P/1 – Bom, seu Nivaldo, a gente vai começar o nosso papo aqui hoje com o senhor, então eu vou pedir pro senhor falar o seu nome completo e que cidade que o senhor nasceu?
R – Meu nome completo é Nivaldo Coelho de Oliveira e a cidade que eu nasci nesse tempo era Raimundo Nonato.
P/1 – O senhor nasceu num sítio?
R – Foi, num sítio, na cidade era Raimundo Nonato.
P/1 – E o sítio chamava como?
R – Esperança.
P/1 – É, o seu pai trabalhava nesse sítio?
R – É, ele morava lá no Esperança.
P/1 – E o senhor cresceu nesse sítio, como que é isso?
R – Eu cresci esses 75 anos que eu tenho, eu morei tudo de lá pra aqui, é só um quilômetros daqui lá.
P/1 – Ah! É pertinho?
R – É daqui pro lado de...
P/1 – E conta pra gente assim, o que o seu pai fazia, o que ele trabalhava?
R – Meu pai era lavrador, que a gente chama, da roça, a gente chama lavrador, e ele plantava feijão, milho, arroz, ele tinha uma lagoinha que era só ele por aqui que plantava arroz, porque arroz aqui de primeiro era difícil, e tinha uma borracha maniçoba que a gente furava a borracha, e essa borracha ela vendia pra, ela acabou, o povo dizia que era para fazer pneu de carro, essas coisas, ela acabou, diz que apareceu uma na Amazônia, parece que é na Amazônia, mangaba que, aqui chama é maniçoba, aqui é diferente da mangaba.
P/1 – Mas a maniçoba é como se fosse uma mandioca, como é que é?
R – A folha parece de mandioca, mas é um pau grande, a gente furava e dava uma borracha, e como esses sítios que eu encontrei, era mais era por cima dessa serra que tinha muita borracha, aí eu ia furar essa borracha e na hora da chuva ou do sol que eu ia descansar, eu ia pra uma toca, que esse homem que teve aqui com mil anos atrás (risos) pintava as paredes.
P/1 – Mas quando o senhor se abrigava da chuva, o senhor via essas pinturas, o que o senhor achava que era?
R – Aí o pai da gente dizia que ali foi uns caboclos bravos, uns índios que tiveram aqui, que eles eram caçadores e aí na hora da chuva eles iam pra essa mesma toca que nós ia na hora da chuva, e eles desenhavam só o que eles viam, né, aí eles no mato, tinham matado um veado, ou uma onça, ou um capivara, como tem o capivara, nesse tempo, pinha, que hoje não tem mais, e o veado (gaera?), tinham que desenhar só o que eles viam, né, e tem isso tudo desenhado.
P/1 – Mas vamos voltar um pouquinho, o senhor tinha quantos anos mais ou menos, nessa época, o senhor era jovem?
R – Eu comecei assim mais ou menos com dez anos, eu já andava no mato, mais meu pai.
P/1 – Atrás de maniçoba?
R – Era.
P/1 – E o que se fazia com essa borracha que colhia da maniçoba?
R – Ela era, a gente vendia aqui na Várzea Grande, que hoje é Coronel, nesse tempo não era cidade não, mas a gente vendia aí seis porta pra fora.
P/1 – E agora não faz mais isso?
R – Não é, aí essa borracha acabou o preço.
P/1 – Não valia mais a pena?
R – Não, não tinha mais.
P/1 – E conta pra gente assim, o senhor andava com seu pai, o senhor tem irmãos,também iam juntos, como que é isso, o senhor tem irmãos, quando vocês andavam assim, pelos matos atrás da maniçoba, quem que ia mais com seu pai, como é que vocês iam?
R – Depois ficou só nós, nós era quatro irmãos homens e duas mulheres, mas só ia os homens lá pro mato, aí nós ia furar maniçoba, nosso pai já estava velho, aí nós ia furar a maniçoba pra fazer a feira, como a gente chamava, pra comprar por exemplo, a gordura que nós não plantava, e comprar roupa essas coisas, com o dinheiro da maniçoba.
P/1 – Me fala uma coisa, o que vocês comiam assim, quando estavam pelo mato?
R – Aqui a gente tinha a mandioca, aí essa mandioca fazia beiju de massa, uns beijus que levava pra comer no mato.
P/1 – Gostoso?
R – Era né, (risos) nesse tempo era mais difícil de que agora, muito, tudo que a gente arrumava tava bom.
P1 – Seu Nivaldo, vocês caçavam naquela época?
R – Naquela época a gente caçava, eu nunca fui muito de caçar não, eles às vezes falam: “Mas não, nesse tempo não era proibido”, é porque eu nunca fui de caçar mesmo, mas meus irmãos caçavam, matavam tatu lá no mato mesmo, os cachorros, iam furando as maniçobas, já eles matavam tatu, essas coisas.
P/1 – Aí comia o tatu como, assado?
R – Assado com arroz, feijão, que é o que a gente tinha.
P/1 – E como que era antigamente essa coisa da seca aqui, chove muito, chove pouco?
R – Nesse tempo chovia muito, o pessoal até, quer dizer, que naquele tempo era melhor que agora, mas eu acho que não era não porque quando faltava tudo, aí não tinha essas estradas para ir buscar noutro lugar, tem que ser tudo daqui, e aí faltava muita coisa, que não tinha estrada, por exemplo, iam comprar no Remanso, no Rio Grande, iam pegar milho nesses lugares, de animal.
P/1 – Nossa, tinha que ir até Remanso?
R – É, era com animal.
P/1 – É burro, mula, o que é?
R – Burro e jumento.
P/1 – Levava quanto tempo para chegar lá?
R – Era uns oito dias para ir lá e vim.
P/1 – Oito dias pra ir e oito pra voltar?
R – Não, quatro de cada um.
P/1 – Ah! Bom! (risos) E como que era a cidade de São Raimundo nessa época?
R – Nesse tempo, São Raimundo, primeiro chamava Fazenda Jenipapo, não era cidade nesse tempo ainda, e aqui Coronel José Dirce, quando a doutora chegou aqui, também era vila, não era cidade, porque não tinha prefeito, não tinha nada, não tinha estrada, energia nós não tinha, isso aqui foi eu que doei pra ela, esse lugar, três hectares e um pouquinho,__________.
P/1 – O que tem os três hectares?
R – Que eu doei aqui pra doutora.
P/1 – Pra fazer a cidade?
R – Não, pra fazer essa escola que ela tinha aqui.
P/1 – O senhor que doou?
R – Foi.
P/1 – Olha, que bonito.
R – E ela só fazia, diz que essa, porque aqui teve uma grande escola dela que a doutora botou, as mães dos meninos que tem, que é esses ceramistas aí, nesse tempo eram meninos, ainda hoje disse que agradece, eles saberem ao menos assinarem o nome, a essa escola que a doutora botou aqui no Barrerinho.
P/1 – A terra era do senhor?
R – Era, aí eu doei para essas crianças, para fazer essa escola aí.
P/1 – Que lindo isso, e seu Nivaldo, quando o senhor era jovem, ia à missa, o padre vinha pra cidade, vocês dançavam, como que era assim os costumes religiosos?
R – Nesse tempo não tinha esse negócio de conjunto, não era? Eu era tocador.
P/1 – O que o senhor tocava?
R – Eu tocava sanfona, toco cavaquinho, e a gente tocava na festa aí, nessa Várzea Grande, que hoje é cidade.
P/1 – Que festas que tinha, de finais de semana, tinha festa específica?
R – Tinha nos finais de semana, mas tinha o festejo de São Pedro, era nessa Várzea Grande, essa era de ano e ano, tinha esse festejo do padroeiro.
P/1 – Padroeiro era São Pedro?
R – Era.
P/1 – Que tinha na festa de São Pedro?
R – Tinha muita gente de fora, aquele festejo, e aí o padre fazia uma desobriga de um mês, montado a burro, o burro carregando as coisas, e outro burro com as malas, e tinha o tropeiro, que eles chamam tropeiros, para ir com os animais, aí o padre nessa desobriga, que chama desobriga, ele descia nos matos e fazia uma volta do mês, passando por Curral Novo e saía aqui em São Lourenço, São Lourenço é aqui do Remanso, vocês passaram lá, né? Aí fazia essa volta um mês, tendo missa, um dia aqui, outro dia mais na frente, animal, montado à animal, burro.
P/1 – O que é desobriga?
R – Desobriga era o jeito de chamar, que fazia um mês, rezando uma missa aqui hoje, outra amanhã acolá.
P/1 – Ah! Entendi, e o padre ia visitando todos os lugarejos?
R - É, lugarzinho que tinha um povoadinho, ali tinha a missa naquele dia.
P/1 – E tinha igreja aqui?
R – Tinha umas igrejinhas, tinha aí pelos matos.
P/1 – Enfeitava a igreja, como que era?
R – Era tudo enfeitado.
P/2 – E com quem o senhor aprendeu a tocar sanfona?
R – Foi mesmo sem escola, na bruta não fazia as notas direito.
P/2 – Mas tinha mais alguém que tocava?
R – Tinha meu irmão. Era eu e o meu irmão, mas eu tocava mais era no cavaquinho, acompanhando ele na sanfona.
P/2 – Quem que deu instrumento para o senhor, o senhor comprou?
R – Eu comprava, mas depois que a doutora chegou lá, ela me deu um cavaquinho, às vezes eu tocava nessas escolinhas, pros meninos, por aqui.
P/2 – O que o senhor gostava de tocar?
R – Era forró (risos), negócio de samba, que a gente chama, né.
P/1 – Samba?
P/2 – E as letras, o senhor compunha, ou era letra que todo mundo conhecia?
R – Todo mundo conhecia, eu não tinha de minha autoria não, é as que apareciam.
P/1 - Tinha alguma que o senhor mais gostava de cantar, tocar?
R – Não, quase tudo igual, né.
P/1 – E aí, o senhor trabalhava assim, até conhecer a doutora Nièdi?
R – E aí quando foi em mais ou menos 72 pra 73, eu me lembro que foi aí que ela chegou aqui, ela era magra, quando ela chegou nessa Várzea Grande aí, tem outro rapaz lá que ele dava um almoço, e aí ela ranchou lá nesse lugar, nessa casa, e aí ele formou o que eu sabia dessas tocas, que chamava toca, né, muitas, aí ela me procurou e aí eu comecei a caminhada mais ela, gostava de ir a pé, que nesse tempo não tinha essas rodagens já foi desse tempo pra cá, que passasse carro, só tinha lá pra esses povoados, né, depois ela mesma foi fazendo, às vezes tinha um sítio que era importante, e aí ela fazia a estrada.
P/1 – Mas, seu Nivaldo, quando a dona Niède chegou aqui, o senhor estranhou assim, uma pessoa vim de fora, interessada nessas pinturas, nas tocas, o que o senhor achou?
R – Eu achava que aquelas tocas não tinha importância nenhuma, aquele desenho, ela ia largar aquilo logo, mas aí todo ano que ela começou, todo ano ela vinha em ________dois, três meses no começo, e voltava, e aí naquela volta que ela vinha, eu já tinha achado mais tocas, porque ela me pagava as tocas que eu encontrava, e pagava, eu fazia as trilhas, né, botava gente pra fazer as trilhas, que era dentro da caatinga, na chapada, aí eu interessado em ganhar esse dinheiro, quando ela chegava, já tinha mais, às vezes um caçador mesmo me ensinava, em tal lugar tem uma toca, cheio dessas pinturas, aí eu já sabia o ponto, e aí eu fazia a trilha lá pra esse lugar, quando ela chegava, eu ia levar ela lá, nesse tempo ela tirava aqueles desenhos nas parede era com plástico, a gente ia ajudar com os plásticos, tinha paredona com os desenhos, amarrava uns plásticos, e elas riscavam de pincel por cima, aí depois eu penso que foi desenvolvendo mais as coisas, aí apareceu essas máquinas, que não precisava mais tirar o desenho, por cima do plástico, né.
P/1 – O senhor ajudava a tirar o desenho com plástico?
R – Não, ajudava mais o plástico, pintar por cima mesmo, era só ela, que por cima o plástico era branco, ela tava enxergando o desenho vermelho por baixo, ela riscava por cima do desenho, aí quando tirava estava no plástico o desenho todo.
P/1 – E seu Nivaldo, ela conversava com o senhor nessa época, por que isso era importante, o que ela estava pesquisando, o que ela estava fazendo, ela explicava pro senhor?
R – Ela explicava, mas eu não entendia direito, eu imaginava, eu digo assim: “Isso aqui ela vai deixar logo”, que ela dizia que ia arrumar dinheiro com o governo, os homens, ela gostava de dizer “com os homens”, aí eu dizia: “Esses homens são uns retardados (risos) e aí isso vai se acabar, aí eu não vou mais ganhar esse dinheiro!” (risos) E aí não foi isso que teve tanta importância, esse desenho, eu imaginava que esses homens, se era esses que meu avô dizia, que era caboclo bravo, esses índios, era um pessoal muito inteligente, não é? Sem cultura nenhuma, fazer um desenho daqueles, que a gente não, precisa ser um desenhista para fazer, um aqui tem nessas Várzeas aí, mas é poucos que desenham.
P/1 – Mas seu Nivaldo, o senhor tinha medo de encontrar com esses caboclos bravos ou já falavam que eles não existiam mais?
R – Não, já falavam que já não tinha mais, quando os primeiros, mais velhos do tempo de meu avô pra trás, tinha um senhor de Vitorino, ele morava aqui nessa Várzea Grande pra baixo, aqui diz que era “fundo de fazenda”, quer dizer, não tinha morada de ninguém, só o gado vinha pastar por aqui, chamava o fundo de fazenda, aí eles vinham montados em cavalo, com a roupa de couro, não sei se vocês já viram, correr atrás dos bois e adentrar à caatinga, e dizem que esses índios, tinham aqui na Serra Nova, aí veio uma vez, só um filho desse Vitorino veio, aí esses índios mataram ele, aí o Vitorino era um velho _________, ele foi e a capital do Piauí era em Oeiras nesse tempo, ele foi em Oeiras de animal pedir um reforço para escoltar esses índios daqui, e aí disse que teve esse tiroteio aí, aí o governo diz que deu a ele essa fazenda aqui, esse lugar aqui, aí ele ficou loteando o pessoal, meu avô mesmo comprou, meu avô, essa Esperança era do meu avô, onde meu pai morava, a Jurubeba, o meu avô era do Pernambuco, ele é de Tacaratu parece, do Pernambuco, tem até a história dele lá no museu, contando a história dele, que ele veio no tempo dessa maniçoba, aí veio muita gente de Pernambuco, Ceará, furar essa maniçoba, maniçoba era que nem um garimpo, aí furavam a maniçoba e vendiam, dizem que nesse tempo, até morreu muita gente, também como morreu em garimpo, aí tem essa história de meu avô, ela está lá no museu, contando a história de meu avô, que ele veio pra aqui no tempo dessa maniçoba, e que ele foi chamado pra, era um contador, tinha os barracão de maniçoba, furar maniçoba, tinha os compradores, eu sei que lá no museu tem a história.
P/2 – Tem a história dele?
P/12 – Seu Nivaldo, a dona Niède chegou aqui sozinha, ou com mais pessoas, a primeira vez, como é que foi isso?
R – A primeira vez ela veio mais a Silvia, parece que é Agatha, é uma que tinha mais elas, acho que eram em três, tudo de calça, assim como vocês usam, os meninos achavam que eram uns homens, nessa época quase não usavam, mulher não usava calça.
P/1 – E elas chegaram aqui dirigindo carro, como é que foi isso?
R – Não, ela chegou aqui, era difícil carro, até aqui nessa Várzea Grande, que hoje é até cidade, não tinha, tinha um jipe velho aí que ela arrumou, que às vezes quando tinha um sítio mais longe, ela arrendava ele, para nós irmos pra lá.
P/1 – Aí vocês montavam acampamento lá?
R – É, onde ela dizia que eu vinha dormir em casa, ainda que dessem dois quilômetros.
P/1 – O senhor não ficava longe da dona Carmelita?
R – É né, eu não gostava de dormir no relento, ela não se importava de chegar debaixo de um pau e armar uma rede e dormir, e eu achava aquilo ruim pra dormir debaixo dos paus.
P/2 – Tinha onça?
R – Tinha.
P/2 – E ela não tinha medo da onça?
R – Não, ela não tem medo de onça não, aqui mesmo na Esperança, onde meu pai morou e eu morei também, até os 25 anos eu morei na Esperança, meu irmão brigou com uma onça pintada, ele ia com os cachorros, os cachorros correram atrás lá da onça, e ele ia mais meu pai e um cunhado, o cunhado ainda hoje é vivo, irmão morreu uns tempinhos desse, era o mais velho dos nossos irmãos, aí quando ele chegou lá dentro da caverna, que era uma caverna, os cachorros estavam acuados com essa onça, e eles já tinham matado um, um dos cachorros, a onça, quando ele chegou lá, ele tinha uma estima nesses cachorros, quando ele chegou lá, ele pulou dentro da caverna, que era funda, essa caverna tinha solta as janelas, saia pra lá, era uma toca, né, quer dizer, aí quando ele saltou lá dentro, a onça largou os cachorros e veio, como um gato quando quer pegar um passarinho, até chegar de junto dele, pulava na cara dele, e ele dava facão nelas, ela voltava, diz que ela só dá o salto pra valer, ela não fica dando uns poucos de salto lá, ela não quer perder o pulo, voltava lá no fim da caverna, e vinha de novo do mesmo jeito, de quatro pé assim, até chegar pertinho dele, pra pular na cara, ele facão nela de novo, aí quando foi nas três vezes ou quatro, ela tomou o facão dele, aí já tinha, quando ela bateu assim, que ela bate aqui, aí você adormece o braço e solta o ferro, é dito pros outros caçadores aí tudo, aí ele gritou para os companheiros, que ainda não tinham chegado, quando ele gritou, para acudir ele, ela pulou na outra janela, que tinha na caverna para o outro lado e foi embora, quando eles chegaram, eles acompanharam ainda o rastro dela, e aqui acolá em riba das pedras, diz que estava uns pinguinhos de sangue, aí com um bocado de tempo, ela ficou pegando criação aqui na Esperança, aí pegaram ela numa armadilha, armaram um rifle, nesse tempo era rifle, no carrero que ela passava, pegaram e tava na cisura dos cortes do facão na testa dela, mas ela andou perto de matar ele lá, aí ele foi pra São Raimundo, que em São Raimundo tinha um médico nesse tempo lá, e esse médico era até parente nosso, e aí ele deu esse rifle, ________, aí disseram a ele para não entrar mais nunca numa dessa, que isso aí não chamava coragem, chamava aquilo uma ignorância, uma fera dessa lá e ele pular dentro para ir brigar mais ela, com um facãozinho velho feito de ferreira daqui dos matos.
P/2 – E elas não tinham medo?
R – E elas não tinham medo, dormiam aí nesses matos, por exemplo, elas dizem que onça não ataca a gente, parece que ela só ataca mais acuada mesmo, ela estava acuada com os cachorros, ou estando parida, né.
P/1 – Aí que fica perigosa?
R – E aí ela, eu digo que ela sofreu muito, eu mesmo era acostumado nos matos, pra todo lugar, mas ela que era lá da cidade, chegar e ter essas caminhadas, que ela esteve mais eu, e quando era noutra região, ela via se pegava outro guia, aí caminhava muito, caminhava uns poucos de quilômetros por dia na caatinga, que ele não tinha estrada para ir, nem animal não tinha estrada pra ir, tinha vez, e ela fazia essas caminhadas tudo, eu imaginava: “Essas mulheres estão sofrendo!” (risos)
P/1 – Elas gostavam?
R – Elas gostavam de caminhada.
P/1 – Seu Nivaldo, fala uma coisa, mas elas vinham de uma cidade grande, né, como que era assim, como que elas aprenderam, o senhor ensinou alguma coisa pra elas da caatinga, da água, o que o senhor ensinou assim, que é importante saber para sobreviver?
R – Ela sempre não queria muito beber dessa água, é que lá nos matos tinha água nos caldeirões, que a gente chama, na serra tem um buraco que, mas ela não gostava muito de beber aquela água não, ela levava uma água dela, que aquela podia ter um micróbio lá, que não fazia bem, e não queria que a gente bebesse também daquela.
P/1 – O senhor bebia?
R – Às vezes quando eu estava muito com sede eu bebia até escondido dela eu bebia! (risos)
P/1 – Mas por que escondido, seu Nivaldo?
R – Porque ela não queria que a gente bebesse essa água, com micróbio, né.
P/1 – Ela ficava brava?
R – Ela dizia pra gente não beber, que aquela água às vezes, não é sadia.
P/1 – E comida, como é que vocês faziam com comida?
R – Comida ela mandava minha esposa fazer, quando nós ia, um frango, fritar e aí a gente levava, uma vez ela fez para nós ir num sítio que tinha daqui distante, hoje em dia pra ir para lá de carro, é mais ou menos 70 quilômetros, nós fomos de animal aqui por dentro, eu sabia desse lugar lá, elas foram de pé, e eu ia com o animal, só com as coisas que elas tinham, essas coisas de _______e aí começou também a escavação também, que daí no começo, era só pra tirar os desenhos nas paredes, né, e aí depois essa Pedra Furada, vocês já andaram nessa Pedra Furada?
P/1 – A gente vai lá depois.
R – Ah! Lá é um buraco, não sei se é oito metros de fundura, que foi de onde deu a __________ na mais velha, aí eu já fui ficando entendido, que eu já estava trabalhando escavando também, aí até tampar essa fundura, que diz que, aqui até nas camadas, aí tem a __________de cada camada daquelas, como quem vem um pessoal desses com tantos anos, sair, aí vinha outros, que é onde deu essa equipe, como o Americano, foi lá, que deu a ________de 48 mil anos.
P/1 – Que legal, deixa eu perguntar pro senhor, como que o senhor aprendeu a escavar?
R – Eu sempre ficava ali junto da doutora, vendo o jeito dela escavar, e aí fiquei escavando, que ela já tinha uma fé neu, que ela dizia que eu estava mais prático que os formados que ela trazia de lá.
P/1 – Que os estudantes que vinham?
R – Que vinham, é.
P/1 – Mas qual o cuidado que tem que ter, seu Nivaldo, qual é a paciência, que tipo de instrumento que se usa?
R – É com uma colherzinha, como de pedreiro, mas pequenininha, e um pincel, com um pincel vai tirando ali, se você ver, por exemplo que está perto de uma coisa desse homem tinha deixado, como uma pedra lascada, que ela tirava forte em cada um instrumento daqueles, que encontravam, e às vezes tinha as fogueiras, encontrava as fogueiras deles.
P/1 – Como que o senhor reconhecia que era uma fogueira?
R – Ali eu estava junto dela, quando ela via, quando dava fé que era, aí eu via que tinha um mudança, não é, aí eu chamava ela pra ver.
P/1 – O senhor acertava que tinha alguma coisa diferente ali?
R – Hum, hum, mudava a cor, porque até nas roças mesmo, e na roça teve um, quando ela chegou aqui, que ela veio pra casa mesmo, ela amarrava as redes debaixo de uns paus, a gente fazia uns armadores de rede, que ela gostava mais de estar olhando para o céu, para as estrelas, para a lua, ela dizia que era bonito, elas não dormiam muito dentro das casas não, era debaixo de um pau, aí na roça teve um sitio grande que chama aldeia, que era uma aldeia, porque esse povo, eles tiveram nessas tocas lá na serra, mas como quem, no tempo do verão, como a gente chama, eles passa um ____né, que eles não precisavam, que eles tinham parece aquelas cabanas, umas cabanas que eles fazem e dentro de minha roça tinha essa coisa, foi encontrado fogueira dele, por causa de uma roda assim, cheia das cabanas, encontrava as fogueiras.
P/2 – A casa do senhor estava dentro do parque, o que hoje é o parque?
R – É, o parque passou a ver um variante, veio que passou que cortando, só ficou a cozinha para nós, mas depois modificaram ele, pelo o pé da serra para serra, o paredão ser a cerca do parque, né, e da serra pra lá, é parque pra cá, nossa fazenda.
P/2 – Como que fazia pra tirar, quando encontrava ossada, encontrava as coisas delicadas, assim, como que faz para tirar da terra?
R – Ali ainda tem mais um______ folgando ele ali para ele soltar, né, e com pincel tirando a terra, que não usa nem a colherzinha, colherzinha é pra quando está mais pra topar, na toca dos coqueiros encontraram um esqueleto de novo, e aí aqueles instrumentos do homem, ele que enterra o esqueleto, enterrada na cabeceira, encontraram na cabeça dele, umas pontas de flecha, feita de pedra, não é? Que eles até perguntaram, que teve um repórter aí que me entrevistou, e aí eu fiquei lascando pedra, como eles faziam, aí eu fui lascar pedra pra um repórter, ________me entrevistando, aí tinha sido no ano que tinha encontrado essa lasca de pedra, essa ponta de flecha lá nos coqueiros, e ele tinha visto, e ele perguntou, eu digo que ele perguntou só pra ver, pra aumentar conversa, ele disse: “Seu Nivaldo, acha que aquela ponta de flecha, ela não veio rolando na serra, e fazendo aquele retoque nele”, né, é todo retocado, aí mostrei lá os sentidos que eles faziam aquilo, eles batiam só num sentido só, e aquilo veio rolando, ela tora pra um lado e tora pro outro.
P/2 – E era fácil de lascar?
R – E aí, já está com dois ou três anos que a doutora mandou eu ir, aí fui lascar pedra lá no rio, fomos de avião, lascar pra fazer apresentação, pra lascação de pedras .
P/1 – O senhor foi pro Rio de Janeiro, aí o senhor andou de avião pela primeira vez, e aí como é que foi?
R – Foi, as meninas, tinha umas meninas que vieram pra ver se eu queria ir, e que se não fosse de avião, ia de ônibus, aí elas estavam com medo de eu não querer ir entrar em avião, aí ficaram muito alegre, quando eu disse que ia no avião, que elas iam também fazer uma apresentação, lá delas de emendar umas coisas lá.
P/1 – E como que foi essa viagem de avião?
R – Foi boa, foi ligeira, se tivesse de acontecer, teria sido logo! (risos)
P/1 – Mas o senhor teve medo, o que o senhor sentiu quando levantou o avião?
R – Não, quando eu entrei, antes eu tive mais medo de quando eu ia dentro enxergando as nuvens pra baixo.
P/1 – Espera que a gente vai trocar a fita.
P/1 – Bom, e aí todo ano a dona Niède voltava, o senhor já tinha outro sítio.
R – Outro sítio para apresentar, e aí eu ia ganhar outro dinheiro, porque ela sempre dizia que nós aqui, tinha com que nós viver, nós é que não sabe aproveitar, por exemplo, uma cerâmica dessa, quando tem umas 30 pessoas aí empregado ganhando nela, mas pra gente era meio difícil, que nós não tinha condição de montar um, só que ela dava pra fazer mais barato aí, que cresceu muito agora, mas a gente não tinha condição, ela teve essa cerâmica.
P/1 – Foi idéia da doutora Niède?
R – Foi, e teve uma fábrica de roupa, de papel, de madeira também, mas parece que a que deu mais certo foi a cerâmica.
P/1 – A cerâmica, né, então conta pra gente seu Nivaldo, como é que foi assim, pensar, o senhor ajudou a montar a cerâmica, como é que foi isso assim, aprendeu a trabalhar com cerâmica?
R – Foi, quando foi pra começar aqui, começou junto com a escola, parece que 14 para 15 anos, que isso começou aqui, aí veio um japonês de São Paulo, ele já era nascido em São Paulo mesmo, aí eles botaram eu pra acompanhar ele, para fazer os testes da cerâmica, não é, porque o barro, ele tinha que procurar o barro que chegasse a essa temperatura de 1240 ou 1250 graus de forno, aí eu era ceramista de fazia telhas, dessas telhas, não é nem dessa do, que essa é feita em fábrica, a minha era manual, quando a doutora chegou aqui, eu trabalhava nessa cerâmica manual, fazia telha, tijolo.
P/1 – Essas olarias que tem aqui?
R – Sim.
P/1 – Ah!
R – Aí eu sabia já mais ou menos onde é que tinha a argila, uma dessas argilas é dessa olaria minha, é na roça uma das argilas, aí procuraram, diz que era bom a argila branca para misturar com a, tinha essa minha só foi até mil grau, pra usar só ela, aí ela deformava, ela entortava, borbulhava, ai fomos procurar a mistura pra ela, aí eles fazia, às vezes a minha tinha a medida, duas por uma, três por um, até acertar, só sei que essa minha deu certo, só uma por uma, a metade da minha, e essa outra metade, ela vem de fora, uma branca que tem.
P/1 – Aí não tem aqui na região, tem que comprar fora?
R – É essa é comprada, ela fica aqui uns 40 quilômetros pra lá.
P/2 – E a que tem aqui, de onde vocês tiram?
R – É aqui na roça, é só 300 metros, é só descer no baixão.
P/2 – Que época que é melhor época?
R – Não elas são iguais, só dá certo se forem as duas juntas, metade de uma e metade da outra.
P/1 – E como que vocês começaram a pensar, seu Nivaldo, nas peças que iam fazer, como é que foi surgindo assim, essa criação das peças, usar os motivos_______na pintura.
R – Aí veio outro, teve outro que veio, teve outro que estudou mais essa das formas, de fazer com a barbutina, porque essa peça que ela é comprida ou quadrada, ela não faz no torno, porque o torno só trabalha no centro, aí essa forma é usada, ela faz comprida, faz tudo que quiser na forma.
P/1 – E o senhor gosta de trabalhar com cerâmica?
R - Gosto é na sombra e eu não aguento mais com o machado.
P/1 - Melhor né, e o que o senhor mais gosta de fazer assim, o que o senhor gosta de fazer, tem o prazer de fazer, qual peça que o senhor gosta de fazer?
R – Essa peça daí, toda peça é uma coisa só, é só enfiar aquela forma e despejar.
P/1 – Tem algum desenho que o senhor goste bastante, goste demais?
R – Não, também eu conheço eles muito __________que às vezes eu já sei de qual toca é aquele desenho.
P/1 – Bacana isso, né, mas o desenho é feito depois, como é isso?
R - Eles entram, vocês vão passar lá, coloque a metade, que é duas metades aí, de uma e outra cor e aí, ali ele só coloca a metade aqui e aí pega do outro lado, e coloca a outra metade, não tem nada que uma passe por riba da outra, um pouco.
P/2 – São os moldes?
R – Hum, hum, é que tem o azul e o branco, né.
P/1 – Mas isso é pintado ou é?
R – Não, é colocado numas vasilhas, tem as vasilhas lá, tem a vasilha desse azul e a vasilha do outro, do branco.
P/1 – E a queima demora quanto tempo no forno?
R – A queima, tem duas queimas, tem uma queima de mais ou menos uns 800 a 900 graus de fogo, que nós chama de biscoito, que é essa vermelha, vocês vão ver, ela está vermelha, e aí vai pros esmaltes lá, e essa do esmalte pra ele escorrer, precisa 1240 até 1250, que ela tem uma linha da Tok&Stok, que a gente faz só pra Tok&Stok, que o esmalte dela é mais baixo um pouco, mas acho que ainda tem um pouco, mas acho que ainda tem por 1240, mas é que aquele esmalte tem uns cones que coloca lá dentro do forno, e aí tem um olho, faz um buraco no canto, pra quando você olhar, aonde aquele cone está, ele cai quando o esmalte escorre, ele cai, como quem ele é feito mesmo o esmalte, e aí ele cai e aí pode desligar o forno que está pronto.
P/1 – É forno elétrico que vocês usam?
R – É a gás.
P/2 – Quanto tempo o professor ficou aqui ensinando como é que fazia?
R – Veio uns poucos já, mas esse ano eles já vieram de três a quatro vezes, que esse japonês foi o melhor, que ficou mais amigo da gente, aí dois meses que ele vem, um mês, agora como nós já estamos bem encaminhados, quando ele vem, passa poucos dias, a primeira vez parece que foi dois ou três meses, pra ele consertar esse barro e fazer o forno, que ele quem fez o forno, o primeiro.
P/1 – O que o senhor imagina, o que o senhor pensa, assim, as pinturas que o senhor via quando era criança, né, cantava atrás da maniçoba, hoje é cerâmica, vai lá para São Paulo, vai pra um monte de lugar, o que o senhor imagina?
R – Eu, a coisa que eu imagino mais é de, nesse desenho é que aqui, já teve esse veado (carrera?) que hoje não tem, o capivara não tem mais, e esse homem que teve aqui, nesse tempo tinha isso tudo, tem muitos bichos aí, tem a ema, ema também ainda conheci aqui, mas não tem mais, e eles desenhavam só o que eles viam, e a preguiça gigante, também parece que até, dizem que numa toca num carcaro acolá tem um desenho dela, mas quando eles chegaram aqui, parece que já não tinha mais essa preguiça gigante, vai ver foi quem arrancou desses buracos! (risos) E aí tinha um calo que eles fazem nesses carcaro, é uma serra diferente, que faz calo, e aí eles fazem uma calo lá e arrancam cavando pra arrancar esses, depois eles encontraram esses ossão da preguiça gigante, aí um me disse que, e aí eles arrancaram pensando que era pedra, mas quando cortou no meio, viu que tinha aqueles furinhos de osso, nos ossos, e aí eu já sabia, que a doutora já tinha falado, que tinha se encontrado aqui em São Vítor esses ossos, dessa preguiça gigante, aí eu fui lá buscar, eu trouxe um saco, eles tinham lá espalhado, parece que deu 12 quilos desses ossão dessa preguiça gigante, aí ela começou a escavar lá, e encontrou muito.
P/1 – Como que o senhor imagina que era essa preguiça gigante?
R – Ela disse que era um bicho marrom, um prédio de dois andares, eu até perguntei como é que ela andava dentro desses matos aí dentro.
P/1 – Já imaginou um bichão desses?
R – Nesse tempo a gente encontrasse um bicho desse aqui, que tinha dente assim, que era machadinha, parece até uma machadinha.
P/1 – De tão grande que era?
P/2 – E o tigre do dente?
R – Foi encontrado aqui nos pilão, os dentes desse tigre, pois é, foi outro bicho que teve aqui e não tem mais, né.
P/1 – Então assim, esse homem americano de 48 mil anos mais ou menos, pode ver bichos, animais que a gente não conhece hoje, é isso?
R – É mas, até esse outro que pintar, que esse homem americano foi quem pintou essas paredes, esse outro já que teve depois do homem americano já viu bicho que não tem hoje, como o veado ________ , capivara.
P/2 – E o nome das tocas, quem que dá esses nomes, já tinha esses nomes?
R – Não, o nome das tocas elas sempre era quem desse o nome porque eu conheci os lugar e aí, que no tempo das __________ a gente ia furar __________ lá na Chapada, por cima da serra, ela tem um caldeirão, aí dizia: “Tem um caldeirão do _______” , por exemplo, tem dois sítios que um é dos mais bonitos que eu acho.
P/1 – Por quê?
R – Ele tem, a parede tem umas carreira de capivara e parece q foi feito agora (risos), e aí tem uns caldeirão que chama canoa, só nesses caldeirão tem oito sítios já, aí como ficava ruim de a gente ir lá de um por um aí começava sítio um, dois, três, quatro, até chegar o último. Aí agora está tudo cheio das placas, agora tá lá: “Toca do Rodrigues 1”, “Toca do Rodrigues 2”, aí o guia que foi já sabe qual é a toca lá, dois, um.
P/1 – Tem alguma com o nome do senhor?
R – Não precisa mais eu ir (risos).
P/2 – E como que o senhor escolhia os nomes?
R – Eu escolhia assim, porque eu sabia, eu tava lá, aí eu não sabia outro nome aí botava, aí chama caldeirão do Rodrigues aqui, aí botava Toca do caldeirão do Rodrigues. Aí se é duas bota um e a outra dois.
P/1 – A Toca do Boqueirão já tinha esse nome?
R – Tinha porque já foi botado assim porque ela fica num boqueirão, embaixão.
P/1 – O que é um boqueirão, explica pra gente que é de São Paulo.
R – É um baixão que vocês vão entrar neles, aí é um boqueirão, as paredes da capivara chamaram, é um lugar que a gente chamava capivara e agora eles botaram desfiladeiro porque é uma, um baixão estreito e fica aí comprido. E o boqueirão faz o, com a pedra furada faz, o boqueirão quando chega no fim aí aquela poça é a toca do boqueirão lá da pedra furada.
P/1 – A Pedra Furada já tinha esse nome?
R – A Pedra Furada é porque tem a pedra furada mesmo.
P/1 – Mas já tinha esse nome?
R – Já, era lugar do meu avô plantar, aí a gente já dizia “Vai pra Pedra Furada hoje.” Que lá nesses baixão tudo eles tem as toca, tem forno de torrar farinha de mandioca, tem ___________ que ela mandou, que era de meu avô, ela mandou renovar o forno, pra não derrubar, pra renovar ele.
P/1 – Mas usa o forno lá?
R – Não, é só pra modo de mostrar só.
P/1 – Pro turista?
R – É.
P/1 – E quando que começou a chegar turista aqui, Seu Nivaldo, assim pra ver, porque primeiro vieram os pesquisadores, quando que começou a chegar as pessoas pra passear, pra conhecer?
R – O pessoal __________ só vem essa vez, não vem mais não (risos). Que eles queriam dizer que eles veio aí, que tem gente que mora aqui e que não conhece, não tem importância nenhum pra eles, né?
P/1 – E que importância o senhor acha que tem esse trabalho todo que vocês tão fazendo?
R - Eu achei que foi muito importante porque tanto turista que eu tô vendo e tudo aí __________ os desenho aí da serra, senão não tava vindo tanta gente que eu nunca vi (risos). Chega a ter, domingo mesmo disse: “Tem 300 pessoas dentro do parque.” Aí um bocado vem almoçar aqui e compram uma coisa, compra outra, e a tendência é só desenvolver mais porque se ela arruma esse campo de avião aqui, que ela disse que os turistas se queixam muito das estradas e se viesse de avião até São Raimundo Nonato facilitava que já tava perto.
P/1 – Então esse trabalho todo que vocês fizeram há quase 30 anos atrás desenvolveu muito aqui?
R – Desenvolveu, há 34 anos que, desenvolveu e a doutora ajudou muito e tem muita gente empregado por causa dela, né, porque no parque mesmo acho que às vezes tinha umas 500 pessoas porque pela volta tem gente trabalhando pra fazer essa conservação das estradas, tem empregado nessas guarita por todo canto tá cheio de gente, tem esses menino que trabalham na conservação que é pra, que na serra tem uma Maria _______ que é um bichinho, aí ela faz casa em riba das pintura aí tem escorrimento nas paredes que às vezes vem de cima e vai passar em cima de um desenho daquele aí eles fazem uma bica pra aquela água e cai pra acolá. Como esse homem que fez ele dizem que ele só fazia onde não molhava mas hoje lá em cima da serra por causa da estrada ter mudado, né, e aí tá passando por cima das pinturas e aí tem esses que trabalham na conservação. Tem o cupim que faz os caminho por cima das pintura e tem esses, um salitre que ele se forma na serra também, aí tudo eles acabam com os desenho se deixar, sem limpar.
P/1 – Tem que cuidar bem dos desenhos.
R – É, os desenhos vão tudo vão criando, o cupim mesmo passando um ano eles tiram, às vezes eles botam até um produto pra eles mudar de caminho mas eles tem que trabalhar é na conservação do sítio.
P/1 – E seu Nivaldo, conta pra gente como que o senhor conheceu a Dona Carmelita.
R – É como eu tava falando pra você que eu era tocador, não era? (risos) E aí a gente descia, ela morava daqui uns 30 quilômetros, eu morava na Esperança e ela morava num lugar por nome de ____________, que é no rio Piauí, aí daqui até lá eu tocava fé, aí nós se encontramos aí nessas festas e começou esse namoro, foi três ou quatro anos de namoro.
P/1 – E como é que era o namoro antigamente?
R – (risos) Namoro de antigamente era mesmo só escrever uma cartinha pro outro (risos) e não é tão diferente de agora não! (risos)
P/1 – Aí depois de quatro anos namorando é que vocês casaram?
R – É, e ali iniciou, a coisa que ainda tinha que fazia que ainda faz agora é que os velho não queria, mas nós queria, mas tinha deles aí que os velho não aceitava o namoro, daquele cara amarrar a filha, aí ele roubava, a coisa maior que eles faziam! (risos)
P/1 – Roubava a moça?
R – Roubava a mocinha e casava onde tinha um padre. (risos)
P/1 – Aí o pai da moça tinha que aceitar?
R – Tinha, aí depois de ir pra lá, mas às vezes que ficava ainda desligado um bocado de tempo aí quando via que o rapaz era direito é que aceitava o casamento.
P/1 – Mas o senhor não teve esse problema de ter que roubar a dona Carmelita?
R – Não! (risos)
P/1 – E vocês tem filhos, seu Nivaldo?
R – Tenho.
P/1 – Quem que são os filhos do senhor?
R – São quatro homem e uma mulher, tem dois, um em Brasília, um em São Paulo e outro em Minas.
P/1 – Ah é, foi todo mundo pra fora?
R – Foi, esse um em São Raimundo e, dois em São Raimundo agora que tão todos os dois empregado lá, e um é aqui no Coronel tá empregado na Prefeitura.
P/2 – Seu Nivaldo, quando o senhor olhava as pinturas, né, o senhor ficava imaginando histórias, pensando o que as pessoas faziam, o que significavam as pinturas?
R – Essas pinturas não tinha importância nenhuma pra nós aqui antes da doutora chegar. Se tinha um que eles _____________ esse baixão aí é cheio de lugar que até gente morava nas tocas, tem gente que fez aproveitar a toca, as paredes e inteirava de barro a outra parte, tem casa ainda aí nessas, desse jeito, que mora gente. E aí eles iam cozinhar, iam pra roça e iam cozinhar debaixo das toca e às vezes o desenho ficava, acho que a fumaça subia na parede e com o tempo a toca chamava Toca da Fumaça, foi por causa dessa, deles cozinhar e achar que aquilo não tinha importância nenhuma. E foi a coisa pior foi a fumaça que os produto daqui não tira a fumaça, eles não tiram e nem pode. Foi uma das coisas pior pros desenhos foi essa fumaça.
P/2 – E não tinha curiosidade assim de saber o que as pessoas tavam fazendo nos desenhos?
R – Tinha dia aí no começo que tinha uns estudante que iam pra essas toca estudar e eles levam esses giz, eles riscavam tudo, a doutora andou alto aí pra ajeitar esse povo aí. Ainda hoje ela peleja aí com gente (risos).
P/2 – Mas o pessoal daqui mesmo não criavam as histórias das figuras?
R – Não, tinha essa capivara por lá que chamava capivara que eles iam, disse que beber em tempo de festa assim e tomar coisa lá, mas só pra tá lá nas tocas, mas não por modo dos desenhos (risos).
P/1 – Seu Nivaldo, tem alguma coisa que a gente esqueceu de perguntar pro senhor que o senhor queria contar pra gente?
R – Ah, teve uma aí que foi o sofrimento maior da doutora que é um lugar que chama Sumidor do Sansão, lá foi encontrado esses ossos da preguiça gigante, aí é um buraco no carcado, ele... Ele desce pra baixo esse buraco e aí lá com dez ou 20 metros formou uma toca, assim que a gente chama, aí arranjou essa abelha que nós temos aqui que nós chama aqui ______, aí ela faz, fizeram uns ninhos assim, tem três assim na toca, aí elas fazem as capa ali e fica lá. Aí ela descia, eles puseram as roupas pra descer, mas nesse dia eles desceram, elas eram ____ e é cem metros esse buraco, foram encontrar essas coisas, lá tem água, tem tudo lá dentro desse buraco, aí ela, quando ela foi sair elas atacaram, disseram que elas taxam quando elas tão tirando os filho aí elas ficam brava, e aí nós já, os outros já tinham saído, eu sempre ficava na boca do buraco, é um buraco assim bem pequeno, só faz entrar ali, lá é que faz o salão grande, aí elas atacaram e ficaram longe das casas, aí vieram explorar o povo que tava nas casas, nós já trouxemos ela numa rede porque os carro não iam ficar lá perto das toca, ficava meio longe, e aí fomos pra São Raimundo pro médico e aí ela disse: “Quem tiver esporado é pra ir tudo.” Aí entramos no carro, essa _________ aqui foi das primeira que veio, mas ela iam também dirigindo e ela ficou muito nervosa de ver __________ nessa situação aí já quem levou o carro foi outro rapaz que ela não tinha condição de levar, ficou tremendo, aí cheguemos lá as enfermeiras foram catar os esporão, ficou, a doutora quase desmaiada, aí disse que um pediu um avião pra tirar ela pra fora, aí o médico já tava com hora, o médico disse que não precisava não porque se esse avião, quando esse avião viesse chegar aí ela já tinha se recuperado, já tinha saído do perigo, né, porque eles chegavam pra apanhar ela e pra ir pra cidade grande já sem dúvida aquele veneno já tinha passado, ela já resistia, aí não foi, foi aí mesmo, aí todo mundo achava que ela ia morrer que esporou demais.
P/1 – Nossa, que perigo, né?
R – Foi.
P/1 – Mas não aconteceu nada, graças a Deus?
R – Graças a Deus não.
P/1 – O Seu Nivaldo, pra gente acabar nossa entrevista o senhor tá com quantos anos, 75?
R – É.
P/1 – Assim, olhando pra sua história, né, pra tudo que o senhor fez, ajudou a doutora Nièdi e tudo, o que o senhor, o senhor se sente realizado, como que o senhor se sente?
R – Eu me sinto bem porque eu penso que se não fosse essa vinda dela aqui, acho que foi Deus que mandou ela pra aqui porque nesses 30 e tantos anos foi ela me ajudando todo o tempo, tem vez que às vezes eu já tive de ir com carro ou táxi pra Teresina doente, mandado por ela, né, médico, ela paga o médico e paga tudo, e me ajudou esse tempo todo, aqui ainda hoje ajuda porque ela sempre diz a gente aí que todo mundo pode sair daqui só não eu.
P/1 – E qual o senhor acha que é a importância do trabalho do senhor?
R – Como é?
P/1 – A importância do trabalho que o senhor fez com ela, qual que é?
R – A importância... Só mesmo que ela me ajudou muito, né (risos).
P/1 – Tá bom, seu Nivaldo, obrigada pela entrevista.
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