Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores
Pronac 128.976
Depoimento de Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo
Entrevistado por Teresa Ruiz
Floreal, 3 de julho de 2014
NCV_HV_031_ Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
P/1 – Então primeiro, Leonardo, eu vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Então, meu nome é Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo, eu nasci na cidade Nhandeara, São Paulo, na data de 12 de julho de 1986.
P/1 – E agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e, se você se lembrar também, a data e local de nascimento dos dois, só se você se lembrar, senão é o nome completo.
R – Bom, minha mãe chama Ilma Garcia de Almeida Rossignolo, nascida na cidade de Floreal, dia 25 de janeiro de 1963.
P/1 – O teu pai?
R – O meu pai Adécio Antônio Rossignolo, nascido na cidade de Floreal também, São Paulo, na data de 12 de junho de 1953.
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem? Não sei se eles ainda trabalham.
R – A minha mãe, ela leciona na área de Português e Inglês, e o meu pai é pecuarista, na região de Andradina e também aqui na região de Floreal, aqui, a cidade aonde a gente se encontra hoje.
P/1 – Como é que eles são, assim, de temperamento, de jeito?
R – São pessoas extremamente fáceis de lidar, pessoa muito querida por todo mundo. Eu falo isso não por motivo de ser filho, né, mas porque as pessoas demonstram isso. Eu sou um tanto quanto suspeito a falar, porque são meus pais, né, então não teria, mas são pessoas, não tenho nem palavra pra descrevê-los, a verdade é essa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho mais dois irmãos.
P/1 – Qual que é o nome? O que os seus irmãos fazem?
R – Somos em três homens na família, Marcelo e Eduardo, o Marcelo seria o meu irmão do meio e o Eduardo o mais novo. O Marcelo, ele tá...
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Projeto Nestlé Ouvir o Outro – Compartilhando Valores
Pronac 128.976
Depoimento de Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo
Entrevistado por Teresa Ruiz
Floreal, 3 de julho de 2014
NCV_HV_031_ Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
P/1 – Então primeiro, Leonardo, eu vou pedir pra você falar pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Então, meu nome é Leonardo Henrique de Almeida Rossignolo, eu nasci na cidade Nhandeara, São Paulo, na data de 12 de julho de 1986.
P/1 – E agora o nome completo do seu pai e da sua mãe e, se você se lembrar também, a data e local de nascimento dos dois, só se você se lembrar, senão é o nome completo.
R – Bom, minha mãe chama Ilma Garcia de Almeida Rossignolo, nascida na cidade de Floreal, dia 25 de janeiro de 1963.
P/1 – O teu pai?
R – O meu pai Adécio Antônio Rossignolo, nascido na cidade de Floreal também, São Paulo, na data de 12 de junho de 1953.
P/1 – O que os seus pais faziam ou fazem? Não sei se eles ainda trabalham.
R – A minha mãe, ela leciona na área de Português e Inglês, e o meu pai é pecuarista, na região de Andradina e também aqui na região de Floreal, aqui, a cidade aonde a gente se encontra hoje.
P/1 – Como é que eles são, assim, de temperamento, de jeito?
R – São pessoas extremamente fáceis de lidar, pessoa muito querida por todo mundo. Eu falo isso não por motivo de ser filho, né, mas porque as pessoas demonstram isso. Eu sou um tanto quanto suspeito a falar, porque são meus pais, né, então não teria, mas são pessoas, não tenho nem palavra pra descrevê-los, a verdade é essa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho mais dois irmãos.
P/1 – Qual que é o nome? O que os seus irmãos fazem?
R – Somos em três homens na família, Marcelo e Eduardo, o Marcelo seria o meu irmão do meio e o Eduardo o mais novo. O Marcelo, ele tá estudando Engenharia Elétrica na cidade de Campo Grande, na Federal do Mato Grosso do Sul, e o Eduardo faz Veterinária, também na Federal do Mato Grosso do Sul.
P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família?
R – Sim, como sei, italiana! O pessoal é da Itália. O meu finado bisavô, ele veio da Itália de navio e tudo mais, ele veio descendente de lá, o nome Rossignolo é descendente da Itália. Até existem parentes nossos lá, lógico, na qual a gente não tem contato, até por motivo de distância e vários fatores que podem distanciar o parentesco, mas a gente tem parente lá sim, na Itália.
P/1 – Você sabe de que região que é, não?
R – Não sei te informar.
P/1 – Por que ele veio, o teu bisavô? Você já escutou essa história?
R – Não, também não sei a história, eu não sei porquê que ele imigrou pra cá, mas sei que ele veio e montou família pra cá.
P/1 – Você sabe, quando ele chegou no Brasil, com que ele foi trabalhar?
R – Poxa vida, não sei te responder, isso talvez o meu vô, que é filho dele, responderia, mas eu não sei te responder.
P/1 – Não conhece a história?
R – Não, são detalhes que eu nunca me aprofundei na verdade, sabe, são detalhes bastante superficiais no meu dia a dia, mas não tenho conhecimento sobre isso, sei que ele veio de lá, mas não sei fazer o que.
P/1 – Tudo bem, sem problemas. Eu queria que você contasse um pouco pra gente como é que era a casa onde você passou a infância, descrevesse mesmo a casa, o bairro, a cidade.
R – Certo, bom, como eu já falei em perguntas anteriores, eu nasci na cidade de Nhandeara, uma pacata cidade do interior de São Paulo com aproximadamente 10 mil habitantes, uma cidade muito tranquila, boa de viver, tá? E, assim, talvez por motivo da cidade ser um tanto quanto pequena, eu tive sempre um bom relacionamento com as pessoas de lá. A casa onde eu nasci e morei até os meus 18 anos, que foi o período que eu vivi em Nhandeara, uma casa muito simples, mas muito aconchegante também. O meu pai e minha mãe nunca deixaram faltar nada pra gente, total conforto na verdade, certo, uma casa toda mobiliada, montada, um quarto com televisão no quarto, banheiro e tudo mais, bastante aconchegante.
P/1 – Nessa fase de infância, como é que eram as refeições na sua casa, na sua família, quem que cozinhava, o que vocês comiam?
R – (risos) Olha, na verdade, assim, nós somos bastante tradicionalistas, comida que a gente mais gosta: arroz, feijão, um bife com cebola e uma batata frita, acompanhado de um belo suco natural de laranja aí, certo. E cozinhar, assim, como a minha mãe e meu pai sempre trabalharam fora, nós aprendemos a cozinhar desde muito cedo. E a regra lá em casa era o seguinte, aquele que chegasse primeiro fazia a comida pra todo mundo; e quem chegava depois limpava a casa, pra hora que a minha mãe chegar ela não precisar se importar com questão de casa, certo? E assim a gente foi vivendo e crescendo e tudo mais, um ajudando o outro, bastante companheirismo dentro da família. Como os meus pais trabalhavam fora, tinha que ter esse companheirismo, porque a gente tinha que ajudar eles, né, pra tá tudo, vamos dizer assim, tudo se regulamentando legal. E era assim, nunca tivemos frescura pra comer: “Ah, isso eu não como”, não, a gente, tudo que vem da terra a gente come, na verdade, não tem, e cozinhar, aquele que chegar primeiro cozinha (risos).
P/1 – Desde que idade vocês ajudam na casa?
R – Olha, desde uns 13 anos, 14 anos a gente já ajuda, tanto é que, como eu comentei, os meus irmãos moram fora e eles não se apertam, um vai fazer 22 anos e o outro fez 20, tá, e eles, tranquilo, lavam a própria roupa, cozinham e tudo mais.
P/1 – Aprenderam desde pequenos.
R – Desde pequeno, um foi passando pro outro na verdade.
P/1 – E o momento da refeição, vocês comiam juntos, se reuniam na mesa?
R – Sim, a preferência sempre a gente se reunir na mesa, fazer as refeições juntos, discutir alguma coisa, vamos dizer assim, algum assunto referente no dia a dia da família. Mas na maioria das vezes sim, mas, às vezes, por motivo de compromissos fora de casa, às vezes, não dava pra gente se reunir, mas final de semana sagrado, isso daí sem dúvida alguma.
P/1 – E aí essas reuniões de final de semana era você, seus irmãos, pai e mãe ou tinha mais gente?
R – Às vezes o pessoal vinha, vinha os parentes do lado do meu pai, também do lado da minha mãe, variava muito, vou ser sincero. Mas, assim, na maioria das vezes era mais a gente mesmo.
P/1 – Na tua família tinha alguém que tinha o hábito de contar história, alguém que conta causo?
R – Com certeza! Tem o meu vô, que ele é demais, sabe? Ele conta bastante causo, até mesmo por ser uma pessoa que passou por muita coisa na vida. Hoje ele vai fazer 86 anos e na verdade não contando causos e sim a sua história de vida. Ele adora isso daí na verdade, é ele que sempre, até hoje, nos diverte, conta as suas histórias, tá, seria ele, a pergunta que você me falou.
P/1 – Você se lembra de alguma história do teu avô que seja marcante?
R – Com certeza.
P/1 – Conta pra gente.
R – Sim. Eu sempre, sempre, sempre ajudei meu vô, e até hoje eu ajudo ele, na verdade. Assim, minha família pra mim é tudo! E aí, quando eu falo minha família, desde minha esposa, meu filho, minha mãe, meu pai, meus irmãos, meus avós e até mesmo meus parentes. E o meu vô conta, quando eu era criança, nós íamos pro sítio, como até hoje a gente vai junto, hoje, coitado, ele já tá de idade, né, nem pode mais tá lidando com o gado, trabalhando no serviço e tudo mais. Mas ele conta que ele tinha que ficar me segurando pra mim, muito pequeno, né, por motivo, risco mesmo até, ele tinha que me segurar pra mim não entrar no meio do rebanho e ajudar ele a mexer com o gado e tudo mais, tá? E, assim, uma das histórias mais marcantes que ele me conta é que, na verdade, assim, de todo mundo que já trabalhou com ele, isso ele dá exemplos, eu e ele é que mais deu certo a gente trabalhar, e aí ele puxa vários causos que aconteceu com a gente, tá?
P/1 – Conta algum, você lembra algum desses causos?
R – Eu lembro sim (risos), como lembro (risos), talvez o fato que mais marcou, quando a gente tava junto, a gente estava se deslocando pro sítio dele, na época eu devia ter uns 13 anos, se eu me lembro bem, e por um motivo lá veio o motorista com um ônibus atrás da gente. Esse motorista, possivelmente embriagado – a gente não pode, né, concretizar, então possivelmente, porque até hoje ninguém provou nada – veio e bateu na traseira do nosso carro e a gente foi lançado fora da pista mesmo e paramos lá, os dois muito assustados. Isso é o causo que, assim, mais marcou, porque a gente tava junto ali, entendeu, e graças a Deus nada de muito ruim aconteceu, mais danos materiais mesmo. É essa história que marcou, se você chegar nele e perguntar hoje, eu tenho certeza que ele vai falar: “Ó, uma vez eu e o Léo tava indo pro sítio, assim, assim, assado” e aconteceu isso daí.
P/1 – Que sítio que era esse, Léo?
R – É o sítio do meu vô, na região aqui de Floreal.
P/1 – Seu avô paterno ou materno?
R – Paterno.
P/1 – Ele sempre teve esse sítio, desde que você nasceu?
R – Desde que eu nasci, eu me lembro que sim. Eu acho que antes de eu nascer ele já tinha, na verdade.
P/1 – Como é que é esse sítio, tem um nome?
R – Tem, mas agora eu não me recordo, porque, assim, esse sítio, ele possui atividade de gado de corte e de um tempo pra cá ele passou a ser cana, pecuária de cana-de-açúcar na verdade, e nessa migração trocou de nome e eu não vou saber te informar.
P/1 – Não tem problema. Conta pra mim como é que era esse sítio quando você era pequeno.
R – Ah, era muito gostoso, sabe, a gente ia pra lá, se divertia bastante, andava a cavalo, mexia com o gado e tal. Um sítio de interior, bem montado, com uma boa estrutura, um bom curral, na verdade, pra gente lidar com os animais. E eu sempre gostei, então eu lido com animais desde pequeno, até mesmo porque o meu pai também possui animais. E aqui nesse ambiente onde a gente tá é um ambiente bastante, tudo tem um motivo na vida, a verdade é essa, e o motivo por eu escolher esse local aqui é que fazem dois anos que eu perdi a minha avó por parte de mãe e esse local aqui me faz lembrar muito dela, porque é onde ela praticamente nasceu e criou e onde a gente, vamos dizer assim, passamos vários momentos aqui.
P/1 – Qual é o nome dela?
R – Dona Maria, Maria das Dores de Almeida, mais conhecida aqui na região como Dona Maria Garcia, certo?
P/1 – Você tem uma recordação mais marcante dela, uma história que vocês tenham vividos juntos, uma coisa que você sempre se lembra?
R – Eu tenho, mas eu não gostaria de falar.
P/1 – Tudo bem.
R – Tá?
P/1 – Claro.
R – Porque me dói muito ainda.
P/1 – Claro.
R – Certo, eu não quero... Bom, enfim.
P/1 – Não é o momento de falar nisso.
R – Não, tá, não é o momento.
P/1 – Tudo bem. Eu queria te perguntar, você falou que você ajudava muito o seu avô, né?
R – Sim.
P/1 – Vocês eram parceiros mesmo nesse sítio.
R – Opa!
P/1 – Que tipo de atividades, assim, você ajudava?
R – No que você imaginar, desde pegar numa enxada e nós trabalharmos junto no campo até montar em cima de um cavalo, buscar um gado e tudo mais. O que você imaginar, desde trator até o gado, até mesmo na parte de manutenção, de benfeitorias, que no sítio tem muito desse trabalho quanto a isso, né, e no que você imaginar mesmo (risos).
P/1 – Nessa fase de infância, Leonardo, quais eram as brincadeiras, do que você brincava, com quem você brincava?
R – Olha, na minha época ainda existia brincadeira de esconde-esconde, brincadeira de bate, jogava bola na rua, soltar pipa, eu soltei muita pipa na vida, brincar de terra no barro, todas as brincadeiras de crianças que hoje a gente não vê muito mais, que as crianças na rua e tudo mais, até por conta da mudança da faixa etária mesmo, mas todas as brincadeiras que você imaginar de criança eu já brinquei.
P/1 – Tinha uma preferida?
R – Opa, muito, (risos) é soltar pipa, eu adorava soltar pipa (risos).
P/1 – Dessa fase de infância, das brincadeiras, você se lembra de alguma história, uma história que ficou pra família, às vezes, uma coisa que você vai contar pros seus filhos?
R – Sim, lembro, lembro e eu até já contei pro meu filho, na verdade. Na época de São João a gente soltava muita bombinha, aqueles traques, sabe? E do lado da casa onde eu morava existia um terreno, então um terreno no qual hoje é uma construção, mas na época ele tinha bastante grama e tudo mais. E eu soltei uma bomba nesse terreno e pus fogo no terreno. Olha, eu vou te falar, é a história que mais marcou, porque (risos) foi uma correria. Eu fiquei desesperado, porque na verdade eu era novo, né, não sabia muito bem o que tava acontecendo e esse foi um dos acontecimentos que mais marcou minha infância aí, de artes.
P/1 – Mas o que aconteceu, você botou fogo e como é que foi? Conta pra gente.
R – Ah, aí a gente pegou a mangueira e apagamos, mas, olha, deu trabalho (risos).
P/1 – Alastrou assim?
R – Não, não, nada muito grave, mas, assim, como foi uma brincadeira de criança, pra gente era algo muito acima. Até mesmo os adultos deram risada e por fim tudo virou um motivo de brincadeira, lógico, passado pra gente o verdadeiro acontecimento ali, mas instruindo a gente pra que não acontecesse de novo. Mas ao final tudo virou uma brincadeira, mas marcou muito, porque (risos) você imagina, né?
P/1 – O susto.
R – É o susto, foi isso mesmo.
P/1 – Você voltou a soltar bombinha depois disso?
R – Depois de muito tempo, depois de grande só (risos), até hoje eu falo, quando eu vejo alguém eu falo: “Ó, cuidado que isso pega fogo” (risos).
P/1 – É perigoso.
R – É realmente.
P/1 – Leonardo, a sua família tinha o hábito de beber leite?
R – Sim, até hoje, até hoje.
P/1 – Em que refeição vocês tomavam leite? Como é que preparavam?
R – Café da manhã. Eu tomo leite a qualquer momento, até hoje, o meu filho também, ele toma bastante leite, você entendeu? O único que gosta menos de leite é o meu pai, mas ele toma, ele ingere leite também.
P/1 – Vocês tomavam como, como é que era preparado o leite na tua infância?
R – Com Nescau e açúcar (risos), Nescau e açúcar.
P/1 – Você sabe onde vocês compravam o leite que vocês consumiam na tua família?
R – Olha, na época nós produzíamos leite e a gente trazia direto do curral. Hoje a gente compra, porque a gente não produz mais.
P/1 – Produzia no sítio do seu avô, era isso?
R – Não. Na época do meu pai, mas faz bastante tempo já que a gente parou de produzir leite.
P/1 – O teu pai tinha uma propriedadezinha também?
R – Tinha não, tem até hoje.
P/1 – Então me conta como que é, qual que é o nome da propriedade do seu pai.
R – Bom, Estância Santa Maria Dois, é o nome da propriedade. Ela fica situada na região de Andradina e a atividade, lá a gente mexe com bovinocultura de corte. É isso.
P/1 – Quando você era menino tinha pecuária leiteira, é isso?
R – Quando eu era criança sim, meu pai mexia com um pouco de pecuária de leite.
P/1 – E você ajudava também nessa propriedade?
R – Ajudava, ajudava, sim. Eu sempre, sempre. Porque assim, ó, toda a minha família, quando eu falo família eu envolvo parentes, primos, tios, eles são produtores de leite até hoje. O único que saiu da atividade, no caso, foi o meu pai e o meu avô, o resto dos meus parentes, todos produzem leite hoje. Então eu comecei a lidar com vaca de leite na minha infância, através do meu avô, do meu pai e tudo mais. E até hoje, eu dei sequência através do meu tio, dos meus primos e parentes que mexem na pecuária de leite, e também através do meu trabalho, que o meu foco é a pecuária de leite, né?
P/1 – E menino, no que você ajudava relacionado à pecuária de leite?
R – Olha, o que eu mais gostava de fazer era dar ração para os animais. Eu que ficava responsável pra colocar um copo de ração, mais atrapalhava que ajudava na verdade, né, mas eu sempre gostei de tratar dos animais, de dar ração, é isso que eu gostava de fazer.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você entrou na escola?
R – Cinco anos.
P/1 – Quais são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Muita birra! Eu era um moleque muito birrento, sabe, eu era uma criança muito birrenta e eu não gostava de ir na escola, entendeu?
P/1 – Mas birrento como? Conta um pouco.
R – Não, fazer birra, sabe, qualquer coisinha já chorava, criança chorona. Vamos simplificar, certo? Eu não gostava muito de ir na escola, a verdade é essa, mas depois fui tomando gosto e, enfim, foi desenvolvendo isso daí dentro de mim.
P/1 – Essa escola que você entrou com cinco anos, você lembra o nome?
R – Não, não lembro.
P/1 – Como é que era a escola, você se lembra?
R – Lembro, lembro sim. Era uma escola como todas lá, onde tinha as salas de aula, né? Eu me lembro que ela parecia uma casa bem grande, entendeu, e um lugar muito aconchegante, pessoas excelentes. Até hoje possui professoras minhas, que nessa época era de, não era, como é que chamava? Antes da pré-escola, como que a gente chama?
P/1 – Maternal.
R – Maternal, era época do maternal, até hoje tem pessoas que eu me lembro e me relaciono, tá, que foram meus professores lá atrás.
P/1 – Por exemplo, conta pra gente um professor marcante.
R – Dona Irene, Dona Irene Imano. Dona Irene Imano foi minha professora de primeira série na verdade, e a pessoa que me ensinou um pouco sobre tudo, né, ler, escrever. Uma pessoa que não era uma professora e sim uma mãe. Era não, é, porque ela é viva até hoje, a gente relaciona-se até hoje. E acima de tudo, dela ser professora e tudo mais, ela sempre foi muito amiga da minha família, do meu pai e da minha mãe, então através daí ela me adotou como sendo um filho dentro da sala de aula e não um mero aluno, e ela que me marcou muito, assim.
P/1 – Você lembra como é que você ia e voltava da escola?
R – O meu pai me levava e me buscava, meu pai ou minha mãe.
P/1 – De carro?
R – De carro, ou meu pai ou minha mãe.
P/1 – Nessa escola você ficou até que idade?
R – Nossa! Agora você me apertou, eu não sei te informar aí o cronograma estudantil meu (risos), não vai ter como.
P/1 – Mas você fez até o ensino médio lá ou não?
R – Não, de lá eu migrei pra outra escola, chamada Joaquim Fernandes de Melo, aí eu fiquei até a quinta série, isso, a quinta série. Eu não vou saber te informar certinho com que idade foi a migração, mas eu me lembro por série, até eu me lembro, até a quinta série eu fiquei na Joaquim Fernandes de Melo. Quando eu fui, não, até a sétima série, naquela época até a sétima série eu fiquei na Joaquim Fernandes de Melo. Na oitava série eu fui pro Pedro Pedrosa e no primeiro colegial eu fui para o Objetivo, Escola Objetivo de Nhandeara. Mas não lembro por qual motivo eu deixei essa escola e voltei para o Pedrosa, Pedro Pedrosa, e aí eu terminei a minha vida, até o terceiro colegial eu terminei no Pedrosa. E depois eu fui embora pra Andradina pra fazer faculdade lá, isso no ano de 2005, certo?
P/1 – Deixa eu voltar um pouquinho, a gente vai chegar de novo nessa fase de faculdade.
R – Ah, tá.
P/1 – Pra essa parte de infância ainda, eu queria saber se você se lembra o que você queria ser quando crescesse.
R – Médico veterinário, isso daí é desde criança, o meu pai... Pai pergunta pra gente, né: “Filho, o que você pretende ser quando você crescer?”, eu sempre falei: “Médico veterinário”. Eu sou uma pessoa muito realizada profissionalmente, porque desde infância eu pleiteava ser médico veterinário, e depois que eu comecei a entender um pouco eu comecei querer trabalhar na parte de leite, seja ela qual for, tá. Então, eu sou muito, muito satisfeito mesmo profissionalmente, tá?
P/1 – Faz aquilo que você queria fazer.
R – Faço, realmente.
P/1 – Nessa fase de adolescência, então passando da infância e começando essa fase de adolescência, a partir dos 12 anos, o que muda na sua vida em termos de amizade, de lazer, o que você fazia pra se divertir, você saía?
R – Olha, o que eu mais gostava de fazer: ir pro sítio. E lá no sítio desenvolvia várias atividades, andava a cavalo, dava ração pro animal, brincava com os meus cachorros. E em questão de amizade não houve uma mudança, aquelas amizades que eu fiz lá, vamos dizer assim, quando eu era uma criança, a gente foi crescendo junto, estudamos junto e até hoje nós temos contato. Lógico, o que que mudou em questão da adolescência? Eu fiz várias novas amizades, esse é um toque que marcou muito no fator amizade, nessa migração de criança pra adolescência.
P/1 – Essas novas amizades vieram da onde, da escola?
R – Escola, academia, né, na época a gente fazia academia e tudo mais, enfim, no relacionamento do dia a dia, tá?
P/1 – Você saía para festas, bares?
R – Festas, festas, eu sempre gostei bastante, de sair, de conversar, de brincar, de curtir mesmo, com extrema responsabilidade, claro. Então, eu fui uma pessoa que nunca me envolvi com nada de errado até hoje, sabe, mas eu aproveitei bastante.
P/1 – Como é que eram essas festas, onde que era, que tipo de festa era?
R – Olha, a gente costumava se reunir na casa de amigos, amigos de escola ou até mesmo, amigos de infância e assar uma carne, escutar uma música ali. Na época não existia bebida alcoólica, éramos todos de menor, isso daí é um fator que minha família sempre bateu em cima mesmo: “Você quer beber alguma coisa de álcool, você bebe, só que quando você for de maior, que você tiver plena consciência do que tá fazendo”. Essa que era na verdade as festas, a gente reunia o pessoal da classe no final de semana na casa de alguém, ia brincar de bola, assava uma carne, tomava refrigerante, eram essas as festas, assim.
P/1 – O que vocês escutavam? Você falou música, né?
R – Opa! Sertanejo, né (risos)? Sempre gostamos muito de sertanejo. Bom, até hoje eu gosto de sertanejo.
P/1 – Mas tem uma dupla preferida? Fala um pouco quais são.
R – Chico Rei e Paraná. Chico Rei e Paraná é a dupla, no momento, que eu mais gosto. Mas, assim, todo mundo fala: “Ah, eu sou muito eclético”, da maioria das pessoas eu já escutei falando isso, falando de si próprio: “Eu sou muito eclético, eu escuto de tudo, eu gosto de tudo”. Não, eu escuto de tudo, mas eu gosto de sertanejo.
P/1 – Tem uma canção, assim, preferida sertaneja?
R – Todas (risos), não tem nada específico.
P/1 – Uma que tenha marcado uma situação da sua vida, assim não tem?
R – Tem, como tem, tem uma, sim! Na verdade até uma canção que a minha esposa me ofereceu e foi bastante marcante, né, claro.
P/1 – Conta como é que foi essa situação.
R – Como hoje viajo bastante, existe uma música do Chico Rei e Paraná chamada “Viagem”, na qual inverte os papéis, na qual o homem fala pra esposa dele que ela que viaja muito e lá em casa é diferente, entendeu? Só que, assim, quando a minha esposa escutou, falou: “Amor, essa é nossa música, eu ofereço essa música pra você”, então é a canção hoje, assim, que eu mais gosto, sabe, é ela.
P/1 – Você cantaria um trechinho?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não (risos).
P/1 – Não gosta de cantar, você gosta de escutar.
R – Eu gosto de escutar, sem chance, não tem como.
P/1 – Eu queria saber, na época de estudante, até terminar o ensino médio, você só estudava ou você trabalhou em algum momento?
R – Não, só estudei.
P/1 – Só estudou, né?
R – Só estudei mesmo.
P/1 – Então essa passagem do ensino médio pra faculdade, eu queria que você contasse um pouquinho como é que foi prestar o vestibular, como é que foi esse processo e como foi ingressar na faculdade. Como é que foi a experiência da faculdade, a experiência universitária na tua vida?
R – Bom, ao final de 2004, eu concluí o terceiro colegial e prestei alguns vestibulares, todos pra Medicina Veterinária. E, assim, eu tive êxito em alguns e a minha escolha foi tá estudando em Andradina. E desde então, a minha família, o meu pai e minha mãe, eles sempre queriam migrar de Nhandeara pra alguma região. Eles foram pra Andradina no dia do meu vestibular me acompanhar e tudo mais e gostaram da região, gostaram. E quando eu fui estudar pra lá, eles decidiram todo mundo migrar pra lá. Então o impacto longe de casa foi nenhum, porque minha mãe e meu pai me acompanharam e foi uma experiência muito boa na minha vida, porque eu pude, vamos dizer assim, eu tinha 18 anos na época, eu não havia saído da cidade onde eu nasci, tá? E, por um lado, eu senti muito, porque aí foi onde houve um pouco de separação daquelas amizades que eu tinha da minha infância. Mas ao chegar em Andradina eu fui muito bem acolhido, então toda essa transição de vida foi bem, vamos dizer assim, suprida a necessidade de uma amizade, de um companheirismo, porque lá eu fiz amizade com praticamente todo mundo, entendeu? Então impacto emocional nenhum, tá? Mas lógico, novidades, eu nunca tinha ido, não sabia, nem imaginava como que era uma faculdade, só que foi uma experiência muito boa em minha vida, assim.
P/1 – Qual que foi a faculdade que você fez?
R – Medicina Veterinária em Andradina, chama Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina.
P/1 – Qual que era a distância da sua cidade natal pra Andradina, é longe?
R – Cento e sessenta e oito quilômetros, pertinho, pertinho. E, pra você ver como que as coisas são, eu nasci e criei aqui em Nhandeara, eu falo aqui porque a gente tá a nove quilômetros de Nhandeara. Aí eu fui embora pra Andradina, estudar lá, morei nove anos em Andradina, e agora faze um ano e três meses, que eu voltei pra Floreal, que é onde a gente tá agora, por motivo de trabalho e tudo mais. Pra você ver como são as coisas, eu fui embora pra Andradina, eu achei que nunca mais eu ia retornar na região. E por que Floreal e não em Nhandeara, né, por quê? Porque, assim, a família da minha mãe é toda daqui e eu tive um acolhimento extraordinário pela família da minha mãe; em Nhandeara eu teria só o meu vô por parte do meu pai, então eu achei melhor tá vindo pra cá, unir o útil ao agradável, na verdade.
P/1 – Esse tempo de Andradina, da universidade, da faculdade, conta um pouco mais como é que era, como é que é essa faculdade, a estrutura, como é que era a turma.
R – Na época era uma faculdade bastante nova ainda, eu era a quinta turma da faculdade. Apesar do pouco tempo que a faculdade tava no mercado, é uma faculdade com uma infraestrutura extraordinária, laboratórios anatômicos muito bons, muito bons mesmo, com vários materiais pra gente estudar. Possui uma, a gente chama de hospital veterinário, no qual é uma parte que possui uma infraestrutura pra você mexer com animal de grande porte sem, vamos dizer assim, sem precisar muita coisa, entendeu? É uma faculdade bastante estruturada, a turma era muito unida, então é uma turma que até hoje a gente sente saudade, porque querendo ou não, o próprio destino da gente distancia as pessoas que a gente estudou junto. O destino distancia, uma vai atuar num canto, outra no outro, um casa, vai embora, e assim, né? Só que, assim, a gente mantém contato, mas uma turma bastante unida, eu fiz bastante amizade com o pessoal lá, tá, e é isso daí, dá saudade sim da época da faculdade.
P/1 – Nessa fase de faculdade, com essa turma de amigos, o que vocês faziam para se divertir?
R – Olha, festas, bastante festas, mas assim, a minha turma era uma turma muito boa, por quê? Na época de festar, a gente festava; na época de estudar, a gente estudava; na época de ser responsável. A gente era, tudo foi bastante graduado, tá: “Ó, você tem responsabilidade da faculdade, você tem uma festa, vai, você tem que estudar, você estuda”, entendeu? Então é isso que a gente se divertia, a gente ia pra um sítio de algum amigo, alguma coisa, final de semana, e extravasava mesmo, mas na hora de estudar, todo mundo parava: “Não, vamos estudar”, entendeu?
P/1 – Essas festas eram diferentes das festas da época do ensino médio?
R – Sim, né(risos)?
P/1 – Por quê?
R – São faixas etárias diferentes. Como a gente já era maior, tudo mais, aí a gente ingeria bebida alcoólica, e piscinas. Às vezes montava num cavalo, ia dar uma volta, churrasqueira a todo momento ligada, coisa que lá na infância a gente quase não ligava muito pra isso, entendeu?
P/1 – E o curso de Medicina Veterinária era aquilo que você esperava logo que você entrou na faculdade? Como é que foi essa expectativa e o que você encontrou?
R – Era, era o curso sim. Nunca tive dúvida sobre o que eu queria na minha vida, porque quando eu era criança eu falava, até mesmo por motivo de não conhecer nada sobre a vida, eu falava que eu queria Medicina Veterinária. Mas depois que eu comecei a ter noção um pouco sobre o que era Medicina Veterinária, aí eu tive certeza, entendeu? Em momento algum, tá, em momento algum eu parei pra pensar assim: “Mas será que era isso?”. Não! Era isso, era isso, era isso que eu queria.
P/1 – E dentro da faculdade, ou logo depois, quando você se formou, você se lembra de alguma experiência profissional, ou de estágio, ou já formado que tenha sido uma experiência forte que você tenha tido essa sensação mais forte, assim: “Que bom estar fazendo isso”?
R – Nossa, muitas e muitas vezes, muitas e muitas vezes! Um fato, assim, eu sempre, por quê é que eu optei por Medicina Veterinária? Porque eu sempre gostei de salvar um animal, isso desde criança, eu via um animal doente e muitas vezes já me emocionei. Quando você pega um animal ali, o animal tá doente, tá na sua mão, entendeu, você entra com o tratamento pro animal e você vê o resultado que você obteve, isso é gratificante, muito gratificante. Porque, assim, você ser médico é fácil, você ser médico de quem não sabe falar, aí o negócio muda, é uma responsabilidade muito grande. Porque pra mim é uma vida, independente de ser de um animal ou de um ser humano, é uma vida, entendeu? É isso que eu sempre penso, é isso que eu penso na minha trajetória do meu trabalho, eu to lidando com uma vida. E fico muito triste quando perco um animal que eu estava tratando e ele vem a óbito, mas acontece a gente tem que ter noção disso daí.
P/1 – Você se lembra a primeira vez que você salvou a vida de um animal ou talvez não a primeira vez, mas a vez que foi mais marcante?
R – Lembro, lógico, eu lembro sim.
P/1 – Conta.
R – A primeira vez que eu consegui salvar a vida de um animal eu tava na faculdade ainda, eu tava no quarto ano, eu acho, de Veterinária. Era umas três horas da manhã, mais ou menos, meu telefone tocou, era um amigo meu, até de Andradina, o Kléber, a gente chamava ele de Klebinho. Ele criava alguns animais e um animal dele tava com cólica, cólica equina, um dos problemas que mais causa óbitos de equino, vamos dizer assim, no meio de equicultura. E eu me desloquei até a propriedade dele, a gente conseguiu recuperar o animal e foi bastante emocionante, nunca mais eu esqueço! Foi o primeiro animal que eu salvei como médico veterinário, não formado ainda, mas com os estudos que eu havia feito, com os aprendizados que os professores haviam me passado, a gente se deslocou até o local e conseguiu recuperar a vida do animal, isso foi muito bom.
P/1 – Você se lembra do primeiro que você perdeu?
R – Olha, eu me lembro, foi bastante triste. Foi um animal que sofreu um acidente ofídico, mais conhecido como picada de cobra. Um animal de pequeno porte, uma cadela, também de um amigo meu, e não teve como, não teve como. A gente fez de tudo pra tentar e, lógico, né, milagres não existem na verdade, mas doeu bastante, sabe? Até hoje quando acontece de algum animal vir a óbito, assim, que eu estava tentando recuperar, eu sinto bastante, mas, enfim, isso faz parte.
P/1 – Você tava na faculdade, na época dessa cadelinha você tava na faculdade?
R – Não, não, eu já tinha formado, já, aí eu já tinha me formado.
P/1 – Você fez um comentário lá atrás que eu achei interessante, falou ser médico é difícil, imagina de quem não fala, né?
R – É mais ou menos isso.
P/1 – Eu queria que você desenvolvesse um pouco quais são os desafios de exercer medicina veterinária.
R – Porque, assim, por exemplo, você vai num médico, algum motivo, você foi até ele, você chega no médico: “Ó, doutor, tá me doendo assim, to sentindo esses sintomas”. Você expõe os seus sintomas pra ele, ele junta os seus sintomas, fecha o diagnóstico e faz o tratamento em você, tá? Por exemplo, você é chamado numa propriedade rural, o proprietário do animal chega em você e fala assim: “Olha, encontrei esse animal assim hoje” e aí, você vai perguntar pro animal: “Tá doendo aqui, tá doendo ali?”? Em vão! Então o que que eu quis dizer com isso daí? Você tem que saber alguns sintomas específicos de algumas doenças dos animais e fechar seu diagnóstico, fazer o tratamento; e médico, você chega e expõe: “Não, to com dor de cabeça”, por exemplo, entendeu: “Não, to com dor no abdômen”, entendeu, é mais fácil. Isso que eu quis dizer com isso daí, você procurar o problema num animal, que ele não sabe te falar o que ele tá sentindo, é um tanto quanto mais difícil, entendeu?
P/1 – Você se lembra de um desafio de diagnóstico que você teve?
R – Com certeza, e vários, vários.
P/1 – Conta um pra gente.
R – Ah, vamos lá, um desafio marcante pra mim. Na época eu estava atuando na região de Andradina, na assistência a campo e eu fui chamado numa propriedade, que um animal, um bovino, tava apresentando hemorragia através das fezes. E, olha, o que você imaginar eu pensei naquele animal, tá? E na minha época de faculdade eu fiz estágio com uma pessoa, tudo mais ou menos que eu sei fora da faculdade foi ele que me passou, uma pessoa muito competente. E eu procurei um diagnóstico naquele animal, não consegui encontrar, eu liguei pra ele e ele se deslocou até esse local também que eu estava. Ali a gente conversou, conversou, conversou, não conseguimos entrar num consentimento. Aí tava eu e ele ali com o animal e ligamos pra um outro veterinário amigo nosso também: “Tá assim, assim, assado, e aí?” e na verdade nenhum dos três conseguiu chegar num consentimento. Ah, foi um desafio enorme. Bom, enfim, esse animal veio a óbito, até não tinha mais como mesmo, diagnóstico tardio talvez, nem conseguimos um diagnóstico na verdade, e a gente fez a necropsia nesse animal. A gente achou uma neoplasia na bexiga, e da bexiga já tinha ramificado pro intestino, que já tava no canal do ânus e foi tomando tudo. A gente nunca ia descobrir isso daí, porque diferentemente da gente, ser humano, não tem como você pegar um animal e levar até uma clínica e fazer um, vamos dizer assim, um raio-x tem, por exemplo, uma ressonância magnética, e aí? Não tem como. E foi um dos desafios marcantes que a gente não conseguiu fechar um diagnóstico. Porque até então qual que era o sintoma? Hemorragia, mas proveniente do quê? Você não tem como saber, você trata, faz um tratamento sintomático, tá com hemorragia, vamos entrar com um medicamento pra estancar, ah, não tá comendo, vamos entrar com soro, ah, tá sem força, vamos entrar com cálcio, mas você não tem como tratar a causa do problema, entendeu? Esse é o grande desafio de ser médico veterinário.
P/1 – Na faculdade, você citou agora esse estágio que você fez, eu queria saber qual foi o primeiro estágio, foi esse?
R – O meu primeiro estágio, deixa eu me recordar. Não, o meu primeiro estágio foi numa loja de ração, eu tava no primeiro ano de faculdade e comecei a estagiar numa loja que vende ração para pequenos animais. Até essa loja hoje, na verdade, já fechou, sabe, e foi lá que eu comecei a estagiar.
P/1 – Qual que era o seu trabalho nessa loja?
R – Vendia ração, informava o cliente sobre a melhor ração pros animais que ela possuía. Foi onde eu encontrei esse veterinário que é amigo meu, que na época ele que era responsável por essa loja, ele que assinava por essa loja. Ele viu o meu desempenho na loja e falou: “Ó, eu gostaria que você me acompanhasse em alguns trabalhos no campo, tal, pra mim poder te passar alguma coisa do que eu sei”, aí eu migrei pro campo. Eu fiquei com ele até o quinto ano de faculdade, até o meu estágio obrigatório, que no quinto ano você tem que fazer um estágio curricular, que é o estágio obrigatório e tudo mais.
P/1 – Qual que era o nome desse veterinário, você pode falar?
R – Posso, com certeza: Aílton Modesto Júnior, Juninho Modesto, mais conhecido na região. É uma pessoa extraordinária, não tenho nem palavra pra, tá, hoje a maioria das coisas que eu sei no campo foi ele que me passou.
P/1 – Como era o seu estágio com ele? Conta um pouco como é que era o trabalho, o que vocês faziam juntos.
R – Olha, a gente atendia a campo, desde a parte de sanidade do animal, que é vacina, exames, aí a gente partiu pro lado de inseminação, partiu pro lado de diagnóstico de problemas, cirurgias, tudo que você imaginar. Tudo a gente fazia, desde a nutrição, a gente trabalhava na parte de nutrição também, entendeu, e foi muito vantajoso pra mim, eu aprendi muitas coisas.
P/1 – Quando você fala de campo, só pra gente entender um pouco melhor, o que é a medicina veterinária no campo?
R – É assim, o que é que seria? A medicina veterinária tem várias ramificações, tá, você pode atuar desde dentro do supermercado, conferindo gôndolas, desde validade até lote de materiais a ser vendido, tudo mais; dentro do laboratório você pode atuar na parte de nutrição, você pode atuar na parte de assistência, bom, enfim, você pode atuar em vários campos. Quando eu falo a campo, você faz atendimento a campo, por exemplo, você não trabalha no laboratório, você não fica preso dentro de uma sala, trabalhando no laboratório; você não é veterinário numa loja, na qual você tem uma loja ali, indicando medicamento pro animal e tudo mais; você fica em contato direto com o animal, entendeu? Por exemplo, você é dona de um animal, ele tá doente, se você ligar pra um veterinário que é parte de científica e trabalha num laboratório, ele não vai poder te atender, você tem achar um veterinário que atua a campo pra ir até o seu problema e resolver ele, é isso que é veterinário a campo.
P/1 – É isso que vocês faziam?
R – Isso, é isso que a gente fazia.
P/1 – Todo tipo de animal?
R – Todo tipo de animal que você imaginar, menos animal silvestre. Silvestres a gente nunca mexeu. Mas de resto, o que você imaginar, grande porte, pequeno porte tivemos algumas experiências, mas, por não ser nossa área de atuação, a gente na verdade não procurava muito sobre isso, sabe, mas se aparecesse, claro, sem dúvida alguma, negligenciar um atendimento nunca.
P/1 – Grande porte você fala o quê? Cita pra gente uns exemplos de animal que vocês atendiam.
R – Ah, desde a parte cirúrgica, desde da parte de inseminação, a parte de sanidade, que são vacinas e exames, nutrição.
P/1 – Mas quais animais?
R – Bovino, equino, esses animais. O que aparecia de problema no dia a dia, a gente tentava resolver.
P/1 – Você se lembra o que você fez com as primeiras bolsas de estágio, com os primeiros salários que você ganhou? O que você comprou, como você usou esse dinheiro?
R – Nossa, deixa eu me lembrar. Ah sim, eu comecei comprar alguns instrumentos cirúrgicos, algumas correntes que a gente usa na hora de parto, de cesariana de animais. Foi isso, eu investi assim, entendeu, é isso daí, é isso que eu fiz mesmo.
P/1 – Com os seus primeiros salários.
R – Sim.
P/1 – Comprava coisa pra trabalhar?
R – É, comprava coisa pro dia a dia, torrava bastante em lanche, pizza, essas coisas (risos), e também comprava uns instrumentos de trabalho, comprei, tenho até hoje.
P/1 – Quando é que você decidiu que você ia trabalhar com área leiteira, como é que foi essa decisão?
R – Foi assim, eu sempre fui apaixonado por vaca de leite. E no meu estágio extracurricular, lá quando eu trabalhei junto com o Júnior, a maioria dos animais que a gente atendia eram vacas produtoras de leite para consumo humano, vacas leiteiras, tá? E aí o meu amor foi aumentando sobre esse tipo de animal e quando eu me formei, eu parti pro lado de, como eu já tava na parte de assistência junto com o Júnior, eu continuei, e o público alvo eram os animais produtores de leite para consumo humano, tá? E daí foi aumentando a paixão, tal. Já tive oportunidade de trabalhar com gado de corte, mas o que eu gosto mesmo é vaca de leite.
P/1 – Que ano você se formou?
R – Eu me formei em 2009, em dezembro de 2009.
P/1 – E aí, quando você se formou, você continuou trabalhando com o Júnior ou você mudou de emprego, como é que foi?
R – Então, aí houve uma grande migração. Eu me formei, aí eu queria, vamos dizer assim, queria expandir, e caí no mundo mesmo atrás de emprego. Fui frustrado no mercado por aí, voltei e fiquei ajudando o meu pai, um bom tempo aí eu fiquei ajudando o meu pai e tal.
P/1 – Em Andradina isso?
R – Em Andradina, na propriedade que a gente tem lá. E aí, um certo dia, um amigo meu que tem uma loja, até hoje nós somos compadre, ele que batizou o meu filho na igreja, ele me chamou pra tá trabalhando com ele, ele tem uma agropecuária em Andradina, eu falei: “Ah, vamos sim”. Até então éramos só conhecidos, que nós somos vizinhos em Andradina. Ele me chamou pra estar trabalhando com ele, eu trabalhei com ele, trabalhei com ele mais de um ano, um ano e meio eu trabalhei com ele na loja, tá?
P/1 – Era uma loja? Explica um pouco.
R – Isso, sim, uma loja de produtos agropecuários. Eu era vendedor no balcão e fazia atendimento a campo. Está esclarecido sobre “a campo”?
P/1 – Tá claro.
R – Tranquilo. E, assim, depois de um ano e meio que eu tava com ele, eu fui chamado, através do Ênio e da Taissara da Nestlé, a tá sendo técnico num programa que a Nestlé tinha na região de Andradina. E a primeira coisa que eu fiz foi chegar até, o meu patrão e trocar uma ideia com ele: “Ó, o que você acha? Assim, assim”, Ele falou: “Olha, Leo, eu iria. Não vejo motivo que você não encarar. Capacidade você tem, basta você querer”, eu falei: “Tá bom”, aceitei trabalhar nesse programa, no qual eu fiquei dez meses trabalhando.
P/1 – Qual era o programa?
R – Chamava Projeto Andradina, projeto pelo qual tinha por intuito atender pequenos produtores de assentamentos na região de Andradina. Qual que era o desafio? Torná-los autossustentáveis, eles produzirem dentro da propriedade pra se manter e ter uma vida digna. Na época eram 31 propriedades que eu atendia, depois alguns saíram, tudo mais, por baixo índice, a gente andou cortando alguém também e ficou 21 propriedades.
P/1 – Deixa eu só entender como é que ele chegou até você, eles te conheceram na loja? Me explica um pouco.
R – Então, não sei, há algum tempo atrás de acontecer isso eu havia cadastrado o meu currículo e havia sido convocado pra uma entrevista na Nestlé, mas sem sucesso também. E depois de águas passadas, a Taissara, que na época era a nossa especialista de região leiteira aqui da unidade de Araçatuba, juntamente com o Ênio Andrade, que hoje na verdade migrou pra outra empresa, não tá mais na DPA, entraram em contato comigo solicitando uma entrevista. Ao meu ver, daquela época que eu fui na primeira entrevista, eles devem ter arquivado o meu currículo e o meu perfil se encaixou naquela vaga, naquele momento, eu acho que foi por aí, mas eu não sei, na verdade eu não sei. Eu não consigo te falar: “Ó, fulano que me indicou”, não. Eu imagino que foi por aí, foi esse o caminho que eles chegaram até mim em Andradina. Tomava conta desde a parte de nutrição dos animais até a parte de sanidade e tudo mais, tá?
P/1 – Conta um pouquinho, dentro do Programa Andradina, como é que você atuava junto com os proprietários rurais? Eu queria entender como é que era o relacionamento, no que vocês ajudavam, tinha algum tipo de formação, capacitação, como é que era isso?
R – Tá, bom, no Projeto Andradina, a minha atuação era tomar conta da parte financeira da atividade de leite da propriedade. Eu chegava no proprietário e, através de alguns dados que ele próprio me fornecia, eu chegava nele e falava: “Ó, o senhor ganhou tantos centavos por litro por mês e gastou tanto”, aí a gente fazia um planejamento: “Ah, mas eu acho que se a gente fizesse assim, o senhor poderia tá ganhando tanto a mais no seu litro de leite”. Bom, então a gente fazia desde planejamento agropecuário, capacitação, eu ensinei algumas pessoas a estar inseminando e tudo mais, mas não muito específico, não. Não é a Nestlé que falava: “Ó, você vai ensinar”, não, no meu dia a dia ali, a gente tava ali, ensinava a pessoa e tudo mais. Ensinei o pessoal a tá fazendo o custo de produção na propriedade, tá, isso por mim mesmo. Mas o grande desafio era esse daí, tornar o produtor autossustentável na atividade.
P/1 – Explica um pouco melhor pra gente o que significa tornar o produtor autossustentável na atividade.
R – Vamos dizer assim, ele conseguir pagar todas as contas dele e ter uma vida tranquila, com o mínimo necessário pra pessoa viver bem. Ter um plano de saúde, comendo bem, bebendo bem, andando num carro razoável, entendeu, uma casa totalmente pronta pra ser morada, isso daí, tornar a pessoa autossustentável. Por exemplo, o que que seria ao meu ver autossustentável hoje? Você trabalha, paga todas as suas contas, vive bem, tá: “Ah, mas e guardar dinheiro?”, aí já é outra história (risos), você entendeu? Esse é o grande desafio.
P/1 – E no Projeto Andradina, você falou que ficou 11 meses, foi isso?
R – Foi aproximadamente, eu não me recordo agora.
P/1 – Por volta de um ano, né?
R – É, quase um ano.
P/1 – Nesse tempo, nessa relação com os produtores, nesse trabalho de tentar ajudar a se tornarem autossustentáveis, você viu mudanças na prática desses produtores?
R – Vi, vi bastante mudança, alguns produtores evoluíram bastante. Só que os desafios enfrentados pelo nosso público-alvo eram muito grandes também, então, a maioria deles não conseguiu um bom índice, e quando a gente apresentava os índices pra empresa, eles não acharam mais satisfatórios e cortaram o programa, aí foi onde eu migrei pra empresa que eu tou hoje.
P/1 – Deixa eu só te perguntar, eu vou querer que você me conte, a gente vai entrar na empresa, mas antes deixa eu entender. Assim, esses que melhoraram, você diz: “Eu vi algumas mudanças”, eu queria que você me dissesse assim, que mudanças, em que sentido.
R – Olha, teve produtor que eu, quando eu cheguei na propriedade, ele possuía lá três animais, produzia 15 litros de leite, filho trabalhando fora, esposa trabalhando fora, só ele ali dentro e sem planejamento algum. E quando eu saí do programa, ele já tava produzindo seus cem litros de leite, já tava ali com os seus dez animais em produção e mais dez animais ali pra criar e tudo mais, pra também começar a atividade de leite. Já tinha comprado um carrinho razoável pra andar, o filho já havia voltado pra propriedade pra ajudar o pai, a esposa não precisava mais trabalhar fora. Esses tipos de mudança assim que eu observei.
P/1 – Bastante, né?
R – Nossa, excelente, sabe, em curto período de tempo, um bom índice e foi isso.
P/1 – E pra você, Leonardo, essa experiência que você teve, essa primeira experiência com o Projeto Andradina, você acha que trouxe aprendizados profissionais para você?
R – Muito, muito, muito! Todo dia que eu saía da minha casa, eu voltava com um aprendizado novo. Poderia ser referente ao meu trabalho, ou poderia ser referente à minha vida particular, mas eu sempre aprendia algo novo pra tá ensinando pra alguém.
P/1 – Que tipo de coisa, por exemplo?
R – Olha, lidar com as pessoas. Quando você lida com esse tipo de público-alvo, você escuta muitas histórias de vida, umas boas, outras não tão boas, e de tudo você tem que tirar uma experiência de vida. E foi isso, assim, eu acho que o maior, vamos dizer, o maior rendimento pra minha vida profissional e também particular é isso daí, eu aprendi a lidar com certas situações que talvez, se eu não tivesse passado por esse programa, talvez eu não daria conta hoje, tá? Eu me lembro, mas eu gostaria de não comentar, tá bom?
P/1 – Tudo bem.
R – Eu gostaria de não comentar, tá?
P/1 – Sem problemas. Você acha que mudou alguma coisa na sua perspectiva profissional essa experiência?
R – Muito, com certeza. Sem dúvida alguma houve muita expansão na minha vida profissional, eu consegui agregar muito conhecimento naquilo que eu pleiteava pra minha vida profissional através dessas pessoas, foi isso o maior, vamos dizer assim, que eu pude herdar, a maior herança que eu pude, amizades, bastante amizades com todo mundo mesmo, todo mundo que eu atendia até hoje, você entendeu, e foi isso mesmo, a maior herança que a gente pode levar é a amizade.
P/1 – Desses aprendizados profissionais, assim, você consegue citar alguns exemplos?
R – Você fala da minha vida profissional?
P/1 – É, coisas que você aprendeu profissionalmente.
R – Você fala quando eu atendia pequenos produtores?
P/1 – É, nessa experiência com o Projeto Andradina mesmo.
R – Sim, você poder, vamos dizer assim, ao você examinar um animal, você começa a assimilar mais as coisas. Porque eu tinha bastante problema, sabe, apesar não fazer muito, assim, o intuito do programa, eu encarava bastante problemas, questão de saúde dos animais, sabe? Isso agregou muito conhecimento, que eu peguei bastante adversidades de problema de saúde animal e agregou bastante conhecimento pro resto da vida na verdade, sem dúvida alguma.
P/1 – Você estava comentando que o Projeto Andradina foi cancelado porque os índices não foram satisfatórios, né?
R – Sim.
P/1 – E conta pra mim como é que foi essa sua transição pra empresa que você trabalha hoje.
R – Sim, sim, bom, atualmente eu sou técnico de uma empresa, ministrando um programa que chama Programa de Boas Práticas na Fazenda, tá? E, assim, a migração, até então prestando serviço pra Nestlé, pra prestação de serviço nessa empresa hoje, foi o seguinte: a minha própria supervisora, que na época era a Taissara, me indicou pra coordenadora dessa empresa que eu to hoje, que é a Dona Larissa, tá, a Larissa Cirilo, coordenadora da filial de Bauru. E na época ela me convocou pra uma entrevista, e eu fui aceito dentro da empresa. Hoje já vai pra um ano e três meses que eu tou nessa empresa, uma empresa totalmente idônea, onde você tem um respaldo técnico muito grande, uma boa equipe corporativa dentro da empresa, certo? E, assim, qual que hoje é o meu trabalho dentro dessa empresa? Como eu já havia comentado, eu sou técnico do Programa de Boas Práticas na Fazenda para a fábrica de Araraquara e também para a fábrica de Araçatuba, às vezes, eu desço para a região de Cascavel, no Paraná, pra tá ajudando na agenda lá. Você gostaria de saber um pouco sobre o programa?
P/1 – Claro, claro.
R – Bom, esse programa, na verdade tem por intuito garantir a qualidade e a segurança do leite produzido na propriedade. E ele tem por público-alvo os fornecedores Nestlé, ele é ministrado por códigos, nas quais a propriedade tem que se adequar pra tá certificando no programa, certo?
P/1 – Por exemplo, o senhor consegue dar uns exemplos desses códigos? São normas, é isso?
R – É, são algumas normas criadas que a propriedade tem que se adequar pra tá certificando no programa, tá? Por exemplo, o programa possui desde contato direto com o animal e infraestrutura, saúde, bem-estar animal. Bem-estar da pessoa que trabalha na propriedade, desde a parte burocrática, a parte de registro em carteiras e tudo mais. A parte ambiental, um levantamento zootécnico sobre seus animais, sobre sanidade, são exames, vacinas. Por exemplo, se você fez tratamento no animal, você tem que anotar pra gente tá olhando no dia da visita que a gente for lá. Tem uma segurança, tem um item que ele te dá uma margem de segurança muito grande, porque o programa pede-se pra que aquele animal que esteja em tratamento seja marcado de alguma forma visual, através de cores, por exemplo. Você pode chegar dentro de um rebanho, bater o olho numa vaca, você fala: “Aquele animal lá vai ter que descartar o leite, porque ele tá com uma coloração tal marcado no corpo”, entendeu? Então, assim, qual que é o grande intuito desse programa? Garantir a qualidade do leite produzido na propriedade, qualidade e segurança, pra não ter contaminação por antibiótico, acontecer por um motivo aí, entendeu, algum leite colostral, tá? E, assim, hoje o programa é coordenado pela Gênesis, na qual possui na sua coordenadoria a Larissa, juntamente com a sua equipe de escritório e técnicos a campo, tá? E é uma empresa que eu gosto muito por ser uma empresa idônea, na qual eu trabalho na parte de certificações e inspeção, trabalha desde a parte de leite, grãos, certo, etc. etc., tem atuação praticamente em todos os estados do Brasil. Eu tou vinculado à filial de Bauru e minha parte é tomar conta desse Programa de Boas Práticas.
P/1 – Desenvolve um pouquinho pra gente essa questão que você mencionou de garantir a segurança e a qualidade do leite. O que significa garantir a segurança e a qualidade do leite?
R – O que que seria garantir a segurança do leite, vamos dizer. Como eu havia comentado, o programa contém alguns códigos, os quais garantem a segurança desse leite. O que eu poderia usar de exemplo? A sua farmácia da sua propriedade ali, medicamentos destinados aos animais, todos os medicamentos que tem dentro da sua farmácia, eles têm que ser prescritos por um médico veterinário, tá? E deve haver dentro da propriedade uma lista de medicamento contendo o nome do seu medicamento, o uso e a carência nos bovinos de leite com carimbo e assinatura do seu médico veterinário. Por exemplo, o seu animal ficou doente, o médico veterinário vem na sua propriedade, prescreve, carimba e assina uma receita, tá? É um dos itens, assim, que eu acho extremamente importante pra segurança do leite. Qualidade do leite, o que seria o item da qualidade? Como eu já havia comentado, existe um item que seria marcação dos animais. O que seriam esses itens? O programa usa três cores distintas pra marcar três categorias de animais diferentes, que são: a cor vermelha praquela vaca em lactação e tratamento; a cor amarela praquele animal que está em estágio colostral, acabou de parir, tá no estágio do colostro; e a cor azul praquelas vacas secas tratadas. O que seria isso daí? No momento da secagem do animal, por exemplo, ela teve aquela vida útil produtiva encerrada, vai aguardar a parição pra iniciar uma nova lactação; você faz um medicamento no animal, no teto do animal, pra garantir a sanidade do teto do animal, tá? Esses medicamentos contêm carência, você deve marcar sua vaca com a cor azul, que usou esse medicamento, até o momento de acabar essa carência. Por que isso daí? Se ela parir antes da carência desse medicamento não corre o risco de você colocar o conjunto de teteira pra ordenhar esse animal e contaminar o seu leite com esse antibiótico, tá? Então veja bem, esse item garante que não vai antibiótico pro seu leite, não vai leite com colostro, que tornaria o seu leite ácido, a principal falta de qualidade de um leite com colostro é a acidez, esse seria um item de segurança do leite, tá? Por isso que eu sempre costumo falar que o programa visa a qualidade e a segurança do produto.
P/1 – Você acha que tem um impacto também na produtividade?
R – Como assim? Não entendi.
P/1 – Na produtividade do leite, no tanto de leite que o produtor produz.
R – Você fala assim, quantidade de leite pro produtor tá certificando no programa? Não.
P/1 – Não, não se existe uma exigência nesse sentido, mas se a ação do Boas Práticas na Fazenda, esse trabalho que vocês fazem com os produtores rurais, tem um impacto na produtividade do leite, aumenta a produtividade.
R – Ah, tá, não, não. Isso daí já seria uma parte de assistência, assistência e planejamento, a gente não faz esse tipo de trabalho na propriedade, a gente apenas põe em prática o BPF (Boas Práticas na Fazenda) dentro da propriedade do cara, tá? E, assim, perante ao BPF nem aumenta e nem diminui, se aumentar é mérito do produtor, se diminuir também, mas a gente não vai até a propriedade e faz com que aumente a produção, não. Aí seria a parte de assistência do programa da Nestlé, que seria NATA, Núcleo de Assistência Autorizada, seria outra parceria que a Nestlé tem.
P/1 – Descreve um pouco do cotidiano do seu trabalho.
R – É muito bom, sabe, assim? Como que é o desenvolvimento do meu trabalho? Eu, às vezes eu saio da minha casa, né, lógico, vou até o produtor. Existem três tipos de visitas dentro do programa, a pré-auditoria, que é a primeira visita, a auditoria e reauditoria, que são anuais, tá? Se for uma pré-auditoria, eu vou passar tudo o que o produtor deve fazer, vou até o produtor, apresento o programa e passo tudo que ele deve adaptar pra tá certificando. Se for uma reauditoria, eu vou pra tá vendo se tudo tá dentro dos códigos e recertificando o produtor; se for uma auditoria, eu vou pra ver se tudo tá certo dentro do programa. Às vezes é bastante, sabe, porque, às vezes, você tem que ir, se deslocar até o produtor, às vezes, é um pouco longe, às vezes, você se perde. Hoje não, porque, na verdade, eu já conheço todos os produtores, mas no começo eu me perdia bastante. Mas é gostoso, você anda bastante, todo dia você tá num local diferente, conhecendo pessoas diferentes, dormindo em locais diferentes, se relacionando com diversos tipos de pessoa. É muito gostoso, eu vou te falar, eu adoro o que eu faço hoje.
P/1 – Com quantos produtores mais ou menos você lida?
R – Olha, a quantidade exata eu não vou saber te informar, mas hoje a fábrica de Araraquara possui 100% do seu leite certificado no programa, quantos produtores são eu não sei. E a fábrica de Araçatuba tá em processo de transição, mas hoje deve tá, esses números eu não consigo te passar corretamente, mas a maioria também é, eu não sei te informar, eu teria que ver.
P/1 – E a região que você cobre, que você faz as visitas?
R – Onde a Nestlé coletar leite no Estado de São Paulo eu atuo, mais ou menos assim e, às vezes, eu desço pra região de Cascavel pra ajudar na agenda lá também.
P/1 – Nessas visitas que você mencionou, auditoria, depois tem um trabalho também de orientação do produtor?
R – A todo momento, a todo momento. O maior intuito nosso, do Programa de Boas Práticas, é você levar algum conhecimento pro produtor na vida do dia a dia dele, é isso daí. Sempre que eu chego numa propriedade, até eu usei a palavra auditoria, porque o pessoal entende melhor, eu não gosto dessa palavra, eu gosto, eu chego na propriedade, eu falo: “Eu sou apenas um amigo do senhor que veio aqui apresentar alguma coisa pra te ajudar no dia a dia”, eu não gosto de chegar: “Eu sou”, não, eu gosto de me igualar ao produtor, que na verdade é o que a gente é na verdade, não adianta.
P/1 – Que tipo de coisa que vocês levam como orientação ou como colaboração?
R – Depende da propriedade, da pessoa, tá?
P/1 – Cita um exemplo pra gente.
R – Como a gente tá em contato com o produtor e vários produtores diariamente, você vê muita coisa nova. Então, às vezes, lá uma infraestrutura do cara não tá legal, tá ali, você fala: “Ó, em tal lugar eu vi assim, assim, assado, tá dando mais certo, o senhor poderia estar tentando fazer aqui”. Muitas vezes, até mesmo perante o Programa, a gente leva algumas novidades ao produtor, porque o seu intuito dentro da propriedade com esse Programa é ajudar o produtor, é ajudar ele no dia a dia, é isso daí. Esse tipo de instrução, por exemplo: “Ah, o senhor poderia fazer de outra forma que daria mais certo, o Fulano fez”, porque como a gente tá todo dia em contato com o produtor e cada dia num lugar diferente, você tem muita experiência, você vai vendo bastante coisa diferente, bastante coisa legal, assim, sabe.
P/1 – Você lembra de um exemplo nesse tempo que você está no Boas Práticas na Fazenda? Um exemplo de conselho ou de intervenção ou de orientação numa propriedade específica?
R – Sim, sim, sim, eu me lembro sim. Eu me lembro que eu fui até uma propriedade e a pessoa coletava água da chuva pra tá lavando as instalações da sala de ordenha e eu dei esse exemplo pra muita gente, entendeu? Como que era essa propriedade? A pessoa colocou as calhas no barracão de ordenha, do barracão jogava dentro de uma caixa, de segurar água; dali ele lavava o chão da ordenha e tudo mais, sabe? Eu me lembro até hoje, era uma caixa de cinco mil litros que ele utilizava, sabe, falou: “Olha, quando essa caixa tá cheia aqui eu tou tranquilo, eu não uso água, não tiro água da natureza e sim eu reaproveito ela”. Eu dei esse exemplo pra muita gente, que é um exemplo de autossustentabilidade hoje, né, esse foi um exemplo bastante que me marcou, é uma recomendação que eu uso direto pro pessoal.
P/1 – Tem outros produtores que acataram essa recomendação?
R – Sim, sim, houve outros produtores que acataram isso daí, viu, houve sim, já dois que eu me lembro que depois que eu passei o ano passado, o pessoal fez.
P/1 – Como é que você vê essa parceria pro produtor, você acha que isso traz benefícios e que tipo de benefícios, o que você vê no cotidiano de trabalho?
R – Sim, eu acho que traz alguns benefícios sim. Porque assim, como o produtor está todo dia em contato apenas com aquela rotina ali dele, ele se acomoda em muitos detalhes e, às vezes, essa acomodação causa um pouco de frustração em alguns índices positivos.
P/1 – Se você puder retomar, Leo, o que você acha que isso traz de benefício você tava falando.
R – Então, como o produtor está todo dia acostumado com aquela rotina ali, muitas vezes ele causa um comodismo perante a sua atividade, e o comodismo, às vezes, traz alguns índices negativos, certo? Ao você chegar de fora com novas ideias, você agrega conhecimento ao produtor, facilita o trabalho dele, isso é, assim, o meu intuito pessoal, facilitar o trabalho do produtor no dia a dia, tá, e através disso, querendo ou não, ele melhora os índices dele, entendeu, resultados finais, é isso que agrega pro produtor, você traz novidades.
P/1 – Nessa experiência, a gente conversou um pouquinho do que você achava que a experiência com o Projeto Andradina trouxe pra sua vida profissional, né? E agora, com o Boas Práticas, você vê algum aprendizado, teve alguma mudança?
R – Nossa, muito, muito, muito! Não tem nem... Olha, bastante, bastante. Porque o público que eu atendia no Projeto Andradina é um público totalmente diferente do público que “eu atendo hoje”, entre aspas. E, assim, eu consegui juntar as duas informações e, vamos dizer assim, uma completar a outra e desenvolver um trabalho no dia a dia de campo aí, você entendeu? Algumas experiências que eu tive lá eu aplico hoje e algumas que eu adquiro hoje eu também utilizo hoje, entendeu, então é uma migração na verdade.
P/1 – Você acha que aquilo que você pensava quando você saiu da faculdade como possibilidade de campo pra exercer sua profissão, isso mudou com a experiência nesses dois projetos? Você descobriu alguma coisa em área de atuação que você ainda não tinha como perspectiva, teve alguma mudança na maneira como você vê sua carreira?
R – Teve, teve sim, teve. Tiveram várias mudanças. Quando eu saí da faculdade eu pensava assim: “Bom, área de atuação, cirurgias, nutrição, qualidade do leite e tudo mais”. E hoje eu vejo que, além disso daí, possui muitos outros campos, entendeu? Vamos dizer assim, a abrangência, a visão que eu tenho sobre a atividade ampliou, entendeu, isso que mais mudou.
P/1 – A partir da sua participação nesses projetos?
R – Nesses programas, tá, nesses programas.
P/1 – Bacana.
R – Bem legal.
P/1 – Eu quero voltar numa coisa da sua vida pessoal, a gente vai encaminhar pro encerramento, mas antes tem uma coisa que a gente deixou pra trás que que queria voltar. Eu queria saber como é que você conheceu a sua esposa?
R – Na faculdade (risos), nós nos conhecemos na faculdade. Na verdade essa é uma história legal, viu, vou ter o prazer de te contar. Aproximadamente 15 anos atrás, 15, mais ou menos isso, o meu pai havia arrendado uma propriedade no Mato Grosso do Sul. E como eu sempre ajudei o meu pai, o meu vô, sempre fui ligado a bovinos, na verdade, eu ajudava ele a lidar com os animais lá e a minha esposa ajudava o pai e o avô dela também. Eu me lembro que nós chegamos um dia nessa propriedade que o meu pai havia alugado pra mexer com o gado, chegou lá, eu vi uma menina em cima de um cavalo ajudando a gente a lidar com o gado e eu, sempre “simplão”, né, simples de tudo, tal, falei: “Ó, é o seguinte, se uma mulher for ficar dentro do curral, eu vou sair, porque lugar de mulher é na cozinha”, naquela época, criança. E na época eu lembro que a gente brigou lá, eu e ela e tudo mais, eu pra pirraçar, né, na época eu tinha nove anos, não sabia nem o que tava fazendo, eu falei: “Um dia eu vou casar com você”. Beleza, o mundo gira, né? Passaram-se 15 anos, na faculdade em Andradina conheci uma moça, a gente começou a se relacionar, começou a namorar e tudo mais e um certo dia ela falou: “Ó, meu vô possui uma propriedade no Mato Grosso do Sul, você não quer ir lá conhecer?”, eu falei: “Gostaria, é claro”. Nós fomos lá, chegou lá, eu falei: “Não, pera aí, eu já vim aqui nessa propriedade”, lembramos da história. Então, assim, e hoje a gente casou, já faz seis anos que a gente é casado e foi assim que eu conheci, mas a gente a gente se reconheceu na faculdade, uma história muito legal, a nossa história.
P/1 – Qual que é o nome dela?
R – Ela se chama Giulie.
P/1 – E ela também é médica veterinária?
R – Na verdade, quando nós tava na faculdade, a gente já havia até casado, ela engravidou e teve que se ausentar da faculdade e tudo mais, até por conta do bebê. Mas é planejamento pra que ela volte a estudar, só esperar o nenê criar um pouquinho mais de idade, aí a gente vai planejar a volta dela, certo?
P/1 – Conta como é que foi a notícia de que ela estava grávida, como que veio essa notícia, como você recebeu?
R – (risos) Vamos lá, bom, foi assim, eu, juntamente com a minha mãe, eu me desloquei até Campo Grande pra fazer uma visita ao meu irmão que estava lá, na época era só o meu irmão do meio que estava estudando lá. Eu me desloquei pra lá numa terça-feira, no sábado ela me ligou e deu a notícia, falou: “Ó, eu estou grávida”, eu falei: “Tá, tudo bem”. Aí tá, aquilo, desliguei o telefone, pensei, falei: “Nossa, eu vou ser pai”, eu liguei pra ela, falei: “Como que é o negócio?”, ela falou: “Eu to grávida”, ela tava chorando desesperada, eu saí pulando dentro do apartamento do meu irmão. Minha mãe: “O que que foi? O que que foi?”, eu falei assim: “A senhora vai ser vó”. Nossa, foi uma alegria geral, vamos dizer assim, sabe, foi muito bom, apesar do susto, né, que é susto, mas foi muito bom, só isso que eu tenho pra falar.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Bom, na época eu tinha, meu filhinho fez três aninhos, eu tinha 24 anos, 24 anos.
P/1 – Vocês estavam morando juntos já?
R – Já, já tava morando junto praticamente, sabe? Tudo tranquilo, nada por acidente, várias pessoas acontecem isso: “Ah, foi um acidente”. Não, não foi, meu filho não foi planejado, mas não foi um acidente, ele sempre foi bem-vindo, desde o momento que eu descobri que ele estava vivo, porque desde o momento da sua fecundação, eu já o considerava meu filho. E até hoje, tá? Ele sempre foi bem-vindo, tanto é que é uma criança maravilhosa. Há diferenças da criança que é, que vem no mundo por obrigação de quem fez e há diferença da criança que é bem-vinda igual o meu filho, pode ter certeza disso, nunca esqueça disso que eu to te falando, tá?
P/1 – Qual que é o nome dele?
R – Meu filho chama Leonardo Filho, uma homenagem a mim mesmo (risos).
P/1 – Como é que foi, você acompanhou o parto, Leonardo?
R – Nossa, agora sim! Chegou na parte melhor de tudo, de tudo, tá? Bom, tudo aconteceu assim, tudo encaminhou pra minha esposa ter o parto normal, que de fato foi. E aos sete meses de gestação ela começou a sentir alguns incômodos, tá, ao ir no médico, o médico constatou que o bebê já estava praticamente pra nascer. Bom, aí veio o grande desafio, porque ele não tinha os pulmãozinhos maturados ainda, até então. E nós precisaríamos de uma UTI neonatal, se de fato acontecesse o parto, ele teria que ir diretamente pra UTI. E a UTI neonatal mais próxima que a gente encontrou que tinha vaga era em Catanduva, aproximadamente 360 quilômetros de onde a gente tava. Não tive dúvida: “Vamos pra Catanduva”. Fomos pra Catanduva, tal, beleza, chegou lá, conseguiu inibir o parto e começou um processo de maturação do pulmão do meu filho. Voltamos pra Andradina, aí a minha esposa não podia fazer nada, ela só ficava deitada, só levantava pra comer, ir no banheiro e voltava a deitar, o médico dela falou que ela não podia fazer nada, nada, nada, apenas isso. Eu era responsável por lavar, passar, fazer comida, trabalhar e ajudar ela no que precisasse. Enfim, com oito meses de gestação o meu filho poderia nascer onde estivesse, que o pulmãozinho dele já tava maturado, tava perfeito. Com oito meses e dois dias de gestação, ela entrou em trabalho de parto em Andradina e meu filho veio a nascer (risos). O mais gostoso disso tudo, a ligação entre o meu filho e eu é algo anormal, porque desde o momento que eu soube da sua fecundação, eu já tratava ele com muito respeito e carinho. E no seu parto, você perguntou se eu assisti o parto, né, na verdade eu ajudei no parto dele. Porque o doutor que atendeu ela, muito amigo meu, uma pessoa extremamente responsável, me convidou pra estar auxiliando ele no parto do meu filho. Eu lembro das palavras dele até hoje, ele falou assim: “Você é acostumado a partos de animal, quero ver se você vai ter força pra ajudar no do seu filho”, eu falei: “Eu tenho”, ele falou: “Então você vai tomar um banho, vai se paramentar, que você vai me ajudar”. Tomei um banho no hospital, me paramentei, o meu filho foi a primeira criança que nasceu no quarto na Santa Casa de Andradina, o parto totalmente humanizado. E o mais legal de tudo, eu que cortei o cordão umbilical do meu filho. Então, respondendo a sua pergunta, se eu assisti o parto, não, eu ajudei (risos).
P/1 – Como é que foi a sensação de ver ele quando ele saiu assim?
R – É, vamos dizer assim, eu te respondo isso daí numa única palavra: indescritível. Não existe palavra, não tem como te responder isso daí (risos), só passando pra saber mesmo.
P/1 – Como é que é ser pai, Leonardo? Como é que foi isso na sua vida, o que mudou na sua vida? Como é que é ser pai hoje?
R – Pra mim foi a melhor coisa do mundo, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, naquele dia 25 de maio de 2011 quando eu fui pai, porque eu tive um amadurecimento muito grande, tá? Até então, ok, eu levava a vida, sempre com o pé no chão, com firmeza, com responsabilidade, mas a partir do momento que ele nasceu, concretizou tudo aquilo que eu havia plantado, entendeu? É tudo de melhor que você possa imaginar, só isso que eu tenho pra falar, entendeu, é muito bom ser pai.
P/1 – Que ótimo!
R – Muito bom.
P/1 – Eu vou encaminhar pras perguntas finais agora, mas antes de encaminhar, são duas questões finais, eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar.
R – Não, na verdade eu gostaria de fazer alguns agradecimentos, mas a gente poderia deixar pro final talvez.
P/1 – Pode ser, pode fazer as duas e aí você termina agradecendo.
R – Tá.
P/1 – Então a penúltima pergunta é: quais são seus sonhos hoje?
R – O meu sonho hoje (pausa). Nossa, o meu maior sonho hoje? Eu tenho vários na verdade, sabe, mas eu não sei.
P/1 – Um deles ou dois deles.
R – Não, eu tenho vários sonhos na vida, sabe, ver o meu filho crescer é um grande sonho que eu tenho, ver ele formado um dia. O meu maior sonho hoje é esse, poder ver meu filho formado em alguma coisa, é isso. Olha, a princípio eu estava um tanto quanto apreensivo, porque, querendo ou não, é a primeira vez que eu participo de uma entrevista assim, mas foi muito bom, tá, muito bom mesmo. Pude entrar em alguns detalhes aí que nem eu lembrava, na verdade, eu pude reviver a minha história do momento que eu me lembro e que eu estava ali, né, pequeno, até hoje, foi muito bom.
P/1 – Que bom.
R – Muito bom mesmo.
P/1 – Então, se você quiser fazer s agradecimentos pra gente poder encerrar.
R – Eu só gostaria de agradecer a vocês terem vindo até aqui, terem tido a paciência de tá me entrevistando. Eu gostaria de agradecer a toda equipe da DPA Nestlé e, principalmente, agradecer à Gênesis e toda a sua equipe corporativa, na qual eu uso da pessoa da Dona Larissa, que é hoje a coordenadora da filial aonde eu ministro o programa, eu uso da pessoa dela pra agradecer a toda equipe da Gênesis que nos apoia diariamente aí. E, lógico, né, principalmente agradecer a Deus por esse momento.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada, a gente encerra então, a gente que agradece na verdade.
FINAL DA ENTREVISTA
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