IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Hans Anton Pavlu Neto. Nascido em Campinas, dia 25 de abril de 1979. FAMÍLIA Meu pai é Hans Anton Pavlu Junior e minha mãe é Maria Angélica Masotini Pavlu. Da parte de pai, meu bisavô era checo e minha bisavó era alemã. Da parte materna são italianos. Meu avô e avó por parte de pai são vivos. De parte de mãe são falecidos. Meu pai é comerciante, a vida inteira esteve na loja, e minha mãe era dona de casa, hoje é comerciante também. Tenho um irmão e uma irmã. Minha irmã trabalha com escola infantil e meu irmão está se formando em Engenharia Agronômica. Meu bisavô veio fugido da Segunda Guerra Mundial. Veio fugido da Alemanha. Na verdade, ele é checo, mas vivia na Alemanha. Com a guerra ele veio embora para o Brasil. Veio pra Joinville. Em Joinville conheceu minha bisavó, que também tinha vindo da Alemanha. Juntaram-se e vieram começar a vida em Campinas. Do lado materno, meu avô era agrônomo e minha avó era professora. INFÂNCIA Onde eu nasci e moro é um bairro muito tranqüilo. São casas grandes e ninguém fica muito na rua. Mas na época em que eu nasci tínhamos vários vizinhos. Costumávamos jogar bats na rua. Hoje não tem mais isso. O pessoal só joga vídeo-game e computador. Não tem mais as brincadeiras de infância. Eu gostava de jogar bola e bats. Bats é aquele taco. Tem a casinha e você tem que rebater a bolinha. Sempre tive muitos amigos. Sempre fui bem relacionado. Existia um supermercado bem próximo de casa. As compras eram todas feitas nesse supermercado. Em São Paulo íamos fazer compras esporadicamente. Comprar roupa no Brás, alguma coisa assim. Íamos de carro. EDUCAÇÃO Estudei em várias escolas: Externato Farroupilha, estudei em Barão Geraldo, Dulce Bento Nascimento, estudei no Aníbal de Freitas, Ateneu Campinense. Entrei na faculdade e estudei em Bragança, na USP. Sempre senti inclinação pra trabalhar com comércio. A...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Hans Anton Pavlu Neto. Nascido em Campinas, dia 25 de abril de 1979. FAMÍLIA Meu pai é Hans Anton Pavlu Junior e minha mãe é Maria Angélica Masotini Pavlu. Da parte de pai, meu bisavô era checo e minha bisavó era alemã. Da parte materna são italianos. Meu avô e avó por parte de pai são vivos. De parte de mãe são falecidos. Meu pai é comerciante, a vida inteira esteve na loja, e minha mãe era dona de casa, hoje é comerciante também. Tenho um irmão e uma irmã. Minha irmã trabalha com escola infantil e meu irmão está se formando em Engenharia Agronômica. Meu bisavô veio fugido da Segunda Guerra Mundial. Veio fugido da Alemanha. Na verdade, ele é checo, mas vivia na Alemanha. Com a guerra ele veio embora para o Brasil. Veio pra Joinville. Em Joinville conheceu minha bisavó, que também tinha vindo da Alemanha. Juntaram-se e vieram começar a vida em Campinas. Do lado materno, meu avô era agrônomo e minha avó era professora. INFÂNCIA Onde eu nasci e moro é um bairro muito tranqüilo. São casas grandes e ninguém fica muito na rua. Mas na época em que eu nasci tínhamos vários vizinhos. Costumávamos jogar bats na rua. Hoje não tem mais isso. O pessoal só joga vídeo-game e computador. Não tem mais as brincadeiras de infância. Eu gostava de jogar bola e bats. Bats é aquele taco. Tem a casinha e você tem que rebater a bolinha. Sempre tive muitos amigos. Sempre fui bem relacionado. Existia um supermercado bem próximo de casa. As compras eram todas feitas nesse supermercado. Em São Paulo íamos fazer compras esporadicamente. Comprar roupa no Brás, alguma coisa assim. Íamos de carro. EDUCAÇÃO Estudei em várias escolas: Externato Farroupilha, estudei em Barão Geraldo, Dulce Bento Nascimento, estudei no Aníbal de Freitas, Ateneu Campinense. Entrei na faculdade e estudei em Bragança, na USP. Sempre senti inclinação pra trabalhar com comércio. A vida inteira estive na loja. Nós sempre acompanhamos meu pai. Sempre estávamos na loja pesando massa e daí fomos pegando gosto pela coisa. Eu fiz Administração de Empresas. Eu sou um administrador. Não fui fazer o curso com essa perspectiva. Eu queria fazer uma escola superior, no fim não tinha opção e fiz Administração de Empresas. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Comecei a ir pra loja aos 12 anos, mais ou menos. Eu ajudava, pesava massa de vidro. Era o que eu mais fazia. Também passava fita de acabamento em quadros. Eu ia de moto pra loja, de carona com o meu pai. Ela funcionava das oito às dezoito. CIDADES / CAMPINAS/SP Antes era uma cidade limpa. O que deixou a cidade feia, na verdade, foram os camelôs. Hoje em dia, há muitos camelôs na cidade. Camelô fecha a rua e não deixa você passar. Antigamente, não tinha isso. Era bem mais tranqüilo de se viver. Tudo que o povão vai comprar, compra no camelô. Deixa de comprar nas nossas lojas que têm tradição, têm qualidade e compra tudo de chinês. ADOLESCÊNCIA Comecei a freqüentar bailes, boates, essas coisas, bem mais velho; acho que com uns 18 anos. Eu sempre gostei bastante de esportes, jogava hóquei. Eu vivia mais pra fazer esporte. No fim, só depois dos 18 que eu comecei a freqüentar bares. Eu lembro que ia na Anônima. Tinha também os patins, que se chamava Body Line. Era onde eu mais ia quando era menor. Íamos também sempre para a praia de Mongaguá. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Para o comércio de vidro, o meu bisavô tinha que importar tudo. Nada era fabricado aqui. Naquela época, você imagina como era pra importar alguma coisa... Hoje em dia é bem mais fácil, mas há 88 anos atrás devia ser bem difícil importar. Pelo que eu conheço da loja, eles cresceram muito. Era a única vidraçaria que tinha na cidade. Foi a primeira. Eles são os pioneiros nesse ramo. Trabalhavam com vidro de automóvel, vitral, faziam de tudo na loja. Tinha até carrinho, era um trilho de trem que vinha da oficina e atravessava a loja. Quando precisavam de vidro vinha o bondinho trazendo da oficina para o balcão. A oficina é a mesma que tem hoje. O meu terreno deve ter em torno de 800 metros, é bem grande. Tem a frente da loja e o resto é só oficina. Até hoje tem o trilho do trem no chão, dá para você ter uma idéia de como era antes. Trocávamos vidros até dos ônibus Caprioli. Meu pai conta histórias de que ele e meu tio tinham que trocar com a mão, não tinha máquina pra levantar os vidros grandes. Eles levantavam tudo com o braço mesmo. Uma vez, em Campinas, teve uma chuva de pedras e quebrou vidros na cidade inteira. Isso foi em torno de 1960. Ele diz que fez fila na loja. Havia tanta gente querendo comprar vidro no dia seguinte, que o estoque acabou e ele teve que fechar a loja. Não tinha mais nada pra vender. Naquela época, ela era a única loja do ramo. Foi a pioneira. Hoje cada bairro tem a sua vidraçaria. A concorrência está bem grande. TRANSFORMAÇÕES Deixamos de trabalhar com muita coisa. A maior transformação foi isso. Em vez de agregarmos serviços, fomos deixando de trabalhar. Paramos de trabalhar com vidro de carro, vitral, bizotê. Bizotê eu estou fazendo de novo, mas pegando tudo de fora. Antigamente era feito na oficina, bizotê, lapidação. Deixamos de fazer o bizotê por causa do valor de máquina. Foi mais por isso. Falta de investimento pra crescer, fomos deixando de trabalhar e ficando com o que dava mais dinheiro. Hoje, tenho idéias novas, eu estou tentando resgatar alguma coisa do que trabalhávamos antes. Mas a maior transformação foi essa, em vez de crescer, nós decrescemos um pouco. Deixamos de fazer os vidros de carro porque era muito serviço de vidraçaria. Tínhamos muito serviço de vidraçaria e pouco de automóvel. Então fomos deixando de trabalhar com automóvel. Fomos ficando com o ramo que dava mais dinheiro. Nós chegamos a ter mais de 20 funcionários. Hoje estamos com três. CIDADES / CAMPINAS/SP Antes tinha o bonde que andava a cidade inteira, hoje não tem mais. Ali perto da minha loja tinha um brejo, que hoje não tem mais; é um terminal. Eu só sei de histórias, porque não vivenciei essa época. EMBALAGEM Antes os vidros vinham todos embalados em caixas de madeira. Hoje não tem mais isso. Hoje vem em caminhão, solto, mas antes vinha tudo embaladinho, bem fechado, em chapas pequenas. Não dava um metro e meio cada chapa. Hoje há chapa de três metros e vinte por dois e vinte. Então está bem mais fácil de se trabalhar com isso. EQUIPAMENTOS Na loja tínhamos máquina de bizotê, mas tudo manual, tudo na pedra. Tinha máquina de fazer massa pra vidro. Até era a minha bisavó que fazia. Ela preparava e fazia a massa. Hoje compro tudo de fora. Mais fácil. Os móveis continuam do jeito que eram. O balcão é o mesmo. O balcão eu até restaurei, mas é o mesmo balcão da época que meu avô fundou a loja. E temos as máquinas antigas de bizotê e de massa. As cadeiras, a escrivaninha, a penteadeira, há vários móveis. Estão todos expostos lá na loja. CLIENTES Hoje em dia o público prefere preço. O público quer preço. Quanto mais barato, melhor. Antigamente, eu acho que não ligavam tanto pra isso. Se bem que pra nós é difícil falar, porque quem conhece a minha loja sabe como trabalhamos. Não tem uma mudança. Quem é de Campinas e conhece o padrão de qualidade da Casa Paulo, não deixa de trabalhar com a gente. Não somos o mais barato, mas temos a melhor qualidade. QUALIDADE O que nos difere de outras lojas é o acabamento. Nós fazemos tudo muito bem acabado. O cliente não reclama. Procuramos fazer tudo da melhor maneira possível pra não ter uma reclamação posterior. PRODUTOS O que mais vendemos na loja são as molduras, vidros e espelhos. Eu tenho também aula de pintura, tinta, tela e todo acessório pra artesanato. A gama de produtos é muito grande, se eu for falar tudo, não consigo expor tudo o que tenho. CLIENTES Eu atendo desde o público mais simples até o mais abonado. Hoje em dia é muito diversificado. No centro, onde eu fico, é um público bem simples. Mas o público que já conhece a loja é um público mais abonado. Existe muita fidelidade da clientela. Quem já foi meu cliente um dia, com certeza vai voltar. O atendimento é pessoal, não é uma coisa tão fria. Converso bastante, tenho cafezinho, tenho mala direta. São várias coisas que fazemos pra manter a fidelidade do cliente. Acredito que essas estratégias pra abordagem do cliente são efetivas. Eu tenho retorno do que estou fazendo. FORMAS DE PAGAMENTO Meu pai e meu avô só trabalhavam à vista. Quando eu entrei em definitivo na loja, começamos a parcelar no cheque em duas ou três vezes. Hoje já tem cartão de crédito, parcelamos em até seis vezes por causa da estabilidade do país; podemos parcelar em até mais vezes. O cartão, hoje em dia, é uma facilidade. Antes valia muito a palavra da pessoa. A pessoa falava que era aquilo, podia confiar. E conhecia-se muita gente. A cidade era pequena, então você conhecia todo mundo. Hoje em dia, você não conhece ninguém. Todo dia é um desconhecido com quem eu converso, então é complicado de se trabalhar. Antigamente era mais fácil, porque se conhecia as pessoas. Nunca trabalhamos com promoção. Hoje que eu tenho uns vidrinhos que são sobras, eu ponho em promoção, mas é muito pouco. PROPAGANDA Propaganda é uma coisa interessante. Eu já cheguei encontrar na loja documentos que meu bisavô mandava em 1946. Ele mandava mala direta para os clientes. Hoje em dia, isso é uma coisa nova. E ele já tinha essa idéia na cabeça. Tanto que ele cresceu muito na cidade. Mas o que mais trabalhamos é com anúncio na lista telefônica. Não divulgamos em rádio, televisão, jornal ou revista. Não divulgamos porque é um alto custo do investimento. Investimento meio alto que não sabemos se dá o retorno necessário. SEGREDOS DO COMÉRCIO Eu sou a quarta geração. Acho que o segredo é o atendimento. Não desmerecendo ninguém. Às vezes, chega um cara de chinelo, bermuda, descalço. É o cara que te compra o melhor quadro, o quadro mais caro que você tem na loja. Então você tem que atender bem todo mundo, não importa quem seja a pessoa. Não pode fazer um pré-conceito da pessoa antes de atendê-la. E eu acho que muito se deve também à qualidade e honestidade. Não querer enganar ninguém. Trabalhar sempre de forma honesta. Sempre que não consegue fazer uma coisa, falar para o cliente: “Não consigo fazer assim, faço do outro jeito, pode ser?” Não vai dizer que você faz uma coisa que você não pode fazer. Você tem que ser honesto. DESAFIOS Querendo ou não, nós passamos por todos os planos econômicos que o país teve. Cada virada de plano é uma mudança, querendo ou não, de poder de compra. Sempre dá uma mudada. E mesmo assim conseguimos manter os clientes. Outro desafio foi a questão da importação. Para importar vidro há 80 anos atrás, imagina como não era. Ainda hoje acho que deve ser difícil. Porque hoje eu não preciso importar, mas se eu precisasse, eu acho que ia ficar meio perdido. Eu o imagino, naquela época, conseguindo importar vidro. Eu acho que esse foi um dos maiores desafios. CLIENTES Eu tenho as aulas de pintura e os alunos fixos. Eles já compram comigo a tela, a tinta e terminou de pintar, faz a moldura comigo. Então, de um jeito ou de outro, eu amarro o cliente. De todas as maneiras ele está ali comigo. Quando eu faço uma obra, um serviço de vidraçaria para o cliente, depois do serviço de vidraçaria, eu faço o serviço de espelho, decoração, quadros, de box. Então, faço uma gama grande de serviços. E um cliente que me conhece, sempre volta. Volta para fazer a foto ou o certificado de um filho que se formou na faculdade. Está sempre voltando na loja. Já tivemos bastantes artistas plásticos. Tem Lélio Corrutini, que sempre foi na loja. O Roberto Branco, que vai muito lá também. Tinha o Di Biasi, que sempre foi. Tinha o V8, fotógrafo, que sempre foi enquadrar na loja. TRANSPORTE Antigamente, você queria ir pra Indaiatuba, era longe. Hoje, você pega uma pista pra Indaiatuba. Tudo é muito mais perto, muito fácil. Não é que é perto, é a qualidade das rodovias. Se você quer ir pra Paulínia, é tudo asfaltado, tudo da melhor qualidade possível. Quer ir pra Barão Geraldo, hoje em dia Barão é uma cidade grande, está crescendo, é uma outra cidade. Você vai pra Barão Geraldo por vias fáceis, pela Dom Pedro. Tem também a Campinas-Mogi, que é Tapetão, chama-se Tapetão aquela que vai para Barão Geraldo; é o apelido que deram pra aquele pedaço de estrada. Se você quer ir pra Jaguariúna, tem a Campinas-Mogi. Quer ir pra Valinhos, é uma avenida só que vai pra Valinhos. Hoje está muito fácil. E eu estou no centro. Do centro você vai pra qualquer lugar, bem fácil. COMÉRCIO DE CAMPINAS Antes o comércio era só no centro. Era onde todo mundo ia fazer as suas compras. Hoje não. Hoje tem o comércio do centro, de Cambuí, Guanabara, Ouro Verde. Cada lugar tem o seu centrinho. Tem tudo que você precisa. Hoje em dia você não precisa sair do bairro pra fazer suas compras. Antigamente, o povo todo ia ao centro fazer as compras. Hoje não tem uma necessidade. Isso afetou bastante a loja. Perdemos bastante cliente. Mas hoje eu estou voltando a trabalhar com serviço de vidraria externa, que tínhamos parado de trabalhar. Há cinco anos eu voltei com a corda toda e estamos recolocando no mercado esse tipo de serviço. Mas não reinventamos muito, mantivemos tudo do mesmo jeitinho. LIÇÕES DO COMÉRCIO Lidar com público é complicado. Mesmo que você faça da melhor maneira possível para agradar todo mundo, sempre tem um que vai discutir com você. Lidar com o público, fornecedor. É preciso saber lidar com todo tipo de pessoa. MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS Eu acho muito interessante a iniciativa do Sesc Campinas em buscar o resgate da história do comércio da cidade. Até há um tempo atrás já fizeram isso. Foi o pessoal do SindiVarejista. Eles fizeram um trabalho bem legal também, resgatando a memória do comércio de Campinas. Lojas que já fecharam, lojas que permanecem e lojas que estão começando. Eu acho muito interessante. Deveria ter mais órgãos fazendo esse tipo de coisa. Para nós é muito bom. Querendo ou não, a minha loja é uma das mais antigas. Se não for a mais antiga, deve ter uma ou duas que são mais antigas, ainda com a mesma família. Acho muito importante e necessário. Uma loja que é uma referência em Campinas é a Ezequiel Modas. Tem Casa Paulista de Ferragem. Até a Casa Paulista é mais antiga do que nós, só que hoje eles não estão no mesmo local de fundação. Eles estão em outro local. Tem também a Farmácia São Luiz, mas que não é mais da mesma família.
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