Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de João Roque de Araújo
Entrevistado por Tereza Ruiz
São José do Rio Pardo 27/08/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV_55
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então primeiro, João, eu vou pedir pra você dizer pra gente o nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é João Roque de Araújo, eu nasci em Caconde, 16 de agosto de 1974.
P/1 – Agora o nome completo, e se você lembrar, local e data de nascimento dos seus pais também.
Se lembrar.
R – Meu pai é Angelino de Araújo, e minha mãe, Margarida Cândida de Almeida Araújo.
Eles são.
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Eu não lembro agora.
P/1 – Não tem problema.
Não, se não lembrar, não tem problema.
Você não se lembra de onde eles são nascidos?
R – Eles são de.
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Um de Caconde e outro acho que Guaxupé, não lembro certo, o meu pai, e é de 1943, os dois.
P/1 – Os dois.
Tá bom.
O que eles faziam ou fazem profissionalmente, seu pai e sua mãe?
R – A minha mãe sempre foi dona de casa, e meu pai já é falecido há três anos.
O meu pai era agricultor.
Ele plantava cebola, plantava milho, toda a parte agrícola ele trabalhava, e também trabalhava com leite.
Ele tinha uma parte que fornecia leite para as cooperativas da região de Caconde.
P/1 – Mas ele tinha uma pequena propriedade, ou não, ele trabalhava na propriedade de alguém? Como era?
R – A propriedade era do meu avô, aí dividiu para os meus tios.
E ele assumiu a área dele e começou a produzir o próprio leite, um pouco de hortaliças, que eu falei, que é a cebola, milho.
Aí ele começou a plantar pra ele café também.
E essa propriedade ainda tá até hoje na família, onde eu e meus irmãos demos seguimento nisso, estamos plantando.
Eu tenho meu irmão mais velho, ele mora lá no sítio hoje, ele que trabalha lá no sítio.
P/1 – Qual o nome do.
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R – Do meu irmão?
P/1 – Do sítio.
R – É Sítio Nossa Senhora.
P/1 – Em Caconde?
R – Em Caconde.
P/1 – E você tem quantos irmãos?
R – Eu tenho cinco irmãos.
P/1 – Qual o nome deles?
R – Eu tenho cinco irmãos, tudo homens: Antônio Carlos, Geraldo, eu sou o do meio, depois vem o Marcos Donizete e o Carlos Alberto.
P/1 – E todos trabalham nessa área agrícola assim?
R – Nem todos.
O mais velho, ele mora no sítio, ele tem uma parceria com meeiros, outras pessoas que trabalham lá com ele, e ele trabalha na prefeitura de Caconde.
O Geraldo trabalha na polícia.
Agora, eu, o Marcos e o Beto, o Carlos Alberto, tudo trabalhamos na área agrícola.
Antes, na época que tava estudando, até na época do Geraldo, tinha uma grande dificuldade de estudar, de você conseguir ir pra uma faculdade, moramos no interior, e eu fui o primeiro que saí da minha casa pra ir fazer um colégio interno.
Então aí que gerou que meus outros irmãos foram atrás, e estudar, e fazer faculdade.
Hoje, inclusive, o Marquinho é dono da Sementes Rio Pardo.
É sócio da Sementes Rio Pardo.
Então foi em função disso que foi se desdobrando um pouco mais de estudo para os filhos mais novos.
P/1 – Você abriu o caminho assim.
R – É.
Acabei indo fazer um colégio interno em Minas, fiz o colégio e o curso técnico.
Depois disso que eu fui fazer faculdade, pra frente, mas eu sempre trabalhando.
Eu nunca.
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Depois de fazer o curso técnico, eu já fui trabalhar e estudar depois, nunca fiquei um período só estudando após o meu colégio.
P/1 – Eu vou querer falar um pouquinho mais com detalhes dessa fase, mas vou voltar primeiro ainda na tua infância, nos seus pais, na verdade.
P/1 – O seu pai sempre trabalhou como agricultor? Você sabe se ele teve algum estudo formal? Como é a história dele com isso? Ou ele trabalhou desde criança?
R – O meu pai fez só a quarta série e trabalhava junto com o meu avô, então sempre trabalhou no sítio.
Quando o meu avô já era bem de idade, eles acabaram dividindo as terras, aí ele começou a produzir sozinho.
Mas sempre trabalhou na agricultura.
Meu pai sempre foi do meio rural.
Que em nível de interior, a maioria que tá no interior é sempre da parte agrícola.
P/1 – Você sabe qual a origem da sua família?
R – A do meu pai, o bisavô do meu pai era italiano.
A minha avó já nasceu no Brasil, mas é a primeira origem que veio da Itália, mas que nasceu no Brasil, e depois, a da minha mãe era brasileira, mas quatro gerações eram portuguesas, também tudo imigrantes, vamos dizer assim.
P/1 – E essa parte italiana, você sabe por que eles vieram para o Brasil e o que eles começaram a fazer como atividade econômica quando chegaram aqui?
R – Então, da minha avó, eles vieram pra mexer com agricultura, porque naquele tempo.
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E essa é uma história que eu também só escutei falar, eu nunca li nada muito concreto disso.
Os italianos vieram para o Brasil, tanto é que foram bastante para o Paraná, que na época tinha bastantes áreas pra trabalhar com o café, tudo, no Paraná, e uma parte ficou aqui próxima da nossa região.
Eu to morando na divisa de Minas, e a minha família anterior, assim, o meu passado, é um pouco mais de Guaxupé, da região ali de Minas, sul de Minas.
Então vieram pra trabalhar na agricultura e com o seu trabalho conseguiu comprar algumas áreas, que já são na área de São Paulo, já são no estado de São Paulo, onde tem hoje a propriedade.
Então tinha 30 alqueires de terra comprado com o trabalho mesmo rural e vindo de uma área que não tinha nada.
Aí foi trabalhando, trabalhando com leite, trabalhando com cebola e café, e aí comprou essa área, onde tá hoje dividida entre os meus tios.
P/1 – E descreva um pouco pra gente como seus pais eram de jeito, de temperamento.
R – Meu pai bastante seguro nas ações dele, ele nunca pegou um empréstimo no banco, por exemplo, ele não aceitava receber uma cobrança, então muito seguro das suas ações e muito firme na criação dos filhos.
Nós fomos muito orientados a sermos justos nas nossas ações.
Então, qualquer coisa, tipo, cobrança que ele recebia, ele não aceitava nunca.
Então ele sempre colocava que a parte do compromisso era: se você combinou, você fazer.
Você não era obrigado a combinar, mas você era obrigado a cumprir o que você combinou.
Então meu pai era muito firme nessa parte com a gente.
Só que ele não ficava muito próximo por trabalhar muito.
O me pai.
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Na verdade, a minha mãe ficou muito mais próxima nossa do que o meu pai.
O meu pai acordava muito cedo, chegava tarde.
E a minha mãe, dona de casa, apesar de ajudar muito o meu pai, foi que tinha o maior contato.
Então todos nós éramos um pouco mais apegados com a mãe, tudo, em função disso.
Mas a mãe que corrigia lição de escola, essa parte era mais com a minha mãe.
P/1 – E como ela era assim de personalidade, a sua mãe?
R – Ah, a minha mãe é mais de passar a mão na cabeça, entender mais os problemas.
O meu pai é muito mais duro e a minha mãe assim mais calma, entendendo mais os problemas que aconteciam pra tentar entender o porquê daquela ação que foi feita.
E o meu pai não, não importa a ação que foi feita, importa que não tem que ser feita.
Então eram personalidades bastante diferentes.
Mas a mãe é que dava uma sustentação para as perguntas nossas, vamos dizer.
E o meu pai mais assim: é isso que eu quero, é isso que nós temos que fazer, esse é o certo.
Então não perguntava muito como tinha que chegar àquele local, e sim como tinha que chegar lá.
Então é um pouco assim.
P/1 – E nessa época de infância e na juventude, como eram as refeições na sua casa? Quem cozinhava? O que vocês comiam?
R – Ah, sempre a minha mãe.
Sempre comida a minha mãe que fazia.
Meu pai nunca mexia com comida, ele não gostava.
Tanto é que eu falei que ele não tinha muito tempo em função de ele estar sempre mexendo com o leite, que era cuidar das vacas, tudo.
Então ele acordava muito cedo e já ia mexer com isso, fazia.
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Eles chamam de retiro lá de leite, que é trazer as vacas, tratar e tirar o leite, e depois ia fazer a segunda parte que era o trabalho no campo, o trabalho com a agricultura.
E a mãe fazia toda a parte de alimentação.
Então a preocupação de fazer, de o quê fazer, sempre a minha mãe, nunca ninguém ia ajudar.
E cinco filhos, então ficou tudo na mão dela.
Apesar de que, assim, eu não falei, mas ela perdeu uma menina.
Nós tínhamos uma irmã que nasceu e morreu.
Foi a segunda.
Depois do Antônio foi ela que nasceu e morreu.
Então não dá muita lembrança por ser muito no passado e eu ser depois.
Então não dá aquele sentimento.
Às vezes quando a gente conversa com ela, ela lembra com muita saudade, talvez, daquilo.
Mas voltando à parte da alimentação, muito daquela época era produzido no sítio, que o meu pai produzia, então naquela época a gente conseguia ter muita coisa do sítio.
Mas nunca faltou nada.
Foram fases difíceis, sim, no passado.
Se você comparar, hoje eu tenho 40 anos, se eu comparar 30 anos atrás, a dificuldade de produção, a dificuldade de comercialização era muito maior do que hoje.
Hoje um produtor consegue produzir 200, 500 hectares sozinho em função da mecanização.
E antes, um produtor pra trabalhar com um, dois hectares, era muito complicado.
Então é isso que fazia com que todo mundo tinha um pouco da sua produção para alimentação no sítio.
Então meu pai plantava um pouco de arroz pra ter durante o ano, tinha frango, tinha feijão.
Então uma parte da produção era produzida no sítio, e a minha mãe que fazia toda essa parte de cozinhar e servir, vamos dizer.
P/1 – E a base da alimentação, o que vocês comiam? O que ela costumava fazer no dia a dia?
R – É muito normal, acho que não mudou muito, vamos dizer, é arroz, feijão, frango, carne, tinha sempre uma verdura, que por estar no sítio, tinha uma horta.
Apesar de ser, igual eu falei pra você, uma dificuldade de produção grande, em função de volume, tudo, mas tinha uma facilidade pra você ter isso no sítio.
Que às vezes hoje você tem um pouco de dificuldade de encontrar uma alface como encontrava lá no sítio naquela época, que era muito mais fácil de ser.
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Você ia dez metros da sua casa, você tinha lá um pé de alface que você colhia na hora e comia.
Hoje a gente mora na cidade, que não tem uma horta, que você vai comprar no mercado.
Então a questão da alimentação talvez um pouco mais saudável, vamos dizer assim, ou mais natural possível.
É o que nós estamos buscando hoje nesse trabalho que eu faço com a Nestlé, tentar ter um produto mais saudável possível, com menor quantidade de pesticida, tudo.
Pra mim, eu gosto de fazer o que eu faço hoje em função do que eu vivi já lá no passado, que era que a gente conseguia ter produtos praticamente orgânicos na mesa no dia a dia.
Porque você plantava na sua horta e nunca passou um produto pra inseto.
Nunca passou.
Porque nem tinha.
Pelo menos era muito difícil de encontrar isso, então se tinha uma produção era pequena, lógico, uma horta pequena, mas era produção que você coletava, você podia pegar e já comer, que você sabia que não tinha nada.
Então é bastante saudável.
Se você lembrar hoje, às vezes você vai a alguns restaurantes simples que você vai, que você consegue ter um sabor um pouco parecido com o seu passado, isso você resgata um pouquinho da sua infância, que é gostoso, vamos dizer assim.
P/1 – Vocês comiam juntos? Como era o momento da refeição?
R – Em casa nunca foi muito de “ah, tem a mesa e todo mundo tem que comer no mesmo horário”.
Não era muito assim.
O que era mais tradicional era ter o almoço do domingo todo mundo junto.
Esse sim era comum de se fazer, essa união.
Antes, que tinha a minha avó, às vezes a gente ia no domingo almoçar na casa da minha avó, então juntava os tios, tudo.
Então só o domingo que era mais uma tradição de almoçar junto e estar todo mundo reunido.
No dia a dia era um pouco já corrido, a gente já estudava, o pai almoçava às vezes na outra área que ele tava produzindo, tinha alguém que levava almoço pra ele, então não tinha a tradição de almoçar todo dia junto.
Mas o domingo sim.
O domingo, todo mundo tava junto.
Às vezes fazia uma macarronada, alguma coisa que não era.
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Um pouco diferente do dia a dia.
P/1 – E nessa fase de infância, quais eram as brincadeiras? Do que você brincava? Com quem você brincava?
R – Brincava com os meus irmãos, que era só homem, era aquela bagunça em casa.
Imagina a minha mãe como ficava, né? A gente brincava.
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Assim, principalmente foi bola.
Bola era.
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Ainda eram cinco, dava até par formar time.
Mas eu vejo uma grande diferença de ter o brinquedo e fazer o brinquedo.
Nós fazíamos com casca de laranja e gomos de bambu, a gente fazia um brinquedo que você colocava a casca de laranja, apertava, e depois empurrava lá no final.
E depois colocava mais casca de laranja na entrada e apertava aquela segunda parte, fazia como se fosse uma arma, por exemplo, então a gente brincava disso.
Nós fazíamos carrinho com retrós de linha.
Um retrós de madeira e uma vela, então você colocava uma borrachinha, um elástico de dinheiro, e colocava dentro dele, movimentando essa parte e colocando no chão, a outra andava sozinha.
Então nós fazíamos um brinquedo que andava sozinho assim do nada.
Mas o principal mesmo que a gente brincava era futebol.
Mas eu lembro muito disso, de a gente construir esses brinquedos e brincar.
Era gostoso.
Hoje eu tenho uma filha e um filho, eu não vejo minhas crianças olharem isso e querer fazer alguma coisa desse tipo.
Em função acho de ter um pouco mais de facilidade, um carrinho que já anda sozinho sem ter que fazer.
P/1 – Você fala que vocês jogavam bastante bola, futebol.
Era bola? Era bola mesmo? Bola comprada? Como era essa bola?
R – A gente tava.
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É lá bem no passado, mas já tinha, já tinha bolas, tudo.
Não tinha aquela facilidade de ter, por exemplo, igual o meu filho tem cinco bolas lá em casa.
Então a gente era cinco, chegava no Natal, às vezes ganhava uma bola.
O meu pai não era aquele negócio: olha, uma bola pra você, uma pra você, uma.
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Não.
Era uma pra todo mundo.
Se vocês gostam de jogar, tá aqui a bola.
Então a gente quando ganhava essa bola, nossa, era uma alegria.
Um vai abrir, o outro vai carregar a bola, o outro que vai chutar a primeira vez.
Então fazia muito isso, mas tinha, sei lá, nove, dez anos.
Então isso era muito gostoso.
Aí brincava muito.
Campos, quando nós estávamos no sítio, não tinha aquele campo plano, que tem as traves, tudo certinho, aí fazia de bambu as traves.
O campo era um pouco torto, então tinha que jogar naquele, porque não tinha uma condição de arrumar aquilo e gramar pra ficar certinho.
Era uma parte da pastagem das vacas, por exemplo.
Então era lá que se jogava bola.
Então um pouco da brincadeira era assim.
P/1 – Você torce pra algum time?
R – Torço para o São Paulo.
P/1 – E você lembra assim quando você se tornou são-paulino?
R – Eu tinha uns 12 anos, meu pai tinha parado de jogar futebol, ele jogava assim, pelada.
Então ele tinha parado de jogar, mas assim, eu gostava de ir ao campo, de ir junto com eles.
E com 12 anos, o meu padrinho morava do lado de um campo de futebol grande, e eu já brincava na escola, tudo.
E tinha um time que chamava.
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Chama até hoje, Sete de Setembro.
E o meu padrinho falou assim: “Vamos lá, que eu vou levar você.
Eu vi você brincando, dá pra você jogar no segundão lá.
Porque tem dois times, um é titular, o outro é segundo, então o segundo é mais fraco, eu vou levar”.
Então com 12 anos eu comecei a jogar.
Então ele me levar para o campo fez com que eu me apegasse muito ao meu padrinho.
Meu padrinho é vivo hoje ainda, ele tem uns 88, 90 anos, não sei bem certo, não lembro certo, e ele é são-paulino assim, doente.
Então aí que ele começou a falar do São Paulo, tudo.
E daí pra cá eu sempre torci para o São Paulo.
Só eu que sou são-paulino na família, o meu pai é santista, minha mãe é corintiana.
Só que eu tenho irmão que é palmeirense, mas nenhum é são-paulino.
Então foi daí que eu torci para o São Paulo.
P/1 – E você tem algum ídolo no futebol?
R – Ah, a gente gosta de alguns jogadores que têm um pouquinho mais de técnica.
Quando eu fui para o Pará, eu acabei jogando um pouco na Tuna Luso, em Belém.
Não é falar que é profissional, não fui, porque eu não vivi do futebol, eu sempre trabalhei, então na passagem minha em Belém, eu trabalhava numa área florestal e eu jogava bola.
Então nessa que eu jogava bola, eu jogava na Tuna, ganhava salário, tudo, mas não é.
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Profissional é quando você vive daquela profissão.
Falar de ídolos é tipo.
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Eu gosto de pessoas que têm um pouco mais de habilidade, tipo um Kaká, tipo um Ganso, são atletas que jogam mais meio de campo, ele passeia em campo, ele não só corre em campo.
Até hoje eu jogo bola, disputo ainda campeonato, apesar de velho, ainda corro um pouquinho.
Então gosto de pessoas assim.
Mas assim, ídolos, de falar “aquele é meu ídolo”, eu nunca fui muito assim ligado.
Eu gosto de pessoas que jogam bem, que tem um diferencial de raciocínio durante o jogo.
P/1 – E descreva um pouco pra gente agora onde você passou a infância.
Como era a casa? Como era a região?
R – O sítio do meu pai é próximo à Usina de Caconde, à usina hidrelétrica, então é uma região bastante turística.
Está a sete quilômetros da cidade.
Essa região é bastante montanhosa, é próximo já em sentido Minas, que é montanha, então a região de pasta.
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Muita pastagem, muitas matas.
E é uma casa simples.
É uma casa com três quartos, sala, cozinha, banheiro, tem uma cozinha de fora.
Não tem muita mordomia, vamos dizer, mas uma casa muito simples, que até hoje minha mãe mora lá.
Tem mais uma casa que foi feita do lado, que o meu irmão mais velho mora.
Mas uma casa assim, quando eu posso, eu vou dormir um final de semana lá.
Vou e durmo lá pra ficar com a minha mãe.
Nós estamos falando de muito próximo da cidade, próximo de seis, sete quilômetros.
Que quando eu estudava também lá, teve ano de a gente ir estudar a pé.
Ter que deslocar sete quilômetros a pé até à cidade pra estudar.
Então aquela base minha de escola eu fiz tendo um pouco mais de esforço, acordando quatro e meia da manhã, até trocar, tomar banho ali, é uma região fria, e estar na escola sete horas, começar a aula.
Então foi um pouco sofrido o comecinho pra estudar.
Mas eu tinha até esquecido desse detalhe.
P/1 – Quanto tempo de caminhada era?
R – Sete quilômetros.
Então, assim, eu não lembro bem quanto tempo a gente gastava disso, mas são sete quilômetros, sendo que três quilômetros era estrada de terra e quatro quilômetros de asfalto.
Então passa uma parte que a gente tinha que caminhar até lá e voltar.
Depois voltava 11 horas, fazia o mesmo caminho de volta.
P/1 – Quais são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Eu me lembro da minha professora, a dona Mariinha, por exemplo, a primeira professora.
Mas assim, nessa época você lembra mais talvez as grandes dificuldades suas de você conseguir fazer isso.
Hoje eu olho, eu tenho faculdade, eu tenho pós-graduação.
E eu lembrar que quando eu comecei, eu acordava quatro horas da manhã.
Às vezes não tinha muita blusa, e era frio.
Eu me lembro do meu irmão, por exemplo, num dia muito frio ele trocar a blusa comigo, porque ele achava que a minha.
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Eu tava com mais frio do que ele.
Eu lembro muito disso da escola.
Eu me lembro dos professores, de alguns professores.
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(corte no áudio).
P/1 – Então só pra retomar, João, você tava contando pra gente como era ir pra escola quando você era pequeno, essa primeira escola, a dificuldade de ir, a questão do frio.
Então se você quiser contar um pouco como era esse esforço de ir e voltar, como era essa escola.
Era uma escola rural?
R – Não.
Escola na cidade.
Passou a ter escola rural depois.
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Eu já tinha ido pra Muzambinho, aí passou a ter uma escola rural próxima, isso facilitou muito.
Por exemplo, meus irmãos mais novos até estudaram da primeira à quarta série numa escola rural.
E eu fui pra escola na cidade desde os seis, pra sete anos.
Tarde, né? Que meus filhos com três anos estão estudando.
Mas de seis pra sete anos.
E nesse período, nos dois, três primeiros anos, aí não tinha transporte, tudo, acaba tendo essa dificuldade, acordar muito cedo pra poder se deslocar até a cidade e ir à escola.
Nos dias muito frios era uma dificuldade, não tinha aquele monte de blusa, cada um tinha uma e essa uma era pra tudo.
Você ia a uma festa, você ia à escola, você ia.
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Então era bastante difícil.
Contei que o meu irmão, nos momentos que tava muito frio, o meu irmão ia comigo, ele trocava a blusa comigo, achando que eu tava passando frio, aí me dava uma blusa um pouquinho mais quente.
Mas assim, você chegava à escola.
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Hoje o clima mudou muito, mas você chegava à escola, depois de você ter caminhado ali sete quilômetros, que deveria estar bem aquecido, você tava com os dedos tudo assim meio duro pra você escrever, você sentia assim uma dificuldade.
E isso você conta assim, a pessoa: “Ah, não é possível”.
Mas era uma verdade, você ia escrever, tava com uma dificuldade grande ainda.
E você com oito anos de idade andar sete quilômetros.
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Sorte que assim, segurança era muito tranquila.
A mãe deixava ir junto com o irmão, que tinha 12, e andar um período desse e não tinha medo.
Hoje eu tenho uma filha de oito, eu não tenho coragem de deixá-la sair até a esquina.
Então ficou muito diferente.
Mas eu acho que o conceito também de escola, quando o meu irmão.
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Foi decaindo um pouco essa questão de escola, porque o meu irmão fez a oitava série e parou, o mais velho.
Fez oitava série e parou em função de ajudar a gente também a conseguir estudar esse período todo.
Eu, por exemplo, consegui estudar, mas eu consegui em função de o meu irmão fazer a base com a família, que era manter a casa, alimentação, tudo.
Agora, depois de muito tempo de formado, ele sabe algumas fórmulas que nós que estudamos, fizemos faculdade, fizemos pós-graduação, talvez não lembremos com tanta clareza das fórmulas que ele estudou na oitava série.
Então essa escola, essa dificuldade traz pra gente também uma força pra quem quer estudar, quem quer realmente ter um objetivo lá no futuro de conseguir alguma coisa, você também mede por isso que você tá fazendo, esse esforço que você tá fazendo, ou você desiste de vez.
Então eu tive vários colegas que faziam o mesmo processo nosso e acabaram desistindo no meio do.
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A primeira dificuldade: “Ah, não vou à escola.
Depois eu volto”.
Então acabaram ficando pra trás.
Então acho que pra um sucesso na vida da gente, a gente tem que passar por várias barreiras, e uma delas, por exemplo, foi essa dificuldade lá no começo que eu tive pra estudar.
P/1 – Você lembra quando você era criança se você tinha um sonho de ser alguma coisa quando crescesse? Essa coisa que a gente fala, sabe, de criança, “ah, quero ser tal coisa quando crescer”.
P/1 – Eu não lembro com muita clareza, falar pra você que eu tinha assim um sonho claro, não.
Mas quando eu tava um pouco maior, que tinha opção já de uma escolha, quando eu fui pra Muzambinho, que fiz escola agrícola, a família quase toda vinha da agricultura, e eu pensava assim, que se eu conseguisse um conhecimento maior.
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Eu nunca pensei em ser.
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Nunca pensei em hoje estar trabalhando na Nestlé e estar fazendo o que eu faço hoje.
Mas eu pensava que com conhecimento eu conseguiria mudar o processo produtivo do sítio, eu conseguiria melhorar o que eu meu pai produzia dentro do sítio, conseguir viver do sítio de uma forma melhor, vamos dizer assim, mais sustentável.
Apesar de que ele era sustentável, vamos dizer, porque até hoje o sítio tá lá e ele conseguiu criar a família, tudo.
Mas assim, talvez crescer com mais intensidade, talvez ser mais efetivo, não ser um trabalho muito só braçal e ser um trabalho mais técnico.
Então eu nunca tive um sonho assim.
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Eu não lembro, talvez, de ter um sonho assim, falar “ah, eu queria ser jogador de futebol”.
Porque toda criança, se eu pudesse ser jogador de futebol só, eu poderia, mas eu nunca fiz um teste, tudo.
Eu acabei jogando bola da sorte, por exemplo, fui fazer um jogo, me convidaram, eu acabei trabalhando e jogando.
Então foi muito na sorte.
P/1 – E nessa fase de escola assim, você teve algum professor marcante?
R – Eu tive um professor, o Fernando, não é na fase inicial, pra mim o Fernando, é um professor de Física, ele me inspirava muito.
Ele era de Caconde, mas dava aula em Muzambinho, na escola agrícola que eu fiz.
Então ele era um professor que enquanto os outros chegavam à sala com apostilas, ele chegava com giz.
E fazia as fórmulas todas na lousa e desafiava, às vezes, a gente pra levar fórmulas.
Ele dava uma fórmula pra gente de Física e falava: “Olha, quem quiser, manda uma pra mim que eu faço de volta”.
Então ele é uma pessoa que realmente tinha o conhecimento.
Ele inspirava a gente em aprender.
Ele falava: “Olha, se você quiser participar da aula, você participa, se não quiser, pode ir embora”.
Nem lista de presença ele gostava de fazer.
Mas realmente ele transferia pra você uma informação que você aprendia.
Aí você gostava daquilo, gostava de ir à aula dele por causa disso.
Então brincava a aula inteira e você acabava gostando da matéria e nenhum aluno, praticamente, ia mal na matéria dele.
Então ele é um dos professores que eu tive que foi um destaque pra mim, e talvez até um alinhamento pra estudar, tudo, foi ele que fez.
P/1 – E na infância, assim, adolescência, além de estudar, você ajudava os seus pais em casa, na roça? Você ajudava o seu pai?
R – Sim.
Morar na área agrícola, você sempre tá fazendo alguma coisa.
Nós muito pequenos ainda, talvez oito, dez anos, a gente cortava, por exemplo, cana.
Depois da escola, à tarde, cortava cana para o meu pai tratar das vacas.
E período já um pouco posterior a isso, colheita de café eu já fui ajudar, já ajudamos muito o pai nessa época.
E pra nós, assim, as férias era estudar.
Porque férias você ia para o sítio, o que você ia fazer? Trabalhar.
E não é aquele trabalho que o pai falava: “Você tem que fazer aquilo”.
Então você via que tinha uma dificuldade, você tinha uma necessidade de ajudar.
E se você não ajuda, seu pai trabalha até oito, nove horas da noite.
Se você ajuda, seu pai tá sete horas com você em casa, seis horas, cinco horas da tarde, não sei.
Então ele brincava de bola no terreiro com a gente.
Então às vezes o que a gente fazia? Às vezes: “Olha, vamos colher a cana, ajudá-lo, que aí ele sai mais cedo, vai brincar com a gente lá de bola ou fazer uma coisa diferente”.
Isso já numa fase maior, quando a gente podia já ajudar.
Antes nem via quase o pai, acordava cedo e voltava só de noite.
Mas sempre nós ajudamos.
E todos, talvez uma intensidade maior nos filhos mais velhos, com dificuldades maiores, tinha que ajudar um pouco mais.
E na fase agora final, que o meu irmão mais novo é bem mais novo do que os outros, então tem um diferença de idade de mais de dez anos do último para o penúltimo, do Beto para o Marquinho.
Isso dá uma condição pra ele, talvez, de não ter que ajudar muito, talvez de já ter uma fase mais especial de brincar, de ter uma condição de escola talvez melhor.
Então a questão de ajudar no sítio, até hoje eu acho que toda criança que mora no sítio em algum momento tá ajudando o pai, não é pensar nisso como trabalho escravo, que o filho não pode estudar, trabalho infantil.
Ele tá ajudando de alguma forma, seja que o seu pai faça alguma coisa no sítio, a não ser que seu pai seja um empresário rural, onde ele tá no computador e os funcionários trabalhando, aí é um pouco diferente a situação.
Mas sempre você vai ver esse caso acontecendo e o filho ajudando aí a família.
P/1 – E nessa fase de infância, tem alguma história, um episódio, uma coisa que você tenha vivido que tenha ficado na memória, que você lembra até hoje, essas coisas que marcam a gente, sabe? Que você conte.
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Sei lá, que a família lembre, que você se lembre, uma coisa que você conte para os seus filhos, ou vá contar um dia para os seus filhos? Uma história de infância mesmo.
R – (risos) É difícil lembrar assim.
São muitas coisas que você faz.
O que eu conto para os filhos assim, às vezes que eu to conversando, e também assim pra colegas, é assim essa parte que a gente teve de montar brinquedos, de ter essa liberdade de brincar no sítio com os irmãos soltos, vamos dizer assim, que você não era preso, essa facilidade, não de.
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P/1 – Um causo.
R – É.
Um caso muito específico.
Porque, nossa, arte, nós fizemos muita.
O tanto de coisa que fazia, subia em goiabeira.
E hoje, você vê as crianças, as minhas crianças não fazem isso.
Tudo que a gente fazia assim era muita arte, se for ver, comparando com hoje.
Mas não tinha nada, não lembro nada especial assim pra colocar.
P/1 – E nessa mudança assim da infância pra adolescência, que é uma fase de transição, quando você entrou na adolescência, juventude, o que mudou na sua vida em termos de amigos, passeio, lazer? Mudou alguma coisa? O que você fazia pra se divertir? Como foi a fase de adolescência e juventude antes da faculdade, antes de.
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R – Então, essa fase foi a fase que.
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Essa fase de adolescência foi uma fase de mudança, praticamente, na minha vida.
Foi quando eu deixei de trabalhar, de estar ali no sítio, e fui para o colégio interno.
Eu fiz um colégio em Minas, em Muzambinho, eu fiz o colégio interno.
Então ia, a cada 15 dias um final de semana em casa, às vezes ficava um pouco mais de tempo lá.
E essa foi uma fase que na verdade eu estudava o dia inteiro.
Então você pensar em diversão, de sair, de curtir muito.
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O que eu gostava muito era de vir pra casa, que eu tava junto com a minha mãe, com a família, e jogar bola o final de semana, jogava bola no domingo.
Então falar assim: “Ah, eu saía, ia a um shopping”.
Não.
A diversão que eu tinha era voltar pra casa, estar junto com a família, com os amigos ali, e sempre jogando bola.
Assim, domingo era.
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Sempre ia para o campo com o pessoal.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você foi para o colégio interno?
R – Tinha 14.
P/1 – E você lembra como foi essa decisão, como foi sair de casa? Porque é uma mudança bem radical ir pra um colégio interno.
Como seus pais ou você tomaram essa decisão e como foi essa ida para o colégio?
R – Então, quando eu tive essa.
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Eu fui fazer uma visita nessa escola, eu tava fazendo a oitava série, eu fui fazer uma visita nessa escola, e no próximo ano eu já tinha a oportunidade de estar lá.
Ou ia, ou.
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Então tinha o vestibular pra passar, tudo.
Quando eu fui pra casa, falei com a mãe, o pai, morar fora.
É morar fora.
Não é tão longe, mas assim é uma mudança.
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Apesar de ser fechado, ser um colégio, tinha 360 alunos, mas era você morar num local com muita gente.
Então a princípio tinha um pouco de resistência, a mãe achava que não deveria, tudo, mas teve o meu tio, um dia eu tava indo para a escola, tava próximo lá, na cidade já, encontrei o meu tio.
Aí meu tio falou assim: “Não, mas você tem que decidir mesmo.
Hoje se você ficar aqui, olha nós” – meu tio falando – “Olha nós pra você ver, nós hoje temos o sítio, eu toco o sítio, e o que nós vamos melhorar? Nós estamos tentando estudar vocês, então se vocês não quiserem uma coisa diferente, vocês não vão ter essas coisas diferentes”.
Então eu pensando, falei: “Ah, eu vou fazer o vestibular, vou ver se consigo passar”.
E eu passeio acho que em 13º, e tinha 400 alunos, fui até muito bem no vestibular.
Então fiquei fazendo parte da primeira turma, porque lá é por classificação de nota, tudo.
Então acabei fazendo parte da primeira equipe.
E quando eu passei, que eu falei, aí eles: “Nossa, que bom que passou.
E aí, você vai?”.
Então essa é uma pergunta que era difícil, porque você tinha que pagar a inscrição, você tinha dificuldade pra pagar a inscrição, você pagava uma taxa só de inscrição e não pagava mais nada, mas mesmo assim tinha um pouco de dificuldade.
“Ah, não, vamos fazer uma força.
” Meus irmãos também: “Ah, vamos.
Então você vai” “Então tá bom”.
Aí eu decidi mesmo ir pra escola e daí eu praticamente não voltei mais pra casa.
Depois dessa mudança, eu fiquei lá três anos.
P/1 – Você lembra como foi a saída? O dia que você foi a primeira vez? Conta pra gente.
Quem foi te levar, o que você levou? Como você tava se sentindo?
R – Então, esse dia, é como eu até contei pra você do meu pai, meu pai é muito certo com as coisas, “que dia começa a aula?”.
“A aula começa segunda-feira”, o dia que tá marcado, não lembro a data assim, mas vamos falar assim, segunda-feira, dia primeiro.
Normalmente os alunos chegavam na outra segunda-feira, porque a primeira semana era integração.
Meu pai: “Não, você vai domingo.
Na segunda-feira eu vou trabalhar”.
Aí ele conversou com o meu tio, aí meu tio que foi me levar.
Então levou colchão, levamos tudo pra eu já ficar lá.
Então enquanto não tinha ninguém na escola, ou os últimos formandos do outro ano, que ainda estavam fazendo a segunda época ali, aquelas pessoas já, vamos dizer, com costume de escola, com trote, aquele negócio todo, chego eu lá com 14 anos, domingo à tarde, meu pai: “Olha, nós não podemos ir muito tarde.
Chega aqui, aqui que você tem que ficar”.
Chamamos o rapaz, o inspetor, falou: “Não, escolhe aí”.
Tinha um quarto com dez beliches, não lembro certo, dez, 15 beliches.
“Escolhe aí a sua cama, o seu armário, depois onde tá o refeitório, isso aí nós vamos te ensinar.
” Meu pai chega, me deixou lá.
Mas assim, era uma condição que não tinha.
Eu defini ir, eu queria ir, ele não poderia ficar lá me ajudando todo o tempo.
Então foi um momento muito difícil de você chegar e ficar onde não tinha nenhum da minha idade, todo mundo chegou dali uma semana, praticamente, alguns chegaram no meio da semana, porque vinha aluno do Brasil inteiro.
Era uma escola de referência na agricultura, então você tinha pessoas do Mato Grosso, do Macapá.
Eu tive colega de Macapá.
Então terça, quarta, aí começou a chegar aluno de todo lado, aí que eu comecei a ter o entrosamento, na verdade.
E, lógico, com muito medo ainda de tudo aquilo, porque tudo aquilo era novo pra mim.
Os alunos que estavam lá eram alunos que estavam quase repetindo o ano de formação, eles estavam no terceiro ano ali, então são alunos que não são aqueles que gostavam muito de estudar.
Então estavam ali no final do ciclo deles, então foi uma dificuldade grande nesse momento.
Mas assim, eu sempre encarei esses desafios, mesmo nessa primeira etapa, com muita vontade de querer fazer alguma coisa.
Então fui pra lá com essa dificuldade, participei de bolsas pra ser bolsista da escola.
Então uma escola agrícola, eu ganhava porque eu fazia um trabalho especial junto com o pessoal de poda de laranja, cursos que tinham lá dentro, que às vezes você tinha verbas específicas pra você conseguir ainda ganhar um extra dentro da escola.
Então eu fazia isso.
Então tinha atividade pra tudo e todo o tempo lá dentro.
P/1 – Essa viagem da sua casa até o colégio, você fez como? Foi feita de carro? Sua mãe foi junto também?
R – Não.
O meu tio tinha um Fusca nessa época, nos levou num Fusca, fomos eu, meu tio e meu pai.
Fomos só nós três.
Então ele foi, me buscou lá casa, era domingo à tarde, ele me deixou na escola umas cinco, seis horas da tarde.
Nós estamos falando de cem quilômetros de Caconde a Muzambinho.
Mais ou menos cem, 150 quilômetros, não lembro bem o certo, próximo disso.
Então saímos à tarde, chegamos lá, fiquei lá na escola, mas daí eles ficaram uma meia hora comigo lá e foram embora.
Então a minha mãe eu já tinha despedido e fiquei só no.
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Passei um final de semana, no outro final de semana que eu fui ver.
Nossa, foram umas duas semanas difíceis de ficar lá.
Você é um moleque, se você for ver hoje, se você pensar hoje, 14 anos, você é uma criança.
Então você enfrenta todas essas dificuldades, mas pra quem você.
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Você vai ligar pra sua mãe? Não.
Não tem telefone em casa.
Essas eram as grandes dificuldades.
Então não tinha telefone, você quer ir embora? Você tá falando de 150 quilômetros, gente, você pega um carro, dentro de uma hora e meia você tá em casa, então, mas você não tem esse carro.
A minha família não tinha carro nessa época, quem tinha era o meu tio.
Então você acaba estando próximo, mas estando longe ao mesmo tempo.
Foi a mesma coisa quando eu fui para o Pará.
Passaram três anos, eu fiz o terceiro ano, eu me formei em novembro e fui embora em janeiro para o Pará, e fiquei lá um ano e meio sem vir em casa.
Foi lá que a minha mãe teve telefone.
Então são etapas que você vai passando e conquistando as coisas, crescendo com isso.
P/1 – E essa experiência na escola agrícola, eu queria saber qual escola é essa, o nome mesmo, e como foi a experiência então na escola agrícola.
R – A escola agrícola é Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho.
Hoje ela é uma faculdade.
Além de ser uma escola agrícola, é uma faculdade.
E pra mim é uma experiência muito boa, porque você começa a traçar o que você quer para o futuro.
Você tem lá 360 alunos que entraram no mesmo ano, tá ali disputando um futuro, uma vaga com você no mercado, você não sabe como vai estar isso daqui um tempo, como vai estar o mercado daqui um tempo, e você tem pessoas de todo jeito.
Você tem pessoas iguais nós estamos hoje no mundo, mas próximos de você, morando junto.
Pessoas que usam droga, pessoas mal humoradas, pessoas que não se importam com escola, pessoas que só querem se divertir, pessoas que bebem.
E isso com 14, 15 anos.
Tudo isso você tinha.
Eu tinha 14, mas tinha alunos com 18, então tinha de todo jeito.
Então você ter essa convivência com esse tipo de pessoa, pra mim, eu cresci muito.
Então você vê que tem droga e você falar assim: “Não, eu não quero participar disso”.
Então isso te dá força pra você chegar e falar assim: “Eu sei o que eu quero.
Eu sei aonde eu quero chegar”.
E o embasamento também da família.
O embasamento que eu coloco assim, o seu pai é aquela postura dele: “Olha, filho, aonde você quer ir? O que você quer? É isso? Então você vai chegar lá.
Você vai ter que fazer assim”.
Agora, aquela opinião firme dele e não falar assim: “Olha, você foi suspenso, tá bom, mas alguém tava errado no seu lugar, você tava junto”.
Não.
Você foi suspenso, você foi suspenso.
Então aquela postura do meu pai muito rígida, fazer com que você estudasse mesmo, realmente.
Você tá lá na escola, você tá pra estudar, você não tá pra.
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Se eu chego a casa e falo para o meu pai que eu fui suspenso, meu pai não me deixa nem voltar pra escola mais.
Isso faz com que você tome a ação e fale assim: “Eu quero e vou formar, e vou ser bom nisso”.
Então é um desafio que sempre foi muito grande pra mim naquele período de escola.
Mas pra mim foi uma grande base, foi a segunda grande base da minha formação, sabe? Assim, de casa, o pai e a mãe me colocando num posicionamento, e depois eu ser jogado num local que eu tive uma segunda, uma terceira oportunidade também, foi quando eu fui para o Pará, mas uma segunda onde: “Tá aqui, João, você tem a oportunidade de ficar para os bares, que ninguém vai te cobrar, sua mãe não tá aqui, seu pai não tá aqui.
A escola é responsável por você, mas se você não tá na escola, ninguém vai ver que você não tá lá, dificilmente, não tem aquele controle tão rígido”.
Hoje tem.
Hoje eu fui lá, faz um ano que eu fui lá, tem um controle muito bom, mas não tinha.
P/1 – Vocês podiam sair?
R – Podia sair.
Saía quinta-feira, tinha aluno que não voltava.
Então tinha uma liberdade grande até pra essas coisas, mas você tinha que escolher: você quer isso? Quer formar? Tanto muitos colegas meus não foram na mesma direção, muitos abandonaram.
Depois você passa dez anos, 20 anos depois, você encontra, fala: “Poxa.
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”.
O cara: “Não, eu trabalho num.
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”.
Sei lá, nem desmerecendo, mas: “Não, sou frentista do posto de combustível, não sei o quê”.
Você, poxa, então valeu a pena eu ter sofrido um pouco atrás e hoje eu estar onde eu estou.
P/1 – Você se lembra de algum episódio ou alguma história que tenha te marcado nessa vivência dos três anos no internato?
R – Na escola agrícola, uma grande lembrança que eu tenho é quando eu.
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Assim, todo ano eles faziam uma eleição dos melhores alunos, eles faziam uma seleção, e depende do que você fazia, depende de nota, tudo.
E é muito aluno na escola.
Então os dez primeiros tinham um prêmio, recebiam uma carta.
Então, putz, você batalha, mas você nunca tá pensando aquilo lá como foco.
Mas assim, no segundo ano meu, no segundo ano eu consegui, eu fui eleito lá dentro dos dez melhores alunos da escola, aí eu recebi uma carta, mandaram pra minha mãe.
Então isso pra mim, nossa, foi muito gratificante.
E meu pai e minha mãe nunca foram tão perto assim, de chegar a ir lá à escola ver como eu tava, se eu tava bem ou mal, iam saber por notas, ou se eu fosse mal, alguém ia chamá-los lá.
Mas nunca foram lá pra ver como eu tava e ver tudo isso.
Então quando eu trouxe isso, pra mim foi bacana.
Fui levar pro meu pai pra eu mostrar.
Depois de.
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Quantos anos isso, gente? Vinte anos? Praticamente 20 anos.
Eu tava mexendo nas coisas do meu pai, que depois ele faleceu, faz uns três anos, e tá lá a carta que eu recebi.
Então ele guardou.
Então isso é gratificante, sabe? De tudo, assim, que marcou bastante isso por causa da família, mas você tem vários eventos dentro de uma escola que você marca, perder amigos, porque muitos alunos iam de carona, como eu ia também, alunos que estudaram junto com você, estão juntos, vai, pega uma carona, e morre próximo, você via, isso são coisas que marcam a gente.
Mas assim, eu acho que profissionalmente pra você pensar e ter me ajudado, foi muito essa parte de reconhecimento depois, de eu conseguir ser reconhecido, por exemplo, no segundo ano.
P/1 – E quando você sai da escola agrícola, você foi fazer faculdade? Foi isso?
R – A faculdade foi junto.
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A faculdade foi um processo junto com o trabalho.
Eu fiz isso no Pará.
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R – Mas você foi para o Pará por causa de trabalho? Foi isso?
R – Foi.
P/1 – Ah, então me conta como surgiu essa oportunidade, o que era o trabalho e como foi essa mudança para o Pará.
R – Então eu me formando, em 93, eu tava me formando, e o tio de um colega meu trabalhava no Pará.
E aí ele fez uma proposta para o meu colega pra gente fazer um estágio lá no Pará.
E eu tava sem emprego, nem me formado eu tinha ainda, era 20 de novembro, por exemplo, que surgiu isso: “Vamos fazer o estágio? Não vamos? Mas diz 18 de dezembro é a formatura” “Então vamos”.
Aí definimos ir.
Nós definimos em três, em três ir para o Pará.
Aí conseguimos estágio pela Jari Celulose, fica no Projeto Jari, um projeto que fica lá no meio da Amazônia, 30 minutos de avião de Belém.
Aí me formei dia 18 de dezembro, dia dois de janeiro eu saí.
Eu fui de ônibus.
Aí foi o segundo momento, por exemplo, de deixar a família.
Talvez eu fui deixando aos poucos pra trás.
Deixei quando eu fui pra escola agrícola, depois dia primeiro, festejando, tal, acordei no outro dia cedo, minha mala tava pronta.
E pra ficar um ano e meio.
Um ano e meio fora.
P/1 – Como foi essa viagem? Você lembra como foi a despedida, como você se sentiu e como foi a viagem mesmo?
R – Então, essa foi uma despedida complicada, porque minha mãe foi ter telefone dali um ano, mais ou menos, que ela foi ter telefone em casa.
E celular era daquele celular “tijolão”, vamos dizer assim, e não tinha nada de comunicação.
E quando eu fui sair de casa, nossa, aí meu pai chegou a falar pra mim assim: “Ah, filho, aqui com toda a dificuldade, eu acho que assim, um salário você tira.
Será que não dá pra gente fazer um valor aqui pra gente conseguir pelo menos você ter um valor por mês? Você trabalha aqui, mas a gente registra você pra você ter carteira assinada, tudo”.
Aí é uma coisa pra tomar uma decisão.
Assim, uma coisa que eu senti muito foi quando eu tava saindo, minha mãe não queria, na primeira.
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Eu acabei sabendo depois assim.
Minha mãe cortava o frango, aquela parte do frango que tem um jogo, não tem um jogo que quebra assim? Então, aquela lá era a parte que eu comia do frango.
Então quando eu fui pra lá, na outra semana, minha mãe matava frango, ela não cortava mais aquilo.
Então isso era.
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Depois que eu fiquei sabendo, tudo.
Isso é marcante.
Peguei uma viagem de ônibus, daqui para o.
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São 48 horas de ônibus de São Paulo, porque eu ainda fui daqui pra São Paulo, mas 48 horas de ônibus até São Paulo, e depois a companhia tinha dado pra nós uma passagem de navio, e não deu passagem de avião pra nós.
Aí são mais 36 horas de navio.
Era tudo uma aventura, na verdade.
Não conhecia a região, tinha dinheiro pra voltar, porque eles deram passagem de ida e volta pra nós até Belém, então eu tinha dinheiro pra voltar, não tinha dinheiro pra mais nada.
Então eu falo assim, foi talvez sem medir, porque se você medir muito, você talvez não fizesse isso.
P/1 – Como foi essa viagem? Você fala 48 até.
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R – Até Belém.
P/1 – Até Belém.
De Belém, mais 30 e tantos de.
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R – Trinta e seis.
P/1 – E como foi essa viagem assim?
R – Então, uma viagem de ônibus, mas foi muito tranquila.
Apesar de muito tempo, pouco conforto, vamos dizer assim, mas foi muito tranquila.
Depois que eu passei essa fase do ônibus, aí você tá mais engajado em “eu quero chegar, eu quero ver a empresa, eu quero entender como é”.
E querer o desafio mesmo, você esquece o.
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Não é que esquece um pouco, a euforia de trabalhar ali segura um pouco a emoção de estar longe da família, apesar de você em muitos momentos parar, chorar, não sei o quê, mas você tem o desafio.
E a viagem foi muito bonita, eu nunca tinha feito aquilo.
Você vê o Rio Amazonas, você vai por ele, você vê boto, você aquelas casinhas nas beiras, você vê aqueles menininhos de sei lá quanto tem, uns seis, sete anos, remando aqueles barquinhos pequenininhos pra virem pedir coisa pra você jogar do barco.
Então as pessoas que já faziam essa rota, eles já conheciam, então o que eles faziam? Eles levavam tupperware e colocavam bolacha, e passavam Durex pra não entrar água, e jogavam.
Essas crianças vinham buscar isso.
Então você via que era uma região pobre que tava passando ali.
Eu fui entender isso depois, depois de estar na região, de conhecer um pouco mais ali, que eu fui entender a dimensão do local que eu tava, tudo.
Aí sim que eu pus o pé no chão, que eu fui entender.
Mas foi muito boa a viagem, tudo, e conhecer, muito bem recebido lá.
É uma cidade construída, uma cidade que chama Monte Dourado, ela tem uma cidade de uns 20 mil habitantes, uma cidade perfeita.
Construída, tudo quanto detalhe, seleção de lixo, de resíduo pra reciclagem, isso há mais de 20 anos, se você for ver, a construção.
Então mostra uma organização muito grande.
Mas pra você que tá saindo, aquilo te ajuda a estar numa condição boa.
Então chegamos a uma cidade diferente, então essa viagem do mesmo ponto que foi gostoso, tudo, mas você sabia que você tava muito longe, se você quiser ver a sua mãe, você não ia ver amanhã.
Se eu dependesse de um avião, e até hoje funciona assim a região lá.
Se você precisa chegar amanhã.
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A minha avó faleceu, eu não consegui ver a minha avó, porque depende de horário de avião.
Eu pego avião até Belém, de Belém passa por Brasília, mas é só passar, Belém, Campinas ou São Paulo, são 24 horas.
Hoje, 24 horas você vai à Bélgica.
Se você pegar um dia, você consegue fazer isso.
Eu falo com o meu chefe, que é da Bélgica, e ele consegue sair, com 24 está lá.
Sai daqui, amanhã, no outro dia, tá dentro da casa dele.
E eu saindo do Pará, pra estar dentro da minha casa.
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Dentro da minha casa não, dentro de São Paulo, porque ainda tinha que pegar o ônibus pra estar aqui, então gastava um tempo.
Então isso é o lado negativo, o lado que a gente tinha muita dificuldade.
P/1 – E o que você achou quando chegou lá? Qual foi a sua impressão do local, do trabalho?
R – Então, lá foi muito bom, fui muito bem acolhido.
Você é jovem, você tem desafio, se não for um local hostil, você se dá bem.
Então pra mim era um local bom, uma cidade muito boa, com uma estrutura muito boa, fui muito bem acolhido na região.
E o tio do meu colega me tratava como se fosse da família, então isso foi muito bom pra questão até de estar deixando mãe e pai pra trás.
P/1 – Qual era o trabalho lá? Qual era o seu estágio?
R – Era uma área de reflorestamento pra celulose.
Lá é uma empresa de celulose.
Tem três empresas: uma de caulim, uma de bauxita, e uma de reflorestamento.
Então essa área de reflorestamento, eu fui como técnico florestal, contratado como técnico florestal, e a minha atividade era fazer monitoramento com terceiros, os terceiros que faziam as atividades.
Então eu a princípio fiz estágio só, o primeiro semestre, e depois acabei ficando lá por oito anos.
Fiquei oito anos lá dentro.
E os colegas que foram comigo, um ficou seis meses, veio embora, o outro ficou dois anos e veio embora.
O que era filho do rapaz que me levou ficou dois anos e veio embora também.
Então foi lá que eu comecei a ajudar a minha família.
Então eu comecei a trabalhar, fiquei um ano e meio sem vir em casa, aí eu vinha de ano em ano só.
Esses primeiros oito anos foram desse jeito.
E eu nunca fui.
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Sempre fui uma pessoa muito segura com coisas minhas, então sempre ajudei a minha família.
Hoje, o que tem ali no sítio, trator, casa, a parte de.
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Vamos supor, a casa não tinha piso, era de cimento liso, aquele cimento vermelhão, tudo.
Eu que pus, por exemplo, que trouxe essa oportunidade de por piso na casa, ter a casa tudo com piso.
Então isso eu entendia assim, que era a forma de eu ajudar a minha família a ter um conforto um pouco melhor em função de tudo que eles me ajudaram a estar lá naquela condição.
Só que assim, eu não tinha um carro próprio, por exemplo.
Por ser de uma cidade tão pequena, lá eu fui comprar bem depois um carro.
Quando eu vinha, que todos os meus irmãos tinham carro, eu não tinha carro.
E às vezes eu até me pegava falando: “Poxa, eu ajudo tanto, mas eu não tenho o meu carro, e eles têm”.
Mas depois você pensa um pouco, fala: “Não.
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.
”.
Eu não tinha a necessidade de ter um carro.
Imagina você morar numa cidade de 20 mil habitantes que você não tem pra onde ir.
A próxima cidade do lado é uma cidade muito fechada.
A próxima cidade de Macapá, 260 quilômetros de terra, então você não tem pra onde ir, pra quê você vai ter um carro? Então é um negócio assim.
Mas foi muito bom naquela época, que aí comecei a desenvolver.
E acabei vindo embora.
Eu cheguei lá como técnico, monitor, supervisor.
Então eu não cresci, eu falei: “Poxa, eu vou embora”.
Aí eu não tinha faculdade ainda nesse período.
“Eu vou embora, vou fazer uma faculdade.
” Aí eu vim pra cá, eu tava num processo de fazer certificação, aí eu negociei, falei: “A gente consegue a certificação, eu ajudo, aí vocês me mandam embora.
Combinado?” “Combinado”.
Terminou a certificação, eles me mandaram embora.
Vim pra cá em julho, não lembro muito bem, junho e julho, por aí, não lembro certo.
Vim próximo do meio do ano, fiz vestibular.
Quando eu fiz vestibular pra Lavras, pra Agronomia, da área que eu gosto, tudo, uma empresa terceira lá no Pará me ligou: “Você quer vir tomar conta da minha empresa?” “Mas como assim ‘tomar conta’?” “Não, eu to indo para o Maranhão, e eu tenho uma empresa que tem 400 funcionários, eu preciso de alguém que seja o gerente da empresa total, faça tudo, sem mim aqui”.
Ele falou assim: “Quem tá indicando você é a Jari.
A Jari que você trabalhou, a Jari tá te indicando o seu nome, pra você vir assumir essa vaga”.
Eu falei: “Não volto pra lá nunca mais”.
Então me fizeram uma proposta financeira, eu falei: “Poxa, será que eu vou, ou não vou?”.
Eu tava aqui, tinha passado a primeira fase em Lavras, falei assim: “Eu vou, mas eu não consigo ir agora”.
Eu tava ajudando o meu pai a fazer a construção de uma casa aqui.
Aí negociei salário, aquele negócio.
“Eu vou.
Vou em setembro.
” Foi até quando caíram as torres gêmeas lá.
Foi naquele momento que tava acontecendo isso, 2001, se eu não me engano.
Então acabei voltando para o Pará logo depois ali em setembro, final de setembro, ou meio de setembro, fiquei mais quatro anos lá.
Aí voltei pra tomar conta dessa empresa, tomei conta dessa empresa que tinha 400 funcionários, um passivo absurdo pra resolver.
Tive uma dificuldade muito grande.
Foi aí que eu comecei a faculdade.
Eu tava numa gestão de empresa, falei: “Vou fazer uma faculdade”.
Comecei a estudar à noite, aquele negócio todo, e estudando e trabalhando.
E as coisas foram dando certo.
Eu saí de lá, tinha 800 funcionários a empresa, a empresa tava paga, não tinha dívida.
Deu tudo certo.
Às vezes as coisas têm que se encaixar e dar certo, e deu certo.
P/1 – Você fez a faculdade toda lá?
R – É.
Eu terminei.
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.
Só fiz um pedacinho, que era uma apresentação do TCC, quando eu vim embora, no último foi que eu.
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.
E nesse período, eu casei.
Aconteceu tudo, mudanças na minha vida, nesse período assim, muito forte.
P/1 – Você casou lá?
R – Eu casei aqui.
P/1 – Você casou aqui.
Mas a conheceu lá?
R – Eu a conheci aqui.
Que ela é de Caconde também.
P/1 – Conte-me como vocês se conheceram então, você e a sua esposa.
R – Então, eu tava de férias, eu.
.
.
Olha, pra você ver, estudei na mesma escola que ela, ela tem a mesma idade que eu, eu não a conhecia.
Então eu tava numas férias, acabei conhecendo-a.
Conheci a Margarete numas férias.
Nesse período que eu era gerente da empresa, eu vinha de seis em seis meses eu tava aqui, eu não ficava o ano inteiro lá.
Era uma negociação que eu tinha feito pra: “Não vou ficar mais ano, eu fico, de seis em seis meses eu vou”.
Só que eu não tinha aquela chance, por ser gerente da empresa, falar: “Eu tenho 30 dias”.
Eu vinha, ficava uma semana.
Você é gestor da empresa, então você tem que estar lá pra resolver.
Então você não tinha todas aquelas férias realmente, mas você descansava pelo menos.
Então foi numa dessas que eu conheci a minha esposa.
P/1 – Como vocês se conheceram?
R – Ah, Caconde é pequeno, então a conheci na praça de Caconde.
Conversamos um dia, depois ela trabalhava no Clube Capitão Cristóvão, que é um clube que tem saindo de Caconde pra Poços de Caldas.
Aí eu falei que ia lá ao serviço dela, acabei indo, a convidei pra sair, aí acabamos saindo juntos e ficamos, sei lá, uns cinco, seis dias de férias, nós ficamos juntos.
E depois ficava ligando, ficamos conversando, conversando.
Passaram seis meses, voltei, fiquei com ela, aí fui embora de novo.
Lógico, trabalhando lá, tudo.
Nós falamos assim: “Nós temos que tomar uma decisão: nós casamos ou largamos? Porque não dá, eu fico aqui, você tá exposto, você tem um monte de mulheres, você vai ficar namorando longe”.
E ela também, que condição que fica? E era uma época que tinha estabilizado a minha vida nesse período, eu tinha 28, seu eu não me engano, 28 anos, então tava estabilizado em tudo.
Eu tinha casa aqui, eu tinha.
.
.
A minha vida tava bem estabilizada nesse momento, eu estudando, falei: “Eu tenho que tomar uma decisão, ou larga.
.
.
”.
Aí acabamos: “Então vamos casar”.
Então foi tão interessante que eu não vim pra organização do meu casamento, eu vim para o casamento.
Eu mandei uma procuração para o meu irmão, o meu irmão que fez toda a documentação, resolveu toda a parte burocrática.
Eu casei sábado, cheguei aqui quarta.
Cheguei quarta e fui embora domingo.
Casei.
.
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Não lembro certo.
Sexta.
E fui embora domingo pra segunda.
Então lua de mel não teve, vamos dizer assim.
Acabei vindo, casando, fiz tudo, levei-a embora.
Lá que a gente conseguiu passear, conseguiu tudo.
Mas assim, no dia que eu chego lá, no primeiro dia que eu chego: “Olha, é aqui que eu moro, aqui é a minha casa.
Olha, eu vou ter que sair, vou à empresa um pouquinho, e daqui a pouco eu volto”.
Isso era, sei lá, meio-dia, uma hora, voltei dez horas da noite.
Ela não sabia nem pra que lado ia pra ir ao mercado.
Cheguei dez horas da noite.
Lá não pegava celular.
Naquele local foi pegar celular bem depois, não tinha torres pra pegar celular, era só fixo.
Então ela não sabia nem pra onde eu tava.
Então acabou que eu cheguei dez horas da noite, no outro dia que eu a levei pra conhecer um pouco mais.
Resolvi os problemas e fomos conhecer um pouquinho mais.
Então são etapas da vida da gente que passam e que deixam uma saudade muito boa.
E eu tenho muita saudade de lá.
Lá é um lugar muito bom.
Só que ela nunca se adaptou lá.
Então longe da família, aquele negócio todo, ela queria estar perto da mãe.
Lógico, sempre morou, sempre trabalhou, e lá ela não tava trabalhando.
Aí que consegui um emprego pra ela numa empresa parceira, ela começou a trabalhar nessa empresa.
Foi passando o tempo, ficamos três anos lá, e nesses três anos, ela não engravidava.
Aí vamos fazer tratamento, o que vai fazer? E aquela pressão.
Aí tomamos a decisão de vir embora.
Tomamos a decisão de vir embora, fui embora em 2005.
Saí da empresa em outubro, em novembro eu vim embora.
Ela tava trabalhando, ela ficou pra trás, larguei-a pra trás, vim com a mudança, deixei-a na casa de um colega.
Chegou aqui em Caconde.
.
.
Eu vim pra Caconde até arrumar casa aqui em São José.
Ela veio, logo que ela chegou, ela descobriu que tava grávida.
Assim.
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Tanto é, a Letícia nasceu em agosto.
Se fizer a conta, é exatamente quando nós decidimos vir embora, ela ficou grávida.
Então é uma questão às vezes emocional, não sei.
Aí eu cheguei em novembro, quem emprega alguém em novembro e dezembro? Bom, também não vou me preocupar, não.
Vamos curtir final de ano, tudo.
Passou o final de ano, a primeira oportunidade que teve na Nestlé.
.
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E eu já tinha feito quando eu tava em Rio Pardo, em 2005.
.
.
2005? 2011, que as torres gêmeas.
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.
P/1 – Não, 2001, né?
R – 2001.
P/1 – Foi 2001.
É.
Setembro de 2001.
R – Isso.
2001, eu tinha prestado pra entrar na Nestlé, e eu não passei, 2001.
Aí eu acabei indo pra lá, tudo.
Eu cheguei em novembro, quando foi em janeiro, eu tive a oportunidade de entrar na Nestlé.
Dia seis de fevereiro eu tava empregado.
Então encaixou, foi uma oportunidade muito boa.
E quando aconteceu isso, surgiu a oportunidade de ir direto pra área agrícola.
Aí eu vim pra área que eu sempre trabalhei, tinha trabalhado a vida inteira disso, eu sempre gostei disso.
E a área agrícola da Nestlé é trabalhar com pequenos agricultores.
Tem produtores maiores, tudo, mas é voltar tudo aquilo que eu fiz na base e você falar assim, você ter chance hoje de ajudar as pessoas que estão numa condição.
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Não é condição ruim, mas pode ser melhor.
Como você pode ser melhor? Você levando tecnologia, tudo.
Então eu com um pouco de experiência que eu tinha de ter vivido as condições, e as instituições que eu estudei, tudo, me deram condição de falar: “Poxa, vamos desenvolver a pessoa com tecnologia, com treinamento”.
A fábrica me ajudou muito, me apoiou muito nas coisas que eu fazia, me cobrava muito, e sempre cobra, mas me apoiou muito nas coisas que eu fazia.
E me deu apoio pra eu ajudar esses produtores.
Aí fizemos um convênio com universidade e conseguimos começar a desenvolver os produtores.
A produtividade começou a subir assim muito rápido.
E isso é muito gratificante, você chegar a um produtor, o produtor falar: “Olha, eu não conseguia plantar, e hoje eu consigo plantar”.
Mas não é.
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Eu falo muito para os produtores: “Não fui eu que fiz essa revolução, foi a condição que eu dei pra vocês e vocês toparam.
Eu pedia pra vocês: ‘Vamos fazer uma coisa diferente?’.
Vocês falaram: ‘Vamos’”.
Então tá lá no mercado aquilo lá.
Então eles toparam pegar essa tecnologia e trazer e crescer.
Então isso que pra mim é gratificante.
Você via produtor hoje.
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Acho que foi filmado o Blaschi, o Blaschi é um dos produtores que eu tenho como relevância.
Tudo que você propõe pra ele como desenvolvimento, como pesquisa, ele topa.
E hoje é um produtor com seis hectares, se eu não me engano são seis hectares a área dele, ele consegue ser autossustentável, crescer.
Você vê que ele tem dois tratores, você vê que ele tem uma caminhonete, ele tem um Fusca, ele tem até uma estrutura de trabalho lá.
E outra coisa, é pai pra filho.
Você vê que o filho dele tá começando a ser introduzido no trabalho.
É novo, eu não quero que ele saia da escola, hoje ele tá estudando.
Eu quero que ele continue estudando.
Voltar assim, pensar um pouco da forma que eu pensei.
Só que eu não voltei pra minha casa, na verdade, não voltei lá.
Mas hoje o meu irmão toca, por exemplo, o sítio lá, que ele trabalha no sítio.
Hoje é só café e gado de leite, então ele consegue tocar, não precisa.
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Se forem cinco pra lá, é pouco pra cinco.
Então ele ficou lá, eu o ajudo na parte de café, mas só que.
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E você vê esse trabalho com o produtor, você o vê crescendo, isso é.
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Eu acho que assim, eu fico muito satisfeito de eu conseguir trazer essas informações.
Hoje, pra você ver, quando você.
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Vamos fazer uma entrevista com um produtor, eu ligo pra ele: “Produtor, nós precisávamos fazer isso, isso”.
O produtor topa.
O desafio que a gente fala pra ele, ele entende e ele tem confiança.
Esse que eu acho que é o grande diferencial de você ter resultados.
Se eu chegar com informação, falar pra ele: “Nós precisamos fazer dessa forma, dessa forma”.
Ele tem uma confiança naquilo que você tá falando.
Então essa confiança faz com que eu consiga levar esse grupo de produtor junto.
Então toda essa base, eu falo que deu, quando o produtor fala assim: “Ah, eu tenho dificuldade pra eu colher, porque o trabalhador não dá certo colher com esse equipamento”.
Eu falo: “Como não dá certo? Eu fiz isso.
Eu já pus a mão na massa no passado”.
Então você sabe medir até que ponto o trabalhador consegue ir ou que não consegue ir.
Você já passou chuva no campo, já pegou sol, já passou a vida, o dia a dia do produtor, o dia a dia do trabalhador rural, realmente, dentro do campo.
Então quando você fez isso e você tem uma condição de fazer uma gestão do trabalho deles, você coloca com propriedades o que ele vai conseguir, não assim “eu acho que você consegue isso”.
Não.
“Faça dessa forma, que vai dar certo no final.
” Lógico, tem coisas que são pesquisa, tem coisas que nós precisamos da universidade.
Como nós vamos resolver um problema de fungo de solo, que você não enxerga o fungo? Então nós precisamos de órgão de pesquisa.
Por isso nós temos um estagiário hoje.
E o estagiário que tá aqui, a grande importância que a gente quer levar pra ele não é o conhecimento do experimento em si, o conhecimento do experimento em si o Pedro, o Paulo faz, e ela vai ler.
É importante? É.
Mas é a experiência de ele entender que ele fazendo aquilo, ele entendendo como o produtor tá sofrendo lá pra produzir, ou tá.
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Não é bem sofrendo, é tendo dificuldade pra produzir, e ele crescer, pra hora que ele estiver no campo de trabalho, ele falar: “Poxa, eu consigo ter decisões melhores”.
Então é um pouco disso que eu falo que toda história que você pega desde as dificuldades de sair da escola, de ficar sozinho e ter decisões entre ir pra uma droga ou não ir, isso faz com que você dê uma sustentação de poder de decisão, que você vai longe, você consegue ter bons resultados.
Eu falei muito aí? Não sei assim.
P/1 – Não, tá ótimo.
Eu ia te perguntar e você foi até meio naturalmente.
Eu queria fazer umas perguntas mais específicas do seu trabalho hoje, essa coisa com a Nestlé.
Não sei se mais específica, mas assim, desenvolver um pouquinho mais coisas que você já disse de maneira geral.
Mas antes eu queria fechar umas coisas da sua vida pessoal, que são poucas coisas que a gente deixou mais em aberto.
Primeiro eu queria saber com os primeiros salários que você ganhou, o que você comprou? Você teve alguma coisa que você queria, que você conseguiu comprar com os primeiros salários? O que você fez com esse dinheiro?
R – Os primeiros salários foram talvez os mais difíceis de se administrar, porque eu tinha dinheiro pra mim em Belém pra eu voltar, mas eu não sabia até quando eu ia ficar lá.
Eu tava no período de estágio, estágio remunerado.
Então se eu decidisse voltar em algum momento e esse valor não fosse tão certo, tão justo pela conta minha, então eu falei assim: “Eu tenho que reservar, eu não posso.
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”.
Então, na verdade, meus primeiros salários, eu não fui e comprei um objeto especial pra mim.
Os primeiros salários meus eu guardei como reserva.
Sim, lógico, fiz os gastos que eram necessários, mas guardei como reserva de eu ter uma condição de voltar tranquilo.
“Hoje eu tenho condição de voltar, que tá aqui o meu valor.
” Eu reservei um valor pra eu poder voltar.
Após isso, após eu ser contratado realmente na empresa, comecei a trabalhar, estruturar, aí o desafio foi ajudar em casa.
Na verdade, assim, eu nunca.
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Porque eu morava numa casa da empresa, os móveis da empresa, tudo.
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Eu não tinha o porquê de comprar um negócio diferente.
E diferente de hoje, celular não pegava, então você não precisava comprar celular.
Então talvez um tênis, uma.
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Eu tenho certeza que eu comprei, diferencial mesmo, era uma chuteira.
Isso com certeza.
Eu sempre gostei de ter uma chuteira boa, porque eu jogava bola, nesse período.
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Eu até pulei um pouquinho.
De Belém, que eu tava lá antes de eu me casar, eu acabei indo pra Belém jogar bola e deu certo pra eu ficar indo jogar e voltar.
P/1 – Como aconteceu isso? Conta um pouco essa história de começar a jogar bola lá.
R – Então, fui convidado pra fazer um jogo em Belém, chegou lá dentro do jogo, eles nos viram jogando e selecionaram quatro pessoas, eu e mais três, e nós começamos a jogar sempre para o time de Belém.
Tinha jogo no sábado, aí ia no sábado, jogava e voltava.
Mas eu nunca deixei meu trabalho, então nunca coloco como foco o futebol lá, porque eu acabei jogando até bastante, próximo de três anos com eles, parei de jogar praticamente porque eu rompi o ligamento do joelho, depois rompi, na verdade, duas vezes, então tive que fazer duas cirurgias, tudo.
Então eu parei, só jogo amador aqui na região mesmo e tá na hora de parar também já.
P/1 – Qual era o time em Belém?
R – Na Tuna Luso, em Belém.
Então nesse período, assim, foi muito bom ter jogado.
Depois eu acabei vindo embora, que eu falei pra você, tudo, acabei vindo embora, e hoje eu só brinco aqui na região.
Mas, assim, até quando der.
P/1 – Eu queria saber como foi ser pai.
Eu queria que você contasse um pouco do nascimento dos seus filhos, da notícia da gravidez, do parto se você recordar.
R – Então, o ser pai, pra mim foi muito bom.
Nós estávamos tentando engravidar há bastante tempo, próximo de dois anos, indo pra um tratamento.
E quando eu fiquei sabendo, eu tinha entrado na Nestlé, tava trabalhando na Nestlé, aí a minha esposa foi fazer um exame, tudo, e ficou sabendo que ela tava grávida.
Então pra mim, nossa, foi uma alegria grande.
Você imagina, eu lá no Pará, tentando engravidar, não ia, não dava certo, viemos pra São José, eu tava desempregado, depois deu certo de eu estar empregado, aí ela ver que está grávida, pra mim foi muito bom.
Então foi um momento de mudança que foi muito gostoso.
Ela acabou nascendo em agosto.
O parto dela foi uma expectativa muito grande.
P/1 – Você acompanhou o parto?
R – Não, eu não acompanhei.
Mas assim, fui, fiquei com ela, tudo, depois fui pegar a Letícia.
P/1 – E você se lembra da sensação, assim, a primeira vez que você viu sua filha, pegou nos braços?
R – Ah, então, essa foi uma emoção muito grande.
Estávamos eu e minha cunhada, e quando chegou assim não tinha nome, nada, mas parece que você sabe quem é a sua filha.
Coloca lá, tava no vidro, você não consegue ir lá dentro, chega, coloca, falei: “Ah, é aquela lá, eu tenho certeza”.
Era aquela.
Depois que você pega a primeira vez, tudo, nossa, foi muito gostoso.
Então, a Letícia, em função até disso, eu acho que a Letícia.
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Eu tenho a Letícia e o João Guilherme.
Então a gente tem um carinho muito especial por ela em função de achar que não ia ter filho.
Pensamos em adotar: “Não, a gente adota”.
Sabe? Mas não, deu certo.
Você acaba tendo um carinho muito grande.
Lógico, gosto dos dois, tudo.
Mas foi mais ou menos assim, a sensação foi muito boa.
E o João, o João logo três anos depois, ela tem oito e o João vai fazer quatro.
O João faz em outubro.
Então veio o João.
Então o João foi até engraçado, porque tinha marcado pra nascer 25 de outubro.
Vinte e cinco de outubro vai nascer.
Colocaram auditoria na fábrica.
Auditoria lá, tal, auditoria marcada para o dia 24.
Tá.
A auditoria termina dia 24, dia 25 eu fico fora pra nascer o João.
Beleza.
Quando chegou dia 24, alteraram a auditoria, 23, parece, alteraram a auditoria para o dia 25.
Aí o que faz? Sabe? Tem prioridade, que é a família, e você tem um compromisso com o emprego, com o seu serviço, e não é um compromisso por estar empregado, mas assim, um compromisso pela atividade que você faz, entregá-la de uma forma correta.
Aí eu: “Margarete, não dá pra mudar o dia do nascimento?”.
Ligamos para o médico, o médico: “Olha, dá dia 28”.
O João nasceu dia 28 por causa disso, por causa de uma auditoria que tinha no dia 25.
Mas ninguém sabe disso, a gente coloca isso.
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Se o João um dia souber, quando ele estiver maior, contar pra ele, ele vai falar: “Poxa, mas dá mais prioridade no serviço do que em casa, do que no teu filho, tudo”.
Mas é uma coisa que gente tem que regrar dos dois lados, as pessoas entenderem isso.
Agora, se tem um risco, alguma coisa, lógico, é a família, é a base sua, você tem que estar junto e tem que dar prioridade.
Essa questão dos filhos foi muito boa.
É mais ou menos isso que aconteceu.
P/1 – Tá certo.
Então eu vou encaminhar agora pra esse último bloco, que é um pouco falar da Nestlé, do projeto, do seu trabalho atual.
Você já falou bastante coisa bacana, que eu ia até te perguntar, mas queria só pra gente organizar um pouco, entender na cabeça, que você falasse em linhas gerais qual o seu trabalho.
Qual o seu cargo? Qual o seu trabalho? E qual é o projeto? Explicasse um pouco esse projeto que é a parceria da Nestlé com a ESALQ e com os produtores.
Como funciona? O que acontece? Quais as atividades? Qual tipo de apoio?
R – Eu sou hoje supervisor agrícola da Nestlé, sou da parte de hortifruti, hoje tem um departamento agrícola de hortifruti.
Esse departamento agrícola cuida dos produtores rurais de Rio Pardo e de algumas empresas de congelado, produtos congelados.
Desde quando eu entrei na Nestlé, eu já trabalho com esses produtores rurais.
Eram dez produtores rurais que faziam a conexão direta com a fábrica, e tinha muita dificuldade de produção, de qualidade, de tecnologia.
Então o desafio meu era assim: precisamos ter produto na fábrica direto do campo, com qualidade e na hora certa.
Então esses eram os desafios grandes.
Primeiro que não conseguia ter na hora certa, porque tinha variedades que não produziam no verão, no inverno; segundo, não tinha tecnologia pra aquilo e não tinha produtividade no campo.
Então fizemos um resumo disso, como resolver.
Não foi da noite para o dia isso.
Montamos um convênio com a ESALQ, pra trazer tecnologia, trazer treinamento, trazer informação.
Hoje eu tenho um professor, que é coordenador desse projeto, e tenho um estagiário que fica comigo aqui na Nestlé.
E nós desenvolvemos o que é necessário para as dificuldades da região.
Então se eu tenho uma dificuldade com fungo de solo, eu vou fazer um trabalho em cima de fungo de solo, a Esalq vai me fazer um trabalho em cima de fungo de solo.
Então nós vamos resolvendo passo a passo os problemas do produtor.
O produtor tem problemas com treinamento, nós vamos trazer o conhecimento do treinamento específico que ele tem dificuldade.
Por exemplo, conhecer o solo, rotação de cultura, cultivar a ser plantado em determinado período.
Então isso que nós vamos levar ao produtor.
É básico.
Não é tecnologia nova, não é uma coisa inovadora, mas são informações que o pequeno produtor não tem.
E as grandes dificuldades que ele não conseguia produzir, com isso nós fomos resolvendo aos poucos.
Foi colocando material genético certo, no local certo, fazendo rotação de cultura, trazendo informação pra ele, e as tecnologias que ele conseguia utilizar, por exemplo, mudança no bico de aspersor.
Que dizer, economizamos de cento e 80 mil litros, não lembro exatamente, cento e 80 mil litros por hectare hora de água, pra 55 mil litros de hectare hora.
Então isso fez uma economia de uso de água, de energia, e toda aquela água levava o nutriente embora.
Eu perdia a água e perdia o nutriente.
Então pequenas mudanças fizeram grandes mudanças no agricultor.
Eu to protegendo o meio ambiente, a gente tá deixando água onde tem que ficar, que é no rio, e usando só o necessário.
Precisamos melhorar isso aí? Precisamos melhorar cada vez mais, mas nós estamos passo a passo.
Nós conseguimos melhorar a produtividade dele com o conhecimento dele, melhorar a qualidade do produto, melhorar a produtividade.
Então conseguimos uns avanços muito bons em produtividade, que saíamos de 29 toneladas, pra 56 toneladas por hectare.
Isso foi um avanço muito grande.
Temos que melhorar? Temos.
Temos que estabilizar algumas áreas.
Mas é um estoque a céu aberto.
Esse ano é um ano que até agosto chove mil e cem milímetros, por aí, de mil a mil e cem milímetros, mas choveu 520.
Então nós estamos numa dificuldade muito grande.
Então isso é o desafio nosso do dia a dia.
Então esse convênio com o produtor.
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Como eu te falei, nós tínhamos 26 produtores, hoje nós temos.
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Tínhamos 10 produtores, hoje nós temos 26 produtores.
E esses 26 produtores foram pra atender a necessidade de Nestlé, porque nós conseguimos aumentar as matérias-primas utilizadas na fábrica diretamente com o produtor.
Por exemplo, batata era comprada congelada, nós passamos a comprá-la do produtor e processar na fábrica, isso precisou mais produtores.
E a produtividade sempre crescendo também dentro desses produtores.
Então hoje nós temos 26 produtores, nós temos rastreabilidade total desses produtores.
Hoje nós visitamos uma área, por exemplo, do Lourival, e vimos a cenoura que vai ser colhida sábado.
São cenouras que você pode tirar ali e mandar pra qualquer residual, que você sabe tudo que foi usado.
Nós não estamos falando de agricultura orgânica, estamos falando de agricultura controlada e com normas.
E rastreabilidade total desses produtos.
Então o desafio do produtor, saber o que ele tá fazendo e pra onde ele tá vendendo.
Então é isso que nós fazemos com o nosso produtor.
Nós estamos fazendo um bate-papo, eu não fiz uma sequência pra falar, entendeu?
P/1 – Ah, não precisa.
Tá ótimo.
R – Então o produtor entender pra quem ele vai entregar o produto, se é um produto pra baby food, a sensibilidade é muito maior.
Então uma pequena fibra é um problema grave, ele tem que saber disso, e nós fazemos com que ele saiba disso.
Então esses são os treinamentos que nós fazemos via ESALQ.
Basta ele saber e ter fibra? Não.
Ele tem que saber e resolver o problema da fibra.
Então existem algumas técnicas pra isso.
E essas técnicas, nós colocamos dentro dos treinamentos e dos controles que nós fazemos no campo.
Agora, se eu mando o material genético que tem fibra, toda hora ele tem que tirar a fibra.
Então eu faço um desenvolvimento pra ter um produto com menos fibra.
Então é um trabalho que é linkado com a ESALQ.
Então esse trabalho de criação de valor compartilhado, ele tem criar valor pra todo mundo.
Eu falei um pouco lá atrás sobre essa criação de valor aí pra universidade, para o aluno.
A Nestlé tem que ter um produto que agregue valor para o consumidor final.
O que agrega valor nisso? É um produto saudável, fresco, alta rastreabilidade, baixo agrotóxico.
Então isso faz com que eu tenha um valor agregado alto para o consumidor final.
O que é bom para o produtor? Um produto com alta produtividade no campo, um produto que não tenha muita dificuldade de manejo, certo? Facilidade em trabalhar com essas matérias-primas.
É lógico, tem outras coisas atrás disso.
A universidade, com esses experimentos, ela tem informações para os futuros alunos.
Então leva pra ele com os experimentos, com os trabalhos que são feitos aqui, informações para os futuros alunos, para os professores darem aula, e para o aluno.
Informações pra ele tanto do experimento, como da lição de vida de trabalhar, e do know-how que tem todos esses produtores.
Então você fazendo isso, você tem uma criação de valor compartilhado.
Todo mundo tá ganhando na história, você não tem um perdendo para os outros ganharem.
Então é por isso que eu acho que esse trabalho funciona muito bem.
Então a hora que você tirar uma pessoa, um ciclo desses, você quebra.
Eu falo que hoje nós temos Nestlé, nós temos ESALQ, nós temos produtores.
Eu fiz até um desenho onde no meio disso tudo nós temos os experimentos, que é um retrato da universidade fazendo um trabalho de pesquisa, a universidade fazendo um trabalho de extensão, vamos dizer, no campo.
E isso dá uma sustentabilidade pra gente ter esses produtores a um nível alto de qualidade.
Então atender as leis, atender, como nós vimos no campo hoje, trabalhador rural com EPI usando, trabalhador rural registrado.
O produto lá, você vê que você o tira em qualquer fase, mostrei batata, mostramos salsa, mostramos uma área de cenoura, você tira o produto fresco, um produto que amanhã você vai tirar e vai usar.
Então dá essa dimensão para as pontas da cadeia.
E tudo isso pensando no consumidor final, que somos nós.
Eu sou consumidor de papinha.
Estou deixando de ser agora, que meu filho já tá saindo dessa fase.
Mas se meu filho usa papinha, eu to consumindo um produto que nós estamos fabricando junto, que tem que ter todo esse trabalho.
Se eu sei que um trabalho desse tá quebrado, não dá pra você querer que a dona de casa, que a mãe confie nisso.
Então um pouco é isso.
P/1 – Tá tudo interligado.
R – Não sei se eu consegui.
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P/1 – Deu.
Foi ótimo.
Sua fala foi ótima.
Tenho duas dúvidas bem pontuais assim, mas muita coisa do que eu ia te perguntar, você acabou trazendo espontaneamente, até essa questão do valor compartilhado, tal.
Umas dúvidas pontuais assim, eu queria saber se esse convênio com a ESALQ tem um nome.
Esse projeto, essa ação, tem um nome específico.
R – Esse convênio, ele tem um nome que nós colocamos, mas eu não me lembro de cabeça ele todo.
P/1 – Não é tão usual assim.
R – Não.
Não.
Porque ele é muito grande.
Nós estamos pensando em ter um nome de impacto no futuro, assim, pra demonstrar isso.
Mas hoje é.
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Ah, eu não lembro o nome completo, que é grande.
É Produção na Entressafra.
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Sabe? Foi pontualmente quando nós criamos pra nós definirmos o que nós queríamos.
Mas hoje deu uma dimensão tão maior do negócio, talvez nós precisemos dar uma dimensão também de marketing.
P/1 – Isso.
R – E nós não fizemos isso.
Então esse trabalho é um trabalho que tá desde 2007, então já passaram 18 estagiários com a gente.
Todos a gente participa da banca, ele faz o relatório.
E você viu a integração que existe entre o estagiário, e a gente com muita liberdade, ele ia acompanhar, ver.
Então isso é bastante.
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Pra gente, ver que o estagiário, que o produtor tá satisfeito ali, tudo, é gratificante você ter esse trabalho assim.
P/1 – Eu te perguntei porque a gente tá chamando de Projeto Leguminosas, porque é um jeito de.
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Mas eu queria saber se tinha algum nome mais adequado que esse.
Mas vocês ainda estão fechando um nome, né? Parece.
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R – Nós não fizemos um nome.
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P/1 – Uma coisa assim mais de comunicação, digo, né?
R – O que nós usamos aqui é o Projeto de Legumes Rio Pardo.
Por que nós falamos Projeto de Legumes Rio Pardo? Porque nós estamos ligando que é um projeto que tá ligado.
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Existe um projeto.
Legumes, tudo que nós falamos: batata, salsa, são tratados como legumes na fábrica, apesar de são serem legumes.
Todos não são legumes, mas são tratados como legumes, porque existe um setor chamado Legumes, por isso é ligado nesse setor.
E.
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Como é?
P/1 – São José do Rio Pardo, que é o local que tá acontecendo.
R – É.
E o local.
Então São José.
E se você entrar hoje na internet, você entrar no Youtube, você tem lá “Começar Saudável”, você vai ver que tem um filme das papinhas feitas aqui em Rio Pardo.
P/1 – A gente viu.
A gente viu.
R – Eu acho que eu mandei pra vocês alguns links.
P/1 – A gente tinha feito esse levantamento na pesquisa lá atrás, quando começou o projeto.
Até a entrevista com produtor, tudo isso.
R – Eu tenho outro que acho que vocês não devem ter, um de CSV, que tem uns dez minutos o filme.
P/1 – Tem um que tem até a entrevista com o produtor, de CSV, que a gente teve acesso.
Mas depois a gente vê.
R – Mas pequeno, né?
P/1 – É.
Pequeno.
R – Não, tem um grande.
P/1 – Ah, vou te pedir então depois.
R – É um grande que não dá nem pra mandar, tem que arranjar um DVD.
P/1 – Um pen drive, uma coisa assim.
R – É.
Ou pen drive.
É grande.
P/1 – Tá certo.
R – Ele é muito bom.
Foi o que nós.
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Nós pegamos esse projeto.
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A Nestlé tem um prêmio de criação de valor compartilhado.
Então em 2010, até outro detalhe, foi no nascimento da minha filha, nós fomos premiados no dia 25 de agosto de 2010.
Vinte cinco? É.
Vinte e cinco de agosto de 2010, nós fomos premiados.
Nós ficamos em terceiro lugar.
Nós perdemos pra um projeto na África.
Então é mundial e só premiava o primeiro.
Por nós termos ficado com o ponto muito perto, nós recebemos um prêmio em dinheiro, tudo.
P/1 – Legal.
R – Então esse projeto, por isso que eu falo, tem um documentário.
Tem um book de, sei lá, umas 500 páginas contando tudo.
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Não é contando, é colocando todo o trabalho feito pela ESALQ.
P/1 – Bacana.
R – Então tem assim bastantes materiais disso.
P/1 – Agora só mais uma dúvida bem pontual também que eu fiquei.
Você falou desses treinamentos, que são feitos pensando em ajudar o produtor nas questões do cultivo, tal.
Esses treinamentos, você tá se referindo a uma aula? Como é essa formação? Ou à ação sua e da estagiária do ESALQ que vão lá fazer essas visitas e passam essa informação? Só pra ficar mais concreto assim pra gente como essa informação chega ao produtor.
Se tem um treinamento, uma capacitação coletiva, se é individual nessas visitas que vocês fazem.
R – Os treinamentos que nós fazemos com os produtores rurais, eles são divididos, tanto nas visitas nossas de campo.
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Mas isso eu não contabilizo.
As visitas nossas de campo são visitas que estamos batendo um papo com o produtor, eu falo muito que é o bate-papo, eu não considero isso como um treinamento, mas é um treinamento, onde nós identificamos problemas e propomos soluções pra aquilo e acabamos dando treinamento naquele momento, mas nós não contabilizamos isso como um treinamento.
Agora, nós temos firmado com eles que nós damos durante o ano em torno seis, oito treinamentos, focados na necessidade deles, com aplicação de agrotóxico, preparo de solo, manejo de solo, vamos dizer, regulagem de pulverizador.
O último que nós fizemos, NR 31, que é o que o produtor tem que ter pra estar dentro da legislação com a aplicação de agrotóxico.
Então envolve todo o processo de aplicação de agrotóxico, uso de EPI, uso seguro de agrotóxico.
E isso tem curso de três dias que nós damos pra eles.
Então nós fazemos parcerias com outras empresas também.
A Sementes Rio Pardo é uma que nos ajuda a dar treinamento, ele tem uma parceria com a BASF, que nós trazemos também.
Então nós temos várias etapas de treinamento que nós levamos para o nosso produtor.
Isso durante o ano tem alguns treinamentos.
Dia de campo, um produto tá dando muito certo, eu fiz o experimento com fungo de solo num produtor e tá tendo muito resultado positivo.
Nós fizemos um dia de campo lá, colocamos todos os tratamentos que foram feitos pra todo mundo estar na mesma base de informação.
Então, primeiro, pontualmente, você fala no dia a dia; segundo, mais focado nos problemas de cada produtor, fazemos reuniões na fábrica e no campo.
Fazemos na fábrica com os 26, mais os parceiros dos produtores.
Hoje nós estamos com uma meta com o departamento agrícola, que é treinar os produtores próximos dos nossos produtores.
Por quê? O nosso produtor fala: “Eu preciso ter um depósito de agrotóxico”.
O parceiro dele lá do lado: “Pra quê?”.
Então nós estamos treinando também o parceiro dele, o amigo dele, o cara que tá do lado, o produtor do lado.
E essa é uma iniciativa que nós tivemos já esse ano.
E estamos buscando treinar os filhos dos produtores.
Não são muitos, mas os produtores não.
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Nesse grupo de 26, não são muitos.
Mas nós estamos com foco também nos filhos pra serem os futuros produtores nossos.
Então é uma gama de treinamento que tem, certo? E nós focamos em várias etapas.
Então depende da necessidade.
P/1 – Não, mas ficou bem mais claro.
Eu queria entender era isso, como organizava concretamente assim.
Então eu vou encaminhar para as perguntas finais, são duas questões de encerramento.
Antes de fechar, eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você queria deixar registrado, gostaria deixar registrado.
R – Eu acho que eu tentei falar tudo, que até fugi dos assuntos.
Eu fui falando, eu tentei falar tudo.
Assim, registrado assim, o departamento agrícola foi criado agora, mas a fábrica como um todo tá se organizando pra entender também esse trabalho agrícola.
Então quando a gente fala em criação de valor compartilhado hoje, o operador da linha, essa é nossa missão e é isso que nós queremos, que o operador da linha saiba que atrás daquele produto que tá chegando lá tem um produtor trabalhando, tem um planejamento, tem uma gama de tecnologia aplicada pra chegar lá.
Vão acontecer problemas? Vão acontecer problemas.
Mas nós temos que buscar soluções pra esses problemas.
É o caso que eu falei pra você, vai ter um ano que vai chover dois mil milímetros, vai ter um ano que vai chover mil.
E isso não dá pra controlar.
Nós temos um estoque a céu aberto, então esse apoio que fábrica dá é muito importante pra nós.
Esse apoio que os departamentos da fábrica dão, esse apoio que, por exemplo, o setor administrativo fala: “Nossa, existe criação de valor compartilhado com o produtor”.
Nós não podemos simplesmente falar: “Amanhã eu não quero mais isso”.
Nós temos que planejar pra gente parar, ou pra gente iniciar.
Então esse lado é muito bom.
Eu tive muito apoio, por exemplo, meu penúltimo chefe ali, que foi o Fernando Bordini, ele tá em Araras hoje, ele não é um conhecedor de campo, ele responsável gerente administrativo, era gerente administrativo de Rio Pardo, foi uma pessoa que muito me ajudou a me dar.
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Falou: “Você conhece, você vai conseguir resolver, mas eu te apoio nas decisões”.
Então são pessoas que me apoiaram muito, me ajudaram muito a desenvolver essa parte da agricultura até agora.
P/1 – Tá certo.
Então a penúltima questão nossa: quais são seus sonhos hoje?
R – (risos) Meus sonhos são.
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(breve interrupção).
A gente dentro do.
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Pessoalmente, assim, eu acho que eu to com uma.
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É você ter uma família bastante unida, você ter um.
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Às vezes a gente foca um pouco mais no trabalho e deixa um pouco em casa.
Eu to tentando equilibrar muito isso.
Eu trabalho bastante na fábrica, às vezes fico até fora, mas eu to procurando não levar muito trabalho pra casa e curtir muito minha vida com os meus filhos e tudo.
Então uma coisa que é meu planejamento para o futuro.
To dedicando bastante do meu tempo pra uma segunda língua, que acho que foi minha falha de formação no passado.
Hoje, se eu quero crescer, eu preciso disso.
E eu to tendo oportunidade, eu fui promovido faz pouco tempo, dentro desse ano, então estou num grau que eu preciso desenvolver essa área.
E o sonho meu é assumir a gerência, assumir uma gerência, por exemplo, do departamento agrícola, de uma área agrícola geral Brasil.
Hoje, apesar de.
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Junto com os Legumes de Rio Pardo, eu já assumo, por exemplo, uma empresa de congelados, como a De Marchi, a Predilecta eu to começando a assumir agora esse trabalho, que é um trabalho de extensão também com eles no campo.
Mas o sonho é de crescer como todo mundo, é um degrau atrás do outro.
Então é sempre não medir esforços pra estudar, pra fazer curso.
Eu faço curso sempre, pra ter um pouco de conhecimento da parte técnica de campo e to procurando esse outro lado agora, como eu fiz, igual você viu, uma pós-graduação, pra eu entender um pouco de fábrica.
Eu fiz uma pós-graduação em Engenharia de Produção com foco em lean, que é uma metodologia enxuta, que é o abastecimento da fábrica eliminando todas as etapas de desperdício.
Então a minha pós-graduação, o meu TCC, foi em cima disso, você abastecer a fábrica eliminando os pontos de desperdícios de tempo, de tudo que forem etapas que não agreguem valor para o consumidor.
Então eu foco bastante no que eu quero.
E o sonho meu é ter essa oportunidade aí no futuro.
To há nove anos na Nestlé, nessa área, então o departamento agrícola não existia.
Então eu sempre fui fábrica, hoje eu sou funcionário da sede, mas a intenção é crescer, você não estabiliza onde você tá e tá bom.
Então eu sempre quero um passo a mais.
P/1 – Tá certo.
E, por fim, como foi contar a sua história?
R – (risos) Como foi? Eu acho que tem muita coisa que a gente relembra que é muito interessante, que às vezes te ajuda até te motivar mais para o futuro.
Alguns detalhes da vida da gente são tão importantes pra gente e a gente deixa parados no passado e esquecidos.
Se você faz parte da minha história desde quando eu sou pequeno, você vai lembrar, e pra você, eu vou ser importante.
Outras pessoas não vão saber toda essa história.
Agora talvez saibam um pouco da minha história.
Mas outras pessoas vão conhecer o João Roque, que é o supervisor agrícola, que entrega X quilo de produto com uma X qualidade.
E não tem um histórico talvez, que pra mim é muito valorizado, pra pessoa não seja.
Então contar um pouco disso não é fácil.
Eu acho que assim, você relembrar, tem hora que pesa um pouquinho pra você até pensar.
Às vezes você falar que teve dificuldade no passado, hoje eu falo naturalmente, não tenho vergonha de falar: “Olha, meu pai estudou até a quarta série, tudo”.
Mas quando você é jovem e você tá com seus colegas, às vezes você tem uma dificuldade de falar isso.
Você vai falar isso, você fala: “Poxa, todo mundo fez universidade e o meu pai não fez”.
Então é um pouco.
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Você não sabe a forma que as pessoas vão entender isso, então por isso às vezes você esconde.
Às vezes com o passar do tempo você vai talvez amadurecendo um pouco mais, entendendo que isso não é vergonha, são coisas que se você venceu, você cresceu, você correu atrás de alguma coisa.
Então é um pouco difícil às vezes você contar um pouco da história, mas essa é.
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Às vezes eu esqueci muita coisa do que nós passamos das dificuldades, tudo, mas é um pouco da história.
É bom transmitir isso, pelo menos hoje, vamos dizer assim, se eu conversar com você, você vai saber a minha história.
Você deve saber um milhão de histórias, né? (risos).
P/1 – Algumas.
Um milhão não (risos).
Algumas.
R – Mas pelo menos lembra: “Olha, essa pessoa.
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”.
Então isso é importante.
Por isso que a família, talvez, da gente é tão importante pra gente, porque sabe todas as dificuldades que você passou e tá junto em todas as dificuldades.
Um pouco diferente, às vezes, de um chefe, que tá ali pra ser avaliado naquele determinado problema, mas se você resolver um problema muito forte no passado usando uma experiência que você teve lá atrás, você não é valorizado por aquilo.
Então essa é a dimensão de família e chefe, pelo menos no meu conceito.
É isso.
P/1 – Tá certo.
Muito obrigada então, João.
A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA