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História
Por: Museu da Pessoa, 23 de setembro de 2020

Quem não leu pode ser sábio, sim senhor

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Quem não leu pode ser sábio, sim senhor

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Eu não estudei, porque meu pai não queria que eu estudasse.

Ele ainda dizia: “Não, não vou te botar pra estudar, pra ti não aprender a fazer bilhete pra namorado”.

Acabou que ele trouxe pra dentro de casa, trabalhador pra trabalhar com ele e aí a gente se gostava, e pronto.

Aí a gente se conheceu e pronto, acabou.

Foi isso.

Porque senão, eu não chegava a nem ter essa filha, porque eu tinha aprendido, eu tinha um saber bom pra eu aprender e gostava, queria, tinha muita vontade de estudar.

Mas aí não deu.

Por exemplo, se o senhor tivesse um papel aqui me ensinando, ele tomava e rasgava tudo e pronto: “Isso é só pra vagabundagem”.

Ele dizia assim.

Aí tá bom, não tem problema.

Eu me criei, construí minha família, me disciplinei por conta própria dele, porque ele arrumou duas pessoas pra trabalhar com ele.

Chegou no fim um veio gostar de mim, eu estava com quê? Meus dezesseis anos, estava nova ainda.

Eu tive a primeira filha, que está com sessenta anos já, em 1956.


Mas tudo bem.

Que Deus é um só.

É, sim senhor, é um Deus só.

Ele cuida de nós todos no mundo.

O meu pai dizia assim, ele tinha um catecismo e dizia assim: “Quando Deus quiser acabar o mundo, não vai ser só com um, vai ser com tudo.

Tudo pra um não falar do outro”, certo? Então, como eu digo sempre, converso com as pessoas que, às vezes, em casa, vão perguntar e conversar comigo, eu digo: “Não.

Eu falo isso aqui, não é que eu saiba ler, porque eu vi o catecismo que o meu pai tinha, que o padre deu pra ele”.

Então, por isso que, quando eu lembro, eu falo e é verdade.


Quem não sabe ler, dá pra ser sábio ainda.

Dá um pouco, né? Dá um pouco, sim senhor.

Eu não sei ler, não sei escrever, não sei assinar um nome.

Aí eu ponho essas palavras pra você, por quê? Porque Deus está na minha mente, me orientando, não é verdade?

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Dados de acervo

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P1 – Dona Maria, obrigado.R1 – Por nada.P1 – A senhora me fala o nome inteiro da senhora, onde a senhora nasceu, que dia que foi também?R1 – Eu não sei a data do meu nascimento, nem o ano que eu nasci, nem o mês. Porque, quando eu me entendi no mundo, meu pai não me mandou educar, não me deu a sabedoria de nada, senão trabalho de roça. P1 – Mas o nome inteiro e o local...R1 – Lá? Sítio Tapuó.P1 – E qual é o nome da senhora?R1 – Meu nome é Maria de Nazaré Menezes da Costa.P1 – A senhora nasceu aqui em Barcarena?R1 – Foi, sim senhor. Lá naquele local lá, Tapuó.P1 – Qual que é o nome?R1 – Barcarena, Cafezal. Município de Barcarena, Cafezal.P1 – E teu pai, quem era teu pai?R1 – Antônio Ferreira Tenor.P1 – Ele era como, o teu pai?R1 – Ele era baixinho assim, tipo assim, meio índio.P1 – Ele era meio índio? R1 – Ele era.P1 – Por que ele era meio índio?R1 – Porque ele foi criado lá na natureza, que estavam os índios. Pai dele, mãe dele era, tudo por lá.P1 – Era de que tribo eles?R1 – Olha, eu não lembro. Quando ele faleceu não me disse nada, não disse nadinha pra nós. A minha mãe também, idem. A nós nos criamos lá, ficamos já todos grandes, trabalhando sempre em lavoura, apanhando fruta: açaí e bacaba; juntando semente no mato, pra sobreviver na vida. P1 – A mãe do seu pai, você conheceu? Pai do seu pai também?R1 – Não senhor, também não.P1 – E o nome da tua mãe, qual que é?R1 – Geralda Menezes da Costa.P1 – E como é que era sua mãe?R1 – Minha mãe era mais forte do que eu, mais alta um pouquinho, mais clara também. Ela morreu estava com 36 anos, morreu nova.P1 – Ah é? Morreu jovem, ela. R1 – Foi, morreu jovem.P1 – Morreu de quê?R1 – Olha, o problema é que ela pegou um sofrimento e foi rapidinho. Ela estava com febre e foi pisando na água e estuporou. Aí, disso, ela foi. Que diante a doença e sofrimento da pessoa era assim, estuporava, não podia estar com... Continuar leitura

Título: Quem não leu pode ser sábio, sim senhor

Data: 23 de setembro de 2020

Local de produção: Brasil / Barcarena

Autor: Museu da Pessoa

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