Eu estava em uma casa junto com muitas pessoas, a maioria alunos e colegas da escola de dança onde eu trabalho. Estávamos tentando lembrar uma coreografia e chegava em um certo ponto da coreografia eu travei, nao conseguia mais lembrar e algumas meninas começaram a debochar de mim, deixaram de me respeitar. De repente eu quis comer e fazer uma comida para meu filho, fui pegar a máquina de fazer a comida e ela estava quebrada, não consegui montá-la, e meu marido também não. Diante dessa situação fiquei impaciente e decidi sair. DEcidi ir para um restaurante coreano, quando cheguei no local era muito amplo, ao ar livre, porém lotado de gente, o que me deixou muito surpresa diante da pandemia que estávamos vivendo. Entrei com muita cautela, ressabiada, com meu filho no colo e parei em frente à cozinha. Os funcionários estavam trabalhando, correndo de lá pra cá normalmente, um deles me olhou e disse: ""o que você quer?"". Eu disse que queria fazer um pedido, ele pediu para aguardar na área externa. Fui pra lá e era um grande jardim com piscina árvores mesas cadeiras e muita gente junta rindo, conversando, daí avistei um pouco ao longe a minha sogra conversando com um professor universitário conhecido, do RJ. Ela estava mantendo distância dele, e ela é naturalmente uma pessoa cuidadosa. Fiquei observando por alguns minutos, não sabia se me aproximava ou não. Foi quando um funcionário do restaurante se aproximou de mim e disse: ""aquele homem está infectado. É melhor você não se aproximar"". Ele me mostrou um blister de remédios de onde destacou um pequeno comprimido, redondo, me deu e disse: ""tome isso, é preventivo, não sabemos mais quem está infectado aqui"". Era um comprimido de cloroquina. Tomei e me afastei, sentei numa mesa para comer a minha comida quando chegasse. Assim que sentei chegaram mais 3 amigas, conhecidas minhas, uma de Campinas, colega de trabalho, psiquiatra, uma outra de SP, colega de profissão, psicóloga, e uma...
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Eu estava em uma casa junto com muitas pessoas, a maioria alunos e colegas da escola de dança onde eu trabalho. Estávamos tentando lembrar uma coreografia e chegava em um certo ponto da coreografia eu travei, nao conseguia mais lembrar e algumas meninas começaram a debochar de mim, deixaram de me respeitar. De repente eu quis comer e fazer uma comida para meu filho, fui pegar a máquina de fazer a comida e ela estava quebrada, não consegui montá-la, e meu marido também não. Diante dessa situação fiquei impaciente e decidi sair. DEcidi ir para um restaurante coreano, quando cheguei no local era muito amplo, ao ar livre, porém lotado de gente, o que me deixou muito surpresa diante da pandemia que estávamos vivendo. Entrei com muita cautela, ressabiada, com meu filho no colo e parei em frente à cozinha. Os funcionários estavam trabalhando, correndo de lá pra cá normalmente, um deles me olhou e disse: ""o que você quer?"". Eu disse que queria fazer um pedido, ele pediu para aguardar na área externa. Fui pra lá e era um grande jardim com piscina árvores mesas cadeiras e muita gente junta rindo, conversando, daí avistei um pouco ao longe a minha sogra conversando com um professor universitário conhecido, do RJ. Ela estava mantendo distância dele, e ela é naturalmente uma pessoa cuidadosa. Fiquei observando por alguns minutos, não sabia se me aproximava ou não. Foi quando um funcionário do restaurante se aproximou de mim e disse: ""aquele homem está infectado. É melhor você não se aproximar"". Ele me mostrou um blister de remédios de onde destacou um pequeno comprimido, redondo, me deu e disse: ""tome isso, é preventivo, não sabemos mais quem está infectado aqui"". Era um comprimido de cloroquina. Tomei e me afastei, sentei numa mesa para comer a minha comida quando chegasse. Assim que sentei chegaram mais 3 amigas, conhecidas minhas, uma de Campinas, colega de trabalho, psiquiatra, uma outra de SP, colega de profissão, psicóloga, e uma outra, aluna minha na escola de dança. Elas se sentaram à mesa para comer juntas comigo e nesse momento eu me desesperei. Elas estavam rindo e descontraídas e eu lhes disse ""gente, acho que não é bom ficarmos assim tão perto"". A minha colega de Campinas riu, se aproximou para me abraçar, eu me afastei e disse a elas que estava desconfortável com aquela situação e queria me afastar delas. Duas delas se levantaram contrariadas mas a minha colega de Campinas permaneceu, dessa forma eu levantei sem tocar na comida. saí andando bastante desesperada, sem saber para onde ir, sem saber se estava infectada ou não, entrei numa sala que parecia mais vazia mas pessoas continuavam passando, entrando e se aproximando de mim. Decidi então ir embora. Com meu filho no colo entrei em um hospital, caminhei por um corredor até chegar em uma das camas, nessa cama estava meu avô M., já idoso, assim como lembro dele, imigrante alemão. Ele olhou para mim e começou a chorar, comecei a chorar também, nós queriamos nos abraçar e não podíamos. Ele chorava muito, olhava para seu bisneto, e dizia: ""eu nunca imaginei que isso fosse acontecer"". Eu comecei a chorar também, muito, dizendo ""eu também não"". Nós queríamos nos abraçar e não podíamos.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Inicialmente, no sonho, pela lembrança que escrevi, a associação que faço são as pessoas todas juntas numa mesma casa, mesmo cômodo, tendo que cozinhar por elas próprias e se virar por ali entre elas. Aí, diante do fato de não conseguir a comida, me vi tendo que tomar uma decisão, que era a decisão de sair, que atualmente não é uma decisão simples, envolve medo, preocupação, e decidi sair. Aí a outra associação que faço... Na verdade não é nem associação, o sonho é o que é, é literal, no restaurante as pessoas estavam lá como se não estivesse acontecendo nada, que é o que está acontecendo, muita gente na rua, parece uma dissociação da realidade. A outra associação que faço é com essa questão da cloroquina, diante do fato de que tinha uma pessoa que já se sabia infectada, lá dentro... As únicas pessoas que pareciam preocupadas com o que estava acontecendo era eu, os funcionários do restaurante e minha sogra, o resto das pessoas agindo como se não estivesse acontecendo nada. Daí o funcionário me entregou esse comprimido de cloroquina, quase como uma panaceia, tipo não interessa oq ue vocÊ tem ou não tem mas toma isso que tá tudo certo, que é a ideia que está sendo vendida pelo governo. A outra associação que faço é da culpa, não saber que estou sendo infectada se posso voltar para casa ou não. E por fim o encontro com meu avô, uma pessoa já falecida, que condensa todas as minhas questões familiares, pois ele viveu a guerra, passou fome, precisou sair do país por isso, é pai da minha mãe que é uma pessoa que tenho sentido muito sofrimento em não poder ver e abraçar e estar perto, e por fim ele é muito parecido com o meu pai, idoso loiro de olhos azuis, avô era acamado que atualmente tem a ver com a condição do meu pai que é do grupo de risco, que não posso ver, não posso abraçar, e quanto mais eu penso mais sei que não posso abraçar ele, independente de estarmos infectados ou não, e não sei se poderei abraçá-lo mais.
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