escola de formação da CUT do Centro-Oeste. E eu fiz parte dessa primeira turma. Então foi o caminho que encontramos de reaproximação. E formação é isso, porque aí eu chego na escola e dou continuidade a esse trabalho e consigo agregar a partir do debate qualificado que você vai adquirindo. Então de lá para cá, a gente só tem, eu posso dizer assim, sem nenhuma arrogância, que a gente só tem melhorado e acertado na nossa política de formação. É uma veia forte que a gente tem também é a formação. Porque a formação Luiz, não é só o curso, com turmas de 40, que vão ali para um fim de semana, para fazer esse curso, etc e tal. A formação ela é constante, uma visita nossa a escola, um debate político que a gente faz com os professores é uma formação, tanto para eles, quanto para a gente. Porque a gente recebe, até às críticas, os questionamentos que a gente recebe por parte da categoria, é para nossa formação, está nos preparando. E um seminário que você faz, é formação, a reunião com os aposentados, é formação. Então tudo tem o caráter e um tom político e que forma, que qualifica. E o SINPRO, a gente tem isso muito forte, muito acertado.
1:05:49
P/1 – Rosilene, e quais são, na sua avaliação, os desafios mais prementes que se colocam diante da atuação do SINPRO?
R – Olha, os desafios hoje para o SINPRO, eu diria que os mesmo que para qualquer outro sindicato. Nós temos ai, digamos que está se consolidando, um novo mundo do trabalho. E a gente achava, até de forma bem romântica, havia uma ilusão de que a educação estava distante disso e de certa forma protegida disso. Mas uma coisa totalmente da nossa cabeça, porque hoje nós temos dentro da Secretária de Educação no Distrito Federal, uma realidade de quase 50%, de professores regentes hoje, são de regime de contratação temporária. Isso significa, e aí é bom registrar, que não estamos aqui discutindo, as condições dos profissionais, porque eles são profissionais tão qualificados, quanto os concursados. Até porque ele passa por um processo seletivo, ele tem que ter já curso superior. Ele é habilitado, portando também qualificado. Então a questão aqui não é o debate de quem é um profissional e quem é o outro profissional, é da condição. Então hoje para mim, particularmente falando, o grande desafio nosso, é o fortalecimento da educação pública, com concurso público. Educação pública, feita por servidores e servidoras do serviço público, entende. Porque a escola ela está sendo tomada, de prestadores de serviço, e digo mais uma vez, nada com os profissionais, mas é a condição pela qual eles chegam até a escola. Isso é a demonstração do desmonte do Estado. Então para mim, no nosso caso, de Sindicato do serviço público. O nosso grande desafio, hoje, é retomar com a política de fortalecimento do Estado. Porque nós servidores estamos caminhando para sermos minoria. Se continuar assim, daqui a pouco nós seremos minoria, dentro de uma escola pública. Nós servidores e servidoras estaremos em minoria. E o que isso representa? Representa que talvez nem tenha a reforma administrativa, mas o desmonte do Estado está aí. E na medida que isso acontece, isso enfraquece o movimento sindical, entendi. Então assim, esse é um grande desafio, e o que é o mais grave? É que com tudo que está acontecendo no mundo. E desemprego e etc e tal. E esse sentimento umbilical, essa coisa egoísta que o capitalismo vem fazendo, ao longo dos anos. A também uma coisa, enganosa, que para esses trabalhadores e trabalhadoras, de que não, eles tem um emprego, entendi. Então está bom, não tem problema se for temporário, que todos os anos vai ter, eu estou empregado. Então essa dificuldade também, de fazer a leitura do mal que isso é para ele próprio. Essa construção que foi se fazendo, então é isso. Eu acho que não só para o SINPRO, mas para qualquer sindicato, sobretudo. Falando aqui do serviço público. É essa condição do desmonte do estado.
1:09:48
P/1 – E qual você considera, sem lhe pedir nenhuma bola de cristal. Qual você considera o futuro da Educação no país? Que futuro é esse?
R –Nossa, Luiz é muito complicado falar de futuro no Brasil hoje, para qualquer um, para qualquer situação, para qualquer área, ramo, enfim. Porque há na verdade uma descrença hoje no nosso país, e que a gente tem que reagir, a gente resiste o tempo todo. Primeiro que eu não consigo enxergar futuro sem educação e, sobretudo a educação pública. Porque senão eu um futuro para alguns, não é um futuro para a nação. Para isso acontecer tem que ter educação pública acontecendo e com qualidade, e com todas as bandeiras que a gente defende. Então o que nós precisamos e reverter esse quadro, hoje a gente tem uma política, aliás, a ausência de política no Brasil hoje, política educacional é o projeto que está em curso. Não há projeto de política educacional, o que é há é um ataque, enfim, um conservadorismo. E aí quando eu falo conservadorismo, é um fundamentalismo na verdade, tentando ocupar as páginas dos nossos livros, da nossa educação, e isso é muito grave. E não tem jeito, o nosso Brasil, precisa sofrer uma mudança radical na sua estrutura política, e para isso, não basta eleger Presidente da República, ou governador. Precisa muito mais que isso, com todas as instâncias, nós precisamos provocar mudanças. Inclusive de ocupação de espaço. A gente precisa fazer com que a população assuma para si uma participação maior, e claro que nós precisamos mudar quem governa, isso é inevitável. Mas eu preciso mudar em todas as esferas. Então acho que é um trabalho árduo que nós teremos pela frente, porque hoje o que estão fazendo no Brasil, e parece que tem uma grande parcela aí da população, que não consegue pensar diferente. Isso me preocupa muito, até quando isso vai durar, entende. Como que a gente vai fazer para ter essa mudança. Mas eu acredito que a educação é o único caminho, e que é dentro da minha sala de aula, que eu posso provocar essa mudança. E aí eu não estou aqui falando de fazer campanha para a, b ou c, não, eu estou falando do que é uma educação libertadora, e uma educação que de fato questione, que forme. Uma educação que realmente vai formar. E é isso, acho que a escola precisa ser mais provocativa, sobretudo nesse momento. Acho que a gente precisa ousar mais dentro da sala de aula.
1:13:12
P/1 - O que você diria, que mensagem você teria para um jovem, uma moça, um rapaz, que decidiu ser professor, que mensagem você teria para eles?
R – Que ele tomou uma excelente decisão. Tem que saber que não é o romantismo que às vezes falam para a gente quando a gente é criança, do brincar de escolinha, que é tudo lindo. Que é uma baita profissão, de uma responsabilidade enorme. Eu falo, se eu não fosse professora, eu seria a professora, teria sido professora, continuaria sendo professora, eu não consigo ver diferente. E é por isso, porque para mim, fazer parte daquilo que transforma, que tem a capacidade de transformar. Agora é bom dizer, transforma pro bem e pode transformar para outro caminho, por isso que é muito do que você quer fazer com isso. Porque a educação não é só o que está escrito nos livros didáticos. É o que a gente é, o que a gente faz dentro da sala de aula. Mas eu diria para esse garoto e essa garota, que bom que tomou essa decisão. E com certeza eles experimentaram uma das maiores delícias da vida. Essa educação é uma troca constante, essa coisa de Paulo Freire é a coisa mais sábia. Você está sempre aprendendo, você está ensinando e aprendendo o tempo todo. E isso é de uma grandeza. É incomparável. Então é isso, que é uma decisão extremamente acertada, mas tem esse romantismo. Ele vai ter a partizinha dele na transformação de um mundo melhor, de abrir caminho para as pessoas, porque é isso, pra mim a educação, é sem sombra de dúvida a possibilidade de mudança na vida das pessoas. É através da educação, por isso que a gente precisa combater essa desigualdade, essa injustiça social que a gente vive. Por isso que não querem investir na educação, por isso que tudo tão precário, por isso que não se paga bem o professor. Porque não querem abrir as portas para todo mundo, só para alguns. E a educação é essa porta.
1:15:50
P/1 - Alguma coisa que você gostaria de ter dito eu não te perguntei?
R – Eu só acho que é importante a gente registrar o momento que nós estamos vivendo, que é da pandemia. Um dos momentos mais duros da história da humanidade e principalmente da história do Brasil. Também da história da minha categoria. Daqui a pouco a gente vai contar a nossa história com esse período, fazendo parte dos livros inclusive, dentro do conteúdo. E esses desafios que foram postos, o fazer diferente, o aprender fazer para esse momento. Que nós estamos ainda tentando passar por isso, superar tudo isso. Da dor que tem sido, das dificuldades e o fazer pela categoria, também é um grande desafio para nós. Professores e professoras tendo que ser reinventar, para continuar dando o máximo de si. E nós também, que estamos no sindicato, passando também por esse momento, e uma sensação. Era isso que eu queria registrar, que às vezes a gente precisa se segurar muito. Que fica uma sensação de incapacidade. Você tenta fazer o máximo, mas é tanta coisa acontecendo. E aí os impedimentos são muito grandes, das nossas ações. Então a gente tem um período em que a gente vai lamentar, profundamente, não só as perdas que estamos tendo. Mas de olhar... Vamos lamentar e ao mesmo tempo vamos compreender, com passar dos dias. Do tudo que fizemos, do máximo que fizemos, afinal de contas, somos todos seres que estamos expostos e o nosso emocional, nossa vida, as pessoas que a gente ama, a vida solidárias, também solitária. Então essas coisas se confundem nesse momento, acho que esse momento da pandemia nós estamos vivendo, enfim. Essa a parte você corta, que eu não quero que bote não. Pode voltar e cortar lá e deixa essa parte sem colocar.
1:18:40
P/1 – Vamos fechar então Rosilene. Diga para nós quais são os seus sonhos?
R - Eu tenho dito que o sonho de qualquer pessoa nesse momento, e hoje mais do que nunca, porque eu tenho o Romeu, que é o meu netinho, que tem 3 meses. O grande sonho é que a vacina chegue no braço de cada um e cada uma, nesse país e aqui no Distrito Federal. E que a gente possa voltar a tocar as pessoas que a gente ama. O grande sonho do momento é que a gente tenha a população vacinada, que a gente tenha de fato a vida restabelecida, acho que é esse o grande sonho do momento. Não tem como sonhar nada antes disso, entende. Começa por aí, então o grande sonho nesse momento é que mais ninguém seja infectado, que mais ninguém morra e que tenhamos vacinas para todos e todas.
1:19:40
P/1 – Ok Rosilene, muito obrigado pelo seu tempo e pela sua bela entrevista.
R – Luiz, obrigada pela paciência de fazer de novo. Aí você fica a vontade para misturar, não tem problema nenhum não, tá. Veja o que você faz.
[FIM DA ENTREVISTA - Parte 1]
********
Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
16/06/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001_parte 3
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 – Nos temos o seguinte quadro, a seguinte situação. No governo Agnelo Queiroz o SINPRO obteve grandes conquistas, sobretudo a incorporação da chamada TIDEM, e parte dessas conquistas, passaram, ficaram para serem consumadas no governo Rodrigo Rollemberg, como é que foi a relação do SINPRO com o governo Rollemberg? E como é que vocês conseguiram concretizar essas conquistas?
R - É fato que na gestão Agnelo Queiroz nós tivemos a reestruturação do plano de carreira, que foi resultado de 52 dias de greve, uma greve dura; e conquistamos também o auxílio saúde, que foi quando suspendemos a greve. Depois retomamos as negociações, com bons avanços, e a reestruturação da tabela também, que foram as parcelas que ficaram pendentes para o governo seguinte. Quem ganhou as eleições [de 2014] foi Rodrigo Rollemberg. Já em janeiro [de 2015], nós tivemos um acampamento na praça do Buriti, porque havia atraso de pagamento de décimo-terceiro; o Rollemberg assumiu e não tomou as providências. O retorno do ano letivo já foi tenso. E ali iniciamos uma greve no governo Rollemberg, greve curta, de uma semana. Recebemos em março mais uma parcela do reajuste, e em setembro, quando deveria ter sido paga a outra parcela, não houve pagamento. Depois disso, então, tivemos 29 dias de greve. Em 2017, tivemos uma outra greve, porque ainda continuávamos recebendo calote do governo. Ou seja, a sexta parcela do reajuste, não foi paga. Fizemos novamente uma greve longa, dura, em que professores apanharam da Polícia Militar, claro que sob o comando do governador. Não recebemos o reajuste, a sexta parcela. Por fim nós judicializamos [a questão] e isso está tramitando. Estamos agora indo para o STF: foi o que nos restou depois de duas greves. E houve um fato marcante: nessa segunda greve, na gestão Rollemberg, nós perdemos um dos nossos dirigentes, o professor Cássio [de Oliveira Campos], de Sobradinho, uma pessoa super querida. Foi muito duro. Ele era um militante muitíssimo dedicado, responsável, querido na cidade. Ele conseguiu chegar até a categoria em Sobradinho de uma forma que poucos de nós conseguiu ou consegue. Ele realmente deixou uma marca dele em Sobradinho e foi muito duro para nós, naquele momento de uma relação duríssima com o governo, ainda perdermos uma pessoa como ele. Perder qualquer pessoa é sempre muito doído, mas ele por ser uma pessoa especialmente querida. Nós tivemos uma reunião do comando de greve no domingo, na sede da CUT, e no outro dia de manhã, na segunda-feira, eu fui para a cidade dele, onde tínhamos uma assembleia. Quando eu estava chegando a Sobradinho, veio a notícia de que ele estava hospitalizado. E quando abrimos assembleia, eu estava conduzindo a mesa quando uma companheira recebeu a ligação, avisando que ele não havia resistido. Imagine, no meio de uma greve da categoria, perder alguém assim. De novo encerramos essa greve sem que o governo cumprisse [o pactuado]. O governador Rodrigo Rollemberg tomou uma decisão de não cumprir com a lei e não respeitar uma conquista da categoria. Mas vale registrar, que não só com os professores e professoras, na verdade são 32 categorias do DF, que ele não cumpriu com a lei. Porque o governo anterior, do Agnelo, reestruturou todas as carreiras, e essa estruturação com efeito financeiro. E o governo seguinte, do Rollemberg, não cumpriu com isso. Sobre a alegação de que o Agnelo não havia feito uma previsão orçamentária adequada para suportar tudo isso. E desde então estamos sem reajuste, porque a política tem sido a mesma, inclusive do Governo Federal, que classe trabalhadora só é punida, desde então. O que nós temos vivido é isso. Então fica esse marco também na história do SINPRO, de duas greves durante o governo, mantendo a posição do calote. Tivermos uma campanha inclusive, identificando o governador como caloteiro. E perdemos também esse companheiro tão querido.
5:57
P/1 – Na sua avaliação, a judicialização desse problema está sendo bem sucedida, está bem encaminhada?
R – Olha, nós temos um cenário nacional, muito desfavorável. Outros estados que tiveram que recorrer ao judiciário, não tiveram o êxito. Porém hoje, a gente tem um movimento, eu diria que começa a mudar, esse cenário, dentro do próprio STF. A gente tá vivendo em um movimento que alguns deles, estão tendo um outro olhar. Então nós estamos com expectativa sim, de que a justiça realmente faça cumprir, com aquilo que é legal. Que nós estamos falando de um direito previsto em lei, uma conquista que virou lei, e que foi descumprida e continua sendo descumprida pelo atual Governador. E que prometeu inclusive em campanha, que não só iria cumprir com isso, de pagar as parcelas pendentes, a todas as categorias. Mas de também reajustar os salários. E no caso dos professores, ele disse que era inaceitável professor ganhar menos que um juiz. E nós estamos caminhando aí, penúltimo ano de governo e sem nenhum reajuste, sem atualização de nada, nem de um auxílio e nem, portanto dos nossos vencimentos.
7:16
P/1 – Que passa pela cabeça de um professor ou professora quando ele apanha da polícia na rua?
R – Olha, nós chegamos inclusive a irmos para a delegacia, registramos e claro que os ossos advogados atuaram. E lamentavelmente não deu em nada, eles não entenderam como tendo sido abuso de poder da polícia. E o que a gente sente Luiz, eu não passei por isso, mas claro que a gente consegue imaginar, o que é para um professor, uma professora, apanhar da polícia, como se você fosse um bandido. Porque isso assim, nem bandido tem que apanhar, a polícia está aí para tomar outras providências, e não para espancar ninguém. Aí imagina você, professor na rua, lutando por um direito seu, porque um governador está descumprindo a lei, e a polícia te agredir. Então isso deixa qualquer um indignado, é um desrespeito, como eu te disse, ninguém tem que apanhar de ninguém. Mas quando você está em uma luta, que é justa e por algo que é reconhecido, a polícia se achar no direito de usar dá força para poder barrar esse movimento, isso foi terrível. Nós estávamos no Eixão, era uma ação radical mesmo, arriscada, porque nós fechamos o trânsito do Eixão Norte e Sul, ao mesmo tempo. A gente sabe que isso causa transtorno a população, mas nós estávamos no limite. Sabe quando você vai chegando, que você precisa se arriscar, porque preciso chamar atenção da sociedade para o que está acontecendo. Não dava mais para ficar com a nossa greve só entre nós e o governo. Era preciso fazer com que a sociedade de fato tomasse conhecimento da gravidade. Então nós realmente fomos extremistas, nesse aspecto. Assim, tínhamos que fazer algo mais forte, para que a sociedade percebesse. Que a cidade de Brasília percebesse o que estava acontecendo. Então fomos para as duas saídas, norte, sul, no fim do dia, que é o horário de trânsito, e fechamos, bloqueamos mesmo o trânsito. Então isso gerou um transtorno. Mas a polícia realmente chegou e foi truculenta, tivemos direção do SINPRO agredida, com ferimento inclusive. Isso foi traumático, sabe, isso marcou. E certamente cada um, e cada uma que sofreu este tipo de violência, terá isso na sua vida para sempre, isso é impossível. E aí ficou então a marca lamentável. E vale destacar, que o Rollemberg foi eleito, num clima muito de expectativa, a categoria apostou, nossa categoria votou a maioria nele, posso afirmar isso sem medo de errar. E na verdade, até porque o PSB, não é um partido que poderia ser entendido como um partido de direita. Então com expectativa, uma pessoa da cidade, e depois um governo, como um todo, não cumpriu com isso e houve aí uma decepção. Então tem uma frustração aí. E aí tá assim, a cada 4 anos as pessoas vão apostando no que aparece de novo, tentando ter algo melhor. E lamentavelmente isso não tem acontecido.
10:46
P/1 – Uma luta infinda.
R – Exatamente isso! Para a educação tudo é sempre assim. Eu costumo dizer, que é incrível que para a educação, tudo tem que primeiro ter muita dor, sabe. Se não tiver muita, muita luta. Você não chega a algum lugar. Incrível, todas as nossas conquistas, são conquistas resultados de muita luta. Muita batalha da categoria, nada foi por um decreto, por responsabilidade do governo.
11:18
P/1 – Muito menos caído do céu!
R – Certamente que não. O céu está muito distante para cair aqui alguma coisa para nós.
[FIM DA ENTREVISTA - Parte 2]Recolher