Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Nayara Jaqueline Scholl
Entrevistado por Tereza Ruiz
São José do Rio Pardo 27/08/14
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV054_ Nayara Jaqueline Scholl
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Nayara, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Nayara Jaqueline Scholl. Eu nasci em Limeira no dia 18 de fevereiro de 1992.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe, e se você souber data e local de nascimento também. Só se você souber, senão o nome completo.
R – Minha mãe chama Itamara Matos de Lima Furtado, nasceu em Congonhinhas no Paraná no dia três de setembro de 1970. Meu pai chama João Scholl, ele nasceu em Limeira também em 15 de março de 1965.
P/1 – E o que os seus pais fazem profissionalmente?
R – Minha mãe é corretora de imóveis e meu pai é citricultor, produtor de citros.
P/1 – Mas tem uma propriedade? Vocês têm uma pequena propriedade? Como é que é?
R – Tem. Hoje já é maior, assim, a produção. É lá em Santa Fé do Sul, no norte do estado.
P/1 – Tem um nome a propriedade?
R – Recanto da Onça.
P/1 – E o que vocês produzem?
R – Lá é produzida laranja, tangerina e mamão também.
P/1 – Descreve pra gente um pouco como é que os seus pais são de personalidade, temperamento. Como é que você descreveria pra alguém que não conhece?
R – Meu pai é empreendedor, gosta de aventura, ele tem um “Q” nele assim de enxergar oportunidade onde ninguém vê, tanto é que ele cresceu por causa disso. Mesmo ele tendo ensino até a oitava série, hoje ele é produtor grande de citros, então ele é bem assim. Apesar de tudo isso ele é tímido, ele não gosta de falar em público, acho que eu puxei um pouquinho disso dele. Já minha mãe é mais desinibida, ela se relaciona super bem com as pessoas, fala...
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Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Nayara Jaqueline Scholl
Entrevistado por Tereza Ruiz
São José do Rio Pardo 27/08/14
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV054_ Nayara Jaqueline Scholl
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Nayara, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Nayara Jaqueline Scholl. Eu nasci em Limeira no dia 18 de fevereiro de 1992.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe, e se você souber data e local de nascimento também. Só se você souber, senão o nome completo.
R – Minha mãe chama Itamara Matos de Lima Furtado, nasceu em Congonhinhas no Paraná no dia três de setembro de 1970. Meu pai chama João Scholl, ele nasceu em Limeira também em 15 de março de 1965.
P/1 – E o que os seus pais fazem profissionalmente?
R – Minha mãe é corretora de imóveis e meu pai é citricultor, produtor de citros.
P/1 – Mas tem uma propriedade? Vocês têm uma pequena propriedade? Como é que é?
R – Tem. Hoje já é maior, assim, a produção. É lá em Santa Fé do Sul, no norte do estado.
P/1 – Tem um nome a propriedade?
R – Recanto da Onça.
P/1 – E o que vocês produzem?
R – Lá é produzida laranja, tangerina e mamão também.
P/1 – Descreve pra gente um pouco como é que os seus pais são de personalidade, temperamento. Como é que você descreveria pra alguém que não conhece?
R – Meu pai é empreendedor, gosta de aventura, ele tem um “Q” nele assim de enxergar oportunidade onde ninguém vê, tanto é que ele cresceu por causa disso. Mesmo ele tendo ensino até a oitava série, hoje ele é produtor grande de citros, então ele é bem assim. Apesar de tudo isso ele é tímido, ele não gosta de falar em público, acho que eu puxei um pouquinho disso dele. Já minha mãe é mais desinibida, ela se relaciona super bem com as pessoas, fala muito bem. Ah, ela é mãezona, não sei o que descrever.
P/1 – Como é que é a história, conta pra gente um pouquinho a história do seu pai, você falou que ele fez até a oitava série. Como é que ele começou a ser produtor rural, como é que é a história dessa propriedade que vocês têm?
R – Na verdade a história se iniciou numa fazenda histórica lá de Limeira. Meu tataravô veio pro Brasil da Alemanha e eles conseguiram um pedacinho de terra naquele esquema de parceria. Aí eles tinham um pedacinho pequeno que era do meu tataravô, foi passando de geração em geração. Meu vô morou muito tempo também nesse lugar, meu pai, aí meu pai meio que cansou, mesmo assim ele gostava muito de trabalhar em propriedade agrícola, sempre gostou de campo. Ele trabalhava de manhã com o meu vô e à tarde trabalhava com outra pessoa. Com isso, com 17 anos ele comprou a primeira casa na cidade, foi em Engenheiro Coelho, uma cidadezinha lá perto. Meu vô se mudou pra lá também, mas eles continuaram com esse pedacinho de terra. Depois eles venderam, compraram um sítio, aí produzia laranja já, mas era bem pequenininho. Aí foi de vez assim que o meu vô, meu pai e meu tio compraram uma propriedade lá perto de Marília, em Ubirajara, uma propriedade maior, na época dinheiro comprava bastante terra, né? Aí ele se aventurou. Meu vô foi pra lá, meu pai e meu tio também, não moravam lá, mas toda semana estavam lá trabalhando, aí com isso eles foram crescendo. Meu pai ainda hoje tem essa propriedade, hoje ele se tornou produtor de muda de citros também, que é aqui pertinho, uns dez quilômetros, e na verdade com isso que ele realmente cresceu, produzindo muda. Hoje ele foi pra Santa Fé.
P/1 – Desde o início é citros? Desde que ele é criança, com o crescimento da propriedade, sempre foi produção de citros?
R – Desde o começo é citros. Desde o começo porque lá a minha região, região de Limeira, é bem tradicional nessa cultura.
P/1 – E você falou que o seu tataravô que veio da Alemanha. É isso?
R – É.
P/1 – Eu ia te perguntar isso, se você sabe qual que é a origem da sua família por parte de mãe e por parte de pai, quem que veio, quando veio, porque veio pro Brasil.
R – Então, como eu disse, o tataravô do meu pai veio nesse esquema de parceria com o objetivo mesmo de ter um pedacinho de terra e produzir. Então por isso que minha família já tem tradição em produção agrícola. E foi com citros mesmo, desde o começo. Na verdade antes era café e tal, mas depois da crise foi citros e até hoje. Já a parte de mãe é origem portuguesa, mas assim, vieram pro nordeste e eu não tenho muito conhecimento.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Eu tenho por parte de mãe só. Meu irmãozinho de quatro anos.
P/1 – Como é que ele chama?
R – Lucas.
P/1 – Conta um pouco pra gente como é que é a casa em que você passou a infância, Nayara. Como é que era, descreve mesmo como é que era a casa, o bairro, a cidade.
R – Bom, até os quatro anos eu vivi em Engenheiro Coelho, uma cidadezinha de 20 mil habitantes, superpequenininha. E eu cresci lá, indo como meu pai pra roça, nas minhas férias eu ia pra casa do meu vô também, pro sítio. Minhas férias se resumem a fazenda, plantar um monte de coisinha assim. Era isso. Eu e os meus primos. Minha infância...
P/1 – Descreve um pouco a casa que você passou a infância. Até os quatro eu imagino que você não tenha muita lembrança, né?
R – É.
P/1 – Mas depois disso como é que era a sua casa?
R – Então, aí com cinco anos a gente foi pra Limeira. Família pequena, né, assim, era eu, minha mãe, meu pai. Então eu brincava... Graças a Deus minha família por parte de mãe é muito grande, então eu brincava muito na rua, curti bastante minha infância com meus primos, não tinha irmão, mas tinha um monte de primo, então eu brincava muito com eles.
P/1 – E vocês moravam em casa ou apartamento?
R – Em casa. Sempre foi em casa.
P/1 – E era uma casa num bairro mais afastado, mais central? Uma casa pequena, grande?
R – Era mais afastado. Logo que mudamos pra Limeira eu fiquei num apartamento enquanto construía minha casa. Depois era tipo uma chácara, aí era bem grande, tinha piscina, tal. Aí era bem legal.
P/1 – E tinha pomar também, esse tipo de coisa, uma hortinha?
R – Tinha. Sempre meu pai, minha mãe gostou dessas coisas, né? Aí eu também. Eu tinha meu pedacinho lá, a gente meio que plantava sempre as coisas e jardim também, tanto é que hoje eu amo paisagismo. Eu ficava lá aguando os coqueirinhos, as coisas. Era assim.
P/1 – O que tinha de planta na sua casa?
R – Frutífera não tinha muito, não. Tinha alguma hortinha, mas era mais ornamental mesmo.
P/1 – E quem que cuidava desse jardim?
R – Tinha o jardineiro mesmo, porque era bastante coisa, mas era sempre também minha mãe, eu, ficava aguando, colocando adubinho. Esse tipo de coisa.
P/1 – E essas viagens que você fazia pequena assim, você falou pro sítio, né, e pra fazenda, o que você fazia para se divertir? Quais eram as brincadeiras nas fases de infância assim?
R – Bom, quando a gente ia pra fazenda a lembrança mais nítida assim que eu tenho são os pezinhos de jabuticaba e ficávamos eu e minha prima. Eu tenho uma prima da mesma idade, a gente ia, ficava em cima do pé de jabuticaba a tarde inteira comendo jabuticaba e conversando. Era isso, também cada uma tinha um lado da casa, então a gente competia, plantava as coisas, qual que crescia mais, esse tipo de coisa. Tinha cavalo também, sempre ameia andar a cavalo.
P/1 – O que vocês plantavam? Conta um pouco, eram os pais que davam as mudas? Como é que começou essa plantaçãozinha de vocês duas?
R – Ah, era coisa boba que a gente comia, tirava a semente, às vezes nem brotava, porque muita coisa não é assim. Era coisa: “Ah, eu vou comer laranja”. Nunca que vai nascer um pezinho de laranja, mas a gente plantava. Minha vó também sempre teve horta, então pegava sementinhas da horta dela, plantava também. Era assim.
P/1 – E outras brincadeiras na cidade, do que você brincava quando era criança?
R – Na cidade, na rua era taco, pega-pega, esconde-esconde, cada macaco no seu galho, eram mais essas coisas. Brincadeira clássica mesmo, né?
P/1 – E você lembra nessa fase de infância o que você queria ser quando crescesse? Você tinha assim algum desejo, falava pros seus pais: “Quero ser tal coisa”?
R – Eu sempre quis ser agrônoma mesmo, desde criança. Acho que pela convivência, meu pai. Eu sempre quis ser. Sempre gostei muito de estar no meio, no campo, me via sempre trabalhando com isso.
P/1 – Você lembra a primeira vez que você formulou isso? Porque agrônomo não é uma profissão tão comum de criança falar: “Quero ser agrônomo”. Você lembra quando você descobriu que você queria trabalhar no campo? Teve algum marco, um momento?
R – Marco, não. Mas eu sempre me via, eu nunca quis ser outra coisa desde criança. Meu pai até brincava comigo. Acho que também era uma forma de me aproximar dele, né? Não sei. Acho que sempre foi no meu subconsciente isso.
P/1 – Você ajudava na propriedade de vocês? Você tinha o hábito de ajudá-lo nas tarefas?
R – Então, ajudar mesmo, pegar, colocar a mão na massa era mais complicado, porque citros não é muito igual hortaliça que você coloca a mão mesmo, é mais mecanizado. Mas todas as férias eu ficava todo o tempo do lado dele, sabe? Tudo que ele fazia, eu fazia também. Era assim.
P/1 – Acompanhava bastante.
R – É.
P/1 – E da escola quais são as primeiras lembranças que você tem? Quando você entrou na escola quais são as primeiras memórias?
R – Da escola?
P/1 – É. Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha quatro, morava em Engenheiro ainda. Eu acho que eu sempre gostei de ir a escola, uma porque eu era filha única, então na escola tinha bastante amiguinho e tal. Já no ano seguinte eu fui pra Limeira, eu sempre estudei em escola particular desde criança. Sempre também, desde que eu comecei a entender, eu sempre quis fazer faculdade pública, Agronomia na ESALQ (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”) sempre foi o meu sonho. Eu era de estudar bastante, nunca fiquei para recuperação nem na faculdade. Sempre me esforcei bastante nessa área.
P/1 – Você teve algum professor marcante no ensino básico?
R – Sempre a gente tem, né? Sempre tem. Na oitava tinha uma professora, que chama Mônica, de Português, “mara”, que eu gosto muito, mas era uma pessoa que incentivava muito, tinha uma relação muito pessoal com os alunos. Ela me fez crescer bastante. Foi uma pessoa que me marcou muito.
P/1 – Quais que eram suas disciplinas preferidas na escola?
R – Até o ensino fundamental era Matemática e Biologia. Aí quando entrei no Ensino Médio, eu não gostei mais de Matemática e era Biologia e Química. Tinha um professor no Ensino Médio de Química que ele era agrônomo da ESALQ também. Ele era demais assim, fez-me amar Química. Ele era muito bom. E Biologia por causa mais da parte de planta mesmo, né?
P/1 – Sempre gostou de Biologia.
R – Sempre gostei. Não da parte de anatomia, essas coisas não, mas...
P/1 – Botânica.
R – Botânica.
P/1 – E dessa fase de infância ainda, tem alguma história, alguma coisa que você sempre se lembra, uma história que você tenha vivido, dessas coisas que ficam marcadas, ou uma história de brincadeira, ou uma história familiar de alguma dessas vezes que você acompanhou o seu pai? Qualquer tipo de história, essas coisas que ficam na lembrança, que a família lembra depois, que você se lembra até hoje.
R – Eu lembro que quando eu falava pro meu pai que eu queria ser agrônoma, aí ele falava assim: “Filha, você vai ser a primeira agrônoma a ser bonita, porque Deus quando tá te criando fala ‘Você quer ser bonita ou você quer ser agrônoma?’”. Isso me marcou, sabe? E naquela época também não tinha muito agrônoma, né? Hoje é bem equilibrado, mas isso é uma coisa assim que eu lembro sempre e agora que eu to quase me formando que vem mesmo.
P/1 – Tem bastante mulher na sua turma?
R – Tem quase 50%.
P/1 – Bem equilibrado.
R – Bem equilibrado. Porque é uma área, uma profissão muito ampla. Então você pode trabalhar desde, assim, campo mesmo até banco, ficar 100% escritório. Aí vai da pessoa. Então por isso que foi mudando essa relação.
P/1 – E as refeições na sua casa quando você era pequena, como é que eram? Quem que cozinhava? O que vocês comiam?
R – Eu venho de família simples. Por mais que meu pai tenha conquistado com o tempo as coisas, mas sempre foi morando em sítio, então a comida bem caseira, frango caipira, torresmo, essas coisas. Tanto é que até hoje assim minha carne preferida é porco, sabe? Meu pai até tem criação de javaporco, que é javali com porco, e sempre foi assim. Minha mãe também, a origem dela é nordestina, então sempre assim, tapioca. Minha vó tem oito filhos, então era aquelas paneladas de pamonha, esse tipo de coisa. Bem simples mesmo, que é o mais gostoso.
P/1 – E os momentos das refeições assim, vocês comiam juntos? Como é que era o momento mesmo da refeição?
R – A gente sempre comeu junto. Eu sou evangélica, então meu vô, meu... Tanto dos dois lados, eles sempre prezaram muito por essa parte familiar, tanto é que eu, por parte de mãe eu não tenho mais vô nem vó, mas eles sempre ensinaram muito a gente a valorizar a família, a sempre estar perto. Então por mais que a gente tenha perdido eles, hoje a gente é bem mais próximo ainda do que antes. A gente sempre tem um motivo pra juntar todo mundo, fazer alguma coisa pra comer. É sempre assim.
P/1 – E você é evangélica desde pequenininha? Os seus pais já eram evangélicos? Você já nasceu dentro da religião? Como é que foi isso?
R – Desde pequena. Meu vô era pastor, por parte de mãe e por parte de pai também, mas meu avô por parte de mãe sempre foi pastor de construir um monte de igreja na minha cidade, ele era pedreiro. A gente sempre foi ensinado assim, sabe, a sempre ir a igreja, envolver-se muito com as coisas de Deus e até hoje eu sou.
P/1 – Então desde pequenininha, né?
R – É.
P/1 – Agora eu queria passar um pouquinho dessa fase da infância pra adolescência, saber o que mudou, que é o Fundamental I pra Fundamental II, o que mudou na sua vida nessa transição da infância pra adolescência no sentido de lazer, grupos de amigos, se você passou a sair mais, o que você fazia pra se divertir.
R – Bom, como eu sou de religião evangélica, eu não bebo, nunca gostei de balada, festa, essas coisas. Eu sempre fui uma pessoa mais reservada. Meus amigos eram da igreja ou da escola e, assim, sempre no mesmo ritmo que eu. Então assim, pra me divertir a gente se juntava de segunda a segunda, juntava na casa de alguém ou na rua, ou saía pra ir ao shopping comer alguma coisa. Sempre foi mais tranquilo assim. Isso foi bom, porque eu não perdi o foco, sabe, das coisas que realmente importavam. Enquanto tinha um monte de pessoa aí bebendo, indo a festa e não estudando, tal, eu sempre tive bastante envolvida com essas outras coisas que são mais importantes, né?
P/1 – E quando vocês se reuniam, esse seu grupo de amigos na casa de alguém ou para ir ao shopping e tal, vocês ouviam música, sobre o que vocês conversavam? Você gostava de ler, gostava de música, gostava de cinema? Quais que eram os seus interesses nessa fase de adolescência?
R – Na adolescência eu... Ah, eu sempre gostei de ler. Músicas então, meu Deus, eu não vivo sem música. O tempo inteiro escutando.
P/1 – O que você gosta de ouvir?
R – É mais música evangélica mesmo, né? Acho que você nem conhece, mas sempre gostei muito de música internacional, sempre que dá eu vou a show.
P/1 – Tem algum cantor ou um compositor preferido?
R – Minha cantora preferida chama Daniela Araújo. Ela é compositora, produtora, cantora. São umas letras muito bonitas. Pra mim música é muito letra, além de ritmo, claro, mas é muito letra. Assim, eu não consigo ouvir uma música que eu não goste da letra. Não dá. E eu, desde os oito anos eu fiz aula de música. Eu toco clarinete desde essa época em orquestra, tal, na minha igreja e também assim na cidade quando tinha algum evento. Então eu sempre gostei muito dessa área.
P/1 – Tem alguma canção que tenha te marcado, com a qual você tenha alguma história, ou que você considere uma canção mais importante?
R – Então, eu tenho. Eu sou regente também de um coral na minha igreja, um coral de adolescentes, e nos congressos gerais dá mais de mil adolescentes a quantidade. Minha música, que eu falo minha música preferida de todas, chama Dependo de Ti, do Paulo César Baruk. É uma música que eu sempre gostei, uma música mais antiga e o ano passado eu a coloquei no congresso geral dos adolescentes e aquele coralzão de mil vozes, é tudo com divisão de voz, é tudo bem bonito. Foi uma música que realmente me marcou muito tanto pela história que eu já tinha com ela quanto por ver aquele momento, todo mundo cantando, foi muito legal, foi muito bonito.
P/1 – Por que essa música é importante pra você?
R – Ah, é mais por causa da letra mesmo. Ela tem uma letra bem de entrega pra Deus, sabe? Ela é uma música bem profunda. Toda vez que eu ouço, mexe muito comigo.
P/1 – Você cantaria um trechinho?
R – Ai meu Deus!
P/1 – Ou fala um pouco pra gente sobre a letra.
R – Vou cantar, então. O refrão dela é assim (canta): “Para me curar, para me ensinar, o caminho que devo seguir, podes me usar, Senhor, como Tu bem queres, abre o meu coração...”.
P/1 – Bonita. Você lembra quando você conheceu ou quando você ouviu a primeira vez? Ou teve um momento, não sei que você ouviu pela primeira vez, mas que você escutou e fez mais sentido pra você, sabe?
R – Eu não lembro quando foi, mas foi um amigo meu que cantou e desde a primeira vez eu falei: “Nossa, que música bonita”. Mas eu não lembro quando foi.
P/1 – E nessa experiência que você teve com jovens, desde quando você é regente do coral de jovens?
R – Desde 2010.
P/1 – Além desse momento que foi de mil vozes, muito bonito, mas tece algum outro momento que te marcou, um episódio, um momento especial ou história que você tenha vivido com esses jovens?
R – Por mais que eu seja regente na parte musical, eu também me vejo ajudando muito eles na parte... Ah, eles têm algum problema eu converso bastante, eu tento ser amiga mesmo porque na minha época faltou isso. Às vezes eles não têm liberdade de conversar com os pais, têm vergonha, algum receio, então eu converso muito com eles. E aí tinha uma pessoa que estava passando por um momento muito difícil na família, o pai bebia muito e proibia a menina de ir a igreja, era muito contra isso. Aí eu fui acompanhando essa história com o tempo, conversando bastante e tal e aí do nada... Do nada, não. Depois de muita oração, essas coisas, o pai aceitou a Jesus e a vida transformou, sabe? Da água assim pro vinho ele passou a ir a igreja e largou o vício de bebida. Eu fui muito presente e isso me marcou demais.
P/1 – E na sua experiência assim, não só com o outro, mas na sua experiência tem algum momento de religiosidade que tenha sido especialmente marcante pra você, de mudança?
R – Com certeza. Meus pais se separaram quando eu tinha 12 anos. Não é fácil pra ninguém, né? Eu acredito que se eu não tivesse envolvida com igreja, com Deus, eu seria uma pessoa muito revoltada, porque é um momento de muito sofrimento. Ainda mais assim, que meu pai se mudou pra outra cidade, então eu me apeguei mesmo. Eu cresci uma pessoa... Foi mais fácil pra mim, eu acho que eu amadureci muito cedo por conta disso também. Se não fosse a igreja, Deus, eu acho que eu nem... Eu seria uma pessoa revoltada que não teria corrido atrás dos meus sonhos, teria meio que abandonado, sabe? Acho que é isso.
P/1 – E essa relação com a música, de tocar a clarineta, você lembra como é que isso começou, se foi você que pediu, seus pais que te colocaram?
R – No começo foi bem obrigada, porque com oito anos, ai, tinha que estudar. Estudar teoria musical não é muito legal, não. Ficar batendo bona lá, ficar aprendendo a ler partitura não é legal, não. Mas a partir do momento que eu peguei mesmo o instrumento, aí mudou. Aí falei: “Nossa, que legal”. Ainda mais você fazendo parte da orquestra, você vendo o resultado de tudo, aí compensou. Mas no começo não foi fácil, não.
P/1 – Vocês viajam com a orquestra?
R – A gente viaja, vai fazer apresentação em outras cidades. Mas é mais na região mesmo, né?
P/1 – Quanto tempo faz que você tá na orquestra?
R – Comecei a aprender com oito anos, com nove eu já entrei, então faz 13 anos que eu toco.
P/1 – Bastante tempo já.
R – Bastante.
P/1 – E aí você falou um pouquinho dessa fase de juventude, e do Ensino Fundamental pro Ensino Médio muda alguma coisa nas suas práticas, assim mais social mesmo, no que você faz pra se divertir no grupo de amigos tem alguma mudança? Você passa para outro colégio, o que muda na sua vida?
R – Então, quando eu tava na oitava série, meu colégio só ia até a oitava série e meu pai quis me colocar numa escola melhor pra não precisar fazer cursinho, nada. Aí eu fui estudar em Piracicaba, mesmo morando em Limeira. Então eu acordava todo dia cinco e meia da manhã, pegava ônibus e ia. Aí eu não conhecia ninguém, não teve nenhum amigo que foi junto comigo, não foi fácil, né, fazer novas amizades. Eu tava acostumada com aquele pessoalzinho desde o pré, então foi uma coisa que realmente marcou, mudou muito. Eu estava em escola evangélica antes, aí no ensino médio não era também, então eu tive que me adaptar, fazer novas amizades, a conviver mais com o pessoal que gostava mais de festa e tal, tive que me esforçar pra me encaixar nos grupos. Porque a gente sofre meio que um preconceito: “Nossa, mas que você não faz nada, tal”. Aí foi legal assim que eu aprendi bastante com eles, eles aprenderam também com o meu modo de viver diferente. Foi assim.
P/1 – Nessa transição, você lembra assim de algum episódio que tenha sido difícil de adaptação?
R – Algum episódio específico não. Eles sempre zoavam comigo, porque tinha uma festa lá: “Não, gente. Eu não quero. Eu não gosto, tal. Pode me convidar para outras coisas, mas pra isso não”. Eu sempre, mais assim, comecei a sempre levar na brincadeira, no bom humor, porque não vale a pena estressar.
P/1 – Qual foi o colégio que você foi estudar?
R – Colégio Luiz de Queiroz. CLQ lá em Piracicaba.
P/1 – E aí você fez até o final do Ensino Médio lá?
R – É. Até o final.
P/1 – E aí como é que foi esse processo de prestar vestibular? Quando foi que você decidiu onde você ia prestar e aí essa preparação e a entrada mesmo na faculdade?
R – Quando eu entrei no ensino médio foi muito difícil a adaptação, porque minha escola era mais fraca, até o ensino fundamental. Então eu tive que correr atrás de muita coisa que eu tinha perdido, o pessoal tava mais avançado que eu. Mas esse colégio é assim, até Luiz de Queiroz, é o mesmo nome da ESALQ, né? É um colégio que realmente visava passar na Fuvest. Em outras também, mas o foco era Fuvest. Então sempre tive focada. Eu prestei outros também, mas eu queria na verdade a ESALQ. Até, assim, foi uma fase muito estressante, meu Deus, muita cobrança, muita pressão porque o pessoal: “Ah, você estuda em escola particular, você vai passar”. E não é assim. Muito é psicológico. Por mais que você tenha estudado muito, na hora o seu nervosismo ali pode acabar com tudo. Assim, o terceiro ano foi muito estressante, ainda mais na fase mesmo de prova, eu lembro que, nossa, eu ficava doida estudando e tentando conciliar tudo. Foi assim.
P/1 – E aí quando você entrou na faculdade, o que mudou na sua vida? A partir da entrada da faculdade como é que foi a experiência?
R – Quando eu entrei, eu morava em Limeira e fui pra Piracicaba. Eu mudei pra lá porque eu não dirigia, não queria ir de ônibus também porque ficava muito cansativo por a aula ser o dia inteiro, né? Aí mudei pra lá e foi bem difícil assim, porque eu morava com a minha mãe, minha mãe tinha casado há uns dois anos, então sempre ali a gente junto, eu era muito dependente dela. Muito dependente. Aí eu fui pra lá sozinha, sem conhecer ninguém, e é tudo novo, né? Tudo novo, tudo novidade, muito desafio. Eu fui pra lá, tinha que limpar a casa sozinha, fazer comida, tudo isso e em casa não era assim. Nesse mesmo ano eu assumi a regência lá do coral, meu irmão nasceu no mesmo mês que eu entrei na faculdade, aí eu mudei de casa. Comecei a namorar, namoro essa pessoa até hoje. Foi assim, várias mudanças no mesmo mês, sabe? E eu acho que eu amadureci muito também nessa fase. Morei três anos sozinha em Piracicaba e depois eu voltei pra Limeira. Fiquei um ano e meio indo e voltando todos os dias, de Limeira a Piracicaba, que aí eu já dirigia melhor, tinha mais confiança, aí era melhor ficar em casa, tal.
P/1 – São cinco anos o curso?
R – São cinco anos.
P/1 – Então me deixa voltar um pouco, você citou várias coisas nesse mesmo momento, né? Eu queria que você comentasse um pouco como é que foi o nascimento do seu irmão por parte de mãe, é isso?
R – É.
P/1 – Como é que foi isso assim, ter um irmão tão mais velha, você já tava bem maior? Como é que foi a notícia da gravidez dela pra você e o nascimento dele? Como é que você se sentiu?
R – Então, desde que minha mãe casou, eu a apoiei muito, porque ela sofreu no relacionamento com o meu pai e tal. Aí eu percebi que realmente o marido dela (namorado na época) gostava muito dela, eles tinham uma relação muito boa. Aí ela casou, eu apoiei demais, e esse meu padrasto não tem filho, nunca foi casado, eu sabia que ele tinha vontade de ter um filho. Eu já tava preparada pra notícia quando eu fiquei sabendo. Minha mãe engravidou já com 39 anos, eu tinha 18 na época. Eu nunca, na verdade, quis ter irmão. Nunca quis ter irmão, gostava de ser filha única, tal, mas foi uma surpresa maravilhosa. Hoje eu sou segunda mãe assim do meu irmãozinho. Ele é o xodó da casa. Mudou a minha vida, assim. Mudou a família, porque criança traz alegria, né? Foi muito bom. Foi difícil eu morar longe e tal, tanto é que no meio de semana às vezes eu dava uma escapadinha pra casa pra visitar, porque não tem como matar a saudade, não é igual mãe, por telefone. Mas, nossa, foi demais. Hoje eu sou apaixonada pelo meu irmão. Se soubesse queria até mais.
P/1 – Você lembra como você recebeu a notícia assim da gravidez? Quando que foi, em que momento? Você lembra?
R – Ah, assim, não lembro. Específico o momento, não lembro, não.
P/1 – E do dia do nascimento? Você tava junto? Como é que foi?
R – Aí eu lembro. Fui de manhã ao hospital com a minha mãe, fique esperando no quarto todo o tempo até acabar o horário de visita mesmo, ter que ir embora. Fiquei o tempo todo junto, grudada nela.
P/1 – E você lembra qual que foi a sensação a primeira vez que você viu teu irmão? A primeira vez que você pegou nos braços?
R – Eu nunca fui muito ligada a criança, sabe? Nunca tive muita paciência, tal. Mas muda, né, quando é alguém muito próximo mesmo. Nossa, foi maravilhoso ficar pensando: “Meu Deus, como que pode sair assim uma coisinha tão perfeita”. Eu lembro assim minha mãe também amamentando, eu nunca tinha visto porque só eu. Foi bem especial o dia.
P/1 – E agora do seu namorado eu queria saber quando é que vocês se conheceram. Foi o seu primeiro namorado?
R – Não. Foi o meu segundo namorado. Na verdade a gente se conhece desde o Pré III. A gente estudou na mesma escola, mas era amigo assim. Estudou junto até a quinta série. Depois a gente distanciou e depois de um tempo, 2009 ele foi pra minha igreja. Ele também sempre foi envolvido com música, ele toca violão, canta. Aí, assim, eu tinha acabado um relacionamento recente e a gente começou a se aproximar como amigo mesmo, não enxergava ele com outros olhos. A gente virou bem amigo, tal, até que eu o vi cantando, eu falei “não!”, me apaixonei. Aí a gente começou a sair, tal, depois de uns meses ele me pediu em namoro e a gente tá junto até hoje. Faz quatro anos e meio que a gente tá junto.
P/1 – Já faz um bom tempo já.
R – É. Faz.
P/1 – Ele estuda também na mesma faculdade ou não?
R – Não. Ele faz Unicamp lá em Limeira. Faz um curso que chama Gestão do Agronegócio, que tá relacionado também. Na verdade ele era jogador de futebol até os 18, aí não estava mais feliz, tal, aí eu o incentivei a prestar. Jogador de futebol não tem muito hábito de estudar, então ele teve que correr atrás, fez cursinho um ano e passou numa pública. Ele ralou também pra caramba. E agora ele tá até fazendo intercâmbio na China. Ele tá na China morando lá um tempinho, viajando, rapidinho, intercâmbio e daqui a pouco tá de volta.
P/1 – Onde que ele jogava? Em que time ele jogava?
R – Ele começou desde novinho, saiu da casa dele com uns 14 anos, foi morar em Londrina, no PSTC que é um time de base, não tem profissional. Depois foi pro Esporte Recife, depois foi pra Santos, num time do Pelé que é um time também só de base e depois foi pro São Judas que é um time novo que tá entrando agora no profissional, um time de segunda divisão.
P/1 – Mas aí ele desistiu.
R – É. Ele não tava mais feliz. Morando longe, morando sozinho, perdeu muito tempo com a família, tal, ele quis mudar de vida.
P/1 – E aí essa entrada na faculdade você falou que teve uma série de desafios, de novidades. Eu queria que você falasse um pouco assim, quais foram as principais dificuldades, os desafios como é que você lidou com isso.
R – No início você mistura aquela empolgação, tanto de aventura quanto de “Ah, eu tou estudando o que eu gosto mesmo agora, tou no lugar que eu sempre sonhei”. Foi bem entusiasmante, só que aí também eu me sentia muito sozinha porque eu morava sozinha em quitinete. E lá na ESALQ é festa todos os dias e o povo lá não brinca de beber, não. Então foi difícil encontrar pessoas que tinham o mesmo estilo de vida que eu assim: “Vamos sair pra comer”. Aí com o tempo eu fui... Porque lá são 200 alunos de agronomia, todo ano entra. Então até você encontrar um círculo de amizade que você realmente se identifique é difícil, né? Com o tempo foi mais fácil, mas no começo era muita pessoa e eu não tenho muita facilidade em fazer amigos, eu sou tímida. Então eu tive que vencer tudo isso, mas foi bem legal.
P/1 – E o curso quando você entrou você começou a fazer o estágio logo no começo? Como é que foi? Você teve outros estágios além desse que você faz atualmente?
R – No primeiro ano eu não fiz estágio. Eu só cursei as disciplinas mesmo, aí a partir do segundo eu entrei em laboratório de pós-colheita com fruta e hortaliça. Era um laboratório de pesquisa e foi assim o meu primeiro contato mesmo com o trabalho, com responsabilidade. E era um estágio que eu fiquei um ano e meio e logo que eu ia pedir a bolsa, eu falei: “Ah, vou ficar aqui só?”. Se pedir a bolsa, eu ia tentar Fapesp, CNPQ, e o projeto já tava em andamento na verdade, mas se eu pedisse, eu ia ter que ficar mais um ano e eu queria estagiar em outras áreas. Aí eu mudei de estágio.
P/1 – Não era remunerado esse primeiro?
R – Não. Era mais pelo prazer mesmo (riso).
P/1 – E como é que foi a experiência? Qual que era a sua função? O que eram as atividades do estágio?
R – Foi um estágio que o pessoal... Eu tinha dó de sair por causa das amizades que eu tinha feito. Um pessoal muito legal, todo mundo assim ajudava todo mundo. Na maioria dos estágios lá da ESALQ, a gente sempre ajuda doutorandos, mestrandos. Isso é meio que, assim, fazer as coisas chatas, lavar louça. Lá não, assim, tinha um dia de análise tipo de manga, por exemplo, juntava todo mundo do laboratório e fazia, não importava o que. Então eu vi, eu aprendi muito com eles a trabalhar realmente em equipe, a assumir responsabilidade, sabe? Foi um ambiente de trabalho maravilhoso. As atividades, cada dia a gente fazia uma coisa diferente, não tinha aquela coisa: “Você é responsável por isso”. Não. Conforme surgia a necessidade, assim: “Não, eu posso fazer isso”. Entendeu? Foi uma experiência muito legal.
P/1 – E aí quando você resolveu mudar, como é que foi isso?
R – Eu queria fazer um estágio na área do meu pai, na área de citros. Mas na ESALQ é assim, a área de citros é mais a área de pesquisa mesmo, campo não tem, na área de produção de citros. Eu fui fazer, mas eu não gostei que era com transformação genética, esses negócios eu não gosto, sabe, de biotecnologia, essas coisas. Eu fiquei pouquinho tempo, tentei me adaptar, realmente não gostei porque era só dentro de laboratório mesmo. Era muito desgastante, não gostei, não. Eu saí desse estágio, fiquei um tempo sem fazer nada, depois eu fui procurar outro estágio e eu fui com a professora Simone, que acho que vocês entrevistaram, né? Era um grupo bem legal, é um grupo de campo mesmo, de pesquisa e campo com hortaliças também, que é uma área que eu gosto muito. E era um grupo muito legal aqui também, era o mesmo estilo do outro, todo mundo fazia tudo, não tinha nada das atividades chatas de estagiário. A gente tomava conta de tudo, a professora é muito próxima dos alunos, então qualquer dúvida que a gente tinha a gente recorria a ela e ela sempre tá pronta a atender, mas era a gente que colocava a mão na massa mesmo. Foi muito legal, consegui conciliar tanto a parte de laboratório, de pesquisa, quanto campo, que é fundamental na formação do agrônomo.
P/1 – E aí quando você fala de campo só descreve um pouco pra gente em linhas gerais o que seria atividade de campo num estágio como esse, por exemplo, com as hortaliças.
R – Nesse estágio é um grupo de pesquisa com hortaliças. Então a gente tinha contrato com empresas privadas e até mesmo projetos de pesquisa do pessoal de graduação e pós-graduação. A gente fazia desde a área de produção de mudas de hortaliças até a área de obter o produto final mesmo. Então todos os tratos culturais, adubação, preparo de solo, tudo era a gente que fazia, tudo. Então lá o forte do grupo é área de tomate, aí faz parceria com empresas assim importantes. E tomate é uma cultura assim que demanda muito trato cultural, é assim: de um dia pro outro uma doença pode acabar com tudo. Então a gente tava sempre em cima. E lá também é um grupo que visa produção em ambiente protegido, em estufa e também com sistema hidropônico. É bastante inovador pra essa área.
P/1 – E essa parte de campo é feita onde? É dentro da própria ESALQ ou não? Vocês trabalham, no caso desse estágio específico, com pequenos produtores?
R – Não. É dentro da ESALQ mesmo. É uma área assim, cada professor tem uma área específica que pode trabalhar. O da Simone é bem ampla a área, muitos viveiros e é bom que é pertinho, né? Então a gente tá ali, tá na aula, acabou a aula: “Deixa eu ir lá ver como é que está meu experimento”, sai e vai ver. Então permite contato direto sempre.
P/1 – Esse estágio com a Simone já era remunerado?
R – Não também. Só se você conseguisse bolsa e tal. Eu entrei já perto de conseguir esse outro estágio profissionalizante, que no último semestre a gente não tem disciplina, então eu não quis me envolver. Eu ajudava com todos os projetos, foi legal porque eu não fiquei só em um, eu podia ajudar em todas as culturas e eu não tinha intenção de pedir bolsa, não.
P/1 – Você ficou quanto tempo? Você falou um ano e meio nesse?
R – Não. Nesse eu acho que foi um semestre só.
P/1 – E aí depois você já veio pro estágio que você tá fazendo atualmente, é isso?
R – É.
P/1 – E aí como é que você começou nesse estágio atual? Como é que você ficou sabendo? Como que foi todo o processo?
R – Então, depois do estágio com a professora Simone assim, eu fiz disciplina com ela também na área de hortaliças e a gente sempre tava em contato. Na ESALQ eles têm uma facilidade muito grande de comunicação, de oportunidade de estágio, trainee, essas coisas. E eu na procura lá de estágios, e eu nunca gostei assim de grandes culturas, soja, cana, nunca gostei. Eu gosto mais assim de ter contato mesmo direto, o outro é muito mecanizado, né? E é só também no Mato Grosso, Goiás, eu nunca quis ir muito pra longe. Aí eu vi oportunidade de estágio na Nestlé, eu recebi o e-mail, vi lá que era a professora Simone, fui conversar com ela para ver como que eram as atividades e tal. Aí ela me incentivou falando que eu ia realmente gostar e aí eu participei do processo que foi realizado lá dentro da ESALQ mesmo. No dia lá tinha acho que por volta de uns 15 alunos participando junto comigo, e eu já tinha feito um monte de processo seletivo. Ela fez a entrevista e eu tava bem calma, ao contrário dos outros dias. Tava bem calma, o João também estava presente e eu me identifiquei muito com a apresentação que eles fizeram, falei: “Nossa, seria muito legal conseguir conciliar a experiência de trabalhar numa empresa com algo que eu realmente gosto”. Aí eu fui selecionada, agora eu tou aqui.
P/1 – Qual era a proposta? Explica um pouco pra gente. Você falou da apresentação, qual que é a proposta desse programa de estágio?
R – A Nestlé formou uma parceria com a ESALQ já há muitos anos de sempre fornecer um estagiário para fazer o link entre a faculdade e a empresa. Então os produtores que fornecem os produtos, a matéria prima pra Nestlé, são todos pequenos produtores, agricultura familiar e eles não têm muito acesso a tecnologias novas. Até mesmo coisas simples como análise de solo, eles não têm muito esse costume de fazer. Então eu com a ESALQ possibilitei a eles fazer uma melhor produção, a dar assistência técnica, tanto na área de recomendação do solo, de adubação, quanto a: “Ah, tem tal doença, sabe? Tá surgindo uma variedade nova de determinado produto”. Então eu faço esse link, tanto entre a ESALQ por meio dos professores que têm acesso, experiência com esses produtos que os produtores produzem.
P/1 – Conta um pouco como é que é assim o cotidiano de trabalho do estágio. Qual é o contato que você tem com os produtores? Como que é esse contato?
R – Então, geralmente... O bom assim que eu gosto do estágio é que linkar tanto a parte administrativa assim dentro da empresa mesmo, dentro da fábrica, quanto o contato com os produtores. Então geralmente a gente sempre divide o dia, de manhã a gente fica na empresa, faz mais a parte burocrática que é fundamental também. Eu ajudo o João não só com o projeto, mas em tudo assim que ele precisar. E geralmente à tarde a gente vai visitar os produtores. Então tem uma salsa, por exemplo, que tá pra ser colhida: vamos ver a qualidade, vamos ver se aguenta até determinado período mesmo, não, vamos ver se precisa adiantar. E a gente tem muito... Eu faço um projeto específico pra ESALQ, projeto de pesquisa, e eu fiz amizade com uma família e hoje é assim, eu tomo café com eles, sai bolo eu vou lá como, sabe? É um contato muito legal, uma experiência muito boa.
P/1 – Esse projeto que você faz específico pra ESALQ você utiliza dados dessa sua experiência no estágio, é isso?
R – É um projeto que é mais particular, mas que no futuro vai ser aplicado para os produtores. É um projeto que avalia a margem de absorção de nutrientes pra cultura da salsa. A salsa é uma cultura que não tem muitos dados na bibliografia, então o objetivo desse trabalho é quantificar o quanto de nutriente que a salsa absorve, consegue reter em todas essas fases. Então no começo da cultura até os dez dias, ela precisa de tanto de nutriente. Então o produtor vai lá e fornece só aquilo, que aí também diminui os produtos que eles usam, diminui o custo pra eles, aumenta a produtividade, porque às vezes eles colocam produto a menos ou produto a mais, que é prejudicial pra cultura e diminui a rentabilidade deles também, né?
P/1 – Então você tá fazendo essa pesquisa, a ideia é que ela em algum momento seja aplicada.
P/1 – E aí você falou um pouco do cotidiano de trabalho, você tem uma parte mais administrativa e uma parte de campo, não sei se a gente pode chamar de campo.
R – É.
P/1 – Eu queria que você descrevesse um pouco mais como é o trabalho mesmo pra gente entender o que significa, qual que é esse trabalho junto com os produtores, que tipo de coisa vocês orientam ou verificam. Se você lembrar também de alguma história mais concreta para dar como exemplo pra gente dessa parceria.
R – Por exemplo, recentemente eles estão querendo mudar, testar na verdade, uma variedade nova de um produto lá que chama aipo. Aí eles avaliaram, fizeram o teste em campo, eu fui lá, ajudei a coletar, pesar com eles; a gente obteve um resultado, mas agora tem que ver pra Nestlé se vai ser bom ou não. Então eu pego essas plantas, levo lá pra um laboratório que tem em Piracicaba pra fazer avaliação de análise foliar. Então vai quantificar o quanto que tem de determinado nutriente, que é o que realmente interessa pra Nestlé. Por meio de mim, eles conseguem ter esse acesso e verba pra fazer essas análises. Então vai começar um cultivo em outra área, aí eu pego, coleto uma análise de solo, uma amostrinha de solo pra fazer análise, levo pra Piracicaba também. Aí eu obtenho os resultados, faço recomendação de adubação e dou pra eles, aí eles colocam certinho, junto com a ajuda do professor, é claro.
P/1 – Você diz pra eles, pros produtores?
R – Para os produtores. É.
P/1 – E nesse tempo que você tá no estágio, pensando nas suas atividades, que importância você acha que tem essa relação sua com os produtores tanto pra você quanto pros produtores que recebem essas visitas e orientações?
R – Eu acho que pra mim é uma experiência muito legal, tanto assim na área de conhecimento técnico mesmo, eu poder aplicar tudo que eu acumulei na faculdade e contribuir pra ajudá-los na produção, quanto assim o contato pessoal. Eu acho que você cresce muito tendo contato com esse pessoal, os agricultores que são muito simples. Você aprende muito com eles a tratar mesmo as pessoas, eles são diferenciados assim. Eles também, acho que por ter esse contato com a gente, ver a universidade com eles e a Nestlé ter só um programa pra isso, acho que eles se sentem muito valorizados também, o trabalho que eles exercem e a importância que eles têm pra indústria, né? Eu acho que é comprovada só por meio disso.
P/1 – E aí fruto dessa parceria, a Nestlé, a ESALQ e os produtores, queria que você dissesse pra mim um pouco assim, qual que é o impacto que tem na cultura de leguminosas em geral. Você lida especificamente com salsa, é isso? Com hortaliças?
R – É.
P/1 – Em termos de produtividade, se tem um impacto de produtividade, se tem um impacto de qualidade e se tem um impacto de rentabilidade mesmo, nesses três aspectos. Se tem uma mudança, se tem algum impacto, e em que sentido.
R – Então, eu não lembro agora dados, mas a gente tem uma avaliação do quanto que aumentou a produtividade desde o começo da parceria até hoje. E, assim, é gritante. Porque agora que tá começando a se formar o setor agrícola na Nestlé de Rio Pardo. Então muita coisa era feita por conhecimento empírico, não tinha nenhum embasamento técnico. Por meio desse projeto da ESALQ com a Nestlé é possível levar mais conhecimento e boas práticas também pros agricultores. Hoje a gente tenta incentivar o uso de EPI, de coisas básicas que nas grandes propriedades já tem e nos pequenos agricultores ainda não é possível ver em 100%. Eles estão conseguindo ter a noção de que é importante a segurança. E nisso também, em relação à rentabilidade, igual eu disse anteriormente, eles aplicando certo os produtos, os adubos, fazendo as pulverizações corretas, eles conseguem diminuir o custo da produção e aumenta muito pra eles. E também a Nestlé incentiva por meio de maior valor mesmo que eles pagam pelos produtos, a adoção de melhores práticas.
P/1 – E em termos de qualidade assim?
R – De qualidade também. É gritante a diferença. Porque antes... Hoje é a Nestlé que fornece todas as sementes e mudas pros agricultores. Então a Nestlé tá habituada e em contato direto com as variedades novas, que são mais adaptadas à região. Ah, tem uma variedade nova que é mais resistente a determinada doença que tá com foco aqui na região, por exemplo, então por meio disso o produto chega muito melhor pra Nestlé e a gente consegue também ter mais um controle, controle também. Porque a gente também está a todo o momento, se tá colhendo determinada área a gente tá lá pra ver como que tá saindo, entendeu? Antes não, se eu quero tanto de produto, chega na empresa você não sabe nem que origem que foi. Então é fundamental a rastreabilidade e tudo.
P/1 – E você falou que a Nestlé fornece mudas e sementes. Você sabe da onde vem essas mudas e sementes?
R – Vem de dois viveiros na verdade, esse que a gente tá, o viveiro acho que Sementes Rio Pardo, e o Viveirão que são os dois em São José do Rio Pardo mesmo. Então a Nestlé compra as sementes, fornece pro viveiro e o viveiro forma, né?
P/1 – Mas os viveiros estão vinculados a Nestlé? Como é que é isso?
R – Não. São independentes.
P/1 – São viveiros independentes com os quais a Nestlé trabalha, é isso?
R – Exatamente.
P/1 – E aí pensando um pouco assim, pra você como profissional com esse estágio, o que você acha que isso colabora pra tua vida profissional, se muda ou se mudou alguma coisa nas suas perspectivas de carreira, se você aprendeu alguma coisa com essa experiência. Qual que é avaliação que você faz?
R – Então, acho que com certeza mudou, está mudando minha vida. Porque nos cinco anos de formação a gente tem quatro anos e meio de disciplina só. Então por mais que nos últimos semestres a gente puxe só matéria que realmente goste, só matérias optativas, eu acho que é fundamental você conseguir ter a experiência mesmo de trabalho. Porque é totalmente diferente um estágio dentro da ESALQ e um estágio em uma empresa, é muito mais amplo, exige muito mais responsabilidade e contribui mesmo pra você ser um profissional mais preparado. Tanto na parte também pessoal, não só na profissional, eu acho que agrega demais, ainda mais esse contato com o pequeno agricultor. É muito legal, muito legal. Você se desenvolve demais, você aprende a se relacionar muito melhor. Acho que é isso.
P/1 – Você lembra assim desse seu contato com os pequenos agricultores, produtores, de algum momento que tenha sido um episódio, alguma história que você tenha vivido que tenha sido especial ou alguma família específica, algum produtor em específico?
R – Meu projeto é na área do senhor Natalino Blashi. Eu acho muito legal a família deles, que você vê, eles moram tudo no sítio lá e é o vô, a vó, eu até os chamo de vô e vó mesmo, vô, vó, o neto, a esposa Silvana e o filho que é o Dimas. E, assim, eu chego lá e eu... Uma vez eles estavam colhendo, então não tinha ninguém pra me ajudar a coletar minha salsa. Eu falei: “Não, pode continuar, eu vou sozinha”. E aí a irrigação tava ligada, a irrigação é por cima, é por aspersor, e eu saí de lá ensopada, ensopada. Aí eu cheguei na casa deles depois e eles: “Nossa!”, ficaram supermal porque eu tinha me molhado, queriam que eu tomasse banho na casa deles, queriam até emprestar roupa assim. Eles são muito solidários, sabe? Foi uma experiência muito legal que me marcou, pra você ver que eu nem os conheço muito há tanto tempo assim e eles dão assim total liberdade, ajudam no que for necessário. É muito legal.
P/1 – Você acha que o contato com eles você sente uma diferença de quando você chegou a primeira vez pra hoje? Como é que foi que eles te receberam no começo do projeto?
R – No início eles ficam meio receosos. Só por você falar que vem de cidade grande, faz universidade, aí eles ficam meio tímidos, não sabem muito bem como tratar, por mais que eles tentem te tratar da melhor maneira possível. E eu fui tentando assim, dar total liberdade pra eles. Hoje é totalmente diferente, eu chego, abraço a vó, a Silvana, abraço eles e eles ficam brincando comigo. Então é um contato com bem mais liberdade, bem mais gostoso.
P/1 – Eu vou encaminhando pras perguntas finais agora. Eu só quero voltar pra uma coisa que ficou lá atrás que eu queria ter te perguntado e não perguntei.
R – Tá.
P/1 – Se quando você era pequena, a gente falou um pouco da alimentação na infância e tal, vocês tinham o hábito de comer leguminosas?
R – Então, minha mãe sempre teve, o meu pai. Eu não gostava. Não tinha coragem de experimentar. E aí conforme o tempo foi passando eu fui vendo realmente a necessidade. Eu sempre fui muito pra fruta assim; fruta qualquer uma eu amo, agora hortaliça assim eu já não era muito fã, não. Quando eu entrei na faculdade eu lembro que eu comia arroz, feijão, mistura e farinha, era essa a minha alimentação. Eu cheguei lá era bandeja, né? Aí ficava só um quadradinho assim ocupado, falei: “Nossa, vou passar vergonha aqui”. Aí comecei a comer. Hoje eu como de tudo, de tudo. Amo hortaliça. Meu Deus!
P/1 – Então mudou a sua alimentação a partir da faculdade.
R – Totalmente. Da faculdade. E eu também fui acho que adquirindo a consciência de que eu precisava me alimentar melhor, que até determinado tempo eu não ligava. Aí eu fui realmente: “Não, eu preciso cuidar melhor da minha saúde e tal”. Aí eu melhorei.
P/1 – E você tem preferidas?
R – Tenho. De folhas é rúcula e couve, amo couve refogada. E refogadinho assim de tudo, de abóbora, mandioquinha. Nossa, eu amo! Não pode faltar no prato hoje.
P/1 – Mudou bastante.
R – Mudou completamente.
P/1 – Tá bom. Vou encaminhar pras finais então, antes são duas perguntas finais assim de encerramento, eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar. Qualquer coisa.
R – Não. Acho que não.
P/1 – Não? Você acha que tudo que você gostaria de dizer foi dito ou foi perguntado?
R – Eu acredito que sim.
P/1 – Agora eu me lembrei de outra coisa, esse estágio na Nestlé é remunerado, né?
R – É.
P/1 – Aí eu queria saber o que você faz com a sua bolsa ou se você comprou alguma coisa que você queria muito, como é que você usa esse dinheiro. Como é que você usou a primeira bolsa que você recebeu?
R – Ainda não caiu o primeiro dinheiro, mas eu não tenho um projeto... Na verdade quando eu me formar eu quero ser produtora, não quero trabalhar muito em empresa, não. Na verdade eu to juntando dinheiro. Eu não tenho pretensão de gastar, não. Vou juntar mesmo (riso).
P/1 – Mas você tá juntando porque você tem alguma coisa em mente já, tem um plano para esse dinheiro?
R – É. Na verdade eu tenho vontade de ter assim dentro da minha cidade mesmo uma produção de hortaliças hidropônicas. Assim, o investimento não é muito alto e eu já tenho assim um dinheirinho guardado. Minha intenção é essa, com o tempo montar o meu próprio negócio assim.
P/1 – Tá bom. Então eu vou fazer as duas perguntas finais e a primeira é quais são os seus sonhos.
R – Meus sonhos. Vamos ver. Ah, na área profissional é continuar trabalhando com aquilo que eu gosto, né? Acho que é fundamental, aí não se torna um trabalho mesmo, você trabalha por prazer. Assim como eu vejo o meu pai, domingo a domingo, não é por necessidade, alguém poderia estar fazendo o serviço dele, é por realmente prazer. Quero me encontrar mesmo. Outro grande sonho é constituir uma família mesmo, uma família feliz, casar que já tá na hora daqui a pouco já. É isso. Ter momentos, saber dividir trabalho e relacionamentos, acho que é fundamental isso. É isso. Eu não sou muito ambiciosa, não.
P/1 – E por fim como é que foi contar a sua história?
R – Foi novidade, porque eu acho que nunca contei com tantos detalhes pra alguém. Foi legal relembrar muitas coisas que eu nunca mais tinha falado sobre, nem lembrado. Muito bom.
P/1 – Tá bom. Obrigada então, a gente encerra aqui.
R – De nada.
FINAL DA ENTREVISTA
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