Sempre sonhei em ser mãe, e um certo dia descobri que estava grávida. Que notícia maravilhosa! Estava prestes a realizar meu sonho. Havia projetado tudo , como: o nome do bebê, o quarto, o enxoval. Imaginava-o em meus braços, como seria seu sorriso, a cor de seus olhos etc. Um dia porém , ...Continuar leitura
Sempre sonhei em ser mãe,
e um certo dia descobri que estava grávida.
Que notícia maravilhosa! Estava prestes a realizar meu sonho. Havia projetado tudo , como: o nome do bebê,
o quarto, o enxoval. Imaginava-o em meus braços, como seria seu sorriso, a cor de seus olhos etc. Um dia porém ,
amanheci com um pequeno sangramento, não sabia que sua vida estava correndo risco. Procurei meu ginecologista, que friamente me recebeu em seu consultório,
contei-lhe o que estava acontecendo comigo e que era minha primeira gestação. Mas ele nem sequer me examinou, baixou a cabeça , prescreveu uma medicação , me entregou e me desejou boa sorte. Saí dali desnorteada, sem entender o que estava acontecendo, continuei trabalhando e vivendo minha vida normalmente. Dois dias depois o sagramento foi aumentando, e no quinto dia fui socorrida as pressas para o hospital. Chegando disseram-me que não havia médico de plantão,
nem sequer me prestaram os primeiros socorros e me enviaram para outro hospital, onde também
me falaram que não havia médico de plantão, e assim me enviaram para o hospital anterior afirmando que,
lá sim, havia um médico de plantão. Voltamos para o hospital anterior, já estava tão fraca, pálida, pois estava perdendo muito sangue. Chegando pois no hospital anterior, novamente negaram a presença do médico. Meu esposo já enraivecido, começou a gritar e a exigir que o médico me atendesse , e que não era de graça , ele iria pagar a consulta. E de repente o médico apareceu! Entrei na sala de emergência,
e quando o médico começou a me examinar,
depressa pediu que preparassem o bloco cirúrgico,
pois era um caso de aborto espontãneo e iria fazer uma curetagem, pois não havia mais jeito. Me desesperei e em prantos , assustada e debilitada comecei a prantear,
pois não aceitava que o meu bebê estivesse morrendo. Que dia tão terrível! Desci para o preparório cirúrgico e logo após,
estava no bloco cirúrgico fazendo a retirada do bebê. Quando acordei, já na enfermaria, me sentia tão estranha , a sensação de vazio invadia a minha alma , o meu filho já não estava mas dentro de mim, que dor horrível eu senti! Uma parte de mim teria sido arrancada e agora eu não sabia mais o que fazer com aquele vazio, com aquela dor que ninguém entendia e nem eu mesma sabia explicar. Ainda tive que ouvir de muitas pessoas palavras que me matavam por dentro, tipo: Foi melhor assim, Deus sabe de tudo! Talvez não fosse perfeito! Deus vai te dar outro! Talvez lá na frente fosse te dar uma dor de cabeça! O importante é que você está viva. Meu Deus , como tudo isso só aumentava a minha dor.
Passaram-se dois anos e
depois de tanto sofrimento e sem esperança de ser mãe
engravidei novamente! E em seguida tive minha terceira filha, porém nunca conseguia esquecer daquele filho que perdera. O tempo passou e comecei a estudar psicologia e quando chegou o tempo de fazer meu TCC, ainda sem tema, conheci uma psicóloga no stagram especialista em luto perinatal, parei para ouvi-la e percebi que lidava com demandas de luto por perda do bebê ainda em gestação.
Nossa, como me identifiquei com tudo que falava,
! Comprei seu curso, tivemos alguns encontros e fiquei maravilhada em saber que estava vivendo um processo de luto não reconhecido
e que esse luto tinha um nome LUTO PERINATAL . Daí senti uma vontade enorme de escrever sobre minha experiência e através dessa escrita, fui entrando em contato com a minha história, com a minha dor , fui elaborando minha perda e ressignificando, só assim consegui me curar. Hoje consigo olhar para minha experiência sem dor, mas com muita alegria , pois o meu filho havia se tornado minha inspiraçao para falar e provar cientificamente que ele existiu e que ele faz parte da minha história, e que ressignificar a dor da perda de um bebê é devolver a alegria e a certeza de que esse filho
me fez mãe , embora não tenha contemplado seu rostinho, mas pude sentir sua vida pulsando dentro de mim. Que verdade tão maravilhosa!Recolher