Projeto Mestres do Brasil
Depoimento de Alessandra de Fátima Cozendey Madeira Marinho
Entrevistada por Winy Choy e Sérgio Ricardo Retroz
Rio de Janeiro, 16/09/2008
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: OFMB_HV003
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Alessandra, pra gente começar eu queria que você falasse seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R – Alessandra de Fátima Cozendey Madeira Marinho, a data de nascimento 15 de outubro de 1978 em Italva.
P/1 – Italva, Rio de Janeiro?
R – Rio de Janeiro.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Maria José Cozendey Madeira e Antônio Madeira da Cruz.
P/1 – Eles são também de Italva?
R – São. São lá mesmo de Doutor Matos, entendeu? Porque eu nasci em Italva, mas eu moro em Doutor Matos.
P/1 – Ah, você não mora em Cardoso Moreira?
R – Doutor Matos é um distrito de Cardoso Moreira.
P/1 – Ah, legal.
R – Fica a treze quilômetros de Cardoso Moreira. É bem interior. Cardoso Moreira você pega o interior, você vai chegar em Doutor Matos.
P/1 – E o que seus pais fazem?
R – Meu pai é agricultor, mexe com propriedade, tem a tiração de leite e minha mãe é do lar, sempre estava lá disposta pra só cuidar da gente, não é? (risos)
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho duas irmãs e um irmão. Renata, que é a mais velha, Flávia e João Paulo, que é o caçula, o caçulinha, o menininho da... (risos) O dondoquinha.
P/1 – E como é que é lá na sua casa? Você nasceu lá? Você cresceu?
R – Eu nasci em Italva e sempre morei lá em Doutor Matos, sempre. A minha infância toda, a minha adolescência, só saí realmente quando fui fazer faculdade, porque eu fiz faculdade em Campos. Aí eu morava em Cardoso, na casa dos meus tios e fazia faculdade à noite.
P/1 – E você se lembra da sua infância? Como é que era lá na sua casa em Italva?
R – Em Doutor Matos, não...
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Depoimento de Alessandra de Fátima Cozendey Madeira Marinho
Entrevistada por Winy Choy e Sérgio Ricardo Retroz
Rio de Janeiro, 16/09/2008
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: OFMB_HV003
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Alessandra, pra gente começar eu queria que você falasse seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R – Alessandra de Fátima Cozendey Madeira Marinho, a data de nascimento 15 de outubro de 1978 em Italva.
P/1 – Italva, Rio de Janeiro?
R – Rio de Janeiro.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Maria José Cozendey Madeira e Antônio Madeira da Cruz.
P/1 – Eles são também de Italva?
R – São. São lá mesmo de Doutor Matos, entendeu? Porque eu nasci em Italva, mas eu moro em Doutor Matos.
P/1 – Ah, você não mora em Cardoso Moreira?
R – Doutor Matos é um distrito de Cardoso Moreira.
P/1 – Ah, legal.
R – Fica a treze quilômetros de Cardoso Moreira. É bem interior. Cardoso Moreira você pega o interior, você vai chegar em Doutor Matos.
P/1 – E o que seus pais fazem?
R – Meu pai é agricultor, mexe com propriedade, tem a tiração de leite e minha mãe é do lar, sempre estava lá disposta pra só cuidar da gente, não é? (risos)
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho duas irmãs e um irmão. Renata, que é a mais velha, Flávia e João Paulo, que é o caçula, o caçulinha, o menininho da... (risos) O dondoquinha.
P/1 – E como é que é lá na sua casa? Você nasceu lá? Você cresceu?
R – Eu nasci em Italva e sempre morei lá em Doutor Matos, sempre. A minha infância toda, a minha adolescência, só saí realmente quando fui fazer faculdade, porque eu fiz faculdade em Campos. Aí eu morava em Cardoso, na casa dos meus tios e fazia faculdade à noite.
P/1 – E você se lembra da sua infância? Como é que era lá na sua casa em Italva?
R – Em Doutor Matos, não é?
P/1 – Não, em Doutor Matos, é, desculpa.
R – Lembro, lembro sim. Era muito tranquilo e hoje é isso que eu tento passar para os meus filhos, é uma tranquilidade muito grande, porque lá é bem interior, não tinha energia elétrica onde nós morávamos, quando a energia elétrica chegou nós já tínhamos o quê? Uns doze anos, quando chegou a energia elétrica lá. Então, naquela época, era aquela televisão preta e branca, carregava na bateria, coisas que a gente fala hoje em dia para as pessoas e as pessoas: “Ah, só antigamente”. Não, eu não sou tão velha e já passei por isso tudo. O ferro, aquele ferro que colocava a brasa dentro para poder (risos) passar as roupas... Era muito tranquilo morar lá.
P/1 – E como é que era a sua casa lá?
R – É bem espaçosa, então tinha bastante... Uma área enorme e até hoje tem açude, lá mamãe sempre teve criação de galinha, porco, coisa de roça mesmo, de interior. Nós sempre ficamos ali, sempre ajudando, porque mamãe não trabalhava e nós sempre ajudávamos, era estudar e ajudar.
P/1 – Ela devia cozinhar bastante, não é?
R – É. Cozinha bastante, maravilhosamente bem.
P/1 – Você se lembra de algumas comidinhas lá em...?
R – Ah, galinha, galinha caipira, o caximbau, que lá nós falamos caximbau, ela faz um pirão maravilhoso, porque lá tem o açude, na casa de mamãe tem o açude, tem aquela criação. Então nós vamos lá, pegamos, limpamos e mamãe faz pra gente, até hoje é assim.
P/1 – O caximbau é um peixe?
R – É. Algumas pessoas conhecem como cascudo, lá tem traíra, cará, só peixe de água doce. Carpa sempre compra quando vai lá no açude e depois nós vamos lá e pescamos.
P/1 – E lá era tipo um sítio?
R – É. Um sítio.
P/1 – Nossa! Devia dar para brincar bastante lá, então?
R – Bastante.
P/1 – Você se lembra de umas brincadeiras?
R – Ah, lá em casa era sempre assim... Porque meu aniversário é 15 de outubro, acho que é por isso que sou professora, acho que tinha que ser, nasci no dia do professor (risos), então tinha que ser professora. E mamãe sempre fazia o meu aniversário no dia das crianças, no dia 12 de outubro, aí era uma festa, não é? Fazia brincadeira, corrida de saco, ovo na colher, pique bandeira, existia tudo isso; quando ia se aproximando do meu aniversário, as crianças já ficavam todas esperando aquela festa. Mamãe já aproveitava e fazia as duas coisas, comemorava o aniversário e brincava com as crianças.
P/1 – E no dia-a-dia, as brincadeiras, o pessoal... Vocês se encontravam ou você brincava mais com seus irmãos?
R – Eu brincava muito na escola. Interior, todo mundo conhece todo mundo, todo mundo vai na casa de todo mundo (risos), todo mundo conversa. Eu brincava muito, brincava muito de queimada e bolinha de gude – baleba, a gente falava. Pai detestava porque ele falava que isso não era brincadeira para menina, brincar de baleba. Mas eu adorava brincar com os meninos da escola, pique bandeira, queimada, aquelas brincadeiras mesmo de criança, porque naquela época não existia nada disso, nós não tínhamos acesso a essas tecnologias de hoje, nem energia elétrica nós tínhamos, televisão nós tínhamos aquele horário para assistir as novelas, porque carregava a bateria e se assistisse muito televisão durante o dia, a noite não dava pra gente assistir a novela. (risos)
P/1 – O seu pai era agricultor, não é?
R – É.
P/1 – Ele é agricultor. O que ele plantava lá? O que ele... O que ele mexe (com a cana?).
R – Cana. Mexia com cana de açúcar, a plantação de arroz, milho, feijão. Plantava pra uma comercialização grande, mesmo pra família, mas sempre plantava e a criação de vaca de leite, a produção do leite ______.
P/1 – Os seus avós assim... A família é lá da região mesmo?
R – É. Minha avó era índia, por parte do meu pai, índia mesmo, bem morena. Meus avôs... Avô, eu não conheci nenhum avô, nenhum, não cheguei a conhecer. Só conheci essa avó por parte de pai e uma avó por parte de mãe, que inclusive ontem eu estava até comentando com os meninos que vovó morreu no dia do Natal, a minha avó por parte de mãe. Então, isso é uma coisa que marcou muito a gente, porque todo Natal a gente reunia todo mundo e foi justamente quando nós estávamos indo para Cardoso pra comemorar aquele almoço veio a notícia. Uma coisa que marcou muito a nossa família foi a morte dela, quando ela morreu no dia de Natal.
P/1 – Nossa, um marco mesmo.
R – É.
P/1 – (Todo mundo?) se reunindo. E no Natal, então, geralmente você comemorava com a família toda?
R – É. E até hoje é assim lá em casa, porque nós somos muito família, todo domingo nós vamos ver o que... Eu sou casada e todos os meus irmãos são casados, não é? Então, eu tenho dois filhos e as minhas irmãs também e por coincidência todos nós temos um casal, primeiro as meninas e depois os meninos (risos). Então, dia de domingo é aquela reunião de família mesmo na casa de mamãe, nós vamos pra lá, todo mundo e o dia que não vai um sente falta, porque durante a semana não temos aquele contato direto. O momento em que nós nos reunimos é no domingo, na casa de mamãe.
P/1 – E quando você era menina, você encontrava muito com seus primos também?
R – Muito, muito, nós temos assim... Porque papai e mamãe, são dois irmãos casados com dois irmãos, então, nós temos assim, primos irmãos que nós falamos. Então, nós andávamos muito juntos, que eram os filhos de tia Lígia: Danilo, Ana Paula, Alexandre, Vanderlei e era mais ou menos a mesma faixa etária. Então, eles iam lá pra casa e ficavam lá em casa dois, três dias, a gente brincava muito, fazia... Eu lembro que mamãe cozinhava aquela banana e a gente fazia aquele bolinho de aniversário, cantava parabéns (risos) para as bonecas, aquela brincadeira mesmo de criança. Nós sempre tivemos muito contato, principalmente com eles por morar perto e por nós sermos muito ligados realmente.
P/1 – E quando você foi para a escolinha, vocês devem ter estudado também na mesma escolinha?
R – Não, nós não estudamos porque lá tinham duas escolas, uma era mais próxima lá de casa e outra já ficava mais afastada, aí nós não estudávamos juntos, então acho que por isso também que nós nos encontrávamos mais, porque além da escola, aquela amizade de escola, aquele período ali, você está todo dia em contato. E por nós não nos encontrarmos, nos encontrávamos ______ à tarde e à noite, eles iam lá pra casa, ficavam lá em casa o final de semana porque mamãe sempre morou assim, retirado, um pouco retirado. Tem Doutor Matos, mas é assim: você chegou tem que andar dois quilômetros pra chegar à casa de mamãe, porque é bem retirado, não é na rua mesmo. Então, eles gostavam. A Ana Paula gostava muito de ir lá pra casa.
P/1 – Ah, me conta assim, um dia de quando você era menina, o seu cotidiano, por exemplo, sua mãe te acordava, depois você ia e tomava café com os seus irmãos? Como é que era?
R – É. Nós acordávamos, a mamãe colocava a gente cedo pra escola, que éramos nós três, aí nós íamos pra escola a pé porque não passava ônibus, não tinha mesmo. Nós íamos a pé pra escola, conversávamos muito, brincávamos muito e depois retornávamos pra casa. Aí ajudávamos mamãe nas tarefas de casa, estudava um pouquinho e dormia muito cedo, tínhamos o costume de dormir muito cedo, junto com as galinhas (risos), não é? Que as pessoas falam, porque seis horas, sete horas não tinha energia, não tinha nada pra fazer; a gente brincava muito, era dominó, baralho e dormíamos muito cedo.
P/1 – E como é que era essa primeira escola que você estudou? Você lembra?
R – Ah, era uma casinha bem pequenininha, era casa mesmo, não era escola, era uma casa. Tinha aquelas duas salas porque trabalhávamos em séries muito seriadas, todo mundo junto e eu quando cheguei à escola não tinha aquela educação infantil que hoje nós temos. Eu já entrei direto no CA [ciclo de alfabetização], que era o antigo CA, que hoje é o primeiro ano. Entrei no CA e lá só tinha até a quarta série, em Doutor Matos. Aí, quando nós fomos passar pra quinta, quando nós passamos pra quinta série, nós tínhamos que ir pra Cardoso, aí nós pagávamos ônibus todos os dias de manhã até chegar à escola. E foi essa maratona de quinta à oitava, o segundo grau, tudo estudando em Cardoso, viajando de ônibus.
P/1 – E esse caminho dessa primeira escola que você estudou, como é que era? Você tinha que andar bastante?
R – É. Andávamos, nós andávamos o quê? Uns vinte minutos a pé até chegar à escola. O dia que chovia era muita lama mesmo porque lá não é calçado, é barro mesmo. Então, o dia que chovia era insuportável (risos) a gente ir pra escola, a gente chegava na escola toda suja (risos), porque essas havaianas, que a gente usava muito, quando você pisa (bate palma?) na lama, na hora que (sobe?) suja a roupa todinha (risos); ou você ia descalça ou chegava na escola toda suja.
P/1 – Nossa, escorrega também, não é?
R – É.
P/1 – E tinha muitos alunos nessa escola?
R – Mais ou menos, não tinha muito por ser uma escolinha do interior, tinha menos alunos.
P/1 – Uhum. E todos os seus coleguinhas devem ter ido pra Cardoso, assim, a maioria pra estudar depois?
R – Alguns, outros não. Outros já precisavam trabalhar, porque lá as pessoas são pobres, humildes e precisam trabalhar. Então, muitos não tiveram essa oportunidade de ir, porque na época o ônibus nós tínhamos que pagar passagem e muitos não tinham condições de pagar, de colocar os filhos para estudar, o que hoje em dia é muita facilidade, não é? O transporte escolar é gratuito e antigamente não era nada disso.
P/1 – E aí, conta um pouquinho pra mim, como foi começar a ir pra Cardoso? Deve ter sido uma aventura!
R – Muito, uma diferença muito grande e sempre nós tínhamos aquela ansiedade de como vai ser, como vai ser estudar em Cardoso, numa escola grande, porque até então estudávamos numa escola que tinha apenas duas salas, a cozinha era... O refeitório era tudo da escola e ir pra uma escola grande, onde não conhecia quase ninguém, então, eu lembro... Eu fui pra quinta série com nove anos, eu era muito pequena, quando eu cheguei à escola eu levei um susto, eu fiquei apavorada com aquela quantidade (risos) de aluno, aquela escola imensa. Mas nós fomos, fui me adaptando, conhecendo novos amigos e aí fui fazendo novas amizades e aquelas amizades que eu tinha antes, hoje nós conversamos muito pouco. Aquelas amizades da infância, porque cada um seguiu a sua vida e eu tenho mais amizade com a minha... As amizades que eu fiz em Cardoso, as minhas amigas de Cardoso.
P/1 – E o que era pra você o mais diferente quando você começou a ir pra Cardoso? Era o tamanho da escola? Eram as pessoas diferentes?
R – Era muito, assim... O que eu achava diferente era ter que pegar o ônibus todo dia, porque era uma coisa que nós não fazíamos antes, nós tínhamos que andar a pé na rua, andava-se uns quinze, vinte minutos a pé e pegava o ônibus pra ir pra escola. Então, essa aventura de ônibus, ônibus superlotado, aquela agitação, aquele corre... Aquela adrenalina mesmo que dá, porque lá as estradas não são asfaltadas. Então, quando chovia tinha muitos problemas com o ônibus, (garrar?), o ônibus tinha vez que agarrava e a gente ficava pela rua (risos), pela estrada e terminava de chegar em casa a pé. Então, era muito assim, aventura mesmo, hoje eu vejo como uma aventura (risos) que nós fazíamos.
P/1 – Era só de manhã ou era integral?
R – Não, só de manhã, só que nós chegávamos em casa quase duas horas da tarde, porque o ônibus saía de Cardoso meio dia e meia, meio dia e quarenta e até chegar era quase duas horas da tarde.
P/1 – E você se lembra do tempo que você estava na primeira série até quando você se mudou pra Cardoso, algum professor que você tenha gostado? Uma aula diferente?
R – Nós gostávamos muito de uma professora chamada Silne e Melina, que elas eram assim muito amigas, eram praticamente mães da gente, acolhia todo mundo e o que marcou foi quando essa professora, essa Silne, ela precisou sair e veio morar em Macaé, na época, aí quando nós chegamos... Ela não contou pra ninguém, que ela ia embora, nós fomos pegos todo mundo de surpresa, quando nós chegamos um dia na escola estava um bilhete no quadro, ela deixou uma carta pra gente no quadro. Então, isso marcou muito a gente; até hoje quando nós sentamos e conversamos com os amigos da época, eles lembram disso, o que ela fez. Porque ela não queria assim, nem que nós ficássemos chateados, e (pedir?) e chorar aquela coisa toda, ela foi e deixou uma carta pra gente no quadro, pra todo mundo.
P/1 – Nossa, que... E você lembra o que estava escrito nessa carta?
R – Não, não lembro, mas falava um pouquinho de cada um, entendeu? Cada aluno que estudava na nossa sala, ela colocou um pouquinho de cada um ali e falou coisas muito assim... E aquilo ficou marcado... Nós não choramos na despedida, mas choramos quando nós lemos aquela carta que ela deixou pra gente.
P/1 – Você lembra também de algum livro ou de alguma coisa que você tenha gostado, alguma matéria, sabe?
R – Eu sempre gostei muito de Matemática, sempre, então, jogos, quando a professora levava algum joguinho, qualquer coisa diferente eu adorava, então, desde lá da... Desde mesmo das séries iniciais, CA, primeiros anos, eu sempre gostei muito de Matemática. Eu achava uma coisa diferente porque a única coisa que o professor levava de diferente era um jogo, era uma atividade, que às vezes nós fazíamos para competir dentro de sala. Então, eu não sei se foi isso que fez com que eu gostasse mais de Matemática, e era a aula que eu mais gostava.
P/1 – E na escola, o que você mais gostava? O recreio ou...
R – O recreio, com certeza, naquela época, do pique bandeira, da queimada era o recreio.
P/1 – Ah, que legal! Você se lembra de alguma história ou de alguma coisa divertida ou não tão divertida assim, que você passou no tempo de escola?
R – Não, eu sempre fui muito tranquila, não fui muito de fazer bagunça, de responder, de ficar de castigo, só fiquei de castigo uma única vez (risos), eu lembro até hoje, e mesmo assim a culpa não foi minha (risos). Eu fiquei de castigo por culpa (risos), por causa dos outros, porque na hora da merenda sempre tinha aquela confusão: um jogar comida no outro. Aí um menino lá, que estudava comigo (risos), jogou a comida em cima da outra garota e a garota falou que fui eu. E eu fiquei de castigo, primeira vez na vida que eu fiquei de castigo, porque eu morria de vergonha de ficar de castigo e por ser sala, a escola ser muito pequena, um passava dentro da sala do outro e quando as pessoas passavam e me viam lá, em pé de castigo, eu abaixava de tanta vergonha (risos) que eu senti por estar de castigo. Então, a única vez que eu lembro que fiquei de castigo na escola foi esse dia.
P/1 – Como que era o castigo?
R – Você ficava em pé, em pé lá na parede, olhando (risos) pra todo mundo da sala (risos), aí as pessoas passavam. Eu ficava morrendo de vergonha (risos), eu de castigo, pra mim era o fim aquele... E toda hora que passava um, eu abaixava a cabeça, para as pessoas não verem que eu estava de castigo, só os alunos da sala que sabiam (risos) que eu estava de castigo. (risos)
P/1 – E usava uniforme nessa época?
R – Usava.
P/1 – Como era?
R – Usava uma blusinha, a calça não, só a blusinha, a blusa com o nome da escola.
P/1 – E seus pais queriam que você entrasse na escola? Como é que era? Ou vocês queriam ir?
R – Não, nós que queríamos ir. Então, quando nós fomos estudar em Cardoso, papai, ele sempre foi aquele pai muito exigente, mas muito carrancudo, fechado, então, ele... No início, quando nós fomos estudar em Cardoso, ele colocou muitas barreiras. Ele achava que não tinha necessidade, que a gente não precisava estudar, sempre teve esse pensamento, mas aí minhas irmãs, a Renata foi e aí morava, ficava na casa... A Renata, quando ela começou a estudar não tinha o ônibus ainda, ela tinha que ir e ficava durante a semana na casa da minha tia que morava em Cardoso e vinha pra casa só no final de semana. Aí, quando eu já comecei a estudar em Cardoso, já tinha o ônibus que passava para...
P/1 – Facilitou um pouquinho, não é?
R – É (risos). Muita coisa.
P/1 – E depois que você foi passando até a oitava série assim, tem mais alguma coisa que você lembre de diferente, de interessante?
R – Olha, eu lembro que eu até estava comentando com os meninos na rua quando nós estávamos vindo. Na época nossa de sétima série e oitava série, o meu marido hoje, eu o conheci na sexta série, tinha três anos que ele não passava de ano, ele era terrível, ele e o outro amigo dele, Carlos Alberto. Aí, logo assim que nós entramos na sexta série, o meu marido mudou pra Italva, então, esse outro colega dele ficou desenturmado, então ele ficava com a gente e ele... Nós que fazíamos praticamente as provas pra ele, na hora da prova ele beliscava a gente, ele chutava a cadeira da gente (risos), nós perdíamos completamente (risos) a concentração e o dia que não fazíamos a prova pra ele, ele ficava de mal com a gente mesmo. Aí, passou, fomos... E isso foi sexta, sétima, oitava série, e quando chegou na oitava série, todo mundo ia fazer prova para o CEFET [Centro Federal de Educação Tecnológica], aquela... Porque na época, federal, todo mundo sonha em estudar na federal. Aí, nós fomos... Eu fiz normal, ______ normal e fomos na sala dos professores e ele foi fazer a prova do CEFET e por incrível que pareça ele conseguiu passar na prova do CEFET (risos). Estudou no CEFET, fez mecânica, hoje trabalha na Petrobrás; eu sempre falo com as meninas, sempre carregamos (risos) o Carlos Alberto nas costas e hoje Carlos Alberto ganha (risos) muito mais do que nós trabalhando na Petrobrás. Esses dias eu encontrei com ele e falei assim: “É Carlos Alberto, naquela época nós estudávamos (risos), nós carregamos você nas costas praticamente, você teve muita sorte...”. Porque foi muita sorte, ninguém esperava. A única pessoa que todo mundo esperava que não fosse passar, passou! E as meninas que estudavam, que se dedicavam, quando elas fizeram a mesma prova que ele não tiveram a mesma sorte (risos). Então, isso foi uma coisa que até hoje nós comentamos isso. Graças a Deus que hoje ele é uma pessoa que tem... Ele é reconhecido, ele tem uma profissão dele, mas nós tivemos uma grande contribuição (risos) pra isso, porque era terrível.
P/1 – O CEFET é em Cardoso Moreira?
R – O CEFET é em Campos, é federal, é Escola Técnica Federal de Campos, todo mundo tinha o sonho de estudar no CEFET, fazer algum curso técnico e era muito difícil. Até hoje, a maioria dos nossos alunos lá, eles tentam todo final de ano fazer prova para o CEFET.
P/1 – Mas você não prestou lá não, não é?
R – Não, não, quando eu terminei a formação de professores, na verdade, eu queria fazer Odontologia. Eu fiz o vestibular na época pra Odonto, não consegui a pontuação pra passar pra Odonto. Quinze dias após eu recebi a carta, quando nós recebemos aquela carta, de acordo com a sua pontuação, você tem aquelas outras opções que você poderia fazer. Então, eu poderia fazer Enfermagem e Fisioterapia que era o que na época também eu queria fazer. Por morar no interior era muito difícil o acesso ao correio, chegava daqui uma semana para te entregar a correspondência e quando eu recebi a carta da Cesgranrio já tinha passado quinze dias do período da inscrição. Então, eu fiquei frustrada com aquilo, chorei, liguei, recorri, mas não teve como, porque já tinha passado muito tempo do período de inscrição, já tinha fechado as inscrições. Aí foi quando eu resolvi fazer pra Matemática, eu fiz faculdade de Matemática, lá na Filosofia de Campos.
P/1 – Então, antes da gente entrar na faculdade de Matamática, eu queria que você me contasse um pouco sobre essa formação de professores que você fez, é junto com o colegial?
R – É o segundo grau, só que você faz a formação de professores, porque na época lá no Baltazar Carneiro, de quinta a oitava e o segundo grau, você tinha formação geral e formação de professores. Na época, eu optei por fazer formação de professores e tinha também técnico em contabilidade, só que eu optei por fazer formação de professores.
P/1 – Era integral? Ou...
R – Não, só no período da manhã. Tinha estágio, que era feito na parte da tarde, a gente ficava à tarde para fazer o estágio.
P/1 – Mas e aí, como é que foi sair do ensino médio, ensino fundamental e entrar num curso de formação de professores? Foi muito diferente pra você?
R – Eu praticamente não... Não foi muito diferente, porque era praticamente as mesmas pessoas da turma. Então, a maioria da minha turma foi fazer formação de professores, aí foi muito bom, foi muito bom. As meninas também estudaram que fizeram formação de professores junto comigo... Na nossa turma tinha só um menino, que fazia (risos) formação de professores, era o Anderson, que hoje ele é dentista e hoje eu frequento, vou lá ao consultório dele, eu trato dos meus dentes (risos) com ele e é muito engraçado, que sempre nós ficamos relembrando as coisas que nós passamos na escola durante o curso de formação de professores. Nossa turma era terrível, mas era todo mundo muito amigo, tinha aquelas divergências, mas era muita amizade que nós tínhamos e essas amizades permanecem até hoje, graças a Deus.
P/1 – O que vocês aprontavam lá, você se lembra de alguma?
R – Ah, a gente fugia e ficava escondida atrás da escola; quando o professor ia pra sala, nós ficávamos escondidos atrás da escola. Teve uma época que nós fomos fazer uma peça, “Chapeuzinho Vermelho”, olha, mas foi uma comédia, porque nós levamos pra dentro de sala de aula aquelas árvores, aquelas coisas todas e aquilo ficou marcado pra gente, foi a turma toda pra fazer uma peça. Então, foi uma coisa que marcou e hoje todo mundo lembra disso, da peça “Chapeuzinho Vermelho” que nós fizemos.
P/1 – E a maioria então era meninas mesmo que estudavam?
R – Era a maioria, só tinha um menino na turma, só esse menino.
P/1 – Era uma escola grande essa?
R – É, é a escola que hoje eu trabalho.
P/1 – Ai, que legal.
R – Hoje eu trabalho no Baltazar.
P/1 – Qual é o nome completo da escola?
R – Colégio Estadual Baltazar Carneiro.
P/1 – Tá. E como é que foi então, quando você estava fazendo o curso de formação? O que você viu lá que achou bacana ou como é que era o curso?
R – Na época nós éramos adolescentes, você sabe que nós não nos interessávamos muito naquilo, você fazia aquilo pra não parar, para você ter um curso que pelo menos era profissionalizante na época, mas dava pra levar, não era realmente o que nós queríamos, porque eu acho que todo mundo que quer fazer uma outra faculdade, que no meu caso era fazer Odonto, era um curso que não tinha muito a ver, não te dava base, não te preparava para um concurso, não prepara, ele te prepara para você trabalhar com os alunos de primeira a quarta, das séries iniciais, e na época não era nosso objetivo, a maioria da turma não tinha esse objetivo. O que ficou muito marcado também para nós nesse curso foi um professor que nós tínhamos de Português, o Ediraldo, ele era muito amigo da gente, amigão mesmo e ele, pouco depois que nós terminamos o ensino médio, teve câncer, aí depois ele veio a falecer. Então, isso marcou muito a gente porque era um professor muito amigo, nós não esperávamos que uma pessoa tão boa de repente fosse se acabar como ele acabou. Marcou muito isso daí pra gente também.
P/1 – Me conta uma coisa, na sua fase de adolescência, como que eram as paqueras?
R – Nossa época não tinha muito esse negócio de paquera, era mais brincadeira mesmo. A gente ia para a escola para brincar, jogar, jogava bola, queimada, vôlei nas aulas de Educação Física, não tinha essa coisa de ir pra escola para paquerar, pra namorar, com aquele intuito de namorar, não tinha.
P/1 – E fora da escola?
R – Não, até que não, eu nunca... Eu comecei a namorar também muito cedo, então, eu tinha um namorado... Meu período de escola, não tem... Eu comento com as meninas, no período de escola eu não aproveitei, não fazia nada disso que hoje as meninas fazem.
P/1 – Esse namorado seu foi o primeiro? Como ele chama?
R – Não, ele foi o meu segundo namorado e depois quando namorei fiz a faculdade; demorei sete anos, sete anos, casei e hoje tenho oito anos de casada.
P/1 – E como que era...
R – E tudo começou na escola. Nós nos conhecemos na escola, ele sempre morava lá, em Doutor Matos, só que nós morávamos distante um pouco. Ele mudou pra Italva porque o pai dele foi vereador, é vereador até hoje, tem cinco mandatos, tem vinte anos que ele é vereador, então sempre morou em Italva. Aí, depois no período que ele estava em Italva que parece que despertou aquela coisa de você ficar longe, que você vai... Sei lá, pinta aquele clima (risos) mesmo e você...
P/1 – Mas e aí, como é que foi o começo desse namoro aí? Conta pra gente.
R – Ah, no início do nosso namoro o papai foi contra, porque nós do interior, o pai tem aquela coisa “ou você estuda ou você namora”, acha que é impossível você fazer as duas coisas. E eu sempre briguei muito com papai por causa disso, por causa dessa maneira dele de pensar, eu acho que não tem nada a ver uma coisa com a outra, se você estiver levando as duas coisas bem não tem por que você deixar de fazer aquilo ali. Então, ele falava que ia me tirar da escola, que ele ia me dar uma coça, aquelas histórias de pai, mas eu sempre fui... Mamãe que sofria com isso, porque mamãe que sempre... Papai bastava um olhar dele pra gente, não precisava falar nada, ele olhava pra gente e a gente já sabia o que era; nunca foi de bater, papai nunca fez... Não lembro de papai ter me dado uma coça, o dia que ele ia me dar uma coça eu corri e fiquei trancada o dia inteiro dentro do quarto (risos), aí quando eu saí já tinha passado aquela raiva, mas ele sempre foi contra, ele achava que eu namorava ou estudava. Ele tinha aquela mentalidade: “Se você está namorando você vai querer casar, você vai estudar pra quê?”. Essa mentalidade de pessoas mesmo do interior, bem do interior com a mente bem fechada e ele é assim até hoje.
P/1 – Então era um desafio pra você se encontrar com o seu namorado?
R – Era. No início, sim, era aquele namoro escondido, a gente namorava escondido, depois que começamos a namorar que ele viu que não tinha jeito mais. Só que namorar lá em casa pra mim e para minhas duas irmãs tinha que ir embora nove horas, o namorado não podia ir embora depois das nove, tinha que ir embora nove horas, todos eles. (risos)
P/1 – Seu pai foi se acostumando um pouquinho, não é?
R – É.
P/1 – Também vai ter filhas mulheres, (risos) fica mais difícil.
R – É. Mas hoje, eu agradeço por tudo isso que ele fez porque se ele não tivesse feito isso de repente eu não tinha vencido muitas barreiras, porque ele sempre foi contra e eu sempre debatendo, não é? Sempre debatendo com ele, não é assim, brigava, falava e mamãe que sofria com isso, porque eu tinha muito mais liberdade pra falar com mamãe, porque meu pai sempre foi uma pessoa muito fechada. Ele falava não e ele não queria que nós (ficássemos?) o porquê do nosso sim, era não e não e acabou. Mamãe é que sofria com isso, que era muito amiga, mamãe é tudo hoje em dia, cuida dos meus filhos, então é tudo pra mim.
P/1 – Você se lembra de um sonho que você tinha de criança, alguma coisa que você queria ser?
R – Eu tinha muita vontade de morar sozinha, morar sozinha. Eu tinha loucura para morar sozinha, eu também tinha muita vontade de ir pra Aeronáutica, só que papai e mamãe nunca deixaram eu ir pra Aeronáutica. Então, isso foi uma coisa que hoje eu falo pra mamãe: “Mamãe, a senhora hoje óh, poderia tá em tal lugar assim, assim, e a senhora nunca me deixou ir” (risos). Ela fala assim: “Não, mas tá ótimo você assim, tá muito bom, você tá perto da gente”, aquela coisa de mãe, não é? Mas eu não fui pra Aeronáutica porque eles não deixaram na época eu ir. (risos)
P/1 – Você fala muito dos seus pais... O que mais você acha que aprendeu na infância na sua casa, sabe? Alguma coisa que...
R – Ah, eu acho que a honestidade, caráter, acho que todos nós lá em casa hoje somos quem nós somos por causa deles, então eles foram (exemplos?) muito importantes, tanto pra mim quanto para as minhas irmãs, quer dizer, se ele fosse um pai que não ligasse pra gente, que se nós não fizéssemos assim, tivéssemos força de vontade também em correr atrás, hoje nós seríamos como muitas pessoas de lá, não tem um emprego, sempre naquela mesmice, aquela coisa toda, mas são muito... E hoje eu falo, apesar de na época de adolescente eu ter reclamado muito, brigava muito, hoje eu vejo que eu tenho que educar a minha filha pelo menos com alguma coisa que meu pai fez por mim. O ensinamento que ele passou, apesar de ser assim, rigoroso, conversava muito com a gente, era... O papai assobiava, ele tem mania de assobiar até hoje, ele assobiava e você tem que ir lá, ver o que ele quer, assobiou você tem que ir e perguntar o que ele quer. Ele tem essa (risos) mania até hoje, mamãe vai, igual a... Ele assobia e vai mamãe saber o que papai quer, se quer uma água, se quer um café, se quer não sei o que, é assim.
P/1 – Que ótimo, não é? (risos) E essa vontade sua e de suas irmãs de estudarem, assim por que...?
R – Porque a única que fez faculdade fui eu, as outras... As minhas irmãs terminaram a formação de professores no Baltazar também, todas as duas estudaram, começaram a trabalhar, casaram cedo e não fizeram mais faculdade, não estudaram mais.
P/1 – E elas moram em Italva?
R – Elas moram... Uma mora em Doutor Matos e outra mora no Cordeiro, próxima a São Joaquim.
P/1 – Ah, que ótimo.
R – Mora perto também.
P/1 – Vamos voltar à parte que você foi acabando o ensino médio. Como foi pensar em prestar Matemática?
R – Porque eu falei assim: “Gente, eu vou fazer o quê?”. Eu não gostava muito de Português, eu já tinha perdido a oportunidade de fazer Fisioterapia, que eu poderia ter feito. Aí as meninas começaram: “Ah, ______ vamos fazer vestibular, vamos fazer uma prova pra Filosofia?”. Eu falei: “Gente, eu vou fazer o quê?”. Eu não queria fazer nada disso. Aí algumas (amigas?) foram fazer Português, outras foram fazer História e Geografia, outras Pedagogia, eu disse assim: “Ah, já que tem que fazer alguma coisa, vou fazer alguma coisa que pelo menos eu me identifico”, aí eu fiz o vestibular pra Matemática. Foi quando eu passei e comecei a fazer Matemática, mas no final eu vou tentar realmente o que eu quero. Só que eu fui fazendo a faculdade e fui gostando e fui acostumando. Aí eu comecei trabalhando na área e fiquei nessa até... (risos)
P/1 – Isso lá em Cardoso Moreira?
R – Não, em Campos, porque em Cardoso não tem faculdade, você tem que ir ou pra Campos ou Itaperuna pra poder fazer faculdade.
P/1 – E como é que foi então sair de casa e ir morar em Campos?
R – Não, eu morava em Cardoso.
P/1 – Ah.
R – Eu morava em Cardoso e ficava na casa dos meus tios, que na verdade são uns segundos pais pra mim porque tio Manuel, ele fazia coisas pra mim que o papai nunca fez, que era conversar, dar aquele carinho, aquela atenção. Então, eu ficava na casa deles durante a semana e ia embora pra casa sábado, dia de sábado, eu ia segunda de manhã e voltava sábado.
P/1 – E lá em Campos, você fez bastante amigos?
R – Bastante, bastante amiga. Amigas que até hoje são companheiras, companheiras mesmo do dia-a-dia, faz parte da família, porque quando era época do trabalho elas iam lá pra casa, ficavam na casa de mamãe, fazíamos trabalhos juntos. Foi criando aquela amizade, até hoje elas vão lá em casa, vão à casa de mamãe. Agora eu tenho a minha casa, mas mesmo assim elas vão, elas não deixam de ir à casa da mamãe. Então, é uma vida de quatro anos que nós passamos juntos e que realmente nós formamos ali uma amizade muito grande. Então, as amigas lá de peito mesmo.
P/1 – Como é que foi lá? Como que é Campos? Você...
R – Campos é uma cidade grande em relação a Cardoso, assim, Campos é Rio de Janeiro, vamos fazer essa comparação, então é muito grande em relação a Cardoso, mas na época eu só ia mesmo estudar porque eu estudava à noite. Então, o ônibus passava, eu pegava o ônibus cinco horas e ia pra faculdade. Aí, depois quando eu fiz o primeiro concurso de Cardoso, eu também estava na faculdade, porque Matemática você tem a licenciatura curta e depois a plena. Então, quando teve o primeiro concurso de Cardoso, eu tinha a minha licenciatura curta, aí eu fiz o concurso e passei. Eu trabalhava em Outeiro e aí, o que eu fazia? Eu ficava na casa da tia Lúcia, dormia na casa da tia Lúcia, acordava no outro dia cedo e pegava o ônibus de dez horas, dez e meia que passava e ia para Outeiro, porque Outeiro é próximo a Campos e lá eu trabalhava a tarde e esperava o ônibus que vinha da faculdade e de lá eu ia pra faculdade e chegava em casa uma hora da manhã, meia noite e meia, quando o ônibus não quebrava e a gente chegava só de madrugada.
P/1 – O que você fazia que você trabalhava em Outeiro?
R – Eu dava aula.
P/1 – Com a sua licenciatura? Mas esse não foi do concurso?
R – A licenciatura curta em Ciências, porque eu fiz o primeiro concurso pra Ciências, aí eu trabalhava lá com Ciências, só que Matemática sempre foi uma área que tinha muita carência, então eu trabalhava pouco com Ciências, eu trabalhava mais com Matemática.
P/1 – E foi o seu primeiro emprego?
R – Meu primeiro... Não, eu trabalhei em escolinha particular, o meu primeiro emprego foi em escola particular e dava aula pra criancinha mesmo, só que eu percebi que aquilo não era o que eu queria, não era o que eu me identificava. Depois, quando eu comecei a trabalhar com o ensino médio, do sexto ao nono ano, aí eu me identifiquei.
P/1 – Na escolinha particular foi com quantos anos que você entrou?
R – Entrei eu ia fazer dezessete anos, com dezessete anos, eu já comecei ajudando as meninas, pra... Lá eu dava aula mesmo e tinha uma turminha, que eram minhas amigas na época, assim, que nós terminamos a formação de professores, aí duas amigas montaram uma escolinha particular e chamaram algumas pessoas para trabalhar e me convidaram pra trabalhar, mas eu fiquei lá pouco tempo, porque logo... Uns dois anos que eu trabalhei na escolinha particular, porque logo eu fiz o concurso. Aí eu fiz o concurso para Cardoso e eu passei. Comecei a trabalhar em Outeiro e aí não dava para eu continuar mais, trabalhava a tarde e fazia faculdade a noite.
P/1 – Essa escolinha particular era aula particular ou tinha uma sala? Como é que foram os seus primeiros dias de aula lá?
R – Era uma escola... Era escola mesmo. Tinha de primeira, a educação infantil, o prezinho e tinha uma turminha de primeira série e no outro ano uma turminha de segunda e aos poucos foi montando as turminhas.
(PAUSA)
R – A gente estava falando da primeira escola que você deu aula. Eu queria que você me contasse se lembra do primeiro dia de aula, se ele foi difícil ou não foi.
R – Foi muito difícil, porque tudo era novo pra mim, tudo era novidade, a responsabilidade de ter uma turma ali pra você é completamente diferente dos estágios que você dava lá na formação de professores, e o primeiro dia de escola, de escola particular, sempre são aquelas brincadeiras com os alunos, você leva as crianças para conhecerem a escola. Mas eu não tive muitas dificuldades, a não ser a responsabilidade que eu achava que era muito grande, porque era todo mundo muito amigo, quando ela montou essa escola era todo mundo amigo, todo mundo se conhecia. Então, nós éramos um grupo muito unido, então os problemas eram ______ com todo mundo, era uma experiência nova para todo mundo, tanto para as meninas que montaram a escola na época quanto para os professores.
P/1 – E essa vontade de dar aula era uma vontade particular, mas ela começou quando?
R – Desde a nossa infância, que nós brincávamos muito de imitar professora, tinha aquela história, lá em casa tinha um quadro de madeira que nós... As atividades que a professora passava na aula, nós chagávamos em casa e ficávamos fazendo aquilo ali brincando mesmo de professor. Tinha até uma menina, a Jaqueline, que é minha prima, ela ia muito lá pra casa pra gente brincar de dar aulinha, aquelas brincadeiras mesmo de criança.
P/1 – E no colégio que você é diretora hoje, qual é o nome do colégio mesmo?
R – Escola Municipal Maria da Penha Marins Siqueira.
P/1 – Como foi que você entrou lá?
R – Eu entrei por esse concurso. Eu fiz o concurso e trabalhei em Outeiro, porque na época já tinha aquele grupo de professores lá em Cardoso que trabalhavam no Colégio Maria da Penha, então, logo assim, a primeira oportunidade que surgiu uma vaga eu vim pra Cardoso, a única escola do município de Cardoso Moreira é o Maria da Penha, então eu vim para o Maria da Penha.
P/1 – E como que é a escola?
R – É uma escola pequena, não é uma escola grande, mas é uma escola onde o nosso grupo maior, que é o grupo de professores, é muito responsável, competente, então eu acho, a gente não tem assim, problemas sérios, os nossos alunos também não nos dão problemas sérios de indisciplina. É uma escola boa de trabalhar.
P/1 – Você entrou lá como professora?
R – Professora. Fui professora, trabalhava com Ciências e Matemática, sempre oitava série, eu sempre escolhia sétima e oitava, porque eu não me identificava muito com os alunos menores, então eu sempre escolhia a sétima e a oitava pra trabalhar. Aí, uns dois anos atrás, eu participei também da coordenação de Matemática e Ciências e aí, depois da coordenação, que eu fiquei dois anos na coordenação, eu fui convidada pra fazer parte da direção da escola.
P/1 – E como é que foi quando você começou a fazer parte da direção?
R – Muito difícil, porque quando você assume determinadas funções é que você começa realmente a conhecer as pessoas, não é? Porque se você trabalhar em sala de aula você conhece o seu colega, é colega de trabalho, que você entra, dá a sua aula, vai embora, aquele bate papo; agora quando você entra numa direção você passa a conhecer a vida das pessoas também, os problemas, não só da minha área, que antes era restrito a Ciências e Matemática, o grupo de quinta a oitava, porque a nossa escola é pequena, tem dez turmas de quinta a oitava, do sexto ao nono ano, então é uma escola muito pequena, onde todo mundo conhece todo mundo, todo mundo sabe dos problemas de todo mundo e quando eu entrei na direção eu senti essa dificuldade, porque eu tinha que trabalhar com outros professores também das séries iniciais, o pessoal de apoio. Então, é um grupo maior que você tem que trabalhar, tem que lidar pra conviver, mas eu, graças a Deus, sempre tive muita paciência. Eu acho que nós temos que saber entender as pessoas, nós precisamos entender, compreender, porque problemas todo mundo tem, só que nós não podemos deixar isso aí interferir no nosso trabalho. Então, eu acho que os problemas maiores da nossa escola, hoje é isso, que as pessoas tentam... Devido aos problemas e dificuldades, elas levam para o setor de trabalho esses problemas, então eu acho que é conversando, conversando é que a gente se entende, porque eu acho que a gente não pode impor nada; reivindicar todo mundo tem direito de reivindicar, de questionar, só que eu acho que nós temos que dialogar pra nós chegarmos a uma conclusão, um acordo que é difícil, mas todo lugar é assim, é na igreja, na nossa família, em qualquer lugar. Então, a direção da escola não é diferente, não é diferente.
P/1 – E quais outros desafios de direção, de gestão escolar, que você percebe?
R – Lá nós somos três diretoras: tem a diretora geral que é a Beth, tem a outra diretora adjunta junto comigo, que é a Adriana. Então, nós somos três, três lá para... Cada uma sempre está num turno, tem uma que vai mais no turno da noite, então os nossos problemas, eu divido muito os meus problemas com Beth, que nós estamos há mais tempo juntas. E a dificuldade maior, eu acho que é por ser assim, município pequeno, onde todo mundo conhece todo mundo também, a política é muito, muito... Sei lá, as pessoas vivem muito a política, então eu acho que isso atrapalha um pouco o andamento da escola, as pessoas viverem... Ainda mais esse período agora, é muito complicado de se trabalhar e um apoio maior, a prefeitura nunca tem dinheiro, nunca tem verba, essas coisas todas, que todo mundo passa. Então, isso é um problema, porque as pessoas começam a cobrar e quando cobram da gente nós não somos culpados, não podemos fazer muitas coisas, muitas coisas não podemos resolver, não depende da gente, depende da Secretaria, depende da prefeitura, então isso daí é um problema também.
P/1 – Quantos alunos são na escola?
R – Tem 648 alunos no total.
P/1 – Nossa, bastante!
R – No total, dos três turnos, porque funciona de manhã, de tarde e à noite. Desde a educação infantil até a EJA [Educação de Jovens e Adultos].
P/1 – E aí, você que começou dando aula, passando pela Matemática, chegando agora à direção, pra você, o que você gosta de fazer na gestão escolar? O que te cativa a continuar ou por que você está lá?
R – Olha, pra ser sincera, eu não tenho muita vontade de continuar em direção de escola, porque é muito difícil e complicado. Eu me identifico mais ali, na minha sala de aula ou trabalhando na coordenação com as meninas do que na direção mesmo, de você estar à frente daquilo ali.
P/1 – Alessandra, qual é o significado de uma escola pra você?
R – A escola eu acho que é tudo, tudo da gente, eu acho que começa numa escola e aí, lá, a minha escola, a minha realidade que é do sexto ao nono ano, a escola é aquilo que você pode transformar dentro do outro. Nós professores, nós temos que plantar alguma coisa dentro de alguém, seja ele aquele aluno difícil ou aquele aluno que não te dá trabalho nenhum, você tem que plantar alguma coisa. Então, a escola, eu acho que é você educar, preparar mesmo pra vida, não ser aquela coisa só de conteúdo. Nós temos que deixar alguma coisa marcada naquelas pessoas e na escola eu acho que isso acontece muito. Então, nós temos que... Na nossa escola nós tentamos passar isso para os nossos alunos, que nós não estamos lá apenas para passar conhecimento pra eles, que nós... Eles precisam? Precisam, mas nós temos que primeiro ser amigos, um compreender o outro.
P/1 – E a educação? De uma forma mais ampla. Porque a escola traz tudo isso que você falou, mas os processos educacionais, o que você acha que é a educação de uma forma mais ampla?
R – Como assim?
P/1 – Porque você tem a escola, que na verdade é um instrumento, digamos assim, uma base pra educação. E o que é a educação? A educação formal ou informal, qual é a importância disso?
R – A educação de uma maneira geral... Gente, eu acho que a educação pra mim é tudo, porque educação você tem que ter educação pra tratar as pessoas, que tem essa educação também, que a gente fala que educação vem de berço, acredito em algumas vezes, eu até acredito nisso e tem aquela educação que você realmente precisa. Então, eu acho que educação fica na balança, acho que fica na balança, aquilo que você precisa e aquilo que vai te fazer falta.
P/1 – Pra escola que você está hoje, o que você acha que... O que você pensa que ela poderia ser no futuro? O que ela poderia ter pra melhorar?
R – Ela... A minha escola hoje, ela precisa muito de apoio, apoio das entidades maiores, porque nós vivemos num mundo... Hoje, as tecnologias, elas estão cada vez... Está batendo em nossa porta e a nossa escola não está preparada pra isso, os nossos professores não estão preparados pra isso, então eu acho que o apoio que nós precisamos é principalmente para formar os nossos professores, porque muitos não fazem porque não conhecem, eles não conhecem. O ano passado eu fui convidada pra dar um curso para os professores das séries iniciais do município de pró-letramento, eu fui convidada pela Secretaria de Educação pra fazer o pró-letramento em Matemática. Então, quando eu comecei a trabalhar com os professores de maneira geral, porque eu vou lá, faço as oficinas de estudo, sou tutora pela UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] da Matemática. Então, quando eu comecei a trabalhar com os professores, eu percebi que eles não transmitem o conhecimento porque eles não conhecem, não é porque eles não sabem, eles são maus formadores. Então, nós temos que primeiro ter esse apoio para nós trabalharmos com os professores, porque nossa escola não tem tecnologia nenhuma. É uma escola assim, ela é escola do nosso município, mas acho que ela poderia ser melhor por ser a única escola do nosso município, escola modelo do município, ela então poderia crescer muito e esse crescimento não depende só da gente, depende da prefeitura, depende da Secretaria, depende de verba, depende daquelas séries de burocracias que nós sabemos.
P/1 – E qual é o perfil do aluno pra você?
R – O perfil do aluno?
P/1 – É, porque você traçou um perfil que o professor está precisando um pouco de formação, mais atenção, e o aluno?
R – O nosso aluno de hoje em dia, o nosso aluno de hoje, ele precisa de coisa nova, não adianta você ir para uma sala de aula e fazer o bê-a-bá com ele, que aquilo pra ele não interessa, não chama a atenção dele. Então, é essa capacitação que nós precisamos, trabalhar com essas novas mentes que estão chegando à escola, porque você vai para uma sala de aula com (cuspe?) e giz, o aluno não quer saber disso, porque ele chega em casa e ele tem aquelas séries de informações, ele tem internet toda hora, ele tem acesso a informações que muitos professores não têm. Então, eu acho que o perfil do aluno hoje é inovar, ele quer coisas novas, difíceis, são adolescentes muito difíceis de serem trabalhados, mas nós, infelizmente acho que tudo recai sobre o professor, nós temos que também estar trabalhando isso daí, a maneira de chamar a atenção, de fazer diferente e nós precisamos dessa orientação.
P/1 – Esses novos recursos, digamos assim, mais disponíveis para os professores mudarem a aula, além da formação, o que a escola tem lá hoje disponível?
R – A escola só tem mesmo a sala de vídeo. É uma sala com uma televisão e algumas cadeiras, tem o laboratório de informática, que não é muito usado, praticamente não é utilizado e só.
P/1 – E como que é o... Não sei se você sabe, se você estava no começo, mas como é que o Programa Tô no Mundo entra lá na escola de vocês?
R – Olha, isso daí (risos) é polêmico, sabe por quê? Porque o nosso... O Tô no Mundo da nossa escola é o que eu estava conversando com a Simone, ele precisa ser mudado, porque nós não o conhecemos, nós não o conhecemos por quê? Quando Tô no Mundo foi pra nossa, não é? Quando uma pessoa foi convidada para fazer parte do Tô no Mundo em 2002, não sei, 2001, foi um menino lá da escola, ele fez essa capacitação, só que quando ele retornou, ele não trabalhou isso daí, então o laboratório estava lá na escola, parado, estava lá, parado. E tinha um... Tipo aquele ônibus móvel...
P/1 – Sei.
R – Do CEFET, que trabalhavam... Que eles iam lá e davam aquele curso de inclusão digital na cidade. Então, como esse laboratório estava lá, assim, parado, entre aspas, inutilizado, eles entraram e fizeram uma parceria com o CEFET, então a parceria com o CEFET é de inclusão digital. Então, o projeto na escola, algumas pessoas acham que não conhecem o Tô no Mundo, conhecem a inclusão digital, conhece a parceria. Eu acho que não é... Só que quando nós viemos aquele dia ao Rio, pela primeira vez... Está errado? Está, mas nós temos que tentar mudar agora, nós precisamos mudar isso daí, como? Vamos pedir ajuda com certeza, porque nós precisamos trabalhar agora o projeto. Na primeira reunião que nós tivemos lá com os professores, nós falamos sobre isso, nós temos que trabalhar, só que o objetivo não foi esclarecido, entendeu? Eu acho que não é o momento de nós falarmos quem errou ou quem foi o culpado, apontar os erros para as pessoas. Eu acho que o momento é de consertar, nós temos que tentar consertar independente de qual forma for. O errado já passou, já está há quantos anos errado. Então, eu acho que agora é o momento de nós começarmos a consertar pra poder trabalhar realmente o projeto, traçar as linhas do projeto.
P/1 – Então, me conta uma coisa. Teve uma pessoa que foi convidada pelo programa que não passou adiante a formação dentro da escola?
R – É.
P/1 – Mas a escola foi convidada para o programa e montou um laboratório ou não? Me conta um pouquinho mais?
R – Porque na verdade, quando as pessoas têm em mente, tinham, não é? Porque na época eu era professora, por isso é que estou falando. Eu era professora, eu vivi esse momento, a informação que nós tínhamos era que os laboratórios... Os computadores estavam lá, e os alunos iam lá para fazer pesquisas. Depois veio o período de enchente, que colocaram os computadores todos numa sala e ficaram lá trancados. Quando os meninos entraram lá, o Jean e o Rafael, que trabalham no projeto Tô no Mundo, que eles não são professores da escola lá... Então, as pessoas... Nós tivemos culpa nisso também por quê? Nós não perguntamos por que vocês dois faziam parte do projeto, o que vocês fazem? Nós não tivemos essa curiosidade, por quê? A mentalidade que nós tínhamos era que aqueles computadores estavam lá na escola para ser trabalhado a inclusão digital, entendeu? Aberto à comunidade? Ótimo, você não atende só os alunos do Maria da Penha, atende a comunidade em geral, ótimo pra comunidade, ótimo para o município, só que nós não sabíamos o objetivo do projeto e ninguém nunca teve essa curiosidade em perguntar, em perguntar o por quê? E a pessoa que na época participou disso daí, ele não passou essas informações, as informações certas, não foi passado, não foi trabalhado.
P/1 – E me fala uma coisa, mas esses computadores vêm com o programa ou é um laboratório de informática que já era da escola? Esses computadores do laboratório são cedidos pelo programa ou não?
R – É. Os computadores são da Oi, a Oi que mandou esses computadores pra lá, já tem bastante tempo, só que agora que despertou isso daí para o projeto.
P/1 – Até pra escola, não é, pra tudo?
R – Pra tudo, porque hoje você fala no Tô no Mundo na escola e os professores não conhecem e como que eu vou trabalhar uma coisa que eu não conheço? Não tem como eu trabalhar uma coisa que eu não conheço. Aí, o que nós reivindicamos é o seguinte, porque às vezes nós professores estamos sendo crucificados: “Ah, vocês não trabalham o projeto”; “Vocês não chegam junto com o projeto”, não é que nós não chegamos junto com o projeto, é porque nós não conhecíamos o que era o projeto. Na época, em 2002, que foi realmente... 2003, não foi passado o objetivo, a pessoa que veio realmente ela não passou as informações necessárias para o grupão que era na verdade... A direção deveria ter passado para o grupo de professores na coordenação na época, então só agora que nós despertamos.
P/1 – Faltou uma rede de comunicação?
R – É.
P/1 – Você como diretora, reativando toda essa proposta, a ideia da informática, qual a importância desses novos recursos, não só a informática assim, pra escola? O que você vê como o interessante disso? Dessa parceria ou de novas?
R – Porque é como eu te falei, acho que tudo assim, novo é novidade pra todo mundo, então isso vai ser novidade para o professor, vai ser novidade para o aluno, principalmente pelo... E eles gostam e eles gostam disso daí, então isso daí é uma parceria que não deve acabar, pelo contrário, ele deve começar a funcionar, começar a funcionar melhor pra atender as necessidades, porque tanto os professores quanto os alunos precisam dessas informações para começar a caminhar. Então, foi o que eu falei desde o primeiro dia que nós viemos aqui, eu acho que não devemos apontar erro pra ninguém, entendeu? Um grupo errou? Errou, só que nós não podemos voltar e... Agora o tempo é de consertar o erro, nós temos que consertar daqui pra frente, temos que sentar e ver o que vamos fazer. Vamos sentar, procurar as pessoas realmente que possam nos ajudar porque nós estamos realmente precisando de ajuda pra levantar isso daí e mudar, mudar essa visão do laboratório lá da escola, todos os nossos professores quanto os alunos possamos estar no projeto trabalhando realmente o projeto, agora não julgar, não julgar ninguém, porque eu acho que não é o momento de julgar, é o momento de tentar acertar.
P/1 – Então, eu vou sair um pouquinho desse assunto da escola pra entrar um pouco mais no seu dia-a-dia de hoje. Você já contou um pouco da história do seu marido, mas eu queria saber um pouco como foi que você casou, quando é que foi? Namorou bastante?
R – Eu me casei em 2000, tem oito anos, no dia 8 de janeiro de 2000, logo que eu terminei a faculdade eu me casei. Foi assim logo no início, porque eu tinha muita vontade de sair de casa e papai não aceitava isso nunca. Eu também não ia ser a ovelha negra e sair de casa. Aí foi quando eu casei, resolvi casar, já namorava há bastante tempo, sete anos de namoro, já é uma vida também, não é? Aí, foi quando eu casei.
P/1 – E você tem filhos?
R – Tenho dois filhos, uma menina de cinco anos e um menino de três.
P/1 – Como que eles chamam?
R – Caíque e a Priscila, todos os dois fazem aniversário no dia 4 de julho, no dia da independência dos Estados Unidos (risos), os dois. Eu não tinha a intenção de ter o segundo filho, porque eu sempre pensava assim, em ter um filho, mas eu queria ter um filho, nunca pensei em ter dois filhos. E Caíque, eu acho que foi assim, obra de Deus mesmo na minha vida, porque quando eu, eu estava... Logo que eu tive a Priscila, que eu comecei a fazer aqueles exames de rotina, o médico descobriu que eu tinha um problema no meu ovário, eu comecei a fazer um tratamento e ele falava pra mim que eu não poderia engravidar. Na época eu comecei a fazer o tratamento e nunca melhorava, depois passado um tempo que eu descobri que eu estava grávida. Foi surpresa tanto pra mim quanto para o médico, porque ele nunca esperava que isso fosse acontecer. Aí, veio o Caíque, eu fiquei desesperada na época porque Priscila era nova e eu falei: “Gente, o que eu vou fazer?”. Trabalhando o dia inteiro e a noite pra cuidar de dois filhos, eu entrei em pânico, depois fui me acostumando com essa ideia, que no início foi um pouco difícil e coincidiu dos dois nasceram em 4 de julho. Então, eu acho que essa data aí, é obra de Deus mesmo porque foi inesperado, pra ninguém essa gravidez... E graças a Deus.
P/1 – Ai, que bom!
R – Hoje eu vejo que sem ele, que eu achava que eu queria ter um filho, aquela mentalidade de ter um filho sem ele eu acho que não teria sentido mais.
P/1 – E além da escola que você trabalha como diretora, quais outras atividades você faz no seu dia-a-dia?
R – Só cuidar das crianças depois que eu chego (risos). Sabe por quê? Eu até às vezes falo com as meninas que eu preciso fazer uma atividade física, só que eu trabalho, eu levanto o quê? Cinco e quinze, cinco e meia e vou trabalhar, as crianças ficam com mamãe, tem uma menina que ajuda a mamãe, então eu fico o dia inteiro fora de casa. Tem dia que eu fico manhã, tarde e noite porque eu sou diretora nessa escola, mas eu tenho outra escola também. Então, eles ficam de dia... Quando eu chego em casa, o único momento que eu tenho pra ficar com as crianças. Eu não tenho coragem de sair pra fazer uma caminhada, ir a uma academia, eu não tenho essa coragem porque é o único momento que eu tenho pra ficar com eles, dormem cedo demais, então tem dias que eu não vejo as crianças, então eu não tenho essa coragem de sair e deixá-las pra fazer outra coisa.
P/1 – Você nessa outra escola, você leciona?
R – Leciono, sou professora.
P/1 – Matemática?
R – Matemática.
P/1 – Ai, que ótimo.
R – Professora de Matemática do Ensino Médio
P/1 – E aí, com essa sua caminhada, a gente fez uma trilha lembrando da infância, dos dias de hoje, o que você acha que você tira de alguns aprendizados dessa sua experiência que você já passou? E tem muito a passar também, não é?
R – Com certeza, muitas coisas virão (risos) pela frente. Eu acho que é fazer uma reavaliação de...
P/1 – Por exemplo, você falou que com o seu pai você aprendeu muito a honestidade, não é? E você tem um carinho muito grande também com a educação e acredita no potencial, o que mais você leva com você do seu dia-a-dia, sabe? Com seus filhos, com a escola?
R – Eu, como eu falei pra você, eu vou tentar educar os meus filhos um pouco diferente, mas tentando seguir aquela mesma linha que papai e mamãe sempre criaram a gente, porque eu acho muito importante os pais... Nossos pais têm um papel muito... É fundamental o pai e a mãe na vida de qualquer pessoa, porque eu acho assim, quando nós olhamos para um pai e pra uma mãe, nós somos uma referência e essa referência ela tem que ser boa. Então, nós temos que trabalhar bem isso daí, ser um pai amigo, ser uma mãe amiga, dedicada, estar presente, não só nos momentos de felicidade, mas também nos momentos de tristeza e hoje em dia nós percebemos que a família não está dessa forma. A família hoje em dia está um pouco desequilibrada, nós precisamos ter um pouco de religião, preciso ensinar uma religião para os meus filhos, eles têm que ter uma religião, eles têm que ter uma meta pra poder seguir. Minha mãe... Eu quero que a minha filha quando tiver a minha idade olhe pra minha mãe da maneira que eu olho, porque a minha mãe é tudo na minha vida, tudo, tudo, tudo, o que vocês pensarem é a minha mãe.
P/1 – Que bom! E ela deve ser uma ótima avó também?
R – Ah, com certeza, mais avó do que mãe.
P/1 – Alessandra, daqui pra frente, tem um sonho que você tenha... Alguma coisa que... Uma vontade?
R – Ah, eu acho que são meus filhos, eu faço tudo, tudo por eles, mesmo.
P/1 – Ai, que bom. A gente já está acabando a entrevista, eu queria que você falasse o que você achou de fazer essa entrevista com a gente.
R – Ah, muito bom (risos), muito bom mesmo, porque são coisas diferentes, diferentes e importantes pra gente, porque agora você começa realmente a valorizar aquilo e passar a dar significado a algumas coisas que você passou e que às vezes não eram importantes, mas hoje você olha de uma outra forma, tem uma outra visão de olhar a sua infância. Antes nós íamos naquele primeiro encontro, a gente comentava, fazia alguns comentários do que aconteceu, mas não era assim... Não tinha muito significado e hoje não, a gente já começa até mesmo conversar com as pessoas sobre isso, perguntar mais sobre a infância, sobre a adolescência como que foi. Eu achei muito interessante, importante.
P/1 – Ai, que bom.
R – Muito bom.
P/1 – Você já conhecia o Museu da Pessoa?
R – Não, não conhecia.
P/1 – Tem alguma coisa que você queira falar que a gente deixou de perguntar? Algum comentário? Alguma história?
R – Acho que não.
P/1 – Não? Então eu queria agradecer em nome do Museu da Pessoa e do Instituto Oi Futuro também e dizer que pra gente foi um prazer também muito grande estar compartilhando esse momento com você.
R – Que vocês possam sempre fazer isso por outras pessoas também, para eles sentirem a mesma coisa que nós estamos sentindo e sempre multiplicando isso daí.
P/1 – Que bom.
R – Muito bom.
P/1 – Obrigada.
Recolher